Tag: Mark Steven Johnson

  • Crítica | Temporada de Caça

    Crítica | Temporada de Caça

    killing-season

    Um grande drama para um ator veterano é conseguir trabalhos quando a velhice se aproxima e a beleza vai rareando. As possibilidade de papel tendem a ficar escassas, fazendo muitos artistas entrarem para o filão dos filmes de ação, especialmente quando estes já protagonizaram tais fitas. Longe de ser um brucutu indiscutível, John Travolta teve seus bons (A Filha do GeneralA Outra Face) e maus (A Reconquista) momentos dentro do gênero e faz Emil Kovac, um ex-agente sérvio em busca de vingança  praticamente invertendo a máxima de Dupla Implacável, filme no qual era um americano em terras estrangeiras, para ser um europeu nos Apalaches.

    A outra ponta do certame é o ex-militar de nome sugestivo Benjamin Ford, interpretado por Robert De Niro, que, perto de seu companheiro, atua de forma sóbria. O forçado sotaque de Travolta remete às muitas nuances de Tony Ramos ao interpretar gringos em folhetins globais, além de exercer uma faceta muito soturna, sempre lançando mão de capuzes e capas para amedrontar quem puder. Os dois opositores são inversamente proporcionais, pois Kovac é frio e só pensa em ação, enquanto Ford é passional, além de esconder um pequeno drama familiar ligado a sua ausência como pai. No entanto, nem o seu treinamento prévio o faz ficar desconfiado ou estranhar a aproximação de um estrangeiro suspeito.

    São levados à tela, o tempo todo, signos que remetem à caça, já que havia uma temporada aberta e um estava caçando o outro. Kovac, com todo o seu comportamento invasivo, faz  uma entrevista com seu inimigo, e eles ficam se curtindo em um enorme diálogo, encarando-se mutuamente, como se algo especial fosse acontecer, ainda que qualquer possibilidade de suspense seja cortada pela clara inabilidade do diretor Mark Steven Johnson em criar tal aura; ao invés disso, mergulha-se no drama familiar de Benjamin. Este seria um filme de atores que se apoiaria no talento de Travolta e De Niro, mas o roteiro não colabora para tal.

    A fita até parece ir por um lado pouco usual, talvez até emotivo, mas tal tentativa é cortada pela ação que finalmente acontece em uma perseguição pela floresta. As escolhas de Johnson são corajosas, uma vez que ele não esconde o seu monstro, e aproxima-o do alvo, quebrando um paradigma que geralmente é respeitado. Mas fora isso, a sequência possui muitos problemas. O assassino balcânico mostra uma superioridade sobre o já combalido americano, que se vê em uma posição de frágil presa, desconstruindo o arquétipo de macho alfa que o ator costuma fazer. Há poucos momentos em que ele se recorda dos bons tempos, e mesmo quando estes parecem empolgar, são cortados por cenas sem alma ou conteúdo. O desmotivado soldado aposentado chega a fazer às vezes de Rambo e MacGyver, pondo para fora o seu instinto de sobrevivência, buscando forças internas para estar disposto para o duelo com Kovac.

    Há uma tentativa honesta e bem intencionada de mostrar uma história triste, de genocídio e irresponsabilidade por parte dos americanos, mas o que deveria ser tocante fica risível graças à completa falta de sutileza na abordagem da história. Kovac varia de personalidade, algumas vezes mostrando uma honradez irretocável, e em outras sendo um simples sociopata capaz de ameaçar até mesmo a família de seu inimigo, igualando-se àqueles que tanto criticou.

    O quadro político desenhado nos discursos de Ford é ruim, tão mal feitos quanto à sua tortura estúpida e à calvície mal coberta de Travolta. Mesmo os momentos em que se esperam apenas boas sequências de ação descompromissada, o gozo é cortado com cenas mal pensadas, executadas de modo vergonhoso para os atores. O filme todo é um enorme exercício de vergonha alheia, para os que têm uma carreira interessante, e de repetição para a já malfadada trajetória do realizador. O jogo de gato e rato tenta equilibrar o duelo, mas não o faz de modo interessante. O final é doce, ao contrário do resto do filme, mas é tão mal construído que faz sentido dentro da proposta apresentada nos longos 80 minutos de extensão da fita.

  • Crítica | Demolidor

    Crítica | Demolidor

    demolidor-poster

    Nos primeiros minutos de um documentário, que acompanha o primeiro disco desta versão de diretor, um dos editores faz comentários a respeito de sua metragem. Diz que para o lançamento do filme a opção foi reduzir um pouco da ideia original, deixando-o mais ágil e com mais cenas de ação, diferentemente da ideia do diretor, Mark Steve Johnson, que procurava algo mais denso e fluido, com momentos para explicações e um pouco menos de ação.

    Este pequeno trecho simboliza a diferença entre um editor pago para realizar um filme blockbuster sem se importar com sua qualidade e outros que tentam, mesmo em filmes neste formato, manter uma base narrativa.

    Demolidor foi a primeira adaptação de quadrinhos a ser um sub-produto dos sucessos anteriores. Pouco dinheiro foi investido no projeto, cuja missão primordial era um arrecadamento médio. Sem mais ganas, o resultado desse pensamento se tornou nada promissor. O descompasso é tão claro que o fraco diretor lançou sua própria edição do filme, com minutos a mais, tentando melhorar a fraca história e recuperar um pouco de sua imagem perante os fãs de quadrinhos.

    Mesmo trabalhando com um material bruto inexpressivo, seu trabalho tem um ganho positivo em relação ao original, mas nada excepcional. Os erros desenvolvidos na trama estão concentrados em sua estrutura. Nenhuma edição poderia salvá-la.

    A começar pela obtusa escolha do elenco — como colocar o gordinho Ben Aflleck para fazer o ágil Demolidor quando, por ator cogitado na época, Matt Damon seria mais indicado para o papel até fisicamente. Sem deixar de lado excessos de liberdade poética, transformando o rei do crime em negro e o Mercenário, grande vilão do Homem Sem Medo, em um patético personagem nas mãos de Colin Farrell, que despontou em um filme de Joel Schumacher e, depois de entregar mais uma atuação competente, vem desapontando desde então.

    Com um pouco mais de duas horas de duração, a nova edição deixa a trama mais explicada, tentando se aprofundar no drama de Matt Murdock. Mas a falta de credibilidade que Affleck passa, de um cego canastrão, não dá espaço para que se compreenda seu heroísmo.

    É lamentável que um personagem tão excelente como Demolidor tenha sido o escolhido para ser o primeiro filme B de quadrinhos, elemento parecido com o que aconteceria com o Quarteto Fantástico mas, dessa vez, voltado ao entretenimento familiar.

    Murdock é o herói que possui uma das carreiras mais estáveis nos quadrinhos, com sagas memoráveis, além de ser carismático. Nas telas virou uma mistura insossa de senso comum e de atores mal selecionados, que culminam na Electra Natchios de Jennifer Garner.

    Ouça nosso podcast sobre Ben Affleck.