Tag: John Constantine

  • Resenha | A Saga do Monstro do Pântano – Livro Quatro

    Resenha | A Saga do Monstro do Pântano – Livro Quatro

    Tem um mal inominável na nossa porta, e nada pode detê-lo. O único que poderia se prestar a salvação, perdeu a chance, e condenados, esperamos junto de anjos e demônios pelo iminente juízo final. O curioso é que, dificilmente nas histórias escritas por Alan Moore em O Monstro do Pântano, o horror gótico americano das coisas vem à tona em nível social, como se o leitor sempre fosse transportado para uma realidade paralela, uma extensão do pântano do “grande monstro” da Louisiana, nos Estados Unidos, aonde tudo pode acontecer – e nada ganha os noticiários. Sem limites para seus contos sombrios e filosóficos, Moore redefiniu o heroico personagem nos anos 1980 com uma profundidade moral e questões muito além do normal, o que nos faz questionar se outras figuras dos quadrinhos, como Hellboy e Motoqueiro Fantasma, em suas mãos, ganhariam contornos tão inesquecíveis, quanto. Felizmente tivemos o Coringa sendo laureado pelo talento do gênio, em A Piada Mortal, e neste quarto volume publicado no Brasil pela editora Panini, acompanhamos a continuação da saga que marcou época na cultura pop.

    Agora, um mal supremo ronda essa entidade altruísta, com sua assombrosa aparência verde musgo e olhos vermelhos, guardiã do meio-ambiente e dos que nele vivem, fadada a caminhar entre a tragédia e o amor recíproco de sua amada Abigail. Uma energia maligna, aquela, que faz o inferno e o paraíso temerem a sua ascensão. Nisso, o mago John Constantine recruta o Monstro do Pântano para este investigar o que está se aproximando, pois nem ele consegue decifrar tal enigma. A vibração da Terra se altera, as realidades paralelas a nossa compartilham desse desconforto, alguém precisa nos proteger, e a resposta para banir a escuridão suprema pode estar nos confins mais abissais, onde só a consciência do verdão pode acessar. Pela primeira vez desde sua criação, na edição nº37 da saga, Constantine parece realmente inseguro e com medo do desconhecido – sendo que, para o detetive do oculto, dialogar com entidades perigosas dos submundos espirituais é uma viagem de verão ao sul da Itália. O tempo de férias realmente acabou, e Moore é especialista em criar tensão com imagens e situações apavorantes, para todos os públicos.

    A quarta coletânea da Panini já começa na história nº43, E o Vento Trouxe, na qual um traficante de drogas hippie acha um fruto oriundo da “pele” do Monstro, deixado para trás em uma caminhada pela sua floresta, no sul dos Estados Unidos. Após levá-lo à sua casa, o homem distribui desse alimento misterioso a algumas pessoas, causando-lhes alucinações e transformando suas vidas num eterno pesadelo. Menos surreal e mais criminal na proposta de terror, na ótima Bichos Papões, vemos um assassino em série matando várias pessoas nos pântanos da Louisiana, até encontrar uma justiça sobrenatural em seu caminho. Mas é em Dança com Fantasmas que a inspiração no horror gótico vem realmente marcante, num conto sobre quatro adolescentes desavisados que entram numa mansão mal-assombrada, onde atrás de cada porta repousam criaturas sedentas a testar a fé dos mais religiosos. Com desenhistas da mais alta excelência ilustrando seus delírios, perversões e insanidades, Alan Moore em 1986 teve de se infiltrar no grande arco das Crise nas Infinitas Terras, da DC Comics, costurando o personagem ao espectro maior das histórias do Batman, e cia.

    Na convergência de realidades fantásticas, em um macro enredo que envolveu todos os personagens da DC, nos anos 80, a editora fez todo o seu multiverso desorganizado, cheio de Terras 1, 3 e 7, pertencer a apenas uma dimensão. Para isso, dentro da saga do Monstro do Pântano, Moore criou um evento destruidor que forçava a união dos altos escalões da luz, da sombra e dos seres humanos (lê-se: os super-heróis místicos da DC, como o Senhor Destino e Vingador Fantasma) em prol da sobrevivência de Tudo – absolutamente Tudo. Para isso, o próprio Monstro e seu parceiro de aventuras, o sádico Constantine, vêm juntos ao Brasil em O Parlamento das Árvores especular com entidades que enxergam o futuro a grande batalha apocalíptica que lhes aguarda – nota-se que, em região Tropical, pela primeira vez, é dado ao grandalhão cores vivas que, vivendo e germinando no sul dos Estados Unidos, nunca brotaram em sua pele de folhas e raízes escuras. A resposta não é dada facilmente pelos ancestrais, e muito antes do conflito da Vida com a Morte absoluta, o mal à espreita os abate de forma imprevisível, e coerente o bastante para fechar, com a precisão e o esforço criativo de um mestre, todo um arco de histórias poderosas. Eu queria ver esse tratamento dado ao Hellboy, Alan Moore. Eu realmente queria isso.

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  • Resenha | A Saga do Monstro do Pântano – Livro Três

    Resenha | A Saga do Monstro do Pântano – Livro Três

    Dizem que os fins justificam os meios, e muita gente bota fé nisso – principalmente, hoje em dia. Seja como for, se Alan Moore não tivesse criado em 1985 uma ameaça forte o bastante para aniquilar o Monstro do Pântano, o poderoso e tempestuoso elemental capaz de tudo para proteger sua amada, e o pântano na Louisiana que ele faz de morada, nunca seriamos apresentados ao mago John Constantine, logo na edição nº 37 da clássica saga escrita por Moore, e desenhada nos traços icônicos de uma verdadeira gangue de ilustradores a serviço do maior roteirista de HQ’s da história. É curioso observar a forte expressividade de alguns quadros em função do impacto da narrativa, numa impecável fusão artística tão almejada entre a força do texto, e o brilho do visual. Temos, portanto, a trajetória e o destino esculpido de um herói sem rostinho bonito, cujo uniforme é asqueroso, e assim como o verde que resguarda, e incorpora em suas aventuras, faz de si o mais resistente de todos os seres vivos.

    E é justamente a queda dessa resistência por um vilão radioativo que a natureza, em toda a sua soberba, não consegue vencer, que assistimos assombrados em uma gama de imagens e painéis impressionantes em Notícias do Fuça Radioativa, história essa dividida em duas partes que abre o volume 3 da saga publicada com capricho pela editora Panini, no Brasil. Nesta clara alusão aos maus-tratos do ser humano ao meio-ambiente, a temível entidade de musgo e olhos vermelhos padece para, em seguida, virar um insignificante broto na mata, na esperança de germinar, de voltar a ser o que era: um biossistema ambulante em toda a sua glória. Um renascimento este que chama a atenção de Constantine, sempre antenado em tudo de bizarro que rola no mundo, como se este fosse seu quintal e nada escapasse de seus olhos de águia. Uma figura que surge para despertar a consciência do Monstro do Pântano sobre ele mesmo, seus poderes e a sua importância para eventos futuros que irão testar Terra e humanidade diante de perigos apocalípticos.

    Constantine faz sua primeira aparição como um anúncio de tempestade, um arauto dos males, sendo ele um dos melhores personagens da carreira de Alan Moore. Com seu cigarro e casaco inconfundível, logo ele e o Monstro do Pântano lutariam juntos na publicação da DC Liga da Justiça Sombria, sempre envoltos com demônios, magia e outras dimensões ao invés dos desafios mais mundanos que Batman e Superman geralmente enfrentam. A presença de Constantine serve para apresentar ao nosso anti-herói verdão ameaças que deixam Coringa e Lex Luthor no chinelo: em Águas Paradas, uma raça de vampiros subaquáticos (você leu certo) planeja dominar o plano terrestre a fim de nunca faltar alimento para sua força materna, a repousar no fundo de um lago enquanto espera por carne humana – de preferência, bem jovem. Ou ainda em A Maldição, na qual uma dona de casa carrega em si uma enorme força sobrenatural que vive a controlar, mas que após o seu marido Roy se tornar uma ameaça a ela, Phoebe decide inverter o jogo de poder em uma quente, e sangrenta noite de lua cheia.

    Contudo, talvez seja a história de conclusão deste terceiro volume a mais simbólica e memorável da coletânea, na qual espíritos e cadáveres de escravos decidem voltar à Terra, mais precisamente no sul dos Estados Unidos, e infernizar um grupo de atores de uma novela sobre os tempos da escravidão americana. Em Mudança Sulista e Estranhos Frutos, esses zumbis finalmente ganham a liberdade pela qual morreram lutando, e sua vingança coletiva será terrível, mesmo após tantas e tantas décadas sepultados. Em uma intensa e sublime alegoria do mais puro horror gótico, Alan Moore discute o papel da violência no passado de certas regiões marcadas pelo sofrimento, e como essa tensão sempre pode retornar no menor descuido das pessoas e autoridades diante do racismo, e de outras práticas monstruosas. O mal vive à espreita, e “O que foi enterrado não desapareceu.”. A mensagem é clara, e vire-e-mexe nos lembramos disso quando se faz necessário.

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  • Resenha | A Saga do Monstro do Pântano – Livro Dois

    Resenha | A Saga do Monstro do Pântano – Livro Dois

    O terror e o romance geralmente são dois gêneros tratados como opostos, na maioria das estórias que temos acesso e nos marcam, no decorrer dos tempos. Difícil lembrarmos de bons exemplos que, ao abordarem o lado sombrio e a face romântica da vida e das relações, equilibram de forma marcante o Terror, junto ao mais lenitivo dos amores e paixões; uma alegoria clara e direta a Dante, e seus famosos círculos do inferno. Neste segundo volume da clássica saga do Monstro do Pântano, Romeu desce até o reino da besta-fera para recuperar a sua amada flor Julieta das garras dos condenados, no centro do vale da escuridão (e não de fogo como muitos pregam, por ai), logo antes de apresentar o mundo selvagem dos pântanos da Terra para pequeninos e inocentes alienígenas que desembarcam em seu reino, sem saber dos perigos daqui.

    E quem melhor que Alan Moore para compor quadros e tramas de soberba magnitude criativa, enquanto que, ao longo de duzentas páginas de pura genialidade narrativa que tanto marcaram a nona-arte nos anos 1980, nos perguntamos de queixo-caído: como eu pude viver e pensar ser feliz sem nunca ter lido isso? Moore sempre escolheu seus desenhistas a dedo, talentos que pudessem traduzir em uma dinâmica visual perfeita todas as suas loucas e extasiantes ideias – e na sua melhor saga, para muitos, a necessidade segue imperial. Em dados momentos, O Monstro do Pântano nos brinda com painéis que tornam certas sensações inesquecíveis, tal como o sexo absurdo entre uma criatura asquerosa, de musgo e raízes, e a mulher que ama o homem por trás do monstro, sua alma, suas palavras, a sua bravura e sua perdição amorosa, tão recíproca entre eles. As cenas de extrema psicodelia que ilustram o tesão cabuloso entre planta e corpo de carne nos confundem, nos assombram, e nos fazem salivar em uma típica hipnose das mais luxuriosas, e acima de tudo, românticas que se tem notícia.

    O autor de V de Vingança e Watchmen cria demônios que entregam rosas e orgasmos porque gostam do gesto, e não para se redimirem ou negarem o que são. Ao combater um vilão que conseguiu escapar das trevas abissais, e agora possui a carne banal de um homem qualquer, o deus dos pântanos e do verde profundo da Terra presencia a morte de sua Abigail, aquela por quem sua alma ainda brilha, mesmo sob uma nova forma absolutamente horripilante. Indo contra o ódio de uma entidade que só pode ser combatida pelo amor, e não pela dor (uma vez que ela é a encarnação mais soberba das dores, e das angústias que um ser-humano é capaz de carregar), o Monstro do Pântano conta em seu destemido resgate com vários personagens famosos da DC, como o Etrigan, grande amigo do mago John Constantine, para caminharem aonde nenhuma luz chega, nenhum “socorro” é ouvido, e a salvação jamais poderá ser alcançada – exceto pelo desespero do mais louco dos Don Juans, já que o eterno repouso de sua rainha no colo de demônios é algo inconcebível.

    No triunfo editorial da Panini em lançar, em seis partes, a icônica saga de Alan Moore e companhia no Brasil, numa belíssima compilação gráfica e até com um prefácio impecável de ninguém menos que Neil Gaiman (Sandman, Coraline), num esforço de apresentar essas pérolas do passado a uma nova geração de leitores, as estórias (originalmente publicadas em gibis mensais sob o selo Vertigo, nos Estados Unidos) são distribuídas em seis breves e eletrizantes capítulos, com contos de puro horror gótico, sonhos perturbadores, e até um grupinho de extraterrestres que não conhecem a maldade que existe, e ao fazerem contato com nosso querido monstro esmeralda, descobrem que há coisas muito além do que parecem ser. Ao longo das tramas, verdadeiras aulas de tensão e espanto no mundo das HQ’s, Moore revela-se um autor muito mais íntimo de suas personagens, sua realidade, suas forças e fraquezas, à medida que enraíza o leitor, quadro a quadro, em experiências tão ímpares quanto imprevisíveis.

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  • Crítica | Constantine: Cidade dos Demônios

    Crítica | Constantine: Cidade dos Demônios

    Constantine: A Cidade dos Demônios é uma produção multiplataforma, lançado inicialmente como uma série animada de cinco episódios (de 6 minutos), e posteriormente, transformada em um longa-metragem que reunia os episódios e material inédito. Dirigida por Doug Murphy e escrito J.M. DeMatteis, a produção tem um chamariz interessante ao trazer Matt Ryan de volta ao papel que protagonizou na única temporada do personagem, além de fazer participações em Arrow, Flash e Legends of Tomorrow.

    O personagem criado por Alan Moore é desenvolvido em historias que passam por possessão demoníaca e contato com o lado espiritual. Há uma associação das origens dele como agente espiritual, com sua passagem como punk, em sua fase mais jovem, em Newcastle, que se torna bastante engraçada ao associar rock’n roll com questões “satânicas”.

    A forma como Murphy e DeMatteis constroem a história maior a ser contada é condizente com o material original, sem a mesma ironia e o peso dos textos de um Jamie Delano ou Garth Ennis, mas ainda assim condizente com os quadrinhos. Se na série em live-action Matt Ryan deu azar e não conseguiu trabalhar o lado sacana, violento e despreocupado que o papel exigia, aqui isso se cumpre melhor.

    Por mais episódica que seja a obra, Constantine: A Cidade dos Demônios traduz a dualidade entre o personagem da Vertigo e sua reformulação para integrar o universo regular da DC Comics, além de destacar o quão triste e miserável é seu cotidiano e quão solitária é a natureza de seus trabalhos. DeMatteis finalmente acerta o tom no roteiro e consegue fazer uma história simples, com todos os elementos da revista Hellblazer, ainda que mais suavizado.

    https://www.youtube.com/watch?v=tc0XLhm0PDY

  • Crítica | Liga da Justiça Sombria: A Guerra de Apokolips

    Crítica | Liga da Justiça Sombria: A Guerra de Apokolips

    O universo DC animado baseado nos Novos 52 finalmente chegou ao seu fim. As próximas aventuras já tem até nome – o curta da DC Showcase Batman: Death in the Family e o longa Superman: Man of Tomorrow – e este décimo sexto filme é protagonizado por John Constantine (Matt Ryan), com um título sugestivo: Liga da Justiça Sombria: A Guerra de Apokolips.

    O título do filme faz com que ele (teoricamente), devesse ter configuração semelhante ao visto em Liga da Justiça Sombria, mas a realidade o coloca mais ao lado do recente Constantine: Cidade dos Demônios, além de conversar bem demais com Ponto de Ignição, o primeiro dos filmes dessa iniciativa ou seja, esse é o filme mais apegado a cronologia estabelecida nesse universo compartilhado. Constantine namora Zatanna e está na torre da Liga, junto aos heróis clássicos, incluindo ai os Titãs e outros tantos super seres com Lex Luthor incluso.

    Já se nota algo bem diferente neste início, pois na pretensa guerra que ocorrerá entre as forças do quarto mundo e as da Terra, o Super Homem não pensa duas vezes antes de lançar um ataque a Darkseid e Apokolips. Todo o período inicial é como um epílogo, um grande e épico preambulo que ambienta o espectado para a real e trágica narrativa, semelhante a todo o arco posterior ao estalar de dedos de Thanos visto em Vingadores: Guerra Infinita.

    Surpreendente como todas essas sequencias são bem animadas, ainda mais em comparação com outros objetos da Warner Animation, e o que se vê após impressiona ainda mais. Claramente o orçamento foi aumentado, ou ao menos os produtores pararam de preguiça e saíram da zona de conforto para gerar algo realmente com dar um ar épico, e isso reforça a sensação de um cenário pós derrota dos heróis, mas a historia de Ernie Altbacker (roteiro) e Mairghread Scott (argumento) também é bem construído, especialmente ao repercutir o infortúnio de personagens clássicos como Batman, Asa Noturna, Superman etc.

    Há muitas semelhanças narrativas entre esse e Vingadores Ultimato, especialmente na condição extrema que a maioria dos heróis e pessoas dos arredores estão, seja com destinos trágicos ou com instinto de sobrevivência falando mais alto.  Alguns rumores dão conta de que  idéias de Zack Snyder para o longa Liga da Justiça foram reimaginados aqui, como a questão envolvendo a derrocada dos heróis, ainda que a série de eventos ocorridas após a invasão de Apokolips fosse completamente diferente.

    Os Paradooms – versões dos parademônios com DNA semelhantes ao do Apocalipse visto em A Morte do Superman e O Reino do Superman – também teriam inspiração no que Snyder, David S. Goyer e Cia queriam fazer famigerado Snydercut, ainda que não fosse exatamente uma mistura de Doomsday com os capangas de Darkseid. O que poderia melhorar este Guerra de Apokolips, seria um maior aprofundamento de como veio a ideia da construção dessa “arma biológica”, isso daria lastro para coadjuvantes do quarto mundo aparecerem, como Vovó Bondade, Sr. Milagre, Barda, Orion e tantos outros.

    Em uma época de pandemia, causada por conta do Covid 19, a recepção da obra de Cristina Sotta e Matt Peters não poderia ser mais positiva, e dado que ele lida com destino de tantos personagens importantes do universo DC, e que não tiveram tanto destaque nos filmes – como Batwoman, Batgirl, Batwing, Shazam, Monstro do Pântano – são justos os elogios, mesmo que a maioria desses tenham somente uma pequena aparição, praticamente sem falas. Fora Constantine, Lois Lane, Super, Damian Wayne, Ravena e alguns membros do Esquadrão Suicida como Arlequina, Capitão Bumerangue e Tubarão Rei.

    Liga da Justiça Sombria: A Guerra de Apokolips conversa bem com Esquadrão Suicida: Acerto de Contas no quesito violência, pois aqui não há pudor em mostrar  sangue e desmembramentos de heróis, vilões e anti heróis. Alguns fãs mais ardorosos reclamaram do fato dos heróis terem níveis de poder diferente do que normalmente era mostrado, e de fato isso ocorre, ainda que nada ofensivo ocorra. Incomoda mais algumas conveniências narrativas, em especial no final, mas dada a mediocridade com que eram levados essa parte da franquia da DC dividida em 16 partes, o resultado é bem divertido e satisfatório, com gancho inclusive para retornar caso os produtores decidam optar por isso no futuro.

  • Resenha | Sandman: Prelúdios & Noturnos

    Resenha | Sandman: Prelúdios & Noturnos

    “- Constantine, esse lugar não é seguro pra você. Há coisas livres nessa casa que não deveriam estar à solta na Terra. Você não pode permanecer aqui…”

    Se há um perigo real para John Constantine, o macabro detetive do sobrenatural criado por Alan Moore na série Monstro do Pântano e aperfeiçoado em Hellblazer, há perigo até para o leitor. Aliás, o verdadeiro perigo de se ler Sandman é não querer parar mais, tamanha sedução que Neil Gaiman nos apresenta num mundo muito diferente, e lendário, em paralelo com o nosso, mas dominado por sonhos, erotismo, surrealismo e danação em que nada é o que parece – como eu disse, uma realidade muito diferente da nossa, certo? Um dos maiores quadrinhos de todos os tempos, junto de Maus e Watchmen, em que poucas vezes o selo Vertigo da DC Comics foi tão bem representado em sua temática adulta de entretenimento como nessa joia da nona-arte. Um tratado filosófico universal de terror e suspense extremamente inspirador para muito do que veio depois da década de 80, e que segue, com tranquilidade, como um dos grandes trabalhos já lançados pela editora Panini, no Brasil.

    Nesta edição que reúne os oito primeiros volumes de Sandman, já é possível notar (lê-se: sentir a flor da pele) o porquê de tamanha notoriedade. Afinal, é notória a sensação de se estar olhando para o abismo, enquanto o mesmo nos contempla junto a nossa aventura com Morfeu, o Senhor dos sonhos (e pesadelos). Uma entidade pálida de roupas negras e que contém nos seus olhos toda a sabedoria profunda de alguém que parece ter sempre estado entre nós, e que nunca morrerá – até porque ele não é um Deus, que precisa ser acreditado para existir. Conjurado por meia-dúzia de feiticeiros que queriam aprisionar a morte, ele vem a Terra e consegue se libertar após 20 anos de cárcere. Agora, Morfeu precisa recuperar o que seus algozes humanos o tomaram: seu saco de areia para fazer a todos dormirem (o nome Sandman não é à toa…), seu elmo sagrado, e o rubi que guarda parte de seu poder etéreo. Ele só não contava ser desafiado para conseguir de volta o que é seu. Logo ele, alguém tão acima de humanos, anjos e demônios de toda espécie.

    Morfeu então parte numa jornada não só de resgate do que lhe pertence, mas de autoconhecimento, num conto que não fica sendo apenas sobre ele, mas cuja mitologia delirante também se impõe de maneira impressionante. Morfeu, ou o Homem de Areia que cuida do sono da humanidade e sabe dos nossos segredos melhor que nós mesmos, passa longe de ser um anti-herói, pois não toma lados. Faz o que deve ser feito, tal como a natureza que, às vezes, devasta para reconstruir seus domínios. Com a criação máxima de Neil Gaiman nós vamos ao inferno, entre legiões de demônios, e passeamos com a morte num domingo ensolarado, em Londres, sem que ninguém perceba nada. Em Prelúdios & Noturnos, o convite é dado ao leitor que desconhece Sandman mas sabe que deve ser iniciado e se apaixonar por suas odisseias, seja na luz, seja na escuridão que fazem parte de todos nós. Gaiman não nega isso, mas se aproveita, dando cabo de uma narrativa introdutória repleta de grandes momentos, enquanto flerta com as possibilidades que o surreal oferece ao realismo das coisas, das pessoas, e das nossas condições. Tão frágeis, e tão fantásticas se refletidas por um novo e inusitado ponto de vista.

    Assim, eis um começo memorável para se mergulhar de cabeça no abissal irresistível que Gaiman criou, junto aos traços fantásticos de Malcolm Jones, Mike Dringenbger e Sam Kieth, numa iconografia que eleva e sofistica, ainda mais, a sensação expressiva e aguda de se brincar com o fogo, de se revirar um segredo, de sermos detetives em um enorme quarto escuro. Os desenhos aqui não poderiam ser mais eloquentes ao propósito inicial de encantar, e por vezes aterrorizar o leitor, levando todos os olhos a grudarem nas páginas como se disso dependesse as nossas vidas guiadas por Morfeu – aquele que conversa com um adolescente que ama jogar bola e com o próprio Lúcifer em seu trono da mesma forma, afinal, ambos o oferecem perigo nenhum nesta fantasia épica, e sem limites criativos para ser absolutamente inesquecível. Com Prelúdios e Noturnos, ficamos íntimos de uma criatura justa e implacável que também é íntima de nós, e que provavelmente após esta leitura, nos encontrará como um velho amigo em nossos sonhos (ou pesadelos), cedo ou tarde, mas sem que nos lembremos disso ao despertar.

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  • Resenha | John Constantine, Hellblazer – Origens Vol. 8: A Horrorista e Sangue Ruim

    Resenha | John Constantine, Hellblazer – Origens Vol. 8: A Horrorista e Sangue Ruim

    “Essa é uma região grande, e gelada. Coisas ruins acontecem aqui, sabia?”

    No inferno a gente dança conforme a música, é o que dizem. Não só isso, obviamente: ou se acostuma com o calor, ou se sofre para sempre. John Constantine sabe que lá embaixo não tem nada de calor, mas frio, indiferença, um gelo infinito mais forte e mais rigoroso que qualquer horror já cometido pelo homem. Contudo, aqui em cima, o inferno de cada um vem na forma de chamas e labaredas, muitas invisíveis, muitas chamadas de Amor para alguém como o mestre do ocultismo Constantine; aquele que precisou atravessar nossos piores pesadelos para descobrir ainda ser capaz de sentir compaixão pela mortal e frágil condição humana.

    O oitavo volume da série Origens, do escritor britânico Jamie Delano, começa como deveria: revirando a falta de humanidade no sádico, fatalista, bissexual e arrogante detetive britânico cuja sanidade, quase sempre, é colocada à prova. Em A Horrorista, na história do seu envolvimento além de níveis puramente carnais com a doce e jovem Angel, a trama, cujos contornos dramáticos são impressionantes, revira o coração dele para que os boatos (mais do que justos) sobre a frieza de Constantine possam ser contestados. É claro que o romance acaba em morte, um óbito intenso também devido aos traços abstratos e desconcertantes de David Lloyd (de V de Vingança), já que todos que se envolvem com a mais amaldiçoada figura das HQ’s terminam suas vidas de maneiras tenebrosas.

    Mesmo com ele não se permitindo sentir algo além da própria amargura, Angel é a água mole que penetra na muralha, brevemente, antes que o mundo que arde e sempre grita ao redor de Constantine faça o mal tomar formas inesperadas em seu cotidiano maldito, e em constante movimento. Por um mero instante, ele se lembra do afeto entre dois seres (ou se desvirginiza sobre isso), e consegue olhar para alguém sem enxergar o pior ou o mais perigoso lado da alma de quem encara. Homem que já foi longe demais em suas experiências sobrenaturais, o personagem já fez aparições em outras grandes e populares sagas, como a de Sandman, de Neil Gaiman, ou a de O Monstro do Pântano, aonde de fato surgiu, nos ricos anos 1980.

    Já na segunda história, Sangue Ruim (menos interessante, e mais caricatural aos temas que rondam Constantine) vemos a monarquia inglesa em profunda crise institucional, prestes a ter uma Inglaterra mergulhada em guerra civil. Com o Reino Unido literalmente em chamas, o caos se aloja mesmo é dentro de cada cidadão, em comportamentos perturbadores mas não o suficiente para surpreenderem o detetive da escuridão, já velho e ainda mais escroto, como se fosse possível – e é. Nesta segunda trama dentro do encadernado da editora Panini, com o traço de Philip Bond mais alternativo, e até mesmo colorido e vivaz. A mensagem aqui é clara: o inferno são os outros, mas todo mundo acaba saindo queimado.

    O mago inglês, criação do verdadeiro bruxo Alan Moore (Watchmen, Um Pequeno Assassinato), entende de inferno melhor até do que deveria entender, e provavelmente, é o único homem que já conseguiu sair “ileso” quando o assunto fica pesado e sombrio demais – como se desse para esquecer algumas coisas… e, por mais simples e corriqueiras que sejam essas histórias do Volume 8, do arco Origens da série Hellblazer, longe de serem tão memoráveis quanto as tramas do impagável arco Infernal, também publicado no Brasil pela Panini, John Constantine é um daqueles personagens que tornam qualquer situação tão irresistível de se acompanhar, quanto a presença de uma súcubo no quarto de alguém sem mais nada a perder.

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  • Resenha | John Constantine, Hellblazer: Assombrado Vol. 1 – A Mulher Escarlate

    Resenha | John Constantine, Hellblazer: Assombrado Vol. 1 – A Mulher Escarlate

    John Constantine teve algo muito próximo do que podemos chamar de uma “vida feliz” durante a passagem do roteirista Paul Jenkins nos sete volumes de Hellblazer publicados pela Panini durante a fase Demoníaco. Infelizmente para o mago, o leitor não é apresentado a histórias tão interessantes quando sua vida é cercada por amigos e uma namorada companheira. Assim, logo no fim de sua fase, Jenkins trata de dar um fim a essa vidinha feliz e John, como sempre, põe tudo a perder, abrindo caminho para Warren Ellis assumir o título em seguida com a curta fase batizada de Assombrado.

    Ellis faz um excelente trabalho nesse volume ao pegar um ponto de partida para o personagem que não deixa para o leitor novato a necessidade de ter lido a série anteriormente. O primeiro arco de seis histórias conta como a vida de John Constantine é jogada na sarjeta quando ele investiga o brutal assassinato de sua ex-namorada Isabel Bracknell. Ao se aprofundar no submundo do crime londrino, John recebe uma surra de “aviso” dos comparsas do assassino — que também é um mestres das artes ocultas — e passa boa parte do volume se recuperando e planejando sua vingança. Isso porque o fantasma de Isabel continua se manifestando em Londres, o que significa que sua alma está atormentada e ainda não conseguiu concluir a passagem para o além.

    O texto de Ellis é maduro e bastante sóbrio, o que faz com que certas passagens de extrema violência se destaque — principalmente sob o lápis de John Higgins, que consegue retratar um Constantine quarentão de forma bastante acertada. Aliás, é interessante como a passagem do tempo é retratada pelo roteirista, que faz questão de mostrar que o personagem segue envelhecendo normalmente e não está congelado no tempo como outros personagens da DC Comics, que nunca saem da faixa dos trinta. A ambientação também faz claras referências ao final da década de 1990 (em que a história foi publicada), com Friends passando na televisão ou jornais anunciando homenagens póstumas à Lady Di. Além disso, temos um excelente trabalho de pesquisa sobre ocultismo realizado pelo autor, que faz seu vilão ser um seguidor de Aleister Crowley. O assassinato de Isabel teria fortes ligações com a obra de Crowley e faz com que o vilão seja muito verossímil, assim como a magia nesse arco está longe de ser feitiços lançados com pirotecnia, como na versão de Constantine dos Novos 52.

    Essa ligação de Ellis com acontecimentos atuais, na época, acabou resultando no cancelamento prematuro de sua passagem pelo título. Devido ao massacre de Columbine em 1999, uma de suas histórias acabou sendo censurada pela DC/Vertigo, e o roteirista interrompeu seu trabalho na editora. Por esse motivo, a fase Assombrado tem apenas dois volumes (diferente dos sete ou oito das fases de outros autores). Uma pena, pois A Mulher Escarlate é uma das melhores histórias de Constantine já publicadas.

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  • Resenha | Hellblazer: Morte e Cigarros

    Resenha | Hellblazer: Morte e Cigarros

    hellblazer_capa_vortex-culturalÉ possível lutar contra o próprio destino e ludibriar a Morte? Talvez, se seu nome for John Constantine e se você tenha em seu currículo trapaças vencidas contra o próprio Diabo!

    A mais longeva série do selo Vertigo chega ao fim em terras brasileiras com a publicação de Hellblazer: Morte e Cigarros, e a sensação de que isso já foi melhor é o que paira na cabeça do leitor ao terminar de ler a revista. O volume reúne as três últimas edições antes do cancelamento, além de um especial que abre o encadernado. John Constantine está velho – o tempo cronológico nesta série correu normalmente com os anos no mundo real – e sabe que seu fim está próximo. O que fazer? Claro, sendo o mesmo trambiqueiro de sempre, o mago faz de tudo para que seus dias não estejam contados para sempre, e cerca-se da ajuda de sua jovem esposa Epiphany para tentar se safar.

    O arco final da jornada de Constantine leva apenas três histórias para se desenvolver, o que parece ser muito pouco. Muita coisa fica jogada no ar e até mesmo leitores que o acompanha há muito tempo podem ter certa dificuldade de entender todas as reviravoltas da trama. Claramente vemos um reflexo dos bastidores da própria Vertigo, com a saída da editora Karen Berger, substituída por Shelly Bond e derrocada do selo, além da volta do personagem para a linha principal da DC Comics, rejuvenescido e reformulado. Não teria sentido mantê-lo em duas linhas simultaneamente.

    Morte e cigarros amarra algumas pontas soltas dos últimos anos. Vemos tudo que tem sido importante na vida de John nos últimos tempos: seus parentes próximos, amigos, esposa, inimigo, fantasmas, sexo, bebidas e cigarros. A edição tem um clima bastante pesado e depressivo, e com um final aberto, que leva a discussões se foi real ou um exercício de metalinguagem que o roteirista Peter Milligan quis entregar a seus leitores.

    Infelizmente, para continuar essa análise, os parágrafos a seguir deverão conter spoilers. Caso queira evitá-los, pare por aqui e volte mais tarde, quando terminar de ler a edição!

    John morre. De forma absurdamente equivocada, com um tiro no peito dado por um capanga pé-de-chinelo de seu sogro criminoso, Terry Greaves, que interpretou erroneamente uma fala do chefão. O destino dele foi selado tal qual as Moiras previram, mas Constantine já havia se preparado para isso. Claro que Epiphany não sabia, e sofreu seu luto por um tempo até acabar na cama com um demônio se passando por John e, mais tarde, com o sobrinho recém descoberto dele, Finn. O fantasma de Constantine vê tudo isso – e aprova, claro! – mas estava se preparando para voltar. Ele então aparece para o casal e revela seu plano a Piffy, que faz um cigarro com as cinzas do falecido. Ao fumar as cinzas, o fantasma se materializa como o velho Constantine de antes, e após cumprir sua parte num acordo com o Primeiro dos Caídos (o demônio em pessoa), resolve mudar-se com a esposa para uma casa no campo e começar uma nova vida, longe de todas as coisas ruins que o cercam.

    Infelizmente, John percebe que isso seria impossível. Assim, ele vai até sua sobrinha Gemma e entrega a ela o último dardo amaldiçoado com magia negra que ela guardou após matar o Gêmeo Demoníaco de Constantine em O capote do Diabo. Gemma, que credita todos os sofrimentos de sua vida ao seu tio, atira o último dardo em direção a ele. Temos então um desfecho em aberto, no qual não somos informados do que aconteceu. São quatro páginas silenciosas e, no último quadro, vemos John Constantine em um bar, com um semblante estarrecido e muito mais velho do que antes, parado, como se num eterno sofrimento. Ao redor, todos os rótulos de garrafas nas prateleiras trazem os nomes dos autores e artistas que passaram pela revista nessas 300 edições.

    Que John deveria morrer no último número não é algo tão absurdo para o leitor de longa data imaginar. Mas com o fim de Hellblazer temos também o fim de grandes personagens secundários que poderiam ter suas histórias contadas em outro título. O que aconteceu com Piffy, Gemma e Chas após a morte de Constantine (ou desaparecimento, já que ele foi transferido para o universo regular da DC)? Seria Finn um substituto à altura de seu tio? E Gemma, levaria uma vida normal ou andaria às voltas com a magia novamente?

    Essas perguntas podem não ser respondidas, já que para tornar Constantine viável comercialmente, a DC resolveu reformulá-lo e rejuvenescê-lo na linha Os Novos 52, com a revista Constantine e sua participação na Liga da Justiça Dark. Os dois títulos foram cancelados, e posteriormente, na iniciativa DC&Você, tentaram voltar às origens do personagem com a série Constantine: Hellblazer. Mesmo assim, uma nova reformulação está por vir com Hellblazer: Rebirth. Parece que, ao mesmo tempo que a DC não quer deixar Constantine morto, a editora também não sabe o que fazer com ele vivo. Provavelmente, esses problemas editoriais devem ser parte de mais um trambique do mago para manter-se vivo. Que filho da puta!

  • Resenha | John Constantine, Hellblazer – Infernal Vol. 8: O Filho do Homem

    Resenha | John Constantine, Hellblazer – Infernal Vol. 8: O Filho do Homem

    Hellblazer_Infernal_8Último volume apresentando a passagem de Garth Ennis pelo título de John Constantine, Hellblazer: Infernal – Vol 8 traz o irreverente e assustador arco de histórias O Filho do Homem. Ennis assumiu o roteiro de Hellblazer no número 41, com o excelente arco Hábitos Perigosos, escrevendo até o número 83 e voltando, em 1998, para esse último arco entre as edições 129 e 133. Existe uma diferença bastante clara entre o estilo narrativo de O Filho do Homem e seus outros textos, que é a quebra da quarta parede. Constantine frequentemente interrompe o que está fazendo para olhar diretamente para o leitor e narrar a história, não com recordatórios, mas com balões de fala. Isso pode soar estranho para alguns leitores – afinal, ele não é o Deadpool! – mas não atrapalha a história, e dá um tom bastante sarcástico em alguns momentos.

    A história começa com Chas, o amigo taxista de John, se envolvendo por acaso com um assassinato. Devido a um equívoco, Chas foi confundido com o motorista de fuga de um crime e acabou cúmplice de um gângster por acidente, e ao fugir da polícia, o bandido é baleado e morto dentro de seu carro. Ele procura abrigo no apartamento de Constantine, que o ajuda a se livrar do carro e do corpo, mas descobre que o criminoso envolvido faz parte de seu passado.

    Em uma sequência de flashbacks, descobrimos a relação de John com o chefão do crime Harry Cooper. O criminoso foi responsável pela saída de Constantine do hospício de Ravenscar, pedindo a ele um “favor”: trazer seu filho de oito anos de volta à vida! Chantageado para poupar as vidas de sua irmã e sobrinha, John reúne seu grupo de amigos (mortos em edições passadas, mas importantes nos flashbacks e muito bem representados!) para resolver a situação do único jeito que ele sabe: com trapaça! A equipe sacana trabalha num esquema (também enganados por John, obviamente) que traria um demônio diretamente do inferno para habitar o corpo inanimado do garoto. O demônio deveria, supostamente, servir a Constantine, porém essa servidão tinha um prazo de validade que John não contou aos seus companheiros.

    Doze anos depois desses acontecimentos, o demônio (não mais sob o poder de Constantine) continua no corpo do garoto, que não envelheceu um ano sequer e domina o submundo do crime. Além disso, tem um plano diabólico de trazer o anticristo ao mundo. Como uma paródia da virginal concepção de Jesus, o anticristo milagrosamente nasceria do ventre de um homem: o chefão Harry Cooper. Com um desfecho bizarro e assustador, a história toma um rumo bastante inesperado, com John tendo que tomar uma atitude drástica e até mesmo cruel, embora acertada dentro deste cenário.

    Ennis trabalha de forma ao mesmo tempo grotesca e divertida esses temas, e parece muito à vontade ao satirizar elementos da fé cristã. As tramas paralelas também são muito interessantes, como o caso que Constantine acaba tendo com uma garota lésbica – que garante umas boas risadas ao leitor – ou a forma como o demônio manipula um prostíbulo para manter sua juventude. A arte de John Higgins é acertada, longe dos exageros e experimentações das edições anteriores, e garante a atmosfera necessária para a trama. A narrativa de horror nunca esteve tão afiada, e o volume encerra a série Infernal brilhantemente.

  • Resenha | Hellblazer: O Capote do Diabo

    Resenha | Hellblazer: O Capote do Diabo

    Hellblazer_O_Capote_do_DiaboHellblazer e o seu protagonista, o mago inglês John Constantine, podem ser vistos como uma das chaves do sucesso da linha Vertigo, selo adulto da DC Comics. Com histórias que abordavam o tema do ocultismo, junto a uma visão de uma sociedade bastante corrompida e um protagonista carismático a sua maneira (os termos filho da puta e moralmente incorreto seriam mais precisos), tivemos uma série de grandes escritores e artistas durante todo o período de sua publicação até a sua recente incorporação ao universo dos Novos 52 da DC.

    A última fase antes dessa incorporação coube ao competente escritor Peter Milligan, mas que não entendeu bem a proposta do mago inglês e de todo o seu mundo. Em O Capote do Diabo temos o famoso sobretudo de Constantine (peça de roupa tão atrelada ao personagem que só é menos característica do que o hábito de fumar do personagem) roubado pela sua sobrinha e vendido em um site qualquer de negociações pela internet como uma forma de vingança em relação ao seu tio. Isso tudo pareceria normal mas vamos dizer que o capote do mago inglês resolver imitar o “um anel” dos livros de J. R.R. Tolkien.

    Isso mesmo, devido a estar presente em todas as grandes aventuras e negociações demoníacas de Constantine, a peça de roupa passou a ser um tipo de entidade também, com vontade própria. Apesar de velho e sujo seduzia pessoas a usá-lo e os manipulava para fazer maldades ou ressaltar o seu lado mais sombrio. Em outras palavras, o “um anel”.

    A ideia em si não é de toda ruim. A própria condução da narrativa faz com que tenhamos um conto diferente do habitual para o personagem, que tem na sua peça de roupa favorita o seu principal antagonista. Junte a isso os intermináveis problemas familiares do personagem, com o adendo de que Contantine é casado com a filha de um mafioso a esta altura de sua cronologia, e temos uma boa história, nada mais do que isso, e muito longe das narrativas clássicas e ácidas do personagem.

    No encadernado brasileiro ainda há outro pequeno arco, Outra Estação no Inferno, no qual novamente o tema é a relação de Constantine com a sua família e o inferno, especificamente como ele tenta resolver os problemas entre sua sobrinha, a sua irmã no inferno e um gêmeo maligno que possui (sim, teve isso!).

    Nesse segundo arco, Milligan mostra toda a sua inabilidade de lidar com a personagem e o seu universo, que sempre teve na magia e no ocultismo o seu tema principal, mas de forma discreta e sutil. Constantine jamais foi mago de efeitos pirotécnicos e de mexer as mãos e fazer as coisas acontecerem imediatamente. Há claramente uma má interpretação do autor em relação à forma como a magia funciona no universo de Hellblazer. Junte a isso que ir para o inferno e voltar para Constantine funciona quase como um passeio no parque, do tipo “vou ali dar uma volta e já já estou em casa novamente”. Vamos dizer que houve uma banalização desse tipo de situação. Enfim, uma história fraca e que pouco contribui para a já lendária carreira do mago inglês.

    A arte de Giuseppe Camuncolli e Stefano Landini, que não chega a ser tão ruim, também não contribui para salvar a HQ. Têm destaque, porém, algumas artes de capa de Simon Bisley que são apresentadas no interior da revista.

    Uma HQ simplesmente normal, sem nada de mais, que pode agradar aos fãs que sofrem com o mago no universo dos Novos 52, mas a qual se distancia dos grandes arcos e histórias mais antigas.

    Texto de autoria de Douglas Biagio Puglia.

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  • Resenha | Constantine: Hellblazer – Fantasmas do Passado

    Resenha | Constantine: Hellblazer – Fantasmas do Passado

    hellblazer-fantasmas-do-passadoParece que finalmente a DC Comics quer dar um rumo para o icônico personagem John Constantine fora da linha Vertigo. Quando a editora o reinseriu em seu universo de super-heróis – tirando-o do selo adulto que foi sua casa por 300 edições – pouco ou quase nada lembrava o mago trambiqueiro criado por Alan Moore. No reboot da casa conhecido como Novos 52, John era basicamente um super-herói usando magia genérica como se fosse um haduken ou kamehameha, em forma de energia bruta. A sutileza das artes místicas, rituais, pactos com entidades demoníacas haviam ficado para trás, e o título Constantine teve pouco mais que vinte edições. Com a nova linha da editora, DC You (traduzida no Brasil com o quase sertanejo universitário título de “DC & Você”), John volta às suas origens de “lobo solitário”, e já nas primeiras páginas deixa claro que abandonou de vez a convivência com super-heróis.

    Essa nova iniciativa da DC tenta retomar o clima das histórias clássicas do Mago, porém com uma roupagem mais moderna e atualizada para o século 21. Saem de cena todos os elementos datados e entram novas referências. Esse John Constantine, embora mais jovem e totalmente reformulado, finalmente volta a se parecer com o que ele era nos anos 90. Seu passado em Newcastle ou a temporada em Ravenscar não são sequer mencionados e provavelmente não aconteceram, mas temos novos elementos em sua vida, novos personagens, uma nova história a descobrir. Mas a personalidade sacana está de volta. Esse John não é nem de longe o mesmo que, há pouco tempo, liderava a Liga da Justiça Dark.

    O visual baseado no cantor Sting foi descartado. Constantine agora se parece mais com Neil Patrick Harris, astro de How I Met Your Mother. Volta, inclusive, sua bissexualidade – parte integrante de sua personalidade que havia sido descartada nos últimos anos. Seus hábitos autodestrutivos, como fumar e beber até cair, estão novamente muito bem representados, e parte da trama ocorre justamente durante um porre do personagem.

    Constantine é assombrado por vários fantasmas de pessoas que, de uma forma ou de outra, morreram relacionadas a seus erros. Quando esses fantasmas começam a sumir, algo pior do que a morte está acontecendo e John precisa investigar. Durante a investigação, acabamos conhecendo um pouco do passado desse novo Constantine. Por meio de alguns flashbacks, vemos um pouco de sua juventude e relação com as artes místicas, além de conhecermos seus amigos e a única mulher que ele realmente amou: Veronica Delacroix. A relação com Veronica não acaba bem, devido à forma inconsequente que John utilizava a magia em favor de sua banda, Membrana Mucosa. Essa relação entre amor, música e magia (ou sexo, drogas e rock n’ roll) é parte fundamental da trama e da busca por Delacroix – ou o que restou dela. Ao mesmo tempo que remonta às origens da versão anterior do personagem, traz um novo respiro, uma forma nova de se contar sua história, mais condizente com os dias de hoje.

    A arte de Riley Rossmo é capaz de nos transmitir a sensação de horror que uma história desse tipo precisa, fugindo bastante do padrão que a DC tem apresentado ultimamente. O roteiro de Ming Doyle e James Tynion IV está bastante apurado e transmite muito bem essa nova proposta. Infelizmente, não é um título para maiores de 18 anos e, portanto, existe uma certa censura nos palavrões (e Constantine fala muitos palavrões na edição!). Isso não impede que a sexualidade de John seja explorada, não só ao retratar sua ex-namorada como durante uma transa com uma demônio ou nos flertes com Oliver, dono do café que nos é apresentado neste volume e parece ser o novo interesse romântico do personagem em histórias vindouras.

    Esse é um novo John Constantine para uma nova geração de fãs. Saudosos de Hellblazer podem até estranhar, pois ele não carrega toda a carga emocional e cicatrizes de batalha de sua versão mais famosa, mas ainda temos um personagem interessante e com muita coisa a desenvolver pela frente.

    constantine-Riley-Rossmo

  • Resenha | John Constantine, Hellblazer – Infernal Vol. 1: Hábitos Perigosos

    Resenha | John Constantine, Hellblazer – Infernal Vol. 1: Hábitos Perigosos

    Hellblazer - Infernal - Vol. 1 - Habitos Perigosos

    Se a Warner fizer direito a lição de casa, é provável que John Constantine se torne um de seus personagens mais populares nos próximos anos. Isso porque está em produção uma série televisiva estrelando o mago, que a julgar pelos vídeos publicados até agora na internet, irá abocanhar uma grande fatia de fãs da já saturada série Supernatural. Soma-se a isso sua recém renovada popularidade nos quadrinhos mainstream da DC Comics, graças ao reboot do personagem e sua nova série mensal nos Novos 52 e – Bingo! – temos um novo personagem favorito dos fãs e dos cofres da Warner.

    John Constantine foi criado por ninguém menos que o aclamado autor de quadrinhos Alan Moore, em 1985, nas histórias do Monstro do Pântano. De lá pra cá, ganhou uma série duradoura em quadrinhos, Hellblazer, um longa metragem estrelado por Keanu Reeves em 2005 que divide opiniões entre os fãs e diversas aparições em revistas em quadrinhos, como na Liga da Justiça Dark, além da já citada série de TV. Mas suas melhores histórias estão, com certeza, no selo Vertigo – linha de quadrinhos da DC Comics com temática adulta.

    A Panini trouxe ao público brasileiro o arco de histórias escritas por Garth Ennis no encadernado John Constantine, Hellblazer: Infernal Vol. 1 – Hábitos perigosos. Aqui, vemos histórias de 1991 que serviram de inspiração para o filme, e que molda muito do que sabemos sobre o personagem. Logo na primeira parte da história, John recebe a notícia que está morrendo, graças a um câncer terminal no pulmão (resultado de um maço e meio de cigarro por dia desde os dezessete anos). Constantine sabe que sua morte resultará no castigo do inferno pela eternidade, e passa a pensar em um jeito de contornar a situação.

    A forma como Ennis desenvolve o roteiro nos faz acompanhar com empatia o sofrimento de John Constantine, que não pode simplesmente curar-se com magia. Constantine aproveita para despedir-se de seus entes queridos, de forma a causar nó na garganta do leitor mais durão. Da mesma forma, seu jeito trambiqueiro tira boas risadas, e o roteiro sabe equilibrar momentos tensos, divertidos e tristes, de forma a despertar as mais diversas emoções. A forma como John lida com demônios é fantástica, e demonstra uma esperteza sem tamanho.

    O arco de histórias que dá título ao volume se encerra, na verdade, na quinta história dentre as oito publicadas no volume, mais um epílogo na parte seis. Isso não significa que as outras duas histórias que encerram a edição sejam ruins. Infelizmente, a arte não segue o primor do roteiro, sendo que na última história ela chega a ser bastante inconsistente, de modo que não conseguimos sequer distinguir um mesmo personagem de um quadrinho pro outro na mesma página. Se nos anos 90 os quadrinhos foram marcados por artes arrebatadoras e roteiros fracos, aqui vemos exatamente o contrário. O esquema de colorização também é bastante datado, tendo páginas e páginas utilizando apenas uma ou duas cores. Talvez sirva para o propósito da narrativa, mas não deixa de ser estranho se comparado com a versão dos Novos 52 e com o atual modelo de colorização por computador. A arte de capa de cada edição é reproduzida entre os capítulos da história, e é algo que vale a pena gastar um tempo observando.

    O modo como a magia é retratada nessas histórias é bastante sutil. Nada de bolas de fogo lançadas pelas mãos ou feitiços de voo para facilitar o deslocamento dos personagens. Aqui, a magia é algo misterioso e deve ser evitada sempre que possível. Coisas mais corriqueiras, como alterar a percepção que o porteiro tem dos trajes de Constantine ou estourar o pneu do caminhão de um desconhecido babaca funcionam de forma coincidente, quase como se fosse algo natural. Já invocar demônios ou transformar água benta em cerveja requer rituais elaborados, que demandam tempo, velas acesas, pentagramas desenhados com giz e outros elementos do ocultismo. Não é a magia em si que faz Constantine ser um excelente personagem, mas a forma que ele a usa.

    Não é a primeira vez que Infernal é publicado no Brasil. Mas para quem está conhecendo o personagem agora, é uma excelente oportunidade de ter em mãos uma das melhores fases do mago, com um material de qualidade e preço bastante acessível. Embora a publicação comece pelo número 41 da série Hellblazer, não é necessário ler as outras edições para entender e apreciar a obra. Isso sem contar que é muito provável que mais volumes da saga sejam publicados. Assim, o leitor pode garantir alguns momentos de leitura bastante agradáveis num futuro próximo, com o que há de melhor nos quadrinhos adultos da DC, além da possibilidade de se preparar para assistir a série da Warner. Para o bem ou pra o Mal.

  • Resenha | John Constantine, Hellblazer – Origens Vol. 1: Pecados Originais

    Resenha | John Constantine, Hellblazer – Origens Vol. 1: Pecados Originais

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    Em janeiro de 1988 estreava a primeira revista solo de John Constantine, com roteiros de Jamie Delano (que permaneceria no título até a edição 41) e arte de John Ridgway. As publicações originais do encadernado vão até junho de 1988 e ainda eram publicadas pela DC Comics. Constantine foi criado por Alan Moore e teve suas primeiras aparições nas histórias do Monstro do Pântano. Sua faceta foi tão curiosa e carismática que fez deste um personagem muitíssimo popular, ganhando uma revista solo – Hellblazer – com tramas sobre o sobrenatural e carregadas de imundícies.

    A ambientação é toda feita num mundo imundo, repleto de associações a pecados capitais – sendo a fome, nesta primeira edição, o enfoque maior e mais lancinante. A nojeira e os insetos cobrindo Gaz dão um tom de terror absurdamente nauseante. O tema explorado por Delano varia entre possessão demoníaca, fantasmas e dominação do mundo por parte das forças das trevas. É tudo muito sujo, visceral e não poupa o leitor de escatologias.

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    Os desenhos de Ridgway aumentam o escopo de assombração e tornam as figuras, que já eram bizarras, em coisas mais aterradoras. A arte suja, rasurada e repleta de hachuras mostra o quanto John é perturbado por seus poderes paranormais. Seu cinismo corriqueiro não o exime da culpa que tem pela morte de quem o cercou um dia, tampouco o conforta diante de tudo o que o faz sofrer. Flagra também a humanidade com modos decadentes e vexaminosos.

    Não há complacência nenhuma por parte do texto; os dramas escatológicos não poupam os leitores. Fica uma dúvida ainda não respondida: se as pessoas que o protagonista/narrador vê são realmente espectros ou apenas frutos de seus delírios esquizofrênicos. A verborragia dos quadrinhos, com mil balões e descrições, proporciona ao público uma sensação claustrofóbica horrenda.

    Apesar de não serem humorísticas, as descidas do protagonista ao inferno possuem tom jocoso, visto que o modo medieval como o lugar é retratado é engraçado para as mentes contemporâneas, mas deve ter tido outro impacto no fim dos anos 80. No entanto, tudo isso é proposital. No terceiro número, Delano faz um paralelo com o cenário político britânico, brinca com as tendências econômicas e faz uma corajosa e clara associação (para quem quer entender) entre os conservadores extremos e a prática satânica.

    Hellblazer

    A Londres de Hellblazer é grafada sob uma ótica pessimista, enfocando sua decadência como metrópole, flagrando grupos diversos de intolerância, em vez de mostrar a enorme cidade de primeiro mundo que engloba tantas raças, credos e nações.

    A quarta edição mostra os terrores que um ser humano pode causar ao outro, provando que por mais que o diabo e seus asseclas sejam ruins, ainda assim a figura humana pode impingir medo e pânico em seus semelhantes, e detalha como a crueldade – inerente ao ser humano – pode acontecer com pessoas comuns. Ela também apresenta um grupo extremista sedento por justiça feita com as próprias mãos.

    Este arco contém histórias auto-contidas, fechadas em si mesmas, o que permite explorar tramas de tiro curto, porém muito interessantes. O terror do Vietnã assombrou a opinião pública, o que ajudou a volta dos soldados aos seus lares. Escorraçados e tratados como assassinos a sangue frio, sofreram o desprezo por parte dos seus, além de amargarem enorme culpa e paranoia do pós-guerra – especialmente o grupo especial Marines. Delano evidencia essa questão explorando o drama de Frank, um ex-combatente, calvo, gordo, decadente por fora e mentalmente insano, que sofre de forte depressão. Constantine já entra na história reclamando de se inserir (forçadamente) ao horror claustrofóbico das vidas particulares das pessoas. Mais que o roteiro nada complacente, a arte de John Ridgway é pródiga não só em mostrar os horrores que a guerra impingiu, como também o terror que os soldados impuseram aos civis do país. A dúvida maior é se era a guerra que punha para fora os maiores defeitos éticos de seus participantes, ou se despertava nestes os sentimentos de exploração, depravação e narcisismo excessivo baseado no sofrimento do dito inimigo amarelo.

    O último número do encadernado faz menção ao Reino Unido novamente, rememorando visualmente o clássico Laranja Mecânica mas com uma temática (ainda) atual, com grupos neonazistas no lugar dos drugues. John C. se vê obrigado a enfrentar um opositor espiritual que tem um pé nos crimes urbanos britânicos – hooliganismo. As soluções que o anti-herói possui beiram o cinismo e são carregadas de sarcasmo. A história termina com um gancho, mostrando uma trama maior a ser explorada mais à frente. Não à toa, Jamie Delano ficou tanto tempo no título, dando lugar, mais tarde, a grandes artistas como Gaiman, Morrison e Ennis. No entanto, o personagem parece mais orgânico quando escrito pelo seu lápis, tamanho o conhecimento e identificação do anti-herói com o roteirista.

  • Resenha | Hellblazer: Congelado

    Resenha | Hellblazer: Congelado

    Hellblazer - Congelado

    Finalmente a Panini lança o seu primeiro encadernado com o matador de demônios mais motherfucker dos quadrinhos, John Constantine. Infelizmente, a editora optou por continuar a série de onde a Pixel parou, o que é muito bom para quem já acompanhava as revistas, mas ruim, para quem não teve a oportunidade de conhecer toda a trajetória de Constantine, como eu por exemplo, além do que, era uma ótima oportunidade para ter toda a coleção em edições de alta qualidade.

    John Constantine é um exorcista arrogante, detentor de poderes sobrenaturais. O personagem foi criado por Alan Moore, na época em que escrevia as histórias do Monstro do Pântano, e era um mero figurante, porém, como era de se esperar, logo se popularizou e ganhou uma revista só sua: Hellblazer.

    O arco lançado pela Panini, intitulado apenas como Congelado, reúne 7 edições da série mensal americana, do número 157 a 163, e antes que alguém ache difícil acompanhar uma revista com tantas edições já lançadas, vai por mim, não é difícil entender a história até agora, além do que, a revista conta com uma introdução dando um pequeno resumo de toda a jornada de Constantine até aqui, o que acaba facilitando os leitores que conhecem o básico do personagem, mas talvez não surta o mesmo efeito para aqueles que nunca leram nada sobre ele.

    O encadernado conta com quatro histórias, todas muito bem escritas, mesclando o extraordinário com o humor negro típico do personagem. Logo na primeira delas, temos uma sequência de diálogos sensacional, transcrito logo abaixo:

    -Então Betty estava no céu com São Pedro quando ouviu sons de brocas e gente gritando.
    -Continue.
    -Daí ela perguntou a São Pedro: “que barulho todo é esse?“. E ele respondeu que quando você chega ao céu eles têm que fazer furos nas suas costas para colocar as asas e um na cabeça para a auréola. Então ela disse: “prefiro ir pro inferno“. E São Pedro explicou que no inferno ela seria sodomizada por toda eternidade.
    -Bom, pra isso ela já tinha um buraco.

    A primeira história é curta, com alguns poucos diálogos, quase um prequel do que está por vir. A segunda história, que dá título ao encadernado, na minha opnião é a melhor de todas, com uma trama repleta de suspense e mistério, que se passa toda dentro de um bar nos EUA.

    Após uma de suas andanças pelo território americano, John Constantine se depara com um bar, onde os clientes daquele se vêem ser ter para onder ir, devido a uma forte nevasca que tem feito na região, impossibilitando-os de se locomover, e para ajudar, um assassinato é descoberto em frente ao local e todos acreditam que o responsável está ligado a uma lenda antiga da região. Na outra história, conhecemos um pouco do passado de Constantine na Inglaterra, quando ele era apenas um jovem. Essa é uma boa história para entender um pouco da construção do personagem, recomendado principalmente para novatos nos círculos de magia do nosso bruxo.

    O roteiro é todo escrito por Brian Azzarelo, o que já é motivo de divergências para muitos, principalmente na sua fase em que cuidou do personagem. Particularmente, gosto bastante dos trabalhos de Azzarello, seu desenvolvimento narrativo não deixa a ‘peteca’ cair em nenhum momento. Os desenhos ficam por conta de Steve Dillon, Marcelo Frusin e Guy Davis, todos casam muito bem com o estilo tempestivo de Azzarello e tem o traço peculiar de suas histórias.

    A Panini tem feito um ótimo trabalho ao relançar esses trabalhos, principalmente para aqueles que desistiram de comprar edições simples e primam por uma qualidade maior. Só nos resta torcer para que ela se acerte com a periodicidade desses encadernados.