Tag: Milla Jojovich

  • Crítica | Jogada Decisiva

    Crítica | Jogada Decisiva

    Em 1998 Spike Lee unido ao estúdio Touchstone trouxe à luz uma obra que juntava uma temática que ele estava acostumado a abordar: a emancipação do negro americano junto às dificuldades de se ver livre para fazer o que quer, e o basquetebol, esporte que sempre amou do qual é apaixonado e devoto. Antes mesmo de começar seu drama ele passeia pelas quadras do país, especialmente em lugares carentes, mostrando meninos, meninas, homens e mulheres jogando basquete, em uma apresentação linda, acompanhada da bela música de Aaron Copland, em um exercício de slow motion que emula bem os momentos épicos de Sam Peckinpah.

    A história mostra Jesus, personagem de Ray Allen que se tornaria profissional da NBA, um jovem garoto que no colegial já tem talento o suficiente para chamar a atenção de olheiros das ligas profissionais. Aparentemente o garoto está jogando seu talento fora, graças à rebeldia que seu trágico passado causou – seu pai foi preso, por assassinar sua mãe – e para convencê-lo a jogar pela universidade do estado, a Big State (uma faculdade ficcional), Jake Shuttlesworth é liberado em condicional, tendo uma semana para convencer o filho, mesmo não tendo qualquer relação com ele desde que foi para a prisão.

    O modo como Lee conta sua história passa por ângulos obtusos, a câmera passeia pelos cenários e registra ângulos bem improváveis de seu elenco, em especial quando eles se exercitam, e para isso, não é nem preciso que Allen ou Denzel Washington (que faz Jake) estejam em tela. Essas sensações, sejam na figura do velho ou do novo Shuttlesworth, passam pela música não incidental do Public Enemy, que permeiam o filme inteiro, sobretudo nas disputas e nos créditos finais. Aliás, o modo como o realizador registra o jogo nas quadras de rua assusta. Não só pela poesia das imagens, que em alguns pontos faz tudo parecer um balé no asfalto, como pela plasticidade nos detalhes e closes nos jogadores. Além disso, o cineasta brinca com formatos, evoluindo o quadro de misturar momentos em estilo documentários com quebras da quarta parede, numa espécie de mescla entre seus filmes mais jornalísticos como Kobe Doin’ Work e seu longa de estréia, Ela Quer Tudo.

    Toda a história familiar é bem desenrolada, seus detalhes são escrutinados de maneira positiva em determinado ponto da trama, mas fora esse artifício, o roteiro se desenrola bem no que tange o emocional. Mesmo as questões primordiais do filme, como a rejeição natural que Jesus tem por seu pai são bem desafiadas, já que Jake é uma pessoa fácil de gostar, tão repleto de carisma que se torna irresistível para os que o cercam. Os fantasmas do passado são pesados demais parar serem ignorados.

    As atuações dos personagens de apoio são boas, com destaque positivo para Milla Jojovich, que vive a garota de programa Dakota, e Rosario Dawson, que faz Lala, um dos interesses românticos do rapaz. As descrições dos momentos vividos por essas personagens aparecem como cenas avulsas, coladas em meio a trama do roteiro de Lee como esquetes separadas da trama central, permitindo assim aos intérpretes adicionarem camadas e mais camadas à atuação, fazendo dessa Coney Island palco para um teatro de sonhos e decepções, algumas inerentes à vida comum e outras que fogem completamente do ordinário.

    No apartamento barato que aluga, Jake gasta seu tempo entre receber visita dos policiais corruptos que o pressionam e os treinamentos de domínio com a velha e surrada bola que tem, consistindo basicamente dele jogando a mesma contra parede para afiar seus reflexos de novo, como se precisasse, como se não tivesse mentalmente todas as formas de  ir em direção à cesta, ou de dominar em jogo em suas mãos. O artifício que emprega visa isolar os próprios ouvidos do barulho incômodo do quarto ao lado, e ajuda ele a relaxar para finalmente lidar com seus demônios.

    Todo o número envolvendo a apresentação da Tech University (outra universidade fictícia) é por si só surreal. Desde a apresentação com os veteranos, que são recebidos por dúzias de garotas brancas lindas e dadas, até a conversa com o bizarro treinador Billy Sunday de John Turturro, que brinca entre a sedução do inocente estudante e as rezas dadas à figura mítica e messiânica de Cristo, que estão presentes no nome de batismo do aspirante a jogador. Lee acerta demais ao mostrar o ambiente sedutor e errático das universidades com possíveis jogadores, não só no cunho sexual, como também no aliciamento, e nisso, nem o antigo Blue Chips de William Friedkin ou o mais recente Amador acertam tanto quanto na jornada que Jesus tem.

    Allen tem uma apresentação digna. Até fora de quadra ele atua consideravelmente bem, consegue apresentar uma face dramática intensa e forte quando contracena com a Lala de Dawson, além de fazer um bom dueto com a figura do mentor inesperado. O trágico e deprimido homem que tem pouca consideração sua, transita pelas ruas sujas de Coney Island com roupas de treino de basquete basicamente por não ter nada, a não ser o jogo que tentou ministrar ao seu filho. Algum sucesso ele teve, afinal, já que a grande escolha de Jesus teve a ver com o conselho de seu progenitor.

    O um a um que pai e filho jogam é uma disputa ideológica e familiar pesada, carregada de sentimentos e significados. A carga emotiva certamente acerta em cheio quem visualiza a história, como um chute de três pontos bem dado, na final de um campeonato, semelhantes aos que Allen fez durante sua boa carreira na universidade e na NBA. Mais do que isso, é a prova de que o homem pode evoluir, pode treinar e se aprimorar para melhorar não só a si, mas também os seus. Jake se vê numa posição de ter de alguma forma de liberdade, e os momentos tensos e imediatos antes dos créditos finais brincam com as barreiras metafísicas, dando a pai e filho uma relação mais forte que a realidade tangente.

  • Crítica | Resident Evil 6: O Capítulo Final

    Crítica | Resident Evil 6: O Capítulo Final

    Filme que, segundo as promessas do estúdio, será o último episódio da série que adapta os jogos de zumbi da Capcom, e dirigido pelo mesmo cineasta que inaugurou a saga em 2002, Resident Evil 6: O Capítulo Final busca dar algum conteúdo de discussão ao roteiro. Um novo começo é estabelecido para Alice (Milla Jojovich), através de um estranho contato da Rainha Vermelha (Ever Anderson), que a convoca para entender seu passado em Raccon City, além de prometer uma vingança junto a Albert Wesker – vivido por Shawn Roberts, e mais caricato do que nunca.

    Normalmente, Paul W. S. Anderson começa franquias de ação e deixa as continuações a cargo de outras pessoas, foi assim em Corrida Mortal e suas duas continuações para a TV, como também com Mortal Kombat e Mortal Kombat: A Aniquilação. Resident Evil foi diferente, após produzir e colaborar com o roteiro de Apocalipse e Extinção, ele voltaria à direção em O Recomeço e Retribuição. O fato de não ter sido o realizador de dois deles parece ter mexido com a cabeça do sujeito, uma vez que seu argumento remonta as partes que não dirigiu, e basicamente reconta todo o conteúdo levantado no segundo filme, tentando salvar este que é o mais criticado da série.

    Em Retribuição, uma parcela considerável de críticos e cinéfilos fizeram um comentário de profundo apreço aos esforços de Anderson, afirmando que ele usava a sua câmera para desconstruir a ideia vigente no cinema de ação atual, utilizando o mesmo slow motion tão em voga atualmente para fazer um comentário debochado  sobre o cinema de ação atual. Se esses elogios estavam certos ou não cabe ao espectador atento decidir, fato é que a promessa de maior apego a realidade nesta versão não foi cumprida pelo diretor. As cenas de ação são frenéticas, ao melhor estilo Jason Bourne, e em alguns momentos também apelam para a desaceleração das brigas e perseguições.

    A tal maturidade prometida para o roteiro se resume a um plot-twist dos mais banais, construindo ali um background e um passado para Alice, que basicamente contradiz tudo o que foi dito até aqui. De positivo há algumas sequências de luta, que são muito bem construídas basicamente pela entrega exemplar que Jojovich dá a sua personagem, fato que quase faz esquecer tanto a performance terrível de Roberts, como também do terrível arquétipo de cientista maluco/homem de negócios malvado que Iain Glen faz em seu Dr. Isaac. O montante de personagens desnecessários segue intacto.

    Toda a construção em torno dos filmes de Resident Evil tem o nível de qualidade discutível, não só por questões de fidelidade com os games, mas também pelo uso excessivo de clichês. A mescla entre cenas de perseguição absolutamente frenéticas, reprisando os cenários do terceiro filme e referenciando o trabalho de George Miller em Mad Max: A Estrada da Fúria  demonstra que o intuito da produção não é inovar e sim referenciar o cinema de ação, encerrando aqui não só as homenagens a Miller, como também a filmes como a trilogia Matrix; o estilo de direção de Zack Snyder e alguns clássicos do terror ligados a zumbis, como Despertar dos Mortos, Extermínio, Madrugada dos Mortos, entre outros. Nesse sentido, toda a saga Resident Evil rendeu sim uma boa retrospectiva, mas ainda assim é muito pouco para um produto como ele.

  • Crítica | Resident Evil 5: Retribuição

    Crítica | Resident Evil 5: Retribuição

    Resident Evil 5 Retribuição 1

    As cenas iniciais de Residente Evil 5 Retribuição começam em câmera reversa, em mais um dos muitos recursos videoclípticos tão comuns na carreira de Paul W. S. Anderson. Curioso é que a feitoria desta introdução é bem executada, apesar de cortar o clímax desta reapresentação da saga que teve cinco exibições em live action.

    Alice (Milla Jojovich) ressume seu papel de moça imortal, se apresentando são e salva após um dos muitos ataques da Umbrella, e logo já é posta para sofrer exames que viriam a comprovar sua saúde.  Os testes psicológicos realizados nela fazem claras alusões ao filme de Snyder Madrugada dos Mortos, em uma apresentação tosca, mas que está longe de representar os maiores erros de Resident Evil 5.

    O clichê da clonagem, antes só dedicado a Milla e sua Alice foi amplificado, com o único pretexto de causar no fã da série um ar nostálgico. As falas da heroína estão ainda piores, atestando a sua classificação como mulher badass. Alguns personagens que tinham desaparecido na franquia são resgatados, somente para serem descaracterizados. Resident Evil 5: Retribuição é como uma reciclagem mal executada, retomando de maneira porca o que deu certo nos primeiros filmes.

    Os tiroteios são risíveis, as lutas terminam com poses de vitória semelhantes aos vistos em Power Ranges e os show-off de armas são tão frequentes que fazem a fita parecer um comercial da indústria armamentista norte-americana.  A cena da fábrica de clones é completamente dispensável, mal feita e irritante. Mesmo após 10 anos da franquia no Cinema, P.W.S. Anderson e sua equipe de produção continuam cometendo os mesmo erros primários de Resident Evil: O Hospede Maldito.

    Incongruências sobram, como o exemplo de o robô de controle que fica exposto o tempo inteiro. Outro factoide jamais explicado é como a Umbrella sobrevive ao fim do mundo e prossegue com dinheiro para executar tantas novas invenções, a despeito de todas as ideias estúpidas e administradores imbecis. Mistério é o motivo que fez o diretor achar que seria interessante mostrar os efeitos dos golpes com um panorama em raio-x esverdeado, aludindo talvez a expectativa de que o público que consome os filmes da franquia seja formado por pessoas mentalmente debilitados.

    Shawn Roberts volta ao papel de Wesker, para abrilhantar ainda mais a película, mas dessa vez ele é afável, e se alia a Alice, contra um inimigo em comum – numa reviravolta muito mal construída. A cena final de Resident Evil deixava claro que o objetivo da Companhia Guarda-Chuva era resgatar os irmãos Redfields – Chris e Claire – vivos, mas eles não aparecem em momento algum, nem é levantada qualquer possibilidade de onde eles estariam, o que deixa uma interrogação na cabeça de quem assiste: será que eles estariam se “poupando” para uma parte 6 ou o roteirista simplesmente esqueceu deles?  O final mais uma vez é aberto, a tomada que mostra como a Terra está após os últimos acontecimentos da Guerra contra a Umbrella causa calafrios e medo do que ainda está por vir, já que a sexta parte está confirmada, com data de estreia já marcada, com o que deve ser o capítulo derradeiro. A produção de Resident Evil se mostra cada vez mais desgastada, carregando um enfado que aumenta a cada novo filme.

  • Crítica | Resident Evil 4: O Recomeço

    Crítica | Resident Evil 4: O Recomeço

    Resident Evil 4 Recomeço 1

    Os efeitos em slow motion nos minutos iniciais de Resident Evil 4: O Recomeço já escancaram lastimavelmente que Paul W. S. Anderson voltou à cadeira de diretor apresentando os aspectos muito negativos que lhe são peculiares, especialmente no estilo videoclíptico que imitam porcamente o visual e estilo de Matrix.

    O começo da trama é efetuado por mais um recordatório, tornando claro que os produtores julgam que seu público sofre de amnésia crônica. A ideia de arquitetar um plano com dezenas de clones a uma instalação de segurança máxima é demasiado fraca, só servindo para tornar a Alice de Milla Jojovich em algo menos poderoso. Mesmo voltando a ser humana de novo, a protagonista e heroína de ação consegue sobreviver à queda de um avião. Após a mini odisseia, ela toma um aeroplano e viaja até o Alaska à procura de sobreviventes, sem qualquer explicação mínima, mas somente uma tela preta informando que seis meses haviam se passado.

    Milla volta à sua canastrice habitual. Os personagens secundários são sofríveis, mesmo os que funcionaram bem em Resident Evil 3 A Extinção. As mudanças de personalidade são “justificadas” por uma lavagem cerebral e controle da mente, e por incrível que pareça esses ainda os problemas pequenos. Wentworth Miller faz do seu Chris Redfield um prisioneiro que aparenta ser badass, mas que, diante dos perigos que se aproximam, pouco tem ação. O CG, antes bem feito, volta a ser tosco; parece até ter piorado em comparação com o filme anterior. A desconstrução de Claire Redfiled (Ali Larter) é de uma incompetência ímpar. As situações de perigo se tornaram fúteis mais uma vez, os zumbis pouco ameaçam – mesmo com todos os upgrades, Alice volta a ser intocável, executando exibições de saltos ornamentais dignas de uma gata molhada.

    Resident Evil 4 Recomeço 3

    A desconstrução do que foi visto anteriormente torna-se estranha, por perceber-se o óbvio fato de que o roteiro também era de W.S. Anderson. Entretanto, de todos os aspectos patéticos, o pior momento é de Albert Wesker. Sua palidez mórbida, os óculos escuros – que servem até como arma – e sua falta de talento dramatúrgico são sensacionais, e formam o arquétipo de um dos piores vilões que o cinema já produziu, graças e muito ao desempenho ridículo de Shawn Roberts, que só faz estalar o pescoço e ameaçar Alice. Mas não há como culpar somente o intérprete, que está limitado por um realizador que não parece saber instruir seus subalternos. Wesker é uma amálgama de Neo e Agente Smith, o que deve tornar a figura de Anderson em algo insuportável na roda de amigos ligados aos irmãos Watchowski.

    A batalha final é anticlimática, sem pé nem cabeça, e mesmo após todas as pirotecnias, a Umbrella está firme novamente, pronta para aprontar mais confusões e para infernizar a vida de Alice e do público do cinema. A cena pós-crédito é um acinte, e mostra que nada está tão ruim que não possa piorar mais ainda, encerrando o filme de modo quase tão desrespeitoso quanto Resident Evil 2: Apocalipse.

    Compre aqui:  Resident Evil – A Coleção Dvd  |  Blu Ray

  • Crítica | Resident Evil 3: A Extinção

    Crítica | Resident Evil 3: A Extinção

    Resident Evil 3 A Extinção 1

    Terceiro episódio da franquia, Resident Evil 3: A Extinção é aparentemente o mais distante da história do jogo e da cine série como um todo. No entanto, é o filme que mais se aproxima de ser correto. A direção está a cargo de Russell Mulcahy, realizador dos dois primeiros Highlander e começa com um recordatório ambienta o espectador desavisado do que se trata a situação até ali. Após a mostra do destino da humanidade, é explicitado que a Infestação Umbrella destruiu toda forma de vida no planeta, extinguindo praticamente qualquer subsistência do ecossistema mundial.

    Há basicamente dois cenários: o deserto e as Instalações da antiga Umbrella. As partes acertadas do filme ocorrem na primeira conjuntura, onde os raros sobreviventes lutam contra a praga zumbi. Ao contrário do anterior, este ganha pontos na diversão, primeiro por não levar-se tão a sério e também porque os personagens não são simples bonecos com frases de efeito. Apesar de não ser um conjunto que prima pela profundidade, ao menos causam comoção no público, seja pelos apuros reais ou pelo simples instinto de sobrevivência.

    Os períodos ocorridos no interior dos laboratórios são fracos, relembrando os piores momentos dos outros episódios. O pastiche involuntário presente no paradigma do cientista louco irrita, mas não compromete, principalmente em comparação com os absurdos anteriormente vistos. Até mesmo a Milla Jojovich está melhor que antes, pois Alice aparece e continua distribuindo seus golpes em quem aparece, mas se mostra insegura em usar seus super poderes, receosa em fazer mal aos seus amigos. A dúvida e a ambiguidade sobre a sua manipulação acrescenta muito suspense a trama e consegue funcionar sob a clara influência de Mulcahy.

    Resident Evil 3 A Extinção 3

    Os absurdos dramatúrgicos continuam presentes, especialmente nos cabelos femininos, que prosseguem lisos, vividos e esvoaçantes mesmo sem shampoos e em ambiente arenoso. Quase nunca há escassez de munição, as piadinhas prosseguem, e o clima Massa Véio permanece vivo. Mas tais aspectos são bem pontuados, tornando a experiência menos traumática, em alguns pontos acrescentando charme ao produto final. Mesmo esses clichês são ofuscados por causa de muitas referências a filmes clássicos, desde Os Pássaros, em uma boa ideia de contaminação do T-Vírus, até O Planeta dos Macacos, com uma Las Vegas soterrada. As mais óbvias comparações com Mad Max 2: A Caçada Continua se notam nas claras inspirações nas locações que formam o mundo comum do filme que, em suma, resgatam a ecologia discutida em Highlander II: A Ressurreição.

    A história melhora muito quando se assume o tom de filme B. Residente Evil 3 A Extinção é palatável por não ludibriar o espectador, fingindo-se um filme sério. Como filme de ação pouco peca, os combates são bem filmados, os efeitos especiais e maquiagens dos monstros são acertados – pela primeira vez. A direção é de Russell Mulcahy é ótima. Porém, as cenas finais são fracas, quase pondo tudo a perder. Uma lástima que a atmosfera criada nesta produção  tenha que dar lugar mais uma vez a roupas apertadas, golpes plásticos, vilões de desenho animado e pirotecnias de Paul W.S. Anderson, especialmente pela perda de um diretor mais hábil enquanto realizador que o marido de Milla.

    Compre: Resident Evil – A Extinção

  • Crítica | Resident Evil 2: Apocalipse

    Crítica | Resident Evil 2: Apocalipse

    residentevil2-apocalypse 1

    Antes dos eventos do primeiro filme, uma onde de calor toma Racoon City. As cenas que seguem após o breve anúncio mostram que o caráter do Resident Evil 2 Apocalipse é bastante diferente do episódio anterior, fora claro alguns personagens recorrentes. De resto, mal dá pra se notar que este é uma sequência, especialmente pela troca na cadeira de diretor, com o cargo recaindo sobre Alexander Witt , mais acostumado a reger comédias, bastante diferente do que fazia Paul W. S. Anderson – que dessa vez só assina o roteiro e produz o filme.

    Já no início, o espectador é apresentado a um personagem clássico, exibindo Jill Valentine (Siena Guillory), que é basicamente uma mulher de belas curvas que sabe que zumbis morrem com tiros na cabeça, no entanto, não é fria o suficiente para acabar com o martírio de um amigo seu que foi mordido. Essa reticência da personagem se agrava pela superficialidade dos personagens, quem vê o filme não tem possibilidade nenhuma de se sensibilizar com os personagens, dada a falta de substância e estofo neles. Os sujeitos entram, se apresentam e morrem sem acrescentar nada a trama. As cenas de ação são mal filmadas e os truques de câmera são facilmente percebidos, com bungee jumps de helicópteros a corridas na vertical de prédios presos a cordas de rapéu, aspectos que aumentam horrorosamente o nível de vergonha alheia do filme.

    Jill consegue andar de ladinho, em um esforço estranhissimo para emular as características do vídeo game, que em suma, só provaca risos na platéia. Retorna a trama a sobrevivente Alice (Milla Jojovich), que demonstra sua imortalidade ao atravessar uma vidraça de igreja de moto sem nenhum motivo aparente. A câmera acompanha a trajetória dos tiros da mulher guerreira até as motos, unicamente para matar os monstros no cemitério. Ao mostrar a ressurreição dos mortos, que entram em conflito com a dupla feminina na porrada, são apenas alguns dos exageros que dão a tônica do filme, unido é claro as piadinhas repetitivas, mostrando que o mundo pode até acabar, mas o bom humor há de prevalecer sobre as adversidades, mesmo que seja as custas da paciência do espectador.

    A  mudança de caráter da protagonista serve como alegoria a completa falta de substância do roteiro, Alice que antes era reticente  em agir como heroína de ação, neste muda completamente de postura, tornando-se uma máquina de matar, graças provavelemente aos experimentos a que foi submetida, ou talvez pela falta de talento de Witt em dirigir atores. O aspecto mais risível do filme é a relação dela com o antagonista Nemesis, que no game é um vilão amedrontador e na fita é um ente sentimental, digno de pena e que somente não chora por ser feito de borracha e por consequentemente não possuir pálpebras.

    Quando Nemesis (Matthew G. Taylor) anda, lembra muito Shaquille O’Neal em Steel, por parecer um monstro obeso, cuja maior característica ´w dificuldade de locomoção. Ainda assim, o vilão acerta com uma bazuca o “possante” esquadrão de elite da cidade, que por sua vez, não apresentam resistência nenhuma, não justificando a alcunha de tropa especial. O monstro é semi-racional e só obedece ordens, mas ainda assim consegue fazer piadinhas irônicas.

    A luta final é mal urdida e completamente desnecessária, pontuada por um sentimentalismo extremo e bobo. Uma das poucas piadas tragáveis é a forma como uma das personagens mais insuportáveis falece, a repórter que registrava tudo com uma câmera foi atacada por um horda de zumbis juvenis, enquanto a filmadora gravava tudo.A forma como a mega empresa acoberta os incidentes acaba sendo uma das poucas saídas inteligentes do roteiro, mas não justifica nada. O final sem um desfecho real deixa dúvidas na cabeça do espectador, encerrando o argumento de modo apelativo, sensacionalista e pobre como todo a história que corre diante do espectador.

    Compre aqui:  Resident Evil – A Coleção Dvd  |  Blu Ray

  • Crítica | Jovens, Loucos e Rebeldes

    Crítica | Jovens, Loucos e Rebeldes

    De tempos em tempos, surgem alguns filmes que retratam uma época em toda sua essência, mas poucas obras conseguem captar uma década como foi o caso de Jovens, Loucos e Rebeldes (Dazed and Confused), de 1993, dirigida pelo ainda novato Richard Linklater.

    À primeira vista, o longa parece apenas mais um entre tantos filmes que retratam um pouco da cultura jovem americana e visto repetidas vezes, principalmente ao longo da década de 1980. No entanto, ele se mostra um exemplar mais próximo de produções como American Graffiti, de George Lucas; Clube dos Cinco, de John Hughes; Picardias Estudantis, de Amy Heckerling (com roteiro de Cameron Crowe), além de outras que possuem mais camadas do que simples histórias sobre adolescentes, como Porks, American Pie, Superbad, ou mais recentes, como Projeto X.

    Linklater parece não se importar em não focalizar sua história em um personagem específico, mas seguindo o maior número de jovens possíveis para fazer um retrato destes no último dia de aula, que se estende atravessando a longa noite, até o seu desfecho. A trama é ambientada na década de 1970 e não traz um enredo específico em seu material, apenas salienta as experiências da idade, como flertes, festas e alguns ritos típicos desses estudantes, tudo isso regado a muita cerveja e maconha.

    O grande acerto de Jovens, Loucos e Rebeldes é a forma com que o diretor captura essa geração, colocando uma lente de aumento nesses grupos de personagens tão diferentes e ao mesmo tempo tão parecidos entre si. Esses vislumbres de muitas vidas retratam todas as ilusões, distorções e, claro, a rebeldia típica contida no discurso anti-establishment dos jovens dessa época, como fica claro na fala final de um dos protagonistas, o qual diz: “se algum dia eu disser que estes foram os melhores anos da minha vida, lembre-me de me matar”.

    Jovens, Loucos e Rebeldes não se trata de um filme sobre o galã do high school que se apaixona pela garota inocente, ou sobre o nerd em busca da perda da virgindade em uma dessas festas típicas de colegiais norte-americanos. Acima de tudo, a obra discute uma form de luta contra um modo de vida que a sociedade te impõe, luta essa que a maioria sabe que já começou perdida.

    O cineasta é incisivo ao mostrar a personagem de Jason London se negando a assinar o termo de compromisso com o time de futebol e deixando claro que não deixará de jogar, mas que será do jeito dele. Linklater demonstra, em um pequeno gesto, toda uma geração que parecia compreender que ignorar as regras impostas era a melhor forma de se sentir livre. Tudo isso sem grandes romantizações, por vezes bastante tolas, algo que, felizmente, todo jovem é.