Tag: Corey Feldman

  • Crítica | Gremlins

    Crítica | Gremlins

    Historia contada e narrada pelo inventor Rand Peltzer (Hoyt Axton),  Gremlins começa fantasioso, apelando para o misticismo asiático presente no dono de uma loja de artigos estranhos. Peltzer, de chapéu e terno, como os detetives dos filmes noir, adentra a estranha loja para tentar vender um de seus produtos picaretas, mas mesmo sofrendo de egoísmo e egocentrismo, ele nota que a loja tem elementos diferenciados, e ele se depara com uma criaturinha dentro de uma caixa, chamada Mogwai. Ele tenta compra-la do velho, mas o mesmo recusa e o neto do lojista vende por duzentos dólares e dá instruções básicas de : não deixar ele ter contato com água, manter ele longe da luz forte e não alimentar ele após a meia noite-não importa o quanto ele suplique.

    Logo o foco narrativo muda para a outra parte do núcleo familiar, Billy Peltzer (Zach Galligan) é mostrado trabalhando, e lidando com Kate (Phoebe Cates), a menina por quem ele nutre uma admiração meio secreta. A atmosfera que Joe Dante cria nesse início é bem parecida com a dos filmes de Steven Spielberg, não à toa o realizador de Jurassic Park e ET-  O Extraterrestre é um dos produtores. A realidade dos dois personagens centrais apresentados é tão distante que eles parecem nem fazer parte do mesmo micro cosmo, mas o presente do novo pet, aparentemente os uniria, como um bom milagre de natal.

    O bichinho em questão é bem fofo, e causa ciúmes no outro animal de estimação, o cachorro Barney. Batizado de Gizmo, o personagem feito por um boneco se mostra bem sensível a luzes fortes, e ele fala de vez em quando, reclama quando há luz forte. Quando o pequeno Pete (Corey Feldman) chega na casa, Billy acidentalmente molha Gizmo, e ele se reproduz, nascendo outros cinco Mogways, e é nesse momento que o nome do filme Gremlins se justifica, apesar de ainda não ter ocorrido uma transformação completa na praga  que eles seriam.

    Nesse ponto, os Mogwais lembram os pingos – ou trubbles no original– de Jornada nas Estrelas, as criaturas fofinhas e peludas que se reproduzem de maneira desenfreada, mas que tem aparência do futuro brinquedo Furby, lançado 14 anos depois (em 1998). A proximidade do natal parece que atiça ainda mais a mentalidade travessa das criaturinhas, que passam sabotar Billy, para que ele quebre as regras estabelecidas para os bichinhos, desativando por exemplo os fios do relógio para confundir quanto aos horários.

    Mesmo pela metade da historia ainda permanece uma aura de fantasia suburbana que também existia nos filmes de Robert Zemeckis como De Volta Para o Futuro e em Os Goonies de Richard Donner, embora perto dos quarenta minutos já haja uma exposição de gore maior, com os casulos ao estilo Alien O Oitavo Passageiro que os Mogwais começam a fazer, após serem alimentados depois das 00 horas. O aspecto deles é feio e nojento, parecem bolhas de carne prestes a estourar e a surpresa que sai desse casulo causa espanto. Luzes verdes e vapor criam uma sensação de calafrio na platéia mais impressionável, estabelecendo um receio maior sobre como seriam as tais criaturas.

    Por mais fofa que tenha sido a introdução, a recepção a essa fase dos mogwai – os gremlins – é nem um pouco amistosa da parte de Lynn (Frances Lee McCain), mãe de Billy. Ao ver sua cozinha repleta de doces natalinos invadida por três monstrinhos ela os mata, triturando um, esfaqueando outro e estourando o terceiro no micro-ondas. A mesma mulher que parecia inofensiva se torna selvagem ao ver seu território invadido, e como boa matriarca reage, e sua ação não é exagerada, pois o quarto monstro quase a mata, sendo ela salva por seu filho.

    O gremlin listrado retorna a casa onde nasceu, basicamente para lamentar a morte dos irmãos, e para demonstrar que ainda está vivo e pronto para a ação. É incrível como o roteiro de Chris Columbus consegue misturar de maneira harmoniosa um terror e apreensão típica dos filmes de atomic horror mas com proporções pequenas (afinal os monstros são menores que galinhas, mas ainda muito destrutivos) com a mágica natalina típica dos filmes de fim de ano.

    Os bonecos animados também são muito bem feitos e a mistura com efeitos em stop motion soa extremamente fluída. Sobretudo as cenas no escuro funcionam, pois as cordas podem melhor manipuladas. Dante consegue orquestrar e expandir o mito estabelecido no episodio de Twilight Zone, Nightmare at 20,000 Feet que Richard Donner dirigiu, não só pela movimentação deles, que soa natural, mas pelo humor negro implícito. Depois que o listrado se multiplica, suas cópias imitam personagens famosos, como mafiosos, coros de natal, e até de travestem. De alguma forma, eles copiaram as perversões humanas, usando seu longo tempo livre para dar vazão a vícios como bebidas e cigarros basicamente porque podem, criticando assim o consumismo desenfreado que é típico do natal, ainda que de maneira um pouco velada. Os gremlins são os seres mais instituais possíveis.

    A cena do cinema conversa demais com o clássico Demons de Lamberto Bava, e a solução que Gizmo encontra para assassinar seu irmão é tão icônica que foi copiada por Tarantino e Rodriguez em Um Drink  no Inferno, embora seja dúbia, e muito mais impactante visualmente, violento, sem medo de mostrar o esqueleto da criatura antes fofinha. Gizmo e Billy são separados em clima natalino, para que não aconteçam mais pragas ali e para que o perigo seja contido. Toda a breguice e cafonice do cinema de horror atômico e catástrofe é muito bem exemplificado e parodiado em Gremlins, e Joe Dante consegue reunir elementos de muitos filme em pouco menos de duas horas, lembrando de épocas festivas, adulando a infância e nostalgia e pondo elementos amedrontadores ao estilo A Pequena Loja de Horrores.

    Facebook – Página e Grupo | TwitterInstagram.

  • Crítica | Os Garotos Perdidos

    Crítica | Os Garotos Perdidos

    Lost-Boys-poster

    Se tem algo que sinto falta são os filmes dos anos 80, que apesar de serem taxados de bobos e “vagos” pelos críticos, se tornaram cultuados por toda a molecada da época, e nos dias atuais ainda são lembrados com carinho por quem os viu. Além do que, a cada dia conquista mais adeptos entre os jovens de hoje, indo contra as previsões dos críticos que diziam que ninguém lembraria desses filmes futuramente. Não poderia deixar de lado um dos meus filmes preferidos dessa época: Os Garotos Perdidos.

    A indústria do cinema dos anos 80 apostou em filmes “teen”, claro que estes filmes eram bem diferentes dos que são lançados nos dias atuais. Graças ao saudoso politicamente incorreto, não era raro assistirmos filmes com sequências de sexo, violência e muito humor escrachado, mas acima de tudo, esses filmes enalteciam a amizade, o que não tenho visto hoje em dia, ou talvez seja apenas nostalgia da minha parte. Os Garotos Perdidos não foi uma exceção, tinha de tudo um pouco do que já citei, mas vamos a história em questão.

    Os irmãos Michael (Jason Patric) e Sam (Corey Haim), se mudam com a mãe Lucy (Dianne Wiest) que tinha acabado de se divorciar e buscava novos ares, para casa de seu avô em Santa Carla, uma cidade litorânea, aparentemente pacífica. Ao chegar na cidade, eles percebem que tem algo de errado ali, o lugar é repleto de panfletos de desaparecidos, além de ser conhecida como a “a capital mundial do crime”, como denuncia a pichação na placa de boas-vindas.

    Os dois irmãos logo dão um jeito de se enturmar no novo “lar”, Michael se envolve com uma gangue de motoqueiros aventureiros que são liderados por David (ninguém menos que Kieffer Sutherland, ou Jack Bauer se preferirem). Seu irmão mais novo, Sam, conhece os irmãos Edgar  e Alan Frog (Corey Feldman e Jamison Newlander), em uma loja de quadrinhos, eles se apresentam como caçadores de vampiros e alerta Sam sobre a cidade estar infestada por vampiros.

    Michael se envolve com Star, uma garota que faz parte da gangue liderada por David e com o tempo descobre que os assassinatos e desaparecimentos da cidade são de responsabilidade dessa mesma gangue, e mais do que isso, são todos vampiros. Sam passa a estranhar as novas atitudes do irmão, que passa a trocar a noite pelo dia, e a mudança de temperamento. O resto fica por conta de vocês.

    A direção de Joel Schumacher é competente, e apesar do péssimo Batman Eternamente e sua sequência, a filmografia dele não se resume a isso. Schumacher cria planos abusando das cores vivas, típicas de cidades litorâneas, e da escuridão típica de filmes clássicos de vampiros, criando um meio termo muito bacana.

    É importante lembrar que até o lançamento de Garotos Perdidos, os vampiros estavam em baixa, após o filme, foram consolidados como ícones da cultura pop, só isso já seria motivo suficiente para conferi-lo, mas o filme tem muito mais a oferecer. Com um elenco entrosadíssimo, ainda conta com Corey Feldman e Corey Haim esbanjando carisma e talento. É claro que o roteiro colabora muito na construção dos personagens com uma boa história e diálogos interessantes, consegue ainda retratar a alienação juvenil por meio de metáforas, além de demonstrar o cenário da época retratando a onda punk, tão comum nos anos 80. A trilha sonora é uma das melhores que já ouvi, e inseridas em momentos perfeitos, dando uma imersão incrível a cada cena. Impossível esquecê-las.

    Apesar do tempo, o filme continua sendo uma ótima pedida para aquela sessãozinha de filmes de terror com os amigos. Diferente dos péssimos filmes de terror que tem surgido por ai, Garotos Perdidos vem bem a calhar. Sem falar nos romances vampirescos que invadiram os cinemas nos últimos tempos… Esqueça divagações sobre o quão cruel e triste é ser um vampiro e viver eternamente, aqui temos é vontade de se juntar a eles. Se até agora não consegui convencer ninguém à conferir este clássico dos anos 80, é melhor parar por aqui.

    Enquanto a geração oitentista tinha Garotos Perdidos, os jovens de hoje têm Edward, Bela e cia. E depois ainda me pedem para não ser saudosista…