Tag: lee bermejo

  • VortCast 104 | Diários de Quarentena XXII

    VortCast 104 | Diários de Quarentena XXII

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira | @flaviopvieira), Jackson Good (@jacksgood), Bruno Gaspar (@hecatesgaspar | @hecatesgaspar) e Nicholas “Aoshi” Prade (@nicprade) retornam para mais uma edição do “Diários de Quarentena” e se reúnem para comentar sobre Round 6, God of War, Mark Millar e muito mais.

    Duração: 95 min.
    Edição: Flávio Vieira e Rafael Moreira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira e Rafael Moreira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

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  • Resenha | Star Wars: Han Solo

    Resenha | Star Wars: Han Solo

    Minissérie em cinco edições, Star Wars – Han Solo, tal qual Star Wars da Marvel e a primeira versão canônica da revista de Darth Vader se passa entre as aventuras dos filmes Uma Nova Esperança e O Império Contra Ataca. A capa da primeira edição é feita por Lee Bermejo e o roteiro Marjorie Liu, que já fez algumas historias dos X-Men, da X-23 e a série de livros Hunter Kiss, além de contar com a arte de Mark Brooks, conhecido por seu trabalho em Cable e Deadpool.

    A história mostra Han negando sua vocação rebelde, se esgueirando na questão de contrabandista, fato que conversa bem com seu destino em O Despertar da Força, mostrando que essa é uma questão cíclica em sua vida. Aqui, Han e Chewbacca são chamados por parte da liderança dos rebeldes, incluindo um militar e a Princesa Leia. A autoridade do exército não o quer fazendo a missão secreta para os rebeldes, já a nobre de Alderaan quer que ele vá e depois de muito deliberar ele aceita. O estranho nessa história é que ela se passa muito próxima da revista Star Wars, da Marvel, e faz contradizer de certa forma alguns desses dramas e dessas tramas.

    A missão consiste em sua participação em uma corrida, fato que poria à prova suas capacidades como exímio piloto que sempre se declarou. Esses elementos conversam bastante com quase todos os produtos do universo expandido, onde conhecemos Solo agindo em alguns de seus papéis como contrabandista, embora aqui ele esteja seja como um espião disfarçado. Apesar do anti-herói estar acompanhado de Chewie, o wookie quase não aparece, aliás, na chamada competição O Vácuo do Dragão mostra mais elementos de A Ameaça Fantasma do que de outros episódios, em atenção à corrida de pods que Anakin ainda criança venceu, sobre Sepulba, que aliás, tem um personagem de sua raça aparecendo aqui.

    É no mínimo estranho que, logo na história que chama apenas Star Wars – Han Solo seja tão genérica e episódica a trama deste especial em cinco partes. A história é tão usual que faria mais sentido ser parte da revista mensal da saga, e não de um arco que foi lançado exatamente após o anúncio da morte do personagem nos cinemas. Mesmo os ganchos existentes soam oportunistas, não tem grande impacto sequer na edição posterior da revista. Além dessa falta de impacto, também pesa contra o especial o fato de que qualquer caçador de recompensas poderia ser a figura central da história de Liu.

    Os balões de diálogo frisam que essa é uma emocionante e inesperada corrida em mil anos, e isso não se traduz realmente em algo palpável, ao contrário, para quem lê é mais esperado os eventos entre as ultrapassagens e não a competitividade ligada a velocidade e astúcia dos pilotos. Quase tudo que envolve essa pequena publicação é bastante genérica, e serve quase que só para no final mostrar uma aproximação afetiva de Leia e Solo que está sendo negada por ambos, e isso é muito pouco, até porque há pouca demonstração dos dois no mesmo quadro, sendo assim, o quadrinho, infelizmente, não foge muito do ordinário ou do medíocre, sendo fraca até em comparação com outras revistas de Star Wars do cânone recente.

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  • Resenha | Batman: Noel

    Resenha | Batman: Noel

    batman noel

    Destaque como uma narrativa universal situada na época natalina, Um Conto de Natal de Charles Dickens é uma dessas obras atemporais cujo alcance do público se tornou forte o para ser relembrada e recontada em outras mídias. O cinema, para citarmos somente uma das artes, já reverenciou a obra em clássicas adaptações e versões contemporâneas, sempre mantendo a mensagem-símbolo da narrativa.

    Leitor de Dickens, Lee Bermejo presta uma homenagem explícita ao autor em Batman – Noel, ao inserir o conto do autor dentro de uma história de Batman, representado como Scrooge, como um homem sovina que recebe na noite de Natal três espíritos..  A história foi lançada pela Panini Comics em edição especial de capa dura de acessível preço que, provavelmente, atrairá muitos leitores devido à arte de Bermejo e ao custo-benefício de uma leitura com história fechada.

    Com uma arte primorosa que se destaca desde a primeira página, o roteirista escolhe um narrador onisciente que dialoga com seu leitor, invocando a mesma intenção de Dickens em sua obra. Simultaneamente à narrativa, acompanhamos o Homem-Morcego em uma captura de um homem pertencente à gangue do Coringa, vilão que acaba de fugir do Arkham. Devido ao frio de Gotham, o herói pega um resfriado e, combalido, recebe a visita de três personagens. A Mulher-Gato representando o passado, o amigo Superman representando o presente e Coringa como o futuro. São estes três personagem que durante sua visita levaram o Morcego a uma jornada dentro de si e de seus medos.

    A concepção do roteiro erra ao tentar se aproximar da narrativa original, correlacionando o velho Scrooge, do original, a Bruce Wayne. Mesmo que a personagem seja sombria e pouco transpareça suas emoções, é incoerente a descrição feita pela trama de Wayne como um homem sovina que ignora os festejos, paga mal funcionários e parece não reconhecer sua própria condição solitária. Uma descrição que nunca serviu à personagem, afinal, a moral e a luta a favor do bem em detrimento a sua jornada pessoal são a base da composição da personagem.

    Não houve preocupação em criar uma história que utilizasse a mesma base sem parecer uma mera releitura superficial. Ao tentar colocar Um Conto de Natal no universo do morcego, Bermejo encaixou forçadamente personagens de ambos os universos, entregando um produto sem uma visão original além de incoerente, modificando conceitos-chave da personagem somente para que ela se encaixasse na história original.

    Se o roteiro falha, a arte é grande sustentação que fornece o ambiente para a narrativa fraca. Como uma tela pintada que se destaca pelas cores em tons pasteis de Barbara Ciardo, a atmosfera de Gotham ganha uma poética urbana entre sua sujeira e corrupção. A escolha dos uniformes corrobora uma visão realista com cores sóbrias e uma roupa que se destaca por parecer mais próxima de um uniforme militar, com direito a coturno e outros acessórios demonstrando preparo para além da mera capa assustadora. Um retrato do Morcego que desmitifica uma figura noturna para dar vazão a um Batman tão urbano quanto a cidade que o criou.

    Como desenhista, Bermejo trabalha como ninguém a composição das cenas, dando-lhes um diferencial em perspectiva e composição dos quadros, porém, ao se apoiar demais na obra de Dickens, não alcançou a metáfora da obra original, nem mesmo fez uma homenagem competente a uma história clássica devido à falta de equilíbrio entre o conto original e a mitologia existente do Homem-Morcego.

    O resultado está distante da obra-prima mencionada pela capa e pelos elogios de Jim Lee, que assina o prefácio da edição. Uma história que se sustenta apenas pelo talento visual. Desequilibrado por um argumento mal costurado, mesmo que inspirado por um clássico.

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  • Crítica | Superman vs Elite

    Crítica | Superman vs Elite

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    Resgatando a história com o herói clássico ao lado da nova geração de personagens massa véio, cuja ideologia é ligada a uma escusa a moralidade e aos não-costumes. Após uma pequena introdução, que louva os poderes de seu protagonista, até a entrada dos créditos, com imagens da animação dos irmãos Fleischer até momentos do seriado capitaneado por Bruce Timm. O intuito era remeter à historiografia em desenho do Super-Homem.

    Após assistir a si mesmo em um cartoon, Clark discute com sua cônjuge os rumos que toda aquela publicidade daria a sua figura. Uma breve batalha contra o Caveira Atômica faz o kryptoniano ter de lutar, mas ele o poupa, não o executando, mesmo com a morte de muitos e com milhões de danos à propriedade pública.

    Em um outro lado da cidade, Manchester Black e seus asseclas chegam. O traço caricato destoa da seriedade do restante da fita, especialmente com as discussões a respeito do poderio do Superman e de sua responsabilidade com a humanidade. O norte do alienígena é de pouco (ou nada) interferir, de não bancar o júri e o juiz, de não se valer de suas habilidades para ser superior àqueles que são “comuns”. A opinião não é compartilhada pela Elite, cujo modus operandi é muito mais intervencionista. Superman assiste ao grupo lutando com um monstro-inseto, mas não a tempo de conseguir conversar com o líder do quarteto.

    Black transparece uma honesta admiração pela figura do Azulão, apesar de apresentar traços de uma intensa arrogância. Manchester traja uma blusa com a bandeira da Grã-Bretanha, em uma versão debochada do uniforme do paladino, que também usa as cores de sua nação em seu corpo.

    Superman impede Black de lobotomizar dois terroristas, e se surpreende ao contar o fato a Lois Lane, que o indaga sobre a necessidade de poupar os bandidos, uma vez que os mesmos poderiam repetir o feito. A reflexão inclui os métodos que o herói usa, assim como a ética e moral, enquanto a popularidade da recém intitulada ELITE somente cresce junto à opinião pública geral.

    Há uma discussão bastante rasa a respeito do modo como os Estados Unidos tratam seus inimigos, de modo agressivo e intrusivo. De acordo com o pânico, parece ser natural achar que a segurança está no modo agressivo de lidar com os opositores hostis. A apelação para a execução dos bandidos é vazia, de argumentação fraca, baseada num sentimentalismo barato e muito forçado. O “novo tipo de herói” ganha cada vez apelo, e a alcunha de fracassado/ultrapassado pesando sobre os ombros do herdeiro de Krypton.

    O fascismo do anti-herói britânico é causado por narcisismo não resolvido, em que o passado inclui até a execução de seu pai, ao seu bel-prazer, sem motivo algum além da vontade de seu primogênito. As ações da ELITE pioram ao exterminarem os líderes de dois países em guerra, e, por discordância, Superman acaba escolhendo um desafio.

    Apesar do bom-mocismo e das cenas de atitude correta, o discurso do Super exala pieguismo, sem qualquer embate ideológico presente na história original. O que se vê é uma versão suavizada e pasteurizada do texto original, que pouco valida as escolhas do Superman. Munido de uma postura semelhante a de seu adversário, o herói torna-se um tornado azul, fazendo a justiça bem ao modo comum dos estadunidenses, cruzando a linha entre o mentiroso American Way of Life, agindo com a mesma truculência do governo dos EUA. Mas o revide era apenas um truque, neste momento, semelhante ao mostrado na revista. Algo parece ter se perdido na adaptação dos roteiros. O tom demasiado infantil enfraqueceu o plot principal, deixando o longa aquém da tradição da DC Comics em realizar bons filmes animados. A companhia dá cada vez mais mostras de orfandade nos seus cargos sem Bruce W. Timm e sua equipe, que conseguiam equilibrar escapismo e mensagens edificantes.

  • Resenha | Antes de Watchmen: Rorschach

    Resenha | Antes de Watchmen: Rorschach

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    Apesar de toda a polêmica envolvendo Before Watchmen, principalmente devido à péssima recepção de Alan Moore ao projeto, a DC Comics escolheu algumas boas equipes criativas para ficar à frente dos títulos. O time responsável por Rorschach é Brian Azzarello e Lee Bermejo, que já haviam trabalhado juntos em Lex Luthor: Homem de Aço.

    Azzarello é conhecido por seus trabalhos na Vertigo, como 100 Balas, e na própria DC – em especial Superman Depois do Amanhã, junto a Jim Lee. Hoje está à frente da nova versão da Mulher Maravilha, numa das revistas mais elogiadas dos Novos 52. Seu currículo é o suficiente para acreditar num bom trabalho dele, e é justamente o que ele entrega, mesmo que seja sem muito alarde. A arte de Bermejo é muito diferente da de David Gibbons, pois não é nada clássica. Sua Nova Iorque é esfumaçada, suja e cheia de neon, um cenário perfeito para o vigilante marginal, que utiliza a escuridão a seu favor, mostrando uma violência gradativamente mais explícita com o passar das edições.

    O roteiro não comete nenhum equívoco em relação ao cânone de Moore e possui um discurso niilista ao extremo. Azzarello mantém Walter Kovacs distante do resto da humanidade, mas ainda assim ele se conecta com ela, ainda que de forma contemplativa e observadora sem a máscara, e intervencionista quando munido de sua verdadeira face.

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    Kovacs está definhando, cuspindo sangue, mas ainda assim nega auxílio. Já a sua contra-parte parece nem se abater e não tem receio algum em mergulhar os pés na lama das ruas – isso na verdade torna-se um combustível para que ele continue o vigilantismo. Em seu diário é possível notar o desprezo do anti-herói pelo sujeito conivente com a corrupção, com o crime e com a sujeira – semelhante ao que fala outro personagem de Alan Moore, vide V de Vingança. Rorschach é um personagem ultra violento e fascista dependendo do ângulo por que se olha, é até datado, mas ainda assim possui semelhantes, pessoas que pensam como ele e que consideram as suas atitudes como de “gente decente”.

    Talvez o maior problema da revista seja a falta de ambiguidade que cerca toda a obra de Moore/Gibbons. Os fatos narrados são mastigados e impedem que o leitor faça qualquer interpretação dúbia – uma das riquezas da série original. Há bastante violência gratuita, o que não é um erro, mas em última análise esta é uma história ordinária e comum, nada épica. Vale pela perseguição ao assassino no final – apesar de essa questão ser completamente secundária. Certamente seria mais bem aceita caso fosse uma história dos heróis da Charlton Comics Questão, que obviamente não possui o apelo popular de sua cópia.

  • Resenha | Lex Luthor: Homem de Aço

    Resenha | Lex Luthor: Homem de Aço

    lee-bermejo-lex-luthor-1Lançado em 2004, em formato de mini-série, Lex Luthor: Homem de Aço mostra a situação de Metropolis sobre os olhos do magnata careca. A arte de Lee Bermejo é bastante peculiar, aliada às cores de Dave Stewart, que por sua vez dão um tom de pintura às páginas. Os personagens tem seus rostos marcados – até os bebês tem rugas – e a face do kriptoniano é feita de forma escura, demonstrando graficamente o quanto ele é “ruim” aos olhos do seu inimigo.

    A intenção de Bryan Azzarello é legitimar os argumentos de Lex contra o Escoteiro, tentando mostrar que nem todas as suas convicções são baseadas na paranoia. O “vilão” olha para ele como um obstáculo ao homem comum, enxerga suas ações como freio a capacidade humana. Luthor é um personagem pouco maniqueísta e que não se prende a valores morais baratos, seus crimes são validados com o velho argumento de que os fins justificam os meios.

    Ventila-se a possibilidade de que o roteiro de David Goyer em Man of Steel 2 seja influenciado por esta HQ, em especial o conluio entre ele e Bruce Wayne, onde o foco seria na cobrança as consequências dos atos do último filho de Krypton. O fato pode ser emulado e encaixaria bem no roteiro se a sutileza e a reticência do vigilante de Gotham for reproduzida como em sua essência, mas qualquer coisa além disso é pura especulação.

    O hostil milionário põe em seu discurso inúmeras referências aos grandes feitos do homem, validando a ação do sujeito sem poderes em detrimento dos feitos super-heroicos. Ele fala tudo isso para logo depois apresentar Hope, um protótipo feminino quase onipotente, que viria para preencher o ideal do ser humano com habilidades perto do Divino, mas idealizado por alguém de “dentro”. Curioso como ele se isola e se torna cínico, mesmo para atributos tão quentes aos olhos humanos como a sedução e o desejo carnal, a não ser quando tais tentações partem do objeto feito por seu próprio imaginário.

    Hope é de Metropolis, nascida e criada e só tem olhos para a cidade. Ganha notoriedade e fama instantaneamente, o que incomoda o jornalista Clark Kent, e o leva a fazer duras críticas a sua conduta. Seu código ético é inspirado no de Lex Luthor, e sua punição ao mal feitor que assassinou dezenas de policiais de forma impensada – um demente Homem dos Brinquedos – é prova disso, pois ela o larga esperando seu fim derradeiro e o vilão é salvo pelo Alienígena de capa. No fim das contas, Hope é fantasticamente intangível, e por isso irreal, é como uma máquina que põe para fora os desejos e forma de pensar de Lex, mas que ainda assim é mecânica, e distante da realidade e pensamento humano, assim como o kryptoniano que o protagonista tanto odeia.

    A fala final de Lex escancara em forma de desabafo – mas sem perder a classe – tudo o que o seu Nêmesis representa para ele e para a humanidade, claro, sob sua ótica distorcida. O homem comum assume que sozinho é impotente diante de tal poder, mas se apega a esperança de que com seus semelhantes ele conseguirá a vitória. A esperança é algo impresso no caráter do Homem, e enquanto ele viver, ela viverá também. Azzarello consegue resgatar grande parte da grandiosidade do personagem mesmo sem ignorar suas facetas pouco fáceis de lidar, como a do cientista louco, ao contrário, o autor dá um novo sentido para isso, tornando-o crível e até empático.

  • Resenha | Coringa

    Resenha | Coringa

    Coringa - Brian Azzarello

    É possível medir a relevância de uma obra pelo seu impacto em outras mídias. O filme Cavaleiro das Trevas, dirigido por Christopher Nolan, é um bom exemplo disto. A visão de Nolan, sobre o universo de Batman nos cinemas, influenciou o mundo dos quadrinhos. Brian Azzarello e Lee Bermejo trouxeram elementos visuais e de desenvolvimento de personagens que foram claramente inspirados no universo do Morcego de Nolan até mesmo pela atuação de Ledger como Coringa.

    Nesta graphic novel, a história é contada sob a ótica de Johnny Frost, um bandido menor que acaba de entrar para o “bando” do Coringa. De alguma forma, que não é explicada muito bem (e que não interessa também), o Coringa consegue provar que está curado, e com isso consegue seu passe livre para fora do Arkham. Só que as coisas não saem como ele espera.

    Ao chegar em Gotham, Coringa encontra seus negócios tomados e divididos entre seus antigos asseclas, desta forma, decide se aliar a algumas figuras conhecidas do universo do morcego. É o caso de Croc, aqui retratado praticamente como um soldado, o músculo da célula chefiada pelo Coringa; já o Pinguim dá as caras de forma mais tímida e ainda assim acertada. Retratado como um mafioso, responsável pelo comando de uma grande fatia do crime organizado de Gotham, e neste contexto, Azzarello mostra o quão sem controle é a personagem do Coringa, já que mesmo para o Pinguim, uma figura importante no submundo da cidade, não há outra alternativa senão a de ajudar o Coringa sendo o cérebro da organização. Arlequina também participa do enredo. Apesar de ser uma participação menor, chega a ser poética a instabilidade que sua personagem contém, algo que para quem conhece sua origem é também outra forma de expressão do caos do próprio Coringa, e de sua influência nefasta, capaz de apodrecer os que se aproximam dele.

    O ponto forte é, sem dúvida, Johnny Frost. O narrador da história anseia por ser alguém, fica evidente a sua busca pelo respeito daqueles que nunca acreditavam nele, tudo isso através de uma via rápida. E eis que sua chance de ascensão se transfigura através do Coringa e por ele percebemos também que está traçada a sua rota para a queda. Você só não sabe bem quando. É uma sensação que remete ao clássico de Martin Scorsese, Os Bons Companheiros. Qualquer semelhança não pode ser mera coincidência, já que a temática “máfia” está muito presente nesta HQ.

    A narrativa de Azzarello é perfeita para a trama apresentada aqui. Pra quem é leitor de suas obras, fica evidente que o autor se sente muito mais a vontade escrevendo histórias “sujas”, com uma estética de tonalidades noir retratando o submundo, a podridão da cidade e uma visão cínica das pessoas, como em 100 Balas, Batman: Cidade Castigada, do que escrevendo algo mais heroico e idealizado como em Superman: Pelo Amanhã. Em Coringa, nem mesmo a presença do Batman é muito evidente, sendo mais uma presença a ser mencionada e percebida como um ser mítico da cidade, quase uma lenda. O desenrolar da história se desenvolve pouco a pouco, o que nos remete a um conto policial escuro e doentio.

    Outro ponto forte é o trabalho gráfico de Bermejo. O design das personagens, criadas pelo artista, é muito interessante. Sua arte mescla o estilo tradicional dos quadrinhos americanos com uma pintura mais realista, tudo isso sem perder o dinamismo, algo bastante comum nesse tipo de traço. A cidade nos remete a um filme noir, uma percepção de estética que deveria ter acontecido com a série noir da Marvel mas não aconteceu.

    E nesta mistura de Martin Scorsese, Dashiel HammettQuentin Tarantino e Nolan que Coringa nos apresenta o antagonista do morcego em sua versão mais doentia e insana. Uma obra que tem tudo pra se tornar um clássico das histórias em quadrinhos.

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