Constantine: A Cidade dos Demônios é uma produção multiplataforma, lançado inicialmente como uma série animada de cinco episódios (de 6 minutos), e posteriormente, transformada em um longa-metragem que reunia os episódios e material inédito. Dirigida por Doug Murphy e escrito J.M. DeMatteis, a produção tem um chamariz interessante ao trazer Matt Ryan de volta ao papel que protagonizou na única temporada do personagem, além de fazer participações em Arrow, Flashe Legends of Tomorrow.
O personagem criado por Alan Moore é desenvolvido em historias que passam por possessão demoníaca e contato com o lado espiritual. Há uma associação das origens dele como agente espiritual, com sua passagem como punk, em sua fase mais jovem, em Newcastle, que se torna bastante engraçada ao associar rock’n roll com questões “satânicas”.
A forma como Murphy e DeMatteis constroem a história maior a ser contada é condizente com o material original, sem a mesma ironia e o peso dos textos de um Jamie Delano ou Garth Ennis, mas ainda assim condizente com os quadrinhos. Se na série em live-actionMatt Ryan deu azar e não conseguiu trabalhar o lado sacana, violento e despreocupado que o papel exigia, aqui isso se cumpre melhor.
Por mais episódica que seja a obra, Constantine: A Cidade dos Demônios traduz a dualidade entre o personagem da Vertigo e sua reformulação para integrar o universo regular da DC Comics, além de destacar o quão triste e miserável é seu cotidiano e quão solitária é a natureza de seus trabalhos. DeMatteis finalmente acerta o tom no roteiro e consegue fazer uma história simples, com todos os elementos da revista Hellblazer, ainda que mais suavizado.
O universo DC animado baseado nos Novos 52 finalmente chegou ao seu fim. As próximas aventuras já tem até nome – o curta da DC Showcase Batman: Death in the Family e o longa Superman: Man of Tomorrow – e este décimo sexto filme é protagonizado por John Constantine (Matt Ryan), com um título sugestivo: Liga da Justiça Sombria: A Guerra de Apokolips.
O título do filme faz com que ele (teoricamente), devesse ter configuração semelhante ao visto em Liga da Justiça Sombria, mas a realidade o coloca mais ao lado do recente Constantine: Cidade dos Demônios, além de conversar bem demais com Ponto de Ignição, o primeiro dos filmes dessa iniciativa ou seja, esse é o filme mais apegado a cronologia estabelecida nesse universo compartilhado. Constantine namora Zatanna e está na torre da Liga, junto aos heróis clássicos, incluindo ai os Titãs e outros tantos super seres com Lex Luthor incluso.
Já se nota algo bem diferente neste início, pois na pretensa guerra que ocorrerá entre as forças do quarto mundo e as da Terra, o Super Homem não pensa duas vezes antes de lançar um ataque a Darkseid e Apokolips. Todo o período inicial é como um epílogo, um grande e épico preambulo que ambienta o espectado para a real e trágica narrativa, semelhante a todo o arco posterior ao estalar de dedos de Thanos visto em Vingadores: Guerra Infinita.
Surpreendente como todas essas sequencias são bem animadas, ainda mais em comparação com outros objetos da Warner Animation, e o que se vê após impressiona ainda mais. Claramente o orçamento foi aumentado, ou ao menos os produtores pararam de preguiça e saíram da zona de conforto para gerar algo realmente com dar um ar épico, e isso reforça a sensação de um cenário pós derrota dos heróis, mas a historia de Ernie Altbacker (roteiro) e Mairghread Scott (argumento) também é bem construído, especialmente ao repercutir o infortúnio de personagens clássicos como Batman, Asa Noturna, Superman etc.
Há muitas semelhanças narrativas entre esse e Vingadores Ultimato, especialmente na condição extrema que a maioria dos heróis e pessoas dos arredores estão, seja com destinos trágicos ou com instinto de sobrevivência falando mais alto. Alguns rumores dão conta de que idéias de Zack Snyder para o longa Liga da Justiça foram reimaginados aqui, como a questão envolvendo a derrocada dos heróis, ainda que a série de eventos ocorridas após a invasão de Apokolips fosse completamente diferente.
Os Paradooms – versões dos parademônios com DNA semelhantes ao do Apocalipse visto em A Morte do Superman e O Reino do Superman – também teriam inspiração no que Snyder, David S. Goyer e Cia queriam fazer famigerado Snydercut, ainda que não fosse exatamente uma mistura de Doomsday com os capangas de Darkseid. O que poderia melhorar este Guerra de Apokolips, seria um maior aprofundamento de como veio a ideia da construção dessa “arma biológica”, isso daria lastro para coadjuvantes do quarto mundo aparecerem, como Vovó Bondade, Sr. Milagre, Barda, Orion e tantos outros.
Em uma época de pandemia, causada por conta do Covid 19, a recepção da obra de Cristina Sotta e Matt Peters não poderia ser mais positiva, e dado que ele lida com destino de tantos personagens importantes do universo DC, e que não tiveram tanto destaque nos filmes – como Batwoman, Batgirl, Batwing, Shazam, Monstro do Pântano – são justos os elogios, mesmo que a maioria desses tenham somente uma pequena aparição, praticamente sem falas. Fora Constantine, Lois Lane, Super, Damian Wayne, Ravena e alguns membros do Esquadrão Suicida como Arlequina, Capitão Bumerangue e Tubarão Rei.
Liga da Justiça Sombria: A Guerra de Apokolips conversa bem com Esquadrão Suicida: Acerto de Contas no quesito violência, pois aqui não há pudor em mostrar sangue e desmembramentos de heróis, vilões e anti heróis. Alguns fãs mais ardorosos reclamaram do fato dos heróis terem níveis de poder diferente do que normalmente era mostrado, e de fato isso ocorre, ainda que nada ofensivo ocorra. Incomoda mais algumas conveniências narrativas, em especial no final, mas dada a mediocridade com que eram levados essa parte da franquia da DC dividida em 16 partes, o resultado é bem divertido e satisfatório, com gancho inclusive para retornar caso os produtores decidam optar por isso no futuro.