Tag: Alan Cumming

  • Crítica | 007 Contra GoldenEye

    Crítica | 007 Contra GoldenEye

    007 Contra GoldenEye007 Contra GoldenEye é o primeiro filme de uma nova era do personagem — agora interpretado por Pierce Brosnan —, rompendo com o estilo anteriormente estabelecido por Timothy Dalton e inaugurando uma versão mais leve, mas também repleta de ação. A obra de Martin Cambpbell é marcante não só pela troca de ator  no papel do agente secreto, mas também pela abordagem pós Guerra Fria que ainda tem de lidar com essas questões novas.

    Na trama, o agente tem que impedir que o controle do poderoso satélite GoldenEye caia nas mãos dos inimigos britânicos, pois consegue causar pane em qualquer equipamento eletrônico do mundo. Os primeiros momentos do filme remontam ao conflito ocidental contra os soviéticos em uma base russa. A ação entre o protagonista e seu amigo Alec Trevelyan, o 006 vivido por Sean Bean, estabelece que a obra terá muitos momentos de ação com sequências viscerais que afastam a abordagem debochada da fase de Roger Moore, ainda que a personalidade do Bond de Brosnan tenha algumas similaridades com Moore.

    Essa versão rompe com quase tudo que foi estabelecido anteriormente. Desde a posição do chefe do MI-6, M agora é interpretada por Judi Dench, a Moneypenny vivida por Samantha Bond, restando apenas Desmond Llewelyn como Q, já bem veterano e em vias de se aposentar. Brosnan foi cogitado para substituir Moore após ter feito a série Remington Steele, mas teve que aguardar uma fase com Dalton à frente do personagem. Isso de certa forma foi uma boa escolha, pois ele adquiriu experiência com filmes de ação e amadureceu sua versão de herói de ação.

    Visualmente há uma grande diferença para os outros filmes, aqui o uso de efeitos especiais mais caros começa a ser utilizado, e marcas antigas como o caráter galanteador do personagem retornam, além de um claro cinismo por parte dos personagens periféricos. Se a Guerra Fria era repleta de maniqueísmos, aqui temos um roteiro que transita por lugares não tão comuns ao personagem, principalmente por conta do personagem de Bean que retorna nove anos após sua “morte”, como um anti-herói vingativo que usa a máscara do vilão e pretende discutir a ética do sistema.

    Os outros vilões são bastante peculiares e complicados. Por mais que haja semelhanças de Trevelyan com outros bons personagens como o Raoul Silva, de Javier Bardem, em 007: Operação Skyfall, a motivação é pouco desenvolvida. Outra personagem “estranha” é  Xenia Onatopp, de Famke Janssen, que apresenta um estereótipo complicado ao agir como uma ninfomaníaca e sociopata. Se a intenção era se distanciar do espectro do fantasma da Guerra Fria, não houve sucesso, pois se iguala a mulher russa a uma louca, naturalmente perversa e pervertida, um arquétipo xenófobo e tolo.

    Do pano de fundo, há momentos curiosos como 007 agindo sozinho boa parte do tempo, evitando instalações do MI-6, simulando uma espécie de início de carreira que seria retomada futuramente em 007: Cassino Royale. Os cenários também diferiam das fases Dalton e Moore, até mesmo o carro muda, saindo o famoso Aston Martin pela BMW Z3, obviamente com diversas melhorias, ainda que sub-utilizados.

    O filme perde fôlego ao se aproximar do final e a morte do vilão é baseada no clichê de queda, semelhante ao que aconteceu em Duro de Matar e Batman, fato que reforça a ideia de que James Bond geralmente retrata as manias e tendências culturais de sua época.

    007 Contra GoldenEye é um filme conhecido também por elementos externos ao cinema, especialmente por conta do jogo de tiro em primeira pessoa do console Nintendo 64, que ajudou a revitalizar a marca. Um bom início para Brosnan, que apresentou para o mundo uma versão sedutora do herói e trouxe de volta a Bondmania para uma nova era, ainda que tenha problemas de concepção severos e uma dificuldade de abandonar a exploração dos soviéticos como vilões, mesmo pós queda do Muro de Berlim e dissolução da União Soviética, e esse apego se arrastaria por quase toda a fase do novo intérprete.

  • Crítica | X-Men 2

    Crítica | X-Men 2

    O início de X-Men 2 é eletrizante, e repete o monólogo que Xavier proferiu em X-Men: O Filme levemente modificado, apontando para as estrelas, mostrando que a ambição do filme mudou, assim como prestígio de Bryan Singer. A trama de fato começa na Casa Branca com o presidente dos EUA correndo perigo, ao ser facilmente invadido por um mutante. O Noturno de Alan Cumming é introduzido de maneira selvagem, agressiva e uma violência demoníaca, que combina com sua aparência, magnificada pela música repleta de elementos góticos. Em cinco minutos, Singer demonstra o que poderia ter sido feito em seu primeiro filme, caso tivesse mais dinheiro, e ainda faz a cena de abertura que melhor traduz o heroísmo e o escapismo dos quadrinhos até hoje.

    X-Men 2 não demora a mostrar seu protagonista, Wolverine (Hugh Jackman), achando o Lago Alkali, o lugar que deveria mostrar um pouco de sua origem. Também não há demora em apresentar os outros mutantes, mas claramente a idade pesa sobre Famke Janssen, que está claramente com idade demais para aparentar uma mulher de vinte e poucos anos, mas seu desempenho dramático surpreende. Singer e seus roteiristas eram mestres em por elementos a serem evoluídos, ao passo que não trabalhavam bem com sutilezas.

    O Xavier de Patrick Stewart é mais atuante, ele aparece em ação fora da mansão, e mesmo ao cometer atos antiéticos – quando manipula os pensamentos de pessoas inocentes que viram os seus alunos em ação – há um cuidado grande em mostra-lo como um grande mentor e ideal a ser seguido, ainda que algumas de suas ações sejam discutíveis.

    O roteiro tem bons momentos ao associar a origem de Logan, não resolvida em Alkali com o ataque na Casa Branca. Engraçado que Ororo/Tempestade (Halle Berry) deve uma certa submissão a Jean, e isso pouco se nota de tão sutil que é a cena de encontro com Kurt. Mesmo diante de clichês, como o fracasso com antigos alunos, o filme lida melhor com a carga dramática mais adulta, a exemplo da cena na casa dos Drake onde Bobby (Shawn Ashmore ) tem de ratificar que não escolheu nascer diferente, onde se resume bem a ideia do preconceito embutido na sociedade comum. Outra parte bem trabalhada se dá na cena da invasão da Mansão Xavier, que ocorre com pouco mais de 30 minutos de exibição, sendo esse o momento onde Wolverine pode ser o assassino sangue frio das HQs clássicas, escondendo o sangue nos corredores escuros das instalações.

    A figura de William Stryker (Bryan Cox) como vilão mistura elementos do chefe do projeto Arma X, que injetou adamantium em Wolverine com o personagem homônimo dos quadrinhos, que está em Deus Ama O Homem Mata, um pregador evangélico louco e intolerante. Ele usa os poderes de seu filho para seu próprio anseio maligno. Outro momento interessante e depois reutilizado em Logan, é a pressa em salvar o Professor X de se tornar uma arma de destruição em massa, referenciando ainda que de leve a famigerada saga Massacre.

    Claramente, Singer queria lidar com a Fênix nos filmes seguintes, pois há uma bela evolução de Jean Grey como personagem. Ela que antes só movimentava seringas com a mente agora é capaz de deter mísseis. A aproximação de Magneto com os alunos de Xavier faz uma bela referência as fases que o mestre do magnetismo se bandeou para o lado dos mocinhos, ainda que aqui fique bem claro que ele só se movimenta por interesse próprio. A união dessas forças gera bons momentos, como a cooperação em equipe bem coordenada por Singer, o brilho de Rebecca Romijin como espiã e alívio cômico (sua personalidade impressiona), e claro, as batalhas entre o casal Summers e os detentores do adamantium. O filme não é perfeito, existem algumas conversas complicadas, como a piegas fala entre Noturno e Mística, em que o rapaz a indaga sobre esconder a própria aparência. Esse ponto encontraria eco em X-Men: Primeira Classe, seja nos momentos bregas de demonstração dos poderes dos mutantes ou no clichê de orgulho mutante que Jennifer Lawrence profere.

    A modernização do mito de Frankenstein de Mary Shelley beira a perfeição na relação parental entre William e Jason funcionam como condutores do mal, um maquiavélico e outro tolamente manipulado pelo ideal de um fanático, e o resultado final não poderia ser mais agressivo, em especial na vendetta que Magneto arquiteta rapidamente, demonstrando seu enorme poder mutante, rivalizando ele com sua capacidade intelectual e tenacidade. A forma como os heróis corrigem esses rumos soa um pouco apressada, mas conversa muitíssimo bem com o cânone dos quadrinhos, resultando num belíssimo filme de equipe onde o protagonismo é mais balanceado, mesmo que Jackman tenha muito mais brilho. Janssen é soberba quando exigida, em melhor forma até que Stewart, e seu sacrifício no final faz o ate então inexpressivo James Marsden brilhar. A direção de atores de Singer é exigida e tem muito êxito, exceção a Halle Berry, mais uma vez sub aproveitada.

    Singer claramente queria fechar a trilogia, mas se envolveu em Superman: O Retorno, e a Fox optou por não esperá-lo. Jamais saberemos quais eram seus planos à época para o terceiro filme, ainda que ele tenha retornado a franquia como produtor em Primeira Classe e diretor em X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido e X-Men: Apocalipse. X-Men 2 entrou para história como um dos melhores filmes de quadrinhos, sendo talvez o melhor no quesito ação, contendo um bom trabalho de equipe, oposição aos heróis carismática e bem representada, sacrifícios e um belo gancho para futuras obras, que jamais seriam tão bem urdidas e construídas quanto essa, mesmo com os remendos no reboot da saga anos depois.

    https://www.youtube.com/watch?v=xF9FW5_yDxs

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