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  • Crítica | O Homem Bicentenário

    Crítica | O Homem Bicentenário

    Em 1999 chegava aos cinemas a obra de Chris Columbus, sobre um serviçal robótico que viria a se chamar Andrew. Seu interprete, Robin Williams, gozava de uma popularidade enorme, e O Homem Bicentenário tinha tudo para ser uma obra repleta de ternura e carinho, além é claro de uma abordagem super positiva, com astral alto, mas  não resulta nisso para além de sua premissa.

    As primeiras cenas dão conta de uma linha de montagem dos robótica North Am modelos familiares. Não demoram a aparecer a família Martin, um grupo que seria servido pelo mordomo eletrônico. Ele se apresenta usando pronomes ligados a objetos, em português, chama Um ou Isto. A jornada dele segue entre momentos sem sentido, envolvendo ou atos mimados ou bullying das filhas desse grupo familiar, ou aprendendo o ofício de marcenaria.

    O roteiro de Nicholas Hazan tenta variar entre o lúdico, com o androide usufruindo de música, ou aprendendo hobbys, e se afeiçoando ela filha mais nova. Com o passar do tempo, os humanos vão envelhecendo, e o elenco vai utilizando maquiagem mais forte, e mesmo para a época, a maioria soa bastante falsa. Os Martin ao discutir seu futuro mostram ser pessoas bem diversas, com a mãe sendo totalmente intolerante com a condição robótica de Martin, uma das filhas sendo o estereotipo de rebeldia dos anos 70 – fato que obviamente faz sentido algum, pois a historia começa no ano 2067 – o modo com a historia se desenrola é cheia de clichês e maniqueísmo, quase personagem humano parece tridimensional, todos são ou bonzinhos demais ou malévolos, não há tons de cinza, é como se tudo fosse visto pelo Um de maneira binária e tola.

    Os tabus que o personagem principal vai quebrando são feitos de maneira muito abrupta, não há preparação do terreno, ou algo que o valha. O desejo de liberdade, a emancipação, o modo como ele passa a ganhar dinheiro, as piadas que faz com crianças, tudo é desenvolvido de um modo muito mecânico, fugindo é claro de possíveis trocadilhos, e isso piora demais com a música incidental, que faz a obra parecer uma fita antiga que mira a auto ajuda.

    Demora aproximadamente 70 minutos para Robin Williams aparecer sem maquiagem “mecânica”, e partir desse experimento, que visava torna-lo visualmente semelhante aos humanos comuns, ele passaria a ser mais irônico e sentimental, como se ganhasse poderes novos graças a pele sintética, fato que também não faz sentido. Toda a graça envolvendo Portia e sua avó Amanda (interpretadas ambas por Embeth Davidtz) é mostrada de uma forma tão galhofa que a parte mais seria não é sentida direito.

    O filme trata de temas complexos demais, e os aborda de maneira rasa, Columbus não parece ser o diretor correto para temáticas como engenharia genética e robótica e o desejo de libertação mental e física dos autômatos. As partes mais graves são suavizadas, as discussões existenciais são trocadas por amenidades banais, como se a existência humana fosse só suor, odores expelidos, ereções e flatulências, essas coisas são parte da experiência de ser homem e mulher, mas não são nem longe da realidade vivida pelos criadores dos robôs, e mesmo as Leis da Robótica são lembradas no inicio e mais uma ou duas vezes durante as mais de duas horas de exibição, mas também não há peso ou otimismo que salve O Homem Bicentenário.

    https://www.youtube.com/watch?v=DdGP60xtJu4

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  • Crítica | Gremlins

    Crítica | Gremlins

    Historia contada e narrada pelo inventor Rand Peltzer (Hoyt Axton),  Gremlins começa fantasioso, apelando para o misticismo asiático presente no dono de uma loja de artigos estranhos. Peltzer, de chapéu e terno, como os detetives dos filmes noir, adentra a estranha loja para tentar vender um de seus produtos picaretas, mas mesmo sofrendo de egoísmo e egocentrismo, ele nota que a loja tem elementos diferenciados, e ele se depara com uma criaturinha dentro de uma caixa, chamada Mogwai. Ele tenta compra-la do velho, mas o mesmo recusa e o neto do lojista vende por duzentos dólares e dá instruções básicas de : não deixar ele ter contato com água, manter ele longe da luz forte e não alimentar ele após a meia noite-não importa o quanto ele suplique.

    Logo o foco narrativo muda para a outra parte do núcleo familiar, Billy Peltzer (Zach Galligan) é mostrado trabalhando, e lidando com Kate (Phoebe Cates), a menina por quem ele nutre uma admiração meio secreta. A atmosfera que Joe Dante cria nesse início é bem parecida com a dos filmes de Steven Spielberg, não à toa o realizador de Jurassic Park e ET-  O Extraterrestre é um dos produtores. A realidade dos dois personagens centrais apresentados é tão distante que eles parecem nem fazer parte do mesmo micro cosmo, mas o presente do novo pet, aparentemente os uniria, como um bom milagre de natal.

    O bichinho em questão é bem fofo, e causa ciúmes no outro animal de estimação, o cachorro Barney. Batizado de Gizmo, o personagem feito por um boneco se mostra bem sensível a luzes fortes, e ele fala de vez em quando, reclama quando há luz forte. Quando o pequeno Pete (Corey Feldman) chega na casa, Billy acidentalmente molha Gizmo, e ele se reproduz, nascendo outros cinco Mogways, e é nesse momento que o nome do filme Gremlins se justifica, apesar de ainda não ter ocorrido uma transformação completa na praga  que eles seriam.

    Nesse ponto, os Mogwais lembram os pingos – ou trubbles no original– de Jornada nas Estrelas, as criaturas fofinhas e peludas que se reproduzem de maneira desenfreada, mas que tem aparência do futuro brinquedo Furby, lançado 14 anos depois (em 1998). A proximidade do natal parece que atiça ainda mais a mentalidade travessa das criaturinhas, que passam sabotar Billy, para que ele quebre as regras estabelecidas para os bichinhos, desativando por exemplo os fios do relógio para confundir quanto aos horários.

    Mesmo pela metade da historia ainda permanece uma aura de fantasia suburbana que também existia nos filmes de Robert Zemeckis como De Volta Para o Futuro e em Os Goonies de Richard Donner, embora perto dos quarenta minutos já haja uma exposição de gore maior, com os casulos ao estilo Alien O Oitavo Passageiro que os Mogwais começam a fazer, após serem alimentados depois das 00 horas. O aspecto deles é feio e nojento, parecem bolhas de carne prestes a estourar e a surpresa que sai desse casulo causa espanto. Luzes verdes e vapor criam uma sensação de calafrio na platéia mais impressionável, estabelecendo um receio maior sobre como seriam as tais criaturas.

    Por mais fofa que tenha sido a introdução, a recepção a essa fase dos mogwai – os gremlins – é nem um pouco amistosa da parte de Lynn (Frances Lee McCain), mãe de Billy. Ao ver sua cozinha repleta de doces natalinos invadida por três monstrinhos ela os mata, triturando um, esfaqueando outro e estourando o terceiro no micro-ondas. A mesma mulher que parecia inofensiva se torna selvagem ao ver seu território invadido, e como boa matriarca reage, e sua ação não é exagerada, pois o quarto monstro quase a mata, sendo ela salva por seu filho.

    O gremlin listrado retorna a casa onde nasceu, basicamente para lamentar a morte dos irmãos, e para demonstrar que ainda está vivo e pronto para a ação. É incrível como o roteiro de Chris Columbus consegue misturar de maneira harmoniosa um terror e apreensão típica dos filmes de atomic horror mas com proporções pequenas (afinal os monstros são menores que galinhas, mas ainda muito destrutivos) com a mágica natalina típica dos filmes de fim de ano.

    Os bonecos animados também são muito bem feitos e a mistura com efeitos em stop motion soa extremamente fluída. Sobretudo as cenas no escuro funcionam, pois as cordas podem melhor manipuladas. Dante consegue orquestrar e expandir o mito estabelecido no episodio de Twilight Zone, Nightmare at 20,000 Feet que Richard Donner dirigiu, não só pela movimentação deles, que soa natural, mas pelo humor negro implícito. Depois que o listrado se multiplica, suas cópias imitam personagens famosos, como mafiosos, coros de natal, e até de travestem. De alguma forma, eles copiaram as perversões humanas, usando seu longo tempo livre para dar vazão a vícios como bebidas e cigarros basicamente porque podem, criticando assim o consumismo desenfreado que é típico do natal, ainda que de maneira um pouco velada. Os gremlins são os seres mais instituais possíveis.

    A cena do cinema conversa demais com o clássico Demons de Lamberto Bava, e a solução que Gizmo encontra para assassinar seu irmão é tão icônica que foi copiada por Tarantino e Rodriguez em Um Drink  no Inferno, embora seja dúbia, e muito mais impactante visualmente, violento, sem medo de mostrar o esqueleto da criatura antes fofinha. Gizmo e Billy são separados em clima natalino, para que não aconteçam mais pragas ali e para que o perigo seja contido. Toda a breguice e cafonice do cinema de horror atômico e catástrofe é muito bem exemplificado e parodiado em Gremlins, e Joe Dante consegue reunir elementos de muitos filme em pouco menos de duas horas, lembrando de épocas festivas, adulando a infância e nostalgia e pondo elementos amedrontadores ao estilo A Pequena Loja de Horrores.

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  • Crítica | Esqueceram de Mim 2: Perdido em Nova York

    Crítica | Esqueceram de Mim 2: Perdido em Nova York

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    Esqueceram de Mim 2 – Perdido em Nova York começa com os mesmos elementos que fizeram dar certo seu antecessor, Esqueceram de Mim, com roteiro e produção de John Hughes, direção de Chris Columbus e claro o retorno do astro mirim Macaulay Culkin como Kevin McAllister. Sua família se prepara para mais uma viagem de natal, dessa vez  os parentes estão ligeiramente mais atentos as crianças. Depois da cantata na igreja, e após uma briga com seu irmão, o menino novamente deseja passar a noite de natal sozinho, já que mais uma vez ele é tratado como o errado da situação, e para variar ele fica mais uma vez tendo seu desejo realizado.

    Há piadas resgatadas do primeiro filme, assim como também se demonstra que os vilões anteriores, Harry Lime (Joe Pesci) e Daniel Stern  (Marv Merchants) estão à solta novamente. O diferencial está apenas no fato que Kevin viaja em lugar de ficar preso em casa, pegando um voo para Nova York, após confundir um sujeito com seu pai enquanto o restante da família vai para Flórida.

    Mesmo sem fazer planos anteriormente, o garoto começa a fazer uso do cartão de crédito de seu pai, Peter (John Heard), aproveitando o gravador que teve de presente, pondo para rodar os áudios que tinha em suas pequenas fitas. No hotel onde se hospeda, o personagem de Tim Curry Hector, passa a desconfiar do jovem, pondo inclusive seu serviçal Cedric (Rob Schneider) para vigiá-lo. O menino mostra uma educação incrível, ao perguntar aos idosos que estão nas piscinas do hotel em que por hora reside, se pode dar um de seus mergulhos, preocupando-se em não ser um inconveniente para esses adultos.

    As gags cômica nesse episódio perderam muita força, principalmente por não ter mais o fator inédito ao seu lado, mas alguns pontos que antes eram defeitos são discutidos, como quando os McAllister interrogam os funcionários do hotel sobre como eles conseguiram ser ludibriados tão facilmente por uma criança, fato que ocorria sempre no filme original e nesse também.

    A continuação não acrescenta muito a ideia que o público tinha sobre Kevin e os McAllister, mas ainda assim é uma boa diversão natalina, contendo a mesma ingenuidade do episódio passado presente em Chicago, com praticamente o mesmo final relativo a família, trazendo até um tratado de paz do protagonista com seu irmão mais velho Buzz (Devin Ratray), e claro, a quebra de preconceito por parte do herói da jornada, que aprende enfim a não julgar as pessoas pela aparência, resultando em um filme bem mais inspirado que as terríveis continuações protagonizadas por Alex D. Linz e Mike Weinberg.

  • Crítica | Harry Potter e a Câmara Secreta

    Crítica | Harry Potter e a Câmara Secreta

    Eis o mais interessante dos Potter, e por muitos motivos ligados ou não ao filme; primeiro sua própria pegada, mais sombria do que nunca, sendo que parece uma obrigação toda sequência ser sombria, séria, dark desde O Império Contra-Ataca, coisa que às vezes dá certo (O Cavaleiro das Trevas), e outras vez não. Tipo aqui. A Câmara Secreta é um filme de suspense adolescente feito para criança, consumado para ser mais adulto até que alguém aparentemente gritou: “Ei, mas esse é um filme para crianças, esqueceram?”. A sensação é sempre essa, enquanto o sangue corre pelas paredes e vítimas de bruxaria das trevas aparecem aos montes nos corredores de Hogwarts, entre crianças curiosas e fantasmas da escola. Chris Columbus volta a dirigir a aventura, muito mais cético e pessimista ao potencial do mundo de J.K. Rowling que antes, afinal a mensagem é clara: Harry Potter está crescendo, e com isso a ambição de quem financia suas travessuras e vê Cinema pela ótica do dinheiro, jamais da magia. Além da história e a pressão dos produtores, existe outra explicação para a Câmara Secreta ser o mais fraco da saga?

    Numa cena, Harry, Rony, Hermione e cia. precisam desenterrar Mandrágoras, plantas vivas de alguns vasos numa aula interativa de herbologia, bem no meio do filme. Bingo! Essa é a chave para entender o filme todo, já que toda obra (artística ou civil) tem AQUELA parte que resume o todo, fazendo seus modeladores perderem suas horas de sono, mas é inevitável sentir o toque macabro e satírico da situação quando assistimos batatas assassinas guinchando fora do vaso. A gente ri, com nojo mas ri, sendo essa a única cena d’A Câmara Secreta cujo equilíbrio de sensações que o filme tenta passar é consumado, antes ou depois jamais atingido ao longo da projeção (mesmo na cena dos diabretes da cornualha onde o humor é bobo e fácil). Se no livro há uma especulação mais refinada sobre o que esconde essa misteriosa câmara, o filme parece estar mais do que ansioso à nos mostrar logo o que existe, lá, inseguro se mergulha de cabeça na investigação do lado negro da magia, ou se mantém o lado doce de antes. Em resumo: Uma antítese agridoce ao filme anterior.

    E nem o quadribol salva os momentos mais divertidos de um filme com muitos interesses em jogo, o que só azeda o gosto do bolo: Manter ou ampliar o descomunal sucesso de A Pedra Filosofal, capturar com mais fidelidade esse universo de magia e prestar atenção no que os fãs querem assistir, sendo qualquer um dos filmes de Potter, mesmo o ótimo Prisioneiro de Askaban, produtos de fantasia feito quase que exclusivamente para o agrado dos fãs de Rowling. Se com De Volta Para o Futuro ou a primeira trilogia de Star Wars seus realizadores se preocuparam em elevar o nível do cinema de ficção-científica, Potter em oito filmes nunca se interessou em fazer parte do hall dos grandes filmes de fantasia, nunca pensou em maneiras criativas de explorar as narrativas do surreal, algo que os filmes de Nárnia até tentaram, mas falharam de forma não tão grande quanto este desnutrido e deslocado segundo filme do menino-bruxo. Pois o que salva tudo é seu carisma, afinal, e claro, a presença de Dobby, um dos melhores personagens deste universo.

  • Crítica | Harry Potter e a Pedra Filosofal

    Crítica | Harry Potter e a Pedra Filosofal

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    Magia.
    substantivo feminino
      1. arte ou ciência oculta com que se pretende produzir efeitos e fenômenos contrários às leis naturais; bruxaria, mágica.
      2. magnetismo, encanto.
      3. conjunto de crenças e saberes relativos aos possível uso ou domínio de forças impessoais que agem na natureza ou nos indivíduos.

    (Fonte: Mini-Dicionário Aurélio da L. Portuguesa.)

    No rápido livro Conversas com J.K. Rowling, a escritora afirma que recusou todos os convites para seu mundo bruxo ser traduzido na tela de Cinema, até mesmo a proposta da Warner, com medo do material não ser fiel aos livros que escreveu arduamente, muito antes de ser mais rica que a rainha da Inglaterra, ou a mais famosa escritora do mundo dos trouxas, por sinal. E é justamente esse cuidado e o apreço da Warner Bros. em assegurar, nas telas, a paixão em detalhes que até 2001 só constava no livro que fazem de Harry Potter e a Pedra Filosofal não um filme, mas uma adaptação feita mais para o público, que para a arte imparcial de se fazer filmes. Pois, mais de 15 anos após os fãs mais antigos assistirem Hogwarts, ao invés de apenas lerem Hogwarts, o primeiro filme carrega o principal sintoma a aparecer até o derradeiro da saga: A dificuldade de equilibrar, por mais de uma década, a fidelidade com o livro junto à fidelidade e peculiaridades do Cinema; duas mídias que nas mãos certas vivem felizes para sempre: Fato difícil e não atingido por um simples passe de mágica.

    Chris Columbus sempre foi O Cara com crianças no cinema gringo, vide Esqueceram de Mim, Goonies e Gremlins (cujo roteiro do primeiro e da sensacional sequência dos monstrinhos são dele), sendo então o artista óbvio pra comandar a entrada da garotada ao universo infantilizado de Wicca e outras charlatanices embelezadas pela mitologia juvenil de Rowling. Columbus esculpe simbologias e transmite todo um amor de fã pra qualquer fã babar, frutos de uma leitura rica mas, tal o filme, mágica apenas para quem não precisa de muito para sentir o efeito 3D da jornada de Harry, órfão que sai das trevas de um armário, pega um trem e vai para a luz, por mais que essa jornada possa parecer com a jornada de muitos paulistanos… Harry é o escolhido, o sortudo, primeiro humilhado, no fim celebrado por seus passos de fé típicos de qualquer aluno da badalada Grifinória (uma das quatro casas estudantis de Hogwarts), e quem não quer ser da Grifinória, jogar quadribol ou aprender poções?

    Assim, A Pedra Filosofal, a mais leve e despretensiosa obra da saga consumou, logo no início do século, o vício eterno pelo irresistível que nasce na literatura e acaba num cinema moderno regido pelos 3B’s do sucesso: Brilho, barulho e bajulação. De qualquer forma, o primeiro filme estabelece de forma graciosa um universo coerente, palco para o todo que Rowling promove realmente acontecer, com um elenco insubstituível e que marcou uma geração, mas jamais se apropriando da magia do Cinema para ser mágico – de acordo com suas definições “discionarescas”, lá de cima. Pois na tradição do extraordinário que escondem as imagens dos filmes do inglês Michael Powell, ou dos clássicos de Federico Fellini, entre poucos outros autores realmente admiráveis, tal Chaplin, o francês Cocteau e o indiano Raj Kapoor, A Pedra Filosofal é um divertido truque de Mister M diante das belas ilusões de Houdini que viriam a seguir, em Askaban. O mais impressionante, mesmo, é como o músico John Williams conseguiu resumir tudo com uma trilha sonora, essa sim, encantadora.

  • Crítica | Esqueceram de Mim

    Crítica | Esqueceram de Mim

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    Esqueceram de Mim é conhecido essencialmente como o clássico de natal capitaneado por Chris Columbus, ainda inciante na função de diretor após alguns sucessos como roteirista, e claro, lembrado pelo seu protagonista mirim Macauley Culkin. No entanto, a realidade estabelecida na casa dos McCallister foge um bocado do maniqueísmo comum à comédias infantis, em especial para o “herói” da jornada, o pequeno Kevin. A casa cheia, com quinze pessoas, pré-viagem natalina, demonstra que o garotinho não tem qualquer privacidade ou ideia do que é o conceito, tanto que seu desejo mais íntimo, é o de ficar sozinho em seu lar.

    Os preparativos para a viagem de fim de ano à Paris acirra os ânimos dos familiares suburbanos, ao ponto dos adultos estarem sem paciência, deixando os primos e irmãos de Kevin praticarem bullying  com o protagonista. Em um revide a uma dessas agressões leves, o garoto molha os passaportes de viagem, sendo posto de castigo por sua mãe, Kate (Catherine O’Hara),  que o isola no porão, em suma, a maior desculpa para ter sido deixado para trás.

    Há tramas paralelas a relação entre uma mãe preocupada e seu filho arteiro, como o ingressos dos dois assaltantes, Harry (Joe Pesci, que faz um esforço hercúleo para não pronunciar palavrões), que até se dá ao trabalho de se fantasiar de policial, e de Marv (Daniel Stern), que na intenção de assaltar a casa na ausência do clã, mas é nos agouros de uma criança, solitária e repleta de imaginação que moram os reais problemas que o roteiro de John Hughes alude. Kevin é deixado sozinho graças a correria que seus pais, tios e irmãos protagonizam, fator causado pelo claro cansaço que a rotina produz neles, gerando um desejo tão grande de fugir do cotidiano opressor da cidade de Chicago, que a falta de um dos membros da família simplesmente não é sentida ao partir.

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    A criatividade da criança faz ver apuros que não existem, seguidas de atitudes pouco condizentes com o comum a um menino de sua idade, preparando ardis para os arrombadores, através de sombras causadas por objetos que ele monta em sua sala. A inteligência que ele demonstra talvez seja a manifestação da hiperatividade que sua mente produz, sobrecarregada pela paranoia enérgica comum ao quotidiano do americano médio. Kevin é o filho do meio, tanto em seu seio familiar, como na representatividade do comum cidadão inerte, inapto e sedentário do centro-oeste americano.

    O esmero de Kevin em montar armadilhas em sua casa confunde o analista quanto a origem desta influência, variando entre o arquiteto com sede de sangue Paul Kersey de Desejo de Matar e o veterano do Vietnã John Rambo. Em comum com o rapaz, os dois heróis de ação têm a desolação por estarem isolados do estado normativo de psique e sentimentos, e claro, a característica de servir como entretenimento fugaz para o seu público alvo específico. A repetição de piadas e situações tem um alvo óbvio, que é alcançar o clichê de humor infantil que normalmente funciona, e que no longa, logra exito. A expectativa por instaurar a normalidade narrativa faz contraponto com a trajetória incomum do garoto, que mesmo solitário e abandonado, consegue ter mais sobriedade e sabedoria do que qualquer adulto, rivalizando essa personalidade brilhante intelectualmente com a clara nostalgia originada de um filme que é considerado exemplar na temática natalina.

    O desfecho adocicado combina com a temática pueril e é condizente com o comum as comédias desta época anual. O fator mais discutível nem é o retorno da família à Paris e a quantidade de gastos exorbitantes desperdiçados entre ida e volta ao menos da parcela familiar envolvendo os pais e  fraternos de Kevin, e sim a necessidade que o protagonista tem de aprovação de Buzz (Devin Ratray), seu irmão mais velho e agressivo. A camada superficial do roteiro de Hughes tem como alvo a criança que assiste o filme, e a mais contestatória é bastante inspirada, mostrando como o consumismo desenfreado e o stress diários podem afastar pessoas que têm um vínculo sentimental inexorável, fazendo inverter até as prioridades tradicionais, unindo a isto uma fita divertida  e burlesca.

    Compre: Esqueceram de Mim

  • Top 10 – Especial Dia das Crianças

    Top 10 – Especial Dia das Crianças

    Conta Comigo - destaque - top 10 - dia das crianças

    O escritor tcheco Milan Kundera afirmou, em um de seus ensaios, que o passado é equilibrado por duas forças: o esquecimento, responsável por apagar os acontecimentos; e a força da memória que os transforma. Não à toa, o passado nostálgico representa esta modificação da memória. Na infância e juventude, período de vida compartilhado por todos, o passado é visto com um olhar transformador, muitas vezes melhorado pelas memórias que o deixam mais brilhante do que o tempo vivido.

    Em homenagem ao Dia das Crianças, nossa equipe se reuniu para uma lista que retorna à nossa infância e à nostalgia, relembrando filmes que marcaram nossa infância. Sem dúvida, filmes que marcam implicitamente nossa idade e a época oitentista na qual crescemos. A lista explora vertentes diferentes dos filmes oitentistas, um registro cinematográfico diferente do atual. Considerando produções juvenis ou voltadas para a família, é perceptível uma visão simultânea entre a juventude e o mundo adulto que nem sempre se molda a favor das crianças, com bandidos, tiros, problemas, vícios e outros recursos que o cinema atual evita pela polêmica. Estranhamente transformando o universo juvenil dos filmes em um universo fictício e estéril sem nenhum conflito extremo.

    Seja pelo resgate da memória ou pelo registro de um cinema diferente do atual, nossa lista ressalta obras que estiveram em nosso imaginário precoce e, de alguma maneira, se transformaram em nós. Os leitores que quiserem colaborar com esta lista nostálgica, podem acrescentar seus filmes memorialísticos nos comentários.

    Boa leitura.

    Um Tira no Jardim Da Infância (Ivan Reitman, 1990) – Por David Matheus Nunes

    Um Tira No Jardim da Infância

    Um Tira No Jardim de Infância é mais um dos filmes bizarros do diretor eslovaco Ivan Reitman. Responsável por pérolas como Os Caça-Fantasmas (as duas produções) e Irmãos Gêmeos, Reitman, de forma competente, coloca o brutamonte e astro Arnold Schwarzenegger – que até ali já tinha sido Conan, T-800, Dutch e Douglas Quaid – para dividir a tela com as mais variadas crianças, quando seu personagem, John Kimble, no encalço de um traficante de drogas, se infiltra como professor substituto numa escola de ensino infantil. Acontece que Kimble não tem nenhuma prática com crianças, mas se vê obrigado a deixar de ser o durão que sempre foi em prol do bem estar dos pequenos. O destaque fica para as várias situações constrangedoras que Kimble precisa passar junto das crianças, o que rende boas risadas. Apenas a título de curiosidade, a maioria das pessoas conhece o filme porque o viram pela televisão. A versão original legendada chega a ser bastante diferente no que diz respeito ao tom do filme (mais sério do que aparenta), além de ter algumas cenas de violência que foram cortadas na versão para a TV.

    Tuff Turf – O Rebelde (Fritz Kiersch, 1985) – Por Halan Everson

    Tuff Turf

    Com a pior trilha sonora que um filme dos 80s pode ter, Tuff Turf – O Rebelde mostra que pra ser valente contra os arruaceiros do seu bairro você apenas precisa de uma bike veloz, Robert Downey Jr no elenco, muita garra e ser o futuro astro de uma das produções para TV mais interessantes do ano. Estrelado por James Spader, essa bela obra do cinema acompanha um garoto novo no bairro e , assim como em qualquer bom faroeste, não é só questão de chegar, mas sim marcar território e mostrar que é o cara que vai mudar a parada para os fracos e oprimidos. Sem querer estragar para os interessados, ele usa muito bem a fórmula do “estrangeiro na cidade que vai conseguindo criar muitos problemas pra si”, algo que era mais comum em westerns, transpondo para um imaginário adolescente. Em parte, podemos pensar que pelo menos os protagonistas fazem jus a assistir à obra pela qualidade de seus trabalhos. Não são atuações geniais, mas nota-se que todos estão confortáveis com roupas berrantes, e muita trilha sonora sintetizada com teclado.
    Nota do autor: falei mal da trilha e a música-tema não desgruda mais da cabeça enquanto escrevo.

    Conta Comigo (Rob Reiner, 1986) – Por Flávio Vieira

    Conta Comigo - Stand By Me
    Baseado em um conto de Stephen King quase autobiográfico, Conta Comigo não trata apenas da amizade entre essas quatro crianças, mas a importância do meio onde elas estão inseridas, cada um em seus próprios anseios, incompreensões e rejeições, sejam elas familiares ou da própria sociedade. Rob Reiner, diretor do longa, não poupa seus espectadores, Conta Comigo, diferente de outros exemplares da época, não é leve ou abusa do sentimentalismo e da psicologia pop “breakfast club”, muito pelo contrário, o filme toca em temas delicados, e ao longo da trama amadurecemos com essas personagens, tudo isso no meio de desabafo, medo e, claro, muito companheirismo. “Nunca mais tive amigos como aqueles que tive aos 12 anos. Meu deus, quem é que tem?”

    Os Goonies (Richard Donner, 1985) – Por Karina Audi

    os goonies

    Dirigido por Richard Donner, Os Goonies é uma das grandes obras da infância que até hoje se mantém na memória de grande parte do público. O filme, que completou 30 anos em 2015, narra a história de uma turma de amigos (Mikey e seu irmão Brand; Gordo; Bocão; Dado; Andy e Stef), que, muito unidos, temem a separação do grupo com a mudança da casa dos irmãos devido a uma dívida. Ao encontrar um mapa que remete a um tesouro escondido há séculos, vão em busca das riquezas perdidas para evitar o fatídico despejo. Com roteiro de Chris Columbus, inspirado em uma história de Steven Spielberg, Os Goonies tornou-se um clássico cult devido a linguagem universal, aos elementos emblemáticos que agradam a qualquer criança (piratas, navios, caça ao tesouro, a luta entre mocinho e bandido) e ao carisma de seus intérpretes. A obra fala de descobertas, amizade, família e amor de uma forma tão cativante que é impossível relembrar a infância sem se esquecer dela.

    Retroceder Nunca, Render-se Jamais (Corey Yuen, 1986) – Por Thiago Augusto Corrêa

    Retrocer Nunca, Rende-se Jamais

    Explorando de maneira familiar um dos desejos presentes do imaginário infantil, de se tornar um grande lutador, Retroceder Nunca, Render-se Jamais é um tradicional filme juvenil com uma mensagem simples como fio condutor. Fã de Bruce Lee, o jovem Jason Stillwell treina arte marciais e deseja uma revanche contra um grupo que agrediu seu pai. Com a ajuda do espírito de Lee, o jovem treina e anseia por uma vingança contra Ivan Krushensky, o temido Russo. Antes de ser alcunhado como Mestre, Jean-Claude Van Damme estreou nos cinemas como este vilão caricato sem muita expressão mas com forte habilidade de luta. O tradicional maniqueísmo oitentista com vilões temíveis e heróis sempre carismáticos provocam um dualismo divertido nesta produção. Além do uso do conceito fantástico para fazer de Bruce Lee um mentor espiritual, pontuando esta história no imaginário de todo jovem que admirava o lutador e sonhava em se tornar um ninja no estilo filme americano. E, claro, imperdível por ser a estreia do grande Mestre nas telas com seu famoso espacate.

    Os Mestres do Universo (Gary Goddard, 1987) – Por David Matheus Nunes

    Mestres do Universo

    Aproveitando o sucesso do desenho do He-Man na metade dos anos 80, o único filme do diretor Gary Goddard foi um prato cheio para as crianças da época, que puderam ver uma das primeiras adaptações para o cinema de uma animação de sucesso. E coube a Dolph Lundgren o fardo de viver o príncipe de Eternia. Fardo porque, analisando e comparando-o com a animação, podemos perceber que apenas alguns personagens foram aproveitados e só. Pouco da mitologia do He-Man foi usado. O protagonista está lá apenas como He-Man. Em nenhum momento vemos o príncipe Adam, muito menos o Pacato/Gato Guerreiro. O simpático Gorpo foi substituído por um irritante goblin e o que sobrou, é justamente o destaque. Lundgren está bem caracterizado como He-Man e o momento em que profere a clássica frase “eu tenho a força”, empunhando sua espada, ainda é emocionante. O sábio Mentor e a Teela estão lá, mas quem rouba a cena é o time de vilões, composto pelos horríveis Homem-Fera, Saurod (uma versão do Lagartauro), Blade, Karg, a bela Maligna e, claro, o Esqueleto, cuja caracterização é sensacional; além de imponente, o cajado é representado pela cabeça de um bode. A versão dublada do filme é recomendada, uma vez que todos os dubladores do desenho estão lá.

    Gotcha! Uma Arma do Barulho (Jeff Kanew, 1985) – Por Halan Everson

    gotcha

    Com um elenco de desconhecidos, pelo que me recorre à mente, Gotcha! Uma Arma do Barulho acompanha a vida de um jovem azarado com as mulheres vivido por Jonathan, interpretado por Anthony Edwards (A Vingança dos Nerds) que resolve visitar Paris com seu melhor amigo para recuperar os ânimos – por que não? O que pode dar errado?. O que acontece é uma trama de espionagem internacional, com níveis de perigo à la James Bond. Fugas, perseguições, cenas de tiroteio e romance, tudo isso acontecendo com um adolescente que só queria se dar bem com as mulheres, passando a impressão que é para ser engraçado. Algumas cenas e uso de trilha sonora passam esse clima divertido e descontraído, mas não é muito difícil parar de levar a sério, principalmente no dubladão. Assim como em Tuff Turf nesse filme também temos uma péssima trilha sonora sintetizada com teclados e uma música tema que consegue ser menos grudenta que a de Tuff Turf. Um detalhe muito curioso é que Jonathan em uma determinada parte do filme sempre fala o “Gotcha” na versão dublada, e sempre pensei que era uma gafe da dublagem, mas não é… É ruim assim mesmo.

    Deu a Louca nos Monstros (Fred Dekker, 1987) – Por Flávio Vieira

    Deu a Louca Nos Monstros

    Fred Dekker, mais conhecido até então pelo seu trabalho de direção à frente do competente A Noite dos Arrepios, se reuniu com o então estreante Shane Black (Beijos e Tiros, Homem de Ferro 3) para escrever Deu A Louca nos Monstros, de 1987. O filme é um belo exemplar dos anos 80, com toda a temática aventuresca juvenil típica dos filmes dessa década. Além disso o longa-metragem é uma grande homenagem aos filmes de monstros clássicos da Universal. Repleto de efeitos práticos e um roteiro no mínimo curioso que usava uma desculpa qualquer para realizar um crossover de diversos monstros clássicos (Drácula, Frankenstein, Monstro do Pântano, Lobisomem e uma Múmia), Deu a Louca nos Monstros ainda passa longe do politicamente correto dos dias de hoje, já que é bastante comum acompanharmos crianças fumando, discutindo sobre virgindade, praticando magia negra ou mesmo utilizando armas. Uma bela homenagem ao universo de horror clássico e que ainda arruma tempo para aplicar pequenas camadas ao que em tese seria apenas um filme infantil despretensioso.

    Esqueceram de Mim (Chris Columbus, 1990) – Por Karina Audi

    Esqueceram de Mim - Home Alone

    Segundo filme de Chris Columbus, hoje praticamente ignorado pela crítica, Esqueceram de Mim foi um grande sucesso no início da década de 1990 que alavancou o sucesso de Macaulay Culkin, o qual interpreta Kevin, o garoto esquecido em casa pela família quando em viagem para a Europa no Natal. O filme foi escolhido para integrar esta lista não pelas qualidades técnicas, que fogem, por exemplo, da criatividade do diretor Columbus vista em outras produções anteriores como roteirista (Gremlins, O Enigma da Pirâmide e Os Goonies); mas sim porque é uma produção popular que simpatizou os espectadores e traduziu uma época do cinema familiar oitentista. O filme trabalha bem com o imaginário infantil de uma criança que se vê sozinha e precisa agir com maturidade sem os pais, algo que Kevin só descobre no final, quando acredita que o seu desejo, de nunca mais ver seus parentes, era apenas uma vontade infantil. Ao longo de sua jornada, Kevin luta com bandidos, supera o preconceito contra seu vizinho Marley e percebe-se um menino bom, seguindo a proposta de finais felizes dos filmes familiares natalinos. Sob uma trilha sonora do sempre genial John Williams, Esqueceram de Mim marcou época de muitos jovens, que hoje já não se veem sozinhos em casa tomando sorvete escondidos e preparando armadilhas para possíveis malfeitores.

    E.T. – O Extraterrestre (Steven Spielberg, 1982) – Por Thiago Augusto Corrêa

    Et - Extraterrestre

    Após a primeira aventura de Indiana Jones, Steven Spielberg dirigiu esta produção direcionada para o âmago familiar. Dando voz às crianças como personagens principais com direito a filmá-las em ângulos proporcionais, mais baixos do que os tradicionais, destacando-as nas cenas, E. T. – O Extraterrestre explora outra vertente juvenil focada na amizade e no mistério de seres de outros planetas. A fantasia é equilibrada tanto no encantamento da relação entre Elliott e o extraterrestre como no choque de realidade adulta quando o visitante é aprisionado pelo governo e tratado como experiência. Transitando nestes temas, a obra é sensível e evoca sentimento primordiais como a construção da amizade e da lealdade, a compreensão das diferenças e, ao mesmo tempo, demonstra a selvageria do mundo adulto em paralelo com a pureza infantil, um tema sempre presente nas obras do diretor.

  • Crítica | Pixels

    Crítica | Pixels

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    A nostalgia é uma grande ferramenta para o entretenimento, pois faz com que o espectador já entre na sala do cinema com um sentimento prévio em relação aos personagens que ainda nem viu, e quando usada da forma correta consegue satisfazer mesmo apresentando um material simples. Em Pixels, uma sonda é enviada ao espaço com informações sobre a Terra, como um vídeo da Madonna e informações sobre o Campeonato Mundial de Fliperama de 1982, porém uma raça alienígena interpreta o ato como um desafio e envia videogames para provocar os terráqueos em um Campeonato Intergalático.

    Apoiando-se no amor universal de todos aqueles que passaram pelos anos 1980 e vivenciaram o advento dos jogos eletrônicos, possuindo o Atari como babá eletrônica e o fliperama e casas Arcades como parque de diversões, a obra conta a história de três meninos que tiveram o ponto alto de suas vidas no campeonato mundial de fliperama. Já quando adultos e frustrados com seus destinos, encontram-se no centro deste ataque.

    Assim como os chamados Arcades, a estrutura de Pixels, novo filme da universal que já vinha tentando sair do papel há muito tempo, baseia-se na repetição de padrões. Não por acaso a dupla Kevin James (Segurança de Shopping) e Adam Sandler (Trocando os Pés) integram o cast de modo a repetir o sucesso conquistado em outros projetos.

    Para dar sustância à premissa, um elenco de peso é usado para garantir qualidade das piadas e a empatia e simpatia do público que Sandler há um bom tempo parece não assegurar mais em seus filmes. As principais aquisições são o prodígio Josh Gad (Jobs, Frozen) e o sempre competente Peter Dinklage (Game of Thrones, X-Men: Dias de um Futuro Esquecido). Ambos os atores roubam a cena em cada uma de suas aparições, o que favorece o filme como um todo, já que na ausência de uma roteiro mais interessante a película precisa sustentar-se sobre o talento individual.

    Se a simplicidade é algo que pode contar a favor de Pixels, ele também se mostra refém das fórmulas criadas nas comédias tipicamente masculinas, como o romance improvável entre o fracassado e a linda garota, algo sempre montado de forma apressada, inverossímil e nunca em favor da trama. Aqui não é diferente, em todos os momentos românticos entre o personagem de Sandler e Michelle Monaghan. É difícil de saber o quão consciente são os clichês apresentados, já que o diretor Chris Columbus tem em seu currículo desde clássicos como Uma Babá Quase Perfeita até filmes totalmente esquecíveis ou ruins como Percy Jackson e o Ladrão de Raios. Essa irregularidade dificulta na hora de decidir se, por exemplo, a piada com relação ao personagem Smurf é apenas uma bobagem sem intuito narrativo algum, ou se é uma alfinetada ao tradicional papel de “Smurfete” que as meninas ganham nesse tipo de comédia (Assim como nos Smurfs, a personagem feminina se mostra um adorno da relação masculina, aquela que “realmente importa”).

    Se o filme se mostra arrastado a todo momento, que se descola da simplicidade proposta, quando os esperados personagens dos videogames se mostram e a comédia se torna a prioridade tudo parece dar certo e Pixels se mostra uma diversão despretensiosa onde a relação entre gráficos e ação tem destaque. E tão melhor seria Pixels quão maior fosse sua busca em trazer diversão através da dinâmica entre personagens, que apesar de se perder em alguma fórmulas que não funcionam, garante uma diversão saudável com momentos pontuais, principalmente vindos de Josh Gad e Dinkale e Q*bert, excelentes.

    Texto de autoria de Marcos Paulo Oliveira.

  • Crítica | Os Goonies

    Crítica | Os Goonies

    Os Goonies

    Pois é, bateu uma nostalgia nesses últimos dias e decidi assistir novamente o clássico da Sessão da Tarde, Os Goonies. Me pergunto, qual jovem nascido no final entre os anos 70/80 não se divertiu com este filme?

    O filme tinha a receita exata para a geração daquela época, afinal, era bastante comum inventar brincadeiras na rua e sair desbravando rua-a-rua, arrumar confusões com o pessoal do bairro vizinho, inventar brincadeiras novas ou mesmo as velhas, tudo isso até a hora do sol se pôr, sinal dado para a molecada voltar para casa antes que tomassem uns “petelecos” dos pais. Mas o melhor de tudo eram as tão esperadas férias, onde tínhamos quase 2 meses de diversão, sem se preocupar com lições de casa e provas. Enfim, um retrato de uma geração há muito esquecida, onde as travessuras de rua foram trocadas por horas em frente ao computador ou videogame (bons tempos de fliperama), tudo isso talvez seja motivado pela violência crescente e pelos pais super protetores de hoje, ou talvez, a violência continue a mesma, os pais também e eu esteja bancando o nostálgico aqui… Talvez, seja isso mesmo.

    No meio disso tudo, tínhamos os famosos filmes “juvenis” dos anos 80, entre eles estão clássicos como Conta Comigo, Clube dos Cinco, Curtindo a Vida Adoidado, entre tantos outros. Dentre essa invasão, Os Goonies reunia tudo aquilo que as crianças daquela época viviam: aventuras, confusões, trapalhada (parece até uma chamada da sessão da tarde, não é mesmo?), talvez por isso, o filme seja tão querido por tantos, por tudo que representou em sua infância, um retrato de suas aventuras, em menor potencial, é claro. Mas ele tem o ar infantil que toda criança tem, a vontade de sair por aí, conhecer novos lugares, fazer novos amigos, saber seus limites, Goonies transpira tudo isso.

    Richard Donner consegue transpor todos esses sentimentos em tela, o filme “cheira” a aventura juvenil, seja no roteiro, nas interpretações ou mesmo na trilha. A produção é assinada por ninguém menos que Steven Spielberg e o roteiro é do próprio, com a adaptação feita por Chris Columbus. Com um time desses, é difícil acreditar que não poderia dar certo.

    Falar da história de Goonies não é novidade pra ninguém, porém, se existe alguém que ainda não viu (corrija essa falha de caráter agora!), vamos lá. A cidade onde um grupo de garotos moram, será demolida para a criação de um campo de golfe, com isso, esse grupo de amigos terão de se mudar para lugares distantes uns dos outros, colocando ao fim nas aventuras vivenciadas por eles. No último dia deles em sua cidade, Mikey (Sean Astin ainda criança), encontra um mapa que supostamente levaria a um tesouro pirata.

    Como uma última aventura do grupo, eles decidem sair em busca desse tesouro e quem sabe quitar a dívida que os possibilitava de continuar com suas casas e impedir a construção do campo de golfe e a separação deles. Contudo, um dos pontos de partida fica dentro de uma casa na colina (por sinal, que fotografia excelente durante este trecho do filme), que está habitada pelos Fratelli, bandidos foragidos que estão usando o local como esconderijo. Uma trama relativamente simples, porém, divertidíssima.

    A produção de Spielberg não poupou verba durante o filme. Quem não se lembra do navio pirata construído em tamanho real para as filmagens? Quanto ao elenco, os personagens são carismáticos e muitos se tornaram ícones da cultura pop. Cenas como a do Gordo se confessando para os Fratelli, Sloth e seus chocolates, Bocão falando espanhol com a empregada da mãe de Mikey e as invenções que nunca davam certo do Data são inesquecíveis.

    Direção impecável e elenco cativante em uma história aventuresca e repleta de magia torna Goonies um filme que sempre será lembrado com carinho por quem já o assistiu, e acima de tudo, Goonies é um retrato de uma geração que quem viveu, sente saudades.