Bem-vindos a bordo. Filipe Pereira (@filipepereiral | @filipepereirareal), Bruno Gaspar (@hecatesgaspar | @hecatesgaspar), Jackson Good e Nicholas “Aoshi” Prade se reúnem para comentar sobre as principais adaptações de games para o universo do cinema.
Duração: 141 min.
Edição: Flávio Vieira Trilha Sonora: Flávio Vieira
Arte do Banner: Bruno Gaspar
Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira | @flaviopvieira), Jackson Good (@jacksgood) e Bruno Gaspar (@hecatesgaspar | @hecatesgaspar) retornam para se despedir do ano (e do formato Diários de Quarentena) nesta edição onde comentamos sobre quadrinhos nacionais, filmes da Marvel e muito mais.
Duração: 118 min. Edição: Flávio Vieira e Rafael Moreira Trilha Sonora: Flávio Vieira e Rafael Moreira
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Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira | @flaviopvieira), Jackson Good (@jacksgood), Bruno Gaspar (@hecatesgaspar | @hecatesgaspar) e Nicholas “Aoshi” Prade (@nicprade) retornam para mais uma edição do “Diários de Quarentena” e se reúnem para comentar sobre Round 6, God of War, Mark Millar e muito mais.
Duração: 95 min. Edição: Flávio Vieira e Rafael Moreira Trilha Sonora: Flávio Vieira e Rafael Moreira
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Estamos vivendo uma onda de remakes e retomadas de franquias clássicas. Dentre os anúncios mais bombásticos dos últimos anos, Resident Evil 2 talvez tenha sido um dos mais relevantes, afinal o famoso survival horror da Capcom é um dos mais queridos dos fãs da franquia. Lançado para Xbox One, Playstation 4 e PC, aqui temos um legítimo remake, que pegou a assência do original e deu uma roupagem nova, tanto visual quanto de jogabilidade.
Interessante notar que a franquia Resident Evil, em seus primeiros três jogos, popularizaram o gênero survival horror, que havia recebido sua estrutura pelo também clássico Alone in the Dark. O discípulo superou o mestre, e muito, pois Alone in the Dark envelheceu bem pior que a franquia da Capcom. A partir de Resident Evil 4, a jogabilidade mudou completamente, com a famosa “câmera sobre os ombros”, e novamente, não foi o pioneiro, mas tornou-se uma das principais referências.
O estilo seguiu em Resident Evil 5 e 6, mas teve uma quebra no 7, que optou pela visão em primeira pessoa. Ao anunciarem o remake do 2, surgiram algumas dúvidas: qual estilo de jogabilidade a Capcom fará? Opções não faltam. De uma forma acertada, optaram pelo estilo do 4, que é mais “moderna” e certamente mantém um pouco mais da essência do original do que fazer em primeira pessoa. E convenhamos, aquele estilo de câmera fixa dos primeiros jogos trazem algumas limitações.
Não espere uma reprodução fiel dos cenários e puzzles. Temos o caminhão no início? Sim. A delegacia? Sim. Peças de xadrez? Sim! Só que a maioria das coisas mudaram. O jogo é diferente, até mesmo na história. Portanto, se você terminava o original de olhos fechados, saiba que isso não lhe ajudará aqui.
É óbvio que haveria um apelo à nostalgia. Ao chegar na delegacia, por exemplo, ela é muito parecida com a versão do Playstation, dando um ar de familiaridade, apesar de diferente. E ver estes cenários familiares com os gráficos da nova geração é muito gratificante. Aliás, este novo motor gráfico da Capcom é muito bom, proporcionando bons gráficos e performance satisfatória (versão de PC está bem otimizada).
Os inimigos também estão muito legais. Destaque para os Lickers, aquelas malditas criaturas que andam feito aranha e têm o cérebro exposto. Os detalhes desses monstros são dignos de nota, exaltando o grotesco peculiar da franquia. Estes seres são cegos, o que traz uma dinâmica interessante ao encontrá-los: mova-se sem fazer barulho, e talvez eles não percebam sua presença.
Neste ponto, o jogo é muito bom. O clima de tensão de Resident Evil 7 foi trazido para este remake, tornando o jogo bem diferente do original. Porém, a falta de agilidade dos protagonistas atrapalham em alguns momentos. Um ataque físico mais eficiente faz falta, como os chutes em Resident Evil 4, pois o jogo acaba de obrigando a matar zumbis em momentos que seria bem melhor apenas fugir. Torna-se irritante quando tentamos passar ao lado do zumbi com a intenção de fugir e ele dá um bote que te pega a longas distâncias. Além do que, alguns zumbis comuns demoram pra morrer, mesmo atirando na cabeça. Haja munição. As limitações de movimentação e escassez de munições são elementos básicos de um survival horror. OK, ponto pacífico. Isso não impede, porém, de haver mecanismos que possibilitem a fuga.
É necessário passar pelos mesmos locais diversas vezes, e neste meio tempo, novos zumbis aparecem. Eles adentram a delegacia pelas janelas, sendo necessário lacrá-las com ripas de madeira. Outros locais não têm esse problema, mas ficamos um bom tempo na delegacia, então se prepare.
Um dos elementos de maior tensão é quanto um velho conhecido inimigo lhe persegue em diversas situações. Por vezes os momentos são os piores possíveis, atrapalhando a resolução de algum puzzle e, somando-se aos inimigos comuns espalhados, sua jogatina se tornará um inferno. Agora, justiça seja feita, houve um cuidado de game design absurdo aqui. Tinha tudo pra dar algum bug ou ser bem desbalanceado, mas no final das contas, apesar de eventualmente frustrante, funciona. E meus amigos, que trabalho de som! Os passos do monstro ecoam em distâncias e profundidades diferentes, dando uma sensação assustadora de perseguição no melhor estilo dos filmes slashers. Use bons fones de ouvido nestas partes, a experiência é sensacional.
A Capcom acertou neste remake, que agarrará os fãs pela nostalgia e atrairão novos jogadores por terem modernizado a jogabilidade e implementado elementos de terror e violência mais gráfica. Existe uma boa quantidade de conteúdo que remete ao original: duas opções de protagonistas, dois caminhos diferentes, personagens extras… divirta-se!
A franquia Resident Evil nunca teve medo de se reinventar, gostemos ou não. Ao mesmo tempo que não fazia algo totalmente inovador, acabou criando novos paradigmas dentro da indústria. Os três primeiros capítulos da série principal são fortemente inspirados em Alone in the Dark, porém acabou se tornando referência e deixando sua fonte inspiradora pouco conhecida pelo grande público. A partir do 4, apostou numa jogabilidade mais voltada à ação, que se estendeu ao 5 e 6. Neste sétimo jogo da franquia principal, a Capcom, nitidamente, se inspirou em jogos de terror recentes, tais como Outlast,Amnesia e Alien Isolation. E mesmo assim conseguiu manter a essência da franquia. Ou não?
A grande mudança está na perspectiva de visão, agora em primeira pessoa. Porém, esta não foi a primeira tentativa. No Playstation 1 tivemos o péssimo Gun Survival, além de jogos de “tiro sobre trilhos” em outras plataformas. O que podemos dizer é que Resident Evil 7 achou o tom certo e conseguiu aplicar boas ideias nesta perspectiva de primeira pessoa.
O jogo conta a história de Ethan, que certo dia recebe um e-mail de Mia, sua esposa desaparecida. O e-mail pede para que Ethan a encontre em determinado local no interior da Louisiana.
A trama se passa em uma casa isolada onde Ethan terá o desprazer em conhecer a família Baker, que parece ter saído do Massacre da Serra Elétrica – Parte 2. Ethan precisará lutar por sua vida e utilizar recursos bem limitados para isso. Neste ponto, Resident Evil 7 talvez seja o capítulo mais survival horror da franquia. Seu personagem é lento, a munição é escassa e a todo momento nos sentimos acuados, indefesos, numa atmosfera desesperadora. O fato de a visão ser em primeira pessoa impossibilita visualizar o inimigo quando estamos correndo dele. Isso causa ainda mais terror.
A ambientação contribui muito para gerar esse clima. Os cenários são muito bem construídos, o som ambiente muito bem colocado. A trilha sonora é pontual, gerando aquele sentimento de solidão. Tal como em Dark Souls, o barulho de seus passos será a trilha sonora principal. Tudo isso traz ainda mais imersão por causa da visão em primeira pessoa.
Todo o stress de Ethan é passado ao jogador, são vários momentos de tensão e alguns de susto. As primeiras horas de jogo são fantásticas, uma verdadeira experiência de terror. Sem dúvidas o ponto forte do jogo são os cenários muito bem construídos e críveis, mesmo com aqueles puzzles típicos da franquia. Muitos deles possuem uma justificativa, o que é impressionante. Houve um cuidado incomum nesse ponto. Os elementos do cenário e da trama conseguem fazer uma simbiose lógica.
Um dos recursos narrativos mais interessantes são as fitas VHS. Encontre algumas e, ao assisti-las, é você quem controla o filme. As fitas ajudarão a descobrir mais sobre a história e a resolver alguns puzzles.
Parece familiar?
Existem trechos que podem causar certa frustração aos jogadores mais afoitos. Você precisa lembrar que está numa situação de sobrevivência, de desespero, então não perca o controle. Poupe munição e itens de cura, evite matar quando possível, corra quando houver oportunidade, se esconda se tiver amor à vida. As limitações físicas de Ethan irão lhe lembrar isso a todo instante, o que é ótimo para a proposta do jogo.
De uma forma geral, Resident Evil 7 tem um saldo bem positivo. Deu a impressão de que prolongaram desnecessariamente a duração do jogo, sendo este, talvez, o motivo pelo qual o tom criado no início se perca em certos momentos. Terminei o jogo satisfeito, porém sem vontade de jogar novamente. Os fãs mais puristas irão desdenhar este jogo, mas saiba que a essência da franquia está ali. Não entrarei em maiores detalhes pois um dos méritos do jogo é te surpreender. Dar maiores detalhes de jogabilidade, cenário e personagens estragarão sua experiência (nem assista ao trailer abaixo). Saiba apenas uma coisa: jogue de mente aberta, dê uma chance e aproveite um baita jogo de terror com a essência de Resident Evil e referências aos clássicos do cinema B. Disponível para XBox One, Playstation 4 e PC.
Filme que, segundo as promessas do estúdio, será o último episódio da série que adapta os jogos de zumbi da Capcom, e dirigido pelo mesmo cineasta que inaugurou a saga em 2002, Resident Evil 6: O Capítulo Final busca dar algum conteúdo de discussão ao roteiro. Um novo começo é estabelecido para Alice (Milla Jojovich), através de um estranho contato da Rainha Vermelha (Ever Anderson), que a convoca para entender seu passado em Raccon City, além de prometer uma vingança junto a Albert Wesker – vivido por Shawn Roberts, e mais caricato do que nunca.
Normalmente, Paul W. S. Anderson começa franquias de ação e deixa as continuações a cargo de outras pessoas, foi assim em Corrida Mortal e suas duas continuações para a TV, como também com Mortal Kombat e Mortal Kombat: A Aniquilação. Resident Evil foi diferente, após produzir e colaborar com o roteiro de Apocalipsee Extinção, ele voltaria à direção em O Recomeço e Retribuição. O fato de não ter sido o realizador de dois deles parece ter mexido com a cabeça do sujeito, uma vez que seu argumento remonta as partes que não dirigiu, e basicamente reconta todo o conteúdo levantado no segundo filme, tentando salvar este que é o mais criticado da série.
Em Retribuição, uma parcela considerável de críticos e cinéfilos fizeram um comentário de profundo apreço aos esforços de Anderson, afirmando que ele usava a sua câmera para desconstruir a ideia vigente no cinema de ação atual, utilizando o mesmo slow motion tão em voga atualmente para fazer um comentário debochado sobre o cinema de ação atual. Se esses elogios estavam certos ou não cabe ao espectador atento decidir, fato é que a promessa de maior apego a realidade nesta versão não foi cumprida pelo diretor. As cenas de ação são frenéticas, ao melhor estilo Jason Bourne, e em alguns momentos também apelam para a desaceleração das brigas e perseguições.
A tal maturidade prometida para o roteiro se resume a um plot-twist dos mais banais, construindo ali um background e um passado para Alice, que basicamente contradiz tudo o que foi dito até aqui. De positivo há algumas sequências de luta, que são muito bem construídas basicamente pela entrega exemplar que Jojovich dá a sua personagem, fato que quase faz esquecer tanto a performance terrível de Roberts, como também do terrível arquétipo de cientista maluco/homem de negócios malvado que Iain Glen faz em seu Dr. Isaac. O montante de personagens desnecessários segue intacto.
Toda a construção em torno dos filmes de Resident Evil tem o nível de qualidade discutível, não só por questões de fidelidade com os games, mas também pelo uso excessivo de clichês. A mescla entre cenas de perseguição absolutamente frenéticas, reprisando os cenários do terceiro filme e referenciando o trabalho de George Miller em Mad Max: A Estrada da Fúria demonstra que o intuito da produção não é inovar e sim referenciar o cinema de ação, encerrando aqui não só as homenagens a Miller, como também a filmes como a trilogia Matrix; o estilo de direção de Zack Snyder e alguns clássicos do terror ligados a zumbis, como Despertar dos Mortos, Extermínio, Madrugada dos Mortos,entre outros. Nesse sentido, toda a saga Resident Evil rendeu sim uma boa retrospectiva, mas ainda assim é muito pouco para um produto como ele.
As cenas iniciais de Residente Evil 5 Retribuição começam em câmera reversa, em mais um dos muitos recursos videoclípticos tão comuns na carreira de Paul W. S. Anderson. Curioso é que a feitoria desta introdução é bem executada, apesar de cortar o clímax desta reapresentação da saga que teve cinco exibições em live action.
Alice (Milla Jojovich) ressume seu papel de moça imortal, se apresentando são e salva após um dos muitos ataques da Umbrella, e logo já é posta para sofrer exames que viriam a comprovar sua saúde. Os testes psicológicos realizados nela fazem claras alusões ao filme de SnyderMadrugada dos Mortos, em uma apresentação tosca, mas que está longe de representar os maiores erros de Resident Evil 5.
O clichê da clonagem, antes só dedicado a Milla e sua Alice foi amplificado, com o único pretexto de causar no fã da série um ar nostálgico. As falas da heroína estão ainda piores, atestando a sua classificação como mulher badass. Alguns personagens que tinham desaparecido na franquia são resgatados, somente para serem descaracterizados. Resident Evil 5: Retribuição é como uma reciclagem mal executada, retomando de maneira porca o que deu certo nos primeiros filmes.
Os tiroteios são risíveis, as lutas terminam com poses de vitória semelhantes aos vistos em Power Ranges e os show-off de armas são tão frequentes que fazem a fita parecer um comercial da indústria armamentista norte-americana. A cena da fábrica de clones é completamente dispensável, mal feita e irritante. Mesmo após 10 anos da franquia no Cinema, P.W.S. Anderson e sua equipe de produção continuam cometendo os mesmo erros primários de Resident Evil: O Hospede Maldito.
Incongruências sobram, como o exemplo de o robô de controle que fica exposto o tempo inteiro. Outro factoide jamais explicado é como a Umbrella sobrevive ao fim do mundo e prossegue com dinheiro para executar tantas novas invenções, a despeito de todas as ideias estúpidas e administradores imbecis. Mistério é o motivo que fez o diretor achar que seria interessante mostrar os efeitos dos golpes com um panorama em raio-x esverdeado, aludindo talvez a expectativa de que o público que consome os filmes da franquia seja formado por pessoas mentalmente debilitados.
Shawn Roberts volta ao papel de Wesker, para abrilhantar ainda mais a película, mas dessa vez ele é afável, e se alia a Alice, contra um inimigo em comum – numa reviravolta muito mal construída. A cena final de Resident Evil deixava claro que o objetivo da Companhia Guarda-Chuva era resgatar os irmãos Redfields – Chris e Claire – vivos, mas eles não aparecem em momento algum, nem é levantada qualquer possibilidade de onde eles estariam, o que deixa uma interrogação na cabeça de quem assiste: será que eles estariam se “poupando” para uma parte 6 ou o roteirista simplesmente esqueceu deles? O final mais uma vez é aberto, a tomada que mostra como a Terra está após os últimos acontecimentos da Guerra contra a Umbrella causa calafrios e medo do que ainda está por vir, já que a sexta parte está confirmada, com data de estreia já marcada, com o que deve ser o capítulo derradeiro. A produção de Resident Evil se mostra cada vez mais desgastada, carregando um enfado que aumenta a cada novo filme.
Os efeitos em slow motion nos minutos iniciais de Resident Evil 4: O Recomeço já escancaram lastimavelmente que Paul W. S. Anderson voltou à cadeira de diretor apresentando os aspectos muito negativos que lhe são peculiares, especialmente no estilo videoclíptico que imitam porcamente o visual e estilo de Matrix.
O começo da trama é efetuado por mais um recordatório, tornando claro que os produtores julgam que seu público sofre de amnésia crônica. A ideia de arquitetar um plano com dezenas de clones a uma instalação de segurança máxima é demasiado fraca, só servindo para tornar a Alice de Milla Jojovich em algo menos poderoso. Mesmo voltando a ser humana de novo, a protagonista e heroína de ação consegue sobreviver à queda de um avião. Após a mini odisseia, ela toma um aeroplano e viaja até o Alaska à procura de sobreviventes, sem qualquer explicação mínima, mas somente uma tela preta informando que seis meses haviam se passado.
Milla volta à sua canastrice habitual. Os personagens secundários são sofríveis, mesmo os que funcionaram bem em Resident Evil 3 A Extinção. As mudanças de personalidade são “justificadas” por uma lavagem cerebral e controle da mente, e por incrível que pareça esses ainda os problemas pequenos. Wentworth Miller faz do seu Chris Redfield um prisioneiro que aparenta ser badass, mas que, diante dos perigos que se aproximam, pouco tem ação. O CG, antes bem feito, volta a ser tosco; parece até ter piorado em comparação com o filme anterior. A desconstrução de Claire Redfiled (Ali Larter) é de uma incompetência ímpar. As situações de perigo se tornaram fúteis mais uma vez, os zumbis pouco ameaçam – mesmo com todos os upgrades, Alice volta a ser intocável, executando exibições de saltos ornamentais dignas de uma gata molhada.
A desconstrução do que foi visto anteriormente torna-se estranha, por perceber-se o óbvio fato de que o roteiro também era de W.S. Anderson. Entretanto, de todos os aspectos patéticos, o pior momento é de Albert Wesker. Sua palidez mórbida, os óculos escuros – que servem até como arma – e sua falta de talento dramatúrgico são sensacionais, e formam o arquétipo de um dos piores vilões que o cinema já produziu, graças e muito ao desempenho ridículo de Shawn Roberts, que só faz estalar o pescoço e ameaçar Alice. Mas não há como culpar somente o intérprete, que está limitado por um realizador que não parece saber instruir seus subalternos. Wesker é uma amálgama de Neo e Agente Smith, o que deve tornar a figura de Anderson em algo insuportável na roda de amigos ligados aos irmãos Watchowski.
A batalha final é anticlimática, sem pé nem cabeça, e mesmo após todas as pirotecnias, a Umbrella está firme novamente, pronta para aprontar mais confusões e para infernizar a vida de Alice e do público do cinema. A cena pós-crédito é um acinte, e mostra que nada está tão ruim que não possa piorar mais ainda, encerrando o filme de modo quase tão desrespeitoso quanto Resident Evil 2: Apocalipse.
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Terceiro episódio da franquia, Resident Evil 3: A Extinção é aparentemente o mais distante da história do jogo e da cine série como um todo. No entanto, é o filme que mais se aproxima de ser correto. A direção está a cargo de Russell Mulcahy, realizador dos dois primeiros Highlander e começa com um recordatório ambienta o espectador desavisado do que se trata a situação até ali. Após a mostra do destino da humanidade, é explicitado que a Infestação Umbrella destruiu toda forma de vida no planeta, extinguindo praticamente qualquer subsistência do ecossistema mundial.
Há basicamente dois cenários: o deserto e as Instalações da antiga Umbrella. As partes acertadas do filme ocorrem na primeira conjuntura, onde os raros sobreviventes lutam contra a praga zumbi. Ao contrário do anterior, este ganha pontos na diversão, primeiro por não levar-se tão a sério e também porque os personagens não são simples bonecos com frases de efeito. Apesar de não ser um conjunto que prima pela profundidade, ao menos causam comoção no público, seja pelos apuros reais ou pelo simples instinto de sobrevivência.
Os períodos ocorridos no interior dos laboratórios são fracos, relembrando os piores momentos dos outros episódios. O pastiche involuntário presente no paradigma do cientista louco irrita, mas não compromete, principalmente em comparação com os absurdos anteriormente vistos. Até mesmo a Milla Jojovich está melhor que antes, pois Alice aparece e continua distribuindo seus golpes em quem aparece, mas se mostra insegura em usar seus super poderes, receosa em fazer mal aos seus amigos. A dúvida e a ambiguidade sobre a sua manipulação acrescenta muito suspense a trama e consegue funcionar sob a clara influência de Mulcahy.
Os absurdos dramatúrgicos continuam presentes, especialmente nos cabelos femininos, que prosseguem lisos, vividos e esvoaçantes mesmo sem shampoos e em ambiente arenoso. Quase nunca há escassez de munição, as piadinhas prosseguem, e o clima Massa Véio permanece vivo. Mas tais aspectos são bem pontuados, tornando a experiência menos traumática, em alguns pontos acrescentando charme ao produto final. Mesmo esses clichês são ofuscados por causa de muitas referências a filmes clássicos, desde Os Pássaros, em uma boa ideia de contaminação do T-Vírus, até O Planeta dos Macacos, com uma Las Vegas soterrada. As mais óbvias comparações com Mad Max 2: A Caçada Continua se notam nas claras inspirações nas locações que formam o mundo comum do filme que, em suma, resgatam a ecologia discutida em Highlander II: A Ressurreição.
A história melhora muito quando se assume o tom de filme B. Residente Evil 3 A Extinção é palatável por não ludibriar o espectador, fingindo-se um filme sério. Como filme de ação pouco peca, os combates são bem filmados, os efeitos especiais e maquiagens dos monstros são acertados – pela primeira vez. A direção é de Russell Mulcahy é ótima. Porém, as cenas finais são fracas, quase pondo tudo a perder. Uma lástima que a atmosfera criada nesta produção tenha que dar lugar mais uma vez a roupas apertadas, golpes plásticos, vilões de desenho animado e pirotecnias de Paul W.S. Anderson, especialmente pela perda de um diretor mais hábil enquanto realizador que o marido de Milla.
Antes dos eventos do primeiro filme, uma onde de calor toma Racoon City. As cenas que seguem após o breve anúncio mostram que o caráter do Resident Evil 2 Apocalipse é bastante diferente do episódio anterior, fora claro alguns personagens recorrentes. De resto, mal dá pra se notar que este é uma sequência, especialmente pela troca na cadeira de diretor, com o cargo recaindo sobre Alexander Witt , mais acostumado a reger comédias, bastante diferente do que fazia Paul W. S. Anderson – que dessa vez só assina o roteiro e produz o filme.
Já no início, o espectador é apresentado a um personagem clássico, exibindo Jill Valentine (Siena Guillory), que é basicamente uma mulher de belas curvas que sabe que zumbis morrem com tiros na cabeça, no entanto, não é fria o suficiente para acabar com o martírio de um amigo seu que foi mordido. Essa reticência da personagem se agrava pela superficialidade dos personagens, quem vê o filme não tem possibilidade nenhuma de se sensibilizar com os personagens, dada a falta de substância e estofo neles. Os sujeitos entram, se apresentam e morrem sem acrescentar nada a trama. As cenas de ação são mal filmadas e os truques de câmera são facilmente percebidos, com bungee jumps de helicópteros a corridas na vertical de prédios presos a cordas de rapéu, aspectos que aumentam horrorosamente o nível de vergonha alheia do filme.
Jill consegue andar de ladinho, em um esforço estranhissimo para emular as características do vídeo game, que em suma, só provaca risos na platéia. Retorna a trama a sobrevivente Alice (Milla Jojovich), que demonstra sua imortalidade ao atravessar uma vidraça de igreja de moto sem nenhum motivo aparente. A câmera acompanha a trajetória dos tiros da mulher guerreira até as motos, unicamente para matar os monstros no cemitério. Ao mostrar a ressurreição dos mortos, que entram em conflito com a dupla feminina na porrada, são apenas alguns dos exageros que dão a tônica do filme, unido é claro as piadinhas repetitivas, mostrando que o mundo pode até acabar, mas o bom humor há de prevalecer sobre as adversidades, mesmo que seja as custas da paciência do espectador.
A mudança de caráter da protagonista serve como alegoria a completa falta de substância do roteiro, Alice que antes era reticente em agir como heroína de ação, neste muda completamente de postura, tornando-se uma máquina de matar, graças provavelemente aos experimentos a que foi submetida, ou talvez pela falta de talento de Witt em dirigir atores. O aspecto mais risível do filme é a relação dela com o antagonista Nemesis, que no game é um vilão amedrontador e na fita é um ente sentimental, digno de pena e que somente não chora por ser feito de borracha e por consequentemente não possuir pálpebras.
Quando Nemesis (Matthew G. Taylor) anda, lembra muito Shaquille O’Neal em Steel, por parecer um monstro obeso, cuja maior característica ´w dificuldade de locomoção. Ainda assim, o vilão acerta com uma bazuca o “possante” esquadrão de elite da cidade, que por sua vez, não apresentam resistência nenhuma, não justificando a alcunha de tropa especial. O monstro é semi-racional e só obedece ordens, mas ainda assim consegue fazer piadinhas irônicas.
A luta final é mal urdida e completamente desnecessária, pontuada por um sentimentalismo extremo e bobo. Uma das poucas piadas tragáveis é a forma como uma das personagens mais insuportáveis falece, a repórter que registrava tudo com uma câmera foi atacada por um horda de zumbis juvenis, enquanto a filmadora gravava tudo.A forma como a mega empresa acoberta os incidentes acaba sendo uma das poucas saídas inteligentes do roteiro, mas não justifica nada. O final sem um desfecho real deixa dúvidas na cabeça do espectador, encerrando o argumento de modo apelativo, sensacionalista e pobre como todo a história que corre diante do espectador.
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O primeiro filme baseado na franquia de jogos Resident Evil, revela a boa intenção de uma tentativa de releitura bem elaborada. Desde o início, o espectador é levado a crer que o roteiro será fiel ao jogo. Os créditos de abertura, a explicação do Incidente Umbrella e a trilha sonora são recursos bem executados, que colaboram com a ambientação do filme. A demonstração da ação do T-Vírus em um clima claustrofóbico de perigo iminente e a marcante cena em que Alice (Milla Jovovich) acorda desmemoriada, e com seu estilo único e um olhar cruel, desembaça o espelho, são realizadas com a edição de vídeo de Paul W. S. Anderson, tão criticado por sua tendência ao estilo de videoclipe.
A iconografia do jogo é reconstruída no filme restringindo-se somente ao sistema de câmeras, às armas escondidas e guardadas com segredo e às portas que abrem sozinhas. Para o desapontamento do game-maníaco, as ações que acontecem após a entrada das forças especiais na Colmeia, base de estudos da Umbrella, em Racoon City, é uma sucessão de erros grosseiros. Todo o clima de filme de terror cai por terra, e se transforma em um frenesi de ação, frases feitas e combates grotescos, provando que essa mudança brusca de gênero é o maior equívoco do filme.
Os monstros de Resident Evil não convencem quem assiste, os zumbis são light e não dilaceram ninguém, só arranham e mordem. Os membros do esquadrão de elite entram displicentemente pelos becos, a ponto de deixarem seu líder tático passar por um corredor cheio de armadilhas em uma cena com inúmeros erros de continuidade, como o sumiço de cadáveres.
Os cenários, que pareciam bem elaborados no começo do filme, ganham um estilo de muito mau gosto e parecem construídos com cartolina e papelão. A maquiagem é tão horrenda que alguns mortos-vivos lembram o Kiko (Carlos Villagran) com hepatite. E os efeitos em computação gráfica são tão sofríveis, que os monstros parecem retirados dos cd-roms que vinham com revistas de informática nos idos dos anos 90.
Os personagens são mal construídos e não ganham a empatia do público, até porque são descuidados e não fazem o mínimo de vigilância. Em uma das cenas, Alice vai sozinha e desarmada numa ala deserta, chacina dobermans ensanguentados ao maior estilo “extrato de tomate”, distribuindo voadoras nos focinhos e matando sem dó. A personagem, que só poderia ter sido preparada para a guerra, seria o maior potencial a ser explorado no filme, mas sua redenção moral e sua mudança de ethos justificada por uma surpreendente amnésia,transforma a situação em algo estúpido e pueril, subestimando a inteligência do espectador.
O vilão também é totalmente questionável, a Rainha da Colmeia é uma máquina que tem crises de piedade, que servem unicamente pra explorar escolhas entre a vida e a morte de alguns infectados. Personagens que são dados como mortos voltam, só para morrerem segundos depois, em uma sequência de cenas incoerentes que tira a paciência até do espectador mais descompromissado.
O desfecho deixa algumas perguntas em aberto, mas em momento nenhum isso suplanta as fragilidades da trama, fazendo com que a dúvida torne-se banal. Nem mesmo a cena final, com Alice retomando seu papel em O Quinto Elemento e segurando um trabuco na cidade devastada, salva o espetáculo, que ainda se seguiria por uma interminável franquia.
Sincronizem suas agendas. Flávio Vieira, Felipe Morcelli, Mário Abbade e a estréia do nosso mais novo colaborador: Levi Pedroso (Johnny Depp). Zumbis e vampiros galhofeiros, uma volta do Oeste Selvagem à Fronteira Final e uma pitada de possessão demoníaca nesta edição. Have fun!
Duração: 78 min. Edição: Flávio Vieira Trilha Sonora: Flávio Vieira
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