Apesar de toda a polêmica envolvendo Before Watchmen, principalmente devido à péssima recepção de Alan Moore ao projeto, a DC Comics escolheu algumas boas equipes criativas para ficar à frente dos títulos. O time responsável por Rorschach é Brian Azzarello e Lee Bermejo, que já haviam trabalhado juntos em Lex Luthor: Homem de Aço.
Azzarello é conhecido por seus trabalhos na Vertigo, como 100 Balas, e na própria DC – em especial Superman Depois do Amanhã, junto a Jim Lee. Hoje está à frente da nova versão da Mulher Maravilha, numa das revistas mais elogiadas dos Novos 52. Seu currículo é o suficiente para acreditar num bom trabalho dele, e é justamente o que ele entrega, mesmo que seja sem muito alarde. A arte de Bermejo é muito diferente da de David Gibbons, pois não é nada clássica. Sua Nova Iorque é esfumaçada, suja e cheia de neon, um cenário perfeito para o vigilante marginal, que utiliza a escuridão a seu favor, mostrando uma violência gradativamente mais explícita com o passar das edições.
O roteiro não comete nenhum equívoco em relação ao cânone de Moore e possui um discurso niilista ao extremo. Azzarello mantém Walter Kovacs distante do resto da humanidade, mas ainda assim ele se conecta com ela, ainda que de forma contemplativa e observadora sem a máscara, e intervencionista quando munido de sua verdadeira face.
Kovacs está definhando, cuspindo sangue, mas ainda assim nega auxílio. Já a sua contra-parte parece nem se abater e não tem receio algum em mergulhar os pés na lama das ruas – isso na verdade torna-se um combustível para que ele continue o vigilantismo. Em seu diário é possível notar o desprezo do anti-herói pelo sujeito conivente com a corrupção, com o crime e com a sujeira – semelhante ao que fala outro personagem de Alan Moore, vide V de Vingança. Rorschach é um personagem ultra violento e fascista dependendo do ângulo por que se olha, é até datado, mas ainda assim possui semelhantes, pessoas que pensam como ele e que consideram as suas atitudes como de “gente decente”.
Talvez o maior problema da revista seja a falta de ambiguidade que cerca toda a obra de Moore/Gibbons. Os fatos narrados são mastigados e impedem que o leitor faça qualquer interpretação dúbia – uma das riquezas da série original. Há bastante violência gratuita, o que não é um erro, mas em última análise esta é uma história ordinária e comum, nada épica. Vale pela perseguição ao assassino no final – apesar de essa questão ser completamente secundária. Certamente seria mais bem aceita caso fosse uma história dos heróis da Charlton Comics Questão, que obviamente não possui o apelo popular de sua cópia.
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