Tag: Vampiros

  • Conheça Morbius, o Vampiro Vivo

    Conheça Morbius, o Vampiro Vivo

    Morbius é um personagem trágico das histórias do Homem-Aranha, baseado em um conceito de vilão animalesco, como era bem comum entre os rivais do Cabeça de Teia. Criado pelo roteirista Roy Thomas e pelo desenhista Gil Kane, ele é o primeiro antagonista do herói que não foi criado por Stan Lee, visto que na época o escritor trabalhava no roteiro de um filme que jamais saiu.

    A estreia do personagem foi no ano de 1971 em  Amazing Spider-Man 101. Na época, Peter Parker estava com dois pares de braços adicionais, fruto de uma poção que ele tomou para perder seus poderes, que obviamente deu errado. Ao tentar se esconder no laboratório do Doutor Curtis Connors, o Aranha acaba sendo atacado por Michael Morbius, um cientista grego que se submeteu a um tratamento envolvendo choque elétrico e morcegos-vampiros.

    A origem do personagem foi mais aprofundada na edição seguinte, desenvolvendo suas motivações e origens, retratando a existência de uma doença degenerativa que possuía e da experiência que se submeteu, tornando-se um sujeito que precisava se alimentar de sangue para sobreviver, assim como os vampiros clássicos, mas com origem uma científica e não mitológica.

    Morbius tem super-força, capacidade de voar, hipnose, super velocidade, ecolocalização e até um fator de cura acelerado. O personagem já era conhecido por sua genialidade antes mesmo de tornar um vampiro, ganhando um Nobel em fisiologia, contudo, com a experiência sofrida passou a ter capacidades mentais ainda mais avançadas. Também adquiriu alergia a luz solar, mas não necessariamente fatal.

    O personagem só foi criado por conta da queda do código de censura que vigorava sobre os quadrinhos americanos, revisto no início de 1971. Alguns anos depois, em 73, a Marvel lançou a HQ Vampire Tales, com Drácula, Blade, e claro, Morbius, através da subsidiária Curtis Magazines. Nessas histórias haviam elementos típicos de produções de vampiros, como cultos satânicos, sacrifícios de moças virginais, etc.

    Morbius teve embates com o Doutor Estranho, na história Vampiric Verses, da revista Doctor Strange, Sorcerer Supreme 14. O Vampiro e o Mago se juntam a Irmão Vodu e combatem o ressurgimento de vampiros milenares. Nesta história ele é mostrado como um sujeito cheio de conflitos, fato que deve estar nesse novo filme de Daniel Espinosa protagonizado por Jared Leto.

    Outro momento notável das histórias é Sub-City, lançada em 1991, quando o Aranha descobre que o anti-herói tem um domínio nos esgotos de Nova York. Essa fase foi desenhada pelo criador de Spawn, Todd McFarlane, e é bastante lembrada pela sua arte.

    Morbius fez parte do grupo Filhos da Meia-Noite, iniciativa idealizada pelo Doutor Estranho, presente na revista Rise of the Midnight Sons, de 1992, grupo  formado por personagens mais  obscuros, como Blade, Hannibal King, Morbius obviamente, os Motoqueiros Fantasma Danny Ketch e Johnny Blaze, os Redentores do Darkhold, entre outros. Essa era mais uma equipe da Marvel que tentou se firmar pegando carona no sucesso dos X-Men, mas, como boa parte dos outros grupos “caça-niqueis”, não teve vida longa.

    Em 2019 foi lançada uma série, chamada Morbius: The Living Vampire, onde novos poderes do personagem são apresentados, como a capacidade de hipnose, lançada recentemente pela Panini  no Brasil.

    O personagem também participou de outras mídias, com a mais notável sendo a versão de Homem-Aranha: A Série Animada, de 1994. Esse desenho tinha umas peculiaridades, pois não podia aparecer sangue, socos ou armas de fogo, então ele sugava plasma, com esferas sugadores da essência vital nas palmas das mãos.

    Nessa versão ele tinha uma relação com Felícia Hardy, a Gata Negra que era um dos interesses românticos de Peter no desenho. O vampiro também teve uma aparição no game Spider-Man 3, que adaptava para a geração 128 bits o filme Homem-Aranha 3.

    Além disso, Morbius também apareceu brevemente na série animada Ultimate Homem-Aranha, em uma versão equivalente a sua contraparte do universo Ultimate. Aqui, ele tem ligação com a Hydra e aparece boa parte do desenho como um monstro de aparência de morcego.

    Curiosidades:

    • O personagem Blade só tem a capacidade de andar a luz do dia graças a Morbius. Nos quadrinhos, em uma luta entre os dois, o Vampiro Vivo morde Blade e a mistura entre a toxina de Michael, com as enzimas do caçador de vampiros causaram nesse último uma mutação, passando então a conseguir andar de dia, tal qual o personagem de Thomas e Kane;
    • Gil Kane se inspirou no Conde Drácula de Jack Palance, que fez sua aparição em Drácula, O Demônio das Trevas (1974), para compor o visual da versão humana de Michael Morbius. O rosto dos dois personagens é bastante similar;
    • Loxias Crown, que será interpretado por Matt Smith, no filme é um personagem periférico das histórias de Morbius. Ele passou a ser um vampiro vivo tal qual o personagem que dá nome ao longa.

  • Resenha | Vampirella: Grandes Clássicos

    Resenha | Vampirella: Grandes Clássicos

    Vampirella – criação de Forrest J Ackerman com as contribuições dos artistas Trina Robbins, Frank Frazetta e Tom Sutton – é uma personagem bastante sensual que, de certa forma, repagina as condições de vampira não como uma morta-viva, mas uma alienígena de um planeta em que todos se alimentam com sangue. Suas origens remetem aos icônicos filmes de monstros da Universal da primeira metade do século XX e, claro, com seus remakes do estúdio britânico. Inicialmente, a personagem era um dos carros-chefes da editora Warren Publishing ao lado das publicações de antologias de terror Creepy e Eerie.

    Em  Vampirella: Grandes Clássicos, publicado pela Editora Mythos, há um resgate dos grandes clássicos da personagem desenhados pelo espanhol José Pepe González – principal artista da vampira alienígena – e textos de T. Casey Brennan, Budd Lewis e Archie Goodwin. O encadernado traz muito da origem de Vampirella e do seu planeta Drakulon, uma sociedade tecnologicamente avançado e evoluído. A raça dos Vampyr viviam em paz e harmonia até a tragédia cair sobre eles.

    O tom do primeiro roteiro é trágico, melancólico e até um pouco filosófico, guardadas as devidas proporções referentes a um gibi escapista e de aventura. Vampirella é menos pacífica que os outros de sua raça, ela decide tirar a vida de criaturas acreditando que essa seria a verdadeira forma de viver e de se alimentar, o que gera discussões morais interessantes. As outras histórias são repletas de clichês de horror, com criaturas que imitam as monstruosidades clássicas de contos de terror e filmes trash.

    O tom das histórias tem mais elementos de aventura que de terror. Há uma sensação de familiaridade quando se acompanham essas breves histórias, mesmo para quem não está acostumado a ler quadrinhos. O físico da alienígena faz lembrar Elizabeth Taylor e Sophia Loren, beldades do cinema clássico e contemporâneo à personagem, que aqui são unidas a clichês de pin ups. O visual dos cenários lembra Indiana Jones e o Templo da Perdição, além de se perceber que claramente Steve Dillon em Preacher  foi influenciado pelo traço característico de González. Pepe aliás, consegue dar camadas e tons bem diferentes para a heroína, mesmo com tantos roteiristas de estilos diferentes. Além disso, a versão do Drácula vista aqui faz lembrar muito a versão de Drácula 2000, filme produzido por Wes Craven – as coincidências se dão principalmente nas histórias de Brennan.

    Vampirella: Grandes Clássicos consegue ser uma bela introdução à mitologia da personagem, e exemplifica bem o espírito e caráter de seus momentos tradicionais, além de ser um bom documento histórico.

  • Resenha | Entrevista com o Vampiro – Anne Rice

    Resenha | Entrevista com o Vampiro – Anne Rice

    “Não se pode ter amor e bondade quando se faz aquilo que sabe-se ser mal.”

    E não é isso que todo malvado deseja, ser amado? Hitler andava cercado de crianças, Lex Luthor só quer ser amado como o Superman, e os sedutores vampiros da literatura mundial, o amor de quem deixaram para trás, em ordem de contarem com mais algumas noites de “vida”. Quem não tem amor, que lhe baste as paixões, um acalento para aguentar um umbral sem fim nesta Terra, roubando o tempo alheio para permanecer de pé. No seu primeiro e mais famoso romance, Entrevista com o Vampiro, Anne Rice desmistifica a glamourização excessiva destas criaturas para mostrá-las carentes, intensas, profundamente amarguradas e conflituosas, dentro da sua própria e pequena comunidade, em pleno estado americano de Nova Orleans, onde a escritora ainda é cultuada como um tesouro da cultura local.

    Verdadeiras almas penadas, portanto, soltas e ao mesmo tempo presas e limitadas por sua quase insuportável e invariavelmente poética imortalidade. Uma sofrência, no uso mais contemporâneo da palavra, que dá gosto de se acompanhar pelas palavras de Rice, tão interessantes na construção de sua narrativa, dividida aqui em quatro partes, quanto os relatos (mais que) envolventes do vampiro Louis, aqui submetendo sua vida tal um livro aberto a um intrépido jornalista, o mais corajoso de sua espécie. Vampiros não nascem assim, o custo por sua sobrevivência é extremamente alto, e o peso da maldição que recai sobre esses seres da escuridão é sentido página a página, nesse monumento da literatura de mistério e suspense do século XX. Quarenta anos após sua estreia, ele já merece ser considerado assim.

    Após ser vampirizado pelo famoso predador Lestat, uma figura icônica e ambiciosa que por onde passa, deixa seu rastro de destruição e ira, Louis é condenado a fazer parte de sua seita, na mítica cidade de Nova Orleans, se quiser sobreviver em grupo. Assim, ficamos conhecendo uma das melhores personagens do romance, a petulante e mortal Cláudia, uma triste figura de menina que de inofensiva, não tem nada. Com essa trinca principal de personagens, e um clima de constante tensão, Rice destila a culpa de ser quem se é, quando sua vida é feita em prejudicar os outros – mesmo que haja certo prazer nisso. Outro tema bastante recorrente e bem explorado em Entrevista com o Vampiro seria o forte sentimento de saudade que essas criaturas sentem por tempos mais simples, honestos e brandos com a existência humana que eles, mesmo mais fortes e com novas habilidades, sentem falta devido aos conflitos que enfrentam.

    Rice é uma elegante masoquista com suas criações, e expõe o leitor a situações e temas difíceis com personagens maléficos, e ardilosos, mas que passamos a amar com um certo carinho especial. Talvez por isso a leitura seja tão veloz, e sedutora. É impossível ficar alheio as memórias de Louis, como ele chegou até ali, seus aliados, inimigos, e todas as aventuras repletas de grandes desafios e tragédias que fazem de suas entrevistas (nove rolos de fitas são necessários, num gravador antigo, para dar cabo da sua vida milenar), algo tão impagável de se acompanhar. Se o final deixa um gancho explícito para um segundo volume, poucos conseguem resistir a tentação de continuar neste universo de dor, sangue, punição e noites eternas que definitivamente não encontra adversário, a altura, na produção cultura de hoje em dia.

    Compre: Entrevista Com o Vampiro – Anne Rice.

  • Resenha | Hellsing

    Resenha | Hellsing

    Dinâmico, gráfico e um dos responsáveis pela mudança na narrativa do seu gênero, Hellsing é um mangá de ação publicado originalmente em 1997, escrito e ilustrado por Kouta Hirano. Publicado no Brasil pela editora JBC, a compilação de 10 volumes seguiu o modelo de tankôbon já publicado pelo autor, formato em que cada volume conta com diversos capítulos e serve como uma publicação independente. Os volumes contam com bastante qualidade gráfica e reproduzem com fidelidade o material elaborado por Kouta. Além disso, é preciso elogiar os extras em cada edição, que não apenas contam com comentários e piadas do próprio criador, mas também trazem histórias adicionais do mesmo universo, produzidas antes que ele tivesse mais coesão.

    O foco da história é na Ordem Real dos Cavaleiros Protestantes, a Hellsing, organização secreta fundada por Abraham Van Helsing, o mesmo personagem do livro do Bram Stoker. O principal objetivo da organização é a defesa da Inglaterra de forças sobrenaturais, atuando onde o exército tradicional não consegue. A sua principal arma é um vampiro, Alucard, que serve fielmente a Integra Hellsing, herdeira da organização. Posteriormente, outras organizações aparecem, como a Iscariot, divisão do Vaticano com os mesmos fins, e a Millenium, uma divisão sobrenatural de soldados nazistas que conseguiram fugir da guerra e procuram estabelecer uma guerra eterna.

    A principal qualidade do mangá é a forma com que ele consegue desenvolver a história. O seu ritmo, baseado nos filmes de ação da época, funciona bem em conjunto com a ação frenética e desenfreada. Diferente de outros mangás, o autor não se preocupa em explicar minuciosamente todos os elementos ou estabelecer um sistema verossímil de poderes. O importante não é como o universo funciona, mas sim o que está acontecendo nele. Essa acaba sendo a principal contribuição de Hellsing para os mangás: trazer uma narrativa ocidentalizada e mais dinâmica para o gênero. Outro aspecto interessante é que, apesar do autor falar que Hellsing teve início como um mangá erótico, a única dica disso é na tensão sexual presente entre alguns personagens, sem necessariamente ser retratada graficamente. A única parte visual que se faz questão é a violência, tendo direito a empalamentos, decapitações e outros elementos que são os principais motivos para o mangá ser indicado para maiores de idade.

    Dos problemas, o principal é a exaltação aos nazistas, muito mais presente nas partes extras do que necessariamente na história. O autor em alguns momentos faz alguns comentários e desenhos desnecessários de suásticas que poderiam ser encarados como preocupantes, apesar do tom de piada. Os traços também podem gerar alguma confusão, principalmente nos momentos em que muito elementos aparecem na página, mas não é algo que está presente em todos os momentos do mangá.

    É importante falar que Hellsing é um produto da sua época e vários elementos gritam isso. O traço utilizado pode ser encontrado em diversas produções contemporâneas, algo que o próprio autor deixa claro ao compará-lo com Trigun, lançado dois anos antes. Além disso, a temática utilizada, de um universo sombrio povoado por criaturas sobrenaturais era lugar comum na década de noventa. Não à toa que Buffy: A Caça-Vampiros, O Corvo e Entrevista com o Vampiro são produções lançadas nesse mesmo período. Até mesmo o nome dos capítulos pode acabar datando o período de produção, já que são baseados em jogos da época, e incluem claras referências para o autor. Como é o caso de Castlevania, que não apenas divide a temática de criaturas sobrenaturais, como o próprio nome do personagem principal do mangá é o mesmo que o de um dos personagens do jogo, sendo Drácula escrito ao contrário.

    Pelas características já faladas, Hellsing é um mangá de leitura fácil e descomplicada. Acaba sendo uma ótima opção para uma leitura depois do trabalho, já que não precisa de muito raciocínio pra ser compreendido, tal qual os filmes blockbusters de onde vem a inspiração para o seu ritmo. A única diferença é que eu não recomendaria pedir uma pizza e se entreter, já que a gordura pode acabar estragando as páginas.

    Texto de autoria de Caio Amorim.

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  • Resenha | O Último Lobisomem – Glen Duncan

    Resenha | O Último Lobisomem – Glen Duncan

    Era uma noite de lua cheia. Não. Não era. Isso é clichê demais e certamente nada tem a ver com o livro. Aliás, a primeira coisa que salta aos olhos é o quanto o autor foge do lugar-comum ao contar a história de um lobisomem, Jake Marlowe, que logo de início fica sabendo ser o último de sua espécie.

    Jake vagou pelo mundo durante duzentos anos, à mercê de seus apetites lunáticos e atormentado pela memória de seu primeiro assassinato. Ao saber ser o último, perde a vontade de viver e decide ficar – diferente da música de Raul Seixas – “esperando a morte chegar”. Morte que virá na pessoa de Grainer, um matador de lobsomens profissional.

    Indo na contramão dos livros de criaturas fantásticas da moda, em que vampiros são os protagonistas e lobisomens, meros coadjuvantes, presentes apenas para preencher a história com um pouco mais de ação, Duncan coloca Jake como ponto focal da narrativa. E, para evidenciar ainda mais sua importância, “deixa” que ele mesmo conte sua história, através dos diários que escreveu durante toda sua vida. Jake é sarcástico e tem crises existenciais. Sua linguagem reflete a dicotomia entre o lado humano e o animal que aflora a cada lua cheia. Enquanto humano, é um homem inteligente e culto, que discorre sobre moralidade, filosofia, religião e afins. Enquanto animal, apesar da selvageria latente, seu pensamento se torna mais objetivo e claro. Satisfaz sua necessidade por comida e sexo com um planejamento metódico na medida que seus instintos lhe permitem. Diferente do homem, o lobisomem quer viver.

    E o autor brinca com essas duas personas e seus linguajares. Nos trechos em que descreve seus momentos como lobisomem, a linguagem é vulgar, muitas vezes chula, repleta de palavrões e descrições cruas, sem rodeios, de sexo e violência. E, principalmente nesses trechos, há algo que muitas vezes faz com que o leitor saia da imersão no universo narrativo: a tradução. Há diversas gírias e expressões cuja tradução soa estranha, como se tivessem sido traduzidas ao pé da letra ou pelo Google Translator.

    A trama se arrasta nos dois primeiros terços do livro. O leitor acompanha Jake indo de um lado a outro, bancando James Bond, lutando contra vampiros, fazendo fugas espetaculares. E, entremeado a isso, o leitor vai conhecendo seu passado e de que forma se tornou um lobisomem. Em vários momentos, pensei “Agora vai!”, tendo a impressão – que se provava errônea – de que a história iria deslanchar e que algo relevante iria acontecer. A narrativa apenas ganha corpo, e o protagonista ganha um propósito, quando Tallula surge e passa a fazer parte da vida de Jake.

    É uma leitura agradável e divertida, que foge do convencional ao colocar o lobisomem como protagonista e não como coadjuvante. Mas justamente esse fator poderia ter sido melhor aproveitado. Tornando assim, os dois terços iniciais mais interessantes e envolventes.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Resenha | 30 Dias de Noite: Retorno A Barrow

    Resenha | 30 Dias de Noite: Retorno A Barrow

    Um ano após a sequência de 30 Dias de Noite ter sido lançada, a narrativa vampiresca de Steve Niles e Ben Templesmith prossegue em mais uma mini-série. Lançado originalmente em 2004 nos Estados Unidos e em 2006 no Brasil pela Devir, 30 Dias de Noite: Retorno a Barrow retorma ao claustrofóbico ambiente de Barrow, a cidade do Alaska que por 30 dias vive em total escuridão.

    A trama se inicia quando um novo xerife assume o posto da cidade. Brian Kitka era irmão de um dos habitantes, vítima do ataque a Barrow na primeira história. Desde os ataques na cidade, o mundo ainda permanece cético com a existência de vampiros. Mesmo o livro escrito por Stella Ouman, apresentado em 30 Dias de Noite: Dias Sombrios, foi considerado uma obra de ficção, em parte pela ação dos vampiros em evitar que a história ganhasse maior alcance. Ainda sem saber ao certo o que aconteceu, Brian assume o cargo na cidade para investigar o paradeiro do irmão.

    Desde o primeiro ataque a Barrow, os habitantes da cidade se dividem entre aqueles que fogem durante os 30 dias a outros que permanecem e lutam pelo local. Após descobrir um diário do irmão revelando o ataque de vampiros, o xerife e seu pequeno filho tentam sair da cidade mas não encontram nenhum meio de transporte. Não restando outra alternativa a não ser ficar e lutar. Como a progressão narrativa das duas histórias anteriores, a trama é focada no ataque dos vampiros como uma única grande cena. Pouco é retomado da história anterior, Dias Sombrios, a não ser o detetive vampiresco Dane e a informação de que alguém destruiu uma poderosa vampira em um ataque (Stella matou Lilith na mini-série anterior). A ausência de Stella e o marido ressuscitado é estranha porque o leitor sabe que, em algum momento, eles vão surgir em cena para concluir o gancho da trama passada. O roteiro retém as personagens quando poderia utilizá-las.

    Templesmith mantém o mesmo estilo consagrado de seus traços, fazendo do visual da história um de seus pontos altos, representando Barrow como uma escuridão claustrofóbica como se fosse um espaço impossível de fugir. Steve Niles também se mantém alinhado ao próprio estilo, executando os mesmos vícios narrativos das obras anteriores. Ou seja, mantendo a tensão com qualidade mas produzindo um desfecho final resolvido de maneira rápida,  sem expressão. Como é esperado pelo leitor, Estela e Eben retornam brevemente para destruir a nova horda vampiresca e proteger a cidade. Uma aparição reduzida a poucos quadros.

    Entre o visual e o roteiro da saga 30 Dias de Noite há um paradoxo um pouco desequilibrado. Mesmo com imagens tão envolventes e expressivas, os desfechos são realizados de maneira protocolar. A tensão desenvolvida durante a história cessa de maneira brusca como se faltasse planejamento para um ato final mais robusto. Como se faltasse vontade do roteirista em explorar com maior profundidade um final impactante e, nesse momento da história, o casal Eben e Estela. Uma ausência que poderia ser executada com mais foco. As personagens voltariam somente no volume 7 da saga, em uma história dedicada especialmente a mostrar o que aconteceu com a dupla.

    Compre: 30 Dias de Noite: Retorno a Barrow.

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  • Resenha | 30 Dias de Noite: Dias Sombrios

    Resenha | 30 Dias de Noite: Dias Sombrios

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    A narrativa vampiresca criada por Steve Niles e Ben Templesmith prossegue na sequência 30 Dias de Noite: Dias Sombrios. Lançada um ano após 30 Dias de Noite, este novo volume retoma a trama 17 meses após a invasão de vampiros em Barrow, no Alaska. A ex-policial Stella Ouman ainda sofre a perda do marido e, disposta a se vingar do clã que promoveu o massacre na cidade, funda uma equipe especializada para combatê-los, partindo para Los Angeles a procura do líder vampiro.

    A ambientação gráfico-narrativa se mantém com cenas apoiadas intensamente na impressão das cores, mas o efeito sombrio da primeira história, desenvolvida quase totalmente na escuridão, cede espaço para cenas claras e ensoladas de Los Angeles, ainda que não percam o contorno de uma sugestão impressionista quadro após quadro, fundamentalmente composto por traços sujos.

    A personagem de Stella se torna o epicentro para tentar destruir os vampiros e denunciá-los ao mundo. Em um recurso metalinguístico, a história vista em 30 Dias de Noite se transforma na trama de um livro escrito pela policial como um relato vivido. Porém, a mídia e a população considera uma história de ficção, ainda descrentes da existência dos seres sugadores de sangue.

    Focado em trazer ação ao leitor em vez de desenvolver uma longa investigação, os vampiros são revelados por Stella em uma armadilha, mostrando seu plano como caçadora de vampiros. Em paralelo, surge em cena um outro personagem vampiresco que contrabalanceia a visão bestial destes seres. Compartilhando algumas visões do grupo de vampiros, bem como a mística história de reviver um vampiro a partir de suas cinzas, a dupla forma uma improvável parceria em que Stella deixa de lado, momentaneamente, a lembrança do marido falecido.

    Como na HQ anterior, o desenvolvimento do último ato é rápido em contraposição as outras partes da trama. A ação parece ter sido feita as pressas, fator que retira parte do impacto dos acontecimentos. Porém, aponta um futuro horizonte para a história da batalha entre vampiros e humanos. E o gancho da última cena demonstra que a narrativa não só se expande como desequilibrará o maniqueísmo entre vilões e mocinhos.

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  • Crítica | Vampiro 40 Graus

    Crítica | Vampiro 40 Graus

    vampiro-40 grausOrgias, luxúria, sombras e tons coloridos escrachados: esses são os principais elementos que servem de base para a trajetória em longa-metragem de Vlak, personagem do veterano cantor Fausto Fawcett, que contribuiu também para o roteiro junto a Henrique Tavares e João Paulo Reis.

    Vampiro 40 Graus, filme de Marcelo Santiago inspirado no livro de Lucia Chataigner, é movido pela narração de Vlak e insights pouco didáticos sobre o cenário social do Rio de Janeiro em convivência com as criaturas vampirescas, com edição moderna como a principal marca.

    Vlak retorna da Transilvânia e decide deixar de lado o posto de chefe do submundo da cidade e arrancar seus caninos, o que o faz perder a memória. Nos pouco mais de 70 minutos de fita, são mostrados outros mortos-vivos, misturando uma realidade semelhante a de True Blood em relação ao ingresso desses seres fantásticos no mundo, junto ao surto do uso de crack, inventando-se inclusive uma droga chamada pó de vampiro, baseada na droga de fumo.

    Os personagens são modernos, estilísticos e pautados primeiro pelo estilo despretensioso, depois pela extrema sensualidade provinda da Cidade Maravilhosa, elevando o uso da libido como fonte de energia que mantém a Guanabara ativa. Este ideário mistura elementos tipicamente teatrais e burlescos com a estética, já conhecida em músicas e livros de Fawcett, de uma Copacabana libertina e cyberpunk. As referências a esse cenário são muitas, desde a carioquice carregada de gírias das pornochanchadas até o uso do preto como costume de vestimenta retirado tanto de Vampiro a Máscara, Matrix e, de elementos góticos comuns ao sub-gênero desde Bela Lugosi em Drácula a demais filmes de monstros da Universal.

    Vampiro 40 Graus traz experimentalismos dificilmente empregados no cinema nacional do gênero, poetizando o cotidiano e fala comum do povo. Algumas vezes soam risíveis, mas que fazem sentido ao espectador, mesmo diante dos muitos elementos indistintos juntos na formula básica do filme. Falta um equilíbrio na condução de tantos conceitos diferenciados em um espaço temporal tão curto, mas há de se louvarem a coragem e distinção tanto de Santiago quanto de Fawcett enquanto realizadores de uma obra tão verborrágica e esteticamente atual, sem deixar de soar natural e harmoniosa, como muitos outros primos seus. Certamente este não é um filme genérico.

    O longa consegue reunir a malemolência tipicamente carioca com elementos neons ao invés do gótico, além de um sexploitation provocante mas que não faz uso de nus. Os momentos finais reservam uma surpresa pontual, atrelando o filme à situação da cidade-sede das Olimpíadas 2016, uma ironia pontual tanto ao caos urbano em meio ao sonho olímpico quanto aos possíveis futuros candidatos a prefeito do Rio de Janeiro. Vampiro 40 Graus está em um nível de escracho e denúncia poucas vezes visto na cena de terror atual.

  • Resenha | 30 Dias de Noite

    Resenha | 30 Dias de Noite

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    Dentre os diversos seres místicos e mitológicos fundamentados através dos tempos, e em diversas caracterizações, os vampiros são aqueles que se tornaram mais populares. Sempre retratada em produções diversas, desde a mais clássica, como no romance de Bran Stoker, a adaptações contemporâneas de drama e terror, a figura do vampiro se destaca por sua essência, normalmente vista como um amaldiçoado que, distante da luz do sol, deve sobreviver de sangue alheio. Muitas criações transformaram-no em seres góticos e estilosos, uma caracterização física que também tornou-se comum. O apelo de seres vampirescos é inegável, mesmo quando estão presentes em obras denegridas por muitos leitores, caso de Crepúsculo.

    O roteirista Steve Niles, de Spawn, e o desenhista Ben Templesmith produziram uma genuína obra de terror que tem como enfoque os sugadores de sangue. Boa parte da potência narrativa está em sua ambientação, na pequena cidade de Barrow, Alaska. Um local isolado que, não coincidentemente, permanece trinta dias sem a luz solar. Essa difícil passagem de tempo é considerada como um dos momentos mais rígidos entre seus moradores, e desta forma até mesmo bebidas alcoólicas são proibidas nesse período. Quando o último pôr do sol traz escuridão para o local, um grupo de vampiros surge para atacar a cidade.

    A arte de Templesmith é bem diferente do que leitores de quadrinhos estão acostumados. São traços suaves que beiram a abstração, como se estivéssemos diante de telas de pintura em que a cor preta predomina, e algumas pinceladas dão os traços às personagens e contam a história. Esta percepção aguça a sensação de uma trama atmosférica, um conceito presente em outras histórias de terror representadas aqui pelos traços escuros e não muito definidos, dando-nos impressões sobre cada acontecimento. Quadros que, mesmo que sejam objetivos, ainda merecem observação e interpretação do leitor.

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    Sem delongas, a trama segue a história de um grupo que tenta sobreviver até a chegada do sol. Aos poucos, a tribo vampiresca desola o local e a fome e o cansaço deixam os habitantes cada vez mais ilhados no meio do medo e da escuridão. Os vampiros são caracterizados como caçadores, um grupo que, mesmo mantendo uma certa estética visual, é formado por animais à procura de alimento. O encontro em Barrow foi realizado após uma pesquisa do melhor local para caçar sangue humano. A tensão dos humanos se expande também para o grupo de vampiros, com a chegada de um chefe local que considera incoerente um massacre em uma cidade desolada quando, por muitos séculos, os vampiros tentaram manter-se às escondidas. Demonstra-se, assim, o quanto esta história ainda segue a tradição do mito do vampiro fundamentado por narrativas anteriores.

    Mesmo neste jogo de sobrevivência, o final cede para o conceito da personagem herói, simbolizada por Eben, o xerife da cidade. Cabe à personagem se assumir como aquela que destruirá os vampiros, modificando um pouco uma trama de terror. Por outro lado, diante de uma situação limite como essa, é difícil encontrar uma saída satisfatória que não fosse heroica. Assim, mesmo com um recurso comum, a história mantém sua coerência e produz um breve drama antes do fim.

    A edição da Devir não apresenta os dados de cada edição, dando-nos a impressão de que se se trata de uma série única, quando, na verdade, é composta por três edições americanas. Lançado em papel brilhante couché, o material da edição é um acerto em razão da arte escura da obra, que ficaria incompleta ou apagada em um papel de qualidade inferior. Uma arte que merece ser apreciada tanto pela competência do desenhista como pela capacidade de se fundir com a história narrada, e também representar a atmosfera agonizante do local.

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  • Resenha | Kaori: Perfume de Vampira – Giulia Moon (2)

    Resenha | Kaori: Perfume de Vampira – Giulia Moon (2)

    Kaori - Perfume de Vampira - Giulia Moon

    H.P. Lovecraft acreditava que “a emoção mais antiga e mais forte da humanidade é o medo”, linha de pensamento que, acredito, explica o curioso fato de que, a despeito das grandes e às vezes intransponíveis diferenças existentes entre as nações espalhadas mundo afora, alguns mitos macabros parecem ser universais, contando com versões próprias nas mais distintas culturas. Lendas relacionadas a fantasmas e mortos-vivos, por exemplo, parecem ser familiares aos folclores de quase todos os lugares. Os vampiros também estão entre as criaturas fantásticas que povoam o imaginário de povos distintos, e, apesar dos muitos produtos de qualidade duvidosa que vem deles se utilizado nos últimos tempos, a exemplo da Saga Crepúsculo e de The Vampire Diaries, esses seres ainda nos rendem histórias interessantes, como prova Kaori – Perfume de Vampira, de Giulia Moon.

    Publicado em 2009 pela Giz Editorial, o livro marca a primeira investida da autora paulista no campo romance. À época, no entanto, Moon já ganhara algum respaldo como contista, tendo lançado três coletâneas próprias – Luar de Vampiros, de 2003, Vampiros no Espelho & Outros Seres Obscuros, de 2004, e A Dama-Morcega, de 2006 – e participado de uma antologia, publicada em 2008 e intitulada Amor Vampiro, na qual também se encontravam trabalhos de outros seis autores. Foi nesta última obra, à qual submeteu o conto Dragões Tatuados, que os personagens Kaori e Samuel Jouza, protagonistas do romance que chegaria às livrarias no ano seguinte, foram apresentados ao público pela primeira vez.

    Provavelmente em razão dos muitos anos dedicados à fórmula do conto, o romance de estreia de Giulia Moon segue um modelo fragmentado, dividido em dois tempos narrativos bastante distintos: o Japão do Período Tokugawa e a São Paulo do ano de 2008. Assim, em vez de uma única história de longo fôlego, que no decorrer de suas 371 páginas correria o risco de cansar o leitor, Kaori é uma obra construída por pequenos, porém intensos sopros de tramas intercaladas.

    No primeiro cenário, a personagem-título, cujas nuances de caráter conhecemos por meio de sua interação com o artista José Calixto, tenta sobreviver no Edo bakufu, entre samurais, casas de prostituição, jogos de poder e outros aspectos que marcaram esse sangrento período da história japonesa. Fugindo do ideal infanto-juvenil que, como já mencionado, tomou conta das produções com temática vampiresca mainstream nos últimos anos, a escritora, mais alinhada com as ideias sombrias de criadores como Anne Rice e André Vianco – talvez o expoente máximo da atual ficção especulativa nacional – constrói um enredo que tem a violência e o sexo como ingredientes importantes.

    Ainda em se tratando da porcentagem da história que se desenrola no Oriente, importante frisar o trabalho de pesquisa realizado pela autora, que representou de modo natural, por meio de expressões e hábitos culturais, uma evolução de mais de dois séculos na sociedade nipônica, uma vez que o livro abrange o Xogunato desde 1647 até 1856. Contudo, faço uma ressalva ao uso exacerbado de expressões idiomáticas japonesas, que, embora venham sempre acompanhadas das necessárias notas de rodapé, por vezes soam dissonantes, incômodas em meio à prosa em português.

    Falando em português, a segunda metade da trama se passa na capital paulista e tem Samuel Jouza, que possui o estranho ofício de observar e catalogar espécies de vampiros, no centro da ação. Embora, ao menos para mim, essa fração urbana da aventura seja um tanto desinteressante em relação à parte do livro que se passa no Japão feudal, uma vez mais devo elogiar a ambientação feita pela autora. Não, a São Paulo vista no livro não é aquela em que vivo, e os personagens que por ela transitam certamente não falam como paulistanos típicos. Porém, não vejo isso como um defeito, pois acredito que uma das grandes falhas da literatura fantástica brasileira seja sua aparente incapacidade de retratar o cotidiano nos grandes centros e a fala coloquial de seu povo; quando tentam, o resultado usual é um amontoado de gírias e palavrões que soam artificiais, quando não, ridículos. Bem, Giulia Moon não incorre nesse erro. Sua linguagem é formal, por vezes “travada”, mas, assumindo-a como tal, o resultado obtido é uma leitura muito mais fluída que o pastiche de português “despojado” que povoa as páginas de algumas publicações.

    Intercalando esses dois tempos narrativos sem gerar confusão ou desgaste, a obra prova ser um romance de estreia bem-sucedido, capaz de fazer mesmo alguém como eu, naturalmente preconceituoso em se tratando de literatura fantástica, e mais ainda no tocante a sua vertente nacional, ficar interessado por suas continuações, Kaori 2 – Coração de Vampira e Kaori e o Samurai sem Braço, de 2011 e 2012, respectivamente. Em suma, Kaori – Perfume de Vampira não é muito mais que uma história competente de terror e suspense. Mas, tendo a proposta em mente, o que mais poderia querer?

    Compre aqui: Kaori – Perfume de Vampira.

    Texto de autoria de Alexandre “Noots” Oliveira.

  • Crítica | Virgínia (2011)

    Crítica | Virgínia (2011)

    A narrativa simples, cortada por uma narração e por estética típica dos filmes de terror feitos para o público juvenil, esconde uma análise sobre a decadência humana e a pretensão de espírito. Val Kilmer vive Hall Baltimore, um escritor especialista na temática de bruxas, mas que está com a sua carreira em declínio. Durante o tour de seu novo livro, ele chega a uma pequena cidade interiorana, sofrendo as agruras da fama, que fugiu de si, e as baixas vendas de seu novo produto.

    Movido por um instinto niilista e depressivo, Hall visita o que seria uma casa de Edgar Allan Poe, jogando vinho sobre o brasão do poeta e contista, revelando um ressentimento sobre a dificuldade de manter-se ativo e de produzir o próprio sustento através da venda de livros. Após tentar afogar as próprias mágoas na bebida e discutir com sua esposa, Hall decide atravessar a parte arbórea do lugarejo, encontrando, então, uma jovem e bela mulher chamada V. (Ellen Fanning), cuja cor alva destoa de todo o cenário acinzentado. O trabalho da fotografia exibe diferenciação de sentimentos através das cores que se sobressaem no ambiente, dominado por tons de grafite.

    Neste novo momento da carreira, Francis Ford Coppolla parece querer explorar emoções diversas, partes da alma humana normalmente ignoradas pelo cinemão. Ele se vale de estrelas da indústria para contar essas histórias – com Val Kilmer neste, Tim Roth em Velha Juventude e Joaquin Phoenix em Tetro – e, claro, com um orçamento irrisório, especialmente se comparado aos momentos áureos de sua carreira. Em Tetro, o baixo preço não chega a ser um problema, mas como, nesta obra, trata-se de uma história de terror, o risco da fita parecer trash é enorme, o que faz relembrar-nos dos primeiros trabalhos do realizador, como Demência 13.

    A crise econômica pela qual Baltimore sofre faz com ele passeie por seu inconsciente, tendo fantasias que se confundem com a realidade, em uma imaginação onde interage com situações espinhosas, como assassinatos, crimes envolvendo crianças, e com seu mentor, Poe (Ben Chaplin). Ao despertar, é tomado por uma mórbida curiosidade de procurar o delegado da cidade, Bobby La Grange (Bruce Dern), atrás de informações de um assassinato que acabou de acontecer. Seu motor é o tédio unido à vontade de escapar de sua própria vida. É em meio a uma conversa com Bobby que ele “tem” uma ideia para um novo livro, agindo de modo desesperado, se munindo do argumento do idoso para produzir uma sinopse de história de vampiros.

    Coppolla, nas cenas em que o escritor retorna ao mundo fantástico, prossegue com uma diferenciada abordagem, que até tenta se valer de uma criatividade narrativa, mas que esbarra em uma tosca realização, deixando de lado o que deveria ser um pedaço repleto de dualidade e dramaticidade para perder força, tornando, inclusive, digno de risos.

    Próxima do final, a temática começa a flertar com a comédia, especialmente quando o escritor adentra o mundo do líder de uma seita de góticos e satanistas chamado Flamingo (Alden Ehrenreich), que, com suas maquiagens esbranquiçadas e vestuário de couro, revela uma volúpia pela obscuridade da alma humana. Todo o arcabouço ideológico ligado ao ocultismo e ao mistério do assassinato esbarra na vontade que Virgínia tem em ser um filme de deboche, uma caricatura de muitos filmes slasher dos anos 90, usando um pretensioso protagonista para mostrar que, caso ele merecesse, nem mesmo o seu enorme ego o livraria de uma vida medíocre.

    A persona de Hall Baltimore faz, às vezes, de seu realizador, que em determinado momento da carreira entrou também em descenso, conseguindo posteriormente se reinventar, mas que, neste, exibe quase sempre vaidade e uma autorreflexão mal urdida.

  • Crítica | Drácula: A História Nunca Contada

    Crítica | Drácula: A História Nunca Contada

    Vlad III, O Empalador foi o príncipe da Valáquia, atual Romênia, por três vezes. Adquiriu o nome Drácula (Draculea) quando seu pai, Vlad II, foi nomeado cavaleiro da Ordem do Dragão, no caso, um Dracul. Assim, após a morte do pai, Vlad III passou a ser chamado Vlad Draculea, ou seja, o filho do dragão, sendo que hoje, em romeno, significa filho do diabo.

    Conhecido por ser sanguinário, Vlad, ainda criança, foi entregue aos otomanos como parte de um acordo e, ao retornar à Valáquia, se tornou muito conhecido por empalar os inimigos mortos no campo de batalha, impondo, assim, certo respeito entre os outros feudos. Sua confusa história acabou dando origem a certas lendas urbanas, já que, na época, século XV, achava-se que ele era imortal simplesmente porque as pessoas pensavam que Vlad III na verdade era o seu pai. Tentem imaginar uma época sem a quantidade de informações que temos hoje. Aliado a esses fatos, a predileção de Vlad pela violência fez com que acreditassem, inclusive, que ele bebia o sangue dos inimigos mortos, algo que até hoje é discutível. Desta forma, teve-se material o bastante para que ele se tornasse o tão conhecido Conde Drácula, um dos personagens mais conhecidos e queridos da literatura mundial, criado pelo escritor irlandês Bram Stoker e imortalizado no cinema diversas vezes, com o destaque para Drácula, dirigido por Francis Ford Coppola.

    Drácula: A História Nunca Contada, além do título, tem a intenção de contar ao espectador a história de Vlad, O Empalador, antes dele se tornar o vampiro que conhecemos hoje, trazendo elementos históricos, baseados nas vidas de Vlad Dracul e de seu filho, Vlad III. Percebe-se, portanto, a fusão de duas pessoas em um único personagem.

    Logo no início, Vlad (Luke Evans), já detentor de sua terrível fama, e seus homens estão numa incursão com a finalidade de descobrir quem está por trás de algumas mortes na região da Montanha do Dente Quebrado. Essa incursão faz com dois homens sejam mortos, além de colocar o protagonista em contato com uma força sobrenatural e desconhecida ali presente. Ao retornar ao seu castelo, Vlad é surpreendido com a notícia de que o sultão Mehmed (Dominic Copper) ordenou que todos os jovens do feudo fossem enviados com a finalidade de serem treinados como guerreiros, incluindo o único filho de Vlad e de sua amada esposa Mirena (Sarah Gadon), o jovem Ingeras (Art Parkinson, o Rickon Stark de Game Of Thrones).

    Após salvar seu filho, o que foi uma declaração de guerra ao sultão, Vlad acaba pedindo ajuda à citada força sobrenatural, vivida por Charles Dance (o Tywin Lannister, também de Game Of Thrones). O “vampiro prime” explica ao protagonista que é daquele jeito por conta de uma maldição que ele carrega há eras e que Vlad ficaria livre de tal condenação se conseguisse sobreviver à sede por três dias. Com isso, dotado de uma habilidade e força superiores a qualquer homem, Vlad enfrenta sozinho um pequeno exército turco de mil homens, ganhando tempo suficiente para fugir com seu reino para outro castelo.

    E é aí que se encontra o problema de Drácula: A História Nunca Contada, pois a cena de batalha em questão foi filmada no escuro, o que não teria problema se o público enxergasse alguma coisa. Imagina-se que a passagem tenha sido proposital, mas nem tanto. Tudo isso, aliado ao fato de que Vlad não pode mais ficar sob o sol, faz com que a história se desenvolva sempre durante a noite, mas uma noite, que, por algum motivo obscuro (com o perdão do trocadilho), tornou-se difícil de enxergar. A fotografia do veterano John Schwartzman, infelizmente, atrapalha muito, e faz com que a direção do estreante Gary Shore e da dupla de roteiristas, os também estreantes Matt Sazama e Burk Sharpless, não se sustente.

    Em resumo, o filme fica tecnicamente prejudicado, uma vez que tem como destaque o departamento de figurino e efeitos especiais, incluindo arte e som, que são impecáveis. Vale destacar que a caracterização de Vlad é bastante parecida com as pinturas retratando o príncipe da Valáquia, com o tradicional bigodinho e o cabelo crescendo na região da nuca, sendo sua armadura inspirada na que foi usada por Gary Oldman no filme de Coppola.

    Com relação ao restante, Luke Evans destaca-se muito mais do que os outros, o que faz com o time de coadjuvantes fique bastante à sua sombra. Porém, por ter um nome em ascensão em Hollywood, o ator galês ainda merece ser protagonista de um filme bem melhor, tornando o saldo deste Drácula bastante regular.

    Mas, ainda assim, os fãs conseguirão identificar algumas referências e homenagens à obra de Bram Stoker, algo que, ao menos, gera alguma alegria.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | Amantes Eternos

    Crítica | Amantes Eternos

    Os filmes de Jim Jarmusch têm um gosto de improviso, de um autodidatismo irresistível; uma liberdade que começa com apelido de amadora, libertina, se o início não é dos melhores, rumo ao selo individual de um Cinema autoral, como já o é, unificado com o registro de uma realidade em que Jarmusch parece ligar sua câmera de repente e capturar apenas o que for indiscutivelmente real nos mundos internos de cada um. Realidades encenadas para resolver o caos “que o mundo tem de sobra para resolver no momento”, como de fato é apontado pela persona de John Hurt à frente de Tilda Swinton, enquanto o irmão de Thor (Tom Hiddleston) em Os Vingadores não busca, todavia, o consolo de quem o entende por sua condição peculiar, mas o néctar da eternidade pra colocar na mesa e sentir seu coração bater na ingestão vital. Depois de meia dúzia de Crepúsculos da vida, o mundo estava precisando de um filme de vampiros de Jim Jarmusch.

    Amantes Eternos não é promessa, mas não deixa de ser a afetividade do sueco Deixe Ela Entrar ao tom de Blue Valentine, clássico álbum de Tom Waits, cuja amizade do cantor consiste com a de Jarmusch.

    A única vez que o diretor de Daubailó usou o pretexto de fazer um filme para explorar, humilde e elegantemente, os extremos do efeito widescreen, até então, teria sido no ótimo Dead Man, o faroeste must-see dos anos 1990, quando na verdade, em Amantes Eternos, o suspense que Wes Anderson gostaria de fazer se pudesse deixar na gaveta sua fanática precisão estética, qualquer movimento de câmera por mais leve que seja, faz ditar, tal fosse a concepção do plano a encarnação do sensorial, o clima e o forte sentimento existencial do filme, por dentro da intimidade de um casal que não sabemos (enquanto visitantes de seu universo, submissos ao surreal estranhamente real de tudo o que sai e entra em cena), ao fundo, jamais, onde começa ou termina sua humanidade, a benevolência e a brutalidade de ambos; banhados em mistério perpétuo que luz alguma haverá de traduzir.

    Não seriam tais vampiros, perdidos no tempo e motivações, um retrato de uma classe de cineastas já muito marginalizados por serem autorais até os ossos? Sim, talvez ou com certeza? E com uma história frágil, de propósito e intenção ligados ao valor dispensável de vidas já perdidas há séculos de vício e penitência, resta a Jarmusch, mestre em ritmo e narrativa, nos dar uma lanterna em forma de trilha sonora e situações contextuais por entre a riqueza oculta dos antagonistas de sua produção hipersensível, mesmo que só nos seja permitido acompanhar essas almas penadas por meras duas horas, mais sob a sombra de hipóteses, do que sobre a luz de qualquer certeza. A sessão condiz e reafirma o poeta: Não há eternidade senão a eternidade que convém alimentar, para que tudo não fique ainda pior do que ficou, sem o efeito maré para voltarmos no tempo e rever nossas brevidades; ó, utopia!

    A dependência pelo mundano atinge bela e melancólica antítese na filmografia do cineasta que já explorou quase todos os vícios do ser humano moderno, impondo em Amantes Eternos, agora, várias faces do entretenimento, a música, o xadrez e a literatura feito nobres exercícios de autoafirmação. São as últimas escolhas de expressão de autonomia e direito natural de quem nem mesmo detém mais da morte como certeza e amiga fidedigna. Em certo ponto, Hiddleston e Swinton, Adão e Eva, chegam a expulsar de sua casa, velha por fora mas vintage por dentro, o exato contrário dos moradores, num modelo habitacional de Detroit, cidade dos Estados Unidos, chegam a distanciar de si a irresponsável jovem irmã de Eva (Mia Wasikowska) por aparecer e desperdiçar pescoços alheios feito café barato em bares sujos – até o néctar rubro ser jorrado em gozo pelo tapete da sala do casal. Acontece que o jardim do Éden atrai, mas tem regrinhas que poucos conseguem seguir. A sobrevivência vem a ser para esses poucos, e acima de tudo: Àqueles que sabem que estão vivos, e podem continuar assim a todo preço. A vida vicia, longo transe perante a morte que é.

  • True Blood: O Amargo Regresso aos Bons Tempos

    True Blood: O Amargo Regresso aos Bons Tempos

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    Após as interessantíssimas primeiras temporadas, que faziam um belo e renovado comentário social a respeito do racismo e de como o sul dos Estados Unidos  no estado da Luisiana, na fictícia cidade de Bon Temps  lida com tais questões, True Blood deveria chegar ao seu final. O remate foi muito devido à necessidade de coisas novas, de novos embates e discussões, e a quantidade de temas diversificados já havia se esgotado lá pelo quarto ano – os mais puristas dirão que foi no terceiro.

    Toda vez que uma nova temporada se aproximava, o criador Allan Ball tinha que sentar e falar qual seria o plot que viria a seguir, baseando-se nos dramas mostrados nos livros da série de Charlaine Harris, mas sem se apegar muito ao texto original. No entanto, a narrativa de Ball bateu em um muro sólido de concreto, inegavelmente; o momento de parar era clamado, já que não dava mais para evitar o estrago em que o show se instaurou. O padrão televisivo do canal HBO tinha um nome a zelar, e há uma tradição em dar mais atenção à produção de um grande número de indicações a premiações do que à quantidade de pessoas capazes de digerir suas histórias.

    Sookie Stackhouse (Anna Paquin) era uma menina jovem, com toda a vida pela frente, mas que tinha uma habilidade especial: desde pequena conseguia ler a mente das pessoas. Um sujeito mal encarado, mas de aparência bela, se aproxima da moça, escondendo uma intenção escusa, mas que é diluída pela paixão. Seu nome é Bill Compton (Stephen Moyer), um vampiro secular, que, além de ser o primeiro amor da protagonista, ainda abre uma gama de polêmicas e controvérsias, já que, neste universo, os vampiros “saíram do armário” graças à fabricação do Tru Blod, uma bebida quente que contém os nutrientes necessários para a sobrevivência desses seres. O modo como a sociedade “humana” vê os vampiros mostra paralelos interessantes, que vão desde referências à discriminação racial até a questão da orientação sexual e afins. A sexualidade, aliás, é um tema perene, que obriga a audiência a assistir a diversas manifestações e interações lascivas e libertinas sem qualquer pudor.

    Só por isso, True Blood já seria interessante, mas algo se perdeu no caminho. Na penúltima temporada, a trama da Deusa Lilith é explorada, mostrando que Bill bebeu o seu sangue e estaria embevecido pela vontade de trucidar tudo e todos. A dignidade dentro do roteiro é completamente deixada de lado; as sequências de ação são tão toscas que fica difícil associá-las com os primeiros três anos do seriado. Mesmo ignorando os efeitos especiais, dignos de clássicos da Asylum e as tramas estilo Power Rangers, ainda sobram um milhão de motivos para achincalhar o show.

    Uma pena que a trama inicial de exploração dos preconceitos que habitava Luisiana seja deixada de lado para explorar a Autoridade, a instituição que está no topo da hierarquia dos vampiros. Tudo ruiu, e todo o quadro político dos sugadores de sangue, desconfigurado. Isto poderia obviamente ser bem explorado, já que emularia os momentos serenos de outrora, mas não é isto que ocorre.

    O uso excessivo de histórias paralelas apenas servem para enfraquecer a trama principal – não que isso não ocorresse anteriormente –  e também para mascarar a total falta de substância do argumento. Nem mesmo a dor dos personagens, que perderam entes queridos, é sentida: o roteiro não deixa espaço para o luto e para a superação das ausências. Tudo é muito rápido em relação às reações, e, curiosamente, o desenrolar dos plots é arrastado, como se houvesse pouco (ou nada) a contar. As boas ideias são esticadas para durarem doze episódios.

    As armadilhas soam falsas. As ameaças só acontecem quando são facilmente revertidas. Nenhuma ação amorosa que envolva o triângulo Bill, Sookie e Eric Northman (Alexander Skarsgård) é feito sem que haja tempo e espaço para tudo se reverter. Até os movimentos vaginais da fada são previsíveis, anunciados eras antes de ocorrerem. A eterna saída do estranho triângulo amoroso ganha mais um par, como já era de se esperar. Seria ele uma fada-macho. O estratagema piora quando é revelado que a loirinha é, na verdade, uma descendente direta da Fada-Rei – e por isso um vampiro milenar estaria atrás do sangue dela, e, por consequência, havia matado os seus pais anos antes. Sookie é a Escolhida, o arquétipo mais pobre da literatura moderna e que, de tão importante para toda a trama, é simplesmente ignorado após este ano.

    Paralelo a isto, Bill vai ganhando mais e mais poderes, podendo até prever o futuro. Logo, o governador da Luisiana declara guerra aos vampiros, retirando deles os deus direitos. Mesmo o que antes funcionava, agora é motivo para chacota. Os níveis de sutileza, que já eram baixos, praticamente inexistem neste momento. Mas nem essa questão de Lilith/Bill consegue influenciar nos outros dramas pessoais.

    Mesmo diante do iminente fim do mundo, ainda há espaço para as porcas batalhas pessoais de transmorfos, lobisomens, fadas, bruxas, macacos falantes, elfos, ogros, orcs, meta-humanos etc. Em determinado momento, até as regras básicas, inclusive até a mais rasa delas, das raças mágicas são deturpadas, sem qualquer cerimônia ou justificativa. É como se a inteligência do espectador não fosse realmente importante, como se qualquer balela pudesse ser engolida facilmente unicamente pela exibição de corpos belos e sarados.

    Em meio à temporada, levanta-se uma possibilidade de extinção dos vampiros através da disseminação de uma doença nova, que se vincularia à fórmula de Tru Blod e que seria comercializada, é claro. A ideia seria a de matá-los, num plano parecido com uma teoria da conspiração. Em dado momento, parece que tudo é permitido, e, após uma série de horríveis mortes, os vampiros conseguem, através de um retcon absurdo, andar à luz do dia. No momento de descanso, os seres noturnos jogam vôlei despreocupadamente, como se todo o apocalipse que os envolveu horas antes não tivesse existido.

    Um semestre inteiro se passa, e, após mais uma batalha entre bem e mal, uma nova cidade surge com configurações políticas das mais toscas, numa pretensa e utópica reunião politicamente correta – entre humanos, vampiros e demais criaturas mágicas  que visa estabelecer benefícios mútuos, combatendo os malvados sugadores de sangue contaminados pela Hepatite V. Como num final de novela, todas as pontas soltas de cunho emocional são amarradas. Tara (Rutina Wesley) faz as pazes com sua mãe; Bill escreve um livro sobre sua vida; Sam Merlotte (Sam Trammel) vira o prefeito da cidade e se une às duas igrejas para abraçar o povo; e Sookie passa a namorar Alcide (Joe Manganiello). Essa paz torna irrelevantes as motivações do fim do quinto ano e  o começo deste e transforma a boa premissa dos livros de Charlaine Harris em algo infantilizado.

    Em contraponto, a faceira paz é logo interrompida no primeiro episódio do ano sete, com um ataque voraz de vampiros infectados, com baixas enormes.  Logo de cara, personagens longevos morrem sem qualquer cerimônia e raptam tantos outros. Os vampiros que atacam Bon Temps já haviam feito o mesmo em outras cidades, drenando tudo delas, exterminando os humanos como se nada fossem. O estado de sítio se instala. Os humanos começam a agir desesperadamente, passando por cima de suas autoridades para se armarem, traçando um paralelo que pode ser interpretado como uma crítica a um povo que não tem governo, que age por instinto por não ter ninguém para instruí-lo, vociferando de modo anárquico, invalidando sua luta por direitos igualando os seus atos aos de um simples bárbaro.

    Incrível como mesmo em meio a toda essa problemática, permanece fácil notar o quão mal construídos foram alguns dos alicerces da trama. Como exemplo máximo está a relação de Sookie e Alcide. O tempo todo, o romance deles parece falso, já que não houve quase tempo nenhum em ambientar o par dentro do episódio.

    Na sexta temporada, cada um deles se preocupa em trepar com outras pessoas para, nos 20 minutos finais, arquitetar uma união que passaria pelo anúncio de letreiro onde está escrito “seis meses passados”. Ademais, ao menos o roteiro deste ano é um pouco mais elaborado, mais preocupado com a premissa prometida no começo da série, onde a disputa ideológica entre vampiros e humanos era a real tônica.

    Logo a hepatitve V deixa de ser um tabu que contamina somente os vampirões vilões da trama, mostrando os principais vampiros do seriado como infectados. Eric e Bill têm de conviver com a “verdadeira morte”, que finalmente se avizinha. O antigo viking vai em busca de Sarah Newlin (Anna Camp), buscando vingança pela disseminação do vírus, e em meio à investigação encontra membros da Yakuza, que também a querem morta. Para variar, a questão que a envolve mostra um novo sub-plot, que inviabiliza seu assassinato graças à possibilidade de cura para a doença. Logo um estratagema capitalista se forma, no intuito de comercializar um novo produto com a patente do soro e com a imagem de Northman estampando os comerciais.

    Diante da possibilidade de cura da hepatite, Bill prefere não lançar mão dela, penitenciando-se por seus pecados mais recentes, principalmente o de ter matado indivíduos de sua espécie. Sookie vê seus antigos pares se despedirem, primeiro o vampiro; depois Sam Merlotte, que decide se mudar de sua cidade natal, do seu antigo bar e de seu cargo político para criar sua filha que viria à luz logo. Unindo ao finado Alcide, já somavam três que se despediam dela.

    True Blood é basicamente sobre o despertar sexual de Sookie Stackhouse e o modo como a mulher se liberta. O fato de Sookie ser uma fada é uma metáfora para a feminilidade e o largo direito da mulher ser sexualmente ativa, e isso explica o motivo da personagem ter tantos parceiros sexuais ao longo dos sete anos de exibição. Porém, tanto os eventos sociais, que reúnem as diversas raças, quanto as inserções espirituais de Lafayette (Nelsan Ellis) permanecem abordadas de um modo infantil e boboca, com discursos e diálogos dignos da novela chapa branca exibida secularmente após as cinco da tarde na Vênus Platinada.

    A decisão de Bill em morrer é encarado por sua amada como um suicídio, mas na mente do vampiro é um retorno à sua antiga família, que está toda sepultada. Sua lápide vazia o incomoda, e a sensação de que a morte é certa o faz se reaproximar deles. No entanto, ele ainda pensa em Sookie, pedindo para que ela o mate com a sua energia vital, o que o livraria da condição de vivo e eximiria a moça da condição de fada, e de possível presa de outros vampiros. No último momento, o vampiro mais focado da série consegue inverter o papel de protagonista, uma vez que – finalmente – a manipulação plural de assuntos é deixada de lado para finalmente evidenciar apenas um tema. Deixa-se um espaço pequeno para todo o esquema esquizofrênico que pleiteou o seriado, a exemplo do casamento de Jéssica Hamby (Deborah Ann Woll) e Hoyt Fontenberry (Jim Parrack) que ocorre pela manhã – sim, uma das partes é um vampiro… – mas que, se comparado ao epitáfio de William Compton, não é nada. As características de folhetim novelesco prosseguem na essência do seriado.

    Nos momentos finais, Sookie Stackhouse consegue enfim se entender e aceita deu destino, seus poderes e dádivas como parte integrante de sua identidade, mas ainda assim não consegue convencer o homem que foi o seu primeiro a prosseguir vivendo. O fim dele não é melancólico. A morte é deveras grotesca e sanguinolenta, como um bom romance deve acabar.

    Claro que, logo após, acontece um epílogo com um salto grande no futuro. Eric Northman torna-se CEO da nova empresa New Blood, que explora o sangue de Sarah Newlin em ritmo industrial. Mas o vampiro ainda necessita de um clube como Fangtasia para chupar cada centavo das criaturas que querem usufruir da fonte máxima que era a ex-mulher do reverendo – curioso como a mesma Yakuza, que foi sabotada pelos vampiros, não mira seus olhos para o viking. Isso pouco importa…

    Do outro lado, mostram-se humanos que restaram da primeira temporada se reunindo, com suas famílias feitas, repletos de filhos, como um gigantesco clã – isso sem revelar quem seria o par de Sookie –, numa reunião vergonhosa e açucarada, sem dúvida um dos momentos mais patéticos da série, condizente, e muito, com todos os anos da produção.

    Infelizmente, o saldo final de True Blood está longe de ser positivo. A audiência do programa na HBO sempre foi alta, ainda que isso não seja necessariamente uma chancela de qualidade. De fato, a série de Alan Ball conseguiu em plena era Crepúsculo elevar o tema dos vampiros a algo além do aroma de virgindade e garotismo que predominava a saga de Meyer e companhia, já que a sexualidade foi a tônica do show, presente e regular em todos os seus anos de exibição.

    Entender que não haverá mais nenhuma criatura fantástica (diferente) adentrando a pequena cidade de Bon Temps, que não existirão outras orgias de cunho bi e pansexual, que não acontecerão mais qualquer bestialismo ou liberação erótica entre raças tão diversas, e que as aventuras dos personagens de Charlaine Harris não mais habitarão os domingos da emissora, que mudou o paradigma de se ver televisão, é algo ainda difícil de se acostumar. Mas para o fã mais seletivo de True Blood, o fim era necessário, antes que suas aventuras fossem mudadas a paragens mais distantes e nonsenses, como a Lua ou Marte.

    A nudez de Anna Paquin já não mais será uma constante.

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    Resenha | Amor Imortal – Volume 1

    Os vampiros estão em ascensão na cultura pop, e nunca um “gênero” foi tão explorado nos últimos anos como é o caso dos sanguessugas. Não importa onde você olhe, lá estão eles: cinema, TV, animações, literatura, games, e logicamente, os quadrinhos, como acontece com a HQ Amor Imortal, de Tomm Coker e Daniel Freedman.

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    VortCast 12 | Saga Crepúsculo – Parte 1

    Em um rompante de emoção, Flávio Vieira (@flaviopvieira), Rafael Moreira (@_rmc), Bruno Gaspar e Pedro Lobato (@pedrolobato) se reúnem para comentar uma das maiores sagas literárias e do cinema, Crepúsculo. Nesse podcast descubra como abrir o coração para a obra de Stephanie Meyer; quem é mais bonito, Edward ou Jacob; e qual será o destino de Bella. (mais…)

  • Review | Hellsing

    Review | Hellsing

    hellsing-tv-movie-posterCriado pelo Mangaká Kouta Hirano em 1997 e adaptada para anime em 2001 pela GONZO. Hellsing conta a história de uma organização paramilitar que tem como objetivo proteger a Inglaterra de forças sobrenaturais.

    A Organização fundada por Abranham Van Hellsing há mais de 100 anos, atualmente é comandada por Integra Wingates Hellsing. Entre seus subordinados estão o mordomo e ex-combatente Walter, a novata Celes Victoria e o poderoso vampiro Alucard, este descoberto por Integra, que o desperta do seu sono. Apesar de todos os três serem vampiros, eles servem a Inglaterra e a família Hellsing.

    A estória começa com a jovem policial Celes Victoria investigando alguns assaltos em uma floresta, junto com sua equipe. Seu grupo é atacado por uma espécie de vampiro e ela é a unica a sobreviver, sendo salva pelo também vampiro, Alucard. Selas é mordida pelo mesmo e a partir daí começa a trabalhar para Integra Wingates Hellsing.

    O Anime, apesar de curto, foi muito bem aceito no Brasil. Por ter cenas violentas e abordando um tema utilizado hoje em dia e de modo atual, conseguiu prender o público jovem. O diferencial de Hellsing são as mortes detalhadas, onde podemos ver sangue, tortura e massacre.

    O Enredo sanguinário chamou tanta atenção, que poucas pessoas ligaram ao estilo do traço do anime. Personagens importantes com Integra e Celas, são mal desenhadas e isso acaba incomodando um pouco, principalmente para aqueles, que apreciam os detalhes.

    Hellsing deixou muitas perguntas, que os 13 episódios e 5 ovas não conseguiram responder, e esse foi o ponto negativo do anime. Se você quer origens de personagens, explicações sobre o envolvimento da organização e do vaticano, detalhes dos vilões, esqueça, você irá perder seu tempo. Apesar do grande enredo, o anime deixou muitos furos. Deixando de lado os detalhes, para quem quer sangue, boas lutas e muito mistério, esse é o anime certo.

    Texto de autoria de Jean Dangelo.

  • Crítica | Deixa Ela Entrar

    Crítica | Deixa Ela Entrar

    Deixa Ela Entrar 1

    Catalogar Deixa Ela Entrar como um filme de vampiro é simplificar os temas alvitrados pelo diretor Tomas Alfredson. O longa propõe uma reflexão sobre as aflições da pré-adolescência, como a descoberta do primeiro amor e a solidão de não ser compreendido nessa fase da vida.

    Baseado no livro de John Ajvide Lindqvist, que também assina o roteiro, a trama mostra uma love story inusitado entre dois púberes envoltos em uma espécie de crise existencial de melancolia e isolamento social. Oskar (Kåre Hedebrant) é um garoto solitário perseguido na escola por um grupo de valentões. Seus pais são divorciados e não lhe dão a atenção necessária. Ele passa o tempo fazendo recortes sobre assassinatos nos jornais locais. Em uma certa noite, ele conhece Eli (Lina Leandersson), que acabou de se mudar para seu prédio. Ela também demonstra um comportamento similar. Percebe-se que são almas gêmeas. Desse encontro inusitado nasce uma amizade e uma empatia emocional, que se torna paixão.

    O diretor Tomas Alfredson não cai nas armadilhas do melodrama. Ele mantém um tom de distanciamento através de vários recursos técnicos, como a ausência de cores fortes. As longas tomadas invocam a solidão dos personagens. O frio e a neve contrastam com o concreto e as ruas propondo um encarceramento das relações humanas, que sofrerá uma ruptura através da afinidade de Oskar e Eli.

    A abordagem realista resulta em um filme extremamente verdadeiro, mesmo tendo todas as costumeiras tradições de filmes sobre vampiros. Essa busca pelo real fica mais evidente pela opção de Alfredson ao inserir a violência em um ambiente doméstico e familiar para o espectador. Lirismo e brutalidade caminham lado a lado provocando uma colisão entre o fato e a fantasia. O desempenho da dupla de jovens atores corrobora essa intenção.

    Em um primeiro momento, Deixa Ela Entrar parece ser um típico filme de terror. Na verdade, é um filme sobre a alienação social, amizade e amor, interpretado por crianças e direcionado ao público adulto.

    Texto de autoria de Mario Abbade.

  • Crítica | Os Garotos Perdidos

    Crítica | Os Garotos Perdidos

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    Se tem algo que sinto falta são os filmes dos anos 80, que apesar de serem taxados de bobos e “vagos” pelos críticos, se tornaram cultuados por toda a molecada da época, e nos dias atuais ainda são lembrados com carinho por quem os viu. Além do que, a cada dia conquista mais adeptos entre os jovens de hoje, indo contra as previsões dos críticos que diziam que ninguém lembraria desses filmes futuramente. Não poderia deixar de lado um dos meus filmes preferidos dessa época: Os Garotos Perdidos.

    A indústria do cinema dos anos 80 apostou em filmes “teen”, claro que estes filmes eram bem diferentes dos que são lançados nos dias atuais. Graças ao saudoso politicamente incorreto, não era raro assistirmos filmes com sequências de sexo, violência e muito humor escrachado, mas acima de tudo, esses filmes enalteciam a amizade, o que não tenho visto hoje em dia, ou talvez seja apenas nostalgia da minha parte. Os Garotos Perdidos não foi uma exceção, tinha de tudo um pouco do que já citei, mas vamos a história em questão.

    Os irmãos Michael (Jason Patric) e Sam (Corey Haim), se mudam com a mãe Lucy (Dianne Wiest) que tinha acabado de se divorciar e buscava novos ares, para casa de seu avô em Santa Carla, uma cidade litorânea, aparentemente pacífica. Ao chegar na cidade, eles percebem que tem algo de errado ali, o lugar é repleto de panfletos de desaparecidos, além de ser conhecida como a “a capital mundial do crime”, como denuncia a pichação na placa de boas-vindas.

    Os dois irmãos logo dão um jeito de se enturmar no novo “lar”, Michael se envolve com uma gangue de motoqueiros aventureiros que são liderados por David (ninguém menos que Kieffer Sutherland, ou Jack Bauer se preferirem). Seu irmão mais novo, Sam, conhece os irmãos Edgar  e Alan Frog (Corey Feldman e Jamison Newlander), em uma loja de quadrinhos, eles se apresentam como caçadores de vampiros e alerta Sam sobre a cidade estar infestada por vampiros.

    Michael se envolve com Star, uma garota que faz parte da gangue liderada por David e com o tempo descobre que os assassinatos e desaparecimentos da cidade são de responsabilidade dessa mesma gangue, e mais do que isso, são todos vampiros. Sam passa a estranhar as novas atitudes do irmão, que passa a trocar a noite pelo dia, e a mudança de temperamento. O resto fica por conta de vocês.

    A direção de Joel Schumacher é competente, e apesar do péssimo Batman Eternamente e sua sequência, a filmografia dele não se resume a isso. Schumacher cria planos abusando das cores vivas, típicas de cidades litorâneas, e da escuridão típica de filmes clássicos de vampiros, criando um meio termo muito bacana.

    É importante lembrar que até o lançamento de Garotos Perdidos, os vampiros estavam em baixa, após o filme, foram consolidados como ícones da cultura pop, só isso já seria motivo suficiente para conferi-lo, mas o filme tem muito mais a oferecer. Com um elenco entrosadíssimo, ainda conta com Corey Feldman e Corey Haim esbanjando carisma e talento. É claro que o roteiro colabora muito na construção dos personagens com uma boa história e diálogos interessantes, consegue ainda retratar a alienação juvenil por meio de metáforas, além de demonstrar o cenário da época retratando a onda punk, tão comum nos anos 80. A trilha sonora é uma das melhores que já ouvi, e inseridas em momentos perfeitos, dando uma imersão incrível a cada cena. Impossível esquecê-las.

    Apesar do tempo, o filme continua sendo uma ótima pedida para aquela sessãozinha de filmes de terror com os amigos. Diferente dos péssimos filmes de terror que tem surgido por ai, Garotos Perdidos vem bem a calhar. Sem falar nos romances vampirescos que invadiram os cinemas nos últimos tempos… Esqueça divagações sobre o quão cruel e triste é ser um vampiro e viver eternamente, aqui temos é vontade de se juntar a eles. Se até agora não consegui convencer ninguém à conferir este clássico dos anos 80, é melhor parar por aqui.

    Enquanto a geração oitentista tinha Garotos Perdidos, os jovens de hoje têm Edward, Bela e cia. E depois ainda me pedem para não ser saudosista…

  • Agenda Cultural 20 | Nostalgia, Possessões e muita Polêmica

    Agenda Cultural 20 | Nostalgia, Possessões e muita Polêmica

    Sincronizem suas agendas. Flávio Vieira, Felipe Morcelli, Mário Abbade e a estréia do nosso mais novo colaborador: Levi Pedroso (Johnny Depp). Zumbis e vampiros galhofeiros, uma volta do Oeste Selvagem à Fronteira Final e uma pitada de possessão demoníaca nesta edição. Have fun!

    Duração: 78 min.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira

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    Comentados na edição

    Quadrinhos

    Vampiro Americano – Vertigo Edição 10
    Jonah Hex – Marcado pela Violência

    Games

    Trine

    Música

    Iron Maiden – The Final Frontier

    Série

    Boardwalk Empire

    Cinema

    Comer, Rezar e Amar
    Os Vampiros Que Se Mordam
    Os Outros Caras
    The Runaways – Garotas do Rock
    Crítica O Último Exorcismo
    Wall Street 2 – O Dinheiro Nunca Dorme
    Resident Evil 4: Recomeço
    Viral do O Último Exorcismo no Chatroulett

    Produto da Semana

    Oi Girl

  • Resenha | Noturno – Guilhermo Del Toro e Chuck Hogan

    Resenha | Noturno – Guilhermo Del Toro e Chuck Hogan

    Noturno – Guilhermo Del Toro e Chuck Hogan

    Tive a oportunidade de conhecer o livro Noturno em uma livraria qualquer, mas não dei a mínima, até ler um dos nomes estampados na capa do livro: Guillermo del Toro. Pensei comigo: O que del Toro está aprontando com esse lançamento literário? Fiquei um tanto receoso, pois pra quem não sabe, Del Toro é diretor de cinema, apesar de também escrever os roteiros de seus filmes, são mídias bem diferentes, em suas devidas proporções.

    Tenho uma certa “birra” com diretores/roteiristas de cinema que querem bancar os escritores, ou o escritor que quer bancar o diretor (Frank Miller cof cof), porque ambos, não tem domínio sobre determinada linguagem. Escrever um roteiro, para cinema não é a mesma coisa que escrever um livro, e vice-versa, são narrativas diferentes, mas quem consegue caminhar pelos dois mundos merece destaque. De qualquer forma, não resisti e comprei o livro, e não é que gostei?!

    Pra quem não conhece, Guillermo del Toro é o diretor de grandes filmes como Espinha do Diabo, Hellboy, o premiado Labirinto do Fauno entre outros, porém é Chuck Hogan quem dá asas a imaginação de Del Toro passando para o papel todas as idéias do diretor. Não sei detalhes, mas acredito que Del Toro tenha criado um roteiro e Hogan foi desenvolvendo em cima disso, e as coisas fluem bem, apesar de alguns erros. Acredito que devido a presença de Hogan, as coisas tenham fluído melhor como literatura, mas é inquestionável a narrativa fortemente influenciada pela linguagem de cinema de Del Toro, para terem uma idéia, foram produzidos alguns trailers com atores interpretandos trechos do livro (confiram abaixo).

    Noturno nada mais é que uma história de vampiros, mas ESQUEÇA vampiros romantizados de Anne Rice, ou as criações da escritora Stephanie Meyer, esses últimos certamente virariam “pó-de-purpurina” ao se deparar com os as criaturas que aparecem aqui. Del Toro e Hogan prezam pelo grotesco.

    Os vampiros aqui apresentados são completamente diferentes do que estamos acostumados atualmente, aqui eles são seres bestiais, completos animais selvagens, sem glamour nenhum e se assemelham mais a zumbis do que vampiros propriamente dito (há quem diga que vampiros são zumbis, mas espero que tenham entendido a conotação que coloquei). Como diria meu amigo Gustavo Kitagawa: “Em tempos de crepúsculo, uma história assim é bem vinda”.

    O início do livro é bem arrastado, e desanima um pouco o leitor, mas é até compreensível, Noturno vem com a proposta de ser uma trilogia (Trilogia da Escuridão) e talvez por isso, o primeiro volume seja um pouco maçante, devido a toda apresentação do universo e seus personagens.

    Como já havia dito antes, a história tem uma narrativa bastante cinematográfica, o que eu já esperava. Apesar da história focarem três personagens centrais, nos deparamos com outras histórias paralelas de outros personagens trazendo seus pontos de vista sobre a situação, criando uma maior absorção a tudo que está ocorrendo.

    Mas vamos a história propriamente dita. Após um avião pousar em um aeroporto de Nova York com todos os sistemas sem funcionamento e com os passageiros aparentemente mortos sem nenhuma evidência de um crime ou atentado ocorrido. Em decorrência disso, uma equipe de controle de epidemias é enviada ao local para descobrir se houve alguma ameaça biológica que causou a morte dos passageiros.

    Pouco a pouco nos envolvemos com o perigo de uma ameaça biológica mundial, devido a transmissão de um vírus que transformam seres humanos em vampiros. O livro tenta ser crível, colocando o vampirismo como uma epidemia, um parasita que acaba transformando o corpo do seu hospedeiro em um ser bestial sedento por sangue.

    Noturno funciona extremamente bem para se tornar um filme, e espero imensamente que isso ocorra, pois deve funcionar muito melhor nas telonas, não que o livro seja ruim, pelo contrário, tem uma trama envolvente cheia de suspense e personagens bem construídos, porém, tem seus altos e baixos e parece já pronto para um filme (o que evidentemente deve ter sido premeditado). A história começa arrastada e o final um pouco cansativo, mas deixa um bom gancho para uma continuação. Fica claro que o livro poderia ter sido “enxugado” e ser mais objetivo, afinal ele tem mais de 400 páginas e oscila demais entre momentos monótonos e ação frenética.

    De qualquer forma, Noturno está longe de ser um livro ruim, já estou ansioso para o próximo volume da série, só espero que seja desenvolvido melhor da próxima vez. Vamos aguardar.