Tag: Warren Ellis

  • Crítica | Red 2: Aposentados e Ainda Mais Perigosos

    Crítica | Red 2: Aposentados e Ainda Mais Perigosos

    Red 2: Aposentados e Ainda Mais Perigosos também começa com os créditos iniciais referenciando a revista da DC Comics, com o traço característico, mostrando Frank Moses (Bruce Willis) lidando com seu par, Sarah (Mary Louise Parker) um mercado mega store, despreocupadamente, quando é interrompido por seu velho amigo Marvin (John Malkovich), para que retornasse a agencia de super espiões. Eis que o antigo amigo do protagonista sofre com a explosão do carro e o  chamado a aventura passa a ser algo impossível de ignorar. A forma como o roteiro de Jon Hoeber e Erich Hoeber lida com a recusa do protagonista é inteligente, ainda mais em se tratando de uma adaptação de quadrinhos.

    A ação que se segue após a sequencia inicial é frenética, e Willis se mostra muito bem fisicamente para esse tipo de historia, que não exige dele mais do que ser um sujeito forte mas que entende as limitações que a idade lhe impõe. 2013, o ano de lançamento desta continuação é o mesmo de Duro de Matar:  Um Bom Dia Para Morrer, e nesse capitulo cinco da saga de John McLane claramente não há o mesmo nível de comprometimento do interprete e nem de veracidade e fidelidade com o personagem, apesar de que a adaptação dos quadrinhos de Warren Ellis e Cully Hammer seja caricata e irreal também, mas dentro dessa proposta, funciona.

    O modo que Dean Parisot conduz o filme é baseado demais em um caráter super estiloso, que põe os personagens que são preparados ou não para o trabalho de super espiões para fazer proezas mil e para serem heróis de ação custe o que custar. Isso evidentemente tem um preço, a suspensão de descrença é completamente abdicada, mas em um produto que mira ser um pastiche das historias em quadrinhos isso não é exatamente um problema.

    Mesmo a exploração de clichês baixos, como a ressurreição de personagens e crises de ciúmes de outros é bem justificada, pelo fato do texto final não se levar a sério. Red 2 usa e abusa do escapismo e de algumas breguices, mas isso em nada denigre o resultado final, e apesar de esse não ser superior a Red: Aposentados e Perigosos, as cenas de ação são muito boas e o conteúdo é divertido e entretém sem dúvida nenhuma.

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  • Resenha | John Constantine, Hellblazer: Assombrado Vol. 1 – A Mulher Escarlate

    Resenha | John Constantine, Hellblazer: Assombrado Vol. 1 – A Mulher Escarlate

    John Constantine teve algo muito próximo do que podemos chamar de uma “vida feliz” durante a passagem do roteirista Paul Jenkins nos sete volumes de Hellblazer publicados pela Panini durante a fase Demoníaco. Infelizmente para o mago, o leitor não é apresentado a histórias tão interessantes quando sua vida é cercada por amigos e uma namorada companheira. Assim, logo no fim de sua fase, Jenkins trata de dar um fim a essa vidinha feliz e John, como sempre, põe tudo a perder, abrindo caminho para Warren Ellis assumir o título em seguida com a curta fase batizada de Assombrado.

    Ellis faz um excelente trabalho nesse volume ao pegar um ponto de partida para o personagem que não deixa para o leitor novato a necessidade de ter lido a série anteriormente. O primeiro arco de seis histórias conta como a vida de John Constantine é jogada na sarjeta quando ele investiga o brutal assassinato de sua ex-namorada Isabel Bracknell. Ao se aprofundar no submundo do crime londrino, John recebe uma surra de “aviso” dos comparsas do assassino — que também é um mestres das artes ocultas — e passa boa parte do volume se recuperando e planejando sua vingança. Isso porque o fantasma de Isabel continua se manifestando em Londres, o que significa que sua alma está atormentada e ainda não conseguiu concluir a passagem para o além.

    O texto de Ellis é maduro e bastante sóbrio, o que faz com que certas passagens de extrema violência se destaque — principalmente sob o lápis de John Higgins, que consegue retratar um Constantine quarentão de forma bastante acertada. Aliás, é interessante como a passagem do tempo é retratada pelo roteirista, que faz questão de mostrar que o personagem segue envelhecendo normalmente e não está congelado no tempo como outros personagens da DC Comics, que nunca saem da faixa dos trinta. A ambientação também faz claras referências ao final da década de 1990 (em que a história foi publicada), com Friends passando na televisão ou jornais anunciando homenagens póstumas à Lady Di. Além disso, temos um excelente trabalho de pesquisa sobre ocultismo realizado pelo autor, que faz seu vilão ser um seguidor de Aleister Crowley. O assassinato de Isabel teria fortes ligações com a obra de Crowley e faz com que o vilão seja muito verossímil, assim como a magia nesse arco está longe de ser feitiços lançados com pirotecnia, como na versão de Constantine dos Novos 52.

    Essa ligação de Ellis com acontecimentos atuais, na época, acabou resultando no cancelamento prematuro de sua passagem pelo título. Devido ao massacre de Columbine em 1999, uma de suas histórias acabou sendo censurada pela DC/Vertigo, e o roteirista interrompeu seu trabalho na editora. Por esse motivo, a fase Assombrado tem apenas dois volumes (diferente dos sete ou oito das fases de outros autores). Uma pena, pois A Mulher Escarlate é uma das melhores histórias de Constantine já publicadas.

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  • Resenha | Stormwatch – Volume 4

    Resenha | Stormwatch – Volume 4

    Stormwatch - Vol 4 - Warren Ellis

    A fase de Warren Ellis para a equipe Stormwatch chega ao fim revelando uma boa coesão narrativa em suas frontes. O roteirista soube conduzir o público a grandes histórias e iludi-lo com argumentos e ganchos, causando grande expectativa para quebrá-las de maneira brutal. Quando imaginávamos que estaríamos no início de uma grande saga, havia um desfecho simples ou um momento que se tornaria desimportante para a trama em geral. Há claramente um plano narrativo maior, o qual se desenvolve em sua passagem pelo título.

    Stormwatch – Volume 4 marca a ação em torno de dois novos personagens revelados ao público, bem como apresenta um importante recurso hoje inserido na cronologia da DC Comics: a Sangria. Ambos são importantes para o futuro da série e se apresentam de maneira eficiente para que novas histórias sejam apresentadas. Como parte fundamental do tecido que permeia as realidades, a trama espelha outra equipe semelhante a Stormwatch questionando sobre a importância do grupo e sua atuação: defender um mundo paralelo faz parte de suas funções?

    Sem medo de perder protagonistas ou futuros prováveis ganchos, a trama perde personagens, encerra situações sem nenhum pudor visando um argumento maior, sempre ampliando os conceitos anteriores. Assim, quando a revista se encerra, abre-se a possibilidade para grandes argumentos futuros, realinhando a equipe em uma dimensão cada vez mais épica e plausível dentro da proposta.

    Stormwatch, a revista, foi responsável pela criação de Authority, dando continuidade narrativa a esta história e demonstrando como o roteirista planejou a longo prazo o desenvolvimento da trama. Desde seu início, a série apresentou uma narrativa excelente e desenvolvia discussões pontuais sobre a política e o poder, centrados na figura do homem do tempo, e a análise entre necessidade e abuso de poder. Concebidos como uma trama heroica realista, os quatro volumes lançados no país, compondo toda a passagem de Warren Ellis pelo título, é um primor narrativo que, sem dúvida, situa-se como uma das melhores HQs publicadas da década de 1990.

    Stormwatch - vol 4 - 01

  • Resenha | Stormwatch – Volume 3

    Resenha | Stormwatch – Volume 3

    Stormwatch - Vol 3 - Warren Ellis

    De maneira estratégica, a Panini Comics optou por inserir neste terceiro volume encadernado de Stormwatch o último número do primeiro volume americano da série, ao invés de publicá-lo em Stormwatch – Volume 2. O argumento, que parecia ser o grande conflito a ser desenvolvido durante revistas futuras, é encerrado com qualidade logo na primeira história. O roteirista Warren Ellis demonstra que não tem medo do novo em sua série. Assim, apresenta novos desafios aos seus heróis, mata parte das personagens, reconfigura novamente a equipe e ainda acaba definitivamente com os planos alternativos do líder, Homem do Tempo.

    Encerrado o primeiro volume original das aventuras, uma edição única intitulada preview apresenta o novo Stormwatch. O destaque anterior dado a Jackson King, o Batalhão, é justificado nesta fase. Afinal, a personagem é o novo Homem do Tempo. Embora diferente em caráter, a vertente política ainda predomina na história e, com isso, o novo líder é obrigado a confrontar diretamente os problemas de seu antecessor, reconhecendo que, na prática, as leis de protocolo são delicadas quando há a necessidade de ações de contenção rápidas.

    Agora com maior atenção na mídia, o que garante para a equipe uniformes repaginados para uma representação ideal de heróis populares, o grupo lida com a denúncia de uma série de experiências genéticas conduzidas no interior dos Estados Unidos por alguém desconhecido que deseja criar novos super-seres. Não há nenhum vilão aparente, mas sim homens que representam esferas políticas ou grupos sociais que desejam o lucro diante de acontecimentos mundiais. A composição da narrativa é hábil em manter a tônica heroica sem perder a visão realista de conflitos mais delicados e obscuros do que a clássica batalha entre mocinho e vilão.

    Sem medo de inserir novos argumentos, a trama também revela um novo grupo de Stormwatch, mantido às escondidas por Henry Bendix e desenvolvido para tratar de assuntos não-oficiais, quando a ONU não seria capaz de intervir. Elementos que, mais uma vez, questionam o limite de autoridade e legalidade diante de um grupo heroico com personagens que serão fundamentais para o futuro da equipe, e desenvolvidos com maior destaque no último encadernado.

    Stormwatch – Volume 3 mantém a qualidade dos encadernados anteriores e, principalmente, se destaca pela capacidade de desenvolver novos argumentos e surpreender o leitor, sem perder a tônica de uma trama madura e realista.

    Stormwatch - Volume 3

  • Resenha | Cavaleiro da Lua – Vol. 2

    Resenha | Cavaleiro da Lua – Vol. 2

    Cavaleiro da Lua - 2 - capaO segundo volume encadernado lançado pela Panini Comics, da fase Totalmente Nova Marvel de Cavaleiro da Lua, confirma a especulação proposta na análise de Cavaleiro da Lua nº1 ao afirmar que o início de Warren Ellis foi um primeiro movimento para fundamentar a personagem através da ação e conquistar os leitores.

    A partir dessa edição que compila os números 7 a 12, os roteiros são assinados por Brian Wood (Vikings) e a arte alternada entre Giuseppe Camuncoli e Greg Smallwood. Graficamente, a concepção permanece a mesma, com Marc Spector e seus diversos alter egos em figurinos brancos, sem nenhuma coloração. O padrão de cada página também se mantém com uma quantidade maior de quadros, priorizando a ação visual.

    As primeiras duas histórias do encadernado aparentam um desfecho evidente mas simbolizam um movimento novo para para a personagem. Devido a uma incursão de resgate realizada pelo herói, Marc Spector se torna procurado da Justiça e, por isso, perde o totem de seus poderes. Esta citada história, Retalhador, merece destaque pela narrativa, desenvolvida somente com registros de aparelhos eletrônicos, câmeras de vigilância e celulares, em um estilo found footage, recuperando a ação dos acontecimentos a partir destas gravações. Considerando que Ellis foi o primeiro roteirista dessa fase e também fez movimento parecido na década de noventa em Stormwatch, é possível que Wood tenha se inspirado nesta história para produzir este estilo ousado e capaz de manter um bom apelo gráfico.

    Se inicialmente o Cavaleiro tinha um status quo heroico, neste volume ocorre sua desconstrução. Seus poderes são negados pelo deus da lua Konshu. Acusado do ataque terrorista que tentou impedir, Spectre é preso e se vê obrigado a se salvar sem a força da entidade. O drama ajuda a desenvolver a personalidade da personagem, aspecto que, normalmente, se desenvolve somente em seus casos esquizoides. Ainda que seja um argumento característico dos quadrinhos, o herói obrigado a viver sem seus poderes, a trama se sustenta pelo carisma bem desenvolvido nesta fase, demonstrando como foi certeiro o planejamento de atrair o público pela ação e, em seguida, desenvolver uma trama maior sobre poder e queda.

    Esta fase se conclui no próximo encadernado, porém é notável o quanto os dois roteiristas até aqui conseguiram reafirmar a personagem dentro da Marvel em uma abordagem que fugiu de um grande evento espetacular. Focando em uma ação precisa e sendo pontual em abordar o drama para destacar o personagem.

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  • Resenha | Cavaleiro da Lua – Vol. 1

    Resenha | Cavaleiro da Lua – Vol. 1

    Cavaleiro da Lua - Volume 1

    A construção de Cavaleiro da Lua sempre foi difícil devido a seu histórico psicológico, pautado em múltiplas personalidades, e a semelhança com a base de outros protagonistas, um milionário que ostenta um arsenal heroico. Criado por Doug Moench e Don Perlin e inserido como parte do heróis urbanos da Marvel, o personagem alterna revistas próprias e participações em diversas edições da casa, nunca atingindo um destaque definitivo.

    Em 2011, Brian Michael Bendis e o parceiro desenhista Alex Maleev relançaram-no em nova revista mostrando argumento que dialogava com outros três grandes personagens do estúdio, história cancelada após doze edições. Após esse período, o alterego de Marc Spector permaneceu como coadjuvante, participando da revista de Demolidor em apoio ao herói na saga Terra das Sombras, estrelando a equipe de Vingadores Secretos liderada por Steve Rogers, aliando-se a personagens famosos mesmo sem destaque próprio, além de participar da saga A Era de Ultron.

    Em sintonia com um novo começo da editora com Totalmente Nova Marvel, O Cavaleiro da Lua retorna em mais uma tentativa de conquistar popularidade e um novo público. Criador de grandes obras adultas para o selo Vertigo e outras histórias autorais, bem como da própria fase dos Vingadores na qual o Cavaleiro participou, Warren Ellis retoma a personagem nos seis primeiros volumes desta nova fase em edição publicada pela Panini Comics diretamente em formato encadernado.

    O roteirista evita qualquer recomeço narrativo utilizando o repetido conceito de uma origem, optando por apresentar a personagem através de seus talentos de investigador. As seis histórias do encadernado são fechadas, focadas em missões específicas de Marc Spector, agora dividido entre duas personalidades heroicas, o conhecido Cavaleiro da Lua e Mr. Knight, ajudando a polícia local. No interior destas investigações, há a inserção de conceitos base sobre a personagem, a origem de seu poder partindo de um totem egípcio, e a loucura gerada a partir deste poder, responsável pelas diversas personalidades de Spector.

    A intenção desta nova fase é conquistar o público pela ação enxuta, bem executada pelo roteirista que trabalha com qualidade o ritmo e a quantidade de informação inserida a cada página, levando em conta o limite máximo de vinte e cinco páginas. O formato de uma história fechada a cada edição se diferencia do mercado atual, apoiado em demasia em séries e arcos longos. Os traços de Declan Shalvey com cores por Jordie Bellaire ganham destaque na figura central. Como o manto trajado é branco, a dupla optou por evitar qualquer pintura em seu interior, deixando-o inteiramente preto e branco em cena, um conflito de cores que causa impacto e, de maneira simples, potencializa sua força e a mística em torno de sua figura.

    Ennis foi escolhido devido a seu talento como roteirista e a seu nome, que carrega um histórico narrativo de sucesso. Sua intenção é promover um background de histórias de aventura para conquistar os leitores. Como elas não são interligadas, a leitura flui ainda que o formato, se seguido a longo prazo, possa se esgotar. Como um recomeço, o escopo da ação é uma abordagem interessante, ainda que seja necessário, em algum momento, um conflito maior e coerente para a personagem.

    A nova versão de Cavaleiro da Lua durou dezessete edições e foi publicada no exterior posteriormente em três encadernados que a Panini Comics deve lançar na íntegra (o segundo volume foi lançado recentemente). Atualmente, uma nova revista se inicia pela Marvel com  Jeff Lemire e Greg Smallwood na equipe. Entre cancelamentos e releituras, a personagem se mantém ativa.

    Cavaleiro da Lua - Ellis - 01

  • Resenha | Stormwatch – Volume 2

    Resenha | Stormwatch – Volume 2

    Stormwatch - Volume 2 - capa

    Após apresentar uma sólida versão da equipe criada no selo Wildstorm por Jim Lee, Brandon Choi, H. K. Proger e Ron Marz, o roteirista britânico Warren Ellis desenvolve, simultaneamente, um primeiro arco narrativo enquanto explora três histórias solo sobre personagens. A primeira aventura publicada no volume 1 desta coleção lançada pela Panini Comics apresentava uma reestrutura tanto da trama quanto dos personagens, inserindo novos integrantes e difundindo-as em três equipes distintas para trabalharem em frontes diferentes.

    Neste segundo volume, que compila as edições #43 a #49, o roteirista apresenta maior estrutura a dois de seus novos personagens: Jenny Sparks e Jack Hawksmoor, em histórias solos que apresentam o passado de um e a motivação de outro. Um aspecto fundamental para gerar identificação e para que os leitores da época compreendessem melhor tais membros inseridos na trama nesta nova fase. Ellis omite a origem de uma destes novos integrantes, Rose Tattoo, escondendo uma revelação posterior, porém amplia a atuação de Jackson King, o Batalhão, também em uma história solo.

    Do ponto de vista narrativo, duas histórias merecem destaque. A primeira inserida nas histórias solo sobre o passado de Jenny Sparks. Como um dos personagens mais antigos da equipe, nascida em 1900, o surgimento da heroína é anterior ao chamado Efeito Cometa, responsável por transformar parte da população em superseres. Ao narrar sua história, Sparks pontua estes acontecimentos situados em sua trajetória. Como a fase de Ellis é considerada o ponto de inicio definitivo da série – nem mesmo há compilados de fases anteriores – é coerente que o autor situe o público sobre a origem heroica da equipe.

    Enquanto este roteiro é bem desenvolvido entre o passado da personagem e a origem dos superseres, os desenhos acompanham a sequência evolutiva dos quadrinhos em estilos diferentes. Inicialmente, composto em preto e branco, para cores intensas até uma colorização contemporânea com sombreamentos e apoiada em um maior realismo. É interessante como as transformações visuais dos quadrinhos atravessam a história, promovendo uma ligação extratexto com o leitor.

    A segunda história de destaque apresenta uma missão da equipe, após três edições solo. Ellis demonstra inovação ao criar sua trama a partir de um relatório do Homem do Tempo, inserindo tanto seus comentários como transcrição dos áudios captados na comunicação durante a missão. A história utiliza somente este texto como narração e as imagens se representam em quadros ilustrativos, uma espécie de narrativa cinematográfica crua, como um story board. Como a equipe está em meio a um ataque, as breves informações textuais inseridas causam urgência na leitura.

    O primeiro grande arco da série é desenvolvido também neste volume, marcando a origem do grupo alternativo Autoridade que se contrapõe ao Stormwatch em ideologia. O roteiro conduz a dúvida, questionando se a perspectiva do grupo heroico central é válida e se a atuação da equipe é, de fato, coerente e legal do ponto de vista sócio-moral. A figura do Homem do Tempo, líder do grupo, se mantém ambígua e o surgimento desta outra equipe suscita a dúvida sobre a própria índole das personagens conhecidas. A trama suspende o conceito heroico e, provocativa, intenta implodir este conceito de um preto e branco relacionado a super-heróis, demonstrando que, em um universo envolvendo uma equipe que age de maneira político-mundial, nada é tão transparente.

    Stormwatch: Volume 2 revela um crescimento narrativo evidente que explicita a proposta de Ellis ao conduzir a equipe. No próximo encadernado, o Volume 1 da série original se encerra para, novamente, o grupo entrar em nova fase.

    Stormwatch - Volume 2

  • Resenha | Stormwatch – Volume 1

    Resenha | Stormwatch – Volume 1

    Stormwatch - Vol 1

    Criado na editora Wildstorm, selo independente de Jim Lee, em 1993, a série Stormwatch sofreu mudanças significativas quando Warren Ellis assumiu o roteiro na edição 37. O britânico deu nova estrutura ao conhecido grupo comandado pelo Homem do Tempo, acrescentando maior densidade em sua narrativa, permanecendo até o final do título quando a DC Comics adquiriu os direitos da obra e inseriu-a em seu universo.

    Lançado pela Panini Comics, Stormwatch – Volume 1 é o primeiro de quatro edições que reúnem toda a fase do roteirista à frente da revista, sendo este primeiro número uma compilação das seis primeiras histórias. Ao público que desconhece a origem do grupo, não é necessária nenhuma apresentação anterior. Na primeira história, as equipes são realinhadas, novos personagens surgem e antigos membros da equipe saem de cena ou ganham nova função, e a base necessária é apresentada de maneira enxuta: vivendo em um satélite na órbita da Terra, a equipe dos Stormwatch, criada pelas Organização das Nações Unidas, atende qualquer chamado para conter crises.

    A visão mundial da época do lançamento original das edições demonstra variáveis em relação a percepção contemporânea. Tal afirmativa advém tanto da concepção do roteiro quanto da arte. Distante da era da informática em que o mundo se mantém conectado, a visão de uma equipe centralizadora e vigilante parecia mais urgente do que hoje. A personagem do Homem do Tempo, mesmo líder do grupo, adquire contornos dúbios como alguém além de um mero observador. Ainda que realize ações de contenção e viva sob um protocolo heroico, a personagem demonstra ganância diante da contenção de tanto poder e informação. Uma característica que parecia proeminente para um vilão da ficção mas que hoje soa profético devido ao fato de grandes países guardarem informações sobre seus próprios cidadãos, e a internet mantida sob vigia constante. Alguns aparatos tecnológicos especulados na época soam datados, mas funcionam dentro do conceito ficcional da trama.

    Da mesma forma, a arte de Tom Raney mantém também o marco temporal, representando o ápice do estilo Image de personagens estilizados em corpos perfeitos e cenários com poucas sombras e excesso de informação e cores. Embora algumas cenas de ação sejam perceptivelmente mal realizadas, sem uma continuidade possível de ser interpretada, os traços mantêm coerência com a narrativa e, mesmo causando possível estranhamento no leitor que não acompanhava quadrinhos na época, são bem delineados nesta vertente.

    As seis histórias que acompanham este primeiro encadernado contêm histórias fechadas, fundamentando as três equipes Stormwatch criadas por Ellis: Prime, Red e Black, cada uma voltada a um tipo de apoio diferente, difundindo frontes diversas e ampliando a possibilidade do autor desenvolver tramas diferentes com formações distintas. É evidente que há uma trama que perpassa as histórias com um viés político, apresentando uma crítica à possível ideologia totalitária de vigilância de países. Ao mesmo tempo, nascia nesta revista – em edições posteriores –  o conceito da Sangria, fundamental também na história do Planetary e que hoje faz parte do tecido que permeia o espaço interdimensional multiverso da DC Comics, a editora a qual reintegrou a equipe.

    Bem-sucedida desde seu lançamento, Stormwatch é uma grande história, demonstrando a qualidade costumeira de Ellis em compor, a partir dos quadrinhos, uma narrativa densa cuja aventura se desenvolvia em paralelo a temas mais profundos, sem perder força em nenhuma destas vertentes.

    Stormwatch - Volume 1

  • Resenha | Batman e Planetary: Edição de Luxo

    Resenha | Batman e Planetary: Edição de Luxo

    Batman Planetary

    Criado em 1998 pela dupla Warren Ellis e John Cassaday, Planetary surgiu dentro do selo criado por Jim Lee nos anos 1990, Wildstorm, que a princípio integrou as editoras independentes que vieram a formar a Image Comics. Posteriormente, o selo veio a ser adquirido pela DC Comics no final dos anos 1990, e foi ali onde as histórias dos arqueólogos do impossível vieram a ser publicadas e conhecidas ao grande público de quadrinhos.

    Nos idos de 2003, após um longo hiato nas publicações de Planetary, a DC percebeu que seria melhor alguma estratégia comercial e editorial para promover o retorno da série. Para tanto, decidiu utilizar o seu carro-chefe, Batman. O crossover realizado entre o morcego e os arqueólogos se deu em uma edição especial escrita e desenhada por Ellis e Cassaday, respectivamente, e trazia a organização Planetary à caça de um assassino paranormal.

    Com a investigação em curso, Snow, Jakita e Baterista partem para Gotham City em busca do suposto assassino. Ocorre que, na linha temporal da organização, Gotham não possui vigilantes, muito menos um Cavaleiro das Trevas que seja responsável pela segurança da cidade. Contudo, ao se depararem com o assassino, a equipe descobre que ele possui um poder fora de controle de manipular realidades, alterando a linha temporal em curso e os colocando frente a frente com outras versões de Gotham, e claro, do cruzado encapuzado.

    Partindo de um argumento simples, Ellis desenvolve o roteiro numa pequena história envolvendo suas criações e diversas facetas do Batman ao longo de sua história, aliás, são esses “Batmen” de diversas linhas temporais o grande diferencial da trama e a forma como o autor escreve cada uma delas é de admirar. Apesar de poucas páginas, a trama é competente e consegue criar um ótimo crossover que vai além do costumeiro embate entre protagonistas para que depois se unam para enfrentar o verdadeiro antagonista da trama. Logicamente, Batman / Planetary está longe do nível de complexidade empregado pelo autor quando à frente de suas criações, mas entendendo a proposta do material é louvável o que nos é apresentado.

    Se o roteiro de Ellis trabalha muito bem com a simplicidade do argumento que tem em mãos, Cassaday extrapola. Tendo poucas personagens e um cenário mínimo, a história se passa quase que exclusivamente em um beco de Gotham, Cassaday desenha as diversas versões do Batman criadas por diversos artistas, como seu criador, Bob Kane, e também Neal Adams, Frank Miller e até mesmo um versão do seriado da TV dos anos 60, sempre com personalidade própria em cada um desses quadros, personagens e ambientações.

    Longe de ser um caça-níquel típico de crossovers entre heróis, Batman / Planetary traz Ellis num roteiro simples e sem grandes discussões ou divagações, mas bem desenvolvido em um pequeno número de páginas. Além disso, a arte de Cassaday é um dos pontos altos de sua carreira artística.

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    planetary batman frank miller

  • Resenha | Planetary: Deixando O Século 20 – Vol. 3

    Resenha | Planetary: Deixando O Século 20 – Vol. 3

    planetary vol 3

    Deixando de lado a introspecção de Snow, vista na última edição de O Quarto Homem e voltando, logo no início, para uma diferente linha temporal, Planetary em seu terceiro volume mergulha numa referência aos crossovers que ficaram famosos pelas mãos de Alan Moore em Liga Extraordinária. A Alemanha de 1919 contém referências de Fritz Lang a Bram Stoker e demais cientistas loucos, desde Frankenstein até Médico e Monstro, com humanoides de aparência grotesca que atacam o protagonista centenário.

    Assim como o clima da Era Vitoriana, o barroco e gótico se misturam na arquitetura da mansão invadida, ecos vindos através do mitológico personagem encarado pelo grisalho homem. O novo século foi cruel com o velho detetive. Sherlock Holmes apresenta seu semblante cadavérico, uma sombra do homem que já foi, mas em momento algum demonstra ser subestimável, apesar da necessidade, a pedido de seus sócios, de ter consigo um guarda-costas sobrenatural, sendo esta uma figura das mais inconvenientes.

    A experiência de Holmes serviu para que Snow conseguisse seu objetivo em esmerar-se no ofício detetivesco, bebendo direto na fonte, consultando o maior membro da classe. O quarto homem prosseguiu ao lado de Sherlock até que seus olhos se fechassem, até que a velhice desse seu último golpe, encerrando a existência do bravo homem, que tinha desgosto de perceber o sotaque do seu pupilo, mas que teve seu testamento vivo nas atitudes do seu último aluno.

    Ambrose, Jakita e Batera são mostrados em ação em flashs, que contemplam suas ações além de uma invasão à base do Planetary. Os lapsos referem-se às sinapses da confusa mente de Snow, exibindo momentos na mesa de cirurgia do Dr. Dowling no momento em que a mente do líder seria apagada. As bravatas de Snow eram enormes, com ameaças violentas ao grupo de que eles encontrariam a morte caso ele voltasse a ter suas lembranças. Partes do segredo vão aos poucos sendo revelados. A ordem de não permitir que os “desgraçados vençam” demonstra todo o temor que acomete o imaginário e o planejamento do misterioso mentor do quarteto.

    Os motivos da censura à própria mente não são revelados de modos instantâneo, pelo contrário, os elementos exibidos somente confundem mais o leitor, especialmente os que lembram artefatos mágicos e armas semelhantes às usadas por divindades místicas. Elijah assemelha-se aos imortais não somente por sua idade avançada, mas também por todo o misticismo que envolve sua persona.

    Ainda resgatando as lembranças, a parada que Snow e Wagner fazem é na viúva de Ambrose, que busca dar qualidades financeiras para tentar aplacar a dor da perda de seu antigo subalterno, prestando homenagens ao falecido agente, declarando a sua parentela todo o seu caráter heroico. Após isto, ele encontra-se com Alex Brass sem nenhum motivo aparente a não ser a vontade em se inspirar antes de entrar em ação novamente. Elijah buscava em suas figuras de exemplo a força que não encontrava em si, uma vez que sua identidade ainda permanecia incógnita.

    A inspiração no desbravador Carlton Marvell aumenta a sensação de carência no protagonista, que fazia até de um desconhecido o impulso e estímulo para lutar contra as figuras dantescas e milenares.

    O trabalho artístico de Cassaday continua como um dos pontos mais altos da publicação, variando de estilo com uma facilidade atroz, especialmente nas referências visuais a diferentes partes do globo. As cores de Planetary fazem eco com a realidade e com a contemporaneidade; aquarelas belíssimas que também dão um tom de clássico, condizente com todo o resgate de objetos canônicos da cultura pop que Warren Ellis sempre tenciona mencionar.

    Kevin Sack, um dos alteregos de Elijah, investigava uma área florestal nos anos 1930 quando encontrou o aventureiro descamisado Lord Blackstock. Opark-Re é uma vila futurista, composta por negros de tecnologia muitíssimo avançada, cuja economia era baseada nos mandamentos de Marx e Engels. O Fantasma do Século XX é marcado de modo emocional, cuja lembrança precisa ser revisitada em virtude do apagão de sua psiquê, o que ajudaria ainda mais a esconder a origem de outra personagem, além de referenciar a catástrofe de inúmeras civilizações perdidas, como Atlântida.

    Após ter um encontro com John Stone, Elijah recebe a notícia de que seu nêmese está por perto, e ele poderia enfim ter sua vingança, mas, para isso, precisaria se livrar de seu orgulho e aceitar a ajuda de seus parceiros. O Dr. Randall Dowling é vencido com uma grande facilidade. O foco de interesse na última edição fica por conta do romance Da Terra à Lua, obra em que Julio Verne teria fantasiado toda uma expedição interespacial do Clube da Arma Americana, cujo final foi trágico, diferente demais do desfecho literário e semelhantes aos análogos reais da cruel existência do homem na Terra.

  • Resenha | Planetary: O Quarto Homem – Vol. 2

    Resenha | Planetary: O Quarto Homem – Vol. 2

    Planetary - Volume 2

    O volume 2 de Planetary, lançado pela Panini, compreende os números 7 a 12 do título original. A primeira história, denominada A Morte de Jack Carter, é um pequeno conto que mostra um pouco do passado amoroso de Jakita. Os poderes do personagem falecido não são totalmente explicitados, mas nota-se, por meio do depoimento de um inimigo de proporções sobre-humanas que o perseguia, que Carter despertou a homossexualidade latente do personagem e a escancarou, além de mostrar a si sua origem como fruto de uma bizarra experiência criada por Hitler — tais elementos evidenciam a falta de escrúpulos do ditador, e esse background curioso cai por terra diante de sua iminente morte e do retorno de Jack, que reúne em torno de si um estereótipo ligado a John Constantine e, depois, à figura não definida entre Spider Jerusalem, o protagonista de Transmetropolitan, e o escritor Grant Morrison, amigo e grande referência de Warren Ellis.

    A partir do número 8, John Cassaday passa a ter mais liberdade como criador e não decepciona, apresentando uma arte estupenda e exuberante. Mais uma vez, Ellis apela para o cinema dos anos 50 com Atomic Horror e animais gigantes, que mantinham-se escondidos desde dos anos 60, década em que este tipo de cinema perdeu muita popularidade. A Cidade Zero, cenário da aventura, era um campo de concentração para americanos dissidentes, onde os capturados eram submetidos a experiências terríveis pós-morte. A paranoia anticomunista ganha ares de teoria da conspiração transformada em realidade, e é elevada a um ponto incomensurável, mostrando a maldade inerente ao homem de uma forma absolutamente cruel. Allison, a narradora da história e um dos experimentos, só se vê livre para despedir-se da vida após comunicar ao Planetary o seu epitáfio.

    O mistério do Quarto Homem seria revelado neste encadernado  como o nome da publicação deixa claro —, e a introdução de Ambrose Chase, antecessor de Snow, serve para revelar algumas pistas relacionadas ao grande e grave mistério. Há alusão ao incógnito patrão, enquanto a história trabalha recursos metalinguísticos como o mote e o cerne da aventura. O vilão William Leather volta a aparecer, e dessa vez com o objetivo de “apagar” um alienígena superpoderoso vindo de um planeta condenado. Além deste, é destruída uma amazona, vinda de uma sociedade super evoluída, e que finalmente se revela aos homens um ser de outro planeta, afirmando-se parte de uma equipe militar — paralelos claros ao Superman, Mulher-Maravilha e Lanterna Verde. Reduzindo estas analogias a seres genéricos, mostra-se que os seres mais poderosos do universo DC não funcionariam necessariamente no universo Wildstorm  lição que, invertida, poderia ser aprendida pelos editores dos Novos 52.

    Na quinta história o Planetary passa a interagir com alguns personagens secundários do outro produto escrito por EllisStormwatch/Autorithy. Snow tem contato pela primeira vez com John Stone  um misto de James Bond com Nick Fury  com o qual se reencontra algum tempo depois no Cazaquistão, onde discutem sobre William Lether. O mundo estava diferente, logo o título da trama evidencia isso: Cold World, uma referência ao fim da Guerra Fria, que ao invés de ser deixada para trás, teria se ampliado e conquistado ares globais.

    Aos poucos, os mistérios envolvendo o centenário alvo vão se desenrolando, assim como as memórias reprimidas pelo “grupo secreto” também de desbaratam. Elijah Snow volta a ter acesso a suas memórias antes “apagadas” e descobre muitas coisas, entre elas a identidade do quarto homem de Planetary, juntando as peças que faltavam para explicitar o que para o leitor já era claro há tempos. No entanto, o motivo que o fez reprimir tais lembranças ainda era vago e só seria exposto nos últimos números do título. As atitudes do personagem mudam a partir daí, obviamente levando-o  a perseguir as lacunas que faltam ser preenchidas.

    A riqueza em referências permanece presente e as histórias dentro das histórias ganham um acréscimo considerável, dando um grande salto qualitativo numa trama que já se apresentava muitíssimo bem urdida. Planetary pode não ser a produção mais elogiada pelos fãs de Warren Ellis, mas certamente é uma das mais inspiradas.

  • Crítica | Red: Aposentados e Perigosos

    Crítica | Red: Aposentados e Perigosos

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    A 1ª adaptação para o cinema dos quadrinhos de Warren Ellis, em seus primeiros minutos, se mostra diferentíssima do texto original, a começar pela abordagem, bastante relacionada a comédia romântica – ainda que não tarde a chegar as cenas de ação, com a linda derrubada de uma casa por conta de um tiroteio desvairado.

    Após começar a caça em si, Frank Moses/Bruce Willis no automático, tem de resgatar sua princesa encantada, Sarah (a ainda deliciosa Mary Louise Parker), o que contradiz o perfil do seu personagem, o solitário e auto-suficiente ex-agente da CIA com grandes contatos. Robert Schwentke tenta angariar dois nichos distintos para sua obra, os fanboys e o público feminino, e ao menos nesse quesito, a fórmula é bem executada e equilibrada.

    As cenas de perseguição no píer são tão galhofadas que parecem retiradas de um cartoon do Pernalonga – nenhum filme do Looney Tunes Live Action levou tão a sério o conceito quanto neste Red. A comédia e o humor rasgado predominam em quase toda a trama, o que não empobrece as outras sequências de luta, muito bem filmadas e coreografadas, aliadas a uma fotografia competente. As cores vivas escolhidas pelo realizador remetem ao tom escapista das HQs de super-humanos da DC.

    O roteiro dos irmãos Join e Erich Hoeber (Terror na Antártida) trata da inadequação do bando de agentes aposentados a vida civil (tema retirado da graphic novel, mas ampliado a mais personagens), e da vontade de Frank em finalmente ter uma vida normal, com paixões, uma família, anseios comuns, inerentes a qualquer ser humano comum. A vida amorosa dos super-espiões é mostrado como algo confuso e cheio de contradições, mas é claro, sem jamais se levar a sério.

    A direção de atores exercida por Robert Schwentke é muito boa, pois não atrapalha. Os artistas estão livres para trabalhar: Morgan Freeman, John Malkovich, Bryan Cox, Helen Mirren estão soltos, enquanto Karl Urban faz o antagonista honrado de uma maneira muito lúcida, seu personagem William Cooper é a síntese do quanto o serviço secreto mudou, no que tange aprimoramento físico, se modernizando para suplantar a geração anterior, mas seu código moral é muito semelhante ao de seus antecessores, e ele não se permite mudar de lado, mesmo que seus superiores o tentem impingir a isso.

    Red mantém o tom jocoso o tempo inteiro, e apesar da pouca semelhança com a história em quadrinhos, é um bom exercício de humor. Tem em seu caráter algo parecido com o que foi visto no primeiro Mercenários de Sylvester Stallone, reunindo um elenco veterano para brincar com os clichês dos filmes de ação.

  • Resenha | Planetary: Pelo Mundo Todo e Outras Histórias – Vol. 1

    Resenha | Planetary: Pelo Mundo Todo e Outras Histórias – Vol. 1

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    Em 1999, Warren Ellis, que já havia publicado Stormwatch e estava em vias de lançar os primeiros números de Authority pela Wildstorm, se juntaria a John Cassaday, que até então não havia alcançado notoriedade, para lançar Planetary, uma série que mostrava um grupo disfuncional formado por um trio de personagens completamente diferentes entre si e que tinham função curiosa: recolher informações sobre artefatos místicos, investigar eventos inverossímeis e catalogar pessoas extraordinárias que antes eram anônimas.

    Conhecidos como os Arqueólogos do Impossível, o conjunto pretendia escavar os últimos cem anos da era heroica. A priori, era formado por três membros: Jakita Wagner, que resumia-se em liderança, o Baterista, um sujeito que se comunica com qualquer aparelho mecânico, e o centenário personagem Elijah Snow, um sujeito misterioso e que concentra a maior parte dos mistérios presentes neste arco. A equipe é bancada pelo 4° elemento do grupo, um multimilionário de identidade desconhecida até então.

    As histórias são fechadas em suas próprias edições, ainda que corra uma trama por trás delas. A ideia de Warren Ellis em fazer o universo “fantástico” baseado numa amálgama que seria a soma de cinema, quadrinhos, literatura e o que mais sobrar da cultura pop é ótima, além de ser respeitosas as figuras que homenageiam e reverenciam na abordagem escolhida.

    Elijah passou sua vida inteira no século XX, e pela sua experiência é recrutado por Jakita Wagner para se juntar ao esquete, com a prerrogativa de que ele recebesse uma gorda remuneração caso aceitasse o emprego, mas aos poucos o grisalho homem percebe outras vantagens no oficio recém-apresentado, especialmente em relação à investigação, pois além de mapear as atividades de pessoas sobre-humanas, o ofício ajuda Elijah a adentrar em uma jornada de autoconhecimento, usando, claro, os análogos de heróis como avatares de seus próprios medos e anseios, colaborando para entender o seu passado e suas próprias habilidades.

    No primeiro número é mostrada uma sociedade secreta de super-humanos que descobre um portal dimensional inexplorado. O vórtice permanece incógnito por décadas, sendo a porta para um Multiverso. O roteiro faz alusão aos fatos ocorridos na mega saga Crise Nas Infinitas Terras e os personagens que formam a força-tarefa é composta por análogos dos heróis da era pulp: Doc Brass é uma homenagem a Doc Savage, herói de quadrinhos populares das décadas de 30/40; há menções também a TarzanSpiderFu Man ChuTenente Swift (da série de livros de Howard Garis – sob o pseudônimo Victor Appleton), James Christopher ( o agente #5, precursor de James Bond),  e o aviador inspetor G-8. A referência visual, os seres mais poderosos em volta de uma enorme mesa redonda, lembra muito a Sociedade da Justiça da América, que teve de se aposentar após a 2ª Guerra Mundial, além de ter um caráter semelhante a Liga Estraordinária de Alan Moore e Kevin O’Neill.

    A segunda história envolve uma ilha com animais e monstruosidades gigantescas que é invadida por um grupo de arqueólogos japoneses liderados por um Mishima (expoente literário japonês que seguia a risco o código dos samurais e ativista político). Os monstros que destruíam Tóquio foram homenageados, especialmente GodzillaGhidorah, Mohtrah, Rodan, além das criaturas gigantes antagonistas aos heróis tokusatsus, também citados, além de mostrar a ilha em que eles eram concebidos.

    John Cassaday tem muito talento em registrar visualmente a violência, pois os assassinatos são prodigiosamente bem construídos. O roteiro, apesar de simples, reproduz perfeitamente o clima presente nos filmes de ação de Hong Kong, na terceira edição, além de explorar bem o conceito de pistoleiro espectral, clichê muito utilizado nos filmes asiáticos. A quarta edição conta com a história de um ser humano que tem contato com uma superior raça alienígena e é uma viagem escapista a uma invenção, distópica, tecnológica e perfeita, clara analogia ao Capitão Marvel, em que Ellis mostra toda a sua admiração pelo personagem. Já na edição zero, Ellis brinca com o mito do Hulk, através do cientista David Paine que sofre um acidente, torna-se uma monstruosidade e é abandonado, deixado para morrer numa vala comum.

    Doc Brass e Snow nasceram em 1° de Janeiro de 1900, e há algo ainda nebuloso sobre a questão: a edição cinco é toda uma conversa entre os dois, cortadas pelas lembranças dos áureos tempos do doutor. As cores de Laura Depuy e David Baron fazem com que a já excepcional arte de Cassaday torne-se magnânima.  Ao final da edição, uma figura poderosa que se auto-intitula William Lether tem a oportunidade de enfrentar Elijah Snow, mas deixa o embate para depois e vai embora sem um enfrentamento na conclusão. O encadernado compreende as primeiras seis edições de Planetary, e é apenas o tímido começo para uma das melhores e mais competentes obras de Warren Ellis.

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  • Resenha | Vingadores: Guerra Sem Fim

    Resenha | Vingadores: Guerra Sem Fim

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    Nas décadas de 80 e 90, a Marvel publicava algumas revistas com formato diferente do habitual, com mais páginas, e apresentando histórias completas de seus principais personagens. Abandonada nos últimos tempos, a iniciativa foi agora retomada com o nome Marvel OGN (Original Graphic Novels). E o primeiro lançamento não podia ser estrelar outros que não os atuais campeões de popularidade da editora. Vingadores – Guerra Sem Fim apresenta-se inovando em dois aspectos: o lançamento simultâneo nos EUA, na Europa e também no Brasil; além de um recurso chamado “realidade aumentada”, presente em algumas páginas e disponível através de um aplicativo gratuito para smartphones.

    A história foca principalmente em Thor e Capitão América, ao apresentar um perigo que tem raízes no passado de ambos. Na Segunda Guerra Mundial, nazistas tentaram desenvolver uma arma usando criaturas da mitologia nórdica, experiência nesfasta que reaparece nas guerras modernas. Os dois heróis sentem-se responsáveis por suas respectivas missões incompletas, e ao lado dos outros Vingadores vão combater a ameaça. Mesmo que pra isso esbarrem em interesses internacionais, entrando em atrito com a SHIELD e o governo.

    Os desenhos da edição são de Mike McKone, um artista regular. Ele foi ajudado, e muito, pela colorização de Jason Keith e Rain Beredo, um trabalho acima da média. O escritor é o britânico Warren Ellis, um dos mais amados pelos hipsters dos quadrinhos por conta de obras como Transmetropolitan e Planetary. Pela Marvel, seus diversos trabalhos costumam ser mais convencionais, burocráticos (até por serem em séries regulares, dentro da cronologia). É o que acontece mais uma vez. Ainda que faça algumas críticas ao eterno belicismo norte-americano, tocando em pontos bem atuais como o uso de drones, Guerra Sem Fim não traz nada de memorável. Uma aventura divertida, porém mais preocupada em ser rápida e acessível.

    Talvez o problema maior de Guerra Sem Fim seja a necessidade de se adequar ao universo dos filmes, mesmo estando dentro do momento atual dos quadrinhos. Desafio que faz Ellis derrapar nas caracterizações dos personagens, acertando em alguns caos e falhando em outros. O Capitão América, por exemplo, é o líder experiente e respeitado de sempre. Mas há uma ênfase exagerada no aspecto “homem fora do seu tempo”, buscando um link com o cinema, sendo que na cronologia das hq’s ele já despertou há vários anos. Thor, por outro lado, está bem representado, solene e responsável. O Homem de Ferro fica um pouco à sombra, lembrando as histórias dos Vingadores pré-Downey Jr, quando ele era um coadjuvante que, apesar de competente, não é levado muito a sério pelos demais.

    Como a equipe PRECISA ser a do filme, o Hulk é enfiado meio de qualquer jeito na história. Pelo menos Ellis lembrou que, nos quadrinhos, ele não é amigão de todo mundo. Existe muito mais bagagem, e todos olham Banner com desconfiança. Viúva Negra e Gavião Arqueiro já estavam lá meio que só pra constar; ela acertadamente profissional, ele exageradamente pateta. Além dos heróis do cinema, a trama envolve mais dois, por motivos distintos. Wolverine, sempre onipresente nas hq’s das Marvel pra ajudar as vendas, surge pra ser o contraponto ao escoteiro Steve Rogers. Logan é soldado “realista”, amoral, aquele que faz o que for preciso. Pena que ele martela tanto isso, repetindo praticamente em todo quadrinho que aparece, que fica cansativo. Por fim, Carol Danvers, a Capitã Marvel. Há anos e anos que a editora vem tentando valoriza-la, tentando construir uma personagem feminina de primeiro escalão. E nunca cola, nenhum autor até hoje conseguiu imprimir um mínimo de carisma na heroína.

    Com capa dura, 120 páginas e custando R$ 24,90, Vingadores – Guerra Sem Fim é uma edição bonita e luxuosa. O conteúdo é um tanto sem sal, mas deve agradar aos fãs das histórias regulares do grupo. Em relação ao futuro do novo selo, fica a expectativa por trabalhos mais inspirados.

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    Texto de autoria de Jackson Good.

  • Resenha | O Invencível Homem de Ferro: Extremis

    Resenha | O Invencível Homem de Ferro: Extremis

    Idealizada pelo escritor britânico Warren Ellis, a saga Extremis do Homem de Ferro foi lançada na revista mensal do herói entre 2005 e 2006. O lápis está por conta de Adi Granov.

    A trama tem um caráter anti-belicista, e vai se mostrando assim gradativamente. Tony Stark, alter ego de Homem de Ferro, está um personagem bastante sarcástico, muito semelhante à interpretação de Robert Downey Jr. no cinema. Além disso, há também um resgate as origens do herói, por meio de flashbacks que mostram a construção de Mark 1 – primeira armadura do personagem. O que chama atenção nas revistas são os desenhos, mesmo com um roteiro interessante. A arte aquarelada de Granov é soberba e fenomenal, pois dá a história um ar mais contemporâneo e realista.

    Entre muitas críticas – sempre ligadas à indústria da guerra – mostra uma imprensa que aborda temas capciosos demonizando os envolvidos na questão armamentista proposta, tomando as Indústrias Stark como exemplo de conduta errada. É curioso notar como aos olhos da pessoa comum o Homem de Ferro é um ídolo e uma figura que gera admiração, enquanto o empresário bilionário é alvo de manifestações populares e é associado a assassinatos e crimes de guerra. Ainda nessa toada, Tony é mostrado como alguém que não se sente nem um pouco à vontade em negociar com os militares – a exceção é claro da Shield, um órgão segundo o próprio, de defesa internacional.

    Esta história teria sido uma das inspirações para o roteiro de Homem de Ferro 3, de Shane Black e Drew Pearce.

    O Extremis que dá nome a série, é uma variação do soro do Super-Soldado, injetado numa dose única. Basicamente transforma a cobaia em algo monstruoso no primeiro estágio, no segundo ele renova e melhora os órgãos, no final ela ganha capacidade sobre-humana.

    Depois de um combate contra um experimento, Tony se propõe a injetar o Extremis em si mesmo, a fim de se igualar em forças ao inimigo. A HQ é um pouco reflexiva, mostra as dúvidas existenciais do personagem, o quanto ele se culpa por ser um “mercador da guerra” e mostra o seu sentimento de impotência diante das situações que ele enfrenta. Além disso, dá demonstrações frequentes da paranoia antiterrorista estadunidense. Não há banalizações com os vilões, como um exército de super-seres, na verdade há somente um antagonista com poderes extraordinários.

    Em última análise, a trama é um paralelo às corridas armamentistas, tão presentes no decorrer da história humana. O que Tony Stark se vê obrigado a fazer para encerrar o combate com Marllen repercute na consciência do herói. O roteiro flerta com uma temática de teoria da conspiração, mas ainda assim, contém uma carga moral leve, que faz desta HQ uma pequena grande história. Não é um produto indispensável da carreira de Ellis, mas ainda assim é uma boa história.

  • Resenha | Frequência Global – Volume 1

    Resenha | Frequência Global – Volume 1

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    Frequência Global é uma graphic novel de sci-fi escrita por Warren Ellis, misturando o conceito de flash mobs – ou, melhor, ampliando o conceito para smart mobs – com super-heróis sem máscaras, capas esvoaçantes ou roupas colantes. Cada volume é composto por seis estórias, cada uma delas desenhada por um ilustrador diferente. As estórias são fechadas e independentes entre si, podendo ser lidas aleatoriamente.

    O roteiro traz um grupo de pessoas – 1001, a partir da primeira estória – espalhadas ao redor do mundo. Quando as soluções formais não funcionam, alguns deles são acionados para “salvar o dia”, de acordo com sua proximidade com a fonte do problema. Miranda Zero, líder do grupo, é a mulher responsável pelo recrutamento, escolhendo as pessoas de acordo com suas habilidades – soldados, engenheiros, mágicos, psicólogos, atletas, entre outros. Todos têm um celular especial, através do qual são contactados por Aleph, uma cyberpunk responsável por toda a comunicação do grupo. Tem um quê de Missão Impossível, aliás, tem o formato ideal para se tornar uma série de tv.

    1 – Bombista, ilustrada por Garry Leach

    Nesta estória, Miranda Zero recruta o milésimo primeiro membro do grupo, Ivan Alibekov, um físico soviético que irá ajudar os agentes no local – John Stark, ex-soldado, e Alison Fitzgerald, piloto de helicóptero – a neutralizar Janos Voydan – um paranormal com poderes telecinéticos, com um implante no crânio prestes a explodir.

    2 – Roda Gigante, ilustrada por Glenn Fabry

    Miranda Zero comanda um time formado por uma soldado, uma ex-agente com um braço robótico, um cientista e um atirador de elite a fim de resgatar pessoas de um complexo militar em que um homem biônico está descontrolado.

    3 – Invasão Ideal, ilustrada por Steve Dillon

    Dentre todas as estórias deste volume, esta é sem dúvida a mais interessante conceitualmente e a melhor explorada. As demais não são ruins mas apesar da maneira incomum como os problemas são solucionados, são ideias que estamos mais acostumados, que comumente vemos em filmes de espionagem e/ou de super heróis.
    Miranda Zero reúne uma especialista em neurolinguística, dois soldados e mais uma equipe de segurança a fim de conter uma infecção causada por um meme disseminado por uma transmissão de rádio.

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    4 – Cem Celestiais, ilustrada por Roy Martinez

    Aleph contata dois fora-da-lei, Danny Gulpilil e Jill Cabot, para evitar uma típica ameaça terrorista. Um grupo de fanáticos toma veneno com o intuito de atingir o “próximo mundo”, sequestram 30 pessoas e ameaçam detonar a bomba ligada a elas caso suas exigências não sejam atendidas. A propósito, a cena de invasão do prédio é muito Neo e Trinity resgatando Morpheus.

    5 – Céu Grande, ilustrada por David Lloyd

    A explicação científica de fenômenos ditos “sobrenaturais” é sempre muito interessante. Nesta estória, Miranda reúne um time bastante incomum – uma parapsicóloga e um mágico – para encontrar a causa e, consequentemente, o tratamento para a catatonia que acometeu os moradores de uma pequena cidade isolada, após o incêndio da igreja.

    6 – Na Corrida, ilustrada por David Baron

    Nesta, Aleph contata uma praticante de parkour para atravessar a cidade e chegar ao local em que um terrorista ameaça detonar, no centro de Londres, um dispositivo que contaminaria a cidade com o vírus Ebola. A estória é bem simples, mas as ilustrações sustentam bem a estória que praticamente acompanha apenas uma personagem.

    A edição da Panini é bastante caprichada, com capa dura e papel especial. Contém uma introdução escrita pelo jornalista Fábio Fernandes, contextualizando a obra de Ellis. A tradução poderia ter sido um pouco mais cuidadosa. Por vezes, a utilização de termos menos coloquiais acabam tirando o leitor do clima da estória. Enfim, uma leitura instigante e, ao mesmo tempo, divertida, que deixa aquele gostinho de “quero ler as outras estórias”.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

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  • Resenha | Fell: Cidade Selvagem

    Resenha | Fell: Cidade Selvagem

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    Fell é uma daquelas HQs com uma premissa simples mas muito bem desenvolvida. Também pudera, os responsáveis por ela são ninguém menos que Warren Ellis e Ben Templesmith, dois talentos incontestáveis em suas respectivas áreas.

    Ellis se tornou um dos grandes escritores e hoje em dia figura ao lado de grandes nomes do gênero como Alan Moore Neil Gaiman. Sua engenhosidade emparelha-se as suas bizarrices. Independente do trabalho que seja responsável, o autor sempre tende a revolucionar o universo que escreve, e por onde passou, deixa uma série de fãs, amantes de seu trabalho.

    Em Cidade Selvagem (Fell, no original), Ellis cria um misto de trama noir com terror psicológico  bem desenvolvido. Os desenhos de Templesmith, habituado a desenhar história de Terror como 30 Dias de Noite, têm papel fundamental na obra casando perfeitamente com o objetivo final da história.

    Após um incidente que envolve seu parceiro, Richard Fell é transferido para Snowtown, uma cidade sombria, suja e violenta, onde até mesmo seus habitantes aceitam resignados sua decadência. A trama foca o dia a dia do policial indo fundo na putrefação da cidade, confrontando seus receios e compreendendo melhor seus habitantes, uma escória variada como psicopatas, suicidas e pedófilos. A cada dia observamos sua paranoia crescer mais e mais.  A cidade corrompe a todos como uma droga, porém, Sem nenhum estase. Sugando os habitantes com sua opressão e subtraindo deles a sanidade.

    As histórias de Cidade Selvagem são fechadas, trazendo em cada volume uma trama distinta com início, meio e fim. Também merece destaque o fato de que cada história tem menos de 20 páginas. O autor quis lançá-las dessa forma para vender cada edição por um preço menor (lá fora cada edição foi vendida por $1,99). Mesmo com poucas páginas, o material tem boa qualidade e a narrativa de Ellis e a arte de Ben são sensacionais.

    Recomendado para aqueles que gostam de uma boa história policial que vai na contramão dos clichês das grandes editoras e também pela grande iniciativa dos autores de colocar um material com essa proposta disponível por um preço tão baixo no exterior.

    Compre: Fell.

  • Crítica | A Estrada

    Crítica | A Estrada

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    O que a estrada nos oferece? Aonde ela nos leva? Há sequer um destino?

    Essas questões permeiam a jornada de um pai (Viggo Mortensen) e seu filho (Kodi Smit-McPhee) na brutal, crua e também simples realidade em que se encontram.

    Sobrevivência (ou a luta por ela) é o que mantém a relação quase simbiótica dos personagens principais. Em um mundo exaurido de recursos, percebemos que de nada adianta lutar para manter a integridade física se a sanidade mental se esvai, ponto bem representado pela personagem de Charlize Theron. O filho, por sua simples existência provê essa sanidade ao pai, o mantém em foco, dá a este homem um final objetivo de vida: preparar o filho para sobreviver neste mundo, quando ele não mais fizer parte dele.

    Após um evento cataclísmico que pouco nos é explicado, percebemos que o mundo vive agora um cenário de pós-guerra nuclear, onde a luz do sol se tornou uma vaga lembrança, e nos resta apenas paisagens áridas e desoladas a serem contempladas. Pai e filho partem em uma jornada determinados a chegar à costa americana, com uma vaga e ingênua esperança de que as coisas simplesmente serão melhores por lá. O destino da jornada no entanto, se mostra apenas um detalhe, quase um subterfúgio mental quando analisamos a obra de uma forma mais profunda.

    Baseado no livro homônimo de Cormac McCarthy (autor de Onde os Fracos Não Têm Vez), a direção de John Hillcoat e o roteiro de Joe Penhall mantêm o teor sombrio da obra. A fotografia do filme proporciona exatamente o tom que A Estrada quer nos passar. Um mundo sem vida, cinza, com o inverno nuclear sempre presente.

    Neste cenário não há espaço para sutilezas ou eufemismos. Sobra sim o grotesco, o visceral, o medo generalizado de qualquer outro ser que possa cruzar o seu caminho. Qualquer um que possa querer tomar o pouco alimento que lhe resta, seu abrigo, ou simplesmente seu precioso sapato.

    A resposta deste medo é representada ao extremo no personagem de Viggo, com uma atuação tocante e verdadeira, conseguimos ver e compreender em seu olhar, em seu corpo corrompido, o que este homem sofreu e o que ele é capaz para manter imaculada (outro esperança ingênua) sua prole.

    Poucos filmes pós-apocalípticos tratam o tema com tamanha crueza e subjetividade. Muitos enveredam por caminhos onde a ação desenfreada ou o escapismo ficcional acabam se sobressaindo, deixando pouco espaço para uma reflexão sobre questões humanas primordiais dentro do cenário escolhido. Sejam elas de sobrevivência, relação interpessoal ou até mesmo de confiança. Esta última, vale notar, ainda presente no garoto e quase que completamente esgotada no pai. Mais um ponto interessante na relação pai/filho do filme.Pode-se questionar a verossimilhança do modos operandi de alguns grupos retratados no filme na luta pela sobrevivência. Mas basta um pouco de reflexão histórica para percebermos que os atos que nos causam mais asco no filme, não seriam assim tão difíceis de serem concretizados pela nossa natureza animalesca.

    A jornada empreendida aqui é análoga a caminhos tortuosos trilhados por todos nós. Viggo não sabe o que vai encontrar na costa, nem exatamente por que decidiu ir para lá. Mas sabe sim que não pode ficar estático, inerte ao destino reservado para ele e seu filho. Sabe que não pode parar, em certo momento abre mão até de certos recursos que ele sabe serem indispensáveis para ele e para o garoto. Este, não compreende a obsessão do pai, a importância de terem um objetivo final traçado, a sua (sempre presente) desconfiança para com o mundo deixado para eles. Um mundo destruído, sem cor, morto… e ao mesmo tempo, real.

    Texto de autoria de Amilton Brandão.