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  • Crítica | Highlander: O Guerreiro Imortal

    Crítica | Highlander: O Guerreiro Imortal

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    Mais uma vez cá estou eu falando sobre um filme pelo qual tenho um profundo carinho. Eu e Ricky Bobby (personagem de Will Ferrell em Ricky Bobby: A Toda Velocidade) consideramos Highlander como único detentor do Oscar de Melhor Filme do Mundo. Porém, tenho que deixar de lado esse carinho para poder fazer uma análise desse clássico dos anos 80 que conta a história de guerreiros imortais que duelam através dos tempos em busca do “Prêmio” (sim, a sinopse pode ser resumida nessa simples frase, mas não pense que o filme é simplório).

    Talvez o que faça ser Highlander ser tão bacana é a falta de vergonha em se assumir como um filme B. Isso não é nenhum demérito, mas pense em um filme B com pedigree. Highlander é assim e justamente isso o fez ganhar status de filme cult. De início, o filme possui um elenco variado e que funciona muitíssimo bem. Christopher Lambert, que vinha de Greystoke: A Lenda de Tarzan e Subway, inicialmente parece um pouco deslocado em cena, mas ao passo que vamos conhecendo a história de Connor MacLeod, vamos compreendendo de onde vem aquela cara amarrada que o ator carrega durante a projeção. MacLeod era um escocês líder de um clã que ao ser ferido gravemente em uma batalha, descobre ser imortal. Ao longo do filme, através de flashbacks, vamos acompanhando toda a evolução de Connor e todas as suas perdas ao longo de sua vida. São especialmente tristes as passagens que mostram o protagonista sofrendo com o fato de manter-se sempre no auge de sua forma, enquanto as pessoas que ele ama vão morrendo de velhice ao seu redor. O vilão Kurgan, vivido por um Clancy Brown que pratica um overacting digno de Nicolas Cage, é deveras divertido. O ator cria um monstro que é uma baita ameaça ao protagonista, visto que ele é o grande responsável pela maior desgraça que o acometeu. Porém, que rouba o show é Sean Connery. Seu Juan Sánchez Villa-Lobos Ramírez, além de possuir um dos nomes mais incríveis de toda a história do cinema, tem um charme e um magnetismo que preenche a tela. Guerreiro egípcio (!) nascido Tak-Ne em 896 antes de Cristo (!!!), o personagem é uma espécie de mestre Jedi mais malandro e ao longo dos tempos age como treinador e mentor de MacLeod. Connery se diverte em cena, contagia Lambert e logicamente o espectador acaba contagiado.

    Em determinado ponto, o protagonista Connor MacLeod define seu poder como um “tipo de mágica”. A história do filme cativa o espectador de uma forma mágica, afinal, o duelo milenar de guerreiros por um “prêmio” misterioso já desperta a curiosidade desde o início. Mais cativante ainda é a maneira como a imortalidade é tratada pela película. Através de flashbacks vamos sendo apresentados às diversas vidas do protagonista. É inevitável que o espectador tente se colocar na posição de MacLeod, afinal, a imortalidade levanta várias questões. A solidão após uma vida de séculos presenciando pessoas amadas perdendo a vida para o tempo enquanto se permanece fisicamente inalterado, a impossibilidade de fincar raízes, pois a qualquer momento homicidas podem aparecer para coletar sua cabeça e não hesitarão em envolver seus entes queridos naquele duelo mortal. Enfim, a impossibilidade de viver como um ser humano. Tudo isso ganha contornos mais dramáticos com “Who Wants to Live Forever”, música que o Queen compôs especialmente para o filme, toca justo no momento em que um dos amores do protagonista morre de velhice em seus braços. Ainda que de forma atabalhoada, o script de Gregory Widen, Peter Belwood e Larry Ferguson idealizado a partir de uma história original de Widen, trabalha todas essas questões. É possível que justamente por esse desenvolvimento atabalhoado, a história desperte tantos questionamentos e provoque essa imersão do espectador.

    Russell Mulcahy, diretor egresso dos videoclipes, faz o possível com o orçamento apertado do filme (19 milhões de dólares). Com sua experiência de clipeiro, o diretor ousa ao filmar muitas sequências, usando ângulos ousados e movimentos que na época eram novidade. A sequência inicial do filme, que intercala um flashback com um evento de telecatch, a cena de luta subsequente (ainda que com as piruetas absurdas do oponente de MacLeod) e o combate final do protagonista com o Kurgan são provas da inventividade do diretor. A fotografia de Gerry Fisher também é excelente e funciona bem tanto nos momentos mais melancólicos quanto nos momentos mais pirotécnicos. Entretanto, Mulcahy vacila em alguns momentos, deixando transparecer que Highlander foi um filme “barato”, pois não consegue tirar o foco de vários problemas, principalmente os de cenografia. Em um momento específico, fica claro que os tijolos que são espalhados durante uma feroz batalha foram confeccionados com isopor. Isso acaba imprimindo um aspecto de comédia involuntária à sequência que deveria ser dramática, pois culmina com um fato chocante e determinante para a trama. Interessante observar que os efeitos especiais feitos por computação gráfica, ainda que não sejam os melhores, funcionam bem dentro do contexto do filme.

    Acabei separando um parágrafo especial para tratar da trilha sonora do filme. A trilha sonora incidental foi composta e executada pelo mestre Michael Kamen, grande nome dos filmes de ação como Duro de Matar e Máquina Mortífera. Mas Highlander teve músicas compostas especialmente por aquela que talvez seja a maior banda de rock de todos os tempos: Queen. Inicialmente, o Marillion tinha sido convidado para compor, mas por conflitos de agenda, a tarefa caiu nas mãos de Freddie Mercury e seus companheiros. A banda compôs músicas que encaixaram perfeitamente com o clima de cada momento do filme. Esse fato magnificou muitas cenas, principalmente a já mencionada morte de uma das amadas do protagonista. “Who Wants to Live Forever” trata de toda a amargura de Connor MacLeod em estrofes magistralmente cantadas por Freddie Mercury. Porém, há um fato curioso nisso tudo: a trilha nunca foi lançada comercialmente. A partir disso, o Queen aproveitou as músicas que compôs e as colocou em no disco “A Kind of Magic”. Ah! Lembram quando eu disse que Connor MacLeod definia seu poder como um “tipo de mágica”? Essa simples frase inspirou o baterista Roger Taylor a compor a CANÇÃO “A Kind of Magic”, cuja versão para o filme é um pouco mais soturna do que a versão que foi para o disco homônimo, mas nem é por isso é inferior.

    Ainda que pareça datado e tenha lá os seus problemas, Highlander é um filme seminal dos anos 80 que além de ser uma baita diversão, merece seu status de cult. E eu juro que me mantive imparcial.

  • Crítica | Resident Evil 3: A Extinção

    Crítica | Resident Evil 3: A Extinção

    Resident Evil 3 A Extinção 1

    Terceiro episódio da franquia, Resident Evil 3: A Extinção é aparentemente o mais distante da história do jogo e da cine série como um todo. No entanto, é o filme que mais se aproxima de ser correto. A direção está a cargo de Russell Mulcahy, realizador dos dois primeiros Highlander e começa com um recordatório ambienta o espectador desavisado do que se trata a situação até ali. Após a mostra do destino da humanidade, é explicitado que a Infestação Umbrella destruiu toda forma de vida no planeta, extinguindo praticamente qualquer subsistência do ecossistema mundial.

    Há basicamente dois cenários: o deserto e as Instalações da antiga Umbrella. As partes acertadas do filme ocorrem na primeira conjuntura, onde os raros sobreviventes lutam contra a praga zumbi. Ao contrário do anterior, este ganha pontos na diversão, primeiro por não levar-se tão a sério e também porque os personagens não são simples bonecos com frases de efeito. Apesar de não ser um conjunto que prima pela profundidade, ao menos causam comoção no público, seja pelos apuros reais ou pelo simples instinto de sobrevivência.

    Os períodos ocorridos no interior dos laboratórios são fracos, relembrando os piores momentos dos outros episódios. O pastiche involuntário presente no paradigma do cientista louco irrita, mas não compromete, principalmente em comparação com os absurdos anteriormente vistos. Até mesmo a Milla Jojovich está melhor que antes, pois Alice aparece e continua distribuindo seus golpes em quem aparece, mas se mostra insegura em usar seus super poderes, receosa em fazer mal aos seus amigos. A dúvida e a ambiguidade sobre a sua manipulação acrescenta muito suspense a trama e consegue funcionar sob a clara influência de Mulcahy.

    Resident Evil 3 A Extinção 3

    Os absurdos dramatúrgicos continuam presentes, especialmente nos cabelos femininos, que prosseguem lisos, vividos e esvoaçantes mesmo sem shampoos e em ambiente arenoso. Quase nunca há escassez de munição, as piadinhas prosseguem, e o clima Massa Véio permanece vivo. Mas tais aspectos são bem pontuados, tornando a experiência menos traumática, em alguns pontos acrescentando charme ao produto final. Mesmo esses clichês são ofuscados por causa de muitas referências a filmes clássicos, desde Os Pássaros, em uma boa ideia de contaminação do T-Vírus, até O Planeta dos Macacos, com uma Las Vegas soterrada. As mais óbvias comparações com Mad Max 2: A Caçada Continua se notam nas claras inspirações nas locações que formam o mundo comum do filme que, em suma, resgatam a ecologia discutida em Highlander II: A Ressurreição.

    A história melhora muito quando se assume o tom de filme B. Residente Evil 3 A Extinção é palatável por não ludibriar o espectador, fingindo-se um filme sério. Como filme de ação pouco peca, os combates são bem filmados, os efeitos especiais e maquiagens dos monstros são acertados – pela primeira vez. A direção é de Russell Mulcahy é ótima. Porém, as cenas finais são fracas, quase pondo tudo a perder. Uma lástima que a atmosfera criada nesta produção  tenha que dar lugar mais uma vez a roupas apertadas, golpes plásticos, vilões de desenho animado e pirotecnias de Paul W.S. Anderson, especialmente pela perda de um diretor mais hábil enquanto realizador que o marido de Milla.

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