Tag: Michael Myers

  • VortCast 107 | Expectativas 2022

    VortCast 107 | Expectativas 2022

    Bem-vindos a bordo. Filipe Pereira (@filipepereiral | @filipepereirareal), Bernardo Mazzei (@be_mazzei) e Jackson Good (@jacksgood) se reúnem para comentar sobre os principais lançamentos nos cinemas e TV para o ano de 2022 e as principais expectativas.

    Duração: 89 min.
    Edição:
     Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

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  • Crítica | Halloween Kills: O Terror Continua

    Crítica | Halloween Kills: O Terror Continua

    Crítica Halloween Kills: O Terror Continua

    Halloween Kills: O Terror Continua segue os eventos imediatamente posteriores ao desfecho do Halloween. O ponto de partida é o exato momento após do confronto entre a família de Laurie Strode de Jamie Lee Curtis contra o assassino poderoso e quase imortal Michael Myers, com todos os resultados dramáticos do que seria a encarniçada briga de uma mulher traumatizada contra o causador desse trauma.

    Esse segundo filme segue com a direção de David Gordon Green, e remonta a momentos clássicos de Halloween: A Noite do Terror, incluindo um prólogo que reconstrói bem a atmosfera da obra de John Carpenter, emulando perfeitamente o clima de terror do clássico, usando e abusando da trilha sonora original, inserindo junto mais camadas do passado do xerife Frank Hawkins (Will Patton), um dos poucos amigos de Laurie na obra anterior.

    Green anunciou desde antes da estreia de Halloween que seu planejamento era fazer três filmes, então esta obra analisada seria o filme do meio de uma trilogia. Era até previsível que isso poderia resultar em problemas no roteiro, e de fato isso ocorreu. A fragilidade maior do roteiro reside na tentativa de criar uma milícia civil entre os habitantes de Haddonfield, fato um pouco forçado e que de certa forma contradiz boa parte dos eventos na versão de 3 anos atrás, pois não houve comoção em volta de Laurie, tampouco solidariedade por parte de outros sobreviventes dos ataques de Myers.

    Se havia um grupo de apoio, que se reuni todo ano no Dia das Bruxas para comemorar a própria sobrevivência, Laurie simplesmente não deveria sentir um pária na cidade, nem deveria ser encarada como a única louca da cidade pequena. O eco de um passado trágico deveria ser um fardo dividido por todos esses que não perecerem, mas esses novos personagens parecem estar aqui apenas para desviar o foco do espectador enquanto Lee Curtis e sua personagem se recuperam dos ferimentos.

    As críticas de que as vítimas que perecem pelas mãos de Myers e de que são personagens genéricos não estão erradas, no entanto, há um certo exagero e até rabugice nesse comentário, afinal se a intenção de diretor é homenagear o subgênero de cinema slasher, é natural que haja uma apelação a esses  clichês, sem falar que as mortes são normalmente bem filmadas, criativas e bastante gráficas.

    Michael é aterrorizante, causa temor e é imprevisível. Sua sede por sangue não inclui somente os adolescentes sexualmente ativos, mas todos que ousarem cruzar seu caminho. Ele não utiliza de um falso moralismo sexista, é apenas a encarnação do Bugman, o Bicho Papão mesmo, uma força da natureza que só busca destruição, um psicopata que evoluiu no cárcere ao ponto de transformar suas cenas de crime em arenas de exibição artística, dignas de observação do espectador e até de uma plateia imaginária. Nem monstros recentes conseguem capturar essa sensação como Michael consegue e só por isso esse resgate de Gordon Green já vale o esforço, fora evidentemente o gore, que se intensifica após uma hora de exibição.

    O filme funciona quando não se leve a sério. Ao tentar tecer algumas críticas ao linchamento público, evento comum em território estadunidense, e a paranoia generalizante que parece tomar conta das mentes do povo, acaba esbarrando  em pieguices. Falta sutileza ao argumento pensado por Green, Scott Teems e Danny McBride, chegando ao cúmulo de pôr em pé de igualdade o desejo ignorante do povo por justiça com as ações de um assassino serial. São eventos nada equivalentes, e se Myers não parece movido por uma moralidade conservadora, o filme em si é refém um pouco dessa condição.

    O final de Halloween Kills: O Terror Continua é carente de força e entusiasmo. Mesmo a morte de personagens importantes não choca, soa bobo, pois fica a sensação dos verdadeiros combates envolvendo O Mal e Laurie ocorrerão no vindouro Halloween Ends. Gordon Green traz boas sequências de violência, mas traz também uma obra com fragilidades consideráveis, mas que nem de longe justifica toda a negatividade das análises em geral.

  • O Fenômeno Halloween e a Mitologia de Michael Myers

    O Fenômeno Halloween e a Mitologia de Michael Myers

    Cinco anos atrás, resenhei o primeiro filme da cinessérie Halloween: A Noite do Terror, de John Carpenter, quando essa fez 25 anos. A obra é um marco simbólico para o cinema e talvez nem mesmo Carpenter soubesse o que viria pela frente, ao inaugurar um novo sub-gênero de terror, e ainda dar vazão a uma mitologia controversa em uma franquia repleta de desdobramentos estranhos.

    O Halloween original é ao lado de A Noite dos Mortos Vivos e O Massacre da Serra Elétrica um dos marcos centrais do terror pós-Nova Hollywood. Quanto a Myers, o diretor o teria criado o personagem ao visitar crianças doentes mentais em um hospital no Kentucky. Reza a lenda que ele viu um garotinho com olhar perturbador que sofria de esquizofrenia e isso o marcou de tal forma que fez imaginar um vilão que seria a encarnação de todo o mal. Além disso, ao compor o roteiro junto a Debra Hill, sua corroteirista, acrescentou uma máscara de baixo orçamento, possivelmente inspirada no rosto de William Shattner em Jornada nas Estrelas: A Série Clássica, boato jamais confirmado.

    Para compor esse quadro, era preciso de um adversário à altura para o vilão. O papel de Van Helsing atualizado coube a Donald Pleasance, um ator veterano, vindo de obras como O Diário de Anne Frank, THX 1138Fugindo do Inferno. Os créditos iniciais com a pequena abóbora são singelos perto do terror que viria, aquela lanterna não faria jus ao suspense que o roteiro de Carpenter e Hill trariam, mesmo que esse horror fosse econômico e certeiro, tocando em temas pesados envolvendo insinuações incestuosas e fratricídio.

    A jornada do sanatório Smiths Groove até a cidade fictícia de Haddonfield, em Illinois, no dia das bruxas soa como um retorno de um homem para sua terra, embora seu clã tenha sido varrido dali, sem paredeiro definido ao menos nesse ano de 1978. O diretor faz questão de não mostrar a face de seu personagem principal,  chamada nos créditos como The Shape. Ele aparece na frente de Laurie apenas aos 23 minutos de exibição, e aqui cabe a descrição de outra parte desse fenômeno: a inserção de Jamie Lee Curtis como Scream Queen fundamental do cinema, aproveitando-se evidentemente do pedigree de ter sido herdeira de Janet Leigh. Não à toa, Psicose é um pré-slasher que antecipa parte dos elementos consagrados do estilo.

    Halloween é bem tímido quanto as mortes. A maior parte delas é mostrada de maneira lenta e gradual. Myers parece sofrer de psicopatia que sob definição psiquiátrica é considerada uma constelação de traços disruptivos de personalidade e comportamentos antissociais. Até mesmo por isso, ele não é uma máquina de chacinar nesse início. Existem elementos teatrais demais nesse primeiro momento, como a distribuição dos assassinados pelos armários da casa, a fim de assustar Laurie, espalhando os amigos mortos de maneira quase fantasiosa. Hoje isso soa até risível, mas na época era impactante e causava alvoroço exatamente pelo exagero dramático. A evolução do menino que matou Judith com máscara de palhaço para o adulto deformado e quase sobre-humano faz sentido dentro da lógica criada dentro do próprio filme.

    O sucesso do filme colocou um dilema na mão dos produtores: o filme de custos irrisórios deu muito dinheiro e evidentemente que clamava por uma continuação. Aqui é importante salientar que a mitologia de Michael Myers se divide, e chamaremos elas por Mito para tentar diferencia-la, ainda que Halloween 2: O Pesadelo Continua, de 1981, esteja na maioria das gêneses dessas mitologias diferenciadas.

    Mito 1

    H2 começa imediatamente após o primeiro. Rick Rosenthal conduz o filme, escrito pela mesma dupla anterior. Reza a lenda que a sequência não era o desejo de Carpenter e nem de Debra Hill. O diretor iniciante claramente não tem o mesmo cuidado para transmitir a história em comparação ao primeiro. A aura fantástica evita qualquer sutileza e escancara intenções. A fala de Loomis de que Michael não era mais humano faz sentido, pois ele se tornou um super-homem. Aqui o gore ainda é moderado e nos apresenta cenas sem coerência, como quando o assassino joga a cabeça da vítima em água fervendo mas não machuca as mãos.

    Rosenthal abandona por completo a ideia de thriller psicológico e parte para um banho de sangue. O desfecho é simbólico, mostrando Myers chorando sangue ao ser atingido por sua irmã, Laurie – aqui, foi revelado que Strode era na verdade uma Myers, escondida de todos, pondo uma camada de sensacionalismo barato na trama.

    O fogo que consome o paciente doente e o doutor resume a falta de sutileza de roteiro e direção. Porém, o desfecho continha um sentimento definido por parte dos criadores de não querer continuar a história, tanto que em Halloween 3: A Noite das Bruxas, de 1982, o filme sequer toca na mitologia de Myers. A ideia seria usar o nome forte da marca para mostrar outras histórias, o que não ocorreu. O fracasso fez com que Carpenter e Hill abandonassem a produção da franquia.

    O mito 1 continua com Halloween 4: O Retorno de Michael Myers, lançados seis anos depois. Moustapha Akkad decide retomar os elementos que fizeram as partes 1 e 2 serem exitosas, trazendo Myers de volta, exatos dez anos depois dos acontecimentos do filme original, tanto em tela quanto fora dela. Incrivelmente, nem Michael nem o doutor Loomis morreram no incêndio do hospital em 1978, pois até mesmo Pleasance retorna. Só quem fica de fora é Curtis, que se poupa tanto do roteiro quanto de um possível fracasso, já que se tornou uma estrela de cinema.

    O assassino desperta na ambulância que o transferiria para um novo hospício ao ouvir que tem uma sobrinha pequena, de nome Jamie, interpretada por Danielle Harris. O diretor Dwight H. Little tinha dirigido pouca coisa na época (anos depois faria Rajada de Fogo, com Brandon Lee), e na realidade é incapaz de traduzir em tela nada próximo a tensão e senso de urgência do clássico. Ao menos, o final abre a possibilidade para um legado de terror familiar que… não se cumpre.

    Halloween 5: A Vingança de Michael Myers é feito no ano seguinte em um covarde retorno ao status quo. Havia um roteiro que prosseguia com os elementos levantados no filme anterior em que Shem Bitterman mostra Jamie como assassina. Mas no lugar disso, se tenta fazer uma tola aproximação de Loomis e Michael, basicamente para aproveitar uma última participação de Pleasance no papel.

    Michael retorna após cavar pela terra em sua cova, feita próxima de um rio. Para se salvar, entra em uma velha cabana de um pescador e desmaia sem causar mal ao homem. O assassino e o homem então convivem bem por um ano de maneira inverossímil, como se Myers tivesse “liberação” para matar somente no mês de outubro. No roteiro de Shem o pescador seria um homem místico de alcunha Dr. Morte, que faria um processo de ressurreição com influência de runas e rituais druidas, mas tudo foi descartado para esse novo roteiro capenga, levemente alterado na parte 6. O final mistura sentimentalismos com nostalgia em um desfecho fraco, mais uma vez postergando o real fim de Myers.

    Halloween 6; A Última Vingança,  de 1995 começa com um rito, envolvendo feitiçaria e crianças. Jamie é sequestrada e depois ocorre um salto temporal de seis anos. A menina cresce e está grávida e o roteiro de Daniel Farrands tenta explicar que um mal ancestral é base para a crueldade presente no sangue dos Myers. Segundo a seita, o serial killer está envolvido com a maldição de Thor, um antigo druida que, na noite de Samhaim, deveria usar sua família como sacrifício para o culto e assim a tribo tivesse vida. O objetivo dessa seita é continuar trazendo o mal à luz, e por isso trabalham com genética, para o surgimento de novos bebês que iriam se tornar assassinos e Michael passa a ter uma obsessão por seu sobrinho-neto.

    Para piorar há uma subtrama, envolvendo Tommy, que no filme original era a criança cuidada por Laurie e que aqui é vivida por Paul Rudd. Ele se tornou um freaky, obcecado pelos assassinatos envolvendo os Myers e os Strodes. Loomis por sua vez é mostrado como um eremita aposentado. Ao menos, essa parte se assume como um filme gore mesmo. A qualidade visual parece ser bem melhor que a dos dois últimos capítulos. Há duas versões dessa parte, a do diretor Ted Chapelle, que foi para o cinema, e a de Moustapha Akkad, que leva em conta mais eventos envolvendo o Doutor Loomis. Essa outra versão explica, por exemplo, que o doutor fez uma cirurgia para consertar as marcas em seu rosto, provindas dos filmes anteriores, mas ainda assim segue bem medíocre, e se o leitor quiser saber mais dessas versões, pode acessar aqui.

    Toda ideia dos filmes slasher é discutir a moralidade americana, focando nos adolescentes e no pensamento conservador do cidadão, exagerada ao ponto de ser encarada como força assassina e essa última parte da mitologia abre mão disso, para focar suas justificativas em um tema espiritual.

    Mito 2

    Antes de o conceito de reboot ser tão alardeado, Akkad já fez uma espécie de reset em sua franquia. Para comemorar os vinte anos do clássico, foi chamado Steve Miner, de A Casa do Espanto, Sexta-Feira 13 – Parte 2 ,Sexta-Feira 13 – Parte 3, Warlock, entre outros, para dar à luz a Halloween H20, lançado em 1998. Sem Pleasance, a série recrutou novamente sua scream queen, Jamie Lee Curtis, que agora assume o nome Keri Tate, tentando a todo custo esconder-se do irmão.

    Apesar de prestar reverencia e homenagem a Pleasance, o roteiro de Robert Zappia e Matt Greenberg ignora tudo exceto o primeiro e segundo filme. Não há menção a Jamie ou a outros retornos de Michael que não em O Pesadelo Continua e, para sobreviver a tantas outras franquias de terror, o filme tece um estilo mais moderno, claramente tomando emprestado elementos visuais e dramáticos de Pânico, franquia que ao lado de  Eu Sei O que Vocês Fizeram no Verão Passado e Lenda Urbana revitalizaram o interesse dos adolescentes por terror, além de inspirar novas continuações de Brinquedo Assassino e uma refilmagem de Psicose.

    Produzem o filme Akkad e os irmãos Bob e Harvey Weinstein. O mito de Michael pouco evolui, uma vez que o roteiro é esvaziado e repleto de clichês. Segura-se o ímpeto de violência para dar lugar a mais suspense e sustos, além da condução mais acurada. Miner faz boas cenas, com planos inteligentes e menos genéricos que as parcas continuações. A realidade é que o resto é de fato fraco, mas se o espectador for menos exigente com qualidade textual, certamente H20 soará ao menos divertido, além de apresentar uma nova tentativa de Laurie seguir sua vida, tendo filho, uma nova ocupação como diretora de escola e ainda assim sendo atormentada pelo passado.

    A oitava e até então última parte da saga de Myers começa 3 anos após o fim de H20. Halloween: A Ressurreição tem a gênese em um sanatório. Enfermeiras conversam sobre Laurie Strode, mais uma vez feita por Curtis que, aparentemente, decapitou outro homem que não Michael no final da sétima parte. A heroína segue viva e paranoica, não toma os remédios tarja preta que são prescritos e vê a figura de Michael em todos os lugares possíveis. Não se sabe por alucinação ou realmente pela presença do slasher. A ideia de mostrar receio e paranoia se misturando é maravilhosa, mas tudo que se segue após isso é de um equívoco tremendo. A franquia tenta soar cool ao pegar emprestado elementos de reality shows e uma estética parecida com a dos filmes da série Premonição, resultando em um tiro no pé que não agrada nem fãs antigos e nem novos.

    Curiosamente, a ideia de mostrar pessoas filmando em primeira pessoa os assassinatos foi utilizado em Panico 4, ainda que para Wes Craven essa ideia de filmar em found footage seja uma besteira completa. O filme foi produzido por Malek Akkad, filho de Moustapha Akkad, e que seguiu também como produtor das refilmagens. No entanto, quase não há acertos nesse desfecho. Há boatos de que houveram 3 finais alternativos, mas nenhum salva a mediocridade desse que tenta ser metalinguístico. A desculpa para introduzir Curtis nessa nova trama é quase inexistente e sua participação acontece, a despeito da trama principal, e termina em um quarto de hora aproximadamente. Nem a direção de Rick Rosenthal que também assinou H20 ajuda.

    Mito 3

    O Mito 3 começa em Halloween: O Início, de 2007. Um reboot. Ainda que essa parte do mito de Michael Myers não seja tão positiva, é melhor que a maioria dos filmes que foram rebootados na época. Os dois filmes dirigidos por Rob Zombie, assim como a versão de 2018 tem produção de Malek Akkad.

    A grande questão é que a lenda envolvendo o boogye man ou o bicho papão de Haddonfield parece ser muito maior que a vontade dos Akkad em tentar fazer dinheiro com o combalido sociopata de Illinois, ainda que até isso tenha sido freado, vide o crossover com Pinhead de Hellraiser que jamais ocorreu, uma falha positiva, visto a falta de qualidade de Freddy Vs. Jason e Alien Vs. Predador.

    As marcas registradas do personagem, como o uso de armas brancas entre facas, cutelos e machados foram utilizadas a exaustão, além de um sem número de modos de matar bem bobos.

    Recentemente, abriu-se um Mito 4, lançando outra linha temporal em que somente o filme seminal de Carpenter faz parte. Dirigido por David Gordon Green que também assinou o roteiro ao lado de Danny McBride e Jeff Bradley, o suspense é refeito de forma semelhante ao original com uma linguagem atualizada e ligada a paranoia. Ao menos algum cineasta parece ter entendido o que Myers significa e o ícone segue vive, mesmo tendo sido tão maltratado pelos roteiros, esfaqueado, alvejado, queimado e sobrevivendo sempre de maneira surpreendente de acordo com as conveniências dos roteiros.

    Contudo, mesmo nos momentos ruins pelos quais os roteiristas, produtores e diretores fizeram-no passar, Myers seguia forte com sua caracterização muda, incapaz de pronunciar qualquer palavra ou expressão, com o rosto sempre coberto por sua máscara – que aliás, se confundia com a sua própria pele, dada a intimidade do homem com o objeto – e também como o menino que se tornou ainda mais perturbado após matar sua irmã mais velha.

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  • Crítica | Halloween

    Crítica | Halloween

    Qualquer filme de terror quando faz sucesso se torna uma franquia muito facilmente. É raro um filme minimamente original não sofrer com continuações caça-níquéis e esdrúxulas. Halloween: A Noite do Terror não só sofreu com 9 continuações, entre sequências e remakes, mas também foi bastante copiado, como o grande referencial dos filmes slasher. A promessa sobre este Halloween era de que algo realmente assustador viria, e a responsabilidade de David Gordon Green era grande, ainda mais ao analisarmos sua filmografia formada em sua maioria por comédias e alguns poucos dramas.

    A história começa mostrando dois jornalistas Dana Haines (Rhian Rees) e Aaron Korey (Jefferson Hall), que tentam documentar a aproximação junto a Michael Myers, o assassino serial que se mantém calado há quarenta anos em Smith Groove. No material dos trailers, a jovem Allyson (Andi Matichak) diz que era boato a conversa de Myers e Laurie eram parentes, e apesar disso não ser dito no filme, fica claro que essa parte da mitologia só leva em conta o clássico de 1978, o que é justo, visto que há poucos momentos realmente bons em suas sequências.

    Laurie é uma mulher já idosa, agorafóbica, que fica longe de sua família. Os dois repórteres a procuram tentando convence-la falar alguma coisa a respeito de Myers, coisa que sequer o doutor Sartain (Haluk Bilginer ) conseguiu, mesmo seguindo os passos de Loomis. Não é nem preciso dizer que mais uma vez o assassino consegue fugir, dessa vez após o ônibus colidir a caminho de um hospital, sob circunstâncias suspeitas, o que resulta no retorno do assassino para Haddonfield, aterrorizando não só os jovens, mas também a traumatizada Laurie e seus familiares. A protagonista é uma mulher destroçada pela vida, que dedicou quarenta anos a odiar o seu algoz e se preparar para enfrenta-lo. Esse quadro é muito bem explicitado no roteiro de Green, Danny McBride e Jeff Bradley, e a abordagem é igualmente madura. O filme não tenta soar adulto somente pela violência explicita, e embora pareça um pouco arrogante em suas soluções, não é nada ofensivo.

    Continuações normalmente repetem os clichês dos clássicos, mas não é o caso desse, tal qual houve uma evolução e transição entre Exterminador do Futuro e Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final, mas nem o otimismo que Cameron colocou em sua franquia tem vez aqui, e tampouco precisou mudar o gênero de Terror para Ação afim de fortalecer a evolução desse caráter, o gênero segue inalterado. A aura de suspense é resgatada, apesar de soar um pouco sensacionalista em alguns pontos, em especial na figura do novo psiquiatra badass. A nova trilha sonora, conduzida por John Carpenter, Cody Carpenter e David E. Davies ajuda demais a pontuar a tensão, e não soa refém dos temas originais, que são empregados poucas e boas vezes aqui. Myers segue implacável, sanguinário, remodelado para ainda soar como a encarnação do mal, mas sem os exageros e tentativas didáticas de explicar tudo como foi com Halloween: O Início, de Rob Zombie. O implícito é soberano e a mitologia do personagem dá margem para o espectador ter múltiplas interpretações do modus operandi do serial killer. Ainda assim, o cineasta dá algumas mostras do quão aficionado era pela franquia, com referências visuais até sobre Halloween 3, que não conta com Myers em sua história.

    As atuações estão de fato muito competentes. Greer consegue fazer a personagem sempre em dúvida e suspeição, ao mesmo tempo que rejeita sua mãe, a acolhe quando precisa. Curtis é absurda em sua composição de personagem afetada pela mágoa, amargura e o medo. Green se mostra um diretor maduro, que além de produzir dramas competentes como Joe – que o ajudou a compor boa parte da parte emocional desta versão – também consegue trazer à luz uma história assustadora, com gore e com moderação para não deixar o excesso de violência violar o status de suspense, que pontuou os bons momentos da trajetória de Michael Myers.

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  • Crítica | Halloween: O Início

    Crítica | Halloween: O Início

    Halloween - O Inicio - 2007

    Ao lado de Wes Craven, o diretor John Carpenter popularizou o Terror na década de 80, abusando de maníacos e personagens bizarros em histórias assustadoras. A cada geração, muitos filmes do gênero são produzidos mas poucos destacam-se no panteão do medo. A saga Jogos Mortais teve um bom início em uma trama policial dirigida por James Wan, depois exagerou na violência gore e repetiu a si mesma diversas vezes até o capítulo final. Neil Marshell foi considerado promissor com Abismo do Medo, mas ainda não realizou outra produção tão eficiente quanto sua primeira. Além destes, muitos filmes atuais são regravações do passado, repetindo as mesmas histórias, modificadas somente pelo estilo narrativo em vigor, com elementos nem sempre assustadores.

    Em meio a este marasmo, o músico Rob Zombie compôs uma duologia cruel sobre uma família de assassinos. Compondo o grotesco com naturalidade, sem poupar sangue, A Casa dos 1000 Corpos e Rejeitados pelo Demônio destacavam que o roqueiro possuía talento e estilo ao filmar, diga-se, melhores produções do que alguns diretores atuais. Sucesso que lhe garantiu a possibilidade de readaptar uma das mais famosas histórias de Carpenter: Halloween: A Noite do Terror.

    Utilizando o mesmo argumento do original, Zombie parte da infância do personagem para desenvolver e justificar sua crueldade. Insere a criança Michael Myers em um ambiente hostil, com uma mãe stripper, um padrasto inválido que o odeia, uma irmã adolescente que, como qualquer jovem, despreza tudo que não seja seu próprio umbigo, além de uma pequenina irmã, por quem Myers nutre um sentimento positivo. Este é primeiro ato que fundamenta as motivações do personagem.

    Em um avanço de 30 anos, o curto segundo ato apresenta Myers preso, evento já previsto por seu psicólogo infantil, Dr. Loomis (Michael McDowell), que, desde a infância do garoto, acreditava que seu paciente romperia os laços do mundo exterior ao demonstrar uma psiquê corrompida e incapaz de absorver a problemática de seus próprios atos. O terceiro ato marca a fuga do personagem do manicômio em que está preso e a procura dos sobreviventes de sua família.

    Ao introduzir o escopo psicológico da infância de Myers, Zombie produz uma temerosa figura real. Ao compreender suas motivações psicológicas, o público contempla uma sensação dúbia: reconhece a monstruosidade do personagem, mas se apieda por compreendê-lo dentro de um sistema analítico-psicológico. Uma análise que, no entanto, não retira a potência do medo causada pela figura aficionada em esconder-se atrás de máscaras, temerosa da própria aparência.

    Dando uma nova visão da história sem perder os elementos clássicos, Zombie produz uma regravação sólida, diferentemente de outras obras adaptadas, como Sexta-Feira 13, Terror em Amityville e O Massacre da Serra Elétrica; tais produções, ao serem contextualizadas no estilo narrativo contemporâneo, não necessariamente souberam adaptar-se ao novo público, que não tem mais medo de monstros rasos da década de 80.

    Atualizando o personagem, cria-se um monstro à espreita, dono de grande agressividade e um temor que parece mais sensível pela concepção da realidade. Uma versão que, ao aprofundar-se na composição humana de Myers, transforma-o em ainda mais insano.

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  • Crítica | Halloween: A Noite do Terror

    Crítica | Halloween: A Noite do Terror

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    O clássico de John Carpenter começa com a câmera emulando os olhos do monstro, como em Jaws de Spielberg, mostrando a criatura carrasca punindo os lascivos. Mesmo com o assassinato sendo retratado, a lente é recatada e não acusa o golpe fatal no prólogo, para só depois revelar o assassino, o inocente Michael Myers, ainda infante.

    Jamie Lee Curtis, ainda com 20 anos, viria a inaugurar o estereótipo de scream queen, além de tornar a sua personagem, Laurie, a mais famosa personagem do tipo na história do cinema. A filha de Janeth Leigh ainda não estava no auge da beleza – especialmente ao que é visto em True Lies – mas compunha a vítima perfeita, escandalosa, veloz na corrida e claro, engenhosa na feitura de armas improvisadas e planos de fuga esdrúxulos. A fita tem um ar de artesanal, a começar pela trilha sonora e música, compostas pelo próprio realizador. A edição de som é primorosa e eleva a aura de suspense às alturas.

    Donald Pleasence seria figura carimbada na franquia. O seu detetive Loomis é apresentado como um sujeito paranoico. Pérolas como essas: “O Mal se foi!”; “Isso não é um homem”; “O mal chegou à sua cidadezinha” e “Olhos negros, olhos de puro mal”, saem a todo momento da boca do personagem e transformam a figura do doutor em motivo de chacota dado o pavor que o doente causa nele, além de tornar o médico numa figura tão ou mais depravado e desequilibrado quanto Myers. Loomis observou o crescimento do rapaz em um homem, por 15 anos acompanhou o seu caso e nada pôde fazer, pois nesse período o insano somente olhava para a parede até o famigerado dia da fuga. Mas o show de absurdos prossegue, a “máquina assassina” ao tentar atacar Laurie Stroode, capa o seu braço mesmo empunhando uma machete. O assassino é atrapalhado, característica pouco comum em slasher movies, e mais tarde abandonada nos filmes da franquia, mas homenageado por Wes Craven e Kevin Williamson no personagem Ghostface, vilão da quadrilogia Pânico.

    A semi-nudez parece ser um gatilho para a fúria assassina do infante assassino preso num gigantesco corpo de dois metros de altura. Myers funciona como um arauto da moral, se utilizando de sua máscara não nominada para manter o sigilo de sua identidade, como a justiça sem rosto distinguível, simbolizando os ecos do conservadorismo perdido em virtude do sexo livre, um paladino tão extremo e descompensado que confunde a proteção a estes valores com a punição para quem não os cumpre a risca, trazendo a morte àqueles que deturpam o conceito da moral e exterminando os sexualmente ativos.

    São mostrados apenas meia dezena de mortes no filme. As cenas de ação não causam muito impacto, até por ser bastante cruas, mas compensam em visceralidade e verossimilhança o que falta em grafismo nos assassinatos. O subgênero de terror slasher era algo ainda embrionário e as coincidências e furos de roteiro tornariam-se repetidas a exaustão nos filhotes bastardos de Halloween, não somente neste sub-tópico mas em inúmeros outros tipos de horror movies, especialmente as temáticas do assassino “imortal”, fuga do vilão e a permissividade da sobrevivência do monstro, jamais morto, mesmo quando se há oportunidade, claro que estes pontos foram distorcidos e apresentados de mil formas diferentes. Halloween de John Carpenter é um arrombo de suspense e tornou-se uma franquia muito lucrativa a despeito do interesse de seu realizador.