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  • Crítica | O Pequeno Dicionário Amoroso

    Crítica | O Pequeno Dicionário Amoroso

    Pequeno Dicionário Amoroso 1 A

    Começando por uma paródia dos filmes de tribunal, a brincadeira em forma de longa-metragem O Pequeno Dicionário Amoroso representa o que deveria ser as comédias românticas, falando de forma leve de coisas graves, como a solidão.

    Com um estilo direto, mesmo dentro da proposta ensaísta de Sandra Werneck, que mistura documentário em formato de entrevistas com uma típica trama de romance, por vezes é refém no melhor dos sentidos do formato do filme. As personagens escolhidas pelo roteiro de José Roberto Torero e Paulo Halm para exemplificar as etapas do processo de paixão, sedução e sexo são Gabriel (Daniel Dantas) e Luiza (Andreia Beltrão), um carente casal que tem um encontro casual num cemitério, e que a partir deste lugar improvável começa uma estranha relação de mútuo querer, abarcando a questão sobre a identidade de quem seria a caça e quem seria o caçador.

    A estratégia de contar as etapas do convencimento amoroso por nomes e eufemismos de sensações inerentes ao comportamento humano e aos reflexos sexuais é uma das melhores

    As expectativas são mostradas gradativamente e sob uma ótica inteligente que privilegia nuances e sentimentos comuns, com uma estética que foge da obviedade e dos lugar comum dos romances populares, apelando para alguns clichês, mas sem abusar desses bordões, como se não houvesse o que explorar fora isso. A discussão a respeito das diferenças entre os órgãos genitais é bastante singela, apelando para diferenças e adjetivações que contêm bastante conteúdo sacana, mas que passam longe de qualquer vulgaridade que pudesse por ventura afastar quaisquer parcelas de público.

    Luiza e Gabriel passam por todas as etapas comuns de uma relação duradoura, tocando em detalhes de alguns namoros/matrimônios efêmeros, inclusive a fase decadente que envolve a proximidade do rompimento, levando poesia a esses momentos, com saídas inteligentes de roteiro e tiradas que claramente não condizem com o típico humor escrachado e bobo que predominava nos anos 1990. A melancolia presente no iminente fim é conduzida de um modo bastante sensível e cabível mesmo dentro da inusual proposta.

    A sensação de estar adentrando em uma peça dramatúrgica traz um frescor na comum filmografia brasileira da época, que infelizmente foi pouco imitada. O Pequeno Dicionário Amoroso flagra momentos de absoluto arroubo criativo no retratar dos amores perdidos e achados, de representar belamente o romantismo e a desilusão, reunindo grande parte das sensações que inevitavelmente habitam o ideário de homens e mulheres apaixonados e desolados, assim como os românticos incorrigíveis.

  • Crítica | O Pequeno Dicionário Amoroso 2

    Crítica | O Pequeno Dicionário Amoroso 2

    O Pequeno Dicionário Amoroso 2 A

    Dezesseis anos após o episódio original, O Pequeno Dicionário Amoroso 2 se inicia em um ambiente semelhante ao mostrado no primeiro, se valendo do pesar do luto para, mais uma vez, reviver sentimentos constrangedores e inexoráveis para os românticos. Sandra Werneck retorna à direção, somando forças com o co-realizador Mauro Lima, que reúne em si uma inspiração para contar dramas não vistos em sua filmografia desde Meu Nome Não é Johnny, sendo da parte dele uma boa parcela do mérito em retratar as tramas mais joviais.

    O roteiro de Paulo Halm, Rita Toledo e Werneck se vale novamente da química entre Gabriel (Daniel Dantas) e Luiza (Andrea Beltrão), que seguiram suas vidas, e que se encontram em pontos decadentes de suas atuais relações. A inquietude e insatisfação os fazem se reunir novamente em torno do saudosismo de uma relação que já havia se provado fracassada, mas que ainda assim é aludida graças a teimosia e a vontade de amar que ambos carregam. Ao mesmo tempo, o argumento faz troça com a modernidade, mostrando as gerações futuras lidando com seus próprios dramas, ainda que o cunho interessante esteja no casal primário.

    O desafio de Werneck era não repetir todo o formato do primeiro filme, e apesar de manter inúmeros aspectos inalterados, como as passagens de tempo que aludem as sensações e frustrações comuns ao viver, a fórmula de falar diretamente ao público é quebrada, sem grandes danos para a estrutura narrativa, já que o artifício abandonado pouco combina com a atual forma de contar uma história no cinema. A coragem dos realizadores proporciona um filme enxuto, interessante, que discute muitos temas sem deixar as pontas mais importantes soltas.

    O repaginar da temática é feito de modo delicado, com o esmero e cuidado que um artesão tem em retomar a sua obra-prima. O conjunto de eventos mostrados demonstra erros, acertos e atos comuns a todo e qualquer ser que precisa amar para se sentir completo. A complexidade do homem não precisa ser obviamente apontada como um aspecto único da espécie, já que isso já foi estabelecido antes, mas ao contrário: o texto não é condescendente com o expectador, algo bastante incomum dentro do mainstream do circuito de cinema brasileiro.

    Os planos fechados e closes ajudam a salientar a condição de hereditariedade presente no comportamento dúbio e não certeiro de Alice (Fernanda Vasconcelos), que repete as mesmas cismas de indecisão do pai. As falas somente fazem alusão ao que o visual já prevê , mas não cai no erro de ser redundante.

    O desfecho causa espanto, especialmente por não temer contorcer paradigmas e verdades ditas absolutas, tanto no gênero romance quanto nas comédias românticas. As mensagens compartilhadas pelas personagens têm sobriedade em demasia, não pecando sequer pelo excesso, mesmo quando se foge das convenções que costumam sagrar o matrimônio como a epítome do final alegre. A busca eterna pela felicidade não necessita ajustes moralistas para ocorrer, tampouco formulários de banalidade. Necessita-se somente de disposição para viver e de indisposição para reprisar os mesmos erros pretéritos, e em O Pequeno Dicionário Amoroso 2 a comunicação é praticamente perfeita entre interlocutor e receptor, sendo fluída do início ao desfecho.

  • Crítica | Sonhos Roubados

    Crítica | Sonhos Roubados

    sonhosroubados

    Já dizia o filósofo alemão do século XIX, Nietzsche: Nada lhe pertence mais que seus sonhos.

    Filosofias à parte, o simples bater das asas de um beija-flor, atravessa, de repente, a trajetória de qualquer um de nós, e parece arremessar, para longe, sonhos que começamos a esculpir, transformando-os em fragmentos de desilusões e desânimos.

    No entanto, apesar do que possa parecer através do título, Sonhos Roubados é um filme brasileiro que fala da capacidade em manter intactos nossos sonhos, por mais que a vida insista em querer desbotar suas cores. Eles se mostram presentes na sutileza de um shampoo roubado, do retoque do batom sob o reflexo de uma tampa, do desejo de um mp3, de um jeans provado na loja da periferia, ou no prazer do frenesi do baile funk e da serena brisa na areia da praia.

    A diretora, Sandra Werneck, insiste mais uma vez em explorar o avesso dos núcleos sociais, como fez com os seus documentários. Já premiada pelo filme Cazuza – O Tempo Não Para (2004), nacional e internacionalmente, e antes desse, com Amores Possíveis, de 2001, como Melhor Filme Latino-americano, no Sundance Film Festival, Werneck arrebata, com Sonhos Roubados, o prêmio do júri popular no Festival do Rio de 2009. Ainda por este filme, o trio que protagoniza a história, Nanda Costa (Jessica), Amanda Diniz (Daiane) e Kika Farias (Sabrina), divide o prêmio Biarritz de Melhor Atriz, em 2010.

    Nanda Costa está, mais do que impecável, vibrante, quando mergulha em todos as nuances de uma garota que encara a prostituição com absoluta naturalidade, já que esta atividade se mostra como a única forma de cuidar do seu avô e de sua filha. É assim que Jéssica acaba conhecendo o presidiário Ricardo, que marca a estreia, como ator, do rapper MV Bill.

    Também em torno de uma dinâmica que visa a realização de sonhos, sejam eles de sobrevivência ou de consumo (mas que fazem parte do universo das favelas e de tantas outras garotas no mundo todo), Diane e Sabrina se dispõem a ganhar alguns trocados como pagamento de “favores”.

    Baseado em um livro da jornalista Eliane Trindade, que conta a história de seis adolescentes, Sonhos Roubados não economiza na qualidade dos intérpretes, e nos presenteia com as ótimas atuações de Marieta Severo (que já havia trabalhado com Werneck, em Cazuza), Daniel Dantas, Nelson Xavier, Ângelo Antônio e mesmo do estreante Bill.

    Ainda que a realidade das comunidades carentes se apresente como tema que vem sendo abordado pelos cineastas brasileiros, essa obra nos traz a cadência, a vaidade, a garra e a fragilidade de um universo feminino, visto pelo mesmo olhar, com honesta humanidade. Sonhos Roubados veste-se de uma leveza que suspira o lado dramático da precocidade da vida das três meninas, sem permitir que a alegria de viver as pequenas (talvez imperceptíveis aos olhos dos outros) conquistas, e o direito de sonhar, lhes seja roubada.

    Devo confessar que notei uma certa negligência na elaboração dos diálogos. Mas então me pego pensando: e precisa? Afinal, não é assim mesmo (despreocupada, instável e intolerante a desperdícios) a linguagem de quem se debate entre a necessidade de amadurecer e a secreta vontade de conservar a meninice? Não podemos “ler” nos gestos, nas expressões e nos caminhos traçados, tudo aquilo que não é falado?

    Texto de autoria de Cristina Ribeiro.

  • Agenda Cultural 02 | Loucas na Gaiola, Duelo de Aliens e um Coelho Branco no Fim do Mundo

    Agenda Cultural 02 | Loucas na Gaiola, Duelo de Aliens e um Coelho Branco no Fim do Mundo

    We’re back! Segunda edição da Agenda Cultural com Flávio Vieira (@flaviopvieira), Amilton Brandão (@amiltonsena) e Mario Abbade (@fanaticc), se reúnem para comentar tudo o que está rolando no circuito cultural dessa semana, com as principais dicas em cinema, teatro, quadrinhos e cenário musical. Não perca tempo e ouça agora o seu guia da semana.

    Duração: 44 min.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira

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