Em 007: Os Diamantes São Eternos a demanda pelo retorno de Sean Connery foi finalmente atendida, mas sem desconsiderar os momentos urgentes da última aventura de James Bond, em 007: A Serviço Secreto de Sua Majestade. O início da trama mostra o personagem em uma jornada de vingança violenta, indo atrás dos homens da Spectre em busca da vingança pela morte de sua amada esposa.
O curioso aqui é o tom desse início, bastante diferente do restante da aventura, funcionando como um prólogo. Resolve as questões pendentes para enfim apresentar uma nova trama, a última envolvendo a super organização Spectre. Connery, volta bem envelhecido, por mais que entre esse e Com 007 Só Se Vive Duas Vezes tenha se passado apenas quatro anos, o tempo parece pesar. A maquiagem não disfarça as marcas de expressões e sinais da idade, e até a peruca com tons grisalhos denuncia que Bond está velho demais para esse tipo de ação.
Essa obra também marca um tom mais humorístico nas ações de 007. A dupla de vilões secundários também colabora para essa sensação, Mr. Wint (Bruce Glover) e Mr. Kidd (Putter Smith) são caricatos e, claramente, um casal gay. Para além da condição homofóbica com que são tratados, possuem visual bastante esquisito, acompanhado de um comportamento obsessivo e compulsivo. Colocar no papel de vilania pessoas que fogem da normalidade do herói branco heteronormativo era uma das marcas mais tortas da franquia, e com a saída de Connery isso pioraria, já que era ainda mais comum apelar para isso na fase mais cômica protagonizada por Roger Moore.
Até existe alguma coragem no filme ao colocar a Moneypenny de Lois Maxwell como agente de campo, algo inédito e que seria referenciado por Sam Mendes em 007: Operação Skyfall, mas geralmente, a trama gira em torno dos chavões de 007. A versão de Blofeld feita por Charles Gray por sua vez é menos empolgante que a de Donaldo Pleasence ou Ted Savalas, a máxima de colocar sempre um novo intérprete para fazer o vilão atingiu aqui seu desgaste.
Além do começo truncado, o desenrolar dos fatos soa estranho. Guy Hamilton já havia feito 007 Contra Goldfinger, filme menos pretensioso, mas bastante divertido dessa fase, entre outros aspectos por ser repleto de coadjuvantes carismáticos. Isso passa longe de acontecer em 007: Os Diamantes São Eternos, pois é arrastado e pouco dinâmico, com reviravoltas tolas e um protagonista indisposto e preguiçoso, fato que fazia jus a procura dos diretores por uma nova encarnação do agente de Ian Fleming.
Durante o decorrer da década de 1980 várias obras infames ganharam projeção e publicidade em meio ao público médio, e sem dúvida, 007: Nunca Mais Outra Vez se destacou por fazer parte desse cenário. O filme que traria Sean Connery para seu papel mais famoso tem trama muito semelhante a 007 Contra a Chantagem Atômica e é fruto de uma briga judicial entre os escritores desse roteiro. Na trama, Bond recebe uma convocação para recuperar bombas nucleares roubadas pela organização Spectre, tradicionalmente presente nos livros de Ian Fleming.
Para além da exibição, a obra é mais conhecido pela polêmica envolvendo os direitos autorais. Kevin McClory produtor e co-autor do roteiro do filme de 1965 ganhou ação na justiça dos Estados Unidos e pôde fazer seu próprio filme com o personagem desde que este fosse produzido após 1975. Nas discussões a respeito disso Connery sugeriu que o personagem estivesse de fato mais velho e maduro, mas a ideia foi descartada e fingiriam que ele era o mesmo personagem de sempre, mesmo com o intérprete já vivendo personagens mais veteranos, a exemplo de Robin e Marian, O Homem Que Queria Ser Rei e tantos outros.
O filme não possui boa parte das marcas do personagem, como os créditos iniciais, a trilha musical, etc. Sobraram os personagens M, Moneypenny, Q e, claro, a organização Spectre. Irvin Kershner, diretor de O Império Contra-Ataca foi responsável por conduzir Nunca Mais Outra Vez. O filme tem como bondgirl principal a belíssima Kim Basinger, que tem seu corpo explorado de modo mais agressivo do que era comum aos filmes do espião britânico. Max Von Sidow como Blofeld, tem em sua ação uma abordagem semelhante aos filmes de brucutus, com violência mais franca e estética semelhante aos filmes de soldado. Em alguns pontos, as brigas lembram o visto em Rambo: Programado Para Matar.
O filme é repleto de momentos bobos, como quando o herói derrota um brutamontes após jogar um líquido estranho, que parecia ser ácido, para depois descobrirmos se tratar da urina do espião. O filme ainda chega ao cúmulo de ter Rowan Atkinson, intérprete do clássico personagem Mister Bean, que anos mais tarde faria Johnny English, uma paródia aos clichês de 007.
Reza a lenda que McClory desejava que esse fosse apenas um de uma nova série de filmes do agente britânico, mas essa intenção não se materializou. Durante os anos 90, sua intenção era refilmar essa mesma história com o título Warhead 2000, e chamaria Timothy Dalton para fazer Bond, porém a justiça americana freou esse projeto. A julgar pela qualidade deste, foi melhor assim. Para Connery o filme ainda causou sensações mistas. Ao passo que ele recebeu o maior cachê pago a um ator britânico até a 1983, ele também conseguiu quebrar seu pulso, enquanto ensaiava uma coreografia de luta com o instrutor Steven Seagal.
Nunca Mais Outra Vez desperdiça o talento de Klaus Maria Brandauer, ator austríaco acostumado a papéis mais dramáticos e que aqui parece um bobo alegre. Além disso, o roteiro é fraco, as atuações são genéricas, a música tema é pouco marcante, e nem ao menos os cenários remetem às histórias de Fleming.
Com 007 Só se Vive Duas Vezes é o quinto filme da franquia do espião inglês. A história aborda a investigação sobre o desaparecimento de duas naves, uma americana e outra soviética, e a missão do agente vivido por Sean Connery em tentar descobrir o responsável pelo plano que pode causar conflito entre as duas maiores potências mundiais da época.
O tema do longa reflete muito bem o período envolvendo a corrida espacial entre as duas potências, além de referenciar Jornada nas Estrelas: A Série Clássica, bastante popular à época e estava em sua segunda temporada. Além disso, a velha fórmula das aventuras de James Bond se faz presente, gadgets criativos, moças bonitas, carros e estilo de vida luxuosos. Esse é o primeiro filme de Lewis Gilbert como diretor na franquia – ele retornaria em 007: O Espião Que me Amava e 007 Contra o Foguete da Morte, com Roger Moore no papel central. A questão mais marcante e positiva é como o super-agente é preparado, pois, ainda que em uma terra estrangeira e distante, ele parece ser íntimo de outras culturas e idiomas.
Ao mudar de cenário a obra exibe suas fragilidades. Se apela demais para clichês locais. Connery se disfarça de japonês, incluindo não só um penteado com uma peruca muito falsa que o faz parecer um noviço franciscano, como na maquiagem forte que faz com que seus olhos fiquem puxados. Isso já era ofensivo na época e, obviamente, envelheceu bastante mal, para piorar ainda se mostra uma academia ninja nada discreta, que banaliza as práticas do ninjitsu e das artes marciais, desde o caratê até a esgrima samurai. Essa falta de sutileza causa um humor involuntário, onde claramente não era a intenção.
Esse é mais um filme de Bond que aborda a organização da Spectre. O clássico vilão Blofeld é interpretado por Donald Pleasence, dos clássicos de John Carpenter (Halloween: A Noite do Terror, Príncipe das Trevas e Fuga de Nova York). No entanto, sua atuação é discreta e confere ao personagem um ar de mistério.
A música You Only Live Twice, cantada por Nancy Sinatra e composta por John Barry, resgata bem a atmosfera dos filmes de aventura dos anos sessenta, sempre frenéticos e repletos de uma violência irreal, bem no estilo que se espera de um Bond clássico. Com 007 Só se Vive Duas Vezes é mais um filme que se vale dos chavões do personagem de Ian Fleming e marcaria a despedida, ainda que breve, de seu intérprete.
A infeliz morte de Sir Sean Connery, já do alto de seus 90 anos reacendeu em seus fãs do ator a vontade de revisitar e entender sua filmografia. Certamente entre esses, um dos mais vistos e analisados foi Os Intocáveis, filme de 1987 dirigido por Brian De Palma, que se tratava de um refilmagem do seriado homônimo dos anos 1950 envolvendo um grupo de elite que desmantelaria o cartel de Al Capone. Para entender o filme e o fenômeno, é preciso mergulhar nos materiais adicionais, bastidores e o contexto da época.
Em documentário de making off, De Palma aborda um pouco do insucesso financeiro de seus últimos dois filmes Quem Tudo Quer, Tudo Pode e Dublê de Corpo, então, quando o roteiro de David Mamet via Paramount caiu em suas mãos, ele resolveu tentar desenvolve-lo. Mamet se baseou na série homônima, chamada aqui também de Os Intocáveis, iniciada em 1959. De Palma não gostava da série, e ele só aceitou participar após Art Linson garantir que ele poderia fazer o que quisesse, e basicamente, o filme aborda o primeiro capítulo do programa, que consiste na prisão de Al Capone.
Mamet era um grande nome na época, um escritor promissor, responsável pelo roteiro de Jogo de Emoções e anos depois faria Mera Coincidência e Hannibal. Com o diretor escolhido, foi decidido reduzir o número do esquadrão de elite para quatro (eram oito, a contar com Eliot Ness). Alguns desses personagens foram até desmembrados, divididos em dois ou mais como o veterano ex-fora-da-lei Joe Fuselli, que reúne em si elementos tanto de Malone como de Stone/Pettri, seja pelo fato de ter origem italiana como o personagem de Andy Garcia, ou de ser uma espécie de mentor que rapidamente perece, como o personagem de Connery.
Kevin Costner nem sempre foi a primeira opção para o papel de herói, um dos nomes pensados foi Mel Gibson, que não pôde por questões de agenda. O intuito do estúdio era encontrar um rosto conhecido, como era também o desejo de que Michael Corleone em O Poderoso Chefão fosse alguém mais experimentado que Al Pacino, e em ambos os casos, a escolha dos diretores foi correta, Costner consegue transparecer uma mistura de ingenuidade da luta pelo bem a qualquer custo, com uma crescente malícia de quem aprende a agir nas ruas.
Já Charle Martin Smith foi escolhido por conta de seu papel em Loucuras de Verão, de George Lucas. Seu Oscar Wallace é baseado num sujeito real, Frank Wilson, que também era contador, mas ficava longe da ação, já Garcia conseguiu por conta de Morrer Mil Vezes de Hal Ashby, onde faz um vilão. Para De Palma e os outros produtores, Connery era a única pessoa que caberia na função de mentor e conhecedor das ruas de Chicago, e sua dedicação foi total, inclusive na sua cena de morte, que foi a primeira em que ele teve que lidar com sangue falso.
Limitações orçamentarias fizeram a produção pensar em Bob Hoskins para o papel do vilão, até De Palma já havia se conformado, de certa forma. A insistência em Robert De Niro como alvo primário ocorreu mesmo com o alto custo de seu salário e com a problemática dele só ter duas semanas para gravar. Foi De Niro que viabilizou o visual de seu personagem, usando a mesma equipe que tratou do envelhecimento de seu personagem em Era Uma Vez na América de Sergio Leone. De Palma reclamava que ele não expressava muitas emoções em seu personagem, e De Niro afirmava que aquilo era o ideal e mais condizente com Capone. As sutilezas só foram percebidas na pós-produção, onde ficou claro que o ator tinha uma intimidade com a câmera, e nem mesmo um diretor experimentado como De Palma percebeu isso de imediato.
Stephen H. Burum, responsável pela fotografia resolver filmar em Cinemascope. A decisão por esse artifício se deu após ele pesquisar muito sobre a época e como a cultura dos anos trinta e quarenta era traduzida ao público. Foi dele a ideia de repetir muito os carros nas ruas a fim de expressar em tela uma tendência de consumo da época. Outra grande ideia foi o uso da lente angular na cena da igreja, onde as mãos de Connery e Costner parecem maiores, aumentando o simbolismo de que são seus atos que tornam Chicago um lugar mais limpo e justo, e não havia lugar melhor para isso do que utilizar uma igreja como cenário.
Sobre a cena da morte do contador Wallace, Martin Smith fala que De Palma optou por não colocar muito sangue, em respeito a figura frágil e correta do personagem, exageros não seriam bem-vindos. A composição visual em torno de Capone é precisa e quase divinal, a escolha por sua cena de abertura ser filmada de cima com pessoas o servindo, fazendo as unhas, barbeando ou meramente entrevistando-o já dá noção de sua imponência e onipotência, ele não era o grande “empresário” de Chicago, mas o Deus da cidade. Havia uma cena cortada, onde repetiram a cena do início, com Capone sendo barbeado, e quando saísse do Plano Detalhe, se perceberia ele preso, mas foi retirada do filme na última hora, pois a escolha foi a de valorizar os policiais, os reais intocáveis, os que tiveram coragem de enfrentar o chefão do crime organizado de Chicago.
Com o desfecho de Os Intocáveis se abriu a possibilidade para mais aventuras depois da queda de Capone, mas o filme praticamente reduziu essa chance a zero no cinema, afinal sem o Malone de Connery tudo seria bem mais melancólico e depressivo, e é fato que o cinema hollywoodiano tem dificuldade em não transformar sucessos em franquias, e ainda bem que este não teve novas sequencias, pois este trabalho do diretor está entre os mais elogiados, ao lado de grandes atores e em uma sinergia poucas vezes vistas no cinema.
De Richard Lester, Robin e Marian adapta a fase mais velha da clássica história do príncipe dos ladrões que roubava dos ricos para dar aos pobres: Robin Hood. Seu começo se dá em meio a uma paisagem estranha onde ocorrem alguns eventos aparentemente desconexos que resultam numa conversa entre um Robin já cansado (Sean Connery) e um sujeito caolho. Nesse início, em forma de epílogo, se nota que o antigo contraventor mudou, envelheceu, sofreu e teve de se submeter ao rei Ricardo.
Ricardo Coração de Leão é executado por Richard Harris em um performance bastante elogiada na época. Os momentos em que ele contracena com Connery são carregados de uma química notável e registram o quão frouxo e melancólico pode ser um reinado. Seja em seus últimos momentos com os súditos ou no cortejo fúnebre do monarca se percebe a tristeza tanto nos que fizeram parte da nobreza, quanto dos plebeus que viam à distância a decadência do governo.
Lester apresenta uma face nada nobre dos personagens. Robin, como dito antes, não é mais o mesmo, seja pelos fios brancos de sua barba e ausência de cabelos em sua cabeça ou por seu espírito domado e divergente dos tempos em que saqueava a monarquia para alimentar a plebe. O retorno à floresta que antes chamava de lar se dá em um momento igualmente sem glórias, e ele é tão desencontrado com a realidade que mal percebe estar atacando seus antigos amigos. Boa parte dessa construção de tristes figuras se dá pelo esforço do elenco, que reúne Connery fazendo a figura de um homem de passado poderoso e que vê os anos tirando-lhe a força e pujança, como também por meio do restante do elenco, com a nova versão de Marian de Audrey Hepburn, a personagem mais bem explorada fora o famoso ladrão, ou com as participações de Robert Shaw, Ian Holm e Bill Maynard.
A filmografia de Lester se divide em fases bem distintas, a primeira em musicais onde acompanhava os Beatles, posteriormente focado em dramas de época, e por fim, sua fase mais decadente, quando substituiu Richard Donner em Superman II e Superman III. Essa obra é de sua fase mais elogiada, e o que se vê é um cuidado acurado por trazer uma carga dramática correspondente ao teatro clássico britânico.
Robin e Marian é uma obra tão dedicada a desconstrução da mitologia que a primeira flecha desferida se dá apenas com quase uma hora de exibição. A direção de arte de Gil Parrondo ajuda a trabalhar essa desmistificação. O resultado final é um filme melancólico que reflete sobre envelhecimento e a distância entre pessoas que se amam, ainda que características básicas como o orgulho e honra sigam intactos.
Lancelot: O Primeiro Cavaleiro é mais uma das muitas obras que adaptam os contos míticos de Avalon a respeito da lenda do Rei Arthur e seus cavaleiros da Távola Redonda. Dirigido por Jerry Zucker (Ghost: O Outro Lado da Vida), o filme se inicia com um resumo dos primeiros passos do soberano dono da Excalibur para depois mostrar o astro de comédias românticas Richard Gere se exibindo como Lancelot, um exímio espadachim que vive seus dias tranquilos no campo.
Por mais que o filme não seja um primor dramaturgicamente, há um cuidado com sua atmosfera. O departamento de arte, cenários e figurinos corroboram para o estabelecimento da historia, mas é a música de Jerry Goldsmith que mais a marca. É ela que ajuda a denunciar o terrível combate que Malagant, o príncipe perverso feito por Ben Cross, impõe a uma simples vila de camponeses, e claro, aos reinos vizinhos. Essa condição de opressão contrasta demais com o restante do tom do filme que se preocupa em excesso por criar um caráter de romantismo exagerado.
Lancelot é habilidoso, um sujeito de boa índole e honrado, capaz de derrotar praticamente qualquer pessoa, mesmo em um duelo desigual. Os destinos de Camelot o encontram por acaso, como se ele estivesse predestinado, e não há nem sequer uma tentativa básica de estabelecer realidade nos combates ou nos pretensos encontros amorosos. Desde o primeiro momento em que encontra a Guinevere de Julia Ormond já se percebe que dali brotará uma relação amorosa. Não se guardam surpresas dramáticas, é tudo bem óbvio, uma historia de época preocupada em entreter por meio de um romance açucarado.
Após fazer Apertem os Cintos o Piloto Sumiu e Top Secret, os irmão Jerry e David Zucker seguiram carreiras diferentes, o segundo continuando nas esteiras das comédias rasgadas enquanto o outro se dedicou a fazer historias mais sérias. No entanto, o que se vê nessa produção, além de clichês românticos, é uma leveza que não combina com tempos tão sombrios quanto esses. É curioso como todo uma vertente de filmes sobre a Idade Média insiste em ser super limpinho, higiênico, comedido com violência e volúpia.
Mesmo a suposta traição e indiscrição conjugal envolvendo Guinevere e Lancelot é suavizada, estabelecida assim graças a escalação do veterano Sean Connery como Arthur. O veterano herói de ação não poderia ser retratado como vítima da infidelidade de sua amada e de seu principal cavaleiro, portanto, se impõe uma diferença de idade, e uma relação fria entre rei e sua futura rainha, colocando o humilde Lancelot como a resposta plebeia a um possível herdeiro do trono.
Ao menos o filme expõe questões políticas e sociais comuns a época, como casamentos arranjados para proteção entre reinos e vilarejos, sequestros de figuras importantes a fim de conseguir barganha com reféns. A grande questão é que tudo é mostrado de uma maneira bem pueril, quase infantil, como um conto narrado para crianças, que só busca o intento de derreter corações sensíveis e apaixonados.
Se o filme não se levasse tão a sério, certamente haveria algum charme na condução da historia, principalmente no triangulo amoroso entre protagonistas. É uma pena, pois Connery tenta dar alguma gravidade ao seu papel, enquanto os outros dois atores parecem protocolares, mesmo ao fim, onde uma batalha sangrenta ocorre, não há força, o sangue que jorra de heróis é artificial demais, não se sente o sacrifício de ninguém, e o resultado final carece de emoção.
Lancelot: O Primeiro Cavaleiro poderia ser mais assertivo se não se levasse tão a sério, pois acaba pecando em ser um drama de época e um filme de aventura, não acertando em cheio sequer a vertente de romance rasgado, uma vez que não há quase química nenhuma entre os dois principais atores, e as questões de discussões sobre a época medieval também não são bem trabalhadas.
Shalako é um filme de 1968, protagonizado por Sean Connery e dirigido por Edward Dmytryk. O longa aborda a presença dos europeus no velho oeste ao mostrar um grupo de aristocratas europeus recém-chegados ao Novo México, com todo tipo de luxo comum a sua classe. Baseado no livro de Louis L’Amour, o ponto de partida da aventura é o tédio desses ricaços que vão até o novo mundo em busca de aventuras.
Esse não é um western comum como a maioria dos que se colocam dentro desse subgênero. Seus momentos iniciais dão conta de monótonas e prolongadas conversas sobre os rumos que a tal viagem teria. Em meio a essas tratativas, o observador do exército dos Estados Unidos vivido por Connery se aproxima, e praticamente, só trava conversas sinceras com a Condessa Irina Lazaar, de Brigitte Bardot, que pouco tempo depois é raptada, sendo esse basicamente o primeiro evento diferenciado e com alguma urgência dentro da trama básica.
O filme carece de ritmo, além de desperdiçar a persona de Connery num longa desse quilate. A origem escocesa do ator não garantiu tantas oportunidades de fazer westerns quanto outros atores de sua geração. Além disso, a figura de Bardot não ultrapassa a barreira de simples e bela figura de admiração. Shalako e Irina são os personagens mais complexos, mas não são exatamente tridimensionais, seus dramas, sentimentos e anseios são baseados quase inteiramente em arquétipos e nada mais. Com pouco menos de 70 minutos de exibição há um aprofundamento da relação dos dois, com um flerte que era mais do que óbvio que aconteceria antes mesmo de começar o filme, no entanto, nem a química deles é bem explorada.
Há alguns momentos bem complicados do ponto de vista ético, em especial a forma como os nativos americanos são retratados. Se nos anos sessenta os western spaghetti costumavam valorizar as atitudes dos povos latinos, aqui o modo como se retrata esses povos originários é no mínimo equivocada.
Shalako procura se tornar um épico, principalmente ao mostrar o combate entre o herói e o bravo nativo (Woody Strode), e esta parte é a que mais acerta ao colocar um pouco de camadas na forma como retrata os ameríndios, mas a história em si não possui grandes curvas ou arcos dramáticos, ao contrário, seus melhores pontos envolvem a exploração das suas figuras mais famosas, se resumindo basicamente a isso, e não na ação, violência e discussão a respeito do estilo de vida desses mesmos colonizadores.
Filme britânico de 1957, Na Rota do Inferno traz uma história sobre foras da lei, dirigido por Cy Endfield e filmado em preto-e-branco. Seu início se dá com uma cena simbólica e bastante inventiva, ao utilizar a câmera em primeira pessoa, emulando o olhar de alguém ao volante, acompanhada pela música de Huppert Clifford. O filme é conhecido também pelo seu nome original, Hell Drivers, além de ter sido um dos primeiros trabalhos de Sean Connery, na época com apenas 27 anos.
A trama, bastante simples, possui uma premissa esquisitíssima. Uma empresa de transportes possui uma frota de caminhões e seus motoristas são escolhidos por ter nervos de aço, já que eles precisam correr muito com as suas cargas. Isso produz não só a cena inicial, mas também outras tantas cenas de corrida livre pelas estradas com os caminhões correndo praticamente sem freio. A narrativa segue a vida de Tom Yately, (Stanley Baker) recém-chegado na cooperativa, e que se mostra ser um exímio piloto.
A história também apela para a simplicidade textual ao associar o gosto pela vida radical a bandidos e marginais, como se apreciar alta velocidade fosse algo moralmente errado. O cenário é de foras da lei utilizando esse estilo de vida, e dada a época de 1957 quando foi lançado, ele possui alguma violência, ainda que bastante comedida.
O roteiro lida com questões óbvias, Tom varia entre o anti-herói e o sujeito de bom coração, ainda que seja mal quisto por parte de sua família, cuja índole claramente não é perversa. Da parte de Connery, sua participação é pequena, ele aparece com pouco menos de trinta minutos, e por ter uma biotipo semelhante ao de Baker, boa parte dos materiais de divulgação usavam sua figura nos pôsteres, mudando inclusive a arte a fim de ludibriar possíveis espectadores e compradores, como se o ator escocês tivesse uma participação maior. Ainda assim, Na Rota do Inferno possui cenas de perseguição bem executadas e que serviriam de inspiração para filmes como Faster, Pussycat! Kill! Kill!, Bullit, 60 Segundos e tantos outros filmes sobre super velocidade.
Poucas adaptações cinematográficas de romances literários podem se dizer tão elogiadas e tomadas como referência como foi a de O Nome da Rosa, de Jean-Jacques Annaud, que traduz em tela o material homônimo de Umberto Eco. A primeira cena do filme se dá em meio a uma tela preta, acompanhada de palavras sagradas em uma oração em forma de reza. Logo depois, somos apresentados a William de Baskerville e Adso Van Melk, personagens de Sean Connery e Christian Slater, recém-chegados a um mosteiro ao norte da Itália.
Antes mesmo de revelar o motivo da chegada dos franciscanos se percebe nos hábitos e falas do homem mais velho um método de dedução e lógica acurados, com semelhanças gigantescas a Sherlock Holmes para além da referência óbvia em seu nome (homenagem ao romance de Arthur Conan Doyle, O Cão dos Baskerville). A motivação se dá graças a venda de parte das riquezas da igreja católica, mas forças externas parecem ir na direção de proibir tal conclave.
As diferenças entre Adso e William são enormes, enquanto um tem toda uma vida de descobertas para explorar, o outro é descrente vendo o homem bastante distante do Divino, como se a entrega para o sacerdócio tirasse sua inocência e sua capacidade de crer indiscutivelmente na onipresença de Deus, não por conta de inabilidade do ser supremo, e sim pela sujeira inerente aos homens. A observação sobre os rumos da humanidade e o estudo das sagradas escrituras são uma boa possibilidade para explicar tal desencanto.
A estrutura de narração do velho Melk também contém elementos da literatura de Conan Doyle, em uma emulação do modo que John Watson descrevia os feitos do detetive, inclusive com a mesma admiração entre pupilo e mentor. A vazão ao olhar sem esperança de Baskerville o faz enxergar que a natureza humana se distancia da santidade, mesmo aos que se dedicam aos estudos de Cristo. O modo como a história lida com a libertinagem e as pulsões sexuais, seja dos detentos do mosteiro ou seu aluno são provas do quanto tudo isso faz parte do comportamento normativo do homem. Curiosamente, William não opina sobre nenhuma delas, como se estivesse à frente desse tipo de julgamento moralista.
O ingresso do desafeto de Baskerville na trama, o inquisidor Bernardo Gui (F. Murray Abraham), faz entender um bocado da falta de esperança do velho protagonista. As torturas, perseguições e a desnecessária demonização de eventos humanos são uma boa mostra da incredulidade dele na boa ação dos homens e sua falta de piedade com a raça. A aura de mistério e acusação ganham força com o decorrer do filme, isso é fortalecido não só pelo roteiro e pela construção de atmosfera organizadas pelo departamento de arte e fotografia, mas também pelos atores. Connery, Slater e Abraham fazem papéis importantes cuja dedicação é total para que o espectador entenda o intuito da história.
O Nome da Rosa é o resultado de uma análise bem pragmática da condição humana, com uma valorização dos homens cultos e estudiosos, possuindo muitas camadas em si, desde a mais superficial delas como um mero filme de suspense e investigação, até a desconstrução de estereótipos e arquétipos não só ligado à religião, mas também as sociedades (modernas e antigas). Resulta em uma ode a um passado mais simples, porém mais violento, abrilhantada por uma presença forte e carismática de Connery e seus colegas do grande teatro britânico.
O gênero capa e espada se tornou muito popular ao longo dos anos, sendo um tipo de historia muito apreciada pelo público em geral não só nos livros como também nos cinemas. Após avanços em efeitos especiais, os anos noventa trouxeram adaptações de qualidade e outras tantas de gosto duvidoso, explorando uma vertente mais fantasiosa de obras mais realistas como Coração Valente. Em 1996, misturando certo realismo com fantasia, Coração de Dragão de Rob Cohen (Dragão: A História de Bruce Lee, Velozes e Furiosos) chega às telas.
A história apresenta inicialmente dois personagens, o bravo Bowen (Dennis Quaid) e o jovem Einon (interpretado por Lee Oakes quando moço e depois, adulto, por David Thewlis), seu pupilo. A interação é mostrada de forma ingênua mas o pragmatismo da Era Medieval Logo domina a tela. Em um acidente testemunhado por ambos, o príncipe do reino sofre um acidente e a rainha invoca o poder mágico de um dragão para salvar o filho. A única condição imposta pelo dragão é um juramento de bondade e justiça. Porém, o personagem se revela um rei tirano e jovem cavaleiro acredita que foi o poder mágico que modificou o rei.
O filme foi reprisado inúmeras vezes nas Sessão da Tarde e Cinema em Casa e angariou fãs que viam na obra um clássico moderno. O alto grau de fantasia pode sustentar essa afirmação, embora cinematograficamente ele não tenha grande qualidade. O roteiro é básico em seus primeiros momentos e parece se desenvolver, em certa medida, de maneira semelhante a história do rei bíblico Ezequias, alguém que pediu a um ser divino uma vida prolongada e viu a desgraça chegar em seu reino. Os desígnios divinos são substituídos pela corrupção entre homens e dragões.
O destaque da fita é Sean Connery que empresta sua voz e personalidade ao Dragão procurado por Bowen e pela rainha. Após a mudança de personalidade da majestade, o guerreiro que segue o Antigo Código – uma espécie e conduta honrosa antiga, citada mas não desenvolvida durante o longa -e persegue por doze anos o ser draconiano. Em cena, muitos arquétipos típicos de jogos de RPG medieval aparecem como clérigos, bardos e outros personagens da época.
Os os cenários das cidades são bem feitos, embora em alguns momentos seja visível a precariedade de alguns cenários, principalmente as rochas. Há também um enorme pudor para finalmente mostrar a figura de Draco que primeiro aparece se camuflando como um camaleão e somente aparece com maior intensidade após meia hora de exibição.
O grave problema que desequilibra a trama é a artificialidade das personagens. Não há sutileza nenhuma. Em alguns pontos a qualidade dramática lembra uma representação amadora. Para uma narrativa épica que busca falar sobre o fim de uma raça, afinal o dragão do título é o último de sua espécie, o roteiro não está a altura da empreitada. Para piorar, os efeitos da época não encaixam muito bem o dragão e outros personagens com o cenário. Mesmo que a equipe da Industrial Light & Magic tenha participado da confecção da criatura, é visível a precariedade. O personagem foi o primeiro feito inteiramente por computação que interagia com outros personagens humanos em cena. Sendo assim, é natural certa precariedade. Ao menos a construção do humor do dragão é charmosa e carismática, ao contrário das outras personalidades, em especial dos vilões.
Mesmo com as limitações visuais, o que mais incomoda são as obviedades do roteiro com personagens que se julgam espertas mas não são. Diversos ardis em cena não enganam nem mesmo os mais novos. Ao menos, o caçador e o monstro alado parecem estar se divertindo com as grotescas situações em que se colocam. Além disso, há boas participações também de Pete Postlethwaite, Brian Thompson e Dina Meyer, e um de comédia bizarro entre a criatura e o caçador.
As relações dos personagens não tem uma construção bem trabalhada, mentor e pupilo não tiveram grande tempo de tela para desenvolver ali uma relação de paternidade ou mesmo de fraternidade. Desse modo, o duelo entre Eion e Bowen se esvazia de significado. O que realmente importa para o roteiro de Charles Edward Pogue é o compartilhamento de coração entre Draco e o rei malvado.
Ao menos, o conceito do herói caído, deprimido e decepcionado com seus próprios rumos de vida consistem em uma boa mensagem. Há química entre Dennis Quaid e a figura monstruosa de CGI. É uma pena que a historia não acompanhe o arrojo dessa amizade, sequer em seu desfecho, que valoriza o legado de Draco e mostra uma revolta popular contra a monarquia tirana, embora toda essa movimentação não faça sentido.
Coração de Dragão é um filme cujas intenções são ótimas, mas o modo como sua historia se desenvolve é irregular. Resultando em uma obra que mais se destaca pelo imaginário nostálgico do que pela qualidade intrínseca.
O início de 007 Contra Golfinger apresenta o James Bond original, Sean Connery, lidando com uma ação “típica” de espiões (ao menos dos super espiões) ao sair de um submarino para plantar uma bomba. O espião britânico era um sujeito único, bem humorado, charmoso e elegante. Era capaz de sair ileso, ostentando paletó e gravata elegante mesmo após causar tumulto com explosivos.
Para além da estrondosa música de abertura, executada por Shirley Bassey, Goldfinger possui a maior parte das marcas da franquia: a violência extrema que Bond é obrigado a impor, a sedução de belas mulheres, uso de carros de luxo, a presença de Félix Leiter (Cec Linder), o machismo galopante do herói, vilões característicos, as péssimas cenas em chroma key e, claro, todo o garbo do interprete escocês. Uma estrutura que seria utilizada em filmes posteriores com marcas que acompanhariam outros Bond.
A produção é a primeira dirigida por Guy Hamilton que faria ainda outros três da franquia, além do icônico Remo: Desarmado e Perigoso. O diretor ficaria tão marcado pela grandes cenas de ação em sua filmografia que foi cotado para conduzir Superman: O Filme, e, posteriormente, o Batmande 1989. Sua direção se destaca emvcenas de perseguição em alta velocidade, sempre muito tensas, e pelas inúmeras trocas de tiro e pelas lutas entre mocinhos e bandidos. Hamilton é também responsável pelos melhores momentos dramáticos de Connery, embora neste papel o que mais se exija dele é uma face sedutora e charmosa, não necessariamente dramática.
A trama apresenta a tradição narrativa de Bond, com o vilão central, o criminoso magnata Goldfinger, tentando destruir uma reserva de ouro americana. O personagem entra em cena antes dos personagens icônicos parceiros de Bond como M, Q e Moneypenny. Sua representação é de um sujeito maligno, mas não necessariamente megalomaníaco com planos de dominação mundial. Seu conflito com Bond se resume ao incômodo de ver seus golpes atrapalhados, além de dar vazão a sua extrema competitividade no golfe e o carteado. Mas também possui traços exagerados como as mulheres pintadas de ouro devido a traição. Um escapismo fantasioso que destoa um pouco da abordagem sempre austera do espião de Ian Fleming. A partir disso, o grau de eventos fantásticos ocorreriam mais vezes em produções futuras.
Além do personagem-título, o capanga Odjjob, um havaiano halterofilista executado por Harold Sakata, se destaca. Principalmente devido a sua estranha arma: uma cartola com abas afiadas, capaz de decepar até mesmo estátuas de gesso. As filmagens do capanga com o herói foram tão intensas ao ponto de lesionar Connery nas cenas de luta. O bandido se tornou tão icônico que foi representado fora das delas como no clássico jogo Goldeneye de Nintendo 64, como personagem para utilizar via código.
Já a parte dos artefatos tecnológicos são bem mais tímidos do que produções recentes. Desmond Llewelyn apresenta para James um AstonMartin DB-5 modificado com radar e capacidade de mudar a placa de localidade e assento ejetor. O roteiro é cuidadosamente feito para dar vazão a cada uma dessas funções, não é exagerado como seriam nas fases menos comedidas.
A produção tem momentos bem engraçados, como a recorrência da piada do personagem principal estar sempre sendo desacordado, e outros de tensão, com direito a uma arma a laser que miram suas partes íntimas em um claro simbolismo a um ataque a sua virilidade, evento revisitado deem 007: Cassino Royale, quando o vilão chicoteia as partes do agente.
O final de 007 Contra Goldfinger embora seja um bocado estranho e confuso, cheio de reviravoltas, é charmoso, sabendo conduzir bem seus clichês. Resultando na adaptação mais acertada do diretor com o personagem, uma das narrativas mais icônicas baseada na literatura de Fleming.
Encontrando Forrester, longa dirigido por Gus Van Sant e lançado no ano 2000, começa com o registro das ruas, com uma pessoa batendo claquete para um jovem, que começa a declamar a poesia das ruas em forma de rap. Aos poucos, o filme vai mostrando o cenário urbano nova iorquino, com as ruas, as salas de aula e os refeitórios de escolas cheios de jovens negros interagindo ou simplesmente estudando enquanto vivem a rotina de tentar estudar e viver.
O roteiro de Mike Rich acompanha Jamal Wallace, feito por Rob Brown (a época, usava a alcunha de Robert Brown), um estudante que busca conseguir a oportunidade de estudar numa universidade, se valendo do seu talento como jogador de basquetebol no High School. Suas notas chamam atenção de um colégio particular, e ele ganha uma bolsa para, basicamente, desempenhar o bom papel que já vinha fazendo no basquete.
Van Sant é bem econômico aqui, desenvolve a jornada do rapaz vagarosamente, mostrando-o andando sempre com uma bola embaixo do braço, assim como anda com os papéis onde costuma escrever. O caminho do jovem se cruza com o de William Forrester (personagem de Sean Connery), um homem recluso e anti social que se recusa até mesmo a vê-lo. Os dois têm em comum o prazer pela escrita, embora o veterano escritor não dê muita abertura para qualquer conversa nesse sentido, no começo da interação entre eles.
A fotografia do longa, assinada por Harris Savides (Zodíacoe Bling Ring), faz predominar cores bem diferentes nos cenários que o protagonista passa. Na Mailor, escola para onde ele vai, se percebe os tons de marrom, que miram a formalidade daquele local. A casa de Forrester também tem muito marrom, em especial nos velhos móveis de madeira, mas aqui se misturam com o cinza, e que com uma tonalidade mais escura, que reflete a personalidade do velho homem, que já não parece mais propenso a viver em sociedade.
É curioso como esse foi um dos últimos filmes de Connery antes de se aposentar, sendo obviamente mais bem aceito que o seu último de fato, A Liga Extraordinária, onde ele também se utiliza de uma peruca para emular mais cabelo do que tem. Por mais que o longa de Van Sant contenha fragilidades, nada justifica uma comparação com o outro produto.
As partes onde mostram o basquete são bem feitas. O diretor encontra bons ângulos, seja nos treinos em que Jamal disputa contra Hartwell (Matthew Noah Word) ou nas partidas de fato. O jogo de pés do rapaz é bom, a câmera registra a cintura e coxas dele se movimentando em quadra muito bem, assim como dá fluidez ao seu movimento rumo a cesta. As bandejas executadas ganham um tom quase poético, assim como o mergulho do rapaz na intimidade do escritor que é seu vizinho. Em comum, os dois personagens tem a casca grossa, que dificulta uma real aproximação – embora cada um aja temperamentalmente diferente a novas investidas de estranhos – e claro, a melancolia proveniente de morarem em um mundo que está longe de ser o ideal para os seus talentos e anseios.
O estudante e o escritor vêem um cenário em que o passado os machuca e o presente é só de cinzas, como se o pretérito tivesse sido um incêndio que não deixou vivo nada do que já foi bonito. Van Sant já demonstra aqui boa parte dos elementos narrativos que utilizaria em Elefante, em especial a dificuldade do jovem americano em lidar com a pressão constante de ter que vencer, de ter que ser alguém. Toda a jornada de Jamal passa por isso, desde a rivalidade e carência dele em relação ao seu colega Hartwell, até a aproximação da bela Claire (Anna Paquin), que simboliza a garota dos sonhos que dificilmente teria contato com um rapaz como ele fora do cenário de Mailor.
Não há muita sutileza no que tange ao personagem do professor Crawford, de F. Murray Abraham. Seu arquétipo é o do anti mentor, quase o de um vilão, um homem branco e velho que não consegue acreditar que o jovem é capaz de escrever o que escreve, e por mais que o tema seja caro e toque em um clichê bem rasteiro do pensamento racista – de que o negro é capaz de feitos físicos e não intelectuais – o que se vê aqui ultrapassa a linha da normalidade. Os personagens são postos em pólos antagônicos, mas de uma forma tão forte e visceral que soa até irreal a perseguição do homem velho ao jovem
Por mais que não seja perfeito, e tenha um bocado de maniqueísmo em sua performance, Procurando Forrester compõe uma boa saída de cena de Connery, sendo também um bom retorno de Van Sant aos bons tempos, inclusive com referencias claras aos seus sucessos do passado, como Gênio Indomável. Além disso, seus créditos finais ocorrem enquanto meninos jogam um rachão, a beira da janela onde acontece o ato final, mirando uma abordagem poética do apreço desses jovens ao esporte, mostrando a face da inocência também por meio dos hobbies da juventude.
Mais uma vez cá estou eu falando sobre um filme pelo qual tenho um profundo carinho. Eu e Ricky Bobby (personagem de Will Ferrell em Ricky Bobby: A Toda Velocidade) consideramos Highlander como único detentor do Oscar de Melhor Filme do Mundo. Porém, tenho que deixar de lado esse carinho para poder fazer uma análise desse clássico dos anos 80 que conta a história de guerreiros imortais que duelam através dos tempos em busca do “Prêmio” (sim, a sinopse pode ser resumida nessa simples frase, mas não pense que o filme é simplório).
Talvez o que faça ser Highlander ser tão bacana é a falta de vergonha em se assumir como um filme B. Isso não é nenhum demérito, mas pense em um filme B com pedigree. Highlander é assim e justamente isso o fez ganhar status de filme cult. De início, o filme possui um elenco variado e que funciona muitíssimo bem. Christopher Lambert, que vinha de Greystoke: A Lenda de Tarzan e Subway, inicialmente parece um pouco deslocado em cena, mas ao passo que vamos conhecendo a história de Connor MacLeod, vamos compreendendo de onde vem aquela cara amarrada que o ator carrega durante a projeção. MacLeod era um escocês líder de um clã que ao ser ferido gravemente em uma batalha, descobre ser imortal. Ao longo do filme, através de flashbacks, vamos acompanhando toda a evolução de Connor e todas as suas perdas ao longo de sua vida. São especialmente tristes as passagens que mostram o protagonista sofrendo com o fato de manter-se sempre no auge de sua forma, enquanto as pessoas que ele ama vão morrendo de velhice ao seu redor. O vilão Kurgan, vivido por um Clancy Brown que pratica um overacting digno de Nicolas Cage, é deveras divertido. O ator cria um monstro que é uma baita ameaça ao protagonista, visto que ele é o grande responsável pela maior desgraça que o acometeu. Porém, que rouba o show é Sean Connery. Seu Juan Sánchez Villa-Lobos Ramírez, além de possuir um dos nomes mais incríveis de toda a história do cinema, tem um charme e um magnetismo que preenche a tela. Guerreiro egípcio (!) nascido Tak-Ne em 896 antes de Cristo (!!!), o personagem é uma espécie de mestre Jedi mais malandro e ao longo dos tempos age como treinador e mentor de MacLeod. Connery se diverte em cena, contagia Lambert e logicamente o espectador acaba contagiado.
Em determinado ponto, o protagonista Connor MacLeod define seu poder como um “tipo de mágica”. A história do filme cativa o espectador de uma forma mágica, afinal, o duelo milenar de guerreiros por um “prêmio” misterioso já desperta a curiosidade desde o início. Mais cativante ainda é a maneira como a imortalidade é tratada pela película. Através de flashbacks vamos sendo apresentados às diversas vidas do protagonista. É inevitável que o espectador tente se colocar na posição de MacLeod, afinal, a imortalidade levanta várias questões. A solidão após uma vida de séculos presenciando pessoas amadas perdendo a vida para o tempo enquanto se permanece fisicamente inalterado, a impossibilidade de fincar raízes, pois a qualquer momento homicidas podem aparecer para coletar sua cabeça e não hesitarão em envolver seus entes queridos naquele duelo mortal. Enfim, a impossibilidade de viver como um ser humano. Tudo isso ganha contornos mais dramáticos com “Who Wants to Live Forever”, música que o Queen compôs especialmente para o filme, toca justo no momento em que um dos amores do protagonista morre de velhice em seus braços. Ainda que de forma atabalhoada, o script de Gregory Widen, Peter Belwood e Larry Ferguson idealizado a partir de uma história original de Widen, trabalha todas essas questões. É possível que justamente por esse desenvolvimento atabalhoado, a história desperte tantos questionamentos e provoque essa imersão do espectador.
Russell Mulcahy, diretor egresso dos videoclipes, faz o possível com o orçamento apertado do filme (19 milhões de dólares). Com sua experiência de clipeiro, o diretor ousa ao filmar muitas sequências, usando ângulos ousados e movimentos que na época eram novidade. A sequência inicial do filme, que intercala um flashback com um evento de telecatch, a cena de luta subsequente (ainda que com as piruetas absurdas do oponente de MacLeod) e o combate final do protagonista com o Kurgan são provas da inventividade do diretor. A fotografia de Gerry Fisher também é excelente e funciona bem tanto nos momentos mais melancólicos quanto nos momentos mais pirotécnicos. Entretanto, Mulcahy vacila em alguns momentos, deixando transparecer que Highlander foi um filme “barato”, pois não consegue tirar o foco de vários problemas, principalmente os de cenografia. Em um momento específico, fica claro que os tijolos que são espalhados durante uma feroz batalha foram confeccionados com isopor. Isso acaba imprimindo um aspecto de comédia involuntária à sequência que deveria ser dramática, pois culmina com um fato chocante e determinante para a trama. Interessante observar que os efeitos especiais feitos por computação gráfica, ainda que não sejam os melhores, funcionam bem dentro do contexto do filme.
Acabei separando um parágrafo especial para tratar da trilha sonora do filme. A trilha sonora incidental foi composta e executada pelo mestre Michael Kamen, grande nome dos filmes de ação como Duro de Matare Máquina Mortífera. Mas Highlander teve músicas compostas especialmente por aquela que talvez seja a maior banda de rock de todos os tempos: Queen. Inicialmente, o Marillion tinha sido convidado para compor, mas por conflitos de agenda, a tarefa caiu nas mãos de Freddie Mercury e seus companheiros. A banda compôs músicas que encaixaram perfeitamente com o clima de cada momento do filme. Esse fato magnificou muitas cenas, principalmente a já mencionada morte de uma das amadas do protagonista. “Who Wants to Live Forever” trata de toda a amargura de Connor MacLeod em estrofes magistralmente cantadas por Freddie Mercury. Porém, há um fato curioso nisso tudo: a trilha nunca foi lançada comercialmente. A partir disso, o Queen aproveitou as músicas que compôs e as colocou em no disco “A Kind of Magic”. Ah! Lembram quando eu disse que Connor MacLeod definia seu poder como um “tipo de mágica”? Essa simples frase inspirou o baterista Roger Taylor a compor a CANÇÃO “A Kind of Magic”, cuja versão para o filme é um pouco mais soturna do que a versão que foi para o disco homônimo, mas nem é por isso é inferior.
Ainda que pareça datado e tenha lá os seus problemas, Highlander é um filme seminal dos anos 80 que além de ser uma baita diversão, merece seu status de cult. E eu juro que me mantive imparcial.
Estreando em 1989, Indiana Jones e a Última Cruzada não decepcionou e conseguiu criar outra grande aventura de sucesso para o arqueólogo mais famoso do cinema, no mesmo nível que Caçadores da Arca Perdida e Indiana Jones no Templo da Perdição.
Quando Henry Jones é dado como desaparecido em uma expedição na busca pelo Santo Graal, Indiana Jones tenta encontrar seu pai enquanto procura escapar dos nazistas.
O bom roteiro de Jeffrey Boam, baseado na história de George Lucas e Menno Meyjes, estrutura-se no primeiro filme da série. Se antes Indiana era contratado pelo governo para ir atrás da Arca da Aliança e alcançá-la antes dos nazistas, agora quem o contrata para encontrar outro objeto bíblico é o dono da expedição que seu pai liderava e desapareceu.
Indiana Jones e a Última Cruzada acerta ao ampliar o espectro do personagem e mostrar a relação que tem com o pai. Apesar de ter herdado o amor por história e arqueologia, Indiana também herdou as relações conturbadas que o pai teve com mulheres. Ao ter a sua terceira amante na série, Indiana Jones se aproxima mais de 007 e se distancia um pouco da sua principal inspiração, Alan Quatermain, personagem fictício do livro As Minas do Rei Salomão, de Henry Rider Haggard. Não à toa, Sean Connery foi escalado para viver Henry Jones pai.
Outro grande trunfo do roteiro foi apresentar o passado do protagonista, como o jovem Indiana Jones na abertura do filme. Além de reforçar as principais características do personagem desde a sua adolescência, serviu de ligação para a narrativa central ao também apresentar o seu pai. Todo o filme pode ser resumido no início.
A direção de Steven Spielberg continua afiada, deixando ainda mais claro o seu domínio da narrativa visual como poucos. Apesar de ser uma franquia, as características fundamentais do seu cinema continua lá: problemas familiares enfrentados pelos protagonistas, uma complicada ameaça externa, atitudes fascistas de governos ou órgãos governamentais.
Como é filme de gênero de aventura pulp, a atuação não é das mais refinadas e nem precisa ser. Harrison Ford segue canastrão como o personagem-título, mantendo os mesmos maneirismos. Mesmo no piloto automático, Connery consegue dar o charme que a parte final da trilogia necessitava, como Henry Jones pai. A grande revelação foi River Phoenix que conseguiu criar um jovem Indiana Jones tão marcante que até conseguiu se transformar em uma série televisiva. Destaque para os retornos de John Rhys-Davies e Denholm Elliott como Salla e Marcus, além de Alisson Doddy que vive Elsa e Julian Gloover (o Grande Meister Pycelle de Game of Thrones) como o vilão Walter Donovan.
A fotografia versátil de Douglas Slocombe, que trabalhou nos outros três filmes da franquia, consegue ir do árido e amarelado deserto de Petra até os esverdeados e azulados aconchegantes salões europeus. A edição ágil de Michael Kahn, que também trabalhou nos outros títulos, manteve o bom ritmo, sempre se preocupando com os respiros necessários entre as várias sequências de ação da obra.
Indiana Jones e a Última Cruzada vale a pena por ter se tornado um clássico mantendo o nível dos dois outros filmes, e concluindo com sucesso uma trilogia que se tornou referência para a história do cinema, principalmente nos anos 1980.
O quarto filme da franquia James Bond, 007 Contra a Chantagem Atômica, teve a missão de ajudar a consolidar uma das maiores franquias da história do cinema em apenas três anos de diferença para o primeiro filme.
Após o agente Emilio Largo da criminosa associação Espectre roubar armas nucleares de um avião da OTAN e ameaçar detoná-las em cidades inglesas e americanas em troca de dinheiro, James Bond vai para as Bahamas com o objetivo de impedir a extorsão.
O roteiro sólido de Richard Maibaum e John Hopkins, baseado na história original de Jack Wittingham, segue a cartilha dos anteriores e mantém os principais elementos dos filmes da franquia que conquistou a legião de fãs, como a motivação dos antagonistas em destruir o mundo, a ambientação em locais paradisíacos cheios de ricos elegantes, os assassinatos e o eterno clima de conquista do protagonista em relação às diversas Bond Girls.
O que muda na trama do roteiro é a ameaça. Pela primeira vez na franquia a detonação de uma bomba atômica é o grande problema a ser resolvido. O tema, em voga na época após a Crise dos Mísseis em Cuba em 1962, deixa o temor mais palpável, fazendo da trama mais realista, com um medo real do período.
As ações dos personagens são quase orgânicas, mas existem escorregadas dos roteiristas e forçações de barra para fazer a trama andar. Por exemplo, quando Emilio Largo vai entrar em seu barco no final do filme, ele escolhe ir por baixo d’água sem motivo aparente, o que se torna conveniente para que James Bond mate um dos seus seguranças e entre na embarcação.
Terence Young volta a franquia após dirigir os dois primeiros filmes. Ele soube usar de sua habilidade para narrar visualmente a história, em especial as cenas de ação e os romances entre o protagonista e as mulheres. Como diretor de atores, ele está no automático, o que não é mais que necessário para os filmes da franquia.
As atuações caricatas seguem a cartilha dos anteriores. Sean Connery é um bom 007 e Adolfo Celi um vilão memorável. Salta aos olhos as aparições, como Bond Girls, da francesa Claudine Auger interpretando Domino e a italiana Luciana Paluzzi sendo Fiona. E, ainda, as sempre ótimas aparições de quem não poderia faltar ao elenco da saga, Desmond Llewelyn como o chefe de tecnologia do MI-6 Q, Lois Maxuell como a secretária Moneypenny e Rik Van Nutter como o agente americano Felix Leiter.
A fotografia com tons naturalistas de Ted Moore, que trabalhou nos três filmes anteriores da saga, não consegue se sobressair, porém, faz seu papel em deixar 007 Contra a Chantagem Atômica uniforme. O grande destaque são as cenas embaixo d’água feitas pelo estúdio Ivan Tors, inclusive o belo clipe de abertura com a trilha sonora característica composta por John Barry e Don Black e cantada por Tom Jones é feito com cenas aquáticas.
A edição de Ernest Hosler dá ritmo ao filme e os 128 minutos não são sentidos por quem entende ser um filme de ação dos anos 60.
007 Contra a Chantagem Atômica vale a pena para quem gosta de acompanhar a franquia desde o começo, e consegue inserir um tema pertinente à época, deixando o filme mais interessante.
Documentário organizado por Stevan Riley, inicia-se com a atuação de Daniel Craig, já remetendo às primeiras linhas de Ian Fleming como novelista do romântico personagem que o tornaria famoso. Everything or Nothing investiga um pouco da intimidade do escritor, para remontar o ideal que o faria escrever sobre o agente secreto britânico. O autor sairia do front da Segunda Guerra traumatizado, indo enfim para a Jamaica para habitar sua casa de praia (chamada Goldeneye) fonte local dos contos e novelas sobre o espião, fantasiando sobre elementos comuns ao local em seus escritos, incluindo as barracudas e tubarões que habitavam os mares.
Da dor das perdas de seus amigos, viria a inspiração para aventuras que mesclavam o escapismo inocente e o medo do desconhecido presente na figura do soviético. Cassino Royale lançado e tachado como um livro que chocaria a população conservadora, especialmente pelo apetite do protagonista por mulheres e pela fácil entrega das mesmas. Esse e outros problemas fariam com que alguns produtores associados a Albert L. Broccoli achassem que James Bond não era um personagem talhado para o cinema, e sim para a televisão, isso depois da encenação de Cassino Royale de 1954. Tal fator coibiu o escritor de produzir novas aventuras, quase cerceando na raiz a origem das histórias que ficariam famosas no cinema.
Fundamental para que ocorresse a realização das adaptações foi Harry Saltzman, um sujeito cujo repertório envolvia o trabalho no circo, normalmente entretendo seu público através do colorido e espalhafatoso. Após conseguir os direitos dos livros de Fleming, organizou enfim a parceria com Broccoli e o consenso de ambos sobre a polêmica da persona de Connery como espião, já que ele era um desconhecido. Outros fatores colaboraram para tal identidade ser construída, como a personalidade de Terence Young, primeiro diretor da cinessérie.
Broccoli, Connery, Fleming e Saltzman
A participação ativa de Maurice Binder foi fundamental para a abertura estilizada que se tornaria marca registrada do personagem, misturando elementos violentos com a sensualidade feminina dos textos canônicos de Fleming.
O documentário não teme em optar por um lado ao discutir a questão de Kevin McClory e Ian Fleming, primeiro ao diminuir a influência do primeiro nas ideias por trás de Thunderball, prosseguindo em atrelar à briga judicial o principal fator para o falecimento do criador de 007.
A gravidade está no reducionismo, já que o filme passa rápido demais por questões polêmicas, detalhando pouco a tomada de direitos de McClory, bem como a briga entre o cada vez mais famoso Connery e o produtor Saltzman, que resultaria na mudança de postura após Só Se Vive Duas Vezes. Apesar desses problemas, destaca-se a parte em que Lazemby confessa seus problemas de comportamento fora dos sets, além dos fatores que o fariam perder seu posto e a consequente fama e carreira que teria a partir daquilo, inclusive trazendo detalhes sobre sua postura de afronta, soando até bastante humilde ao falar sobre seu visual na premiere do filme, de barba e cabelos longos, diferente do estereótipo de seu personagem.
O filme funciona perfeitamente como tributo/homenagem, reunindo depoimentos de membros das produções e de tantos outros famosos aficionados, como Mike Myers, que declara seu amor pelo personagem através da paródia de Austin Powers. No entanto, o tempo curto da produção não permite um grande aproveitamento dos detalhes que envolvem uma franquia que já teve um jubileu, atingindo o raso em alguns pontos, especialmente em reafirmar a demonização de McCLory, anda tangenciando os direitos de Thunderball, que resultaria no filme Nunca Mais Outra Vez. No entanto, a briga entre Saltzman e Broccoli é somente citada ao passant, curiosamente gastando-se mais tempo até nas desavenças de Connery com os dois produtores, que o ajudaram a aceitar o papel no filme apócrifo.
Everything or Nothing soa como uma visão demasiada parcial, como um comercial publicitário, encomendado pelos atuais mandantes da franquia, que exibem a versão que lhes é conveniente. De positivo há a tentativa de justificar alguns dos equívocos dos filmes de Dalton como Bond, mas, ainda assim, sem se assumir.
Não há qualquer remorso por parte dos produtores em colocarem Pierce Brosnan em temas que tornam os resquícios da Guerra Fria como algo imbecil e parodial, tampouco há um assumir de culpa por abordar esses temas mais espinhosos. A convalescência de Cubby Broccoli seria responsável pela reaproximação dele com Sean, fator que talvez explique a boa abordagem que fazem do ator, o qual, ainda assim, não se permitiu sair de sua aposentadoria para participar das gravações do documentário.
Mesmo os comentários corretos em relação ao boicote preconceituoso a Daniel Craig soam oportunistas, como uma tentativa de trazer um virtuosismo para os atuais produtores, Barbara Broccoli e Michael G. Wilson, os mesmos que são incapazes de fazer uma autoanálise minimamente crítica em relação aos erros do passado. Para o fã do personagem 007, existem poucas informações inéditas, mas para um cinéfilo neófito Everything or Nothing funciona como bom artigo de curiosidade, mesmo considerando a quantidade absurda de fatos suprimidos.
Assim que James Bond, o 007 malicioso e persuasivo interpretado por Sean Connery, assina a foto de Tatiana Romanova, sua lindíssima bondgirl no longa-metragem dirigido por Terence Young, 007 Contra Moscou tem início, adaptando a clássica história de Ian Fleming.
O ambiente de fundo é a Guerra Fria. O ápice da espionagem guerrilheira entre os Estados Unidos e a Rússia envolve desta vez, o Reino Unido e o MI-6, que corresponde a 007 investigar um programa de criptografia russo. Bond então parte para a Turquia, enquanto a inocente agente Romanova (Daniela Bianchi) é destinada a persuadir e colocar o espião em uma armadilha, que de fato estava armada desde o início da operação.
Seguindo a narrativa dos filmes anteriores e dos posteriores, o tradicional plot de espionagem é certeiro e contempla diversos meios para ser conduzido. Algumas sequências ilustram um filme noir, com perseguições e entraves nos diálogos, cooperando junto a ironias e um humor sarcástico, além da conhecida elegância inglesa.
O filme é bem dirigido. A fotografia é bela, exaltando a imponência e as cores do ambiente, principalmente em filmagens externas. O roteiro flui sem tanta naturalidade. Os diálogos são ótimos e muito bem escritos, mas algumas cenas não entregam o que o roteiro leva. Em alguns takes há falhas de comunicação, criando uma falsa perspectiva e gerando surpresas até mesmo aleatórias. Mesmo que isso não comprometa o filme como um todo, há momentos que me transmitiram uma impressão falsa do que estava por vir.
O ápice climático, as cenas de ação e os conflitos dos personagens são os alicerces. Conduzem o filme ao longo de quase duas horas. A química entre Connery e Bianchi é fantástica, fortificando a atriz como uma das melhores bondgirls da era do ator, e de todos. Vale o acréscimo para Robert Shaw, que interpreta o agente da SPECTRE, Red Grant. Seu jeito misterioso e imponente transporta a sensação de uma interessante vilania.
Moscou Contra 007 comprova o vislumbre, a realeza e a tradição dos filmes de espionagem. Sem forçar estereótipos, e até mesmo quebrá-los ao insinuar uma personagem russa como homossexual, é um filme bonito e, mesmo que aparente ser datado, agrada pela contextualização, sendo um dos melhores de toda a saga.
Criar um mito só não é mais difícil que mantê-lo. James Bond virou sinônimo de espião, e seu nome fidelizou o público com sua imagem, desde Sean Connery até Daniel Craig e suas várias faces ainda por vir. A personagem do agente mais secreto do mundo virou o mais amado e copiado de todos – incluindo a cinesérie de Spielberg, um tal de Indiana Jones que viria a aparecer nove anos após esta primeira aventura do Bond mais clássico e divertido de todos, na correria inicial de 1962 adaptada do livro Dr. No, de 1958. O escritor Ian Fleming jamais poderia prever o sucesso da sua versão mulherenga e (não tão) misteriosa de Sherlock Holmes, com o primeiro livro, Cassino Royale, levado as telas apenas em 2006. Por muito tempo, a saga foi a mais bem-sucedida do Cinema, mas já superada por Harry Potter e o universo Marvel.
Na trama, um cientista louco que quer dominar o mundo nos esclarece sobre a SPECTRE, uma organização de gênios que, em tese, controla o mundo por trás das cortinas. São tais persianas que Bond, no melhor estilo Bogart em À Beira do Abismo é obrigado a queimar, em ordem de desvendar planos terroristas em uma base ultra-secreta na Jamaica. Assim como no filme de Howard Hawks ou em Uma Aventura na Martinica, o mito Bond encarna com perfeição em SeanConnery, ainda tido por muito e por quem vos escreve como o melhor 007, não só pelo ator carregar aquele extinto charme da era de ouro de Hollywood, mas se para Pierce Brosnan e DanielCraig o espião deve ser gélido, direto e mecânico em suas ações, quase assexuado se não fosse as bond girls, para o pai de Indiana Jones tanto cérebro quanto coração mediam o bom uso d’um gatilho. São esses detalhes que fizeram-no mito ao longo de mais de 50 anos e 24 filmes.
Além de afirmar a mitologia bem apresentada neste primeiro filme, a produção mostra competência e, historicamente, o gênero ação deve (e muito) para esta obra e a outros como 007 Contra Goldfinger e MoscouContra 007, aprimorando uma abordagem, mise en-scène, identidades e uma ambientação tidas, hoje, em 2015, como parâmetro por uma indústria que não sabe olhar para o futuro sem beber do passado.
Quando o Bond mais Bogart de todos, bem como é descrito por Fleming nas páginas do livro homônimo, mata um dos soldados do perverso doutor em seu paraíso tropical para completar sua missão, sem provocar angustia na vítima ou derramar uma só gota de sangue, a primeira mocinha a acompanhá-lo mundo afora o indaga, assustada: “Por que fez isso?”, e Bond responde, “Porque precisava ser feito. Vamos!”, pronto! Está feita para sempre a mitologia e a ética de nosso espião em qualquer outra de suas missões; métodos e temas inesgotáveis, e bem revisados em Skyfall, de 2012, no provavelmente melhor filme da franquia (apesar de ser cedo para afirmar isso).
Mesmo sobre questões extra-filme, como racismo, machismo e políticas globais, o filme é sóbrio o bastante para manter sua elegante atmosfera, aquele charme tão citado que verte da tela, tão envolvente, e interpreta um livro sério demais num filme bem divertido, e que simplesmente não envelhece jamais.
Ao longo de sua duração, a Guerra Fria rendeu histórias maravilhosas, seja sobre eventos reais que ocorreram durante seu período, seja sobre eventos ficcionais inspirados por ela. No ano de 1984, praticamente no fim da guerra, o historiador e novelista Tom Clancy nos apresentou ao livro A Caçada ao Outubro Vermelho, primeiro de uma série protagonizada pelo personagem Jack Ryan. Em 1990, o livro foi adaptado para as telas do cinema com direção de John McTiernan, protagonizado por Alec Baldwin e Sean Connery, e com ótimo elenco coadjuvante.
A trama do filme nos apresenta Markus Ramius (Connery), lendário comandante soviético que recebe a missão de capitanear o Outubro Vermelho, moderno submarino que possui um sistema revolucionário de propulsão que o torna praticamente invisível para sonares. Porém, Ramius desobedece ordens diretas da marinha soviética, vira o submarino para os Estados Unidos e segue em viagem, fazendo com que todos pensem em um ataque nuclear ao solo estadunidense. Entretanto, o analista Jack Ryan (Alec Baldwin) não crê em um ataque, mas em deserção, o que o faz entrar numa luta contra o tempo para provar sua teoria para seus superiores e à tripulação do navio USS Dallas, embarcação que conseguiu rastrear o submarino soviético e planeja afundá-lo.
O diretor John McTiernan estava em grande forma na época, principalmente por ter dirigido Duro de Matar, um dos maiores clássicos do cinema de ação. Porém, enquanto seu trabalho anterior primava por sequências eletrizantes de ação, o diretor aqui prioriza a construção de uma sufocante atmosfera de tensão, uma vez que o filme possui uma série de núcleos narrativos onde se passam diversas partes da ação, tais como o submarino Outubro Vermelho, o USS Dallas, a Casa Branca, o outro submarino soviético V.K. Konovalov e ainda Jack Ryan, pois o protagonista passeia por grande parte desses núcleos. Em nenhum momento o diretor deixa o ritmo do filme cair, contando com a ajuda de uma bem orquestrada edição ágil da dupla Dennis Virkler e John Wright. A fotografia de Jan De Bont também ajuda a construir a atmosfera do filme.
O roteiro da dupla Larry Ferguson e Donald E. Stewart é bem amarrado e interessante. Novamente, é necessário ressaltar a quantidade de núcleos narrativos. Seria muito fácil que o roteiro se perdesse em algum ponto ou que viesse a negligenciar algum dos núcleos, mesmo todos sendo tão importantes e necessários para o desenvolvimento da história, ainda que o foco principal da narrativa seja Jack Ryan e Markus Ramius. Porém, todos têm a sua importância bem delineada no roteiro. Os diálogos dos personagens são bem claros e objetivos, ainda quando vêm carregados de alguma linguagem mais técnica que precise de esclarecimento para o espectador. Nada fica didático demais, ou mesmo gratuito. Talvez o grande problema do roteiro seja a questão do sabotador, que até é abordada pontualmente, mas acaba ganhando uma importância excessiva no final. Por falar em final, a reviravolta que ocorre e se relaciona ao submarino Outubro Vermelho é muito inventiva e crível.
O elenco do filme esbanja competência. Sean Connery entrega uma excelente interpretação para o comandante Markus Ramius. Sua imponência em cena reflete bem a importância da patente do personagem. Por ser um analista da CIA e não um agente de campo, Alec Baldwin cria um Jack Ryan meio deslocado e vulnerável, e isso acaba sendo uma escolha muita acertada do ator, afinal o personagem não se familiariza com o mundo em que acabou entrando quase que por imposição. Sam Neill interpreta o imediato do Outubro Vermelho e grande amigo do comandante Ramius com bastante competência, assim como Scott Glenn, que interpreta o implacável e inteligente comandante do USS Dallas. As breves aparições de James Earl Jones como o diretor da CIA a quem Jack Ryan é subordinado, e de John Gielgud como um diplomata soviético abrilhantam a fita. E um ainda desconhecido Stellan Skarsgard entrega ótima performance como o alucinado comandante do V.K. Konovalov, ainda que também tenha pouco tempo de cena.
A Caçada ao Outubro Vermelho é um ótimo exemplar de thriller de espionagem e mostra que nem sempre os filmes do gênero precisam apelar para superespiões e sequências mirabolantes de ação.
Retomando nossa coluna esquecida, aproveito que hoje uma das franquias mais bem-sucedidas do cinema completa 50 anos, 007. O agente-secreto britânico surgiu nas páginas dos livros de Ian Fleming, e ganhou as telas em 5 de outubro de 1962, com o filme 007 Contra o Satânico Dr. No, nos EUA.
Desde então, James Bond já foi vivido por 6 atores, em 23 filmes da franquia, e com mais de 12 diretores diferentes(contando os filmes não-oficiais), mas até agora não chegamos a conclusão da razão desse post em uma coluna de música, pois bem, outra assinatura da franquia, são suas cancões-tema, um elemento marcante e inesquecível em quase todos os filmes do agente-secreto, por isso, vamos aproveitar nossa coluna musical para relembrar as canções marcantes que já tocaram na franquia:
No primeiro filme da série, ainda não existia o conceito de escrever uma canção e convidar cantores para interpretá-las, até então não havia nem previsão de que 007 seria o sucesso que se tornou, mas já em seu primeiro filme a trilha-sonora já se destaca em sua cena inicial, tocando as notas que daí pra frente seriam conhecidas mundialmente. Apesar disso tudo, a trilha de 007 Contra o Satânico Dr. No é considerada por muitos como uma das mais fracas da franquia. O tema de 007 foi composto por Monty Norman e John Barry foi convidado para arranjar e maestrar a música. O resto é história…
O segundo filme da franquia marca a consolidação de John Barry como compositor da trilha-sonora do filme, bem como o primeiro filme a ter uma canção-tema propriamente dita. From Russia With Love foi composta por Lionel Bart e cantada por Matt Monro. O tema é um dos mais desinteressantes de todos os 007 e muito inferior a trilha-sonora de Barry.
Shirley Bassey teve sua voz em três canções da franquia, algo que não aconteceu com nenhum outro artista. Goldfinger foi a primeira delas, e provavelmente a mais marcante. Em 1965, Goldfinger se tornou hit nos EUA, Shirley Bassey alcançou a 8ª posição com seu single e a trilha sonora do filme foi o número 1 da Billboard. O tema foi escrito por John Barry, autor de toda a trilha do filme, e escrita por Anthony Newley e Leslie Bricusse.
Considerado um dos melhores filmes da série, 007 Contra a Chantagem Atômica trouxe mais uma vez John Barry para compor a trilha. Thunderbal é provavelmente uma das canções mais curiosas de toda franquia. Inicialmente, o tema era Mr. Kiss Kiss Bang Bang, que foi cogitada para Shirley Bassey cantar, mas acabou sendo gravado por Dionne Warmick. Contudo os produtores não queriam uma canção com um título diferente do filme, assim, a música anterior foi descartada, John Barry convidou o letrista Don Black e em um fim de semana compuseram Thunderball, gravado por Tom Jones. Entre as lendas que rodeiam a franquia 007, muitos dizem que Jones desmaiou ao cantar a nota final de Thunderball. Apenas à título de curiosidade, Johnny Cash chegou a compor um tema para o filme, mas foi recusado pelos produtores.
You Only Live Twice (Com 007 só se Vive Duas Vezes, 1967) – Nancy Sinatra
Com 007 Só se Vive Duas Vezes foi o penúltimo filme com Sean Connery e um grande sucesso. Para a canção-tema convidaram Nancy Sinatra cantando o tema do filme. Em 1966, Nancy havia estourado com a música These Boots Are Made for Walkin, e já no ano seguinte foi convidada para cantar o tema do próximo 007, onde colocou toda sutileza de sua voz, transformando a canção em um grande clássico da série. You Only Live Twice foi composta por John Barry, também autor da trilha do filme, e escrita por Leslie Bricusse.
We Have All the Time in the World (007: A Serviço Secreto de Sua Majestade, 1969) – Louis Armstrong
https://www.youtube.com/watch?v=vNcl_IsfGTM
Diferente do habitual, a canção-tema é instrumental, composta por John Barry, mas já que estamos comentando dos grandes cantores que deram sua contribuição à franquia, deixemos esta de lado para comentar da belíssima We Have All the Time in the World, ouvida nas cenas de romance do filme. A canção também foi composta por Barry, com letra de Hal David e cantada por um dos mestres da música e considerado a personificação do que foi o jazz, Louis Armstrong. Infelizmente, esta canção foi a última gravada por Armstrong.
A Serviço Secreto de Sua Majestade foi o primeiro e único filme estrelado por George Lazenby.
Diamonds are Forever (007: Os Diamantes São Eternos, 1971) – Shirley Bassey
Após a saída de Lazenby, Connery retorna à franquia. Diamonds are Forever também traz de volta Shirley Bassey, que já havíamos mencionado em 007 Contra Goldfinger, para cantar canção-tema. Composta por John Barry e letra de Don Black, Diamonds are Forever quase foi retirada do filme pelo produtor Harry Saltzman, e só com muita insistência do coprodutor Cubby Broccoli, foi mantida no filme. Segunda Saltzman, a letra da canção era uma insinuação sexual. Anos depois, John Barry ainda revelou que pediu a Bassey para cantar a canção imaginando que estava sobre um pênis.
Live and Let Die (007: Viva e Deixe Morrer, 1973) – Paul McCartney
O primeiro de sete filmes que marcam a fase Roger Moore no personagem. John Barry estava indisponível para compor a trilha sonora, por isso a produção do filme convidou George Martin, o famoso produtor de vários álbuns dos Beatles e outros grandes artistas. Os produtores do filme pediram a Martin convidar Paul McCartney para compor a canção-tema, mas com a intenção de outro artista cantá-la, Martin só concordou se a versão dos créditos fosse do próprio Paul, o que foi prontamente acatado.
Paul compôs o tema do filme após ler o roteiro do filme em uma tarde sábado, e finalizando-a no domingo. A versão final foi composta por Paul e sua esposa Linda, gravada com os Wings durante as sessões do álbum Red Rose Speedway. A canção-tema foi um sucesso, sendo regravada por vários outros artistas.
Filmado em 1987, Os Intocáveis conta com um elenco fabuloso, trilha belíssima, ótima fotografia e uma direção primorosa. Um dos maiores filmes de máfia que retrata o período da lei seca em Chicago.
Apesar de ser um diretor odiado por muitos, é inconteste a preciosidade de Brian De Palma nesse trabalho. A cidade de Chicago é reconstruída maravilhosamente, a fotografia é embasbacante. E o que falar sobre seu trabalho com as câmeras? De Palma transmite sensações de alegria e tensão em instantes, e conseguiu atuações fantásticas de todo o elenco.
A história se passa em Chicago nos anos 30, epóca da lei seca. Eliot Ness (Kevin Costner) é um agente federal encarregado de capturar o gângster Al Capone (Robert De Niro), mas suas tentativas são sempre pífias, graças também a corrupção existente dentro da polícia. Após ser humilhado pelos jornais por suas frustradas apreensões, Ness reúne um pequeno grupo de homens confiáveis e incorruptíveis para realizar a tarefa.
Jim Malone (Sean Connery) é o mentor de Ness, um experiente policial que se junta ao grupo disposto à ajudá-lo. George Stone (Andy Garcia) é um italiano que acaba de ingressar na Academia e por último, Oscar Wallace (Charles Smith), um contador responsável por analisar se Al Capone vinha omitindo informações financeiras em seu imposto de renda.
As atuações são fantásticas. De Niro rouba a cena, interpretando Al Capone cheio de sarcasmo e crueldade, ele e Sean Connery dão um show todas as vezes que aparecem em cena. Kevin Costner fez um ótimo papel, demonstrando as fragilidades e humanidade do seu personagem, isso em um tempo onde ainda tinha uma grande carreira. Charles Smith serve como peça cômica na históra e finalizando com Andy Garcia ainda no início de carreira, mas mostrando a que veio.
Ennio Morricone imortalizou o filme com sua belíssima trilha, conseguindo transpor o que cada imagem exigia de maneira impecável. De Palma abusa de seu trabalho com as câmeras, conseguindo enquadramentos e ângulos inovadores, como na sequência inicial, com uma tomada panorâmica da sala onde está Al Capone se barbeando, e a câmera vai se aproximando lentamento até focar no rosto de De Niro, ou mesmo, na clássica cena da escadaria da estação, onde um carrinho de bebê desce escada abaixo durante o tiroteio, tudo isso filmado em câmera lenta e fazendo homenagem ao “O Encouraçado Potenkim”.
Até hoje não entendo como Brian De Palma não foi condecorado pela Academia por essa obra-prima, o que é uma pena, o filme é extremamente bem dirigido, o roteiro de David Mamet é muito bom, além de contar com um grande elenco, todos trabalhando muito bem. Para quem ainda não conhece, alugue, compre, roube, só não deixe de conferir.