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  • Resenha | 30 Dias de Noite: Retorno A Barrow

    Resenha | 30 Dias de Noite: Retorno A Barrow

    Um ano após a sequência de 30 Dias de Noite ter sido lançada, a narrativa vampiresca de Steve Niles e Ben Templesmith prossegue em mais uma mini-série. Lançado originalmente em 2004 nos Estados Unidos e em 2006 no Brasil pela Devir, 30 Dias de Noite: Retorno a Barrow retorma ao claustrofóbico ambiente de Barrow, a cidade do Alaska que por 30 dias vive em total escuridão.

    A trama se inicia quando um novo xerife assume o posto da cidade. Brian Kitka era irmão de um dos habitantes, vítima do ataque a Barrow na primeira história. Desde os ataques na cidade, o mundo ainda permanece cético com a existência de vampiros. Mesmo o livro escrito por Stella Ouman, apresentado em 30 Dias de Noite: Dias Sombrios, foi considerado uma obra de ficção, em parte pela ação dos vampiros em evitar que a história ganhasse maior alcance. Ainda sem saber ao certo o que aconteceu, Brian assume o cargo na cidade para investigar o paradeiro do irmão.

    Desde o primeiro ataque a Barrow, os habitantes da cidade se dividem entre aqueles que fogem durante os 30 dias a outros que permanecem e lutam pelo local. Após descobrir um diário do irmão revelando o ataque de vampiros, o xerife e seu pequeno filho tentam sair da cidade mas não encontram nenhum meio de transporte. Não restando outra alternativa a não ser ficar e lutar. Como a progressão narrativa das duas histórias anteriores, a trama é focada no ataque dos vampiros como uma única grande cena. Pouco é retomado da história anterior, Dias Sombrios, a não ser o detetive vampiresco Dane e a informação de que alguém destruiu uma poderosa vampira em um ataque (Stella matou Lilith na mini-série anterior). A ausência de Stella e o marido ressuscitado é estranha porque o leitor sabe que, em algum momento, eles vão surgir em cena para concluir o gancho da trama passada. O roteiro retém as personagens quando poderia utilizá-las.

    Templesmith mantém o mesmo estilo consagrado de seus traços, fazendo do visual da história um de seus pontos altos, representando Barrow como uma escuridão claustrofóbica como se fosse um espaço impossível de fugir. Steve Niles também se mantém alinhado ao próprio estilo, executando os mesmos vícios narrativos das obras anteriores. Ou seja, mantendo a tensão com qualidade mas produzindo um desfecho final resolvido de maneira rápida,  sem expressão. Como é esperado pelo leitor, Estela e Eben retornam brevemente para destruir a nova horda vampiresca e proteger a cidade. Uma aparição reduzida a poucos quadros.

    Entre o visual e o roteiro da saga 30 Dias de Noite há um paradoxo um pouco desequilibrado. Mesmo com imagens tão envolventes e expressivas, os desfechos são realizados de maneira protocolar. A tensão desenvolvida durante a história cessa de maneira brusca como se faltasse planejamento para um ato final mais robusto. Como se faltasse vontade do roteirista em explorar com maior profundidade um final impactante e, nesse momento da história, o casal Eben e Estela. Uma ausência que poderia ser executada com mais foco. As personagens voltariam somente no volume 7 da saga, em uma história dedicada especialmente a mostrar o que aconteceu com a dupla.

    Compre: 30 Dias de Noite: Retorno a Barrow.

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  • Resenha | 30 Dias de Noite: Dias Sombrios

    Resenha | 30 Dias de Noite: Dias Sombrios

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    A narrativa vampiresca criada por Steve Niles e Ben Templesmith prossegue na sequência 30 Dias de Noite: Dias Sombrios. Lançada um ano após 30 Dias de Noite, este novo volume retoma a trama 17 meses após a invasão de vampiros em Barrow, no Alaska. A ex-policial Stella Ouman ainda sofre a perda do marido e, disposta a se vingar do clã que promoveu o massacre na cidade, funda uma equipe especializada para combatê-los, partindo para Los Angeles a procura do líder vampiro.

    A ambientação gráfico-narrativa se mantém com cenas apoiadas intensamente na impressão das cores, mas o efeito sombrio da primeira história, desenvolvida quase totalmente na escuridão, cede espaço para cenas claras e ensoladas de Los Angeles, ainda que não percam o contorno de uma sugestão impressionista quadro após quadro, fundamentalmente composto por traços sujos.

    A personagem de Stella se torna o epicentro para tentar destruir os vampiros e denunciá-los ao mundo. Em um recurso metalinguístico, a história vista em 30 Dias de Noite se transforma na trama de um livro escrito pela policial como um relato vivido. Porém, a mídia e a população considera uma história de ficção, ainda descrentes da existência dos seres sugadores de sangue.

    Focado em trazer ação ao leitor em vez de desenvolver uma longa investigação, os vampiros são revelados por Stella em uma armadilha, mostrando seu plano como caçadora de vampiros. Em paralelo, surge em cena um outro personagem vampiresco que contrabalanceia a visão bestial destes seres. Compartilhando algumas visões do grupo de vampiros, bem como a mística história de reviver um vampiro a partir de suas cinzas, a dupla forma uma improvável parceria em que Stella deixa de lado, momentaneamente, a lembrança do marido falecido.

    Como na HQ anterior, o desenvolvimento do último ato é rápido em contraposição as outras partes da trama. A ação parece ter sido feita as pressas, fator que retira parte do impacto dos acontecimentos. Porém, aponta um futuro horizonte para a história da batalha entre vampiros e humanos. E o gancho da última cena demonstra que a narrativa não só se expande como desequilibrará o maniqueísmo entre vilões e mocinhos.

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  • Resenha | 30 Dias de Noite

    Resenha | 30 Dias de Noite

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    Dentre os diversos seres místicos e mitológicos fundamentados através dos tempos, e em diversas caracterizações, os vampiros são aqueles que se tornaram mais populares. Sempre retratada em produções diversas, desde a mais clássica, como no romance de Bran Stoker, a adaptações contemporâneas de drama e terror, a figura do vampiro se destaca por sua essência, normalmente vista como um amaldiçoado que, distante da luz do sol, deve sobreviver de sangue alheio. Muitas criações transformaram-no em seres góticos e estilosos, uma caracterização física que também tornou-se comum. O apelo de seres vampirescos é inegável, mesmo quando estão presentes em obras denegridas por muitos leitores, caso de Crepúsculo.

    O roteirista Steve Niles, de Spawn, e o desenhista Ben Templesmith produziram uma genuína obra de terror que tem como enfoque os sugadores de sangue. Boa parte da potência narrativa está em sua ambientação, na pequena cidade de Barrow, Alaska. Um local isolado que, não coincidentemente, permanece trinta dias sem a luz solar. Essa difícil passagem de tempo é considerada como um dos momentos mais rígidos entre seus moradores, e desta forma até mesmo bebidas alcoólicas são proibidas nesse período. Quando o último pôr do sol traz escuridão para o local, um grupo de vampiros surge para atacar a cidade.

    A arte de Templesmith é bem diferente do que leitores de quadrinhos estão acostumados. São traços suaves que beiram a abstração, como se estivéssemos diante de telas de pintura em que a cor preta predomina, e algumas pinceladas dão os traços às personagens e contam a história. Esta percepção aguça a sensação de uma trama atmosférica, um conceito presente em outras histórias de terror representadas aqui pelos traços escuros e não muito definidos, dando-nos impressões sobre cada acontecimento. Quadros que, mesmo que sejam objetivos, ainda merecem observação e interpretação do leitor.

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    Sem delongas, a trama segue a história de um grupo que tenta sobreviver até a chegada do sol. Aos poucos, a tribo vampiresca desola o local e a fome e o cansaço deixam os habitantes cada vez mais ilhados no meio do medo e da escuridão. Os vampiros são caracterizados como caçadores, um grupo que, mesmo mantendo uma certa estética visual, é formado por animais à procura de alimento. O encontro em Barrow foi realizado após uma pesquisa do melhor local para caçar sangue humano. A tensão dos humanos se expande também para o grupo de vampiros, com a chegada de um chefe local que considera incoerente um massacre em uma cidade desolada quando, por muitos séculos, os vampiros tentaram manter-se às escondidas. Demonstra-se, assim, o quanto esta história ainda segue a tradição do mito do vampiro fundamentado por narrativas anteriores.

    Mesmo neste jogo de sobrevivência, o final cede para o conceito da personagem herói, simbolizada por Eben, o xerife da cidade. Cabe à personagem se assumir como aquela que destruirá os vampiros, modificando um pouco uma trama de terror. Por outro lado, diante de uma situação limite como essa, é difícil encontrar uma saída satisfatória que não fosse heroica. Assim, mesmo com um recurso comum, a história mantém sua coerência e produz um breve drama antes do fim.

    A edição da Devir não apresenta os dados de cada edição, dando-nos a impressão de que se se trata de uma série única, quando, na verdade, é composta por três edições americanas. Lançado em papel brilhante couché, o material da edição é um acerto em razão da arte escura da obra, que ficaria incompleta ou apagada em um papel de qualidade inferior. Uma arte que merece ser apreciada tanto pela competência do desenhista como pela capacidade de se fundir com a história narrada, e também representar a atmosfera agonizante do local.

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  • Resenha | Fell: Cidade Selvagem

    Resenha | Fell: Cidade Selvagem

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    Fell é uma daquelas HQs com uma premissa simples mas muito bem desenvolvida. Também pudera, os responsáveis por ela são ninguém menos que Warren Ellis e Ben Templesmith, dois talentos incontestáveis em suas respectivas áreas.

    Ellis se tornou um dos grandes escritores e hoje em dia figura ao lado de grandes nomes do gênero como Alan Moore Neil Gaiman. Sua engenhosidade emparelha-se as suas bizarrices. Independente do trabalho que seja responsável, o autor sempre tende a revolucionar o universo que escreve, e por onde passou, deixa uma série de fãs, amantes de seu trabalho.

    Em Cidade Selvagem (Fell, no original), Ellis cria um misto de trama noir com terror psicológico  bem desenvolvido. Os desenhos de Templesmith, habituado a desenhar história de Terror como 30 Dias de Noite, têm papel fundamental na obra casando perfeitamente com o objetivo final da história.

    Após um incidente que envolve seu parceiro, Richard Fell é transferido para Snowtown, uma cidade sombria, suja e violenta, onde até mesmo seus habitantes aceitam resignados sua decadência. A trama foca o dia a dia do policial indo fundo na putrefação da cidade, confrontando seus receios e compreendendo melhor seus habitantes, uma escória variada como psicopatas, suicidas e pedófilos. A cada dia observamos sua paranoia crescer mais e mais.  A cidade corrompe a todos como uma droga, porém, Sem nenhum estase. Sugando os habitantes com sua opressão e subtraindo deles a sanidade.

    As histórias de Cidade Selvagem são fechadas, trazendo em cada volume uma trama distinta com início, meio e fim. Também merece destaque o fato de que cada história tem menos de 20 páginas. O autor quis lançá-las dessa forma para vender cada edição por um preço menor (lá fora cada edição foi vendida por $1,99). Mesmo com poucas páginas, o material tem boa qualidade e a narrativa de Ellis e a arte de Ben são sensacionais.

    Recomendado para aqueles que gostam de uma boa história policial que vai na contramão dos clichês das grandes editoras e também pela grande iniciativa dos autores de colocar um material com essa proposta disponível por um preço tão baixo no exterior.

    Compre: Fell.