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  • Critica | Polar

    Critica | Polar

    Filme original Netflix, Polar conta a história de um assassino aposentado, um sujeito implacável que só quer ser deixado em paz, mas que ainda aceita alguns poucos trabalhos. A história que Jonas Akerlund conta começa com um grupo de assassinos de aluguel, formado por Sindy (Ruby O. Fee), Karl (Robert Maillet), Facundo (Anthony Grant), Alexei (Josh Cruddas), Hilde (Fei Ren) assassinando Johnny Knoxville, que faz o personagem Michael Green, cujo pecado foi estar velho e ter tomado a decisão de se aposentar.

    Não demora a aparecer Duncan Vizla, o Black Kaiser, que é interpretado por Mads Mikkelsen, que se consulta com um médico para ver se ainda está bem. Antes mesmo do lançamento, muitos comparavam este filme com De Volta ao Jogo é John Wick: Um Novo Dia Para Matar por conta das semelhanças narrativas, como se não houvessem obras anteriores com a mesma premissa – Busca Implacável e Marcas da Violência por exemplo – e até posteriores, que inclusive tem o mesmo estilo de filmagem, mais parecidas que essa, caso de Atômica e A Justiceira com Jennifer Garner.

    Outra grave diferença entre este e a criação de David Leitch e Chad Stahelski é a diferença de tom enquanto um emula a estética de revistas em quadrinhos adultos como Cem Balas, Polar tem um tom parodial é quase cartunesco, em alguns pontos lembra as cores gritantes do filme de Warren Beatty Dick Tracy, que também adapta quadrinhos. Essa violência extrema também está no material original que Victor Santos lançou pela Dark Horse, mas claramente Akerlund gosta de referenciar outras adaptações de quadrinhos para a sétima arte.

    Tudo no roteiro de Jayson Rothwell é tão irreal que é impossível se levar a sério. Mesmo quando retratam a vida de uma prostituta que Duncan se relaciona se nota um enorme exagero, pois ela atende em casa, com o filho tendo livre acesso ao quarto onde ela faz sexo e ela vai colocar ele na cama após transar e sem roupa. A intenção é ser engraçado mesmo, tanto que quando a violência é mostrada, sobretudo com os quatro assassinos do esquadrão, é sempre tão artificial que o impacto do sangue jorrando é perdido, se assemelhando de certa forma aos desenhos Looney Tunes, Pica Pau, Tom e Jerry, quase como um Comichão e Coçadinha live action, lembrando um pouco o filme com Clive Owen Mandando Bala, de 2007.

    Ao menos no quesito mortes, o filme acerta demais, e ele não tem dó em descartar personagens secundários cedo, mesmo os mais cools entre eles. A questão é que algumas subtramas fazem pouco ou nenhum sentido diante da galhofa que o filme se torna, e após uma hora de filme há claramente uma barriga, que prejudica muito o filme, tornando ele enfadonho. Quase tudo que envolve a tortura de Blut (Matt Lucas) e o acréscimo de Camille (Vanessa Hudgens) é fraco, não soando tão divertido quanto o restante, e as curvas finais tem esse mesmo tom. Até há possibilidades e abertura para ocorrer continuações  a partir daqui, mas Polar é divertido na maior parte do seu tempo, e se uma sequência seguir no mesmo ritmo deste final, certamente será algo pouco memorável.

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  • Resenha | A Rica Indecente (Vertigo Crime)

    Resenha | A Rica Indecente (Vertigo Crime)

    A Rica Indecente - Azzarello

    A fantasia de Richard Junkin começa por seu passado, um tempo somente citado pela memória história de Brian Azzarello. O clima noir é cortado pela narração em primeira pessoa, exibindo luxúria e desgosto pela atual rotina, distante demais dos tempos áureos de quando o personagem tinha uma promissora carreira esportiva a queimar.

    A chegada ao local de trabalho é melancólica. Segue-se uma reprimenda que o afasta das imagens sexuais e o faz retornar ao seu lugar de direito, como um capacho, péssimo vendedor que era. Seu patrão Helm Soeffer pede para que ele se exiba para um possível cliente, um fã ávido por futebol americano que narra as marcas e recordes que ele tinha no desporto, esmagando sua moral em virtude do seu presente. O joelho, peça quebrada em sua equação, é tão esfolado e esmigalhado quanto sua alma, quebrada, sem uso, somente funcional para a sustentação de um homem que tão cedo já se vê como um alguém decadente, que vê na esbórnia um modo de aplacar sua depressão.

    A cercania de Junk é formada por indivíduos medíocres e sem planos muito elaborados além das banais vendas de carros para suburbanos. Isso faz com que o protagonista piore sua perspectiva de existência, afirmando que a vida parece não lhe reservar mais qualquer coisa. A propensão para o suicídio parece querer saltar de seus lábios antes mesmo do chamado à aventura. Após quase ser demitido, Junk tem mais uma chance de se redimir, sendo designado para um inglório serviço: cuidar da mimada (e boêmia) Vicki, que mais frequenta as páginas de coluna social do que qualquer outra roda de conversa, o que claramente atrapalha as vendas da concessionária.

    A missão de Junkie é a de evitar que Vicki seja matéria da imprensa e para que ela não se meta em apuros ou indiscrições. As ordens dadas por seu pai exibem as baixas expectativas do personagem em relação a uma mudança de comportamento da garota. Ao frequentar a primeira das baladas de Vickie, o encarregado esbarra em algo que odeia; todo aquele cenário repleto de subcelebridades e personagens presentes em colunas de fofoca exalavam futilidade e vazio, e eram exatamente da parte informativa do jornal que ele propositalmente ignorava, ainda que não pudesse negar o conhecimento da identidade de algumas delas. De todas as socialites, Victoria se destacava por ser herdeira do maior negócio de carros do nordeste estadunidense, e também por sua persona.

    A mulher fatal acumula o papel como alvo da proteção do anti-herói. A principal tentação aos olhos e tato de Junkie dentro de sua jornada é a moça, que teima em praticar suas indiscrições e ainda se exibir a ele, mostrando seus dotes que se distanciam da figura de menina pintada por seu pai. Os encantos da moça excedem o arquétipo de ninfeta e de presa sexual para apresentar uma manipulação mental atroz em que se reúnem o senso de proteção e o desejo por sua carne, como se ambas as sensações fossem sinônimas, o que acaba saindo do campo de ideias para invadir a realidade.

    O desenho de Victor Santos consegue exibir a violência de modo simples e bastante gráfico. O realismo do asfalto é bem enquadrado, permitindo ao leitor uma imersão quase impenetrável.

    Uma gangorra de emoções, Junkie dá vazão ao seu desejo, servindo aquela a quem deveria proteger em instâncias bem maiores que sua obrigação contratual. A vontade em prosseguir usufruindo do corpo da moça o embevece, deixando-o cego ante os desejos de Victória e perdendo o critério ao vê-la ferida. Mesmo os seus instintos básicos eram enganados. Os atos finais mostram o papel subalterno que ele escolheu para si, evidenciando uma ilusão travestida de auto-engano. O engodo interno criado para que a sensação de rejeição e certeza de estar sendo usado caracteriza-se por sensações aplacadas numa tentativa pobre e fracassada de fechar os olhos para realidade, inventando uma nova para si mesmo.