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  • Crítica | Moscou Contra 007

    Crítica | Moscou Contra 007

    Moscou Contra 007 A

    Assim que James Bond, o 007 malicioso e persuasivo interpretado por Sean Connery, assina a foto de Tatiana Romanova, sua lindíssima bondgirl no longa-metragem dirigido por Terence Young, 007 Contra Moscou tem início, adaptando a clássica história de Ian Fleming.

    O ambiente de fundo é a Guerra Fria. O ápice da espionagem guerrilheira entre os Estados Unidos e a Rússia envolve desta vez, o Reino Unido e o MI-6, que corresponde a 007 investigar um programa de criptografia russo. Bond então parte para a Turquia, enquanto a inocente agente Romanova (Daniela Bianchi) é destinada a persuadir e colocar o espião em uma armadilha, que de fato estava armada desde o início da operação.

    Seguindo a narrativa dos filmes anteriores e dos posteriores, o tradicional plot de espionagem é certeiro e contempla diversos meios para ser conduzido. Algumas sequências ilustram um filme noir, com perseguições e entraves nos diálogos, cooperando junto a ironias e um humor sarcástico, além da conhecida elegância inglesa.

    O filme é bem dirigido. A fotografia é bela, exaltando a imponência e as cores do ambiente, principalmente em filmagens externas. O roteiro flui sem tanta naturalidade. Os diálogos são ótimos e muito bem escritos, mas algumas cenas não entregam o que o roteiro leva. Em alguns takes há falhas de comunicação, criando uma falsa perspectiva e gerando surpresas até mesmo aleatórias. Mesmo que isso não comprometa o filme como um todo, há momentos que me transmitiram uma impressão falsa do que estava por vir.

    O ápice climático, as cenas de ação e os conflitos dos personagens são os alicerces. Conduzem o filme ao longo de quase duas horas. A química entre Connery e Bianchi é fantástica, fortificando a atriz como uma das melhores bondgirls da era do ator, e de todos. Vale o acréscimo para Robert Shaw, que interpreta o agente da SPECTRE, Red Grant. Seu jeito misterioso e imponente transporta a sensação de uma interessante vilania.

    Moscou Contra 007 comprova o vislumbre, a realeza e a tradição dos filmes de espionagem. Sem forçar estereótipos, e até mesmo quebrá-los ao insinuar uma personagem russa como homossexual, é um filme bonito e, mesmo que aparente ser datado, agrada pela contextualização, sendo um dos melhores de toda a saga.  

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    Texto de autoria de Adolfo Molina.

  • Crítica | Tubarão

    Crítica | Tubarão

    Tubarão 1

    Ainda começando a pôr os pés dentro do cinema moderno, Tubarão talvez seja o pioneiro dos chamados filmes de verão, que evoluíram para o conceito de blockbuster com Star Wars. A direção de Steven Spielberg é ousada, construindo um filme essencialmente cosmopolita, que trata de uma questão universal que é o medo. Essa abordagem utiliza uma figura que, apesar de estar longe das ações humanas, mostra que o temor é algo inerente à vivência humana e que, muitas vezes, não há onde se esconder. O termo original escolhido para nomear o filme, “Presas” (Jaws), utiliza os mesmo conceitos de Encurralado, sendo quase uma continuação do mesmo espírito, mas com varição do cenário .

    A sensacional ideia de começar o filme nas profundezas marinhas já prova quem será o protagonista da película. Até mesmo os nomes do elenco que aparecem na tela preta dos créditos, não têm qualquer destaque em comparação com a introdução filmada sob os olhos do predador máximo.

    Após o preâmbulo, um grupo de adolescentes na flor da idade e ávidos por dar vazão aos seus pecados carnais – influência do slasher Psicose de Hitchcock, homenageado ao longo de todo o filme – nadam na praia de Amity despreocupados e movidos pelo torpor do verão e por suas vidas sem responsabilidades . Logo na primeira cena no mar, a ótica singular do diretor é posta à prova com uma tomada vinda do interior da água, resgatando a parte baixa e anunciando o suposto ataque do monstro. Mesmo que a pobre personagem interpretada por Susan Backlinie não se debatesse de modo desesperado, já seria possível desenhar o panorama catastrófico que viria a seguir. As consequências das mortes são mostradas de modo sutil aos olhos atuais, mas grotescos para a época.

    O bravo chefe policial, Martin Brody (Roy Scheider), ao se dar conta do homicídio, quer interditar o banho de mar, mas esbarra nos interesses do empresariado local, que subestima as chances de um – outro – desastre acontecer. Assim, é decidido unilateralmente que seria seria dada a permissão para o livre uso da praia, o que faz com que Brody assuma o papel de salva-vidas, cercando o mar com os olhos, quando é surpreendido por uma vítima fatal: uma criança. Mesmo diante da fatalidade, ele não consegue adentrar à água, fica somente na margem, atemorizado pelo que poderia ocorrer se entrasse no território de seu futuro nêmese. É nesse momento que o entrave começa de verdade.

    Em meio a uma reunião com as personalidades mais importantes da cidade, que não sabem o que fazer diante da tragédia, surge uma figura bizarra, de compleições rudes e fala lunática. Mister Quint (Robert Shaw) tem experiência em lidar com criaturas semelhantes ao que estão enfrentando, e após sua apocalíptica apresentação, os cidadãos passam a ficar mais assustados, finalmente fechando a praia. A partir daí, toda população passa a caçar o bicho e acaba capturando um tubarão tigre. A caça logo é inspecionada pelo inseguro oceanólogo Matt Hooper (Richard Dreyfuss), que contesta a identidade do assassino, baseado nas mordidas que marcavam os músculos das vítimas.

    A culpa e a acusação batem à porta de Martin, que se sente responsável por não ter impedido os banhistas de usufruírem da água enquanto havia apenas a suspeita de morte. Hooper tenta prestar seu apoio aproximando-se do delegado, mas sua falta de traquejo social o faz parecer um sujeito inconveniente. Matt e Martin são dois opostos, enquanto o estudioso ama tubarões e todas as criaturas marinhas, os medos do oficial da lei envolvem barcos, água e afins. Tudo piora quando o homicida passa a habitar a costa, um choque que faz o policial tomar uma atitude mais enérgica, muito a contragosto.

    O medo causado na população e na plateia ocorre muito devido a aura do inimigo marítimo, uma vez que ele quase nunca é mostrado em tela, aparecendo somente sua silhueta no interior da água. A sensação de impotência se mostra ainda mais presente quando torna-se notável que o comércio da cidade tem mais importância que a segurança de seus habitantes. Até as autoridades, como o prefeito Larry Vaughan (Murray Hamilton), sentem-se fracas perante a predação que se impõe. A proposta do alucinado assassino de tubarões, Quint, torna-se apetitosamente tentadora, além de inexorável.

    A jornada pelo mar demarca mais do que a simples inversão de espaço, pois praticamente muda o gênero da película. Quando Martin vislumbra pela primeira vez a criatura, sua expressão, assim como seu comportamento, mudam por completo. As broncas e brincadeiras têm de ser deixadas de lado em nome da caça e de sua própria sobrevivência. O tamanho dos tubarões era um problema, uma vez que os espécimes vivos tinham somente 4 metros, porém os que aparecem no filme, teriam 8 metros, causando uma diferença descomunal que faz com que os antigos prêmios de Quint pareçam nada diante da magnificência do animal.

    A contribuição de Carl Gottlieb para o roteiro serviu não só para enxugar o guião em seu primeiro tratamento, mas também para humanizar os personagens, já que, no livro de Peter Benchley, havia demasiadas histórias paralelas, cujos dramas não necessariamente acrescentavam à trama. Unindo à verossimilhança das pessoas mostradas em tela, a música pontual e icônica de John Williams, mostra-se uma sinfonia perfeita para a ópera de horror de Spielberg. A inspiração nas facadas de Psicose, acompanhada da música de Bernard Herrmann dão o norte para a trilha, que segundo o diretor, é responsável por 50% do sucesso do filme.

    O embate final é custoso, pois cerceia a vida de um dos personagens centrais. Seu desfecho é emocionante e simbólico, provando uma superação significativa de Martin, que consegue dominar seus temores, passando por cima do seu horror ao mar e conseguindo derribar o arauto da morte. O animatrônico de Ron e Valerie Taylor, retornaria às profundezas, dessa vez incapaz de impingir mal a mais ninguém. Infelizmente, a ganância desenfreada fez de Tubarão uma franquia que, em toda sua sapiência, buscava ofuscar os momentos únicos do clássico de 1975, tendo sua primeira continuação lançada três anos depois.

    Mesmo ainda muito novo, Spielberg já conseguia imprimir sua marca através da lente precisa de suas câmeras, além de capitanear uma edição perfeita, que fez dos defeitos de fabricação do tubarão mecânico o seu maior trunfo, aumentando as expectativas ao não exibir seu monstro de modo descabido. O subtexto de Jaws inclui não uma mensagem ecológica politicamente correta, mas sim, uma interessante odisseia, que inclui críticas desenfreadas ao capitalismo e, principalmente, a soberba humana no que toca a questão de mostrar-se a criatura mais soberana do planeta.