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  • Crítica | 007 Contra a Chantagem Atômica

    Crítica | 007 Contra a Chantagem Atômica

    007 Contra a Chantagem Atômica - blu ray

    O quarto filme da franquia James Bond, 007 Contra a Chantagem Atômica, teve a missão de ajudar a consolidar uma das maiores franquias da história do cinema em apenas três anos de diferença para o primeiro filme.

    Após o agente Emilio Largo da criminosa associação Espectre roubar armas nucleares de um avião da OTAN e ameaçar detoná-las em cidades inglesas e americanas em troca de dinheiro, James Bond vai para as Bahamas com o objetivo de impedir a extorsão.

    O roteiro sólido de Richard Maibaum e John Hopkins, baseado na história original de Jack Wittingham, segue a cartilha dos anteriores e mantém os principais elementos dos filmes da franquia que conquistou a legião de fãs, como a motivação dos antagonistas em destruir o mundo, a ambientação em locais paradisíacos cheios de ricos elegantes, os assassinatos e o eterno clima de conquista do protagonista em relação às diversas Bond Girls.

    O que muda na trama do roteiro é a ameaça. Pela primeira vez na franquia a detonação de uma bomba atômica é o grande problema a ser resolvido. O tema, em voga na época após a Crise dos Mísseis em Cuba em 1962, deixa o temor mais palpável, fazendo da trama mais realista, com um medo real do período.

    As ações dos personagens são quase orgânicas, mas existem escorregadas dos roteiristas e forçações de barra para fazer a trama andar. Por exemplo, quando Emilio Largo vai entrar em seu barco no final do filme, ele escolhe ir por baixo d’água sem motivo aparente, o que se torna conveniente para que James Bond mate um dos seus seguranças e entre na embarcação.

    Terence Young volta a franquia após dirigir os dois primeiros filmes. Ele soube usar de sua habilidade para narrar visualmente a história, em especial as cenas de ação e os romances entre o protagonista e as mulheres. Como diretor de atores, ele está no automático, o que não é mais que necessário para os filmes da franquia.

    As atuações caricatas seguem a cartilha dos anteriores. Sean Connery é um bom 007 e Adolfo Celi um vilão memorável. Salta aos olhos as aparições, como Bond Girls, da francesa Claudine Auger interpretando Domino e a italiana Luciana Paluzzi sendo Fiona. E, ainda, as sempre ótimas aparições de quem não poderia faltar ao elenco da saga, Desmond Llewelyn como o chefe de tecnologia do MI-6 Q, Lois Maxuell como a secretária Moneypenny e Rik Van Nutter como o agente americano Felix Leiter.

    A fotografia com tons naturalistas de Ted Moore, que trabalhou nos três filmes anteriores da saga, não consegue se sobressair, porém, faz seu papel em deixar 007 Contra a Chantagem Atômica uniforme. O grande destaque são as cenas embaixo d’água feitas pelo estúdio Ivan Tors, inclusive o belo clipe de abertura com a trilha sonora característica composta por John Barry e Don Black e cantada por Tom Jones é feito com cenas aquáticas.

    A edição de Ernest Hosler dá ritmo ao filme e os 128 minutos não são sentidos por quem entende ser um filme de ação dos anos 60.

    007 Contra a Chantagem Atômica vale a pena para quem gosta de acompanhar a franquia desde o começo, e consegue inserir um tema pertinente à época, deixando o filme mais interessante.

    Texto de autoria de Pablo Grilo.

  • Crítica | Everything or Nothing: The Untold Story of 007

    Crítica | Everything or Nothing: The Untold Story of 007

    Everything or Nothing 1

    Documentário organizado por Stevan Riley, inicia-se com a atuação de Daniel Craig, já remetendo às primeiras linhas de Ian Fleming como novelista do romântico personagem que o tornaria famoso. Everything or Nothing investiga um pouco da intimidade do escritor, para remontar o ideal que o faria escrever sobre o agente secreto britânico. O autor sairia do front da Segunda Guerra traumatizado, indo enfim para a Jamaica para habitar sua casa de praia (chamada Goldeneye) fonte local dos contos e novelas sobre o espião, fantasiando sobre elementos comuns ao local em seus escritos, incluindo as barracudas e tubarões que habitavam os mares.

    Da dor das perdas de seus amigos, viria a inspiração para aventuras que mesclavam o escapismo inocente e o medo do desconhecido presente na figura do soviético. Cassino Royale lançado e tachado como um livro que chocaria a população conservadora, especialmente pelo apetite do protagonista por mulheres e pela fácil entrega das mesmas. Esse e outros problemas fariam com que alguns produtores associados a Albert L. Broccoli achassem que James Bond não era um personagem talhado para o cinema, e sim para a televisão, isso depois da encenação de Cassino Royale de 1954. Tal fator coibiu o escritor de produzir novas aventuras, quase cerceando na raiz a origem das histórias que ficariam famosas no cinema.

    Fundamental para que ocorresse a realização das adaptações foi Harry Saltzman, um sujeito cujo repertório envolvia o trabalho no circo, normalmente entretendo seu público através do colorido e espalhafatoso. Após conseguir os direitos dos livros de Fleming, organizou enfim a parceria com Broccoli e o consenso de ambos sobre a polêmica da persona de Connery como espião, já que ele era um desconhecido. Outros fatores colaboraram para tal identidade ser construída, como a personalidade de Terence Young, primeiro diretor da cinessérie.

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    Broccoli, Connery, Fleming e Saltzman

    A participação ativa de Maurice Binder foi fundamental para a abertura estilizada que se tornaria marca registrada do personagem, misturando elementos violentos com a sensualidade feminina dos textos canônicos de Fleming.

    O documentário não teme em optar por um lado ao discutir a questão de Kevin McClory e Ian Fleming, primeiro ao diminuir a influência do primeiro nas ideias por trás de Thunderball, prosseguindo em atrelar à briga judicial o principal fator para o falecimento do criador de 007.

    A gravidade está no reducionismo, já que o filme passa rápido demais por questões polêmicas, detalhando pouco a tomada de direitos de McClory, bem como a briga entre o cada vez mais famoso Connery e o produtor Saltzman, que resultaria na mudança de postura após Só Se Vive Duas Vezes. Apesar desses problemas, destaca-se a parte em que Lazemby confessa seus problemas de comportamento fora dos sets, além dos fatores que o fariam perder seu posto e a consequente fama e carreira que teria a partir daquilo, inclusive trazendo detalhes sobre sua postura de afronta, soando até bastante humilde ao falar sobre seu visual na premiere do filme, de barba e cabelos longos, diferente do estereótipo de seu personagem.

    Everything or Nothing 4

    O filme funciona perfeitamente como tributo/homenagem, reunindo depoimentos de membros das produções e de tantos outros famosos aficionados, como Mike Myers, que declara seu amor pelo personagem através da paródia de Austin Powers. No entanto, o tempo curto da produção não permite um grande aproveitamento dos detalhes que envolvem uma franquia que já teve um jubileu, atingindo o raso em alguns pontos, especialmente em reafirmar a demonização de McCLory, anda tangenciando os direitos de Thunderball, que resultaria no filme Nunca Mais Outra Vez. No entanto, a briga entre Saltzman e Broccoli é somente citada ao passant, curiosamente gastando-se mais tempo até nas desavenças de Connery com os dois produtores, que o ajudaram a aceitar o papel no filme apócrifo.

    Everything or Nothing soa como uma visão demasiada parcial, como um comercial publicitário, encomendado pelos atuais mandantes da franquia, que exibem a versão que lhes é conveniente. De positivo há a tentativa de justificar alguns dos equívocos dos filmes de Dalton como Bond, mas, ainda assim, sem se assumir.

    Bond Girls Naomi Harris & Bérénice Marlohe on the red carpet at the Orange British Academy Film Awards 2012.

    Não há qualquer remorso por parte dos produtores em colocarem Pierce Brosnan em temas que tornam os resquícios da Guerra Fria como algo imbecil e parodial, tampouco há um assumir de culpa por abordar esses temas mais espinhosos. A convalescência de Cubby Broccoli seria responsável pela reaproximação dele com Sean, fator que talvez explique a boa abordagem que fazem do ator, o qual, ainda assim, não se permitiu sair de sua aposentadoria para participar das gravações do documentário.

    Mesmo os comentários corretos em relação ao boicote preconceituoso a Daniel Craig soam oportunistas, como uma tentativa de trazer um virtuosismo para os atuais produtores, Barbara Broccoli e Michael G. Wilson, os mesmos que são incapazes de fazer uma autoanálise minimamente crítica em relação aos erros do passado. Para o fã do personagem 007, existem poucas informações inéditas, mas para um cinéfilo neófito Everything or Nothing funciona como bom artigo de curiosidade, mesmo considerando a quantidade absurda de fatos suprimidos.

  • Crítica | Moscou Contra 007

    Crítica | Moscou Contra 007

    Moscou Contra 007 A

    Assim que James Bond, o 007 malicioso e persuasivo interpretado por Sean Connery, assina a foto de Tatiana Romanova, sua lindíssima bondgirl no longa-metragem dirigido por Terence Young, 007 Contra Moscou tem início, adaptando a clássica história de Ian Fleming.

    O ambiente de fundo é a Guerra Fria. O ápice da espionagem guerrilheira entre os Estados Unidos e a Rússia envolve desta vez, o Reino Unido e o MI-6, que corresponde a 007 investigar um programa de criptografia russo. Bond então parte para a Turquia, enquanto a inocente agente Romanova (Daniela Bianchi) é destinada a persuadir e colocar o espião em uma armadilha, que de fato estava armada desde o início da operação.

    Seguindo a narrativa dos filmes anteriores e dos posteriores, o tradicional plot de espionagem é certeiro e contempla diversos meios para ser conduzido. Algumas sequências ilustram um filme noir, com perseguições e entraves nos diálogos, cooperando junto a ironias e um humor sarcástico, além da conhecida elegância inglesa.

    O filme é bem dirigido. A fotografia é bela, exaltando a imponência e as cores do ambiente, principalmente em filmagens externas. O roteiro flui sem tanta naturalidade. Os diálogos são ótimos e muito bem escritos, mas algumas cenas não entregam o que o roteiro leva. Em alguns takes há falhas de comunicação, criando uma falsa perspectiva e gerando surpresas até mesmo aleatórias. Mesmo que isso não comprometa o filme como um todo, há momentos que me transmitiram uma impressão falsa do que estava por vir.

    O ápice climático, as cenas de ação e os conflitos dos personagens são os alicerces. Conduzem o filme ao longo de quase duas horas. A química entre Connery e Bianchi é fantástica, fortificando a atriz como uma das melhores bondgirls da era do ator, e de todos. Vale o acréscimo para Robert Shaw, que interpreta o agente da SPECTRE, Red Grant. Seu jeito misterioso e imponente transporta a sensação de uma interessante vilania.

    Moscou Contra 007 comprova o vislumbre, a realeza e a tradição dos filmes de espionagem. Sem forçar estereótipos, e até mesmo quebrá-los ao insinuar uma personagem russa como homossexual, é um filme bonito e, mesmo que aparente ser datado, agrada pela contextualização, sendo um dos melhores de toda a saga.  

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    Texto de autoria de Adolfo Molina.