Tag: Richard Linklater

  • VortCast 70 | Todo Mundo Gosta… Menos Eu!

    VortCast 70 | Todo Mundo Gosta… Menos Eu!

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Bernardo Mazzei, David Matheus Nunes (@david_matheus), Jackson Good (@jacksgood), Julio Assano Júnior (@Julio_Edita) e Filipe Pereira abrem o coração e revelam os filmes que são amados pelo público e crítica, menos por nós. Venha conosco nessa polêmica e compartilhe sua lista de filmes.

    Duração: 117 min.
    Edição: Julio Assano Júnior
    Trilha Sonora: Julio Assano Júnior
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

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  • Crítica | A Melhor Escolha

    Crítica | A Melhor Escolha

    A Melhor Escolha é o novo filme de Richard Linklater, apresentando um resgate de um cinema mais simples e pouco pretensioso, tal qual seus antigos Escola de Rock, Bernie e Jovens, Loucos e Rebeldes. Curiosamente, em Jovens, Loucos e Mais Rebeldes, o diretor já resgatava elementos de “Jovens, Loucos…” e aqui compõe uma continuação espiritual de A Última Missão, dirigido por  Hal Ashby e estrelado por Jack Nicholson. Ambas produções baseadas em livros de de Darryl Ponicsan, que inclusive trabalhou com o diretor neste roteiro.  Dessa vez, a história acompanha o veterano do Vietnã Larry Doc Shepherd (Steve Carrell), que encontrará seus antigos colegas de farda, o profano Sal Nealon (Bryan Cranston) e o reverendo Richard Mullah Mueller (Lawrence Fishburne) para realizarem uma última missão juntos: velar o corpo de seu filho morto, Larry Jr., até sua terra natal.

    O reencontro do trio em 2003 sob circunstâncias pesadas põe a prova a amizade construída em solo inimigo, bem como a lealdade prometida entre os alistados. O desbocado e sempre bêbado Sal não hesita em ir com o antigo amigo para a jornada, enquanto o pastor vê nos afazeres religiosos, bem como nos problema em suas pernas, desculpas para não partir. Apesar dessas questões, ambos partem rumo a essa nova jornada, conduzida sob uma mistura de personalidades diferentes que soa muito engraçada.

    Ao ter de encontrar o corpo de seu filho – que também serviu as forças militares – Larry se depara com um ardil completamente desonesto, em que os homens de alta patente mentiram sobre o falecimento de seu herdeiro. Então, o caráter de Road movie se intensifica, com os amigos tendo de levar o cadáver do fuzileiro estrada a dentro, ignorando o que o governo poderia transportar sem custos o sujeito.

    No hall onde encontram o caixão, quem decide contar a verdade para o lutoso veterano é Sal, um homem do mundo e não o homem santo. A brincadeira com a inversão de ideais é salutar, pois funciona tanto nas questões irônicas e humorísticas como também nas mais sérias. Apesar desses conflitos, e da letargia de Larry, percebe-se uma camaradagem intrínseca entre os viajantes, como se mesmo após certo tempo, e apesar de todas as mudanças em suas vidas, não houvesse uma distância real entre os que lutaram juntos, e essa intimidade certamente se dá pelas adversidades que tiveram.

    Mesmo sem grande pretensões, com uma trama simples, Linklater propõe uma boa reflexão sobre a necessidade que os Estados Unidos tem em se embrenhar em conflitos armados desnecessários. E ainda faz uma trama que não soa panfletário, uma vez que até as reclamações são feitas por pessoas que estiveram em campo de batalha.

    Ao se aproximar do final, o filme investe bastante em melodrama para destacar ao publico que trata-se de uma obra sobre o luto. Um filme sobre perdas e como lidar com essa sensação. O memorial estabelecido é muito bonito e a musica acompanha bem o cortejo. Doc buscou forças nos homens que correram perigo junto a ele, para lidar com um mau que, apesar de não ser completamente inesperado, também não é tão comum de acontecer, uma vez que a ordem natural são os filhos enterrarem os pais e não o contrário.

    É a partir dessa tragédia que a personagem faz florescer um novo sentimento fraterno por seus irmãos de farda, não exatamente substituindo o amor que tinha por Júnior, mas ao menos ajudando-o a aplacar um pouco o amargor e a dor. É essa singeleza o melhor aspecto de A Melhor Escolha.  Muito bem construída pelo roteiro e muito bem interpretada pelo elenco veterano. Uma obra tocante que não soa piegas, apesar de sua premissa sensível.

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  • Crítica | Jovens, Loucos e Mais Rebeldes!!

    Crítica | Jovens, Loucos e Mais Rebeldes!!

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    Em uma breve sinopse, acompanharemos uma turma de jovens norte-americanos de um time de Baseball da Faculdade que juntos irão se aventurar em uma série de situações inusitadas regadas sempre de muita curtição.

    Ouvindo/lendo assim, sobre essa ótica reducionista muitos devem pensar: “Nossa já assisti há filmes com essa temática diversas vezes! Onde então reside o trunfo que diferencia Jovens, Loucos e mais Rebeldes de tantos outros filmes que têm uma proposta parecida? Respondo – em seu autor, Richard Linklater.

    É impressionante notar como o diretor consegue manter a excelência nessa continuação elevando a obra à um nível quase tão bom quanto o seu antecessor  Jovens, Loucos e Rebeldes cultuada comédia de 1993.

    Ambientado nos anos 80 o filme praticamente não peca e acerta em cheio em diversos aspectos. Com uma meticulosa produção, a obra faz uso de todos elementos possíveis para construir um retrato fidedigno da época, elementos notórios que  vão desde penteados, figurinos, locações até uma ótima trilha sonora e que somadas conseguem construir uma atmosfera precisa, esmerada nos mínimos detalhes.

    É interessante notar como a narrativa vai se desdobrando com uma desenvoltura deliciosa. Mesmo tendo o Baseball como ponto em comum, é admirável notar como a trama desenvolve bem suas personagens tão adversas.

    Jake (Blake Jenner) é um novato que deslumbrado com o novo e na busca de se enturmar assume o papel do fio condutor que irá nos conectar com os demais; Finn (Glen Powell) busca conquistar o máximo possível de garotas, Raw Dog (Justin Street) é o inseguro jovem que precisa se firmar perante os colegas, McReynolds (Tyler Hoechlin) só pensa em vitórias, Willoughby (Wyatt Russell) vive quase o tempo todo no “mundo das nuvens” sendo em determinados momentos a peça ‘nonsense’ do bando.

    O filme tem uma áurea despreocupada, porém se engana quem assim o encarar, já que justamente em sua simplicidade reside sua força. Linklater aqui nos prova mais uma vez a força de sua singular sensibilidade como autor, fugindo de histrionismos gratuitos, o diretor emprega muito dinamismo nesse seu novo trabalho nos tragando aos poucos para dentro da história, como alguém que puxa uma cadeira e nos convida à embarcar juntos em um papo divertido, que discorre de uma cadência agradabilíssima, fazendo com que a experiência deixe impregnado no espectador um gosto de “Quero mais”!

    Dono de uma grande feeling o cineasta procura não ser expositivo em demasia justamente por conseguir fazer com que as personagens e situações se mostrem aos poucos para o público e fazer isso com tamanha sutileza sem deixar que nada passe desapercebido é algo raro, um dom de alguém muito inteligente que sabe exatamente como dar as cartas nos momentos certos.

    Ao fim, como dito antes acima, a verdadeira sensação que fica é de que a resolução dos fatos (apesar de competente) nunca foi o enfoque principal, mas sim a jocosa aventura construída ao longo do percurso. Portanto Jovens, Loucos e mais Rebeldes é uma certeira pedida para quem busca diversão garantida.

    Texto de Autoria de Tiago Lopes.

  • Crítica | Boyhood: Da Infância à Juventude

    Crítica | Boyhood: Da Infância à Juventude

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    Boyhood tem tudo – tudo sob medida – para ser um clássico da Sessão da Tarde. Infelizmente, o espaço vespertino de filmes na programação da emissora é de péssima qualidade, há muito alheio a apostar no êxito de outrora, como com A Lagoa Azul, Elvira ou Uma Babá Quase Perfeita. Filmes família (Lagoa já não é mais visto inocentemente como antes) que todo mundo curte e curtia, principalmente se houver um cachorro como cereja do bolo; se for falante, melhor ainda. No filme de Richard Linklater, filmado em 39 dias (1 mês e pouco) ao longo de 12 anos (1 ou 2 dias pra cada cena, talvez), não há animais nem nada “do barulho” que desde a época que começou a ser gravado já não funcionava mais com a plateia. A obra carrega em si, por excelência, no tratamento da narrativa, a alma leve dos anos 80 que fascina o espectador (sempre carente de modéstia) dos anos 2000, tempos complexos em que desejamos cada vez mais a simplicidade, o alívio, o despretensioso. Num mundo cheio de segundas e décimas intenções, quando encontramos um filme, livro ou música que invoca um quase extinto frescor lenitivo, a problemática teia social vigente, ah… Brisa no deserto.

    Só que os méritos do filme de Linklater param por aí. O cara merece aplausos pela iniciativa de tornar o sonho real? Sem dúvida! Mas a tal da profundidade que muitos apontam em sua obra mais ambiciosa (e incomparável diante do valor de qualquer filme de sua trilogia romântica) não afunda muito na superfície da simplicidade do tempo, numa rasa exaltação da família e da riqueza da entidade familiar, como se uma homenagem a Era Uma Vez em Tóquio ou Pai e Filha – ópios soberbos sobre laços étnicos – ganhasse território americano nos moldes épicos do cinema de Yasujiro Ozu, impraticável por qualquer cineasta que não seja o próprio, tamanha a força de seu talento, sabedoria e leveza artística que nenhum outro, oriental ou não, conseguiu repetir até então. Linklater homenageia mesmo sem querer (querendo) a pureza de um Cinema leve e emocional ao extremo, mas acha contradição ao resgatar valores que já se repetiu em resgatar antes, e ao (simplesmente) focar 12 anos mundanos de uma família branca de classe média em fórmulas de publicidade que vendem a obra a partir de sua forma, e não do seu conteúdo, do recheio que iria, por fim, perfurar a validez do filme no tempo.

    James Cameron levou de 10 a 15 anos para rodar Avatar, mas foi na sua revolução tecnológica e no seu conteúdo 3D puramente técnico que o filme honestamente se apoiou, e não no seu arremedo de história. Boyhood só é levemente mais nobre por transcender e preferir a carga dramática ao aspecto técnico, mas cujo status de proeminência da tola história de um menino e sua família chega a ser tão leve quanto uma formiga se comparada à grandeza dos longos anos de produção, tal um elefante numa balança desigual de destaques relevantes. Um filme que exalta e, devido à longa duração, superestima as digressões em uma história, pois vai e volta, vai e volta, entre o limite do agradável e descartável, o rico e o gratuito, coisa típica da Sessão global, também.

    Na verdade, o que mais vale na obra não é nem a história, nem a duração das filmagens, mas sim o que de ambos os aspectos se pode extrair da plateia: o exercício da interpretação individual. O que mais cada um gosta em um filme e desgosta, se inspira para recriar na arte ou na vida, admira, reflete, se espelha ou repreende na tela é tão relativo quanto o gosto duvidável da direção irregular de Linklater, no começo compatível a um diretor de filmes amadores, ainda nos anos 90, terminando o filme de um jeito 100% carinhoso e paternal ao material que cultivou com tanto esmero, por mais de uma década. Certeza mesmo vem da ótima montagem em torno da obra, e acima de tudo, do talento à prova do tempo de Patricia Arquette, ótima como a matriarca que, quando vê barba no rosto do moleque, trava um diálogo emocionante sobre a brevidade das coisas, espécie de resumo do filme e a melhor cena de uma bijuteria que brilha, mas não é ouro. Deixemos ao tempo mostrar até aonde o brilho chega.

  • Crítica | Boyhood: Da Infância à Juventude

    Crítica | Boyhood: Da Infância à Juventude

    Crescer é uma das poucas experiências biológicas e cognitivas que une todos os seres vivos da Terra. Para os humanos, dentro de uma sociedade tão complexa, a tarefa é ainda mais complicada frente a tantos desafios que o mundo moderno impõe às crianças, por exemplo, em que cada uma vai reagir de forma própria a todos os estímulos, positivos e negativos, que recebe. Foi dentro dessa lógica que, 12 anos atrás, o cineasta Richard Linklater decidiu realizar um ousado projeto, o de filmar uma história sobre a vida de uma criança enquanto cresce até ela se tornar um adulto, mas utilizando com isso um ator só durante esse processo.

    Boyhood trata a vida de Mason (Ellar Coltrane), uma criança introspectiva que vive com sua Mãe (Patricia Arquette) e sua irmã Samantha (Lorelei Linklater), enquanto tem contatos esporádicos com o Pai (Ethan Hawke). Sua jornada pelo final da infância, adolescência e início da juventude nos será mostrada, assim como a de sua família e todas as situações que dali resultarão.

    Se o maior mérito desse novo e já cultuado filme de Linklater reside no conceito inovador por trás da filmagem, o mesmo não se pode dizer da história e dos personagens nela retratados. Ao focar Mason, a história tem problemas sérios de ritmo em razão de não conseguir imprimir na narrativa nenhum evento catalisador de mudanças na personalidade dele ou da família, ou mesmo o efeito disso em suas vidas. Apesar de passarem por várias dificuldades, como o convívio com novas famílias e padrastos com problemas de uso de álcool, nada parece afetar suas vidas de forma significativa.

    Mason é retratado com uma apatia irritante. A todo o instante, parece espectador do mundo para, de repente, já na juventude, saltar ao posto de filósofo do mundo contemporâneo. Por vários momentos, seus diálogos não representam nada. Há uma ocasião clara em que ele, adolescente, chega de uma festa e assume que fumou maconha e bebeu álcool com uma série de “sim” para a sua mãe, a qual aceita prontamente todas as respostas, e nada acontece. O mesmo quando ele está com uma turma de amigos discutindo mulheres, festas e bebidas como adolescentes comuns. Nenhuma pista estabelecida possui recompensa.

    Se Mason não garante emoção alguma, o mesmo não se pode dizer de sua família, em especial sua mãe, em bela interpretação de Arquette. Saindo da posição de mãe solteira com subemprego, a batalhadora que estuda e melhora de vida, suas más escolhas na vida pessoal contrastam com a ascensão na vida profissional, que garante uma melhoria de vida para ela e seus filhos (algo que o filme não explora em nada, como se o contexto social da família e do país não importassem). Com uma duração tão longa, de aproximadamente 2h45 minutos, tempo há de sobra para se desenvolver qualquer coisa que saísse da linha reta de emoções representada por Mason. Mas nada disso é feito, infelizmente.

    O pai de Mason, uma figura interessante, também é mal aproveitado. Apesar dos erros cometidos em sua vida, tenta dar o máximo de si ao educar os filhos, falando desde sobre o incômodo tema das relações sexuais na adolescência até conselhos sobre relacionamentos que não deram certo. Mas os diálogos não ajudam a tirar os personagens e suas relações do lugar comum e dos clichês do gênero.

    O que sobra em Boyhood são três horas de eventuais boas passagens e boas sequências de câmera, mas que não dizem a que veio. O hype em cima de sua produção parece explicar seu sucesso atual, e as relações ali representadas falam com os fãs de filmes indie e intimistas, os quais disfarçam a pobreza de seu discurso com momentos que simulam profundidade, mas que, na verdade, não representam nada. Caso houvesse ali uma escolha por um drama familiar clássico, mesmo que se às vezes derrapasse e fosse levado para o melodrama, ao menos teria sido uma escolha e haveria descarga de sentimentos com os quais poderíamos lidar. A obra infelizmente não é nem isso. São aproximadamente três horas de quase nada, mas muito bem disfarçadas.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

  • Crítica | Jovens, Loucos e Rebeldes

    Crítica | Jovens, Loucos e Rebeldes

    De tempos em tempos, surgem alguns filmes que retratam uma época em toda sua essência, mas poucas obras conseguem captar uma década como foi o caso de Jovens, Loucos e Rebeldes (Dazed and Confused), de 1993, dirigida pelo ainda novato Richard Linklater.

    À primeira vista, o longa parece apenas mais um entre tantos filmes que retratam um pouco da cultura jovem americana e visto repetidas vezes, principalmente ao longo da década de 1980. No entanto, ele se mostra um exemplar mais próximo de produções como American Graffiti, de George Lucas; Clube dos Cinco, de John Hughes; Picardias Estudantis, de Amy Heckerling (com roteiro de Cameron Crowe), além de outras que possuem mais camadas do que simples histórias sobre adolescentes, como Porks, American Pie, Superbad, ou mais recentes, como Projeto X.

    Linklater parece não se importar em não focalizar sua história em um personagem específico, mas seguindo o maior número de jovens possíveis para fazer um retrato destes no último dia de aula, que se estende atravessando a longa noite, até o seu desfecho. A trama é ambientada na década de 1970 e não traz um enredo específico em seu material, apenas salienta as experiências da idade, como flertes, festas e alguns ritos típicos desses estudantes, tudo isso regado a muita cerveja e maconha.

    O grande acerto de Jovens, Loucos e Rebeldes é a forma com que o diretor captura essa geração, colocando uma lente de aumento nesses grupos de personagens tão diferentes e ao mesmo tempo tão parecidos entre si. Esses vislumbres de muitas vidas retratam todas as ilusões, distorções e, claro, a rebeldia típica contida no discurso anti-establishment dos jovens dessa época, como fica claro na fala final de um dos protagonistas, o qual diz: “se algum dia eu disser que estes foram os melhores anos da minha vida, lembre-me de me matar”.

    Jovens, Loucos e Rebeldes não se trata de um filme sobre o galã do high school que se apaixona pela garota inocente, ou sobre o nerd em busca da perda da virgindade em uma dessas festas típicas de colegiais norte-americanos. Acima de tudo, a obra discute uma form de luta contra um modo de vida que a sociedade te impõe, luta essa que a maioria sabe que já começou perdida.

    O cineasta é incisivo ao mostrar a personagem de Jason London se negando a assinar o termo de compromisso com o time de futebol e deixando claro que não deixará de jogar, mas que será do jeito dele. Linklater demonstra, em um pequeno gesto, toda uma geração que parecia compreender que ignorar as regras impostas era a melhor forma de se sentir livre. Tudo isso sem grandes romantizações, por vezes bastante tolas, algo que, felizmente, todo jovem é.

  • Crítica | Antes da Meia-Noite

    Crítica | Antes da Meia-Noite

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    Em 1995, Richard Linklater conquistou uma legião de fãs com um filme delicado, singelo, em que um casal passeava pelas ruas de Viena enquanto se apaixonava. Em 2004 ele revisitou seu casal e entregou um dos mais belos finais do cinema. Agora, novamente 9 anos depois, Linklater vem responder se Jesse perdeu ou não seu avião.

    Eu confesso que quando vi pela primeira vez o Anúncio de Antes da Meia-Noite fui contra a ideia, o final de Antes do Pôr-do-Sol funcionava por seu mistério e eu não via sentido em fazer o casal se encontrar por acaso mais uma vez, nem acreditava na capacidade do diretor de realizar um filme sobre um relacionamento estabelecido. Mas Linklater me provou errada e construiu um filme maravilhoso que já não é sobre se apaixonar, mas sobre manter o amor.

    Antes da Meia-Noite é ao mesmo tempo o mais maduro e o mais falho dos três filmes. Por um lado, Linklater cresceu como diretor e conseguiu finalmente comunicar coisas naquilo que não é dito, os silêncios e a escolha de planos nesse filme são repletos de sutilezas e significados, algo ausente nos dois anteriores. Por outro, o roteiro (escrito por ele em pareceria com Julie Delpy e Ethan Hawke) às vezes desliza e torna seus personagens, especialmente Céline, uma caricatura deles mesmos.

    Jesse, afinal, perdeu mesmo seu avião. Ele e Céline vivem juntos em Paris com duas filhas gêmeas, nesse verão, foram convidados por um renomado escritor a passar algumas semanas em sua casa na Grécia e o filme acompanha a última noite deles ali. A primeira cena mostra Jesse mandando Hank, seu filho do primeiro casamento, de volta para os Estados Unidos e funciona quase como um curta dentro do filme, estabelecendo os temas que serão explorados: incomunicabilidade e a dificuldade do amor.

    Depois dessa cena, Jesse entra no carro e ele e Céline dão início ao diálogo que perpassa o filme todo. Diferente dos anteriores, esse apresenta mais personagens, que enriquecem a discussão a respeito do que é o amor e as diferenças entre homens e mulheres que o diretor estabelece. No entanto, em alguns momentos tanto os personagens extras (especialmente Stefanos, o grego que só pensa em sexo) quanto a discussão sobre gêneros esbarra em clichês e obviedades quase machistas.

    Também tem uma ponta de machismo na personagem feminina: Céline sempre foi a jovem enroscada entre seu feminismo e sua vontade de ser amada, mas agora ela assume o papel da mulher histérica, que quase quer ser uma vítima da sociedade machista opressora. O discurso de Jesse ameniza o que poderia ser muito incômodo e suas queixas não deixam de ter dimensão real, mas o filme vai perto demais de um estereótipo feminino negativo para que isso passe em branco.

    Apesar desses momentos, o que mais chama a atenção em Antes da Meia-Noite é sua realidade: as queixas, a dor e a briga entre Jesse e Céline são profundamente verdadeiras, um olhar agudo sobre o que é um relacionamento e todo o trabalho e sofrimento que acompanham viver com quem parece ser sua alma gêmea. A sequência em que os dois discutem em um quarto de hotel é cruel, sufocante e ao mesmo tempo terna, o mais perto que o cinema chegou do casamento verdadeiro desde que Bergman filmou Cenas de Um Casamento.

    Mas o filme não é real apenas na dor, a conversa no almoço flue tão naturalmente que é quase como se o espectador estivesse sentado ali com aquelas pessoas. Assim como o carinho e a intimidade entre Jesse e Céline (e a única cena de sexo) é tudo tão fluído, tão natural que a primeira uma hora e meia de filme é absolutamente deliciosa.

    Antes da Meia-Noite é o mais melancólico e dolorido dos três filmes, mas é ao mesmo tempo o mais otimista, ao reafirmar a possibilidade concreta do amor apesar das dificuldades. É um exemplo de bons diálogos e atuações precisas, um filme minimalista, mas cheio de nuances quase como o relacionamento que procura retratar.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.