Tag: Pierce Brosnan

  • Crítica | 007 Contra GoldenEye

    Crítica | 007 Contra GoldenEye

    007 Contra GoldenEye007 Contra GoldenEye é o primeiro filme de uma nova era do personagem — agora interpretado por Pierce Brosnan —, rompendo com o estilo anteriormente estabelecido por Timothy Dalton e inaugurando uma versão mais leve, mas também repleta de ação. A obra de Martin Cambpbell é marcante não só pela troca de ator  no papel do agente secreto, mas também pela abordagem pós Guerra Fria que ainda tem de lidar com essas questões novas.

    Na trama, o agente tem que impedir que o controle do poderoso satélite GoldenEye caia nas mãos dos inimigos britânicos, pois consegue causar pane em qualquer equipamento eletrônico do mundo. Os primeiros momentos do filme remontam ao conflito ocidental contra os soviéticos em uma base russa. A ação entre o protagonista e seu amigo Alec Trevelyan, o 006 vivido por Sean Bean, estabelece que a obra terá muitos momentos de ação com sequências viscerais que afastam a abordagem debochada da fase de Roger Moore, ainda que a personalidade do Bond de Brosnan tenha algumas similaridades com Moore.

    Essa versão rompe com quase tudo que foi estabelecido anteriormente. Desde a posição do chefe do MI-6, M agora é interpretada por Judi Dench, a Moneypenny vivida por Samantha Bond, restando apenas Desmond Llewelyn como Q, já bem veterano e em vias de se aposentar. Brosnan foi cogitado para substituir Moore após ter feito a série Remington Steele, mas teve que aguardar uma fase com Dalton à frente do personagem. Isso de certa forma foi uma boa escolha, pois ele adquiriu experiência com filmes de ação e amadureceu sua versão de herói de ação.

    Visualmente há uma grande diferença para os outros filmes, aqui o uso de efeitos especiais mais caros começa a ser utilizado, e marcas antigas como o caráter galanteador do personagem retornam, além de um claro cinismo por parte dos personagens periféricos. Se a Guerra Fria era repleta de maniqueísmos, aqui temos um roteiro que transita por lugares não tão comuns ao personagem, principalmente por conta do personagem de Bean que retorna nove anos após sua “morte”, como um anti-herói vingativo que usa a máscara do vilão e pretende discutir a ética do sistema.

    Os outros vilões são bastante peculiares e complicados. Por mais que haja semelhanças de Trevelyan com outros bons personagens como o Raoul Silva, de Javier Bardem, em 007: Operação Skyfall, a motivação é pouco desenvolvida. Outra personagem “estranha” é  Xenia Onatopp, de Famke Janssen, que apresenta um estereótipo complicado ao agir como uma ninfomaníaca e sociopata. Se a intenção era se distanciar do espectro do fantasma da Guerra Fria, não houve sucesso, pois se iguala a mulher russa a uma louca, naturalmente perversa e pervertida, um arquétipo xenófobo e tolo.

    Do pano de fundo, há momentos curiosos como 007 agindo sozinho boa parte do tempo, evitando instalações do MI-6, simulando uma espécie de início de carreira que seria retomada futuramente em 007: Cassino Royale. Os cenários também diferiam das fases Dalton e Moore, até mesmo o carro muda, saindo o famoso Aston Martin pela BMW Z3, obviamente com diversas melhorias, ainda que sub-utilizados.

    O filme perde fôlego ao se aproximar do final e a morte do vilão é baseada no clichê de queda, semelhante ao que aconteceu em Duro de Matar e Batman, fato que reforça a ideia de que James Bond geralmente retrata as manias e tendências culturais de sua época.

    007 Contra GoldenEye é um filme conhecido também por elementos externos ao cinema, especialmente por conta do jogo de tiro em primeira pessoa do console Nintendo 64, que ajudou a revitalizar a marca. Um bom início para Brosnan, que apresentou para o mundo uma versão sedutora do herói e trouxe de volta a Bondmania para uma nova era, ainda que tenha problemas de concepção severos e uma dificuldade de abandonar a exploração dos soviéticos como vilões, mesmo pós queda do Muro de Berlim e dissolução da União Soviética, e esse apego se arrastaria por quase toda a fase do novo intérprete.

  • Critica | Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars

    Critica | Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars

    A trama de Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars começa em Husavik, na Islândia, no ano de 1974, onde uma família celebra alegremente uma reunião familiar, enquanto o pequeno Lars se sente sozinho, por conta da ausência de sua mãe. Aos poucos é mostrado que ele é um sujeito menosprezado pelos seus, exceção feita a jovem Sigrit. Aqui, se percebem rusgas com Erick Ericksson (Pierce Brosnan), seu pai, além do desejo de ser levado a sério e vencer a competição Eurovision Song Contest.

    O longa de David Dobkin é mais uma produção onde Will Ferrell vive seu personagem clássico, o homem ingênuo e subestimado que tenta ganhar notoriedade. Com menos de dez minutos se estabelecem os sonhos de grandeza e glamour do protagonista, além de uma parceria (e amor platônico) junto a bela e talentosa Sigrit, de Rachel McAdams, e como de costume, somos apresentados ao fracasso que ele é.

    O choque geracional é muito presente, Lars e Erick seguem tendo atritos quando adultos, muito por conta da natureza turrona da figura paterna, um homem simples, pescador, que tira seu sustento do trabalho duro, enquanto seu filho é mole e tenta seguir o sonho artístico juvenil que jamais foi rentável. A chance que a banda de Lars tem seria vencer o festival para que seu país fosse sede no ano seguinte.

    Dobkin junta sua experiência em conduzir comédias como Bater ou Correr Em Londres e Penetras Bons de Bico, além da tradição que tem como realizador de videoclipes para empregar um humor pastelão, preocupado em dar voz às minorias unido a elementos típico dos musicais.

    Toda a trajetória da dupla de protagonistas passa por percalços, desde o receio em ser encarados como piada, até a escolha de Lars pelo celibato por conta da dedicação à música. Mesmo que o filme não se leve a sério existe um número considerável de mensagens de aceitação e tolerância que não soam deslocadas do resto da obra.

    Há no filme um caráter semelhante a Zoolander, em especial no que toca a sexualidade de alguns personagens, como o Alexander Lemtov (Dan Stevens), o cantor russo que atravessa o caminho do quase casal Lars e Sigrit. Toda a cor, o glamour e as luzes denotam o quanto a dupla estava certa em insistir no sonho que nutriam ao longo da vida, apesar de todas as circunstâncias e bom gosto bradarem contra isso. Ferrell normalmente faz filmes bobos e toscos, e esse é mais um deles, mas ainda assim possui um diferencial, algo mais lúdico e mágico. O roteiro de Ferrell e Andrew Steele consegue variar bem entre a comédia rasgada e os momentos de celebração e aceitação soando como uma celebração dos frágeis e excluídos.

    https://www.youtube.com/watch?v=Dq30kOAJzzI

  • Crítica | Marte Ataca!

    Crítica | Marte Ataca!

    “Uma rampa está descendo… como uma língua gigante!”

    Homenagem é o sobrenome de Marte Ataca!, uma das mais icônicas produções de Tim Burton, nos saudosos anos 90. Ainda colhendo os louros pelos sucessos de bilheteria que foram os dois primeiros Batman, e logo após Ed Wood, um dos seus melhores projetos, quiçá o seu melhor, Burton já tinha a confiança da Warner Bros. para comandar uma milionária invasão alienígena a Terra, e assim o fez. Dispondo de um grande elenco que incluía Jack Nicholson, Glenn Close e outras inúmeras estrelas reagindo a iminência de um primeiro contato extra terrestre, e das mais amalucadas formas de reação, o diretor de Os Fantasmas se Divertem e outros inúmeros filmes cuja estranheza e excentricidade ganharam o amor popular fez o tributo pop definitivo ao clássico trash Plano 9 do Espaço Sideral.

    Se em plena década de 50, espaçonaves eram literalmente pratos pendurados em barbantes, e filmados com orçamento risível por um louco apaixonado por Cinema chamado Ed Wood, esses mesmos veículos alienígenas em formato oval descem das nuvens, em Marte Ataca!, sendo efeitos especiais propositalmente horríveis, remetendo-os com essa intenção de escracho as inesquecíveis e bizarras obras do ídolo de Burton, massacradas na época por suas péssimas qualidades. Aqui, a bizarrice é generalizada muito antes de vermos os alienígenas, sendo nós muito mais estranhos em nossos costumes que eles, esquisitos muitos mais na sua aparência do que nos atos hostis muito parecidos aos da nossa espécie.

    Temos aqui a icônica cena dos homenzinhos verdes, um clichê orgulhoso do que é, assim como os velhos filmes testamento de Wood, o famoso pior cineasta de todos os tempos, entrando enfileirados na Suprema Corte norte-americana antes de incinerar a todos, sem motivo aparente. Em cenas como essa, ou na própria apresentação dos marcianos violentos aos “dóceis” militares americanos, ainda no começo do filme, Burton promove aqui usar a mesma selvageria que os EUA usam no trato com outras nações nas guerras que se envolvem, sendo não à toa os donos do mundo, seja por conta do poderio militar, ou através do poder midiático que produzem para fortalecer o american way of life. Essa intolerância aqui, mesmo vista pela ótica do ridículo e do humor, nunca esgota sua cumplicidade com a realidade política dos fatos que só agravaram-se com a presidência de Donald Trump.

    É interessante como o filme não tem pressa alguma de mostrar as suas criaturas de outro planeta, e o caos que elas fazem acontecer. Enquanto toda essa bizarrice de duas cabeças apaixonadas voando sem corpo passa, pouco a pouco, a ser o fator principal de uma trama baseada em como a loucura e a paranoia regem os EUA, e Las Vegas e Washington começarem a ser atacadas em divertidas e exageradas sequências de ação, fazendo pouco dessas cenas que Hollywood refaz todo ano em um sem número de filmes ruins, a crítica à política americana e ao modo de vida do Tio Sam é nítida, metaforizada aqui por um presidente incompetente, cidadãos abestados e uma cultura de espetáculo que explode pelo ar e ninguém liga porque tudo é descartável, assim como os cenários falsos e brilhantes que cercam pessoas falsas, de roupas brilhantes. De ingênuo, e ridículo, o ótimo Marte Ataca! tem apenas a sua casca, sendo uma ode apaixonada as raízes de um cineasta que nunca escondeu suas influências.

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  • Crítica | O Estrangeiro

    Crítica | O Estrangeiro

    O Estrangeiro talvez seja a primeira grande decepção do ano de 2018. Porém, isso não significa que seja um filme ruim. Muito pelo contrário, estamos diante de um bom filme. A decepção se dá pelo desperdício de material, uma vez que a sua história permite abordagens distintas e igualmente interessantes. Almejando aliar um thriller político em  uma eletrizante e violenta trama de vingança, o longa acaba por ficar no meio do caminho, se tornando um filme formulaico e indeciso sobre qual rumo abraçar, sucumbindo a fórmulas e clichês do gênero.

    Na trama, Jackie Chan interpreta Quan, um amoroso dono de restaurante que vê sua filha morrer de forma trágica em um atentado a bomba perpetrado por uma célula terrorista do IRA (Exército Revolucionário Irlandês). Sentindo-se desprezado pela polícia de Londres, Quan resolve buscar respostas com Hennessy (Pierce Brosnan), um ex-membro da organização que hoje é o Vice Primeiro-ministro da Irlanda do Norte. Ao também ser desprezado por Hennessy, Quan resolve buscar respostas por conta própria e transforma Hennessy em seu alvo primário para conseguir seu objetivo.

    Martin Campbell (diretor de Cassino Royale) imprime realismo na sua direção. Filma com esmero as cenas dos atentados, tanto os momentos anteriores quanto os posteriores aos atos, provocando certo choque no espectador. Outro ponto muito positivo é a forma como ele trata a dupla de personagens. Campbell consegue explorar muito bem os talentos dramáticos de Chan e extrai uma ótima interpretação de Brosnan, que aqui foge do lugar comum de seus papéis ao longo dos últimos anos. Porém, no que diz respeito à ação, o diretor peca bastante. Ainda que as cenas possuam um grau de realismo, fazendo com que Chan não seja um super-herói, mas apenas um homem muitíssimo bem treinando como o seu background no filme demonstra, tudo é muito picotado. O ritmo videoclíptico acaba por diluir o impacto de cenas que deveriam ser extremamente empolgantes para o espectador. O roteiro escrito por David Marconi, baseado no livro The Chinaman  escrito por Stephen Leather, é um tanto quanto engessado e formulaico, tendo a infeliz decisão de priorizar o thriller político em detrimento da trama de vingança que é desenhada nos trailers e na primeira parte do filme.

    A verdadeira força do longa-metragem está em sua dupla de protagonistas. Normalmente, nos filme de ação, os personagens são unidimensionais. Isso não ocorre aqui. Chan compõe um personagem que inicialmente parece um simples dono de restaurante cujos atos são justificados pela perda da última coisa que lhe importava na vida. Porém, com o desenrolar do filme, vamos descobrindo o seu passado e percebendo que ele não é tão simples assim. Ademais, o personagem não é um impávido colosso de moralidade, conforme vemos nos meios que ele utiliza para atingir os seus fins. O Liam Hennessy de Brosnan inicialmente parece um burocrata que renega o seu passado. Porém, vemos que ele é um homem dividido. Seus princípios de juventude sempre o colocam em conflito com as atribuições de seu cargo de primeiro-ministro, criando um personagem em constante conflito interno, o que provoca um racha até mesmo em sua vida afetiva. Outros personagens importantes são Sean e Mary, respectivamente sobrinho e esposa do personagem de Brosnan. Contando com boas interpretações de Rory Fleck-Byrne e Orla Brady, a dupla possui arcos dramáticos próprios que se tornam extremamente importantes para a trama.

    O Estrangeiro é um bom filme de ação que conta com uma grande dupla de protagonistas, mas que infelizmente desperdiça parte do seu potencial ao contar com um roteiro que não sabe onde concentrar o seu foco e com uma direção um tanto irregular.

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  • Crítica | Invasão de Privacidade (2016)

    Crítica | Invasão de Privacidade (2016)

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    O tema vingança é bastante recorrente no cinema, desde os clássicos westerns de John Ford até o cinema de ação atual, além de estar nesses temas, a questão também está no novo filme do eterno James Bond Pierce Brosnan, , que vive Mike Reagan um magnata de meia idade do ramo da aviação em Invasão de Privacidade. O fato de ter alcançado o topo muito rápido o põe em uma posição de tédio tremendo, fazendo de si presa fácil para a aproximação de Ed Porter (James Frecheville), um jovem técnico de informática que trabalha para si e que o ajuda com a questão da internet mal funcionando em sua casa.

    De maneira automática e nada natural, começa uma relação entre os dois com uma intimidade tão grande que o rapaz passa a ser apresentado para a família do patrão. Logo, Edward se interessa pela filha Reagan, passando então a usar seu conhecimento para atalhar a intimidade junto ao clã. Tal capacidade de infiltração geraria um fascínio passageiro no homem rico, uma vez que poder acessar dados confidenciais certamente o poria na frente de qualquer corrida comercial e de negócios.

    Após algumas situações forçadas, humilhações diversas ao rapaz e uma clara incapacidade do jovem em receber qualquer negativa, começa um jogo de troca de ofensas, variando entre coisas banais e eventos mais sérios, motivados unicamente pela rejeição de um homem esnobe e que jamais pareceu se preocupar minimamente com o bem estar de Porter, além de não dar qualquer sinal de que aceitaria a entrada em sua família.

    A intromissão do hacker magicamente ocorre em momentos chave da trama, com o sujeito ligando a câmera do tablet da moça no exato momento em que ela resolve tomar banho e ainda se tocar lascivamente, fato que não parece nada natural. A capacidade de flerte do menino é igualmente pífia, sobrando clichês de fala e nenhuma sutileza no modo de abordar a situação a qual se envolve.

    As retaliações de Ed motivadas pela demissão e proibição de ver sua provável conquista amorosa passa a cercar quase todas as ações de Michael, aproveitando a questão de que praticamente tudo está interligado via internet e acesso remoto. As sabotagens incluem acusações de fraude da empresa Reagan, desenganos sobre doença na família e até vazamento de nudes. Não bastasse a gratuidade dos atos vilanescos, ainda há uma mensagem de lição de moral patética vindo do personagem que deveria ser o justo.

    Para se livrar do incômodo, Michael apela para um extremo, passando então a caçar o rapaz, que também tem seus modos de defesa, uma vez que é frio, calculista e supostamente muito inteligente. A problemática em Invasão de Privacidade é que nenhuma das motivações fazem sentido, desde a cisma de Edward, que com todo esse potencial poderia estar lucrando muito mais com outras conravenções, bem como não há como sentir empatia pelo egoísta personagem de Brosnan, que não se importa com nada que não envolva seu conforto e dinheiro. Tampouco há como torcer por sua família, uma vez que sua esposa age de maneira genérica e ordeira e sua filha não aparenta ter qualquer apreço por si a não ser quando vê seu pai indo para a cadeia.

    A frivolidade com que John Moore conduz seu filme assusta, bem como a completa falta de substância e conteúdo de discussão, mesmo com tanto potencial para discutir a dependência do homem moderno aos aparelhos eletro-eletrônicos que o cercam e infelizmente o resultado final é somente isso, uma falha e pífia tentativa de tocar em assuntos espinhosos do século XXI.

  • Crítica | Everything or Nothing: The Untold Story of 007

    Crítica | Everything or Nothing: The Untold Story of 007

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    Documentário organizado por Stevan Riley, inicia-se com a atuação de Daniel Craig, já remetendo às primeiras linhas de Ian Fleming como novelista do romântico personagem que o tornaria famoso. Everything or Nothing investiga um pouco da intimidade do escritor, para remontar o ideal que o faria escrever sobre o agente secreto britânico. O autor sairia do front da Segunda Guerra traumatizado, indo enfim para a Jamaica para habitar sua casa de praia (chamada Goldeneye) fonte local dos contos e novelas sobre o espião, fantasiando sobre elementos comuns ao local em seus escritos, incluindo as barracudas e tubarões que habitavam os mares.

    Da dor das perdas de seus amigos, viria a inspiração para aventuras que mesclavam o escapismo inocente e o medo do desconhecido presente na figura do soviético. Cassino Royale lançado e tachado como um livro que chocaria a população conservadora, especialmente pelo apetite do protagonista por mulheres e pela fácil entrega das mesmas. Esse e outros problemas fariam com que alguns produtores associados a Albert L. Broccoli achassem que James Bond não era um personagem talhado para o cinema, e sim para a televisão, isso depois da encenação de Cassino Royale de 1954. Tal fator coibiu o escritor de produzir novas aventuras, quase cerceando na raiz a origem das histórias que ficariam famosas no cinema.

    Fundamental para que ocorresse a realização das adaptações foi Harry Saltzman, um sujeito cujo repertório envolvia o trabalho no circo, normalmente entretendo seu público através do colorido e espalhafatoso. Após conseguir os direitos dos livros de Fleming, organizou enfim a parceria com Broccoli e o consenso de ambos sobre a polêmica da persona de Connery como espião, já que ele era um desconhecido. Outros fatores colaboraram para tal identidade ser construída, como a personalidade de Terence Young, primeiro diretor da cinessérie.

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    Broccoli, Connery, Fleming e Saltzman

    A participação ativa de Maurice Binder foi fundamental para a abertura estilizada que se tornaria marca registrada do personagem, misturando elementos violentos com a sensualidade feminina dos textos canônicos de Fleming.

    O documentário não teme em optar por um lado ao discutir a questão de Kevin McClory e Ian Fleming, primeiro ao diminuir a influência do primeiro nas ideias por trás de Thunderball, prosseguindo em atrelar à briga judicial o principal fator para o falecimento do criador de 007.

    A gravidade está no reducionismo, já que o filme passa rápido demais por questões polêmicas, detalhando pouco a tomada de direitos de McClory, bem como a briga entre o cada vez mais famoso Connery e o produtor Saltzman, que resultaria na mudança de postura após Só Se Vive Duas Vezes. Apesar desses problemas, destaca-se a parte em que Lazemby confessa seus problemas de comportamento fora dos sets, além dos fatores que o fariam perder seu posto e a consequente fama e carreira que teria a partir daquilo, inclusive trazendo detalhes sobre sua postura de afronta, soando até bastante humilde ao falar sobre seu visual na premiere do filme, de barba e cabelos longos, diferente do estereótipo de seu personagem.

    Everything or Nothing 4

    O filme funciona perfeitamente como tributo/homenagem, reunindo depoimentos de membros das produções e de tantos outros famosos aficionados, como Mike Myers, que declara seu amor pelo personagem através da paródia de Austin Powers. No entanto, o tempo curto da produção não permite um grande aproveitamento dos detalhes que envolvem uma franquia que já teve um jubileu, atingindo o raso em alguns pontos, especialmente em reafirmar a demonização de McCLory, anda tangenciando os direitos de Thunderball, que resultaria no filme Nunca Mais Outra Vez. No entanto, a briga entre Saltzman e Broccoli é somente citada ao passant, curiosamente gastando-se mais tempo até nas desavenças de Connery com os dois produtores, que o ajudaram a aceitar o papel no filme apócrifo.

    Everything or Nothing soa como uma visão demasiada parcial, como um comercial publicitário, encomendado pelos atuais mandantes da franquia, que exibem a versão que lhes é conveniente. De positivo há a tentativa de justificar alguns dos equívocos dos filmes de Dalton como Bond, mas, ainda assim, sem se assumir.

    Bond Girls Naomi Harris & Bérénice Marlohe on the red carpet at the Orange British Academy Film Awards 2012.

    Não há qualquer remorso por parte dos produtores em colocarem Pierce Brosnan em temas que tornam os resquícios da Guerra Fria como algo imbecil e parodial, tampouco há um assumir de culpa por abordar esses temas mais espinhosos. A convalescência de Cubby Broccoli seria responsável pela reaproximação dele com Sean, fator que talvez explique a boa abordagem que fazem do ator, o qual, ainda assim, não se permitiu sair de sua aposentadoria para participar das gravações do documentário.

    Mesmo os comentários corretos em relação ao boicote preconceituoso a Daniel Craig soam oportunistas, como uma tentativa de trazer um virtuosismo para os atuais produtores, Barbara Broccoli e Michael G. Wilson, os mesmos que são incapazes de fazer uma autoanálise minimamente crítica em relação aos erros do passado. Para o fã do personagem 007, existem poucas informações inéditas, mas para um cinéfilo neófito Everything or Nothing funciona como bom artigo de curiosidade, mesmo considerando a quantidade absurda de fatos suprimidos.

  • Crítica | Horas de Desespero

    Crítica | Horas de Desespero

    Horas de Desespero - poster

    O cinema de ação da década de 80 fundamentou um estilo narrativo com grandes personagens e atores de destaque em histórias simples e lineares, baseadas no tradicional mocinho versus bandido para desenvolver o argumento, repetido em muitas outras tramas, com diversas cenas de ação ainda lembradas pela sua competência e certa extravagância. Atores baseados em um porte físico fundamentaram tais produções e, mesmo que as modificações temporais tenham acrescido novos atores e perfis para o gênero, o retorno ao estilo dessa época é inevitável e rentável, dada a nostalgia.

    Horas de Desespero marca o resgate deste estilo logo nas primeiras cenas de ação intensa, finalizadas com o  título do filme ampliando-se na cena, assemelhando-se a muitos outros feitos nesta era de ouro da ação. Em um primeiro momento, parece improvável que Owen Wilson, ator de comédias e sempre verborrágico em seus papéis, seja personagem principal em uma história de ação. Dirigido por John Erick Dowdle, a produção apresenta uma família que, após uma proposta de trabalho oferecida ao patriarca, muda-se para um país asiático fictício no mesmo dia em que o local sofre um golpe de estado.

    Na filmografia breve do diretor, o terror predomina como narrativa e, assim, o medo é utilizado como aliado para desenvolver a tensão nesta produção. Inserido em um país sem nome, o qual nem mesmo sabe a língua, o desconhecido é parte do desespero da família – composta por marido, esposa e duas filhas, um círculo de elementos frágeis que o obrigam a se tornar um obrigatório herói. Alguns críticos fizeram a leitura desta obra como uma ode à supremacia americana, rindo de países de terceiro mundo, com uma família tentando fugir deles. Porém, o roteiro assinado pelo diretor em parceria com Drew Dowdle usa este artificio de família em país estranho somente como ponto de tensão. A maneira plana a qual mocinhos e bandidos são apresentados, acrescidos pela urgência e medo da família, configura o enredo em uma trama de terror. Muda-se o contexto, mas a estrutura é a mesma. O medo ainda é um objeto específico, porém, em vez de um personagem inexistente, zumbis, vampiros e qualquer outros, utiliza um golpe de estado para tal.

    A crítica não parece o escopo desta história. A ação é pautada do começo ao fim e Dowdle utiliza recursos do gênero para intensificar suas cenas, dando vazão a câmeras lentas e eficientes, provando que o recurso usado em demasia nos últimos anos ainda pode ser visualmente coerente, além de cenas que acompanham um personagem em fuga com a família, colocando o público em primeiro plano para saltos, quedas e outras ações de fuga. São estas cenas bem trabalhadas que refletem ansiedade e tensão no público.

    Nesta composição hibrida entre a urgência e o medo do terror e a eficiência de uma trama de ação, Horas de Desespero entrega uma história que homenageia parte do estilo nostálgico da ação da década de 80 com um herói improvável em cena, porém, eficiente na proposta de um filme de entretenimento autêntico.

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  • Crítica | O Escritor Fantasma

    Crítica | O Escritor Fantasma

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    Dúvida e culpa têm seus lugares reservados em qualquer situação sensível a erros. Você pode ser julgado de maneira brutal por qualquer minúsculo defeito assim que o mesmo estiver exposto. É esse sentimento que Roman Polanski nos passa na perspectiva do escritor fantasma (Ewan McGregor) ao acompanhar por alguns dias a vida de Adam Lang (Pierce Brosnan).

    Na trama de O Escritor Fantasma, McGregor, do qual eu não me recordo perfeitamente, mas acredito que não tem seu nome citado em momento algum no filme, consegue ser contratado para algo que não tem interesse algum e do qual não entende: Terminar de escrever as memórias de um político que foi muito popular durante seu mandato e que agora vive recluso em um único local, com sua equipe e esposa devido a trágica morte de seu antecessor.

    Em momento algum inicialmente as poucas migalhas de algo que possa ser um mistério soam gritantes ao espectador. É tudo cirurgicamente suave, mas elegante e ao mesmo tempo incômodo. Parece que tem algo a acontecer, que sempre está perto de acontecer. É essa dúvida do início desse texto que percorre a cabeça do personagem. Fazer parte integral da vida de alguém sem nem ao menos ter participado parece o pior trabalho do mundo. Uma pesquisa intimista que terá valor para todos, menos você.

    Durante um momento essa dúvida é tão berrante que começa a fazer parte de uma ideia perigosa, mas que ao mesmo tempo soa estranha, e é daí que surge todo o suspense do filme. O ponto mais interessante ao terminar de assisti-lo é pensar que estamos acompanhando apenas quatro dias da vida do protagonista, que transparecem pelo sutil peso das pistas se encaixando e criando uma teia de ligações suspeitas, mas que nunca passam disso.

    Cores sóbrias tomam conta das cenas. Você passa a não perceber detalhes junto do protagonista exatamente porque eles não são feitos para serem percebidos. A vontade de guiar o espectador em alguma direção se mantém imponente até o último momento dessa película. A trilha, assim como a fotografia, é sutil e aparece pontualmente para dar ritmo a poucas cenas onde existe a necessidade.

    É curiosa a forma como a sensação de que poderia ser você ali no meio de um mal entendido, ou alguém que você conhece, fica presa quando você para para pensar nas peças se encaixando. Paranoico, até.

    Texto de autoria de Halan Everson.

  • Crítica | November Man: Um Espião Nunca Morre

    Crítica | November Man: Um Espião Nunca Morre

    A experiência acumulada após muitos anos de trabalho de campo conferem a Peter Deveraux, um afastado agente da CIA, a qualidade de ser o espécime perfeito para o drama mostrado em November Man – Um Espião Nunca Morre. A sensação de deja-vu causado pela figura de Pierce Brosnan insere o público de modo quase automático, apesar de trazer ecos desnecessários para a fita, em sensações que deveriam ficar bastante distantes dos dias em que o ator vivia James Bond. O estigma segue o britânico, apesar de seus outros dotes dramatúrgicos.

    Peter é escalado para realizar uma difícil tarefa, que envolve um antigo pupilo seu, ao mesmo tempo em que resgata o medo vivido na época da Guerra Fria, mas igualmente atual, especialmente se pensar na situação da Ucrânia e Donetsk. Aos poucos, os reais desígnios de Devereaux são revelados, envolvendo a figura máxima no estado de poder russo, rememorando os tempos quando 007 era vivido por Sean Connery e Roger Moore.

    Acostumado a trabalhar com filmes de ação dos mais genéricos e contendo alguns pequenos clássicos no currículo (A Experiência e A Fuga), Roger Donaldson executa uma fita que lembra alguns dos aspectos de cenário e fotografia de Paul Greengrass, claro, sem a câmera na mão que lhe era peculiar, mas com uma crueza bastante semelhante nas cenas de perseguição cuja iluminação estourada faz perder qualquer traço de boa  comparação com a trilogia Bourne.

    Outra semelhança notável é o uso da ultra tecnologia, que faria inveja a quaisquer inventos de M. O início do filme faz pensar como seria uma aventura de Bond se fosse conduzido por um diretor “modernoso”, como Luc Besson ou por um alguém mais genérico e com menos talento, como Stephen Sommers.

    O roteiro logo trata de conduzir o público a uma vingança pessoal, assassinando uma pessoa querida ao protagonista, que assiste incólume aos seus antigos mandatários deixarem sua funcionária perecer, somente por questionar suas ordens. O grupo de conspiradores se mostra desunido e sem a certeza de quais seriam seus alvos, tampouco havia clarividência de quais seriam os aliados seguros e Mason (Luke Bracey) era o que mais dava mostras dessa incerteza. Este aspecto reforça a ideia de remitência a Guerra Fria, um complicado período onde até a sombra de um homem poderia lhe fazer mal.

    A impressão de que November Man é uma colcha de retalhos, que repete alguns dos bons elementos dos filmes de espionagem recentes só aumenta no decorrer da sua exibição. No entanto, o marasmo pertence a metade de sua extensa duração. A tentativa de quebra de monotonia é levada por um embate entre mentor e discípulo, que até guarda momentos de violência que não chegam a ser nem extremos, nem de qualidade indiscutível. As sequências de ação, que deveriam ser um ponto alto são executadas de modo preguiçoso e engessado, um pouco graças a avançada idade de Brosnan, muito piorada pela equivocada direção de Donaldson, que não consegue esconder sequer os defeitos de seu astro principal.

    Nem mesmo a exploração da beleza de Olga Kurylenko é bem executada, tampouco sua intricada e trágica tradução é bem orquestrada ou aproveitada. As soluções do roteiro no último ato são infantis e tão enfadonhas quanto o meio do filme, não acerta nem sob a ótica escapista e nem pela realista. Vingança, reunião de almas aflitas e a sobrevivência dos heróis – tudo isto é completamente banalizado pela fraca abordagem dada ao filme, por seu caráter de remendo mal feito e de prato servido de modo insosso.

  • Crítica | Uma Longa Queda

    Crítica | Uma Longa Queda

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    Pessimista e catastrófico, ainda que de um modo leve e agridoce, tratando a morte como algo comum e inerente à existência humana. O fim da trajetória chamada vida não precisa ser algo triste ou digno de choro. Mais que isso: a naturalidade do suicídio é algo presente nas palavras de Martin Sharp, um senhor de meia-idade e famoso apresentador de TV vivido por Pierce Brosnan, e que é o primeiro contador da história de Uma Longa Queda (A Long Way Down), o novo filme de Pascal Chaumeil baseado no texto original de Nick Hornby.

    Em um evento inesperado, de caráter completamente entrópico, Sharp, naquela noite de réveillon, conta com a presença de outras três pessoas que também querem cometer a própria morte, primeiro Maureen (Toni Collette), depois Jess Crichton (Imogen Poots) e J.J. (Aaron Paul). Entre eles há pouco em comum. O repertório e estilo de vida dos personagens são completamente singulares, e cada um contém o seu próprio microcosmo com razões suficientes para odiar a vida. Em comum, somente a aflição da alma. A interação do quarteto mais lembra uma esquete teatral de cunho tragicômico do que um filme. Com o tempo, os personagens se afeiçoam e passam a estimar uns aos outros, projetando cuidado e apoio mútuo aos colegas. Após sofrer uma overdose, Jess, a mais nova e incendiária do grupo – e ainda em recuperação -, sugere que os quatro selem seu destino suicida juntos, dali a seis semanas, no Dia de São Valentim, a segunda data em que mais acontecem suicídios, atrás apenas da virada do ano em incidência desse tipo de caso.

    Em determinados pontos da trama, o narrador dá voz a um dos quatro suicidas, alternando-se. A variação da linguagem explora alguns motivos para a precoce interrupção da vida, como a invisibilidade social, excesso de burocracia, dificuldades de conviver com a própria família, a sensação intermitente de que a vida passa diante dos olhos. Em resumo, a causa que contorna todas as vidas é a da infelicidade motivada pelo sentimento inexorável de solidão.

    Apesar da propensão de Hornby para contar histórias cômicas, o roteiro de Jack Thorne tem um viés muito mais dramático, mostrando o quão intragável é a vida dos personagens e o quão difícil é viver em meio às mentiras que os próprios kamikazes inventam para aplacar ou amenizar o seu sofrimento. A história da morte coletiva planejada vaza para a imprensa, que trata de explorar o circo midiático o qual naturalmente atravessa toda a situação. Graças ao entorno da vida de alguns dos personagens, é interessante para os canais explorar o curioso e fracassado fim da vida, mas a atenção dispensada a eles é pequena, apesar das expectativas de Sharp, que até neste momento derradeiro de sua trajetória se sente humilhado e pouco valorizado.

    Como já era esperado, o pacto foi quebrado, assim como a amizade entre os iguais. A esperança que existia em virtude da união também se esvaiu, e cada um deles tem de lidar com a sua rotina de modo diferente, uma vez que o fim das suas vidas foi postergado novamente.

    Talvez a questão maior do filme esteja em discutir os métodos usados pelos homens para lidar com o que é inevitável. A insistência em sentir-se impotente diante das dificuldades mundanas faz com que este mesmo homem esconda-se, faz com que tenha medo de enfrentar os seus demônios. A existência dessas sensações nem sempre é evitável, uma vez que a maioria dos obstáculos não é inventada pela cabeça do suicida.

    Procurar uma saída digna para as dúvidas referentes à continuidade da vida é o melhor e mais otimista ponto da história de Nick Hornby, que, apesar de cair em algumas armadilhas piegas, consegue passar uma história simpática, capaz de fazer o público se importar com seus personagens, uma vez que eles são como arquétipos. Pessoas reais como as que cruzam as ruas todos os dias e que têm de tocar as suas próprias vidas sem fórmulas mágicas, nem garantias de finais felizes.

  • Crítica | Heróis de Ressaca

    Crítica | Heróis de Ressaca

    herois de ressaca

    Em 2004, o diretor Edgar Wright e os atores Simon Pegg e Nick Frost iniciaram a chamada Trilogia dos Três Sabores de Cornetto (Three Flavours Cornetto Trilogy) com o já clássico Todo Mundo Quase Morto (Shaun of The Dead). A comédia, que subvertia os clichês e homenageava os filmes de zumbi, foi um grande sucesso devido aos seus diálogos ágeis e engraçados, roteiro bem amarrado e ótimas atuações da dupla de protagonistas e do elenco de apoio composto por comediantes britânicos. No ano de 2007, foi a vez de Chumbo Grosso (Hot Fuzz), filme igualmente engraçadíssimo e que prestou uma sensacional homenagem aos filmes de ação. A “Trilogia” agora chega ao fim com Heróis de Ressaca, uma pérola que homenageia os filmes de ficção-científica, mais precisamente os de invasão alienígena.

    Cada filme é relacionado a um sabor diferente do sorvete Cornetto – os protagonistas se referem, compram ou visualizam o sabor adequado a cada situação. Em Todo Mundo Quase Morto, o sabor é de morango (vermelho); em Chumbo Grosso, o sabor clássico (azul); e em Heróis de Ressaca, menta (verde). A brincadeira com as cores do Cornetto é ainda uma paródia com a série de filmes Trilogia das Cores do diretor Krzysztof Kieślowski.

    Estrelado pela impagável dupla Simon Pegg e Nick Frost, além de Martin Freeman, Paddy Considine, Eddie Marsan, Rosamund Pike, Pierce Brosnan e Bill Nighy em participação especial, Wright novamente conseguiu fazer um filme engraçadíssimo, com roteiro muitíssimo bem amarrado (escrito em conjunto com Pegg), diálogos sensacionais e momentos impagáveis, principalmente em seu terço final. Na trama, 20 anos após tentarem um pub crawl – uma maratona de bebedeira em vários bares diferentes numa única noite -, um grupo de cinco amigos de infância se reúne novamente na cidade do interior da Inglaterra, onde moravam, para arriscar o feito, quando um deles convence os demais. Porém, ao chegarem no local, percebem que coisas estranhas têm acontecido na cidade.

    Simon Pegg e Nick Frost, a dupla de protagonistas, estão impagáveis como sempre. Pegg entrega uma interpretação inspirada e alucinada, ainda que com alguns toques de melancolia, para o seu Gary King. A simpatia com o personagem é imediata. Frost faz Andy, melhor amigo de Gary e o melhor sucedido da turma. Seu processo de desconstrução ao longo do filme é divertidíssimo. Martin Freeman, Eddie Marsan e Paddy Considine também entregam interpretações inspiradas. Apesar de serem mais contidos, talvez pelos próprios personagens que interpretam, os três têm momentos engraçadíssimos e não servem somente como escada para as piadas da dupla principal. Vale também destacar a presença da linda Rosamund Pike, que faz uma mocinha pouco convencional, objeto de desejo e de (divertida) disputa entre as personagens centrais. As participações de Pierce Brosnan e Bill Nighy como figuras importantes do passado do grupo são impagáveis e essenciais para a trama.

    A fotografia do filme é excelente e há ótimo uso das locações e cenários. Aos poucos, a bonita e simpática cidade de Newton Haven vai se transformando em um cenário opressor. O ritmo vai de uma escalada constante até chegar a um ponto vertiginoso, e as cenas de ação e luta são orquestradas magistralmente. Nota-se também uma certa influência de Scott Pilgrim Contra o Mundo, trabalho anterior do diretor, na edição da película. Algumas transições são muito parecidas, ainda que mais discretas.

    Em resumo, a Trilogia dos Três Sabores de Cornetto encontra aqui o seu desfecho de ouro com esse sensacional filme que agrada em cheio a qualquer público, mesmo àqueles que não são familiarizados com o cinema de Edgar Wright.

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