Tag: Donald Pleasence

  • Crítica | Com 007 Só Se Vive Duas Vezes

    Crítica | Com 007 Só Se Vive Duas Vezes

    Com 007 Só se Vive Duas Vezes é o quinto filme da franquia do espião inglês. A história aborda a investigação sobre o desaparecimento de duas naves, uma americana e outra soviética, e a missão do agente vivido por Sean Connery em tentar descobrir o responsável pelo plano que pode causar conflito entre as duas maiores potências mundiais da época.

    O tema do longa reflete muito bem o período envolvendo a corrida espacial entre as duas potências, além de referenciar Jornada nas Estrelas: A Série Clássica, bastante popular à época e estava em sua segunda temporada. Além disso, a velha fórmula das aventuras de James Bond se faz presente, gadgets criativos, moças bonitas, carros e estilo de vida luxuosos. Esse é o primeiro filme de Lewis Gilbert como diretor na franquia – ele retornaria em 007: O Espião Que me Amava e 007 Contra o Foguete da Morte, com Roger Moore no papel central. A questão mais marcante e positiva é como o super-agente é preparado, pois, ainda que em uma terra estrangeira e distante, ele parece ser íntimo de outras culturas e idiomas.

    Ao mudar de cenário a obra exibe suas fragilidades. Se apela demais para clichês locais. Connery se disfarça de japonês, incluindo não só um penteado com uma peruca muito falsa que o faz parecer um noviço franciscano, como na maquiagem forte que faz com que seus olhos fiquem puxados. Isso já era ofensivo na época e, obviamente, envelheceu bastante mal, para piorar ainda se mostra uma academia ninja nada discreta, que banaliza as práticas do ninjitsu e das artes marciais, desde o caratê até a esgrima samurai. Essa falta de sutileza causa um humor involuntário, onde claramente não era a intenção.

    Esse é mais um filme de Bond que aborda a organização da Spectre. O clássico vilão Blofeld é interpretado por Donald Pleasence, dos clássicos de John Carpenter (Halloween: A Noite do Terror, Príncipe das Trevas e Fuga de Nova York). No entanto, sua atuação é discreta e confere ao personagem um ar de mistério.

    A música You Only Live Twice, cantada por Nancy Sinatra e composta por John Barry, resgata bem a atmosfera dos filmes de aventura dos anos sessenta, sempre frenéticos e repletos de uma violência irreal, bem no estilo que se espera de um Bond clássico. Com 007 Só se Vive Duas Vezes é mais um filme que se vale dos chavões do personagem de Ian Fleming e marcaria a despedida, ainda que breve, de seu intérprete.

  • Crítica | Fuga de Nova York (2)

    Crítica | Fuga de Nova York (2)

    Fuga de Nova York é mais um filme dirigido por John Carpenter que se um clássico instantâneo mesmo que sua premissa não desse conta dessa previsão. Sua história é bastante estranha, envolve um atentado ao presidente dos Estados Unidos, um ex-combatente militar mal-encarado e a tentativa fracassada dos Estados Unidos em tornar o país em um lugar menos violento contando com medidas drásticas e que não fazem nenhum sentido.

    A história se inicia em 1997, um futuro já velho. Desde 1988 uma onda de violência extrema obrigou as autoridades a tomarem medidas extremas, construindo um muro ao redor da costa do Brooklyn e Nova Jersey, fazendo da ilha de Manhattan uma prisão gigante, algo tão esdrúxulo e sem sentido quanto a política desse universo colapsado e pós apocalíptico, que infelizmente tem algumas semelhanças com o “novo normal” do século XXI da nossa realidade. Para resgatar o político emérito, as autoridades escolhem Snake Plissken, um mercenário e veterano de ações do governo, feito por Kurt Russell, silencioso e estiloso com seu tapa olho, uma síntese do que era a ação dos cinemas dos anos 80.

    Há um prazo curto, o comandante em chefe da nação precisa dar uma declaração em uma convenção, e o mercenário é apressado, sofrendo com a injeção de uma toxina, para deixar ele “motivado”, pois se não fizer a missão no prazo, perecerá. Apesar do senso de urgência no máximo, ainda assim a trama não se leva a sério. O roteiro de Carpenter e Nick Castle mostra um grupo terrorista/ revolucionário tentando fazer justiça sequestrando o homem da Casa Branca, no entanto, a queda não planejada do avião, além de conveniente para história, serve de pretexto para apresentar uma cidade abandonada e distante demais dos antigos tempos de glória, da época áurea da Broadway, ou de qualquer outro glamour que a cidade já teve.

    Sobram a escuridão, sombras, sujeira, esgoto e ratos, além de alguns agentes da lei, entre eles Bob Hauk (Lee Van Cleef) e Rehme (Tom Atkins), que não demoram a chamar o mercenário em troca de privilégios. A história é tão mirabolante e cretinamente pensada que é difícil não simpatizar com os personagens, portanto, perverter a suspensão de descrença não é nada complicado.

    O filme possui muitos efeitos  práticos, tomadas aéreas e uso largo de maquetes, fato que lhe garante uma aura fidedigna e realista, principalmente se considerar que essa era uma produção de baixo custo. Além disso, o caráter artesanal se vê também em sua trilha, repleta de músicas do próprio diretor (ao lado de Alan Howarth), que já havia feito isso em outros sucessos como Halloween: A Noite do Terror. O filme ainda conta com um bom número de atores carismáticos e já saudosos, como Harry Dean Stanton, Ernest Borgnine, Donald Pleasence, todos eles bastante a vontade em seus papéis, cada um com uma importância considerável, apesar da falta de compromisso do roteiro com qualquer seriedade.

    Fuga de Nova York é quase uma versão futurista e diatópica de Selvagens da Noite, NY é toda dividida em castas e gangues, não há respeito por figuras de autoridade, o desprezo pela ordem impera, tanto que eles não temem em momento nenhum fazer um político eleito de refém, além disso, o próprio político tem seus sinais de psicopatia, retribui sem receio a violência que sofreu, não há espaço para heroísmo dentro desse conto de fadas cínico e violento, e ainda bem que é assim.

  • Crítica | Fugindo do Inferno

    Crítica | Fugindo do Inferno

    Após o sucesso de Fuga de Alcatraz, soberba aventura com Clint Eastwood no auge de sua forma, todas as obras de fugas mirabolantes (ou não) ficaram eclipsadas pelo brilho desse clássico de Don Siegel. Sendo assim, talvez o filme mais esquecido deste subgênero que continua a encantar plateias, ao redor do mundo, seja Fugindo do Inferno, de John Sturges, que mesmo situado no auge da Segunda Guerra Mundial, passa longe de ser tão memorável como o filme de Siegel. Como se não bastasse, o grande elenco não se destaca como deveria, e sua estética é absolutamente normal aos padrões cinematográficos da década de 60 em Hollywood – bem menos ousados em sua linguagem que hoje. Mas o grande às do filme, ainda não foi esclarecido…

    Baseado numa história real (e homenageada no final do filme), a Gestapo está cansada de rebeliões, da rebeldia de seus capturados mais perigosos. Para evitar fuzilamentos, os transfere sob muito stress para um campo de segurança máxima, mas sem suspeitar que juntando o velho Danny (Charles Bronson), o esperto Hilts (Steve McQueen) e muitos outros, na mesma prisão, ninguém iria aceitar ser mantido na gaiola por muito tempo. Assim, um projeto quase suicida de escapatória começa a germinar, com a ajuda de infiltrados americanos entre os guardas. Mas mesmo com instrumentos para perfurar o chão, e chegarem até o outro lado da cerca, será que o orgulho individual deles não vai atrapalhar o plano? Jamais sufocado pelo peso do elenco, e visando um bom entretenimento acima de tudo, Fugindo do Inferno aposta 2/3 da história no desenrolar dessa fuga, tendo neles os melhores momentos do filme de Sturges.

    Uma ótima pedida para entediantes noites de inverno, a direção de Sturges (diretor de muitos faroestes) e o seu talento de extrair, precisamente, o que de melhor e mais dramático existe em cada cena, é um deleite para uma história de prisioneiros de guerra, e que só querem se ver livres de um regime autoritário, fora dos Estados Unidos. Seja nos campos de concentração alemães, seja em emocionantes perseguições de carro nas pradarias da Europa, John Sturges nos faz sentir uma angústia onipresente, como se o espectador estivesse junto de um bando de soldados capturados e que, às vezes, são loucos o bastante para planejar uma escapada subterrânea, com 0% de certeza se vai funcionar. Com um protagonismo coletivo, uma encenação quase teatral, e um equilíbrio bem orquestrado entre o tragicômico, e o suspense, esse Prison Break com nazistas não é tudo que poderia ser, mas não desaponta até os mais exigentes.

  • Crítica | THX 1138

    Crítica | THX 1138

    THX 1138 - poster

    Finalizado com apoio de Francis Ford Coppola, o primeiro longa-metragem de George Lucas já deixaria claro uma das influências que o ajudariam a criar o arquétipo space opera que o tornou famoso anos mais tarde, ao selecionar cenas do seriado televisivo de Buck Rogers, para emular o escapismo como sua marca própria. A história, de Lucas e Walter Murch, contaria com dois nomes fundamentais da indústria cinematográfica, ambos já consagrados em suas carreiras.

    Robert Duvall vive THX 1138, mais um ser humano comum, dentro da estranha sociedade asséptica predominante naquela faixa de futuro, semelhante a de inúmeros romances distópicos. O modo de vida da população humana é viver em cidades subterrâneas, cuja rotina é intimamente ligada ao funcionamento de computadores, que por sua vez produzem nos seres de carne uma autoridade coercitiva, obrigando-os a fazer trabalhos sob efeitos de drogas que coíbem seus sentimentos e sensações básicas, incluindo demonstrações de sexualidade e afeto.

    THX começa a agir fora do protocolo imposto, dando vazão a sentimentos e sensações, se importando pouco com as consequências de seus atos, ao menos considerando que o estorvo das punições seriam “validados” pelo prazer que teria com sua parceira Luh (Maggie McOmie). Ao ser encarcerado, o personagem põe em risco a tranquilidade de todos que se envolveram com ele, gerando a partir daí uma justificativa para tencionar invadir o mundo terreno, a parte da Terra inalcançável para os humanos.

    Donald Pleasence vive SEM 5241, o comum sujeito aproveitador, um covarde homem que tenciona alcançar novos ares, mas que não tem coragem suficiente para fazê-lo sem ter alguém para se fazer de pioneiro. Em se tratando de um rascunho de sociedade autoritária, a pena para atos mínimos de rebeldia é altíssima.

    A partir do momento em que a fuga começa a ocorrer, novos cenários são explorados, e a direção de arte começa a ser exigida mais a fundo, além dos cenários brancos pasteurizados e de policiais mascarados com alumínio. As tentativas de se embrenhar atrás de novos rumos fazem lembrar a tentativa mal-sucedida de Michael Bay em A Ilha, mas sem o óbvio fracasso mega explosivo que os momentos finais reservam ao seu público.

    A versão remasterizada do longa contém os mesmos exageros que o diretor inseriu em suas versões pós-produzidas de Star Wars, mas ainda assim mantém grande parte do assombro e furor causado na época, preconizado pela versão em curta-metragem, lançada em 1967, ainda na universidade. THX 1138 discorre sobre o desejo de liberdade e sobre um regime fascista moderno, com uma crítica não tão profunda quanto a de Orwell e Huxley, mas igualmente ácida, inclusive sobre a inevitabilidade do drama no futuro reservado ao homem.

  • Crítica | Halloween: A Noite do Terror

    Crítica | Halloween: A Noite do Terror

    halloween-poster-1978-alamo

    O clássico de John Carpenter começa com a câmera emulando os olhos do monstro, como em Jaws de Spielberg, mostrando a criatura carrasca punindo os lascivos. Mesmo com o assassinato sendo retratado, a lente é recatada e não acusa o golpe fatal no prólogo, para só depois revelar o assassino, o inocente Michael Myers, ainda infante.

    Jamie Lee Curtis, ainda com 20 anos, viria a inaugurar o estereótipo de scream queen, além de tornar a sua personagem, Laurie, a mais famosa personagem do tipo na história do cinema. A filha de Janeth Leigh ainda não estava no auge da beleza – especialmente ao que é visto em True Lies – mas compunha a vítima perfeita, escandalosa, veloz na corrida e claro, engenhosa na feitura de armas improvisadas e planos de fuga esdrúxulos. A fita tem um ar de artesanal, a começar pela trilha sonora e música, compostas pelo próprio realizador. A edição de som é primorosa e eleva a aura de suspense às alturas.

    Donald Pleasence seria figura carimbada na franquia. O seu detetive Loomis é apresentado como um sujeito paranoico. Pérolas como essas: “O Mal se foi!”; “Isso não é um homem”; “O mal chegou à sua cidadezinha” e “Olhos negros, olhos de puro mal”, saem a todo momento da boca do personagem e transformam a figura do doutor em motivo de chacota dado o pavor que o doente causa nele, além de tornar o médico numa figura tão ou mais depravado e desequilibrado quanto Myers. Loomis observou o crescimento do rapaz em um homem, por 15 anos acompanhou o seu caso e nada pôde fazer, pois nesse período o insano somente olhava para a parede até o famigerado dia da fuga. Mas o show de absurdos prossegue, a “máquina assassina” ao tentar atacar Laurie Stroode, capa o seu braço mesmo empunhando uma machete. O assassino é atrapalhado, característica pouco comum em slasher movies, e mais tarde abandonada nos filmes da franquia, mas homenageado por Wes Craven e Kevin Williamson no personagem Ghostface, vilão da quadrilogia Pânico.

    A semi-nudez parece ser um gatilho para a fúria assassina do infante assassino preso num gigantesco corpo de dois metros de altura. Myers funciona como um arauto da moral, se utilizando de sua máscara não nominada para manter o sigilo de sua identidade, como a justiça sem rosto distinguível, simbolizando os ecos do conservadorismo perdido em virtude do sexo livre, um paladino tão extremo e descompensado que confunde a proteção a estes valores com a punição para quem não os cumpre a risca, trazendo a morte àqueles que deturpam o conceito da moral e exterminando os sexualmente ativos.

    São mostrados apenas meia dezena de mortes no filme. As cenas de ação não causam muito impacto, até por ser bastante cruas, mas compensam em visceralidade e verossimilhança o que falta em grafismo nos assassinatos. O subgênero de terror slasher era algo ainda embrionário e as coincidências e furos de roteiro tornariam-se repetidas a exaustão nos filhotes bastardos de Halloween, não somente neste sub-tópico mas em inúmeros outros tipos de horror movies, especialmente as temáticas do assassino “imortal”, fuga do vilão e a permissividade da sobrevivência do monstro, jamais morto, mesmo quando se há oportunidade, claro que estes pontos foram distorcidos e apresentados de mil formas diferentes. Halloween de John Carpenter é um arrombo de suspense e tornou-se uma franquia muito lucrativa a despeito do interesse de seu realizador.