Tag: J.K. Rowling

  • VortCast 107 | Expectativas 2022

    VortCast 107 | Expectativas 2022

    Bem-vindos a bordo. Filipe Pereira (@filipepereiral | @filipepereirareal), Bernardo Mazzei (@be_mazzei) e Jackson Good (@jacksgood) se reúnem para comentar sobre os principais lançamentos nos cinemas e TV para o ano de 2022 e as principais expectativas.

    Duração: 89 min.
    Edição:
     Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

    Agregadores do Podcast

    Feed Completo
    iTunes
    Spotify

    Contato

    Elogios, Críticas ou Sugestões: [email protected].
    Facebook — Página e Grupo | Twitter Instagram

    Links dos Sites e Podcasts

    Agenda Cultural
    Marxismo Cultural
    Anotações na Agenda
    Deviantart | Bruno Gaspar
    Cine Alerta

    Ouça e avalie-nos: iTunes Store | Spotify.

  • Crítica | Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald

    Crítica | Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald

    Após toda uma saga de filmes e livros do bruxinho criado por J. K. Rowling, a escritora passou a escrever os roteiros que adaptavam suas obras, sem intermediários. Em Animais Fantásticos e Onde Eles Habitam a mudança do foco narrativo para um mundo de bruxos mais adulto acerta em cheio, mesmo que o personagem principal Newt Scamander, de Eddie Redmayne, seja absolutamente desinteressante, seus coadjuvantes salvam a exibição. Em Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald há uma tentativa do diretor David Yates seguir esta tônica, mas ele acerta em alguns elementos e erra em tantos outros.

    A história começa em 1927, mostrando Johnny Depp como o personagem vilanesco que dá nome ao longa, com cabelos e barba grande, por conta de seu aprisionamento. Apesar da figura de Depp ser deplorável (ainda mais depois das acusações sérias de assédio feitas por sua ex-companheira), a composição visual é boa, o grisalho dos pelos é bem fotografado e toda a sequência de ação inicial é de tirar o fôlego, valorizando toda a atmosfera barroca da obra, tendo já no início algo que faz valer o ingresso dos fãs a apreciar a adaptação dos personagens de Rowling, o problema é que esse êxito não se repete nas outras partes do filme. Redmayne continua em sua performance monotônica, como uma música que insiste demais na mesma nota, e dessa vez, nem Tina (Katherine Waterston) e Jacob Kawolski (Dan Fogler) tem brilho suficiente para balancear a falta de carisma do protagonista. Fica a interrogação sobre o motivo do retorno de Jacob, já que ele tem pouca ou nenhuma importância dramática real, servindo apenas como alívio cômico que já não funcionam tao bem como no primeiro capítulo da série.

    A nova versão de Alvo Dubledore, de Jude Law, faz um personagem sóbrio, econômico e que demonstra seu brilhantismo e complexidade de maneira bem discreta e sem exageros, como Depp as vezes faz durante os longos 134 minutos de tela. Apesar de pouco contracenarem, Newt e Alvo parecem bem íntimos e as pontas soltas que são amarradas aqui fazem um sentido tremendo.

    Ao menos visualmente o filme acerta e muito. Os tais animais fantásticos são lindíssimos e o design deles é deslumbrante. O dragão / cavalo marinho que aparece no longa é muito superior ao Smaug, de Peter Jackson, mostrado em O Hobbit: A Desolação de Smaug, como aliás havia já ocorrido em outro filme da franquia e de Yates, Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2.

    Pelo meio do filme se percebe que o roteiro deste é bastante refém do primeiro filme, ainda que não repita os momentos de brilhantismo do original. Até os personagens que aparentemente morreram retornam, incluindo aí Credence, de Ezra Miller, que tem um papel fundamental na trama, mas sem o corte de cabelo horroroso que tinha antes, ainda que sua caracterização neste episódio não ultrapasse o caráter de caricatura, uma vez que ele não evolui e segue como o garoto sem perspectivas e de olhar baixo.

    O tour pela Europa é injustificado, assim como a enrolação dramática para resolver os problemas, claramente não havia história para durar mais de duas horas e os momentos acessórios soam desimportantes ante a trama de Grindelwald. O ritmo deficitário faz lembrar O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos e Uma Jornada Inesperada. Até as referências e easter eggs soam oportunistas e mesmo o discurso segregador do vilão é também diluído, em mais uma enfadonha referência a Donald Trump e outras figuras execráveis, mas sem dar peso e importância dentro da história. Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald tem bons momentos visuais, mas não tem a mesma qualidade e maturidade do primeiro longa.

    Facebook – Página e Grupo | TwitterInstagram.

  • Crítica | Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte II

    Crítica | Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte II

    harry-potter-e-as-reliquias-da-morte-2

    No último minuto de O Mundo de Apu, clássico indiano soberbo, não há dúvida de ter assistido o término de uma das melhores trilogias do mundo dos filmes. Curioso que, além disso, vem à cabeça como fechar uma história com mais de 2 ou 3 capítulos parece fácil, e não é. Entre diversos arcos e expectativas, fica a impressão que o show deve continuar na memória de quem acompanha tudo até o fim, e se divide: “O fim será épico, mas trocaria isso por outros bons capítulos”. Esse foi o sentimento conflituoso quando as luzes se acenderam, em 2011, enquanto o rosto da trindade (Harry, Rony e Hermione) sumia na tela, junto de um marco da geração 2000, e com o prenúncio que não iriamos mais esperar por outra aventura em Hogwarts; mais de cinco anos depois, estreia Animais Fantásticos e Onde Habitam, oriundo deste universo de varinhas e vira-tempos, posto que irá desnudar ainda mais essa realidade (expandir as noções que J. K. Rowling não achou espaço de imprimir na septologia original). Mas será que David Yates, desde A Ordem da Fênix no comando desse show, conseguiria tornar o espetáculo realmente inesquecível sem o apelo emocional deste ter sido “o último”?

    Filmes que se promovem sozinhos são raros, e quando conseguem a briga já está vencida antes da estreia – vide Toy Story, o último Crepúsculo e qualquer coisa do UCM (universo cinematográfico da Marvel). Já outros, feito Aquarius, Star Wars e dramas do Oscar, só fazem sucesso por uma intensa campanha publicitária, tendo que nos convencer a ir vê-los na pompa de uma sala de Cinema. No caso deste Relíquias, Parte II, tanto o primeiro como o segundo conseguiram ir além do coração dos fãs, tornando-se um fenômeno pop apostando no carisma de um mundo tão vasto quanto a Terra Média, de J.R.R Tolkien, tornando o filme extremamente comodista. Não há nenhum esforço para tornar este segundo Relíquias algo a mais do que ele significa para o fã, feito a maioria dos filmes da sala, fechados em seu mundo e sendo nada além do que esperávamos. Essa é a falta de credibilidade que os fãs não aceitam enxergar: Diferente de outras grandes sagas, Harry Potter não trouxe nada de novo à arte.

    Por isso mesmo, Yates sabe que a diferença entre quem vai adaptar um universo, e um garimpeiro de petróleo é o tamanho da ambição, e o diretor dos últimos quatro Harry Potter se esforça para que as suas cenas de ação fiquem à altura do esperado, mas falha, e falha quase miseravelmente. Fato é que as cenas dramáticas, como a morte de várias figuras amadas pelos fãs, são muito mais impactantes que os duelos coloridos (super mal-coreografados), confusos, de uma conotação espacial péssima, com a barulheira de sempre (Fico imaginando o incômodo de Paul Greengrass, gênio da ação, assistindo a batalha final de Hogwarts), e que aqui só empolga quem sabe o nome de cada feitiço e personagem, mesmo. Destaque apenas para a fuga do dragão logo no começo do filme, essa sim, diferente de tudo o que havia sido visto no Cinema. Adendo extra: O filme não precisava ser em 3D, mas é o legado de Avatar ao mercado. A gente entende tão bem quanto as pessoas lacrimosas ao se despedir de Harry, um personagem bem evoluído por oito filmes, que… espera, não eram sete livros?

    Lembro de ler, ainda em 2011 críticos julgando o filme como um longo clímax, o que discordo em partes, já que sendo apenas um filme vários momentos de Relíquias, Parte II iriam se perder, mas… seria essa uma justificativa cabível? Deve-se duvidar, sobretudo, de um filme dividido em dois para dar conta do recado, sendo que há uma teoria que “nenhum filme precisa de mais que 2 horas pra mandar a mensagem”, quanto mais apelar para a técnica que só funcionou, num período de 20 anos, com os dois Kill Bill de Tarantino, cujo segundo só existe para aprimorar ao máximo a jornada da Noiva, e não para lucrar ao máximo com a jornada do bruxo. Esse último Harry não atrapalha em nada, pelo contrário, usa e abusa de referências boas do livro, mas é o motivo que faz isso acontecer que atrapalha. Fãs existem, devem ser valorizados como qualquer empresa faz, mas um filme dividido e que existe apenas para quem sabe cada diálogo do que está na tela sempre terá uma qualidade questionável. A verdade dói, mas hoje só consigo me lembrar da memorável cena de Snape, o lendário Alan Rickman. Aquela sim, de cortar corações.

  • Crítica | Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 1

    Crítica | Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 1

    harry-potter-e-as-reliquias-da-morte-1

    São tempos sombrios, não há como negar.

    É com esta frase de cunho pessimista que se inicia Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte I, ou resumindo, HP 7.1, filme que deu início definitivo ao encerramento de uma das franquias mais rentáveis já concebidas. Durante exatos 10 anos, as aventuras de Harry e seus amigos, Rony e Hermione, levaram multidões aos cinemas, encantando platéias de todas as idades e gêneros. Como resultado, a franquia arrecadou mais do que outras famosas séries do cinema, como Star Wars e as missões do agente James Bond.

    Nesse volume temos a continuação da subtrama das Horcruxes, objetos que garantem a imortalidade de Lord Voldemort. Agora em uma jornada solitária, Harry (Daniel Radcliffe), Rony (Rupert Grint), e Hermione (Emma Wattson) precisam procurar as Horcruxes restantes e destruí-las. Nesse contexto, o mundo dos bruxos passa por uma imensa crise e fica cada vez mais difícil de confiar nas pessoas, onde essas acabam por sucumbir à pressão do desespero. Ainda temos a revelação das relíquias da morte, artefatos que podem garantir poder superior a quem possuí-las.

    A opção de dividir o último livro da série em duas películas, de primeira, nos garantiu a impressão de que tal escolha era unicamente a de encher ainda mais os cofres do estúdio, numa última tentativa de gerar um lucro maior com a série. Mas quando analisado, percebe-se que tanto esta primeira parte, quanto a próxima ganharam, e muito, com esta divisão. Diferente dos outros filmes, onde os inúmeros cortes prezavam pela menor duração possível, HP 7.1 aproveita a possibilidade para investir em um ritmo de compreensão sensorial, calcado principalmente no desenvolvimento dos fatos que nos ajudarão a entender todas as pontas soltas deixadas pelos filmes anteriores. Alguns ainda reclamam da letargia do filme após um tempo, o que não deixa de ser compreensivo, já que tais problemas realmente existem, mas é inegável o quanto 7.1 se beneficia de sua paciência, podendo trabalhar com mais clareza os arcos que cercam os personagens.

    E não apenas construindo a narrativa com maior cuidado, o roteirista Steve Kloves (que não participou somente do quinto filme, A Ordem da Fênix) aproveita para definir melhor os personagens, e como a relação entre eles se tornou mais conturbada e complexa. Harry, Rony e Hermione ganham um filme “isolado”, onde a atenção é voltada única e somente para eles, onde seus conflitos são aprofundados com um carinho não visto antes. O roteiro analisa muito bem as reações dos personagens diante das situações apresentadas, e é aqui que vemos, definitivamente o trio deixar qualquer vestígio de infantilidade para trás, assumindo responsabilidades ainda maiores. Harry é obrigado a encarar a difícil tarefa de destruir as Horcruxes, e assim, dar fim ao tão sonhado regime que Lord Voldemort deseja impor (algo que lembra a época do Nazismo, fato histórico onde J.K claramente se inspirou). Rony, apesar de ainda ser o principal veículo cômico do filme, desenvolve uma personalidade mais intensa, pontuada pela incerteza sobre a segurança de sua família, e este sentimento faz florescer desejos antes completamente desconhecidos pelo público (e talvez pelo próprio personagem). Hermione também é atingida pela incerteza, não por sua segurança, mas pelo risco de não poder rever seus pais novamente, já que a garota se viu obrigada a apagar a memória dos mesmos, a fim de que suas vidas não fossem prejudicadas pela atual situação do mundo bruxo. Assim como ocorreu em Ordem da Fênix e que teve seguimento em O Enigma do Príncipe, os personagens se tornam figuras mais completas e carregam consigo um peso parcamente explorado nos anteriores.

    E David Yates merece mais do que parabéns por conseguir traduzir todas estas diversas emoções com eficácia. O diretor sempre teve uma forte tendência em apostar nos conflitos dramáticos, e aqui não foi diferente, com Yates tomando liberdades para com a obra de Rowling, e apresentando uma notável audácia. Momentos como a dança envolvendo dois dos personagens principais, a tortura executada por Bellatrix Lestrange ou o ousado beijo entre outros dois personagens demonstram a coragem de Yates em tornar esta uma obra mais adulta, que beira um filme de horror.

    Também chama a atenção a apropriação que Yates faz dos cenários exóticos que surgem durante a projeção. Optando por tomadas abertas e longos momentos contemplativos, o diretor denuncia toda a beleza, mas também o vazio das paisagens, investindo em um clima pesado e depressivo. A sensação de que nenhum lugar é seguro pontua cada segundo da narrativa, trazendo um constante clima de tensão. Em contraponto, o diretor capricha nas cenas de ação, mais vigorosas e empolgantes do que nos capítulos anteriores.

    E para manter essa evolução equilibrada, Radcliffe, Grint e Watson, enfim, nos entregam atuações dignas de grandes atores, com interpretações mais seguras e expressivas. Daniel Radcliffe sempre foi o mais criticado do trio, o que é verdade, já que seus tiques incomodavam nos filmes anteriores. Mas Radcliffe parece finalmente ter se livrado de tais tiques, interpretando Harry com mais naturalidade. Rupert Grint, assim como seu personagem, eleva Rony para um novo nível, apresentando muito bem a confusão emocional que toma conta do personagem. Mas Emma Watson continua sendo o destaque do trio, e as expressões fortes da garota revelam o potencial para uma futura grande atriz do cinema.

    Mas os verdadeiros mestres estão mesmo é no elenco de apoio. Enquanto que o frio e charmoso(!) vilão Lord Voldemort continua sendo brilhantemente interpretado por Ralph Fiennes, tenho cada vez mais vontade de levantar e aplaudir a performance de Helena Bonham Carter cada vez que a vejo como a lunática Bellatrix Lestrange, que aqui atinge o ápice da insanidade. Alan Rickman, apesar da curta aparição, ainda fascina com seu misterioso Severus Snape, e até outras participações menores, como Rhys Ifans e Bill Nighy possuem seu valor.

    Aliás, uma das maiores injustiças que a série sofreu em sua passagem pelos cinemas é o desprezo que as premiações deram ao departamento técnico dos filmes, tão digno de elogios quanto os outros méritos. Os efeitos especiais, apesar de simples, dão um interessante ar de realidade (como pode ser visto na original animação que narra o conto das relíquias da morte). Os efeitos sonoros também são muito bem trabalhados, e trazem um bom nível de impacto em certos momentos. A fotografia de Eduardo Serra, apesar de não ser tão sofisticada quanto a de Bruno Delbonnel para O Enigma do Príncipe, auxilia na construção do perfeito clima sombrio do filme, e a trilha de Alexandre Desplat, apesar de sutil, não passa despercebida, e configura-se com facilidade entre as melhores trilhas daquele ano, junto com outro maravilhoso trabalho de Desplat em O Escritor Fantasma, de Roman Polanski.

    HP 7.1 traça excepcionalmente bem o caminho para a batalha que há tempos era anunciada, e talvez seja o mais completo de todos os filmes da saga do bruxinho. É tenso, é divertido, é emocionante, é sombrio, faz rir e faz chorar. Um pacote completo. 

    Texto de autoria de Rafael W. Oliveira.

  • Crítica | Animais Fantásticos e Onde Habitam

    Crítica | Animais Fantásticos e Onde Habitam

    animais-fantasticos

    Muito se especulou sobre uma possível sobrevida para a franquia Harry Potter nos cinemas, principalmente, depois que sua criadora, J. K. Rowling, começou a defender a ideia de que o universo idealizado por ela é muito mais complexo do que os oito filmes já exibidos apresentaram ao público. Após três anos, dois meses e cinco dias do anúncio de sua produção, Animais Fantásticos e Onde Habitam finalmente chega aos cinemas com a missão de transportar os fãs de volta ao universo mágico e, ao mesmo tempo, conquistar o público mais adulto, que pode ser considerado um dos principais alvos do longa-metragem.

    Apesar de existir no mesmo universo da octologia original, Animais Fantásticos é um prequel, ou seja, uma produção que preserva os mesmos elementos e a dinâmica da história original, mas que antecede os eventos da mesma. Situada na Nova Iorque dos anos 1920, a trama apresenta não mais um trio, mas um quarteto protagonista encabeçado por Eddie Redmayne na pele de Newt Scamander, um magizoologista (estudioso da fauna mágica) que, ao chegar a cidade, acaba trocando sua maleta, onde vivem os seres que dão nome ao filme, com a de Jacob Kowalski (Dan Fogler), um novaiorquino em busca de auxílio bancário para realizar seu sonho de abrir uma confeitaria. As criaturas mágicas espalham-se pela cidade e são confundidas como uma outra ameaça que anda provocando estranhos fenômenos.

    Compondo o quarteto protagonista, temos ainda Katherine Waterston e Alison Sudol vivendo as irmãs Tina e Queenie Goldstein. A primeira, no passado, foi uma auror do Congresso Mágico dos Estados Unidos, mas teve seu cargo retirado. Já Queenie, possui o dom da legilimência, ou seja, leitura de mentes. Embora todos os atores centrais entreguem boas atuações é necessário destacar o brilhantismo de Dan Fogler que poderia facilmente cair no lugar comum do gordinho engraçado, mas que supera o estereótipo mostrando-se não só fundamental na trama, mas também como agente da avatarização dos espectadores, já que é o único trouxa do elenco central.

    Eddie Redmayne também está muito bem em cena, mas a sensação que fica é a de que Newt Scamander possui muito mais para apresentar. O personagem possui um modus operandi muito curioso. Cercado de trejeitos, ele é tão misterioso quanto os animais que estuda. Aliás, o subtexto da preservação da vida animal é um grande acerto do filme. Scamander dedica a vida para protegê-los e essa relação rendeu cenas muito bonitas do personagem.

    Deve-se deixar claro o tom mais maduro que o roteiro imprime. A sociedade bruxa novaiorquina vive oculta do mundo humano. São terminantemente proibidos os relacionamentos, negócios e qualquer outro vínculo entre os bruxos e os ‘não-majs’, forma como são chamados os trouxas nas Ámericas. O Ministério da Magia americano tenta ocultar as situações que possam por em risco a existência do mundo bruxo, temendo uma guerra ou uma caça às bruxas.

    É curioso como um universo tão fantasioso como o de J K Rowling consegue emular a realidade, abordando questões como preconceito, classismo, fanatismo religioso, defesa dos animais, entre outros. Credence, personagem de Ezra Miller, e sua família são exemplos claros da intolerância (quase religiosa) e do quanto a negação ao outro revela sobre nós mesmos. Fã da franquia original, Ezra mostrou-se muito à vontade no papel, sendo inclusive um dos destaques positivos do longa.

    Diferente do que aconteceu nos primeiros filmes de Harry Potter, onde a paleta de cores vivas e mais infantil deu o tom da ambientação de cenários, Animais Fantásticos possui uma fotografia acinzentada do início ao fim. A cidade de Nova Iorque é vista quase sempre nublada, o que facilita o entendimento do público sobre os contornos da obra. Tal solução é clássica predileção do diretor David Yates que, depois de dirigir quatro dos oito filmes do menino bruxo, retoma a parceria com Rowling e assina a direção deste filme. Yates apresenta uma clara evolução daquele que foi considerado seu ponto fraco no passado: o ritmo. Nesse longa, apesar de existir uma clara dualidade entre drama e comédia, a passagem de um terreno para outro é feita de maneira gradual, sem que o espectador tropece em piadas desnecessárias.

    Apesar de ser o primeiro filme de uma pentalogia, trata-se de uma história com início, meio e fim. Não prevalecendo a sensação de ter sido esticada somente para os executivos da Warner lucrarem. Além disso, não se faz necessário quase ou nenhum conhecimento acerca da saga original para um perfeito entendimento dessa nova série de filmes.

    Animais Fantásticos e  já pode ser considerado a melhor adaptação para o cinema de uma obra literária de J K Rowling. Sim, pois, ao longo da trama, os seres são apresentados um a um e em tom enciclopédico, assim como sugere o livro/almanaque que dá nome ao filme. Divertido, leve e com subplots extremamente relevantes, temos aqui um belo começo para uma saga que aponta no horizonte.

    Texto de autoria Marlon Eduardo Faria.

  • Crítica | Harry Potter e o Enigma do Príncipe

    Crítica | Harry Potter e o Enigma do Príncipe

    harry-potter-e-o-enigma-do-principe

    Quinto filme da saga do menino bruxo, Harry Potter e o Enigma do Príncipe, é o segundo episódio da octologia sob a batuta do diretor David Yates, que mais tarde dirigiu ainda as duas partes de As Relíquias da Morte. Na trama, Lorde Voldemort (Ralph Fiennes) e seus comensais da morte estão em franca ascensão no mundo bruxo, cometendo seus assassinatos de forma indiscriminada e minando pouco a pouco o espaço que o separa de Harry, para onde conflui toda a sua fúria.

    Essa etapa da história apresenta personagens já bastante amadurecidos e calejados. Yates faz uso de técnicas bem mais consistentes do que o seu arsenal técnico utilizado em Harry Potter e o Cálice de Fogo. Entretanto, existem entraves que atrapalham consideravelmente o andamento do longa-metragem por vias mais adultas como, por exemplo, a plot amorosa que ocupa um tempo de tela desproporcional em relação a real importância do elemento romance para o andamento dos arcos dramáticos dos personagens centrais.

    Apesar disso, talvez seja aqui o momento em que a franquia consegue emular a realidade que vivemos em sua ficção. O discurso de caça aos “sangue ruins” – diz-se dos bruxos filhos de ‘não bruxos’ – se assemelha muito aos movimentos fascistas ao redor do mundo, sobretudo ao nazismo e a pregação da raça ariana como soberana. Voldemort surge não só como um vilão mais palpável e crível, mas como um líder para um grupo de bruxos que o segue.

    Em termos de roteiro, o filme não consegue traduzir nem um terço do conteúdo do texto original. Cenas muito importantes foram desprezadas ou subutilizadas. Embora, um texto sobreviva sem o outro fica evidente a carência dramática da versão cinematográfica. A montagem também carece de certo dinamismo, passando certa morosidade na resolução das subplots e tornando a experiência do espectador bastante cansativa.

    Como ponto positivo, o longa apresenta as melhores atuações da octologia. Emma Watson novamente rouba a cena e o protagonismo, mas o destaque aqui fica para o vilão interpretado por Ralph Fiennes. A direção de elenco parece ter acertado a mão ao extrair dos atores emoções mais reais e ao migrar o centro cênico das faces dos atores para os eu gestual.

    Pode-se dizer que O Enigma do Príncipe não faz um bom serviço ao pavimentar o caminho para o desfecho da saga. São grandes as falhas que fazem desse filme um dos mais frágeis dos oito. Ainda assim, os atores conseguem acertar o seu tom dramático, o que ajuda a camuflar parte dos defeitos. Entre erros e acertos, temos um filme burocrático, arrastado, mas fundamental para o pleno entendimento dos segredos que servem de insumos para o final da saga Harry Potter.

    Texto de autoria Marlon Eduardo Faria.

  • Crítica | Harry Potter e a Ordem da Fênix

    Crítica | Harry Potter e a Ordem da Fênix

    harry-potter-e-a-ordem-da-fenix

    Vale dizer que Harry Potter e A Ordem da Fênix, o quinto filme da cinessérie veio pra colocar nos trilhos o que já estava perdendo a direção, logo após o desorientado e azedo O Cálice de Fogo. Quando o filme foi lançado em 2007, ninguém esperava uma pegada (pela primeira vez na saga) tão realista e sombria ao mesmo tempo. Isso porque David Yates tem o mesmo estilo aceitável que Chris Columbus apresenta na direção de A Pedra Filosofal, mas o que poucos estavam dispostos a entender (Fã é assim, ama ou odeia) é que o segundo nos iniciou à magia da forma mais clássica e infantil possível, enquanto Yates teve de pegar as crianças de bochechas rosadas e atirar num mundo cada vez mais ligado tanto ao universo real, quanto ao universo adulto que a série iria alcançar em Relíquias da Morte – Parte II, 4 anos depois.

    Uma transição difícil, cuja mudança de tom reflete no nosso contato com um conto de fadas pessimista, azul tal a famosa fase de Pablo Picasso, onde girassóis dão lugar a espinhos e ao invés de humor, doses de drama e romance exageradas, mesmo para quem cresceu vendo Daniel Radcliffe se enterrar cada vez mais na pele de um bruxo finalmente humano! Reparem que não se deve mais citar “bruxinho”, já que o Harry do começo encontra o canto do cisne de sua ingenuidade neste quinto filme, logo no começo bastante revoltado, hormônios à flor da pele, lutando contra forças das trevas para salvar o que restou de sua família e pagando o preço disso. Nota-se como Hogwarts nunca tinha sido tão pouco explorada antes, afinal: Há vida fora da escola.

    Além de traçar novos contornos na tradução ao Cinema do mundo de J. K. Rowling, contrastando por exemplo o mundo real, do mundo da magia, para criar um significado mais amplo à odisseia, Yates também nos propõe o seguinte: Ele desobedece a nossa noção de Harry que tínhamos até O Cálice de Fogo (herói básico de personalidade unilateral) para subverter sua figura à um moleque cheio de falhas, e que se intimidado não ficará encolhido diante dos perigos à tona. Del Toro teceu essa “desconstrução” do herói em contexto político e sensacional, no belo O Labirinto do Fauno, filme de narrativa fantasiosa, cheia de paralelos com esse A Ordem da Fênix, e o mais importante: Livre das exigências de fãs fanáticos que Yates, tadinho, não pôde (ou não quis) se libertar.

    Como se grilhões é o que faltasse nesse cineasta: Suas cenas de ação simplesmente não funcionam, dando muito mais peso ao drama que a vibração das emoções do momento. Para Yates, ação é câmera tremida e muito barulho, mais nada. Um cineasta pintor, onde a imagem funciona bem enquanto não se grita AÇÃO! Talvez por isso, o clímax do bem contra o mal é dramaticamente vibrante para fazer os fãs pularem, mas ao mesmo tempo frustrante no viés do espetáculo. Em 2007, ao assistir a aventura no cinema com vários colegas da escola (sim, cabulamos aula afinal era Harry Potter, matemática vem depois), o grande conflito descrito no livro vem com tanta fidelidade às páginas que nem a batalha final, nem qualquer outro momento do filme, longo demais, usa do potencial completo que suas bem arquitetadas cenas poderiam oferecer.

    E aqui chegamos ao motivo da crítica: Quando a gente começa a desenhar hipóteses e especular o lado would das coisas, bem, é porque a gente sente que a luta no Ministério da Magia (um cenário gigantesco), ou mesmo a presença de Voldemort que só cresce a partir deste episódio (sem esquecer o beijo assexuado e virginal de Harry e Cho-Chang) poderiam ser mais, muito mais e melhor, tornando um episódio 100% esquecível na saga, assim, em um belo filme de autoconhecimento, transição, com possíveis e desperdiçados momentos-chave na jornada de Potter e seus amigos; um longo e moralista conto de fadas, onde não temos certeza se Yates planejava um final feliz para uma história calcada em morte, já que aqui, a única força capaz de vencer seus demônios é o poder e a harmonia das amizades duradouras – algo naturalmente mágico e irresistível, aliás.

  • Crítica | Harry Potter e o Cálice de Fogo

    Crítica | Harry Potter e o Cálice de Fogo

    harry-potter-e-o-calice-de-fogo

    Harry Potter e o Cálice de Fogo tinha tudo pra ser o melhor filme das adaptações de J.K. Rowling. Não apenas por se basear num dos melhores livros da série, mas também por abordar temas mais apropriados a evolução dos personagens e com maior intensidade, como a chegada definitiva da adolescência e a afloração dos hormônios, mais especificamente, a atração pelo sexo oposto. Este também é o que marca um dos maiores acontecimentos da saga: o retorno de Lord Voldemort.

    Quem lê assim, logo pensa que achei o filme ruim, não é? Pelo contrário, o filme está bem longe disso. Mike Newell (Quatro Casamentos e Um Funeral), que substitui Alfonso Cuarón no comando de um longa da série, faz um trabalho excelente, cria um filme divertido, repleto de cenas eletrizantes, e um visual belíssimo. Mas falta sutileza no próprio estilo de Newell, entre uns e outros exageros, que veremos mais adiante.

    O Cálice de Fogo foi uma das adaptações mais difíceis da série. Não apenas o número de personagens é maior, como também a existência de detalhes que seriam essenciais não apenas para o entendimento da trama, mas para a compreensão de muitos fatos que iriam se seguir nos próximos filmes. A preocupação com a produção era tanta que o roteirista Steve Kloves chegou a cogitar que o livro fosse dividido em duas películas, ação que não aconteceu graças ao dedo de Mike Newell, que exigiu que os cortes fossem feitos, a fim de que tudo coubesse em um só filme. Não surpreendentemente, as reclamações dos fãs caíram em cima de Newell.

    Mas se existe algo em que a compreensão seja essencial, é de que os cortes sempre existirão, sendo eles pequenos ou não. O que importa é se tais modificações irão ajudar a melhorar a qualidade do que iremos ver, e Newell fez isso muito bem. Jogando seus holofotes em apenas dois temas (a chegada da adolescência e o retorno de Voldemort), o diretor não apenas manteve o que já havia sido iniciado em Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, como soube manter uma única linha narrativa, mantendo o filme distante de outras discussões inúteis.

    Harry Potter e o Cálice de Fogo é um filme que marca a chegada da maturidade, e sendo assim, Newell aproveita para tornar a produção bem mais evoluída em outros aspectos, e o maior exemplo é no nível de violência. Nossos protagonistas não são mais crianças, e sabendo disso, o diretor aproveita isso para investir em cenas de ação mais sangrentas e um clima muito mais sombrio: é aqui que os personagens tem seu primeiro contato com a morte. Tanto que quando lançado, o filme recebeu, nos EUA, a classificação PG-13, ou seja, menores de 13 anos só poderiam assistir ao filme acompanhados dos pais ou de um responsável.

    Mas o filme não é apenas feito de violência. Com os hormônios em ebulição, temos boas pitadas de romance, paqueras, choros e ciúmes. É o típico momento em que o adolescente começa a se descobrir, é o momento em que os garotos, por exemplo, precisam descobrir o melhor jeito de convidar uma garota para o baile. E aqui se encontra um dos maiores acertos, mas também um dos maiores erros de Newell. Aproveitando todo esse clima tenso entre os adolescentes, o diretor opta por levar quase tudo para o lado cômico, gerando momentos cujo único objetivo é fazer rir. O diretor até consegue, existem momentos verdadeiramente hilários, mas Newell poderia ter sido menos duro com os sentimentos dos personagens. A impressão é que ele deixou toda a sua sutileza e discrição para trás, talvez no objetivo de deixar o filme mais leve. Não precisava de tanto.

    O roteirista Steve Kloves também comete alguns outros deslizes, como o envolvimento da platéia com o mistério do filme: se Potter tem apenas 14 anos, como o nome dele surgiu do cálice de fogo? Alguém pôs o nome dele lá? Se foi, quem teria sido? Potter nunca pensa no porquê de tantas coisas misteriosas acontecerem, e o resultado é que tais indagações são quase que completamente esquecidas durante a projeção, deixando o laço entre os temas irregular.

    E quem também sofre com esses problemas são os personagens coadjuvantes, a maioria deles mal trabalhados pelo roteiro de Kloves. Alan Rickman, Maggie Smith e Robbie Coltrane possuem apenas uma ou duas curtas cenas. Mas nada é mais decepcionante do que ver Sirius Black, personagem de importante adição em Prisioneiro de Azkaban, ser relegado a apenas uma única cena, onde nem em sua forma física ele aparece. A única ressalva é que Michael Gambom, intérprete de Dumbledore, ganha mais espaço e importância do que nas aventuras anteriores, numa composição de personagem claramente mais adequada que a de Richard Harris.

    Para compensar estes deslizes, o filme nos brinda com um visual de encher os olhos. O desenhista de produção Stuart Craig cria cenários grandiosos e fiéis a descrição do livro, como é o caso do impressionante estádio de Quadribol e o Salão Principal no dia do Baile de Inverno. O diretor de fotografia Roger Pratt ressalta o clima sombrio dos cenários com uma fotografia escura e suja, mas sem que agrida os olhos do espectador. Patrick Doyle, que substitui o compositor John Williams, que trabalhou nos três filmes anteriores, faz um trabalho competente e de momentos interessantes, mas nunca chegando aos pés do veterano Williams. Os efeitos especiais encantam, assim como o visual dos seres mágicos do filme, como o surpreendente dragão e os estonteantes Sereianos.

    Mas é nas cenas de ação que o filme encontra seu ponto alto. É impressionante o domínio que Newell possui sobre sua câmera, levando-a de um lado para o outro, e conferindo maior dinamismo às cenas. Todo o clímax é de um domínio impressionante de clima e ambientação.

    Divertido, sombrio, engraçado (em excesso) e eletrizante, O Cálice de Fogo acaba ficando um passo abaixo do filme de Cuarón, devido aos excessos na direção de Newell e no roteiro de Kloves. Mas é fato que é um filme que capta a essência da trama, desenvolve-a muito bem e leva a série a um grau de qualidade mais elevado.

    Texto de autoria de Rafael W. Oliveira.

  • Crítica | Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban

    Crítica | Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban

    harry-potter-e-o-prisioneiro-de-azkaban

    Terceiro episódio da franquia, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban representa uma evolução no conjunto de linguagens apresentadas na saga e na dramaticidade da trama que, agora, ganha contornos mais sombrios que preparam o espectador para passagens mais densas da história do menino bruxo. Nessa sequência, Sirius Black, um famoso bruxo, escapa da prisão de segurança máxima de Azkaban imbuído do desejo por terminar aquilo que Lorde Voldemort começou: assassinar Harry Potter.

    Após dirigir os dois primeiros filmes da octologia, o americano Chris Columbus cedeu a cadeira de diretor para o mexicano Alfonso Cuáron (Gravidade). É significativamente perceptível as diferenças de perspectiva da mesma obra por parte dos dois diretores. Cuáron aposta em uma proposta mais soturnas, com soluções que flertam com um universo mais adulto. Existe uma clara evolução nos enquadramentos, no jogo de câmera, na lente aberta, na fotografia e montagem do longa-metragem. Aliás, talvez sejam montagem e roteiro os principais diferencias aqui. A saga abandona um roteiro simples e linear e ganha uma time line mais flexível, que exige um pouco mais da percepção dos espectadores.

    Outra mudança interessante está no figurino que deixa para trás os tradicionais uniformes da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts e investe em trajes “trouxas”, o que facilita a avatarização do público na trama. A ambientação outdoor também ajuda a transmitir a ideia de que finalmente reconhecemos o terreno que pavimenta a saga e agora temos os detalhes em função da trama central e não oposto, como visto nos dois primeiros episódios.

    Pela primeira vez é possível vislumbrar os contornos de uma excelente atuação entregue por Emma Watson que, mais tarde, viria a se tornar uma estrela internacional. Aliás, a única do trio protagonista que conseguiu transcender sua personagem, Hermione Granger. Rupert Grint e Daniel Radcliffe também entregam boas atuações, mas são absolutamente ofuscados por um elenco que conta com nomes como Maggie Smith, Gary Oldman e a supracitada Emma Watson.

    Ainda falando sobre o elenco, temos Michael Gambon substituindo o falecido Richard Harris – falecido meses antes – no papel de Albus Dumbledore. Embora Harris tenha desempenhado uma excelente atuação, Michael dinamiza o famoso diretor de Hogwarts. Claramente mais jovem, o ator empresta esse frescor ao personagem que aqui parece mais acessível e mais complexo que outrora.

    Embora tenha basicamente a mesma duração que os seus antecessores, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban oferece ao espectador uma experiência bem mais agradável em função de toda mudança de rota promovida pelo diretor. Um dos episódios mais adorados pelo público – embora não seja muito fiel ao seu livro de origem – Azkaban é um interessante e bem executado ponto de ignição para a batalha entre o menino que sobreviveu e ‘aquele que não deve ser nomeado’.

    Texto de autoria Marlon Eduardo Faria.

  • Crítica | Harry Potter e a Câmara Secreta

    Crítica | Harry Potter e a Câmara Secreta

    Eis o mais interessante dos Potter, e por muitos motivos ligados ou não ao filme; primeiro sua própria pegada, mais sombria do que nunca, sendo que parece uma obrigação toda sequência ser sombria, séria, dark desde O Império Contra-Ataca, coisa que às vezes dá certo (O Cavaleiro das Trevas), e outras vez não. Tipo aqui. A Câmara Secreta é um filme de suspense adolescente feito para criança, consumado para ser mais adulto até que alguém aparentemente gritou: “Ei, mas esse é um filme para crianças, esqueceram?”. A sensação é sempre essa, enquanto o sangue corre pelas paredes e vítimas de bruxaria das trevas aparecem aos montes nos corredores de Hogwarts, entre crianças curiosas e fantasmas da escola. Chris Columbus volta a dirigir a aventura, muito mais cético e pessimista ao potencial do mundo de J.K. Rowling que antes, afinal a mensagem é clara: Harry Potter está crescendo, e com isso a ambição de quem financia suas travessuras e vê Cinema pela ótica do dinheiro, jamais da magia. Além da história e a pressão dos produtores, existe outra explicação para a Câmara Secreta ser o mais fraco da saga?

    Numa cena, Harry, Rony, Hermione e cia. precisam desenterrar Mandrágoras, plantas vivas de alguns vasos numa aula interativa de herbologia, bem no meio do filme. Bingo! Essa é a chave para entender o filme todo, já que toda obra (artística ou civil) tem AQUELA parte que resume o todo, fazendo seus modeladores perderem suas horas de sono, mas é inevitável sentir o toque macabro e satírico da situação quando assistimos batatas assassinas guinchando fora do vaso. A gente ri, com nojo mas ri, sendo essa a única cena d’A Câmara Secreta cujo equilíbrio de sensações que o filme tenta passar é consumado, antes ou depois jamais atingido ao longo da projeção (mesmo na cena dos diabretes da cornualha onde o humor é bobo e fácil). Se no livro há uma especulação mais refinada sobre o que esconde essa misteriosa câmara, o filme parece estar mais do que ansioso à nos mostrar logo o que existe, lá, inseguro se mergulha de cabeça na investigação do lado negro da magia, ou se mantém o lado doce de antes. Em resumo: Uma antítese agridoce ao filme anterior.

    E nem o quadribol salva os momentos mais divertidos de um filme com muitos interesses em jogo, o que só azeda o gosto do bolo: Manter ou ampliar o descomunal sucesso de A Pedra Filosofal, capturar com mais fidelidade esse universo de magia e prestar atenção no que os fãs querem assistir, sendo qualquer um dos filmes de Potter, mesmo o ótimo Prisioneiro de Askaban, produtos de fantasia feito quase que exclusivamente para o agrado dos fãs de Rowling. Se com De Volta Para o Futuro ou a primeira trilogia de Star Wars seus realizadores se preocuparam em elevar o nível do cinema de ficção-científica, Potter em oito filmes nunca se interessou em fazer parte do hall dos grandes filmes de fantasia, nunca pensou em maneiras criativas de explorar as narrativas do surreal, algo que os filmes de Nárnia até tentaram, mas falharam de forma não tão grande quanto este desnutrido e deslocado segundo filme do menino-bruxo. Pois o que salva tudo é seu carisma, afinal, e claro, a presença de Dobby, um dos melhores personagens deste universo.

  • Crítica | Harry Potter e a Pedra Filosofal

    Crítica | Harry Potter e a Pedra Filosofal

    harry_potter_and_the_sorcerers_stone_poster

    Magia.
    substantivo feminino
      1. arte ou ciência oculta com que se pretende produzir efeitos e fenômenos contrários às leis naturais; bruxaria, mágica.
      2. magnetismo, encanto.
      3. conjunto de crenças e saberes relativos aos possível uso ou domínio de forças impessoais que agem na natureza ou nos indivíduos.

    (Fonte: Mini-Dicionário Aurélio da L. Portuguesa.)

    No rápido livro Conversas com J.K. Rowling, a escritora afirma que recusou todos os convites para seu mundo bruxo ser traduzido na tela de Cinema, até mesmo a proposta da Warner, com medo do material não ser fiel aos livros que escreveu arduamente, muito antes de ser mais rica que a rainha da Inglaterra, ou a mais famosa escritora do mundo dos trouxas, por sinal. E é justamente esse cuidado e o apreço da Warner Bros. em assegurar, nas telas, a paixão em detalhes que até 2001 só constava no livro que fazem de Harry Potter e a Pedra Filosofal não um filme, mas uma adaptação feita mais para o público, que para a arte imparcial de se fazer filmes. Pois, mais de 15 anos após os fãs mais antigos assistirem Hogwarts, ao invés de apenas lerem Hogwarts, o primeiro filme carrega o principal sintoma a aparecer até o derradeiro da saga: A dificuldade de equilibrar, por mais de uma década, a fidelidade com o livro junto à fidelidade e peculiaridades do Cinema; duas mídias que nas mãos certas vivem felizes para sempre: Fato difícil e não atingido por um simples passe de mágica.

    Chris Columbus sempre foi O Cara com crianças no cinema gringo, vide Esqueceram de Mim, Goonies e Gremlins (cujo roteiro do primeiro e da sensacional sequência dos monstrinhos são dele), sendo então o artista óbvio pra comandar a entrada da garotada ao universo infantilizado de Wicca e outras charlatanices embelezadas pela mitologia juvenil de Rowling. Columbus esculpe simbologias e transmite todo um amor de fã pra qualquer fã babar, frutos de uma leitura rica mas, tal o filme, mágica apenas para quem não precisa de muito para sentir o efeito 3D da jornada de Harry, órfão que sai das trevas de um armário, pega um trem e vai para a luz, por mais que essa jornada possa parecer com a jornada de muitos paulistanos… Harry é o escolhido, o sortudo, primeiro humilhado, no fim celebrado por seus passos de fé típicos de qualquer aluno da badalada Grifinória (uma das quatro casas estudantis de Hogwarts), e quem não quer ser da Grifinória, jogar quadribol ou aprender poções?

    Assim, A Pedra Filosofal, a mais leve e despretensiosa obra da saga consumou, logo no início do século, o vício eterno pelo irresistível que nasce na literatura e acaba num cinema moderno regido pelos 3B’s do sucesso: Brilho, barulho e bajulação. De qualquer forma, o primeiro filme estabelece de forma graciosa um universo coerente, palco para o todo que Rowling promove realmente acontecer, com um elenco insubstituível e que marcou uma geração, mas jamais se apropriando da magia do Cinema para ser mágico – de acordo com suas definições “discionarescas”, lá de cima. Pois na tradição do extraordinário que escondem as imagens dos filmes do inglês Michael Powell, ou dos clássicos de Federico Fellini, entre poucos outros autores realmente admiráveis, tal Chaplin, o francês Cocteau e o indiano Raj Kapoor, A Pedra Filosofal é um divertido truque de Mister M diante das belas ilusões de Houdini que viriam a seguir, em Askaban. O mais impressionante, mesmo, é como o músico John Williams conseguiu resumir tudo com uma trilha sonora, essa sim, encantadora.

  • Resenha | O Chamado do Cuco – Robert Galbraith

    Resenha | O Chamado do Cuco – Robert Galbraith

    O-Chamado-do-Cuco-Robert-Galbraith

    Quando uma modelo problemática cai para a morte de uma varanda coberta de neve, presume-se que ela tenha cometido suicídio. No entanto, seu irmão tem suas dúvidas e decide chamar o detetive particular Cormoran Strike para investigar o caso.

    Desnecessário comentar sobre o burburinho causado pelo “vazamento” da notícia de que a autora de Harry Potter escrevera este livro sob o pseudônimo de Robert Galbraith. Talvez eu até chegasse a ler se esse detalhe não tivesse sido divulgado. Mas certamente que, ao saber disso, minha curiosidade a respeito aumentou exponencialmente. E, com ela, a expectativa, lógico, apesar de eu me esforçar bastante para deixá-la de lado.

    Curto demais livros de detetive, e Agatha Christie e Conan Doyle estão entre meus autores prediletos, não apenas nesse gênero, mas na literatura em geral. E um dos motivos que me faz preferir os livros desses autores é a figura do detetive. Sherlock Holmes e Hercule Poirot são figuras que prendem a atenção do leitor tanto por sua excentricidade quanto por sua inteligência. E J.K. Rowling conseguiu conceber um detetive, Cormoran Strike, cujas características levam o leitor a querer acompanhá-lo literalmente a qualquer lugar, seja nas investigações, seja em suas crises pessoais.

    Os defeitos do protagonista são mais decisivos e atraentes que suas qualidades, sendo os elementos que o tornam um personagem interessante. No caso de Strike, a perna amputada – seus problemas com ela e a relutância em comentar a respeito -, seu casamento em crise, sua ascendência, suas dívidas, entre tantos outros problemas, agravam seu mau humor, seu pendor para o álcool e pelos exageros alimentícios, sua arrogância e seu desapego – que beira o desprezo – por um convívio social saudável. Diferente de Poirot e Holmes, Strike não é extravagante nem possui QI muito acima da média, mas consegue ser interessante o bastante para angariar a simpatia do leitor. E acompanhar a história significa não só se aproximar da descoberta do mistério, mas também conhecer mais do protagonista e de suas motivações.

    Todo herói que se preze tem um sidekick à altura e Strike tem o seu, ou melhor, a sua. E assim como o detetive é um herói relutante, Robin Ellacott, a secretária temporária, torna-se a ajudante quase por acaso, o que determina uma alquimia entre os personagens que funciona muito bem. Guardando-se as devidas proporções – lógico, não se pode perder de vista que é uma narrativa ficcional – os personagens, não apenas Cormoran e Robin, são bastante verossímeis e convincentes.

    A narrativa flui bem, apesar de algumas “barrigas”, trechos que poderiam ser suprimidos sem prejuízo à trama. E a pergunta que todos que me viram lendo o livro fizeram: “Parece Harry Potter?”. Não, não parece. Há, sim, o mesmo cuidado com o texto e com os personagens, mas apenas isso. Certamente, deve haver alguns detalhes estilísticos sutis que identifiquem a autora. Mas, principalmente no texto traduzido, não há nada perceptível, a não ser alguns easter-eggs – que eu nem sei se foram intencionais ou apenas “intrusões” do tradutor.

    Narrado em terceira pessoa, obviamente acompanha na maior parte do tempo os passos de Strike e, eventualmente, os de Robin. Rowling se preocupou em deixar o leitor ter acesso às mesmas informações que o detetive, contudo as conclusões de Strike pertencem apenas a ele. Mas mesmo assim, quando o mistério é revelado, não é um deus ex machina, em que algum elemento nunca antes visto na trama torna-se a chave da solução. Há algumas explicações um pouco “forçadas”, mas nada que faça o leitor duvidar demais do que está lendo. Uma das motivações do vilão não convenceu; havia outras possibilidades menos simplistas.

    Enfim, é uma trama bem estruturada, sem fios soltos. Não é excepcional, mas cumpre bem a função de entreter. E deixa o leitor com vontade de acompanhar outros “causos” da dupla Strike & Ellacott.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Resenha | O Bicho-da-Seda – Robert Galbraith

    Resenha | O Bicho-da-Seda – Robert Galbraith

    Bicho da Seda - Robert Gaibraith - capa

    Quando o romancista Owen Quine desaparece, sua esposa procura o detetive particular Cormoran Strike. Inicialmente, ela pensa apenas que o marido se afastou por alguns dias — como fez antes — e quer que Strike o encontre e o leve para casa. Mas, à medida que investiga, fica claro para Strike que há mais no sumiço de Quine do que percebe a esposa.

    A curiosidade sobre o desenrolar de um novo caso de Cormoran Strike foi o que me levou à leitura. Assim como o primeiro livro, entretém sem ser uma obra excepcional. Seu principal trunfo é ter um protagonista e um parceiro – Strike e sua secretária Robin – interessantes o bastante para despertar a vontade de continuar acompanhando suas aventuras e desventuras.

    Mas O Bicho-da-Seda consegue superar seu antecessor. Livre da necessidade de reapresentar seus personagens, Galbraith/Rowling dedicou-se mais ao desenvolvimento da narrativa, o que resultou em um texto mais enxuto, sem tantos excessos e mais eficiente no quesito investigativo. A profusão de personagens envolvidos no mistério gera certa confusão no início, mas o bom desenvolvimento de cada um deles logo extingue qualquer dúvida.

    Não que o mote do primeiro livro não seja atrativo e envolvente mas, para quem é apaixonado por livros e tem interesse pelo mundo editorial, a premissa deste chama muito mais atenção. A futilidade do universo dos personagens em O Chamado do Cuco talvez afaste alguns leitores. Em contrapartida, mesmo sendo caricatural em alguns casos, até mesmo exagerada, a caracterização dos personagens consegue trazer o leitor para dentro da história.

    Diferente de um whodunit clássico, em que o leitor apenas acompanha as investigações conduzidas pelos personagens principais, Galbraith permite que aquele conheça os pensamentos de Robin e, principalmente, Strike. Se, por um lado, deixa os personagens ainda mais próximos de quem lê a obra, por outro gera um problema narrativo. Explico-me: um dos pilares do whodunit é fornecer ao leitor as mesmas informações a que o policial/investigador/detetive tem acesso. Assim, arma-se uma espécie de competição na qual quem lê a narrativa tenta matar a charada antes que a solução seja revelada pelo narrador no clímax do livro. Contudo, informar o que os personagens estão pensando antecipa (para os leitores policiais mais experientes) a resolução do mistério, anulando o clímax. Galbraith resolveu isso reduzindo o acesso aos pensamentos no último quarto do livro. Causa uma ligeira indignação deixar de saber o que até então era informação acessível. Não chega a estragar a narrativa mas gera um certo estranhamento.

    “Francamente, qualquer um que vá se matar por causa de uma resenha ruim não deve se meter a escrever um romance, para início de conversa.”
    Elizabeth Tassel, in O Bicho-da-Seda – Robert Galbraith (p.234)

    Se há mais alguma ressalva a ser feita é justamente a Strike. Galbraith escreve fazendo parecer que apenas ele tem bons palpites que acabam por se confirmar. Tem-se a impressão de que todos a seu redor — exceto Robin, lógico — são menos capazes ou, pelo menos, comprometidos em menor grau de intensidade com a solução do mistério, seguindo sempre o caminho – ou a pista – mais fácil, não necessariamente mais coerente com a situação.

    Mas esses pequenos defeitos são rapidamente esquecidos quando se pensa na trama envolvente e no retrato conciso e sarcástico do universo editorial inglês.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Resenha | Morte Súbita – J.K. Rowling

    Resenha | Morte Súbita – J.K. Rowling

    morte-subita-jkrowling-capaQuinze anos atrás, a escritora J. K. Rowling lançava Harry Potter e a Pedra Filosofal, o primeiro de sete livros que se tornariam mundialmente famosos. Desde então, teve uma bem sucedida parceria com o sucesso que aumentou seu patrimônio e fez de sua personagem um ícone da cultura pop.

    Após a publicação de dez livros dentro do universo do bruxo, Rowling escreve seu primeiro romance adulto. O lançamento carrega a sensação de uma estréia devido a alta expectativa de saber se a escritora possui o mesmo vigor em outras narrativas, além de seu grande sucesso.

    Lançado nos Estados Unidos em Setembro do ano passado e em Dezembro no país, Morte Súbita (504 páginas, Nova Fronteira, Tradução de Maria Helena Rouanet) foi recebido sem unanimidade crítica que equilibrou-se entre o ótimo para o bom nas análises. A trama nos apresenta o pequeno distrito de Pagford, uma dessas pequenas regiões em que todos se conhecem e transformam qualquer pequeno acontecimento em um grande espetáculo, seja fofoca ou não. Após a morte de Barry Fairbrother, um dos conselheiros locais, os ânimos do distrito se elevam para a escolha de um substituto, principalmente quando o morto era um dos poucos a favor de manter um bairro pobre anexado ao local.

    Ao situar-se em um microcosmos, Rowling explora o pequeno espaço delimitado de uma comunidade demonstrando que nada é tão harmônico como parece. Embora a história tenha sido divulgada como uma espécie de mistério, não há nenhum segredo central a ser revelado. Mas sim um rompimento da impressão inicial, verificando que cada membro da comunidade, por maior ou menor que seja, guarda um segredo.

    Em um primeiro momento, a narrativa acompanha a semana que sucedeu a morte do conselheiro, acompanhando, com um pouco de excesso, o dia-a-dia de cada personagem, produzindo uma espécie de narrativa de costumes. Sempre permeada por personagens ou situações que beiram a dualidade.

    Acostumada a escrever sem economia a história resulta-se maior do que deveria. Rowling tem talento ímpar para desenvolver personagens diferenciadas com características distintas, mas se estende ao apresentá-las, demorando para entrelaçar todas as histórias até os pequenos clímax. Sua ideia é destruir a imagem plástica de uma cidade erigida em segredos. Mas tais descobertas não são tão poderosas como se imagina. A boa saída da autora para produzir uma reviravolta tem boa carga de tensão e se mantém mesmo repetida mais de uma vez, deixando a narrativa mais frágil.

    Dentro da pressão em realizar um bom livro que resulte em boas vendas, a autora conseguiu exprimir uma voz narrativa diferente da anterior, demonstrando seu talento. Mas, por conta da extensão perdeu o impacto que seria mais preciso em uma trama mais enxuta.

    Compre aqui.