Tag: Steve Dillon

  • Resenha | Skreemer

    Resenha | Skreemer

    Veto Skreemer é um personagem forte, impetuoso e cruel. Sua criação, por Peter Milligan e Brett Ewins aconteceu após a dupla assistir Era Uma Vez na América, que é uma versão sobre a história dos Estados Unidos vista por um estrangeiro que dedicou sua vida a descrever parte da cultura americana, em Westerns Spaghetti. É curioso como Skreemer antecipa toda a paranoia que se instauraria no país pós 11 de Setembro, ainda que na publicação da Vertigo seja a via da máfia/gangster ao invés de terrorismo árabe.

    A história começa a partir da narração de Timothy Finnegan, que fala sobre a Era do Gigante, um tempo distópico e violento, estabelecendo um drama a partir da vivência de um sujeito que habita nos arredores desse homem poderoso. A intimidade do personagem biografado é estudada graças ao passado de duas pessoas importantes para a trama, sendo uma o narrador e a outra Shannon, esposa do vilão, que o vê o facínora como uma figura asquerosa.

    Não demora a ser mostrada a origem das personagens retratados, adicionando portanto novas camadas de gravidade e discussão ao roteiro. A realidade dos quadrinhos é distorcida, como uma versão muito mais agressiva e crua do visto na obra O Poderoso Chefão, de Mario Puzo e Francis Ford Coppola, ainda que leve em consideração elementos mais futuristas e tecnológicos do que o classicismo das histórias de máfia.

    O grafismo dos desenhos de Steve Dillon torna todos os horrores em situações mais críveis, sem necessariamente de apelar para o gore, ainda que haja um quadro de ultra violência explorado na revista. O modo discreto como é abordada a temática foge da possibilidade de apresentar detalhes sórdidos da história, mostrando que o roteiro de Milligan não precisa apelar tanto para questões de tortura física e psicológica. O mal não está necessariamente nos atos hediondos praticados, mas na alma dos personagens que por sua vez, vivem em um mundo desesperançoso.

    Skreemer usa uma proposta de crueza em seu drama, sentido esse que dá uma abordagem diferenciada em questão de histórias em quadrinhos adultas, mostrando faces da alma viscerais, tornando o assunto bélico como algo digno de repúdio e denunciando em absoluto a crueldade presente nesse mundo, que se analisado somente em seus arquétipos, não é tão diferente da realidade atual.

    Compre: Skreemer.

    Acompanhe-nos pelo Twitter e Instagram, curta a fanpage Vortex Cultural no Facebook, e participe das discussões no nosso grupo no Facebook.

  • Resenha | Justiceiro: Bem-Vindo de Volta, Frank

    Resenha | Justiceiro: Bem-Vindo de Volta, Frank

    Bem Vindo de Volta Frank - capa eng

    O encontro com deuses e anjos em uma narrativa sobrenatural foram temas de The Punisher: Purgatory, uma mini-serie escrita por Christopher Golden e Thomas E. Sniegoski, a qual gerou uma recepção altamente negativa do público e o cancelamento de qualquer história envolvendo o Justiceiro. Por dois anos, a personagem permaneceu distante do público quando Garth Ennis apresentou a Marvel uma proposta de retomar a essência de Frank Castle, negando os últimos acontecimentos e explicitando a vertente urbana de um anti-heroi cuja missão sempre foi exterminar qualquer pessoa ruim do planeta, de acordo com sua percepção dos fatos.

    Publicado originalmente em 12 edições, Bem-Vindo de Volta, Frank foi lançado no país pela Panini Comics em um compilado em capa cartão e, recentemente, retornou as bancas em dois volumes em capa dura pela Coleção Graphic Novels Marvel da Salvat. Retomando a parceria com Steven Dillon, de Preacher, a série marca o início da longa passagem de Ennis pelo título da personagem, inicialmente pelo selo Marvel Knights, depois no Max, quando atinge o ápice narrativo nesta fase com planos de republicação no país pela editora.

    O enredo é ágil, focado em diversas cenas de ação, apresentando o retorno de Castle a cidade de Nova York ciente de que, em sua ausência, houve uma maior taxa de crimes. Assim, o Justiceiro foca sua cruzada contra Mamma Gnucci, a chefe de uma família mafiosa local. Destruindo seus principais membros, além de capangas e afiliados, transformando no principal inimigo da criminosa. Paralelamente, a polícia da cidade inicia uma força-tarefa para investigar a controvérsia personagem do vigilante, enquanto outros vigilantes surgem em bairros específicos em homenagem ao retorno do Justiceiro.

    Declaradamente averso a concepção de heróis como superseres, o roteirista evita ao máximo a participação de qualquer personagem do universo Marvel. No texto enviado para editora ao apresentar sua nova proposta narrativa, Ennis informava que, no máximo, ciente da necessidade de chamariz e vendas, inseriria a participação de algum personagem conhecido. Assim, coube a Demolidor uma participação especial em um dos volumes do arco, de qualquer maneira, sem perder o tom urbano e realista proposto na história. A ausência da comunidade heroica seria o primeiro passo para compor uma trama linear e paralela a qualquer evento da editora.

    Justiceiro - Bem Vindo de Volta Frank

    Ennis mantem um estilo misto de realismo e humor negro coerente com sua proposta, transformando os atos mais improváveis em boas cenas que representam o exagero de seus personagens. Frank Castle, além de um vigilante que utiliza da maneira mais agressiva para exterminar seus inimigos – uma violência visual que choca o leitor pela improbabilidade – esta ciente de seus atos hediondos e simultaneamente é gentil com aqueles que considera inocente. Reconhecendo ser um exército de um homem só, o vigilante sabe que sua potência não pode exterminar todo o crime, mas continua exercendo sua obsessão.

    Desenvolvendo sua trama principal em paralelo a subtramas menores, a narrativa reapresenta a personagem ao mesmo tempo em que desenvolve seus argumentos estruturais para o futuro com o azarado detetive Martin Soap escalado para a força-tarefa, ao lado da detetive Molly von Richthofen, para investigar os diversos assassinatos de Castle. Uma vertente que explora socialmente a personagem, demonstrando que embora exista uma obrigação de investigá-lo, grande parte da corporação admira o vigilante por sua eficiência.

    Os traços de Dillon se destacam nas cores de Chris Sotomayor e na arte-final de Jimmy Palmiotti. São econômicos nos detalhes de cenários mas suficientes para intensificar as diversas e improváveis cenas de ação. Além da afinidade natural com o roteirista, sem dúvida, o traço de seu Justiceiro se tornaria um dos mais conhecidos da personagem.

    Bem Vindo de Volta, Frank é uma estupenda reintrodução a um interessante personagem do estúdio que, a partir dessa história, ganhou novo alcance e uma versão definitiva em sua concepção. Ainda que existam antigas histórias eficientes, como a primeira aventura na mini-série Círculo de Sangue, Ennis expandiu a personagem além de sua função inicial como coadjuvante, inserindo-lhe uma trajetória própria mais detalhada, com conflitos internos e explicitando a força de sua violência.

    Compre: Bem Vindo de Volta, Frank (Vol 1. | Vol. 2)

    Bem Vindo de Volta Frank - 02

  • Resenha | Mercenário: Anatomia de um Assassino

    Resenha | Mercenário: Anatomia de um Assassino

    Mercenário - Anatomia de um Assassino - capa.jpg

    Personagem pertencente à galeria de vilões de Demolidor, Mercenário foi criado por Marv Wolvman e estreou em março de 1976 na revista homônima do Homem sem Medo. O vilão capaz de usar qualquer objeto como um projétil letal foi parte integrante da fase áurea assinada por Frank Miller e responsável pela morte de um dos grandes amores de Matt Murdock.

    Trabalhando para Wilson Filk, o Rei do Crime, o vilão também participa de histórias do Justiceiro e em um breve resumo de sua carreira foi responsável por mais um assassinato envolvendo as paixões de Murdock, integrou o Thunderbolts, atuou como um falso Gavião Arqueiro em Reino Sombrio e saiu temporariamente de cena em Terra das Sombras.

    Lançado pela Panini Comics em edição encadernada com capa dura, Mercenário – Anatomia de um Assassino compila uma minissérie em cinco partes, lançadas originalmente no país na revista Demolidor – O Homem Sem Medo nas edições de 19 a 23. A história trabalha duas linhas narrativas paralelas: um pano de fundo situado no presente com o vilão aprisionado e interrogado sobre o paradeiro de bombas nucleares, e sua história passada, vista desde a infância, a partir de diálogos surgidos no interrogatório.

    A intenção do roteiro de Daniel Way é ampliar a mitologia da personagem, discutindo a origem de sua mira certeira – desenvolvida por um talento natural ou fruto de algum poder meta-humano? – e apresentar uma base para justificar sua psicopatia. A cada edição, momentos distintos do passado são apresentados: a infância com o pai abusador, uma carreira breve como jogador de baseball, um trabalho para a NSA em missões de grande risco, até se tornar o vilão conhecido pelo público e destacado por Miller em sua brilhante passagem pelas histórias de Demolidor.

    Os recortes do passado são costurados com o interrogatório realizado, no presente, por dois agentes em uma prisão exclusiva para contê-lo, ou seja, sem nenhum material disponível que lhe forneça o potencial para se transformar em projétil. Boa parte do interrogatório se compõe de forma satisfatória na tensão entre mocinhos e vilão. Mas o desfecho demonstra claramente que esta trama funciona somente como conectivo para apresentar um breve resumo do passado pregresso da personagem.

    As capas assinadas por Mike Deodato Jr. são de grande contraste em comparação com a arte de Steve Dillon. A arte do primeiro é exageradamente impactante e representa o vilão sempre com excesso de músculos; enquanto Dillon, que assinou os traços de grandes fases de Hellblazer e Justiceiro, além da saga Preacher, possui um estilo artístico mais tradicional, e trabalha com eficiência traços simples e breves que caracterizam personagens com perfeição, mas cujos recursos dependem do uso da coloração para uma representação iconográfica completa.

    A edição da Panini apresenta bom acabamento e dá vazão ao movimento recente de utilizar capas duras nas publicações do país, presentes tanto em livros quanto nos quadrinhos. Dessa maneira, a editora publica material relativamente antigo, ou compilados inéditos, em uma edição que chama atenção do público pela qualidade e, neste caso, com um bom custo benefício para o bolso do leitor.

    Compre aqui: Mercenário – Anatomia de um Assassino

    Mercenário - Anatomia de um Assassino - mercenário

  • Resenha | Universo Marvel – Vol. 1

    Resenha | Universo Marvel – Vol. 1

    UNIVERSO MARVEL 1.indd

    Ao não comportar lançamentos individuais de edições, o formato brasileiro em mixes produz seleções coerentes quando os heróis estão presentes em mais de um título mensal, como Os Vingadores, Homem Aranha ou X-Men e, quando não capazes de formar uma própria revista, são reunidos em um mesmo volume integrando edições de mais páginas que não necessariamente possuem ligação entre si.

    As sete histórias que compõe Universo Marvel nº 1 estão inseridas na Nova Marvel, projeto editorial que chegou ao Brasil em novembro. Hélcio de Carvalho escreve o texto introdutório pontuando as evoluções da Marvel desde sua criação, justificando, como Marco M. Lupoi em Ponto de Partida, a naturalidade das mudanças da Casa das Idéias.

    Um dos méritos destas histórias é a capacidade em desenvolver tramas a partir de elementos básicos de cada personagem, sendo fiel ao conceito editorial de um novo ponto de arranque. Nesta primeira edição, o mix é formado pelas primeiras edições de cada título: Thunderbolts, Hulk, Quarteto Fantástico, Fundação Futuro, Nova e Os Guardiões da Galáxia. Quem acompanha as edições da Panini sabe que a divisão pode se modificar a cada edição, com títulos sendo adiantados para que a cronologia geral não sofra.

    Como originalmente as edições são lançadas individualmente, seria incoerente analisar a revista como um todo sem antes acompanhar a estreia de cada título (ainda que a nota final tenha sido ponderada entre as qualidades das sete histórias).

    O primeiro título da edição, Thunderbolts, começa com Frank Castle – no conhecido traço de Steve Dillon – preso e chantageado pelo Agente Ross. A história se passa inteiramente no mesmo local, em diálogos entre ele e o Hulk Vermelho. A ação é direta: Ross deseja formar uma nova equipe e o Castle é um dos escolhidos. Outras personagens famosas, como Deadpool e Electra, farão parte da equipe, conforme demonstra as páginas finais. Iniciando-se em uma boa cena de ação, a trama flui bem pela improbabilidade, já que o Justiceiro é um dos personagens mais mortais da Marvel. Vê-lo em uma equipe de mercenários pode dar uma nova dimensão ao anti-herói.

    A segunda história é dedicada ao Gigante Esmeralda e ao dilema primordial de Bruce Banner e sua fera interior. Nas primeiras páginas, a agente Maria Hill está em um bar, prestes a realizar uma missão, dialogando em algum aparato eletrônico com Agente Coulson, cena semelhante às dos arcos de Bruce Jones em que Banner conversava com um aliado misterioso em uma boa saga indicada ao Eisner Awards. Além de dialogar com o leitor antigo, o recurso narrativa é interessante e dinamiza a cena.

    Banner muda sua postura em relação ao seu alter-ego, decidindo viver com ele sem tentar incansavelmente obter uma cura. Ao entregar-se para a S. H. I. E. L. D., deseja ser um aliado. Como em Thunderbolts, o roteiro de Mark Waid se desenvolve rapidamente e logo o Gigante realiza um primeiro trabalho como teste de controle de sua raiva e de boas intenções. Não há dúvida de que o argumento entrelaça a história da produção cinematográfica dos Vingadores.

    Enquanto Daniel Way e Waid desenvolvem a ação no início de suas histórias, Quarteto Fantástico e Fundação Futuro mantêm um estilo tradicional. Matt Fraction faz das primeiras edições de ambas uma introdução para a história que será desenvolvida ao longo da saga.

    As tramas estão interligadas por um acidente sofrido por Reed Richards que instabiliza seu corpo elástico. Sem encontrar a cura nos mundos conhecidos, decide partir com a família para lugares não-explorados para salvar-se.

    A edição do Quarteto mostra a escolha dos substitutos que protegerão a Terra. Em Fundação Futuro, o Homem-Formiga, convencido pelo amigo Richards, assume as funções e pergunta aos alunos sobre a importância do local, produzindo duas narrativas em simultâneo.

    Assinando duas revistas de um mesmo universo ficcional, Fraction demonstra que sua trama inicial será composta como peças de um tabuleiro narrativo. Apresentando com calma as estruturas, as personagem, para dar andamento à história. As revistas se diferenciam por conta dos desenhistas, Mark Bagley, na primeira, com traços mais realistas, e Michel Allred, em Fundação, com desenhos mais estilizados, utilizados em outras décadas, sem uso excessivo de sombras.

    Ed McGuinness e Jeph Loeb fazem parte da equipe de Nova, a história mais fraca do mix. A arte se sai melhor que o roteiro, principalmente porque o desenhista deixa de lado o excesso de músculos, comuns em seus traços, o que deslocaria ainda mais a história de sua intenção. Neste início, o Nova original conta suas peripércias a um filho descrente do passado glorioso do pai. Nesta primeira parte, Loeb repete seu estilo narrativo de encerrar a última página em uma única imagem com o gancho derradeiro que arranca a história.

    Fechando a primeira edição, Os Guardiões da Galáxia #0.1 apresenta a primeira parte da trama cujo trecho estava em Ponto de Partida. Em um retorno ao passado, conhecemos o pai de O Senhor das Estrelas, sua nave abatida na Terra e a relação amorosa que gerou o terráqueo da equipe intergalática. Brian Michael Bendis assina a história que retorna ao passado para redimensionar o presente, ainda que não haja uma trama definida neste prólogo, além de, nas páginas finais, haver a presença de Tony Stark que demonstrou interesse pela equipe na edição zero de Avante, Vingadores!.

    A Panini teve cuidado ao respeitar a cronologia – mesmo com ligações mínimas entre as revistas – e lançou esta edição depois da Avante referida que marca o primeiro encontro dos Vingadores com os Guardiões.

    Com bom potencial inicial, Universo Marvel #1 tem séries bem apresentadas e um mix interessante. Pena que muitas histórias se estendem e perdem força no caminho. De qualquer maneira, o início da Nova Marvel demonstra eficiência ao dialogar com seu passado e convocar novos leitores.

  • Resenha | Frequência Global – Volume 1

    Resenha | Frequência Global – Volume 1

    frequencia-global-volume-1-1

    Frequência Global é uma graphic novel de sci-fi escrita por Warren Ellis, misturando o conceito de flash mobs – ou, melhor, ampliando o conceito para smart mobs – com super-heróis sem máscaras, capas esvoaçantes ou roupas colantes. Cada volume é composto por seis estórias, cada uma delas desenhada por um ilustrador diferente. As estórias são fechadas e independentes entre si, podendo ser lidas aleatoriamente.

    O roteiro traz um grupo de pessoas – 1001, a partir da primeira estória – espalhadas ao redor do mundo. Quando as soluções formais não funcionam, alguns deles são acionados para “salvar o dia”, de acordo com sua proximidade com a fonte do problema. Miranda Zero, líder do grupo, é a mulher responsável pelo recrutamento, escolhendo as pessoas de acordo com suas habilidades – soldados, engenheiros, mágicos, psicólogos, atletas, entre outros. Todos têm um celular especial, através do qual são contactados por Aleph, uma cyberpunk responsável por toda a comunicação do grupo. Tem um quê de Missão Impossível, aliás, tem o formato ideal para se tornar uma série de tv.

    1 – Bombista, ilustrada por Garry Leach

    Nesta estória, Miranda Zero recruta o milésimo primeiro membro do grupo, Ivan Alibekov, um físico soviético que irá ajudar os agentes no local – John Stark, ex-soldado, e Alison Fitzgerald, piloto de helicóptero – a neutralizar Janos Voydan – um paranormal com poderes telecinéticos, com um implante no crânio prestes a explodir.

    2 – Roda Gigante, ilustrada por Glenn Fabry

    Miranda Zero comanda um time formado por uma soldado, uma ex-agente com um braço robótico, um cientista e um atirador de elite a fim de resgatar pessoas de um complexo militar em que um homem biônico está descontrolado.

    3 – Invasão Ideal, ilustrada por Steve Dillon

    Dentre todas as estórias deste volume, esta é sem dúvida a mais interessante conceitualmente e a melhor explorada. As demais não são ruins mas apesar da maneira incomum como os problemas são solucionados, são ideias que estamos mais acostumados, que comumente vemos em filmes de espionagem e/ou de super heróis.
    Miranda Zero reúne uma especialista em neurolinguística, dois soldados e mais uma equipe de segurança a fim de conter uma infecção causada por um meme disseminado por uma transmissão de rádio.

    frequencia global #1

    4 – Cem Celestiais, ilustrada por Roy Martinez

    Aleph contata dois fora-da-lei, Danny Gulpilil e Jill Cabot, para evitar uma típica ameaça terrorista. Um grupo de fanáticos toma veneno com o intuito de atingir o “próximo mundo”, sequestram 30 pessoas e ameaçam detonar a bomba ligada a elas caso suas exigências não sejam atendidas. A propósito, a cena de invasão do prédio é muito Neo e Trinity resgatando Morpheus.

    5 – Céu Grande, ilustrada por David Lloyd

    A explicação científica de fenômenos ditos “sobrenaturais” é sempre muito interessante. Nesta estória, Miranda reúne um time bastante incomum – uma parapsicóloga e um mágico – para encontrar a causa e, consequentemente, o tratamento para a catatonia que acometeu os moradores de uma pequena cidade isolada, após o incêndio da igreja.

    6 – Na Corrida, ilustrada por David Baron

    Nesta, Aleph contata uma praticante de parkour para atravessar a cidade e chegar ao local em que um terrorista ameaça detonar, no centro de Londres, um dispositivo que contaminaria a cidade com o vírus Ebola. A estória é bem simples, mas as ilustrações sustentam bem a estória que praticamente acompanha apenas uma personagem.

    A edição da Panini é bastante caprichada, com capa dura e papel especial. Contém uma introdução escrita pelo jornalista Fábio Fernandes, contextualizando a obra de Ellis. A tradução poderia ter sido um pouco mais cuidadosa. Por vezes, a utilização de termos menos coloquiais acabam tirando o leitor do clima da estória. Enfim, uma leitura instigante e, ao mesmo tempo, divertida, que deixa aquele gostinho de “quero ler as outras estórias”.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

    Compre aqui.

  • Resenha | Preacher

    Resenha | Preacher

    cover1

    Criada por Garth Ennis e Steve Dillon, escrita pelo primeiro e desenhada pelo segundo, além das capas feitas por Gleen FabryPreacher se tornou rapidamente uma das publicações da Vertigo mais famosas dos anos 90 devido ao seu estilo cínico, cheio de ação e de críticas a religião e a sociedade ocidental como poucas da época.

    Os 66 números se tornam uma leitura relativamente rápida, mesmo com pouco tempo disponível é possível ler sem maiores problemas uma média de 4 ou mais números por dia, ou a metade de um dos 9 arcos da história, e concluí-la em menos de 1 mês. A série tem as suas metáforas e reflexões interessantes, mas também tem muita ação, o que a faz ter um equilíbrio para quem busca algo a mais em uma HQ de leitura rápida.

    Sinopse: o reverendo Jesse Custer foi possuído por uma entidade que lhe confere a voz de Deus, super poder este que faz com que qualquer um lhe obedeça. Juntam-se a ele sua ex-namorada Tulipa e o vampiro irlandês porra-louca Cassidy. Devido a explosão da igreja onde estava na hora em que recebeu o poder, os três são caçados pelo governo americano e pelo Santo dos Assassinos enquanto ajudam Jesse em sua busca pelo paradeiro de Deus no meio de duas grandes conspirações, uma envolvendo a política celeste e a outra o Santo Graal.

    holy-trinity

    Os três protagonistas: Jesse Custer, Tulip O’ Hare e Cassidy

    A história em si, apesar de regular, inova pouco dentro da narrativa de super-herói, todas as convenções do gênero estão lá. O que Garth Ennis faz é subvertê-la de forma interessante: o super poder do protagonista é pouco utilizado (ele é até esquecido às vezes, como no número 33), todos sabem a identidade secreta do (super-herói) pregador, ele tem uma namorada e um melhor amigo, sua galeria de vilões são todos regionais (específicos de locais por onde os protagonistas passam), com exceção do super vilão Herr Starr, que o persegue o tempo todo, além de que um importante personagem morre e retorna no número seguinte.

    A premissa de Preacher é a crítica ferrenha aos valores cristãos-católicos, na figura do ex-pregador que vai acertar as contas com Deus. Sendo mostrado o tempo todo de forma patética por fugir do céu e evitar o confronto com Jesse, Deus e as criaturas celestiais na história tem tantas falhas quanto os humanos, sendo movido pelos seus interesses pessoais, acima do bem comum, conspirando e assassinando, ao invés de promover o amor e a tolerância entre os humanos, como também salvar a humanidade.

    Onde esta Deus

    Jesse pergunta pelo todo poderoso…Preacher cena mais interessante

    …e finalmente o encontra em um dos melhores momentos da série.

    Ao longo da trama, Garth Ennis trabalhou bastante os protagonistas da série da Vertigo. Jesse e Tulipa, no entanto, tiveram poucas mudanças de caráter e de personalidade. Jesse começa e termina a história com seu senso moral de fazer o que acha certo a sua maneira, querendo acertar as contas com Deus, e enquanto isso não acontece se mete em brigas com quem quer que cruze o seu caminho.

    Tulipa como uma assassina de aluguel cheia de vida ainda é a namorada perdidamente apaixonada por Jesse e o segue até o fim. Ela tem dúvidas e incertezas quando posta de lado por ele algumas vezes, mas sempre são contornáveis no final das contas. Seu momento mais marcante de mudança de personalidade é quando fica de luto, e é aí que o autor lhe confere a qualidade mais interessante: ficar em depressão profunda.

    amar ate o fim do mundo

    O casal apaixonado

    Cassidy, por outra vez, se torna de longe o personagem mais tridimensional e o mais interessante. O alter ego irlandês do autor é dúbio, tem falha de caráter e o seu passado é um dos mais ricos de todos. Talvez por ser a mais extensa (já que ele é um vampiro de quase 100 anos), é a que melhor detalha a mudança de personalidade de Cassidy com situações que mostram a sua essência: ele te seduz sendo um bom amigo que faz tudo por você até se tornar um filho da mãe que te esfaqueia pelas costas. Ele te usa, e quando você não tem mais serventia, te joga fora. Em suma, pode-se dizer que é um vampiro social.

    Cassidy

    Cassidy saboreando a carne depois de amaciá-la em uma briga

    Um dos pontos altos na obra é o cinismo de Garth Ennis. Todas as grandes sacadas da narrativa envolvem mostrar situações onde algum personagem respeitável está fazendo algo condenável moralmente, ou quando sofre ou morre de forma esdrúxula. O mais curioso é que isso não se restringe somente aos protagonistas: todos os que fazem parte da história em algum momento caem nas armadilhas preparadas pelo autor, mostrando o quão patéticos eles são naqueles momentos. É aí que o leitor será surpreendido, quando o esquisito, o grotesco se apresenta.

    D'Aronique

     O Grande pai D’Aronique golfando, já que sofre de bulimia

    advogada do quincannon

    Senhorita Oatlash, a advogada de Odin Quincannon dando em cima de Jesse

    preacher_28_08Herr Starr escolhendo uma peruca

    Pai da Tulipa

    Pai da Tulipa morto por caçadores de forma patética: cagando no mato

    Outro ponto alto são os diálogos, que são sempre mostrados de forma a fornecer ao leitor mais sobre as particularidades dos personagens, como também de dar mais informações a cerca do universo que os circunda. Bem escritos, soam críveis na maioria das vezes, tendo uma ou outra escorregada aceitável.

    A série é muito violenta e a violência é apresentada de forma crua, sendo que a sugestão dela poucas vezes ocorre. O gore praticamente dá as caras o tempo todo quando pessoas são mortas por armas de diversas formas possíveis. Pode ser um incômodo para quem tem problemas com tamanha exposição, mas para quem gosta é um prato cheio.

    Violencia preacher

    O desenho de Steve Dillon no geral é interessante. Os personagens comuns são retratados de forma usual, mas o seu melhor se encontra nos personagens bizarros como Santo dos Assassinos, Cara-de-Cu, Herr Starr, Marie L’Angell, o grande pai D’Aronique, Odin Quincannon, entre outros. No traço de Dillon eles se tornam tão característicos e enigmáticos que são reconhecíveis facilmente inclusive quando mal aparecem em cena.

    Odin Quincannon

    Odin Quincannon, um dos vilões mais bizarros

    Sua caracterização de ambientes e cenários também é satisfatória, dando ao leitor a fácil capacidade de se ambientar no meio de tantas andanças que ocorrem ao longo da série.

    Mas seu traço também tem um problema que incomoda: o rosto das personagens femininas são quase sempre iguais. Isso só não torna mais difícil a caracterização para o pelo leitor pois as cores bem usadas das roupas e cabelos diferentes permite a identificação, mas ainda assim deixa a história mais pobre.

    Mulheres iguais

    As duas personagens femininas e seus traços muito parecidos

    As capas de Gleen Fabry são um espetáculo a parte. De uma forma mais realista, as ilustrações tentam elevar os personagens desenhados por Dillon um patamar diferenciado.

    Preacher63

    preacher_book4_hc

    Preacher vale a pena? Definitivamente pela relevância alcançada que tem no mundo dos quadrinhos alternativos dos anos 90. Ennis conseguiu atingir um nível superior de qualidade entre o auge das histórias com heróis super fortes e cor digital da Image e as fracas tramas de quedas de heróis da DC/Marvel. Junto com Grant Morrison, Neil Gaiman liderou a vanguarda alternativa do selo Vertigo, e se tornando uma alternativa interessante para uma época que o tempo mostrou ser relevante até hoje.

    Texto de autoria de Pablo Grilo.

  • Resenha | Hellblazer: Congelado

    Resenha | Hellblazer: Congelado

    Hellblazer - Congelado

    Finalmente a Panini lança o seu primeiro encadernado com o matador de demônios mais motherfucker dos quadrinhos, John Constantine. Infelizmente, a editora optou por continuar a série de onde a Pixel parou, o que é muito bom para quem já acompanhava as revistas, mas ruim, para quem não teve a oportunidade de conhecer toda a trajetória de Constantine, como eu por exemplo, além do que, era uma ótima oportunidade para ter toda a coleção em edições de alta qualidade.

    John Constantine é um exorcista arrogante, detentor de poderes sobrenaturais. O personagem foi criado por Alan Moore, na época em que escrevia as histórias do Monstro do Pântano, e era um mero figurante, porém, como era de se esperar, logo se popularizou e ganhou uma revista só sua: Hellblazer.

    O arco lançado pela Panini, intitulado apenas como Congelado, reúne 7 edições da série mensal americana, do número 157 a 163, e antes que alguém ache difícil acompanhar uma revista com tantas edições já lançadas, vai por mim, não é difícil entender a história até agora, além do que, a revista conta com uma introdução dando um pequeno resumo de toda a jornada de Constantine até aqui, o que acaba facilitando os leitores que conhecem o básico do personagem, mas talvez não surta o mesmo efeito para aqueles que nunca leram nada sobre ele.

    O encadernado conta com quatro histórias, todas muito bem escritas, mesclando o extraordinário com o humor negro típico do personagem. Logo na primeira delas, temos uma sequência de diálogos sensacional, transcrito logo abaixo:

    -Então Betty estava no céu com São Pedro quando ouviu sons de brocas e gente gritando.
    -Continue.
    -Daí ela perguntou a São Pedro: “que barulho todo é esse?“. E ele respondeu que quando você chega ao céu eles têm que fazer furos nas suas costas para colocar as asas e um na cabeça para a auréola. Então ela disse: “prefiro ir pro inferno“. E São Pedro explicou que no inferno ela seria sodomizada por toda eternidade.
    -Bom, pra isso ela já tinha um buraco.

    A primeira história é curta, com alguns poucos diálogos, quase um prequel do que está por vir. A segunda história, que dá título ao encadernado, na minha opnião é a melhor de todas, com uma trama repleta de suspense e mistério, que se passa toda dentro de um bar nos EUA.

    Após uma de suas andanças pelo território americano, John Constantine se depara com um bar, onde os clientes daquele se vêem ser ter para onder ir, devido a uma forte nevasca que tem feito na região, impossibilitando-os de se locomover, e para ajudar, um assassinato é descoberto em frente ao local e todos acreditam que o responsável está ligado a uma lenda antiga da região. Na outra história, conhecemos um pouco do passado de Constantine na Inglaterra, quando ele era apenas um jovem. Essa é uma boa história para entender um pouco da construção do personagem, recomendado principalmente para novatos nos círculos de magia do nosso bruxo.

    O roteiro é todo escrito por Brian Azzarelo, o que já é motivo de divergências para muitos, principalmente na sua fase em que cuidou do personagem. Particularmente, gosto bastante dos trabalhos de Azzarello, seu desenvolvimento narrativo não deixa a ‘peteca’ cair em nenhum momento. Os desenhos ficam por conta de Steve Dillon, Marcelo Frusin e Guy Davis, todos casam muito bem com o estilo tempestivo de Azzarello e tem o traço peculiar de suas histórias.

    A Panini tem feito um ótimo trabalho ao relançar esses trabalhos, principalmente para aqueles que desistiram de comprar edições simples e primam por uma qualidade maior. Só nos resta torcer para que ela se acerte com a periodicidade desses encadernados.