Tag: Garth Ennis

  • VortCast 101 | Diários de Quarentena XXI

    VortCast 101 | Diários de Quarentena XXI

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Bruno Gaspar (@hecatesgaspar), Bernardo Mazzei Jackson Good (@jacksgood) retornam para mais uma edição do “Diários de Quarentena” se reúnem para comentar sobre os últimos lançamentos do cinema, quadrinhos e TV.

    Duração: 91 min.
    Edição: Flávio Vieira e Rafael Moreira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira e Rafael Moreira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

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  • Resenha | Ronda Vermelha

    Resenha | Ronda Vermelha

    Um dos roteiristas de quadrinhos mais famosos da atualidade (graças ao sucesso da adaptação de The Boys), Garth Ennis é conhecido pela maioria por escrever um conteúdo vazio de significado que atrai leitores graças a uma característica bastante peculiar que chamarei de criatividade para o violento. Seus roteiros são, em sua maioria, recheados de violência e as páginas dos quadrinhos idealizados por ele geralmente pingam sangue (e, normalmente, alguns outros fluidos corporais).

    Ennis ficou muito famoso por Preacher (que virou série), The Boys (que virou série) e, principalmente, por sua fase à frente do Justiceiro Max e pelos números de Juiz Dredd que escreveu na 2000 AD. O que todos esses títulos tem em comum? Vísceras, nudez e tiros pra todo lado. Roteiro policial e um desenho bem feito são o máximo que a gente pode esperar de um quadrinho escrito pelo irlandês de Belfast e é isso que leva Ronda Vermelha à maioria dos carrinhos de compra internet afora.

    Os detetives Mellinger, Giroux, Wylie e Winburn integram a Ronda Vermelha, um grupo de agentes especiais do departamento de narcóticos da polícia de Nova Iorque. Durante um tempo, a Ronda reinou soberana no combate ao narcotráfico local mas eventos recentes os empurraram para casos menores. Longe dos holofotes e após um recente revés nos tribunais, o grupo decide tomar a justiça em suas mãos e eliminar Clinton Days, um gângster que escapou da lei muito tempo atrás e que estava na mira da Ronda antes de os detetives serem rebaixados. Utilizando as informações que tinham da época em que investigavam Days, o grupo utiliza sua perícia em armas de fogo e luta corporal para corrigir uma injustiça e está prestes a descobrir que fazer a coisa errada pode ser muito, muito sedutor.

    Ronda Vermelha é um título da Dynamite Comics lançado entre fevereiro de 2013 e março de 2014. Originalmente divido em 7 números, o título foi reunido em 2017 numa edição em capa dura com 204 páginas pela Mythos Editora e que conta com roteiros e sketches originais de bônus ao final da leitura. O material está bem traduzido com a linguagem bem adaptada para o português e a edição da Mythos é bem impressa em papel de qualidade.

    Sobre a história, a primeira coisa a se destacar é que ela é o trabalho de Ennis mais pautado na realidade que já ouvi falar. As páginas remontam toda a história de derrocada da Ronda Vermelha através do relato de seus integrantes, em depoimento oficial ao chefe da divisão. Toda a história é bastante simples e nada muito mirabolante é sacado da cartola em nenhum momento e isso, acreditem, faz da história um dos trabalhos do autor que eu mais gostei de folhear. Sem nenhum super poder, sem luta de 1 contra 50, sem ninguém ser espancado com a cabeça de outra pessoa ou dado de comer para um tubarão branco, a história simples e bastante direta do quadrinho entrega um leitura muito rápida e fácil.

    Completamente pé no chão, Ronda Vermelha não tem espaço para trabucos gigantes e planos mirabolantes.

    Não que os personagens do quadrinho sejam ruins. O grupo que forma a Ronda é bastante heterogêneo com policiais de faixas etárias e conflitos pessoais bastante diferentes. Todos os protagonistas tem suas visões de mundo apresentadas de maneira bastante óbvia e em nenhum momento um subtexto aparece para desviar a atenção do mote principal: um grupo de policiais que assassina bandidos sem passar nenhuma mensagem. É quase como se o Justiceiro (da Marvel, que deu boa parte da fama que Ennis possui) fosse possível de existir no mundo real na forma de um grupo de 4 agentes de campo e não na personificação do exagero quadrinesco e na contra mão de todas as leis da física e das características biológicas dos seres vivos.

    Formado por um detetive mais jovem (com problemas no casamento, reticente sobre o trabalho da Ronda), um oficial negro (corpulento e fiel ao líder), uma mulher (feminista e bastante desbocada) e um veterano (famoso no meio e conhecedor dos meandros da profissão). A relação entre os personagens do grupo é boa e a ação promovida por eles é bem executada do ponto de vista gráfico, e isso tudo é demonstrado com uma arte consistente.

    Com desenhos de Craig Cermak, Ronda Vermelha assemelha-se bastante a um documentário em quadrinhos. Nenhuma ação da história é extremamente hollywoodiana, nenhum personagem é extremamente anabolizado e nenhuma mulher é sexualizada de forma desnecessária (ou biologicamente impossível). Tal qual sugere o roteiro da aventura, os desenhos se mantém, durante todo o decorrer da série, o mais pé-no-chão possíveis. Cermak trabalha com qualidade alta se comparado a um quadrinho de linha regular mas isso não implica dizer que qualquer quadro precise ser aumentado e enquadrado para colocar na parede. O time de coloristas usa, estes sim, de forma incrível para compor as duas timelines que são exploradas e mantendo fácil de entender toda a ação noturna que o roteiro impõe. Do ponto de vista artístico, um quadrinho bonito e gostoso de folhear.

    Com arte pouco extraordinária e um dos roteiro mais realista que Ennis escreveu, Ronda Vermelha se apresentou como uma aventura de leitura rápida igualmente fácil e gostosa de acompanhar. Uma graphic novel bastante realista, que não emplaca nenhum momento épico mas que vale a pena manter na estante para mostrar àquele seu amigo que não gosta de história em quadrinho porque acha que tudo se resume ao universo dos super-heróis.

    Roteiro simples, boas artes e excelente cores: o conjunto da obra é excelente e para qualquer leitor adulto.

     

  • Resenha | Campos de Batalha – Volume 1

    Resenha | Campos de Batalha – Volume 1

    Campos de Batalha – Volume 1 compila duas minisséries escritas por Garth Ennis ambientadas na Segunda Guerra Mundial. O quadrinho publicado pela Editora Mythos (e infelizmente descontinuado devido as baixas vendas) mostram uma faceta bem elogiada do escritor especialista ao mostrar os terrores e meandros do ambiente sujo da guerra, como foi em sua fase à frente do Justiceiro Max, sendo essa edição com foco em mulheres protagonistas, mostrando um lado pouco explorado dentro da estética e atmosfera da guerra.

    A primeira história, Bruxas da Noite, tem três partes e apresenta um grupo de aviadoras russas. O desenhista Russel Braun tem dois aspectos positivos bem pontuados: primeiro, nos combates aéreos e nos detalhes das máquinas voadoras, e segundo (e mais importante) na violência absurda do combate em solo, seja na troca de tiros na terra, ou nas consequências dos disparos aéreos.

    Essa visceralidade dá ao roteiro camadas profundas, pois contrastam bem com a desolação sentimental dos personagens que se veem no meio de um conflito que abreviará (ou desgraçará) a vida de quase todos dali. O grafismo é equilibrado, e a arte é discreta em matéria de corpos e feições humanas. As páginas duplas são esplêndidas, sobretudo nas batalhas de aviões e nos golpes secos de armas brancas entre os nazistas e soviéticos.

    Ao escrever super heróis, Ennis é normalmente associado como um cínico, mas ao tratar de guerra, é natural que os temas espinhosos sejam apresentado com mais equilíbrio como a prática hedionda do estupro, algo que em tempos normais é encarado como crime hediondo mas, em épocas de guerra, é visto como um pecado menor, ainda mais quando a ação ocorre contra o “inimigo” (basta ver outros quadrinhos que retratam o momento como Maus  ou o sul-coreano Grama).Até os momentos mais chocantes são mostrados aqui sem alarde, de maneira pragmática, reiterando a sensação de que a guerra desperta no homem os instintos mais primitivos e cruéis.

    A parte dois, Querido Billy (Batttlefields Dear Billy) se apresenta com uma capa alternativa linda de Garry Leach (alias, as capas das edições internacionais são sensacionais. John Cassaday traz artes deslumbrantes que mostram a sede de sangue dos soldados sanguinários. ). Seu inicio é sem respiros com mulheres sendo dizimadas por fuzilamento em uma praia, mostrando em seguida uma delas sobrevivendo a chacina.

    Os desenhos dessa vez são de Peter Snejberg que tem um talento para desenhar dilacerações como ninguém. As cores de Bob Steen destacam um quadro bonito e melancólico, seja nas paisagens ou na tentativa de uma vingança pessoal. Aqui se percebe que mesmo pessoas de boa índole e intenção tendem a se transformar em monstros com sede de vingança e sangue.

    Snejberg desenha veículos de maneira bem detalhada, especialmente os bombardeiros aéreos. Sua arte combina ainda mais com o texto de Ennis do que Braun. O desfecho da história poetiza o sentimento suicida e revanchista, mostrando o grande lado humano de seus personagens.

    Campos de Batalha ainda possui no final de cada história alguns esboços dos dois desenhistas. É realmente uma pena que a série não tenha feito o sucesso que merecia, talvez com um trabalho de marketing mais acurado e especifico, certamente geraria melhores resultados. As histórias são curtas, fáceis de ler, e por mais que a violência seja um bocado perturbadora, é fácil apreciar este trabalho, que denuncia o caráter totalmente nefasto das guerras modernas.

    Compre: Campos de Batalha.

  • Resenha | Justiceiro: No Princípio

    Resenha | Justiceiro: No Princípio

    Em Táxi Driver, Martin Scorcese apresentou ao mundo o clássico Travis Bickle, ex-combatente na Guerra do Vietnã que, transtornado pelas mazelas com as quais se deparou na cidade de Nova York, acaba adentrando em uma espiral de violência e insanidade, em busca de uma “limpeza” para a cidade em que vive. Mas por qual motivo estamos falando de Taxi Driver em uma resenha sobre uma história em quadrinhos do Justiceiro? Pois bem, vamos lá.

    O Vietnã representou uma derrota colossal para o orgulho norte-americano, e deixou marcas profundas nos soldados que lá serviram e conseguiram retornar para casa. O cinema e os quadrinhos muitas vezes já trabalharam a partir desse conflito, e Garth Ennis, notório pesquisador sobre guerras e reconhecido escritor de histórias do gênero, foi brilhantemente cirúrgico ao utilizar o conflito como pano de fundo para sua abordagem com o trágico e violento Justiceiro.

    Capitão dos fuzileiros navais durante a Guerra do Vietnã, o veterano e herói de guerra Frank Castle retorna do conflito diferente de quando lá chegou. Há algo nele, escondido em seu interior, ansiando por violência, uma sede de sangue que em muito lhe ajudou dentro do país asiático. Em 1976, contudo, Frank Castle se depara com o evento que mudaria sua vida: a morte de sua família, durante um piquenique no parte, por engano durante uma briga de mafiosos. Ali morria Castle, espiritualmente, dando lugar para sua sede interminável e insaciável por vingança, personificada pelo Justiceiro.

    Travis Bickle e Frank Castle retornam para Nova York extremamente afetados pelo que viveram no Vietnã e, por motivos distintos se colocam no papel de “agentes de limpeza”, diante do crime e de tudo aquilo que consideram errado no mundo. Contudo, se a sanha violenta de Bikle dura por um breve período de tempo, a sede de punição de Castle já dura décadas, e aí mora o cerne da tragicidade por trás da ideia do Justiceiro: Frank Castle jamais terá a expiação de seus traumas, sua família jamais voltará à vida, e sua guerra ao crime jamais terá fim. Eis um homem cuja missão jamais será completada.

    Em sua batalha de um homem só, Castle se afundou em seu luto, em sua necessidade de vingança, de encontrar alguma lógica, alguma missão redentora, na trágica morte de sua amada família. Diante de todo esse caos, o homem chamado Frank cedeu cada vez mais lugar para que o Justiceiro pudesse “fazer o que tinha de ser feito”, e se perdeu de forma irremediável. O Vietnã, para Frank, jamais acabou realmente, e sua sobrevivência, sua mera existência, não tem mais sentido, senão enquanto arauto da vingança, da punição, em sua ideia distorcida de “justiça”.

    À frente do título, Ennis consegue desenvolver  uma proposta incomum para os quadrinhos da Marvel, ao narrar a história de Castle de acordo com a continuidade do tempo no mundo real, apresentando um Justiceiro já mais velho e cansado, após quase 30 anos de guerra sem descanso. Tal escolha narrativa do autor gera uma dinâmica excepcional para o personagem, o distanciando dos super-heróis fantasiados que permeiam o Universo Marvel regular, proporcionando uma história de teor mais adulto e sombrio.

    A história contada pelo autor irlandês finca seus pés em um mundo mais realista e cruel, menos fantasioso, mas não menos violento. Sangue, balas e explosões tornam-se comuns ao longo das páginas da série, tornando familiar para o leitor o absurdo cotidiano de Frank Castle. O encadernado se inicia com Nascido para matar, que mostra os últimos dias de Frank no Vietnã, dando as pistas do que ele viria a se tornar, anos depois. Os dois arcos que completam o encadernado, “No princípio” e “Inferno irlandês”, mostram Frank já mais velho, envolvido em conflitos entre o governo, a máfia italiana, o serviço secreto inglês e a máfia irlandesa, em plena cidade de Nova York. Ao longo das páginas, vemos um inabalável Justiceiro, experiente e cirúrgico, mais confortável do que nunca dentro de seu papel enquanto emissário da morte na guerra ao crime.

    O texto de Ennis é sensacional, pode-se dizer que o autor nasceu para escrever as histórias do Justiceiro, colocando seu conhecimento de guerra em prol da narrativa urbana do personagem e entendendo o drama inerente a Frank Castle. A arte de cada arco fica a cargo de um desenhista diferente: Darick Robertson desenha “Nascido para matar”, Lewis Larosa ilustra “No princípio” e Leandro Fernández “Inferno irlandês”. Apesar da diferença de traços, os desenhistas mantém uma sincronia ao conceberem um Frank Castle sombrio, soturno e ainda assim fortemente expressivo.

    A suja, violenta e corrompida Nova York que leva Travis Bickle a sua sanguinária catarse reverbera na de Frank Castle, um soldado inabalável em sua inexpiável e trágica sina.

    O encadernado de 339 páginas, publicado pela Panini Comics aqui no Brasil pela linha Marvel Deluxe, é o primeiro de um total de quatro volumes, que compilarão toda a fase de Garth Ennis à frente do título Justiceiro MAX, com acabamento de luxo. O segundo, Mãe Rússia, e o terceiro, Barracuda, também já se encontram disponíveis no mercado brasileiro, restando apenas o último para que essa elogiada fase seja concluída no formato atual.

    Compre: Justiceiro – No Princípio.

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  • Resenha | John Constantine, Hellblazer – Infernal Vol. 8: O Filho do Homem

    Resenha | John Constantine, Hellblazer – Infernal Vol. 8: O Filho do Homem

    Hellblazer_Infernal_8Último volume apresentando a passagem de Garth Ennis pelo título de John Constantine, Hellblazer: Infernal – Vol 8 traz o irreverente e assustador arco de histórias O Filho do Homem. Ennis assumiu o roteiro de Hellblazer no número 41, com o excelente arco Hábitos Perigosos, escrevendo até o número 83 e voltando, em 1998, para esse último arco entre as edições 129 e 133. Existe uma diferença bastante clara entre o estilo narrativo de O Filho do Homem e seus outros textos, que é a quebra da quarta parede. Constantine frequentemente interrompe o que está fazendo para olhar diretamente para o leitor e narrar a história, não com recordatórios, mas com balões de fala. Isso pode soar estranho para alguns leitores – afinal, ele não é o Deadpool! – mas não atrapalha a história, e dá um tom bastante sarcástico em alguns momentos.

    A história começa com Chas, o amigo taxista de John, se envolvendo por acaso com um assassinato. Devido a um equívoco, Chas foi confundido com o motorista de fuga de um crime e acabou cúmplice de um gângster por acidente, e ao fugir da polícia, o bandido é baleado e morto dentro de seu carro. Ele procura abrigo no apartamento de Constantine, que o ajuda a se livrar do carro e do corpo, mas descobre que o criminoso envolvido faz parte de seu passado.

    Em uma sequência de flashbacks, descobrimos a relação de John com o chefão do crime Harry Cooper. O criminoso foi responsável pela saída de Constantine do hospício de Ravenscar, pedindo a ele um “favor”: trazer seu filho de oito anos de volta à vida! Chantageado para poupar as vidas de sua irmã e sobrinha, John reúne seu grupo de amigos (mortos em edições passadas, mas importantes nos flashbacks e muito bem representados!) para resolver a situação do único jeito que ele sabe: com trapaça! A equipe sacana trabalha num esquema (também enganados por John, obviamente) que traria um demônio diretamente do inferno para habitar o corpo inanimado do garoto. O demônio deveria, supostamente, servir a Constantine, porém essa servidão tinha um prazo de validade que John não contou aos seus companheiros.

    Doze anos depois desses acontecimentos, o demônio (não mais sob o poder de Constantine) continua no corpo do garoto, que não envelheceu um ano sequer e domina o submundo do crime. Além disso, tem um plano diabólico de trazer o anticristo ao mundo. Como uma paródia da virginal concepção de Jesus, o anticristo milagrosamente nasceria do ventre de um homem: o chefão Harry Cooper. Com um desfecho bizarro e assustador, a história toma um rumo bastante inesperado, com John tendo que tomar uma atitude drástica e até mesmo cruel, embora acertada dentro deste cenário.

    Ennis trabalha de forma ao mesmo tempo grotesca e divertida esses temas, e parece muito à vontade ao satirizar elementos da fé cristã. As tramas paralelas também são muito interessantes, como o caso que Constantine acaba tendo com uma garota lésbica – que garante umas boas risadas ao leitor – ou a forma como o demônio manipula um prostíbulo para manter sua juventude. A arte de John Higgins é acertada, longe dos exageros e experimentações das edições anteriores, e garante a atmosfera necessária para a trama. A narrativa de horror nunca esteve tão afiada, e o volume encerra a série Infernal brilhantemente.

  • Resenha | Justiceiro: Bem-Vindo de Volta, Frank

    Resenha | Justiceiro: Bem-Vindo de Volta, Frank

    Bem Vindo de Volta Frank - capa eng

    O encontro com deuses e anjos em uma narrativa sobrenatural foram temas de The Punisher: Purgatory, uma mini-serie escrita por Christopher Golden e Thomas E. Sniegoski, a qual gerou uma recepção altamente negativa do público e o cancelamento de qualquer história envolvendo o Justiceiro. Por dois anos, a personagem permaneceu distante do público quando Garth Ennis apresentou a Marvel uma proposta de retomar a essência de Frank Castle, negando os últimos acontecimentos e explicitando a vertente urbana de um anti-heroi cuja missão sempre foi exterminar qualquer pessoa ruim do planeta, de acordo com sua percepção dos fatos.

    Publicado originalmente em 12 edições, Bem-Vindo de Volta, Frank foi lançado no país pela Panini Comics em um compilado em capa cartão e, recentemente, retornou as bancas em dois volumes em capa dura pela Coleção Graphic Novels Marvel da Salvat. Retomando a parceria com Steven Dillon, de Preacher, a série marca o início da longa passagem de Ennis pelo título da personagem, inicialmente pelo selo Marvel Knights, depois no Max, quando atinge o ápice narrativo nesta fase com planos de republicação no país pela editora.

    O enredo é ágil, focado em diversas cenas de ação, apresentando o retorno de Castle a cidade de Nova York ciente de que, em sua ausência, houve uma maior taxa de crimes. Assim, o Justiceiro foca sua cruzada contra Mamma Gnucci, a chefe de uma família mafiosa local. Destruindo seus principais membros, além de capangas e afiliados, transformando no principal inimigo da criminosa. Paralelamente, a polícia da cidade inicia uma força-tarefa para investigar a controvérsia personagem do vigilante, enquanto outros vigilantes surgem em bairros específicos em homenagem ao retorno do Justiceiro.

    Declaradamente averso a concepção de heróis como superseres, o roteirista evita ao máximo a participação de qualquer personagem do universo Marvel. No texto enviado para editora ao apresentar sua nova proposta narrativa, Ennis informava que, no máximo, ciente da necessidade de chamariz e vendas, inseriria a participação de algum personagem conhecido. Assim, coube a Demolidor uma participação especial em um dos volumes do arco, de qualquer maneira, sem perder o tom urbano e realista proposto na história. A ausência da comunidade heroica seria o primeiro passo para compor uma trama linear e paralela a qualquer evento da editora.

    Justiceiro - Bem Vindo de Volta Frank

    Ennis mantem um estilo misto de realismo e humor negro coerente com sua proposta, transformando os atos mais improváveis em boas cenas que representam o exagero de seus personagens. Frank Castle, além de um vigilante que utiliza da maneira mais agressiva para exterminar seus inimigos – uma violência visual que choca o leitor pela improbabilidade – esta ciente de seus atos hediondos e simultaneamente é gentil com aqueles que considera inocente. Reconhecendo ser um exército de um homem só, o vigilante sabe que sua potência não pode exterminar todo o crime, mas continua exercendo sua obsessão.

    Desenvolvendo sua trama principal em paralelo a subtramas menores, a narrativa reapresenta a personagem ao mesmo tempo em que desenvolve seus argumentos estruturais para o futuro com o azarado detetive Martin Soap escalado para a força-tarefa, ao lado da detetive Molly von Richthofen, para investigar os diversos assassinatos de Castle. Uma vertente que explora socialmente a personagem, demonstrando que embora exista uma obrigação de investigá-lo, grande parte da corporação admira o vigilante por sua eficiência.

    Os traços de Dillon se destacam nas cores de Chris Sotomayor e na arte-final de Jimmy Palmiotti. São econômicos nos detalhes de cenários mas suficientes para intensificar as diversas e improváveis cenas de ação. Além da afinidade natural com o roteirista, sem dúvida, o traço de seu Justiceiro se tornaria um dos mais conhecidos da personagem.

    Bem Vindo de Volta, Frank é uma estupenda reintrodução a um interessante personagem do estúdio que, a partir dessa história, ganhou novo alcance e uma versão definitiva em sua concepção. Ainda que existam antigas histórias eficientes, como a primeira aventura na mini-série Círculo de Sangue, Ennis expandiu a personagem além de sua função inicial como coadjuvante, inserindo-lhe uma trajetória própria mais detalhada, com conflitos internos e explicitando a força de sua violência.

    Compre: Bem Vindo de Volta, Frank (Vol 1. | Vol. 2)

    Bem Vindo de Volta Frank - 02

  • Resenha | Batman: Contágio

    Resenha | Batman: Contágio

    Batman Contagion

    Lançado em 12 partes nas revistas mensais de Batman e seus aliados, Contágio foi publicado no país em quatro edições pela Editora Abril, entre março e abril de 1998, em Batman – Vigilantes de Gotham #17 e #18 e Batman #17 e #18. O arco nunca foi relançado no país, mas, como é costume nos Estados Unidos, a saga foi republicada em uma edição compilada .

    A intenção de Contágio é apresentar um elemento a mais nas tradicionais aventuras do Morcego. Em uma época em que Batman sofreu um grave acidente e sobreviveu à lesão na espinha, escolher como vilão um vírus com alto potencial destrutivo apresenta um novo elemento capaz de sobrepujar o herói e, talvez, amenizar os exageros cometidos dois anos antes na saga A Queda do Morcego.

    Tratando-se de um herói que conquistou a fama de indestrutível por conta da capacidade estratégica, física e de arsenal ilimitado, um vírus letal é uma dimensão nova que vai além das tradicionais brigas com vilões. Vista com distanciamento temporal, a saga parece antecipar outras duas grandes histórias interligadas entre si: Terremoto e Terra de Ninguém, excelentes arcos publicados dois anos depois desta.

    A narrativa inicia-se indo direto ao ponto. Azrael, um dos aliados do morcego – e quem veste o manto na época do acidente quase fatal – informa que um vírus letal, uma variante do Ebola, chegará a Gotham City através de um homem infectado. A personagem em questão é um rico empresário que deseja construir um condomínio de luxo autossustentável. Ironicamente, o ambiente controlado acaba sendo o ponto de partida da infecção na cidade. Tentando impedir o contágio, Batman e seu esquadrão assumem frontes distintas para descobrir a origem do vírus e procurar sobreviventes de uma epidemia anterior, ocorrida no Alaska. Por ser uma narrativa que atravessa as revistas de todos os personagens do universo do Morcego, Robin é o herói que mais se destaca, tendo como missão a busca e resgate de um sobrevivente de um contágio ocorrido anteriormente. No local, o menino prodígio conta com a ajuda de Mulher-Gato, vivendo, na época, uma relação conturbada com os vigilantes de Gotham.

    A urgência prometida pelo tempo escasso não aparece nos quadrinhos. Como um líder informal da cidade, Batman pouco aparece no início da trama. Sua presença é inferida pelos personagens e não está ligado diretamente com a ação. A história desenvolve-se com seu esquadrão, Robin, Mulher-Gato e Azrael, procurando por sobreviventes. Enfocando mais a busca por uma vacina do que a destruição de Gotham, a dimensão da epidemia é diminuída, e a figura do morcego fica sem uma função específica na história. Por que sua presença na cidade é tão importante quando deveria ser ele o líder à procura da cura?

    Para manter o ritmo narrativo das doze partes, surgem mais ganchos do que o necessário. Um esforço para acelerar um início levemente arrastado e sem uma tensão iminente devido ao contágio. Somente quando um dos heróis é afetado pelo vírus, a urgência aumenta e a trama torna-se mais ágil, dividindo-se entra a histeria coletiva da cidade, os vigilantes tentando proteger a população e um Batman ciente de que a cidade pode sucumbir a qualquer momento e nada fazendo para ajudá-la. A trama também traz o retorno de Gordon como Comissário no comando da polícia, em uma bonita cena em que ele e o Morcego discorrem sobre o amor e ódio que sentem pela amaldiçoada Gotham.

    Mesmo não sendo um arco brilhante, Batman – Contágio demonstra a possibilidade de inserir novos elementos nas tradicionais tramas de heróis sem que estas se tornem destoantes. Uma vertente utilizada em grandes sagas pela DC Comics na década seguinte.

  • Resenha | O Sombra – Volume 1: O Fogo da Criação

    Resenha | O Sombra – Volume 1: O Fogo da Criação

    O Sombra - Fogo da Criação - Capa

    A Dynamite Entertainment, fundada em 2005, é responsável pela releitura de antigos personagens de quadrinhos, populares em eras anteriores ao domínio da DC e Marvel Comics. Personagens como O Fantasma, O Sombra, Vampirella e o Besouro Verde são exemplos deste retorno às origens dos quadrinhos. Heróis que vem sendo lançados pela Mythos Editora em encadernados especiais.

    Criado para um programa de radiodifusão, o vingador mascarado que lutava contra o crime conquistou popularidade suficiente para cativar os ouvintes e se propagar em outras mídias, como os quadrinhos. O sucesso do herói perdurou até o final da década de 40 quando, após mais de 300 edições, seu gibi foi cancelado. Desde então, a personagem sempre foi retomada pela indústria, seja em novas edições de quadrinhos, séries ou na provável única encarnação conhecida por grande parte do público recente, uma produção cinematográfica de 1994 estrelada por Alec Baldwin.

    No retorno do herói, que conhece o mal no coração dos homens, Garth Ennis assina a saga inicial, lançada integralmente pela Mythos Editora em uma edição de luxo com o primeiro roteiro na íntegra, capas adicionais e esboços de Alex Ross, um dos capistas das edições americanas, e arte de Aaron Campbell.

    Diferentemente de outros heróis, que a cada releitura são inseridos no tempo presente, O Sombra permanece em sua época de criação, tornando-se um representante histórico da luta contra o crime em um momento de tensão e polarização global. A narrativa de Ennis se evade da eventual história de origem feita para um novo público e confia na potência da personagem, apresentando-a em uma trama investigativa sobre o passado, polarizado entre as tensões de guerras mundiais, do herói.

    Soldado da Primeira Guerra Mundial, Kent Allard dominou as artes do hipnotismo e simulou a própria morte para retornar como Lamont Cranston, um bon vivant, colaborador da polícia e combatente do crime. Trajando roupas pretas, chapéu e um lenço vermelho cobrindo o rosto, a ilusão e a teatralidade fazem parte de sua concepção. Não à toa, este e outro herói da época, Aranha, foram inspiração para o estilo consagrado do Homem Morcego.

    O roteiro de Ennis apresenta tanto a faceta heroica quanto a do alter ego playboy, equilibrando-se entre dois polos da aventura: a investigação formal para descobrir se os japoneses estão de posse de um mineral com potencial destrutivo para definir a guerra, e as incursões do Sombra contra o mesmo grupo. Mesmo prezando pela justiça, não há um senso moral de que bandidos devam ser poupados. Munido de duas armas calibre .45, Sombra atira sem nenhuma piedade, enquanto faz da sombra e do hipnotismo os aliados para confundir os inimigos. Fundamentado além do rádio pelas narrativas pulps, por meio da ambientação e da violência, o alter ego de Cranston tem a tiracolo um interesse amoroso: Margo Lane. Normalmente, Lane é sua parceira de ação – um elemento diferente do costumeiro sexismo dos quadrinhos – porém, nesta trama, não tem destaque além do fato de acompanhá-lo e ser a única que conhece a dupla identidade do protagonista.

    Bem dosada entre aventura e investigação, Fogo da Criação é uma boa história, capaz de conduzir o leitor a outra época heroica. Porém, diante da gama variada de narrativas e do domínio das grande duas editoras, é necessário fôlego para que a personagem se consolide neste momento do mercado sem parecer apenas uma lembrança nostálgica. Os quadrinhos de O Sombra continuam sendo lançados nos Estados Unidos com direito a histórias Ano Um remontando a sua origem. Aguardemos estes lançamentos no país também.

    Compre aqui.

  • Resenha | John Constantine, Hellblazer – Infernal Vol. 1: Hábitos Perigosos

    Resenha | John Constantine, Hellblazer – Infernal Vol. 1: Hábitos Perigosos

    Hellblazer - Infernal - Vol. 1 - Habitos Perigosos

    Se a Warner fizer direito a lição de casa, é provável que John Constantine se torne um de seus personagens mais populares nos próximos anos. Isso porque está em produção uma série televisiva estrelando o mago, que a julgar pelos vídeos publicados até agora na internet, irá abocanhar uma grande fatia de fãs da já saturada série Supernatural. Soma-se a isso sua recém renovada popularidade nos quadrinhos mainstream da DC Comics, graças ao reboot do personagem e sua nova série mensal nos Novos 52 e – Bingo! – temos um novo personagem favorito dos fãs e dos cofres da Warner.

    John Constantine foi criado por ninguém menos que o aclamado autor de quadrinhos Alan Moore, em 1985, nas histórias do Monstro do Pântano. De lá pra cá, ganhou uma série duradoura em quadrinhos, Hellblazer, um longa metragem estrelado por Keanu Reeves em 2005 que divide opiniões entre os fãs e diversas aparições em revistas em quadrinhos, como na Liga da Justiça Dark, além da já citada série de TV. Mas suas melhores histórias estão, com certeza, no selo Vertigo – linha de quadrinhos da DC Comics com temática adulta.

    A Panini trouxe ao público brasileiro o arco de histórias escritas por Garth Ennis no encadernado John Constantine, Hellblazer: Infernal Vol. 1 – Hábitos perigosos. Aqui, vemos histórias de 1991 que serviram de inspiração para o filme, e que molda muito do que sabemos sobre o personagem. Logo na primeira parte da história, John recebe a notícia que está morrendo, graças a um câncer terminal no pulmão (resultado de um maço e meio de cigarro por dia desde os dezessete anos). Constantine sabe que sua morte resultará no castigo do inferno pela eternidade, e passa a pensar em um jeito de contornar a situação.

    A forma como Ennis desenvolve o roteiro nos faz acompanhar com empatia o sofrimento de John Constantine, que não pode simplesmente curar-se com magia. Constantine aproveita para despedir-se de seus entes queridos, de forma a causar nó na garganta do leitor mais durão. Da mesma forma, seu jeito trambiqueiro tira boas risadas, e o roteiro sabe equilibrar momentos tensos, divertidos e tristes, de forma a despertar as mais diversas emoções. A forma como John lida com demônios é fantástica, e demonstra uma esperteza sem tamanho.

    O arco de histórias que dá título ao volume se encerra, na verdade, na quinta história dentre as oito publicadas no volume, mais um epílogo na parte seis. Isso não significa que as outras duas histórias que encerram a edição sejam ruins. Infelizmente, a arte não segue o primor do roteiro, sendo que na última história ela chega a ser bastante inconsistente, de modo que não conseguimos sequer distinguir um mesmo personagem de um quadrinho pro outro na mesma página. Se nos anos 90 os quadrinhos foram marcados por artes arrebatadoras e roteiros fracos, aqui vemos exatamente o contrário. O esquema de colorização também é bastante datado, tendo páginas e páginas utilizando apenas uma ou duas cores. Talvez sirva para o propósito da narrativa, mas não deixa de ser estranho se comparado com a versão dos Novos 52 e com o atual modelo de colorização por computador. A arte de capa de cada edição é reproduzida entre os capítulos da história, e é algo que vale a pena gastar um tempo observando.

    O modo como a magia é retratada nessas histórias é bastante sutil. Nada de bolas de fogo lançadas pelas mãos ou feitiços de voo para facilitar o deslocamento dos personagens. Aqui, a magia é algo misterioso e deve ser evitada sempre que possível. Coisas mais corriqueiras, como alterar a percepção que o porteiro tem dos trajes de Constantine ou estourar o pneu do caminhão de um desconhecido babaca funcionam de forma coincidente, quase como se fosse algo natural. Já invocar demônios ou transformar água benta em cerveja requer rituais elaborados, que demandam tempo, velas acesas, pentagramas desenhados com giz e outros elementos do ocultismo. Não é a magia em si que faz Constantine ser um excelente personagem, mas a forma que ele a usa.

    Não é a primeira vez que Infernal é publicado no Brasil. Mas para quem está conhecendo o personagem agora, é uma excelente oportunidade de ter em mãos uma das melhores fases do mago, com um material de qualidade e preço bastante acessível. Embora a publicação comece pelo número 41 da série Hellblazer, não é necessário ler as outras edições para entender e apreciar a obra. Isso sem contar que é muito provável que mais volumes da saga sejam publicados. Assim, o leitor pode garantir alguns momentos de leitura bastante agradáveis num futuro próximo, com o que há de melhor nos quadrinhos adultos da DC, além da possibilidade de se preparar para assistir a série da Warner. Para o bem ou pra o Mal.

  • Resenha | Preacher

    Resenha | Preacher

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    Criada por Garth Ennis e Steve Dillon, escrita pelo primeiro e desenhada pelo segundo, além das capas feitas por Gleen FabryPreacher se tornou rapidamente uma das publicações da Vertigo mais famosas dos anos 90 devido ao seu estilo cínico, cheio de ação e de críticas a religião e a sociedade ocidental como poucas da época.

    Os 66 números se tornam uma leitura relativamente rápida, mesmo com pouco tempo disponível é possível ler sem maiores problemas uma média de 4 ou mais números por dia, ou a metade de um dos 9 arcos da história, e concluí-la em menos de 1 mês. A série tem as suas metáforas e reflexões interessantes, mas também tem muita ação, o que a faz ter um equilíbrio para quem busca algo a mais em uma HQ de leitura rápida.

    Sinopse: o reverendo Jesse Custer foi possuído por uma entidade que lhe confere a voz de Deus, super poder este que faz com que qualquer um lhe obedeça. Juntam-se a ele sua ex-namorada Tulipa e o vampiro irlandês porra-louca Cassidy. Devido a explosão da igreja onde estava na hora em que recebeu o poder, os três são caçados pelo governo americano e pelo Santo dos Assassinos enquanto ajudam Jesse em sua busca pelo paradeiro de Deus no meio de duas grandes conspirações, uma envolvendo a política celeste e a outra o Santo Graal.

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    Os três protagonistas: Jesse Custer, Tulip O’ Hare e Cassidy

    A história em si, apesar de regular, inova pouco dentro da narrativa de super-herói, todas as convenções do gênero estão lá. O que Garth Ennis faz é subvertê-la de forma interessante: o super poder do protagonista é pouco utilizado (ele é até esquecido às vezes, como no número 33), todos sabem a identidade secreta do (super-herói) pregador, ele tem uma namorada e um melhor amigo, sua galeria de vilões são todos regionais (específicos de locais por onde os protagonistas passam), com exceção do super vilão Herr Starr, que o persegue o tempo todo, além de que um importante personagem morre e retorna no número seguinte.

    A premissa de Preacher é a crítica ferrenha aos valores cristãos-católicos, na figura do ex-pregador que vai acertar as contas com Deus. Sendo mostrado o tempo todo de forma patética por fugir do céu e evitar o confronto com Jesse, Deus e as criaturas celestiais na história tem tantas falhas quanto os humanos, sendo movido pelos seus interesses pessoais, acima do bem comum, conspirando e assassinando, ao invés de promover o amor e a tolerância entre os humanos, como também salvar a humanidade.

    Onde esta Deus

    Jesse pergunta pelo todo poderoso…Preacher cena mais interessante

    …e finalmente o encontra em um dos melhores momentos da série.

    Ao longo da trama, Garth Ennis trabalhou bastante os protagonistas da série da Vertigo. Jesse e Tulipa, no entanto, tiveram poucas mudanças de caráter e de personalidade. Jesse começa e termina a história com seu senso moral de fazer o que acha certo a sua maneira, querendo acertar as contas com Deus, e enquanto isso não acontece se mete em brigas com quem quer que cruze o seu caminho.

    Tulipa como uma assassina de aluguel cheia de vida ainda é a namorada perdidamente apaixonada por Jesse e o segue até o fim. Ela tem dúvidas e incertezas quando posta de lado por ele algumas vezes, mas sempre são contornáveis no final das contas. Seu momento mais marcante de mudança de personalidade é quando fica de luto, e é aí que o autor lhe confere a qualidade mais interessante: ficar em depressão profunda.

    amar ate o fim do mundo

    O casal apaixonado

    Cassidy, por outra vez, se torna de longe o personagem mais tridimensional e o mais interessante. O alter ego irlandês do autor é dúbio, tem falha de caráter e o seu passado é um dos mais ricos de todos. Talvez por ser a mais extensa (já que ele é um vampiro de quase 100 anos), é a que melhor detalha a mudança de personalidade de Cassidy com situações que mostram a sua essência: ele te seduz sendo um bom amigo que faz tudo por você até se tornar um filho da mãe que te esfaqueia pelas costas. Ele te usa, e quando você não tem mais serventia, te joga fora. Em suma, pode-se dizer que é um vampiro social.

    Cassidy

    Cassidy saboreando a carne depois de amaciá-la em uma briga

    Um dos pontos altos na obra é o cinismo de Garth Ennis. Todas as grandes sacadas da narrativa envolvem mostrar situações onde algum personagem respeitável está fazendo algo condenável moralmente, ou quando sofre ou morre de forma esdrúxula. O mais curioso é que isso não se restringe somente aos protagonistas: todos os que fazem parte da história em algum momento caem nas armadilhas preparadas pelo autor, mostrando o quão patéticos eles são naqueles momentos. É aí que o leitor será surpreendido, quando o esquisito, o grotesco se apresenta.

    D'Aronique

     O Grande pai D’Aronique golfando, já que sofre de bulimia

    advogada do quincannon

    Senhorita Oatlash, a advogada de Odin Quincannon dando em cima de Jesse

    preacher_28_08Herr Starr escolhendo uma peruca

    Pai da Tulipa

    Pai da Tulipa morto por caçadores de forma patética: cagando no mato

    Outro ponto alto são os diálogos, que são sempre mostrados de forma a fornecer ao leitor mais sobre as particularidades dos personagens, como também de dar mais informações a cerca do universo que os circunda. Bem escritos, soam críveis na maioria das vezes, tendo uma ou outra escorregada aceitável.

    A série é muito violenta e a violência é apresentada de forma crua, sendo que a sugestão dela poucas vezes ocorre. O gore praticamente dá as caras o tempo todo quando pessoas são mortas por armas de diversas formas possíveis. Pode ser um incômodo para quem tem problemas com tamanha exposição, mas para quem gosta é um prato cheio.

    Violencia preacher

    O desenho de Steve Dillon no geral é interessante. Os personagens comuns são retratados de forma usual, mas o seu melhor se encontra nos personagens bizarros como Santo dos Assassinos, Cara-de-Cu, Herr Starr, Marie L’Angell, o grande pai D’Aronique, Odin Quincannon, entre outros. No traço de Dillon eles se tornam tão característicos e enigmáticos que são reconhecíveis facilmente inclusive quando mal aparecem em cena.

    Odin Quincannon

    Odin Quincannon, um dos vilões mais bizarros

    Sua caracterização de ambientes e cenários também é satisfatória, dando ao leitor a fácil capacidade de se ambientar no meio de tantas andanças que ocorrem ao longo da série.

    Mas seu traço também tem um problema que incomoda: o rosto das personagens femininas são quase sempre iguais. Isso só não torna mais difícil a caracterização para o pelo leitor pois as cores bem usadas das roupas e cabelos diferentes permite a identificação, mas ainda assim deixa a história mais pobre.

    Mulheres iguais

    As duas personagens femininas e seus traços muito parecidos

    As capas de Gleen Fabry são um espetáculo a parte. De uma forma mais realista, as ilustrações tentam elevar os personagens desenhados por Dillon um patamar diferenciado.

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    Preacher vale a pena? Definitivamente pela relevância alcançada que tem no mundo dos quadrinhos alternativos dos anos 90. Ennis conseguiu atingir um nível superior de qualidade entre o auge das histórias com heróis super fortes e cor digital da Image e as fracas tramas de quedas de heróis da DC/Marvel. Junto com Grant Morrison, Neil Gaiman liderou a vanguarda alternativa do selo Vertigo, e se tornando uma alternativa interessante para uma época que o tempo mostrou ser relevante até hoje.

    Texto de autoria de Pablo Grilo.

  • Resenha | Justiceiro: Nascido para Matar

    Resenha | Justiceiro: Nascido para Matar

    Justiceiro - Nascido Para Matar- Garth Ennis

    Desde que o irlandês maluco (leia-se Garth Ennis) assumiu o título do Justiceiro, o personagem foi ganhando espaço cada vez maior e fãs mundo a fora. Ao perceber um grande potencial nas histórias do personagem, a Marvel decidiu mudar a casa do Justiceiro para um selo adulto, onde teria toda sua história recontada por Ennis, tendo total liberdade para fazer o que quisesse com o personagem, sem ter de se importar com o “fantasioso” universo Marvel cheio de “maravilhas” que Frank Castle tanto odeia.

    É claro que a Marvel também se preocupou com a ridicularização de seus personagens, já que a cada edição Ennis sacaneava um deles (o ponto forte foi o que ele aprontou com Wolverine e Homem-Aranha) e certos fanboys se incomodavam com esse tipo de atitude com seus queridos personagens. Para isso, ficou decidido criar histórias do Justiceiro que não tivessem ligação com o universo habitual dos heróis Marvel, e passamos a ter dois justiceiros, aquele que vive no universo Marvel habitua e o Justiceiro do Ennis que seria publicado na série Max, selo adulto da Marvel.

    Nascido para Matar, ou Born (título original), foi publicada neste selo Max e conta um pouco sobre a campanha de Castle na Guerra do Vietnã, trazendo um ângulo muito pouco explorado, já que pouco se falou de sua fase da vida em que passou no Vietnã, o pouco que se sabia é que ele tinha sido um herói condecorado e não muito mais que isso. Com base nessa origem, Ennis traça um perfil psicológico do personagem nunca antes abordado.

    Ennis desconstrói o personagem e coloca de lado a tão batida origem do Justiceiro de lado, já que com a morte de sua família, ele teria enlouquecido e se tornado o Justiceiro. Aqui Ennis traz algo novo na história do personagem, seria mesmo a morte de sua família o gatilho que o levou a se tornar quem era, ou sua faceta psicótica sempre existiu, e estavam apenas esperando o momento certo para vir à tona?

    A história da HQ se passa já no final da guerra, os EUA estavam sofrendo uma grande pressão popular para trazer seus jovens de volta. Nixon passa a reduzir as tropas americanas a numeros cada vez menores e os vietnamitas do sul passam a reassumir suas responsabilidades militares no confronto. É Nesse cenário que conhecemos o Capitão Frank Castle.

    Temos duas principais narrativas, a primeira do soldado Godwin, que demonstra um grande respeito por Castle, mas ao mesmo tempo medo pela paixão que ele passou a ter com a guerra e toda àquela situação, mas acima de tudo, confia nele, pois acredita que apenas Castle tiraria todos daquele inferno. Em contrapartida, temos o ponto de vista de Castle, com todos os seus tormentos e suas dúvidas, e quadro-a-quadro vamos presenciando um personagem se moldando.

    O roteiro de Ennis é visceral, detalhando seus personagens, a relação de medo e respeito entre Godwin para Castle, os conceitos deturpados de justiça aplicados pela mente doentia de seu protagonista, além de todo um esmero em escrever um retrato de uma época. Além disso, Ennis não faz vista grossa para todas as atrocidades que o exército americano cometia, monstrando estupros, a dependência de drogas pelos soldados e os assassinatos a sangue frio que eram cometidos. Claro que nada disso seria a mesma coisa sem o competente desenhista Darick Robertson, que com traços minimalistas cria sequências fantásticas de ação, onde a morte está presente em cada quadro, mas ainda assim, consegue colocar um ar poético em meio a tanto sangue.

    Nascido para Matar traz uma premissa interessante sobre a psique do Justiceiro, deixando claro que ele era um psicopata há muito tempo e a morte de sua família serviu apenas como gatilho para esse lado se tornar quem ele é. Outro ponto interessante são alguns diálogos entre Castle e um ser que não se identifica, mas que faz um pacto com ele. Afinal, seria ele o alter-ego de Castle já se manifestando? Uma força sobrenatural com quem Castle joga dados ou apenas reflexos de sua mente doentia?

  • Agenda Cultural 10 | Jazz, Dupla Dinâmica e Brinquedos com Crises Existenciais

    Agenda Cultural 10 | Jazz, Dupla Dinâmica e Brinquedos com Crises Existenciais

    Mais um ilustre convidado nesta décima edição da nossa Agenda Cultural. Adhemar Martins do Cerealcast se junta a Amilton Brandão (@amiltonsena), Flávio Vieira (@flaviopvieira) e Mario Abbade (@fanaticc). e reúnem para comentar tudo o que está rolando no circuito cultural dessa semana, com as principais dicas em cinema, teatro, seriados, quadrinhos e cenário musical.  Não perca tempo e ouça agora o seu guia da semana.

    Duração: 57 min.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira

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    Comentados na edição

    Quadrinhos

    The Boys – O Nome do Jogo

    Literatura

    Chatô, o rei do Brasil – Fernando Morais

    Teatro

    A Vida Secreta de Batman e Robin

    Séries

    Treme (HBO)

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    Em Busca de Uma Nova Chance
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    Depilação a Laser – Light Sheer Siberian