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  • Crítica | Superman: Entre a Foice e o Martelo

    Crítica | Superman: Entre a Foice e o Martelo

    Depois de dezessete anos após o lançamento da revista, finalmente a versão animada da DC adapta Superman: Entre a Foice e o Martelo, revista consagrada de Mark Millar com desenhos de Dave Johnson cuja premissa é bastante simples: e se o bebê kriptoniano que se tornaria o Superman caísse em território soviético e não americano. Coube a Sam  Liu a responsabilidade de conduzir essa versão, e infelizmente essa é mais um longa-metragem com o pouco apuro visual e com um traço feio e genérico, semelhante em muitos pontos aos filmes que adaptam os novos 52.

    A trama começa em 1946, na URSS, e já começa legal por mostrar uma versão bem encaixada das contra partes de Clark  Kent e Lana Lang em terras russas/ucranianas, seguidas dos créditos iniciais que mostram capas e imagens clássicas do gibi. Este início quase ludibria o espectador, uma vez que mora nessa introdução os momentos mais brilhantes do roteiro, ao mostrar as propagandas soviéticas como uma arma eficaz na guerra ideológica, mas até as intenções dessa questão servem a um propósito complicado e maniqueísta de maneira desnecessária.

    As passagens de tempo soam confusos, assim como as relações entre os personagens. A cumplicidade entre a figura de autoritária Joseph Stalin e o homem intransponível inexiste, assim como não existe qualquer tensão pessoal entre o personagem principal e qualquer outro aliado. O filme carece de personagens que sejam dúbios, e em se tratando de um filme sobre a Guerra Fria isso é um pecado terrível. A relação que deveria ser parental entre político e super humano é suavizada de modo que não há qualquer dualidade, nem em Super, nem em Stalin e em mais ninguém e por mais que a HQ seja digna de críticas negativas, esse tipo de problemática não vinha do texto de Millar.

    Ao menos, há tentativa de abordagem mais delicada do camponês que ascendeu ao supra sumo da humanidade. A superação das barreiras do ordinário situa o personagem no exato oposto do que Jerry Siegel e Joe Shuster pensaram para o kriptoniano original, ao menos em geografia, pois os ideais do Superman clássico (o que nem voava e era visto em Superman Crônicas) tinha ideais marxistas. Uma pena que esse aspecto seja breve, passa rápido demais para causar espécie.

    Os gulags são mostrados de modo bem caricato e todo o orgulho presente na identidade socialista soviética não tem qualquer menção ou exaltação. A maior preocupação do roteiro de J.M. DeMatteis (que comete quase tantos equívocos quanto seu colega quadrinista Brian Azzarello em Batman: A Piada Mortal) é fazer paralelos entre os campos de concentração nazista e esses lugares, incluindo aí uma mise-en-scene terrível, de um garoto flagelado e hiper moralista que tem até morcegos atrás de si (e que um tempo depois, se tornaria um personagem famoso). O primeiro ponto de ruptura é cedo demais, com um terço de filme o Superman já é um assassino tirano que não tem nenhum questionamento mesmo quando ele toma o poder sobre o antigo soberano.

    As tentativas de paralelos com o universo comum da DC variam de qualidade. Por mais que a Diana/Mulher Maravilha seja uma personagem bem explorada aqui, a aliança entre Themyscira e URSS faz pouco sentido. A luta contra o Bizarro também, e a versão de Lex Luthor aqui é mais virtuosa até que a contra parte que era herói que combatia a Sindicato do Crime em uma das versões do universo DC.

    Alguns pontos são positivos, como a participação de Lois e Lane e da Mulher Maravilha, mas nada que salve o filme do texto de propaganda do American Way of Life ou da total distância entre ele e quase todas as obras do Superman, sejam as que se baseia a revistas ou as mais clássicas. A mudança do final em é necessariamente um problema, mas toda a construção moral do personagem, sua modificação para ser um vilão não faz qualquer sentido visto os últimos atos dele, que se joga como um sacrifício meio nulo

    Em alguns pontos a historia é panfletária de uma maneira até mesquinha. A questão do Muro de Berlim e o modo como se fala da influencia socialista ser encarada como cancerígena é podre, e no filme não se mostra o colapso que o capitalismo teve na época do poderio do Superman como líder dos soviéticos. Ate por essa construção malévola dele, não faz sentido insistir em demonstrar que o herói é belo, benevolente e preocupado com o bem estar mundial, pois mesmo Lex é mais honesto e bom do que o personagem-título.

    Do ponto de vista narrativo o filme peca muito não só na figura do Super mas também na do Batman, que é um poço de clichês. Há também uma dificuldade em traduzir a essência do Superman nessa e por mais que Millar tenha mudado muita coisa nos rumos da vida do herói, mas o cerne e o básico, o essencial estava lá ao menos na premissa e aqui não, e nem é somente pela questão do personagem matar opositores sem dó, mas basicamente por não se enxergar nele nem um resquício do do herói clássico. Nenhum distanciamento entre como o povo vê seu governante e como ele realmente é justifica isso.

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  • Melhores Leituras de 2015

    Melhores Leituras de 2015

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    Devido ao maior tempo dedicado a uma leitura do que assistir a um filme ou a episódios seriados de uma temporada, é natural que uma lista de Melhores Leituras seja um tanto anacrônica aos lançamentos. A isso soma-se o fato de que, ao encerrar 2014, planejei a leitura de alguns autores que desejava conhecer ou me aprofundar em suas obras, e assim chegamos às edições selecionadas abaixo como as melhores leituras do ano passado.

    Como não havia número suficiente para formatar uma única lista de livros, decidi pela abordagem mista ao introduzir e pontuar os bons quadrinhos lidos no ano. Neste aspecto, é evidente que foquei as leituras no eixo tradicional da Marvel/DC Comics, um aspecto que pretendo evitar este ano, realizando a leitura de outras obras mais autorais (possivelmente veremos esse impacto em uma futura lista deste ano, a ser publicada em 2017).

    Explicitando a falta de sincronia com lançamentos e formatos, a lista nem mesmo se ajusta à tradicional recomendação de dez itens selecionados. Mas sim doze obras, seis livros e seis HQs, para que nenhuma das boas leituras ficasse de fora. Algumas dessas indicações também foram analisadas no site logo após a leitura, dessa forma peço desculpas aos leitores por eventuais repetições de abordagem.

    Manual de Pintura e Caligrafia – José Saramago (Companhia das Letras)

    Manual de Pintura e Caligrafia - Saramago

    Narrativa de estreia do lusitano José Saramago – posteriormente, uma obra anterior seria lançada após sua morte – Manual de Pintura e Caligrafia é um vigoroso romance de estreia. O autor inverte a lógica sobre a carreira e descreve sua proposta literária logo no primeiro lançamento, contrariando manuais tradicionais de autores que sempre, em um estágio avançado da carreira, versam sobre o ofício. Misturando duas narrativas, a personagem atravessa a arte da pintura rumo à escrita, uma transição feita pelo próprio autor, transformando esta obra em um misto de metalinguagem e tese literária, ainda que os elementos narrativos que o consagraram ainda não estivessem presentes.

    Demolidor – Fim Dos Dias (Panini Comics)

    Demolidor - Fim dos Dias

    Inserido na série O Fim da Marvel Comics, Fim dos Dias é uma clara homenagem à trajetória do Homem Sem Medo. Sob a batuta de Brian Michael Bendis, a história leva Ben Ulrich a uma última reportagem quando os heróis perderam sua força como defensores. A equipe de primeira linha desenvolve uma história sem igual, simultaneamente apresentando grandes momentos e figuras de Demolidor ao mesmo tempo em que se configura como mais uma grande história de um dos personagens mais coesos do estúdio.

    Romeu e Julieta – William Shakespeare (Saraiva de Bolso, tradução de Bárbara Heliodora)

    Romeu e Julieta - Shakespeare

    Casal mais conhecido da dramaturgia de William Shakespeare, Romeu e Julieta são símbolo de amor universal, representado, transcrito e transformado em um amor perfeito. A peça considerada uma das mais líricas do autor é fundamental para destruir o conceito das personagens através dos tempos, evidenciando que o amor de dois adolescentes termina de maneira trágica devido ao frenesi impulsivo e a imaturidade. Versando com qualidade sobre a agressividade desse amor, o casal permanece no imaginário coletivo em uma bonita história trágica.

    Pantera Negra – Quem é o Pantera Negra? (Salvat / Panini Comics)

    Pantera Negra - John Romita Jr - destaque

    Anterior a modificações estruturais de personagens representativos de uma causa, a Marvel fundamentou, dois anos após a nova lei de direitos civis nos Estados Unidos, um personagem negro com uma bela mitologia. Erigido como um deus no coração de um país futurista na África, local que nunca cedeu a colonizadores, a concepção do Pantera Negra atinge versão definitiva na narrativa de Reginald Hudlin. Retomando conceitos de tradições africanas, T’Challa adquire simultaneamente uma história coesa e uma tradição tribal forte, tornando-se um importante e imponente personagem político no cenário da editora.

    O Silêncio do Túmulo – Arnaldur Indridason (Companhia das Letras)

    O Silêncio do Tumulo - Arnaldur Indridason

    Impressiona que em uma literatura normalmente considerada formulaica como a narrativa policial se possam desenvolver tantos estilos diferentes e histórias genuinamente interessantes a partir de um crime. Arnaldur Indridason compõe sua narrativa a partir de dois focos: a investigação de um esqueleto encontrado nas imediações da Reykjavík, Islândia e uma trama familiar sobre um pai abusivo. O leitor reconhece de imediato que as narrativas iram se entrecruzar e, mesmo enfocando tais tramas de modo diferente, o autor é capaz de mantê-las em um mesmo tom que, quando chega em seu ápice, desvenda o crime e revela um aspecto crítico sobre a condição social e psicológica que fomentou o assassinato. É a partir desta obra que Indridason alcança sua melhor forma.

    Gotham DPGC: No Cumprimento do Dever (Panini Comics)

    Gotham GPGC

    Ed Brubaker e Greg Rucka partiram de uma premissa interessante ao indagar como seria o contingente policial de Gotham City vivendo à sombra do Homem-Morcego. O resultado é uma revista que destaca personagens comuns vivendo em um cotidiano padrão, no qual a figura de Batman é vista com mística, sem explorar a personagem interiormente como em suas revistas mensais. A partir de dramas pessoais em meio a atentados e crimes de grandes vilões e bandidos comuns, a equipe de crimes hediondos de Gotham sobrevive diariamente nesta pesada rotina criminal. Com uma vertente narrativa genuína de histórias policiais, a equipe apresenta uma visão diferente deste universo tão explorado e querido do público.

    Here, There And Everywhere: Minha Vida Gravando os Beatles – Geoff Emerick e Howard Massey (Novo Século)

    Here There Everywhere - Minha vida gravando os beatles

    Na vasta bibliografia sobre The Beatles, dividida entre obras de jornalistas experientes, críticos renomados e personagens que pontualmente passaram pela carreira da banda, a biografia de Geoff Emerick é fundamental como uma figura de autoridade intrinsecamente ligada à banda. Responsável pela formatação da fase mais prolífica da carreira do quarteto, Emerick narra brevemente sua trajetória até conhecer a banda e nos brindar com informações daquilo que fizeram dos Beatles a banda por excelência: sua qualidade musical. Detalhes técnicos, informações e curiosidades são costuradas em uma prosa suave que nos coloca ao lado da intimidade do Fab Four sob a visão daquele que esteve acompanhando a progressão a cada ensaio e moldando o som da banda. A obra é prazerosa e nos aguça a ouvir de maneira diferente a discografia do quarteto.

    Superman – A Queda de Camelot (Panini Comics)

    Superman - A Queda de Camelot

    Publicada simultaneamente a outra grande saga de Superman, O Último Filho, esta Queda de Camelot é um longo épico dividido em duas partes. Conduzida por Kurt Busiek, um dos responsáveis pelas revistas do herói ao lado de Geoff Johns na época pós Crise Infinita no projeto Um Ano Depois. Trabalhando em linhas temporais de passado, presente e futuro, o autor cria uma história provável sobre um futuro apocalíptico ao mesmo tempo em que desenvolve o passado do vilão Arion e as crescentes ameaças do presente conhecido. O tamanho da série cria uma narrativa aventureira cíclica, composta de diversos ganchos e conduzida pela aventura, dando sequência à explícita homenagem a Era de Prata desenvolvida desde o primeiro arco de Um Ano Depois. Se O Último Filho é uma reflexão pretensiosa e fabular sobre passado e descendência, A Queda de Camelot faz da aventura o fio condutor.

    Dragão Vermelho – Thomas Harris (Record)

    Dragão Vermelho - Thomas Harris

    Um dos grandes vilões do cinema, Hannibal Lecter inicia sua trajetória nesta narrativa escrita em 1988. Thomas Harris explora com eficiência a psicologia de seu assassino e compõe um interessante laço entre o investigador Will Graham e o psicanalista canibal, o qual colabora no caso. Em um thriller psicológico aclamado por James Ellroy como um dos grandes livros do gênero, a história é pautada no desenvolvimento do caso e no suspense, demonstrando talento na composição narrativa ao criar densos personagens bizarros, inovando ao introduzir com esmero a mente criminosa em cena. Mais impressionante que esta trama é o fato do autor, após a sequência O Silêncio dos Inocentes, ter produzido duas obras sobre a personagem sem nenhum apelo e vigor equivalentes a esta obra inicial. Mesmo com uma carreira desequilibrada, Dragão Vermelho é uma narrativa impecável.

    Os Vingadores – O Mundo Dos Vingadores (Panini Comics)

    Vingadores - n 1 - Avengers World

    Responsável por assumir duas revistas dos Vingadores após oito anos sob comando de Brian Michael Bendis, Jonathan Hickman iniciava um novo ponto de partida para os Heróis Mais Poderosos da Terra, reconfigurando a equipe em sintonia com o novo processo editorial intitulado Nova Marvel. O Mundo dos Vingadores alinha novos e antigos personagens em uma renovada formação da equipe, ao mesmo tempo em que introduz novos vilões que seriam fundamentais para futuras sagas da editora. Sem medo da sombra do sucesso da passagem de Bendis, o arco é simultaneamente uma boa história como também funciona como um início para novos leitores.

    A Ditadura Envergonhada – Elio Gaspari (Intrínseca)

    Ditadura Envergonhada - Elio Gaspari

    Com intensa pesquisa em fontes diversas e uma prosa ensaística de primeira qualidade, Elio Gaspari produz uma das obras definitivas sobre a ditadura militar brasileira. Indo além da formalidade dos fatos, o autor insere um estilo narrativo próprio que aviva a época e os dramas dos conflitos vividos e seus delicados detalhes. Traçando um panorama da sociedade, observando tanto o movimento militar como os levantes contra o golpe, este é o primeiro volume de uma vasta obra sobre o período que, ainda este ano, ganha o último e definitivo desfecho.

    Batman: Cidade Castigada (Panini Comics)

    Batman - Cidade Castigada

    A saga Silêncio, anterior a Cidade Castigada, talvez tenha eclipsado a atenção voltada a esta história escrita por dois grandes parceiros: Brian Azzarello e Eduardo Risso. Se a anterior pretendia ser um grande épico em doze partes, apresentando diversões heróis e a galeria de vilões do Morcego, Cidade Castigada enfoca o Batman investigador em uma história mais eficiente e coesa que a de Jim Lee e Jeph Loeb. Gotham adquire contornos noir entre poesia e corrupção enquanto o roteiro foge de uma tradicional narrativa feita pelo morcego, acrescentando tanto uma reflexão erudita sobre a cidade quanto ampliando a limitação física do herói, sem contar uma improvável cena em que Bruce Wayne faz seu próprio jantar, desmitificando, com certo humor sem perder o tom sério da narrativa, os fatos cotidianos que o personagem, como um reflexo de um ser humano normal, executa todos os dias.

    Cidades de Papel - John GreenMenção Honrosa: Cidades de Papel – John Green. Considerando o público-alvo de sua narrativa, Green surpreende com uma história pontual sobre a transição entre a adolescência e o mundo adulto e uma percepção madura de um grupo de amigos. Um romance de formação que tem potencial para se tornar significativo no crescimento do leitor jovem.

  • Resenha | Batman: Cidade Castigada

    Resenha | Batman: Cidade Castigada

    Batman - Cidade Castigada - Eduardo Risso - Brian Azzarello - Panini Comics

    Assim como em Silêncio, a saga seguinte de Batman foi planejada para reunir dois grandes parceiros nos quadrinhos: Brian Azzarello e Eduardo Risso, que lançaram pela Vertigo a premiada 100 Balas. Duas diferenças básicas podem ser apontadas entre as sagas e sua publicação no país. Cidade Castigada possui apenas seis edições, metade do arco anterior. Ao contrário de ser publicada uma edição a cada mês como na história de Loeb/Lee, a Panini Comics compilou, em apenas duas edições, Batman nº 23 e 24, como se desejassem apressá-la. Talvez seja este o motivo que proporcionou o lançamento, em 2007, de uma reedição em capa dura dando o merecido destaque para essa série.

    Cidade Castigada apresenta uma narrativa feita pelo próprio morcego em sua cidade natal. Ao mesmo tempo que reconhecemos esta narração como um estilo comum em diversas outras histórias, percebemos um estilo diferente pela maneira com que o roteirista compõe as falas. Não se trata de uma narrativa que apoia as cenas de quadrinhos, assim como os desenhos não são apenas a representação gráfica da história. Azzarello insere um narrador mais erudito, próximo de um narrador de um romance, com uma observação mais atenta e mais poética que foge da narrativa simples.

    O início da trama está na morte da irmã de Angel Lupo, um comerciante de carros usados com ligações com o submundo de Gotham. Encontrada morta no aterro da cidade, Batman executa uma investigação formal para descobrir quem foi seu assassino nesta trama que a investigação é um dos pilares primordial, sem a presença constante de grandes personagens de sua galeria de vilões, um recurso utilizado em Silêncio. Dessa vez, a trama é focada na investigação e, por consequência, na relação do morcego com sua cidade.

    Azzarello e Risso promovem, em texto e imagem, uma Gotham noir feita de poesia e sujeira. Os traços de Risso são complexos e, como a poética do roteirista, trabalham de maneira mais densa os contornos e ângulos de visão. Há uso significativo da narrativa não-verbal feita pelas imagens, e por consequência é necessário um exercício maior de atenção por parte do leitor, o qual também perceberá que, na maioria das cenas, sempre há mais de um fato acontecendo, como se Gotham fosse uma cidade que nunca dorme, sempre disposta a abrigar mais um assalto ou agressão.

    Azzarello dá maior densidade poética à narração feita por Batman ao mesmo tempo que mantém as reflexões tradicionais da personagem, retomando o trauma inicial de Bruce Wayne, com direito à famosa cena da morte dos pais com destaque à imagem do colar de pérolas despedaçando-se. Mesmo repetida e reinterpretada por diversos desenhistas, ainda assim a cena possui uma bela dramaticidade. Ao mesmo tempo, o autor apresenta novos detalhes, simples modificações que produzem uma tônica real do personagem, como se, ao contrário de diversos roteiristas que parecem escrever a história pensando na lenda do Morcego, ele derrubasse essa visão para focar também o homem.

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    Temos um Batman mais lúcido e irônico. Ciente de que foram necessários muito trabalho, dedicação e estudo para se tornar a lenda heroica atual. A narrativa mostra certo cansaço de Wayne com sua cruzada contra o crime, e nos dá uma boba e divertida pérola de seu cotidiano em uma cena: após a patrulha, o herói decide treinar ao invés de dormir e, após horas de exercícios, vai para a cozinha grelhar o próprio alimento. É uma visão diferente, um mero detalhe que ganha nova forma devido ao fato de nunca vermos a personagem em atos mundanos. Uma exposição que parece coerente, afinal o rigor físico do morcego necessita também de boa alimentação para mantê-lo. Porém, diante da ausência de qualquer situação semelhante em outras histórias, este pequeno detalhe ganha maior destaque.

    Outro fato positivo em relação a essa história foi seu lançamento dentro da mensal do Morcego. A tônica narrativa poderia muito bem ser direcionada para uma graphic novel, tanto pelo tamanho breve quanto pela modificação narrativa. Trata-se de uma história que enfoca a investigação, e que coloca Batman e Gotham como personagens. Há vilões que se apresentam para ajudá-lo ou despistá-lo na investigação. Mas são presenças pontuais, ao contrário das diversas participações dos vilões em Silêncio. Além de alguns destes vilões, dois novos personagens surgem na cidade, a dupla Hiroshima e Nagazaki, um homem corpulento e uma franzina e rápida lutadora, ambos envolvidos na morte que Batman investiga.

    Além da humanização física do Morcego, Azzarello também corrompe seu intelecto dedutivo. Uma investigação sempre toma diversas linhas de possibilidades, que vão sendo eliminadas pouco a pouco. Porém, normalmente, as histórias produzem deduções certeiras que fazem o herói sempre encontrar o caminho certo, como se suas habilidades dedutivas e de raciocínio fossem superiores e perfeitas. Porém, após acreditar que está prestes a resolver a investigação, o Cavaleiro das Trevas assume ter criado pressupostos errados para investigar o acontecimento. Detalhes colocados na trama que demonstram por que, mesmo superior nesse quesito, Bruce Wayne, como qualquer outro detetive, também é passível de falhas.

    Os traços de Risso criam uma experiência sensacional de apuro artístico, trabalhando com primazia espaços e traços que, às vezes, não apontam com exatidão sua intenção, sendo desenhos transmorfos representando tanto a cidade quanto um objeto maior. O próprio Morcego faz uma analogia no primeiro quadro da história, dizendo que os prédios de Gotham parecem mandíbulas de metal, demonstrando a poética do roteiro de Azzarello e como o trabalho de Risso ajuda a explorar esta dualidade. Ao observar o quadro, intencionalmente vemos tanto os prédios quanto as possíveis mandíbulas de metal de um monstro.

    A breve incursão da dupla no universo do herói produz uma bela narrativa policial com texto e arte primorosos. Sem dúvida, uma obra que merece atenção pela qualidade e por conseguir transpor as barreiras cronológicas e se tornar também uma história fechada. Um dos motivos pelo qual grandes histórias tornam-se futuros clássicos.

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  • Resenha | A Rica Indecente (Vertigo Crime)

    Resenha | A Rica Indecente (Vertigo Crime)

    A Rica Indecente - Azzarello

    A fantasia de Richard Junkin começa por seu passado, um tempo somente citado pela memória história de Brian Azzarello. O clima noir é cortado pela narração em primeira pessoa, exibindo luxúria e desgosto pela atual rotina, distante demais dos tempos áureos de quando o personagem tinha uma promissora carreira esportiva a queimar.

    A chegada ao local de trabalho é melancólica. Segue-se uma reprimenda que o afasta das imagens sexuais e o faz retornar ao seu lugar de direito, como um capacho, péssimo vendedor que era. Seu patrão Helm Soeffer pede para que ele se exiba para um possível cliente, um fã ávido por futebol americano que narra as marcas e recordes que ele tinha no desporto, esmagando sua moral em virtude do seu presente. O joelho, peça quebrada em sua equação, é tão esfolado e esmigalhado quanto sua alma, quebrada, sem uso, somente funcional para a sustentação de um homem que tão cedo já se vê como um alguém decadente, que vê na esbórnia um modo de aplacar sua depressão.

    A cercania de Junk é formada por indivíduos medíocres e sem planos muito elaborados além das banais vendas de carros para suburbanos. Isso faz com que o protagonista piore sua perspectiva de existência, afirmando que a vida parece não lhe reservar mais qualquer coisa. A propensão para o suicídio parece querer saltar de seus lábios antes mesmo do chamado à aventura. Após quase ser demitido, Junk tem mais uma chance de se redimir, sendo designado para um inglório serviço: cuidar da mimada (e boêmia) Vicki, que mais frequenta as páginas de coluna social do que qualquer outra roda de conversa, o que claramente atrapalha as vendas da concessionária.

    A missão de Junkie é a de evitar que Vicki seja matéria da imprensa e para que ela não se meta em apuros ou indiscrições. As ordens dadas por seu pai exibem as baixas expectativas do personagem em relação a uma mudança de comportamento da garota. Ao frequentar a primeira das baladas de Vickie, o encarregado esbarra em algo que odeia; todo aquele cenário repleto de subcelebridades e personagens presentes em colunas de fofoca exalavam futilidade e vazio, e eram exatamente da parte informativa do jornal que ele propositalmente ignorava, ainda que não pudesse negar o conhecimento da identidade de algumas delas. De todas as socialites, Victoria se destacava por ser herdeira do maior negócio de carros do nordeste estadunidense, e também por sua persona.

    A mulher fatal acumula o papel como alvo da proteção do anti-herói. A principal tentação aos olhos e tato de Junkie dentro de sua jornada é a moça, que teima em praticar suas indiscrições e ainda se exibir a ele, mostrando seus dotes que se distanciam da figura de menina pintada por seu pai. Os encantos da moça excedem o arquétipo de ninfeta e de presa sexual para apresentar uma manipulação mental atroz em que se reúnem o senso de proteção e o desejo por sua carne, como se ambas as sensações fossem sinônimas, o que acaba saindo do campo de ideias para invadir a realidade.

    O desenho de Victor Santos consegue exibir a violência de modo simples e bastante gráfico. O realismo do asfalto é bem enquadrado, permitindo ao leitor uma imersão quase impenetrável.

    Uma gangorra de emoções, Junkie dá vazão ao seu desejo, servindo aquela a quem deveria proteger em instâncias bem maiores que sua obrigação contratual. A vontade em prosseguir usufruindo do corpo da moça o embevece, deixando-o cego ante os desejos de Victória e perdendo o critério ao vê-la ferida. Mesmo os seus instintos básicos eram enganados. Os atos finais mostram o papel subalterno que ele escolheu para si, evidenciando uma ilusão travestida de auto-engano. O engodo interno criado para que a sensação de rejeição e certeza de estar sendo usado caracteriza-se por sensações aplacadas numa tentativa pobre e fracassada de fechar os olhos para realidade, inventando uma nova para si mesmo.

  • Resenha | 100 Balas: Atire Primeiro, Pergunte Depois – Volume 1

    Resenha | 100 Balas: Atire Primeiro, Pergunte Depois – Volume 1

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    100 Balas foi uma série do selo Vertigo que mostrava algumas das facetas criminais comuns ao povo estadunidense. Roteirizada pelo premiado Brian Azzarello (de Batman: Gotham Knights e Superman – Pelo Amanhã) e com arte do argentino Eduardo Risso (Parque Chas e Cain), o título premiadíssimo durou 100 edições, começando em 1999 e terminando em 2009.

    O primeiro encadernado compreende três arcos de histórias. Em 100 alas, Azzarello brinca com os clichês do sub-gênero “women in prison”, mostrando a comunidade homoerótica do presídio, e claro, com uma protagonista perturbada por seu passado. A moça, finalmente livre da prisão, recebe uma inesperada visita, de um misterioso Agente Graves, que explana a sua vida nos mínimos detalhes, e escancara inclusive os motivos que a fizeram ir presa e propõe algo para ela, até então, inimaginável, entregando-lhe uma mala, que contem um arma com 100 balas irrastreáveis, que poderiam ser usadas em sua vingança. Dizzy tem uma surpresa ao perceber que a arma realmente não pode ser encontrada, e que ela pode manter posse do objeto, mesmo estando em condicional e após ser abordada por dois policiais corruptos. A personagem termina a edição sem tomar uma decisão, mostrando toda a reticência que uma escolha como essa provocaria num ser humano normal.

    Se a ex-presidiária fosse uma reles assassina, o dilema em que se mete não seria tão alardeado, pois aderir a ideia da vingança não seria uma corrupção do Ethos, mas o fato dela ter sido presa por um crime passional e em legítima defesa a pôs em um ambiente hostil e criminoso que ela sempre renegou, apesar dele estar sempre por perto, e que teima em retornar a si. Ao sair da cadeia ela descobre que até seu irmão está envolvido com a criminalidade, e que galgou degraus na hierarquia das gangues locais, tem as costas quentes, mas ainda assim, se nega a dar o destino justo àqueles que causaram mal a sua família – o que faz Dizzy tomar uma decisão.

    A violência presente nas ruas de Chicago não é exclusividade da cidade, na verdade o factóide representa a realidade das metrópoles ao redor do globo, especialmente as do terceiro mundo e demonstram como a violência urbana é implacável com os habitantes da cidade, com os que a negam, o preço pedido por ela invariavelmente envolve óbito.

    A moça já havia se conformado em ter perdido seus entes queridos, jogava a responsabilidade do fato nos pecados que praticara no passado, encarava isso como um castigo divino, mas ignorava a corrupção dos policiais que cometeram o assassinato e não levava em conta de que seus erros deveriam causar danos a sua própria vida, não a de seus próximos. A escolha contemplou o máximo de ética que conseguiu, sua escolha em matar o número de pessoas que executou gerou uma culpa, não muito grande, mas ainda assim presente em sua vida – ela não poderia com todo o seu código moral matar os culpados sem sair ilesa, mas ao final, em seu discurso para o Agente Graves, ela destaca que a execução poderia ter sido maior, e não o foi, por escolha unicamente dela, suas decisões foram corretas segundo a sua própria ótica do que é certo e do que é errado, e em última instância, permitiria a Emilio a chance de se consertar.

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    O lugar comum do segundo arco – Tiro Pela Culatra – é um bar, onde bêbados modorrentos e decadentes frequentam e tornam a vida do barman em algo ainda mais miserável do que já era. Lee Dolan, o novo protagonista, descobre quem foi a pessoa que enviou o arquivo que o comprometeu, e consequentemente destruiu sua “vida anterior”: seu restaurante, sua vida respeitável, sua mulher e filhos e o respeito que tinha de seus iguais, tudo foi perdido graças a uma armação e ao envio de fotos de garotos sendo molestados, seu julgamento já estava decidido antes mesmo de ser fechado.

    Risso mostra visualmente como Jerry vê seu pai, revelando um desprezo enorme ele pede para que ele suma de sua vida, e a reação de Lee é ficar parado, enquanto a sequência de quadrinhos o mostra imóvel, mas o tamanho do enquadramento vai aos poucos diminuindo. Após isso, o sujeito vai a um bar de strip, e uma das moças que o atendem diz que ele é infeliz, sua resposta, educada e pronta, fala que só uma pessoa infeliz reconhece a outra.

    O fato da festa de Megan (a culpada pela vergonha e desgraça que acometeram Dolan) ser no bar onde Lee trabalha faz o leitor se perguntar se algo não está errado, qual o motivo dessa grande coincidência bater a porta do protagonista? Graves era conhecido da moça, e ela sabia de todo o ardil antes de terminar o diálogo com o seu antagonista. O protagonista hesita, achando que a mesma pessoa que arruinou sua vida poderia magicamente consertá-la. Mesmo com toda experiência que passara, ele permanece imprudente e é mais uma vez posto para trás. 

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    Pequenos Vigaristas, Grandes Negócios
    O terceiro arco trata de Chucky Spinks, um trambiqueiro que vê suas dívidas de jogo migrarem para um corretor diferente, um antigo amigo seu e agora chefão do crime Pony. O protagonista se enrola e quase perece pelas mãos dos que jogam consigo, cansados de ser passados para trás, e isso quase acontece até a intervenção de Graves.

    Chucky é, dos protagonistas, o personagem menos bem urdido. A posse da maleta contendo a centena de balas o faz ficar eufórico instantaneamente, deixando o lado depressivo e cabisbaixo para se sentir o maior dos trapaceiros. O fato dele ser um ardiloso jogador produz em si uma personalidade sem muitas nuances, mas não chega a ser um equívoco completo, visto que ele não é mal construído.

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    O clima noir moderno garante as histórias um notável charme e o contraste com a violência gráfica do lápis de Risso faz de 100 Bullets uma obra sem igual, e ainda no início do que seria uma trama maior e mais conspiratória.

  • Resenha | Antes de Watchmen: Rorschach

    Resenha | Antes de Watchmen: Rorschach

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    Apesar de toda a polêmica envolvendo Before Watchmen, principalmente devido à péssima recepção de Alan Moore ao projeto, a DC Comics escolheu algumas boas equipes criativas para ficar à frente dos títulos. O time responsável por Rorschach é Brian Azzarello e Lee Bermejo, que já haviam trabalhado juntos em Lex Luthor: Homem de Aço.

    Azzarello é conhecido por seus trabalhos na Vertigo, como 100 Balas, e na própria DC – em especial Superman Depois do Amanhã, junto a Jim Lee. Hoje está à frente da nova versão da Mulher Maravilha, numa das revistas mais elogiadas dos Novos 52. Seu currículo é o suficiente para acreditar num bom trabalho dele, e é justamente o que ele entrega, mesmo que seja sem muito alarde. A arte de Bermejo é muito diferente da de David Gibbons, pois não é nada clássica. Sua Nova Iorque é esfumaçada, suja e cheia de neon, um cenário perfeito para o vigilante marginal, que utiliza a escuridão a seu favor, mostrando uma violência gradativamente mais explícita com o passar das edições.

    O roteiro não comete nenhum equívoco em relação ao cânone de Moore e possui um discurso niilista ao extremo. Azzarello mantém Walter Kovacs distante do resto da humanidade, mas ainda assim ele se conecta com ela, ainda que de forma contemplativa e observadora sem a máscara, e intervencionista quando munido de sua verdadeira face.

    rorschach-before-antes-watchmen-bermejo

    Kovacs está definhando, cuspindo sangue, mas ainda assim nega auxílio. Já a sua contra-parte parece nem se abater e não tem receio algum em mergulhar os pés na lama das ruas – isso na verdade torna-se um combustível para que ele continue o vigilantismo. Em seu diário é possível notar o desprezo do anti-herói pelo sujeito conivente com a corrupção, com o crime e com a sujeira – semelhante ao que fala outro personagem de Alan Moore, vide V de Vingança. Rorschach é um personagem ultra violento e fascista dependendo do ângulo por que se olha, é até datado, mas ainda assim possui semelhantes, pessoas que pensam como ele e que consideram as suas atitudes como de “gente decente”.

    Talvez o maior problema da revista seja a falta de ambiguidade que cerca toda a obra de Moore/Gibbons. Os fatos narrados são mastigados e impedem que o leitor faça qualquer interpretação dúbia – uma das riquezas da série original. Há bastante violência gratuita, o que não é um erro, mas em última análise esta é uma história ordinária e comum, nada épica. Vale pela perseguição ao assassino no final – apesar de essa questão ser completamente secundária. Certamente seria mais bem aceita caso fosse uma história dos heróis da Charlton Comics Questão, que obviamente não possui o apelo popular de sua cópia.

  • Resenha | Coringa

    Resenha | Coringa

    Coringa - Brian Azzarello

    É possível medir a relevância de uma obra pelo seu impacto em outras mídias. O filme Cavaleiro das Trevas, dirigido por Christopher Nolan, é um bom exemplo disto. A visão de Nolan, sobre o universo de Batman nos cinemas, influenciou o mundo dos quadrinhos. Brian Azzarello e Lee Bermejo trouxeram elementos visuais e de desenvolvimento de personagens que foram claramente inspirados no universo do Morcego de Nolan até mesmo pela atuação de Ledger como Coringa.

    Nesta graphic novel, a história é contada sob a ótica de Johnny Frost, um bandido menor que acaba de entrar para o “bando” do Coringa. De alguma forma, que não é explicada muito bem (e que não interessa também), o Coringa consegue provar que está curado, e com isso consegue seu passe livre para fora do Arkham. Só que as coisas não saem como ele espera.

    Ao chegar em Gotham, Coringa encontra seus negócios tomados e divididos entre seus antigos asseclas, desta forma, decide se aliar a algumas figuras conhecidas do universo do morcego. É o caso de Croc, aqui retratado praticamente como um soldado, o músculo da célula chefiada pelo Coringa; já o Pinguim dá as caras de forma mais tímida e ainda assim acertada. Retratado como um mafioso, responsável pelo comando de uma grande fatia do crime organizado de Gotham, e neste contexto, Azzarello mostra o quão sem controle é a personagem do Coringa, já que mesmo para o Pinguim, uma figura importante no submundo da cidade, não há outra alternativa senão a de ajudar o Coringa sendo o cérebro da organização. Arlequina também participa do enredo. Apesar de ser uma participação menor, chega a ser poética a instabilidade que sua personagem contém, algo que para quem conhece sua origem é também outra forma de expressão do caos do próprio Coringa, e de sua influência nefasta, capaz de apodrecer os que se aproximam dele.

    O ponto forte é, sem dúvida, Johnny Frost. O narrador da história anseia por ser alguém, fica evidente a sua busca pelo respeito daqueles que nunca acreditavam nele, tudo isso através de uma via rápida. E eis que sua chance de ascensão se transfigura através do Coringa e por ele percebemos também que está traçada a sua rota para a queda. Você só não sabe bem quando. É uma sensação que remete ao clássico de Martin Scorsese, Os Bons Companheiros. Qualquer semelhança não pode ser mera coincidência, já que a temática “máfia” está muito presente nesta HQ.

    A narrativa de Azzarello é perfeita para a trama apresentada aqui. Pra quem é leitor de suas obras, fica evidente que o autor se sente muito mais a vontade escrevendo histórias “sujas”, com uma estética de tonalidades noir retratando o submundo, a podridão da cidade e uma visão cínica das pessoas, como em 100 Balas, Batman: Cidade Castigada, do que escrevendo algo mais heroico e idealizado como em Superman: Pelo Amanhã. Em Coringa, nem mesmo a presença do Batman é muito evidente, sendo mais uma presença a ser mencionada e percebida como um ser mítico da cidade, quase uma lenda. O desenrolar da história se desenvolve pouco a pouco, o que nos remete a um conto policial escuro e doentio.

    Outro ponto forte é o trabalho gráfico de Bermejo. O design das personagens, criadas pelo artista, é muito interessante. Sua arte mescla o estilo tradicional dos quadrinhos americanos com uma pintura mais realista, tudo isso sem perder o dinamismo, algo bastante comum nesse tipo de traço. A cidade nos remete a um filme noir, uma percepção de estética que deveria ter acontecido com a série noir da Marvel mas não aconteceu.

    E nesta mistura de Martin Scorsese, Dashiel HammettQuentin Tarantino e Nolan que Coringa nos apresenta o antagonista do morcego em sua versão mais doentia e insana. Uma obra que tem tudo pra se tornar um clássico das histórias em quadrinhos.

    Compre: Coringa.

  • Agenda Cultural 17 | Viagens Oníricas, Conceitos Morais e Muita Psicanálise

    Agenda Cultural 17 | Viagens Oníricas, Conceitos Morais e Muita Psicanálise

    Sincronizem suas Agendas. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Amilton Brandão (@amiltonsena), Carlos Voltor (@carlosvoltor) e Mario Abbade (@fanaticc) retornam (com o atraso habitual) para comentar sobre Moralismo e Vingança nos Quadrinhos, Viagens Oníricas no Cinema e na Música e uma viagem literária até a Europa durante a Guerra dos Cem Anos.

    Duração: 63 min.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira

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    Comentados na edição

    Quadrinhos

    100 Balas

    Literatura

    Série Os Reis Malditos – Maurice Druon

    Música

    Guilt Machine – On this Perfect Day

    Séries

    It’s Always Sunny in Philadelphia

    Cinema

    Quando me Apaixono
    O Estranho em Mim
    400 Contra 1
    Meu Malvado Favorito
    Crítica A Origem

    Produto da Semana

    Absorvente para Axilas

  • Resenha | Hellblazer: Congelado

    Resenha | Hellblazer: Congelado

    Hellblazer - Congelado

    Finalmente a Panini lança o seu primeiro encadernado com o matador de demônios mais motherfucker dos quadrinhos, John Constantine. Infelizmente, a editora optou por continuar a série de onde a Pixel parou, o que é muito bom para quem já acompanhava as revistas, mas ruim, para quem não teve a oportunidade de conhecer toda a trajetória de Constantine, como eu por exemplo, além do que, era uma ótima oportunidade para ter toda a coleção em edições de alta qualidade.

    John Constantine é um exorcista arrogante, detentor de poderes sobrenaturais. O personagem foi criado por Alan Moore, na época em que escrevia as histórias do Monstro do Pântano, e era um mero figurante, porém, como era de se esperar, logo se popularizou e ganhou uma revista só sua: Hellblazer.

    O arco lançado pela Panini, intitulado apenas como Congelado, reúne 7 edições da série mensal americana, do número 157 a 163, e antes que alguém ache difícil acompanhar uma revista com tantas edições já lançadas, vai por mim, não é difícil entender a história até agora, além do que, a revista conta com uma introdução dando um pequeno resumo de toda a jornada de Constantine até aqui, o que acaba facilitando os leitores que conhecem o básico do personagem, mas talvez não surta o mesmo efeito para aqueles que nunca leram nada sobre ele.

    O encadernado conta com quatro histórias, todas muito bem escritas, mesclando o extraordinário com o humor negro típico do personagem. Logo na primeira delas, temos uma sequência de diálogos sensacional, transcrito logo abaixo:

    -Então Betty estava no céu com São Pedro quando ouviu sons de brocas e gente gritando.
    -Continue.
    -Daí ela perguntou a São Pedro: “que barulho todo é esse?“. E ele respondeu que quando você chega ao céu eles têm que fazer furos nas suas costas para colocar as asas e um na cabeça para a auréola. Então ela disse: “prefiro ir pro inferno“. E São Pedro explicou que no inferno ela seria sodomizada por toda eternidade.
    -Bom, pra isso ela já tinha um buraco.

    A primeira história é curta, com alguns poucos diálogos, quase um prequel do que está por vir. A segunda história, que dá título ao encadernado, na minha opnião é a melhor de todas, com uma trama repleta de suspense e mistério, que se passa toda dentro de um bar nos EUA.

    Após uma de suas andanças pelo território americano, John Constantine se depara com um bar, onde os clientes daquele se vêem ser ter para onder ir, devido a uma forte nevasca que tem feito na região, impossibilitando-os de se locomover, e para ajudar, um assassinato é descoberto em frente ao local e todos acreditam que o responsável está ligado a uma lenda antiga da região. Na outra história, conhecemos um pouco do passado de Constantine na Inglaterra, quando ele era apenas um jovem. Essa é uma boa história para entender um pouco da construção do personagem, recomendado principalmente para novatos nos círculos de magia do nosso bruxo.

    O roteiro é todo escrito por Brian Azzarelo, o que já é motivo de divergências para muitos, principalmente na sua fase em que cuidou do personagem. Particularmente, gosto bastante dos trabalhos de Azzarello, seu desenvolvimento narrativo não deixa a ‘peteca’ cair em nenhum momento. Os desenhos ficam por conta de Steve Dillon, Marcelo Frusin e Guy Davis, todos casam muito bem com o estilo tempestivo de Azzarello e tem o traço peculiar de suas histórias.

    A Panini tem feito um ótimo trabalho ao relançar esses trabalhos, principalmente para aqueles que desistiram de comprar edições simples e primam por uma qualidade maior. Só nos resta torcer para que ela se acerte com a periodicidade desses encadernados.

  • Resenha | Loveless: Terra Sem Lei – De Volta Para Casa

    Resenha | Loveless: Terra Sem Lei – De Volta Para Casa

    Loveless - Terra Sem Lei

    Meu conhecimento em histórias de western em Quadrinhos sempre se limitou a personagens que com certeza, cada um de nós já se deparou na vida, ainda que seja apenas pelas capas de seus quadrinhos. Um bom exemplo disso são os personagens Tex e Zagor. HQs que já estão consolidadas no mercado há muito tempo, porém, nunca tinha me deparado com nenhum material americano do gênero, pois apesar do Western ser tipicamente norte-americano, um dos países que mais exporta esse tipo de mídia é a Itália, causa essa que que com certeza foi motivada pelos western spaghetti , que tanto fez parte do cinema italiano. Após essa breve explicação, vamos ao que interessa. Tive conhecimento do lançamento de Loveless e sem pensar duas vezes comprei a maldita revista.

    Loveless foi escrita por Brian Azzarello, autor já renomado pelo seu trabalho em Batman: Cidade Castigada, a sensacional série 100 Balas, seu trabalho em Hellblazer, entre tantos outros. Seu parceiro e responsável pela arte é Marcelo Frusin que faz um trabalho impecável, diversos quadros remetem a cenas de grandes western’s eternizados por Sergio Leone, um grande diretor italiano que ficou conhecido mundialmente pelos clássicos Era uma Vez no Oeste e a Trilogia dos Dólares, estrelada por Clint Eastwood.

    Publicada em 2005 nos EUA através do selo Vertigo, a série durou 24 edições e chega ao Brasil em 2010, publicada pela Panini. Apesar de não ter sido bem recebida lá fora, Loveless tem potencial de sobra. A dupla de artistas estão muito a vontade e já em seu primeiro arco, mostra à que veio.

    Azzarelo molda sua história logo após o término da Guerra Civil americana e retrata todo o cenário social da época, inclusive ao mostrar a eterna rixa entre os sulistas (confederados) e nortistas (União). É interessante entender os motivos pelo qual a tão falada Guerra da Recessão foi travada, e Azzarelo se mostra competente em colocar os controversos pontos de vista de ambos os lados.

    A história tem como protagonista Wes Cutter, um ex-soldado dos Estados Confederados que após o fim da guerra retorna a sua terra natal, mas se depara com suas terras tomadas pela União. Cutter passa a agir como julga o correto, tentando tirar o melhor para si, tudo isso ao lado de sua mulher Ruth, que até então todos acham que está desaparecida e Cutter usa isso como um trunfo.

    O arco inicial nos apresentam os principais personagens, um pouco de seus passados através de flashbacks e um pouco da história dos EUA e as diferenças culturais de cada lado. As motivações dos protagonistas estão sendo trabalhadas e vamos conhecendo suas histórias gradativamente.

    Uma HQ recomendadíssima para quem ainda não conhece o trabalho de Azzarello ou mesmo nunca se sentiu atraído por ler nada do gênero. Essa é a sua chance.

  • Agenda Cultural 02 | Loucas na Gaiola, Duelo de Aliens e um Coelho Branco no Fim do Mundo

    Agenda Cultural 02 | Loucas na Gaiola, Duelo de Aliens e um Coelho Branco no Fim do Mundo

    We’re back! Segunda edição da Agenda Cultural com Flávio Vieira (@flaviopvieira), Amilton Brandão (@amiltonsena) e Mario Abbade (@fanaticc), se reúnem para comentar tudo o que está rolando no circuito cultural dessa semana, com as principais dicas em cinema, teatro, quadrinhos e cenário musical. Não perca tempo e ouça agora o seu guia da semana.

    Duração: 44 min.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira

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    Crysis 2

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    Ratt – Infestation

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    Teatro

    Gaiola das Loucas

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    Crítica Utopia e Barbárie
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    Crítica Alice no País das Maravilhas

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