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  • Resenha | Superman 80 Anos: Action Comics Especial

    Resenha | Superman 80 Anos: Action Comics Especial

    Em junho de 2018 a revista norte-americana Action Comics atingiu a incrível marca de mil edições além de completar 80 anos em que o Superman surgiu em suas páginas, já no primeiro número. a DC Comics então a publicou como uma edição especial comemorativa, com mais páginas e histórias que o habitual, com muitas capas variantes feitas por diversos artistas que trabalharam com o personagem ao longo dos anos. Pouco tempo depois, em dezembro do mesmo ano, a Panini lança no Brasil Superman 80 Anos: Action Comics Especial, que seria a versão nacional de Action Comics #1000.

    Em 132 páginas e capa cartão com reserva em verniz, a edição embora histórica não apresenta nada muito importante ou novo. Logo de cara, vemos a republicação da primeira história história do herói, vista em 1938 na lendária Action Comics #1, que é um tanto confusa por começar da metade da história (apenas um ano depois, em Superman #1,  a história seria reeditada de forma correta). A seguir começam as histórias inéditas do volume, sendo a primeira delas escrita e desenhada por Dan Jurgens – veterano do meio que vem trabalhando com o Azulão desde os anos 1990 – e mostra um evento em Metrópolis em homenagem ao Superman. É estranho ver a reação de Clark, que mesmo após tantos anos não se sente confortável nessa situação. Era de se supor que ele já estivesse acostumado e entendesse principalmente o quanto esse reconhecimento é importante para as pessoas de Metrópolis. Jurgens mantém seu belo traço, embora em alguns momentos pareça bastante apressado e cometa alguns deslizes, típico das vezes em que o autor acumula as funções de desenhista e roteirista.

    A terceira história é interessante por se valer de diversos pin-ups de página inteira, retratando diferentes épocas e visões do Superman, para costurar uma história em que Kal-El enfrenta o vilão Vandal Savage através do Hipertempo. Peter J. Tomasi engana bem no fim das contas, e a miscelânea acaba parecendo uma história bem construída, mesmo quando as imagens não conversam entre si e dependem exclusivamente do texto para fazer algum sentido dentro da trama. Mesmo assim, os desenhos de Patrick Gleason são muito bonitos e conseguem emular de forma satisfatória os diferentes períodos que retratou.

    Em seguida temos mais algumas histórias curtas, sendo que uma delas utiliza-se da arte de Curt Swan para uma remontagem inédita. Na história de Loise Simonson e Jerry Ordway temos o exato clima dos anos 1980, na fase logo após a saída de John Byrne do título do personagem. Temos também uma história sobre o carro verde que ilustra a icônica página da primeira edição e algumas histórias mais intimistas, que explora a psiquê do personagem e uma divertida aparição de Sr. Mxyzptlk de Paul Dini e José Luis García-López.

    A parte mais esperada da edição é a estreia de Brian Michael Bendis no roteiro da última história, que pareceu bastante jogada na edição. Começa já no meio e termina antes do fim, mas deixa ao leitor um aperitivo do que há por vir na nova minissérie O Homem de Aço – que seria publicada nas revistas mensais do personagem por aqui.

    Fechando a edição, uma galeria com todas as capas variantes lançadas nos Estados Unidos. Infelizmente, falta material adicional e a revista não parece estar ao alcance da importância da sua marca histórica. A redação brasileira da Panini se limitou a colocar um selo de 80 anos na capa. A edição vale mais pelos pin-ups e fac-símiles das capas do que pelas histórias em si, mas ainda é uma edição histórica que fãs e colecionadores não podem deixar de fora.

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  • Resenha | Dinastia M

    Resenha | Dinastia M

    Quando Brian Michael Bendis assumiu o título dos Vingadores em 2004, havia a intenção de trazer um novo vigor para Os Maiores Heróis da Terra. Ao invés de reestruturar aos poucos cada elemento que considerava dissonante, fez da saga A Queda uma mudança radical para a equipe, promovendo a dissolução do grupo.

    Conforme compunha sua fase, o roteirista selecionou diversos heróis do panteão da Marvel para se tornarem representantes chaves em suas tramas. Na revista Os Novos Vingadores, como no primeiro arco, Motim, selecionou tanto pesos pesados queridos do público, como Wolverine e Homem Aranha, como heróis que realizavam pequenas participações especiais em poucos arcos, como Luke Cage e Sentinela. Com liberdade criativa tanto em seu título quanto para fundamentar uma linha narrativa em parceria com outros roteiristas, parte do Universo Marvel se alinhava em boas tramas.

    Dinastia M foi a primeira saga do autor ao envolver o universo como um todo. A motivação da trama segue os acontecimentos da saga A Queda que revelou uma desequilibrada Feiticeira Escarlate como a responsável pelo pior dia dos Vingadores, e também pelo fim do grupo. Levada pelo pai, Magneto, a Genosha para que Charles Xavier ajude-a a retomar o equilíbrio mental. Até que o próprio Professor X desaparece e uma equipe formada tanto por X-Men como Vingadores vão até o local investigar.

    Abordar a Feiticeira Escarlate, seus poderes mutantes de manipular a realidade e sua instabilidade emocional não é um fato inédito em sua trajetória. Composta com uma infância traumática, nascida como vilã na Irmandade de Mutantes e decidida a fazer o bem ao lado dos Vingadores, a heroína já havia manipulado a realidade para dar origem a dois filhos gêmeos que se revelaram fragmentos da alma do demônio Mephisto. Devido ao trauma, teve a mente apagada para não lembrar desse fato e, por isso, sempre teve períodos de instabilidade mental. Ao se descontrolar na saga A Queda, surgia uma nova preocupação para os heróis: como lidar com uma heroína poderosa mas instável?

    A trama de Dinastia M parte de um universo em que a realidade foi reconstruída. Mesmo que o tema tenha sido abordado em outras histórias, principalmente nos X-Men com o incrível Dias de um Futuro Esquecido ou no massavéio A Era do Apocalipse, a trama evita apresenta um O Que Seria Se… situando os heróis em um mundo diferente mas que reconhecem que há algo errado.

    Embora a narrativa se contenha na própria mini-série, lançada na época em sete edições e depois relançada em encadernado, tanto pela Panini Comics como na Coleção Marvel Graphic Novels da Salvat, algumas revistas mensais apresentaram uma história nesse mundo reconstruído em que os heróis vivem seu mundo dos sonhos. Mesmo que a temática seja repetida, devido a tensão desde o fim dos Vingadores, é notável como cada divergência em cena causa uma tensão maior. Acontecimentos que culminariam em um futuro próximo na saga Guerra Civil.

    Como fator comum em muitas sagas ou mega sagas dos heróis, há dois acontecimentos reveladores nesta série. O primeiro se apresenta ao descobrirmos quem foi que incentivou Wanda a manipular a realidade para esta projeção perfeita. A segunda, diante da tensão da Feiticeira e de todo o ódio com a humanidade, promove mais uma modificação no universo quando a Feiticeira decide que o mundo não precisa mais de mutantes, deixando apenas 118 deles ilesos ainda com seu gene X. Possibilitando que as revistas do X-Men discutam sobre a própria sobrevivência mutante.

    Mesmo trabalhando um tema visto em tramas anteriores, a série apresenta mais um passo estrutural de condução da Marvel na época, tanto iniciando novas fases para grupos distintos como apresentando as tensões de herói contra herói que pontuou a tônica de reconstrução do Universo Marvel a partir de Bendis e seus Vingadores nesse primeiro momento.

    Compre: Dinastia M (Marvel Deluxe).

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  • Review | Powers – 1ª Temporada

    Review | Powers – 1ª Temporada

    powers-posterMisturando elementos de seriados recentes como True Blood, mostrando seres fantásticos como parte do cenário social mundano e comum, e trabalhando a premissa do quadrinho anárquico The Boys, sobre o “controle” das ações de homens super-poderosos, Powers é uma série que reúne elementos dissonantes, se localizando entre a temática adulta e uma proposta jocosa do ideário dos vigilantes encapuzados e coloridos.

    A rotina mostra Christian Walker (Sharlto Copley), um ex-vigilante mascarado, e agora policial, cuidando dos mesmos arquétipos dos quais antes fazia parte, já que em algum ponto de seu passado perdeu as super-habilidades que tinha. Na sua rotina há uma clara reprimenda e autocrítica por não mais ter acesso às antigas habilidades, além de viver uma clara sensação de impotência. No entanto, essas sensações conflitantes são diluídas por uma carga humorística que não funciona perfeitamente na tradução televisiva.

    O programa é baseado na HQ homônima, de Brian Michael Bendis (roteiros) e Michael Avon Eoming (desenhos). A publicação da Marvel foi lançada pelo selo Icon – sendo esta a mesma divisão que dá vazão a histórias mais autorais como Kick Ass, de Mark Millar – e durou 78 edições, contendo alguns elementos chaves em comum com a série. A produção da Playstation Originals acaba por flertar com a comédia graças a sua fraca realização, só resultando em comicidade por fatos involuntários.

    Christian recebe a ajuda de Deena Pilgrim (Susan Heyward), uma novata agente da lei que o acompanha nas inúmeras aventuras envolvendo cenas em CGI de gore cujo amadorismo se assemelha aos filmes B dos anos 1990. As demonstrações dos poderes dos coadjuvantes assustam a moça, talvez não pela condição de civil em meio a um mundo onde seres tão poderosos convivem com humanos, mas sim pelas estranhas manifestações multicoloridas, que lembram os efeitos visuais das publicações de revistas com CD-Rom comumente vendidas nas bancas de jornais na década retrasada.

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    O mote do seriado envolve além do controle das ações públicas dos superseres,  mas também o roubo de poderes do antigo alter ego de Walker (chamado à época de Diamon), que é realocado para a divisão policial especializada de Los Angeles. A interação pessoal, que deveria garantir empatia, soa falsa, pois não é construída de modo minimamente satisfatório. A recusa do personagem em ter um novo parceiro não é original, pois já existia nos anos 1970, como em Dirty Harry, por isso não em é cabível em uma proposta séria como Powers. A outra tentativa de tornar a trama madura, com o advento da droga Sway, que aumentaria os poderes dos seres super-poderosos, é mostrada de modo muito genérico, não causando qualquer impressão maior em seu público.

    O desenrolar dos fatos ocorre a partir deste ponto, com Copley tentando dar vida a um personagem que não funciona graças à bidimensionalidade do roteiro mal adaptado e às situações grotescas que lhe ocorrem. A trama também conta com as ações fundamentais de Jonny Royalle, interpretado pelo prolífico ator Noah Taylor, que coleciona momentos vergonhosos, a começar por sua voz forçadamente rouca e bigode falso, nos poucos momentos em que a dramaturgia é exigida. A trama em modo “teoria da conspiração” parece vir a partir dele, que é um teleportador, já que é Royalle a peça chave na rede de relações com a maioria dos personagens, do futuro e do passado, incluindo a antiga alcunha de Walker e a ex-namorada do protagonista, Retro Girl (Michele Forbes). Sobra também a Royalle a intimidade com a figura de antagonismo, ainda que ele também vista a máscara de vilão em alguns pontos, diferenciando somente por sua afeição gratuita por Calista (Olesya Rulin), uma personagem basicamente inútil, que tem uma motivação tão vazia quanto suas funções dramáticas, já que está lá basicamente para acreditar que tem algum poder, mesmo sem sofrer manifestações, além de estar em apuros quase sempre.

    O ponto de cisão ocorre graças a Wolfe (Eddie Izzard), um ser que no passado servia de inspiração para Powers mais novo, e que está encarcerado graças a seus crimes de canibalismo, evidentemente sérios demais para serem simplesmente ignorados. O carisma do personagem faz acreditar que sua história será bem contada, fato que não ocorre, já que o tempo dispendido para isso é ínfimo, principalmente em comparação com os momentos em que ele consegue fugir da prisão – fato que ocorre no plural, em menos de dez episódios – e nos quais o ator veterano é posto para desfilar semi-nu, de cabelos longos e quase sempre molhados, exibindo uma forma rotunda que deveria causar medo, ainda que só motive risos. Cenas risíveis como as que está drenando humanos e Powers genéricos, com direito a muito sangue digital e gritos de horror, fazem lembrar a reação do espectador ao vê-las em tela.

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    A ideia de inverter paradigmas e mostrar uma versão de um mundo onde seres magnânimos existem pela ótica de quem é tradicionalmente marginalizado – a saber: viciados em drogas e contraventores – é interessante e está no cerne do gibi. O problema na adaptação da Playstation Network foi não adequar os termos para um modelo midiático tão diferente das páginas de quadrinhos, cuja textura precisa ser menos caricata.

    A ligação da origem da droga à figura de Wolfe seria interessante se todo o entorno fosse trabalhado de maneira mais contextualizada, fato que não ocorre. A descrença do espectador é a mesmo do público que assiste ao show beneficente feito pela Retro Girl e mais um personagem famoso/genérico. Vendo a morte no palco, repete, incrédulo: “é real”, como se precisasse se beliscar para descobrir se aquilo realmente ocorria ou não, de tão mal trabalhados, tanto o suspense quanto o mote heroico.

    Depois da segunda fuga de Wolfe, há finalmente um enfrentamento da criatura com seus opositores heroicos, que, como era esperado, termina de modo anticlimático, confuso e decepcionante, além de muito breve, deixando um bom pedaço do décimo e último episódio da temporada. Sobra, assim, um grande espaço para algumas inutilidades serem exploradas somente para resultar em um momento final com um fraco cliffhanger.

    Powers possui ideias iniciais até interessantes, mas é conduzida de modo bastante atrapalhado, repleto de clichês e situações constrangedoras, fruto talvez da pouca experiência de seus realizadores, e só possui bons momentos em alguns insights de Noah Taylor, mesmo que o roteiro não permita de modo recorrente. A segunda temporada estreou em maio de 2016 com esperanças esgotadas de melhora, ao menos segundo os que acompanham o drama de Walker.

  • Especial | Demolidor

    Especial | Demolidor

    Demolidor Especial

    Criado por Stan Lee e Bill Everett, Demolidor, O Homem Sem Medo, fez sua estreia em abril de 1964, em Daredevil #1, e desde então, permanece como um dos principais personagens urbanos da editora. Na época de seu lançamento, o personagem se destacou entre as diversas criações da Marvel ao escolher como alter-ego um homem cego, conquistando leitores e ganhando status de representante dos leitores cegos que o admiravam pela força de superar problemas.

    Representante da faceta urbana do estúdio, Demolidor é um herói solitário. Trabalha sempre a favor da Cozinha do Inferno e raramente participa de grandes grupos. Um isolamento que proporciona um senso de urgência em suas histórias. Alguns períodos se destacam em sua trajetória, entre eles as fases de Frank Miller e Ann Nocenti, responsáveis por desenvolver bases importantes para a personagem, como também outros roteiristas como Brian Michael Bendis, Ed Brubaker, Karl Kesel, DG Chichester e Kevin Smith desenvolveram uma visão realista da personagem em tramas que situavam tanto o herói quando o alter ego Matt Murdock. Em seguida, coube a Mark Waid dar um novo tom ao personagem, em uma elogiada fase que voltava a uma faceta aventureira e mais bem-humorada que remetia as fases  clássicas de Marv Wolfman e Gerry Conway. O Homem Sem Medo se mantém coeso, com grandes momentos nos quadrinhos.

    Quadrinhos

    (1964 – 1965) Biblioteca Histórica Marvel: Demolidor – Volume 1
    (1979 – 1971) Demolidor – Por Klaus Janson e Frank Miller – Volume 1
    (1981 – 1982) Demolidor – Por Klaus Janson e Frank Miller – Volume 2
    (1993) Demolidor: O Homem Sem Medo
    (2001) Demolidor: Amarelo (Jeph Loeb e Tim Sale)
    (2001) Demolidor: Revelado (Brian Michael Bendis e Alex Maleev)
    (2004) Mercenário: Anatomia de Um Assassino
    (2009) Demolidor Noir
    (2011) Demolidor #1 (Mark Waid)
    (2011) Demolidor #2 (Mark Waid)
    (2011) Demolidor #3 (Mark Waid)
    (2012) Demolidor – Fim Dos Dias

    Filmes e Seriados

    (2003) Demolidor – Versão do Diretor
    (2015) Demolidor 1ª Temporada
    (2017) Os Defensores 1ª Temporada
    (2018) Demolidor – 3ª Temporada

    Podcasts

    VortCast 05 | Filmes da Marvel
    VortCast 22 | Ben Affleck
    Agenda Cultural 53 | Angeli, Demolidor e Guerra Mundial Z

  • Resenha | Demolidor: Revelado

    Resenha | Demolidor: Revelado

    Demolidor - Revelado - Panini Comics - CapaQuando a primeira série de Demolidor (Daredevil Vol. 1) foi cancelada em Outubro de 1998, A Marvel encerrava uma revista que passara por fases áureas, marcadas desde a concepção de Stan Lee até a fase clássica e definitiva de Frank Miller. No mês seguinte deste, foi iniciado um segundo volume. Kevin Smith desenvolveu o começo de uma das revistas mais coesas do estúdio em uma trama que colocava a fé de Matt Murdock em xeque. Em seguida, David Mack levou ao extremo o conceito gráfico dos quadrinhos e ainda criou Echo, uma personagem em contraponto com Demolidor, interpretações distintas de alta qualidade.

    Quando Brian Michael Bendis assumiu o roteiro da revista, o autor ainda não havia começado suas modificações estruturais diante dos Vingadores e se dedicou ao Homem Sem Medo pela afinidade anterior como leitor. Relançado pela Panini Comics em edição de luxo, Revelado apresenta o primeiro volume da fase de Bendis ao lado do desenhista Alex Maleev. Reunindo as edições #26 a #40 de Daradevil Vol. 2, uma reedição que, devido ao sucesso no país, receberá um segundo encadernado de três lançados no exterior contendo toda a fase da dupla.

    A boa base desenvolvida por Smith e Mack nesta nova fase do herói permitiu que Bendis iniciasse sua longeva passagem pelo título em alta potência, implodindo conceitos base de suas personagens centrais. O Rei do Crime é assassinado em um plano de traição por parte de um novo integrante de seu grupo, encerrando, a princípio, o legado de um dos grandiosos vilões de Demolidor. Ao mesmo tempo, a identidade de Matthew Murdock é revelada pela imprensa.

    Sem apelar para novos personagens para causar um conflito, o argumento parte da concepção da identidade para promover sua narrativa. Um tema que se tornaria fundamental para sagas futuras da Marvel, discutindo o papel do herói dentro da sociedade. A morte do Rei do Crime e a revelação do alter-ego de Demolidor são dois pares contrapostos que simbolizam percepções destruídas; Para o vilão, a ruptura de sua visão invencível, destruída a facadas em um ato violento por seu próprio séquito; ao herói, a necessidade de optar por uma abordagem entre o advogado que vive sob a lei e o vigilante que a distorce. Atos que derrubam o status conhecido das personagens e, por consequência, atingem o leitor em cheio.

    O roteirista explora a faceta urbana da personagem e insere este conceito na condução narrativa com personagens realistas presentes no cotidiano da cidade, um efeito que projeta Demolidor em um universo levemente diferente daquele tradicional da editora. Os traços de Alex Maleev se encaixam com perfeição a esta visão, explicitando a sujeira da metrópole em uma palheta de cores sempre escura em que quase não há cores claras. Uma ambientação desolada que reforça a importância de Murdock como advogado e de Demolidor como herói.

    Além da inversão inicial do status dos personagens centrais da revista, o roteirista demonstrou que traçava a longo prazo um plano para Demolidor ao não transformar esta primeira história somente em uma trama de impacto para conquistar um novo público. Suas modificações iniciais causaram consequência para a personagem e elas foram exploradas em facetas diversas no decorrer de sua passagem pelo título.

    Demolidor: Revelado apresenta, além desta grande história inicial, uma trama em três partes, O Julgamento do Século, focado na faceta da personagem como advogado. Uma pausa necessária após uma mudança significativa e suficiente para explorar como a figura de Murdock se torna impopular devido a sua ligação explícita com um herói. Bendis e Maleev promoveram uma parceira perfeita, integrada entre roteiro e desenhos, em uma excelente história, marcada como mais um ponto alto do Homem Sem Medo.Demolidor - Revelado - 01

  • Melhores Leituras de 2015

    Melhores Leituras de 2015

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    Devido ao maior tempo dedicado a uma leitura do que assistir a um filme ou a episódios seriados de uma temporada, é natural que uma lista de Melhores Leituras seja um tanto anacrônica aos lançamentos. A isso soma-se o fato de que, ao encerrar 2014, planejei a leitura de alguns autores que desejava conhecer ou me aprofundar em suas obras, e assim chegamos às edições selecionadas abaixo como as melhores leituras do ano passado.

    Como não havia número suficiente para formatar uma única lista de livros, decidi pela abordagem mista ao introduzir e pontuar os bons quadrinhos lidos no ano. Neste aspecto, é evidente que foquei as leituras no eixo tradicional da Marvel/DC Comics, um aspecto que pretendo evitar este ano, realizando a leitura de outras obras mais autorais (possivelmente veremos esse impacto em uma futura lista deste ano, a ser publicada em 2017).

    Explicitando a falta de sincronia com lançamentos e formatos, a lista nem mesmo se ajusta à tradicional recomendação de dez itens selecionados. Mas sim doze obras, seis livros e seis HQs, para que nenhuma das boas leituras ficasse de fora. Algumas dessas indicações também foram analisadas no site logo após a leitura, dessa forma peço desculpas aos leitores por eventuais repetições de abordagem.

    Manual de Pintura e Caligrafia – José Saramago (Companhia das Letras)

    Manual de Pintura e Caligrafia - Saramago

    Narrativa de estreia do lusitano José Saramago – posteriormente, uma obra anterior seria lançada após sua morte – Manual de Pintura e Caligrafia é um vigoroso romance de estreia. O autor inverte a lógica sobre a carreira e descreve sua proposta literária logo no primeiro lançamento, contrariando manuais tradicionais de autores que sempre, em um estágio avançado da carreira, versam sobre o ofício. Misturando duas narrativas, a personagem atravessa a arte da pintura rumo à escrita, uma transição feita pelo próprio autor, transformando esta obra em um misto de metalinguagem e tese literária, ainda que os elementos narrativos que o consagraram ainda não estivessem presentes.

    Demolidor – Fim Dos Dias (Panini Comics)

    Demolidor - Fim dos Dias

    Inserido na série O Fim da Marvel Comics, Fim dos Dias é uma clara homenagem à trajetória do Homem Sem Medo. Sob a batuta de Brian Michael Bendis, a história leva Ben Ulrich a uma última reportagem quando os heróis perderam sua força como defensores. A equipe de primeira linha desenvolve uma história sem igual, simultaneamente apresentando grandes momentos e figuras de Demolidor ao mesmo tempo em que se configura como mais uma grande história de um dos personagens mais coesos do estúdio.

    Romeu e Julieta – William Shakespeare (Saraiva de Bolso, tradução de Bárbara Heliodora)

    Romeu e Julieta - Shakespeare

    Casal mais conhecido da dramaturgia de William Shakespeare, Romeu e Julieta são símbolo de amor universal, representado, transcrito e transformado em um amor perfeito. A peça considerada uma das mais líricas do autor é fundamental para destruir o conceito das personagens através dos tempos, evidenciando que o amor de dois adolescentes termina de maneira trágica devido ao frenesi impulsivo e a imaturidade. Versando com qualidade sobre a agressividade desse amor, o casal permanece no imaginário coletivo em uma bonita história trágica.

    Pantera Negra – Quem é o Pantera Negra? (Salvat / Panini Comics)

    Pantera Negra - John Romita Jr - destaque

    Anterior a modificações estruturais de personagens representativos de uma causa, a Marvel fundamentou, dois anos após a nova lei de direitos civis nos Estados Unidos, um personagem negro com uma bela mitologia. Erigido como um deus no coração de um país futurista na África, local que nunca cedeu a colonizadores, a concepção do Pantera Negra atinge versão definitiva na narrativa de Reginald Hudlin. Retomando conceitos de tradições africanas, T’Challa adquire simultaneamente uma história coesa e uma tradição tribal forte, tornando-se um importante e imponente personagem político no cenário da editora.

    O Silêncio do Túmulo – Arnaldur Indridason (Companhia das Letras)

    O Silêncio do Tumulo - Arnaldur Indridason

    Impressiona que em uma literatura normalmente considerada formulaica como a narrativa policial se possam desenvolver tantos estilos diferentes e histórias genuinamente interessantes a partir de um crime. Arnaldur Indridason compõe sua narrativa a partir de dois focos: a investigação de um esqueleto encontrado nas imediações da Reykjavík, Islândia e uma trama familiar sobre um pai abusivo. O leitor reconhece de imediato que as narrativas iram se entrecruzar e, mesmo enfocando tais tramas de modo diferente, o autor é capaz de mantê-las em um mesmo tom que, quando chega em seu ápice, desvenda o crime e revela um aspecto crítico sobre a condição social e psicológica que fomentou o assassinato. É a partir desta obra que Indridason alcança sua melhor forma.

    Gotham DPGC: No Cumprimento do Dever (Panini Comics)

    Gotham GPGC

    Ed Brubaker e Greg Rucka partiram de uma premissa interessante ao indagar como seria o contingente policial de Gotham City vivendo à sombra do Homem-Morcego. O resultado é uma revista que destaca personagens comuns vivendo em um cotidiano padrão, no qual a figura de Batman é vista com mística, sem explorar a personagem interiormente como em suas revistas mensais. A partir de dramas pessoais em meio a atentados e crimes de grandes vilões e bandidos comuns, a equipe de crimes hediondos de Gotham sobrevive diariamente nesta pesada rotina criminal. Com uma vertente narrativa genuína de histórias policiais, a equipe apresenta uma visão diferente deste universo tão explorado e querido do público.

    Here, There And Everywhere: Minha Vida Gravando os Beatles – Geoff Emerick e Howard Massey (Novo Século)

    Here There Everywhere - Minha vida gravando os beatles

    Na vasta bibliografia sobre The Beatles, dividida entre obras de jornalistas experientes, críticos renomados e personagens que pontualmente passaram pela carreira da banda, a biografia de Geoff Emerick é fundamental como uma figura de autoridade intrinsecamente ligada à banda. Responsável pela formatação da fase mais prolífica da carreira do quarteto, Emerick narra brevemente sua trajetória até conhecer a banda e nos brindar com informações daquilo que fizeram dos Beatles a banda por excelência: sua qualidade musical. Detalhes técnicos, informações e curiosidades são costuradas em uma prosa suave que nos coloca ao lado da intimidade do Fab Four sob a visão daquele que esteve acompanhando a progressão a cada ensaio e moldando o som da banda. A obra é prazerosa e nos aguça a ouvir de maneira diferente a discografia do quarteto.

    Superman – A Queda de Camelot (Panini Comics)

    Superman - A Queda de Camelot

    Publicada simultaneamente a outra grande saga de Superman, O Último Filho, esta Queda de Camelot é um longo épico dividido em duas partes. Conduzida por Kurt Busiek, um dos responsáveis pelas revistas do herói ao lado de Geoff Johns na época pós Crise Infinita no projeto Um Ano Depois. Trabalhando em linhas temporais de passado, presente e futuro, o autor cria uma história provável sobre um futuro apocalíptico ao mesmo tempo em que desenvolve o passado do vilão Arion e as crescentes ameaças do presente conhecido. O tamanho da série cria uma narrativa aventureira cíclica, composta de diversos ganchos e conduzida pela aventura, dando sequência à explícita homenagem a Era de Prata desenvolvida desde o primeiro arco de Um Ano Depois. Se O Último Filho é uma reflexão pretensiosa e fabular sobre passado e descendência, A Queda de Camelot faz da aventura o fio condutor.

    Dragão Vermelho – Thomas Harris (Record)

    Dragão Vermelho - Thomas Harris

    Um dos grandes vilões do cinema, Hannibal Lecter inicia sua trajetória nesta narrativa escrita em 1988. Thomas Harris explora com eficiência a psicologia de seu assassino e compõe um interessante laço entre o investigador Will Graham e o psicanalista canibal, o qual colabora no caso. Em um thriller psicológico aclamado por James Ellroy como um dos grandes livros do gênero, a história é pautada no desenvolvimento do caso e no suspense, demonstrando talento na composição narrativa ao criar densos personagens bizarros, inovando ao introduzir com esmero a mente criminosa em cena. Mais impressionante que esta trama é o fato do autor, após a sequência O Silêncio dos Inocentes, ter produzido duas obras sobre a personagem sem nenhum apelo e vigor equivalentes a esta obra inicial. Mesmo com uma carreira desequilibrada, Dragão Vermelho é uma narrativa impecável.

    Os Vingadores – O Mundo Dos Vingadores (Panini Comics)

    Vingadores - n 1 - Avengers World

    Responsável por assumir duas revistas dos Vingadores após oito anos sob comando de Brian Michael Bendis, Jonathan Hickman iniciava um novo ponto de partida para os Heróis Mais Poderosos da Terra, reconfigurando a equipe em sintonia com o novo processo editorial intitulado Nova Marvel. O Mundo dos Vingadores alinha novos e antigos personagens em uma renovada formação da equipe, ao mesmo tempo em que introduz novos vilões que seriam fundamentais para futuras sagas da editora. Sem medo da sombra do sucesso da passagem de Bendis, o arco é simultaneamente uma boa história como também funciona como um início para novos leitores.

    A Ditadura Envergonhada – Elio Gaspari (Intrínseca)

    Ditadura Envergonhada - Elio Gaspari

    Com intensa pesquisa em fontes diversas e uma prosa ensaística de primeira qualidade, Elio Gaspari produz uma das obras definitivas sobre a ditadura militar brasileira. Indo além da formalidade dos fatos, o autor insere um estilo narrativo próprio que aviva a época e os dramas dos conflitos vividos e seus delicados detalhes. Traçando um panorama da sociedade, observando tanto o movimento militar como os levantes contra o golpe, este é o primeiro volume de uma vasta obra sobre o período que, ainda este ano, ganha o último e definitivo desfecho.

    Batman: Cidade Castigada (Panini Comics)

    Batman - Cidade Castigada

    A saga Silêncio, anterior a Cidade Castigada, talvez tenha eclipsado a atenção voltada a esta história escrita por dois grandes parceiros: Brian Azzarello e Eduardo Risso. Se a anterior pretendia ser um grande épico em doze partes, apresentando diversões heróis e a galeria de vilões do Morcego, Cidade Castigada enfoca o Batman investigador em uma história mais eficiente e coesa que a de Jim Lee e Jeph Loeb. Gotham adquire contornos noir entre poesia e corrupção enquanto o roteiro foge de uma tradicional narrativa feita pelo morcego, acrescentando tanto uma reflexão erudita sobre a cidade quanto ampliando a limitação física do herói, sem contar uma improvável cena em que Bruce Wayne faz seu próprio jantar, desmitificando, com certo humor sem perder o tom sério da narrativa, os fatos cotidianos que o personagem, como um reflexo de um ser humano normal, executa todos os dias.

    Cidades de Papel - John GreenMenção Honrosa: Cidades de Papel – John Green. Considerando o público-alvo de sua narrativa, Green surpreende com uma história pontual sobre a transição entre a adolescência e o mundo adulto e uma percepção madura de um grupo de amigos. Um romance de formação que tem potencial para se tornar significativo no crescimento do leitor jovem.

  • Resenha | Alias

    Resenha | Alias

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    Comandado por Brian Michael Bendis, em uma das iniciativas adultas da Casa das Ideias através do selo que estreava Marvel Max, as histórias de Jessica Jones à frente do título Alias começariam viscerais, agressivas e maduras, já evocando palavras de baixo calão no primeiro quadro sequencial. A primeira interação de Jones com outros personagens estabelece quase todo seu ideário, como investigadora particular, sem freios na língua, de métodos violentos e intolerante a sexismos, fatores que fariam dela uma personagem interessantíssima e alinhada com o novo milênio.

    O trabalho que Jessica executa como detetive particular incorre segredos agressivos revelados, o que faz um dos seus clientes surtar com um ideário machista, tentando agredi-la a troco de nada. O fracasso de seu trabalho atual, tendo que lidar quase sempre com policiais de pensamento tacanho e tosco, e clientes tão grosseiros quanto o primeiro, faz ela se frustrar, fazendo até relembrar sua vida pregressa como agente que usava collant colorido com um pouco de arrependimento, ao contrário de seu discurso pseudo maduro.

    Entre devaneios, entregas sexuais intensas, dúvidas e tédio causado pela natureza de seu trabalho, Jones é franca em sua narração, explicando já no episódio primordial o modo  como opera suas procuras, destacando que gasta mais tempo verificando se o que o cliente fala é verdade do que realizando o trabalho pedido. Os desenhos de Michael Gaydos são um pouco inusuais para quem não está acostumado, ajudando a construir uma atmosfera que mistura a podridão de espírito e caráter, dos que habitam aquele sujo mundo, além de fazer preconizar a aura noir que faria da série algo único.

    O arco Codinome Investigações – nome também da agência autônoma da personagem – é interessante por estabelecer uma relação nada maniqueísta entre Luke Cage e Jones, envolvendo um sujeito que cede às tentações mesmo tendo um relacionamento solidificado. A confusão da moça em estar em uma convivência tão complicada faz com que não enxergue o óbvio, não tendo clarividência sobre a armadilha que a cerca. O aspecto visa gerar humanidade na personagem, mostrando-a como um ser falho.

    Apesar de algumas menções a heróis do mainstream da Marvel, como Capitão America e Matt Murdock, o enfoque é na construção da personagem, que brilha praticamente sozinha, em sua visão tão particular no ínterim da violência que ocorre na cidade de Nova York. Alias demonstra o quão rico é o universo utilizado pela Marvel, sem apelar para fórmulas fáceis, explorando os arredores do micro mundo dos super-seres, focando em quem vive à margem dessa fábula escapista, dando gravidade a esta parcela de seres.

    O segundo arco, Nível B, explora ainda mais a metalinguagem do mundo dos super-heróis, a começar pelo superado “trauma” da protagonista ao estabelecer contato com Carol Danvers, àquela altura detentora da alcunha de Miss Marvel. A partir dali, Jessica se sente mal por ter se envolvido com Cage, e a ainda recebe missões secundárias para encontrar o marido de uma mulher pobre e desconsolada. O alvo era Rick Jones, o sidekick e correspondente ao Forrest Gump do universo Marvel.

    Há uma profundidade em alguns pontos específicos da história que fazem sentir saudade da época em que Bendis escrevia mais despretensiosamente, sem tentar tornar suas histórias produtos populares e grandiloquentes. Alias é repleta de pequenas discussões filosóficas sobre humanidade, simplicidade e notoriedade por motivos fantásticos. Jones é um bom personagem-orelha, o meio-termo entre o homem comum e o meta-humano mega-poderoso, um pária num mundo que se divide entre semi-deuses e meros mortais, tentando a sobrevivência por meio de eventos patéticos e curiosos.

    A Panini lançou uma edição encadernada, que continha os primeiros nove volumes, mas não deu prosseguimento aos outros números lançados no Brasil apenas na revista Marvel Max. A próxima história é curta e brinca com o estilo jornalistico do Clarim Diário em uma entrevista de J. Jonah Jameson com a moça, para então desembocar em um novo arco, sobre desaparecimento de uma mutante, que termina de maneira muito trágica, tão catastrófica que a faz aceitar as investidas do Homem Formiga II, detentor também da alcunha no universo cinematográfico da Marvel, Scott Lang.

    Após aceitar o trabalho de guarda-costas de Matt Murdock, após ele ser acusado de ser o Demolidor, como visto em Queda de Murdock, Jessica passa a discutir com Cage o que houve naquela fatídica noite com ele ao dividir a função de protetor do advogado. Não se tem muito pudor em tratar das carências e da incidência de parceiros sexuais da personagem, tratando-a como normalmente se trata um personagem masculino, sem medo de mostrar um indivíduo sexualmente ativo e falho, viciado em drogas legais, mais humana do que super.

    Intimidade é um arco que começa muito bem, fazendo lembrar o porquê da personagem principal ter se eximido do maniqueísmo presente na vida dos heróis normativos ao se deparar com uma demonstração simples do quanto os populares podem ser mesquinhos. A história se torna interessante pela presença de Mattie Franklin, uma moça que se veste de Mulher-Aranha e que tem uma intensa ligação com J. Jonah Jameson, pessoal o suficiente para fortalecer ataques de seus inimigos profissionais, e emocional a ponto de fazê-lo sentir-se parente sanguíneo da garota que adotaram, apesar de ele e a esposa serem claramente distantes da moça adotada.

    A Origem Secreta de Jessica Jones é uma história curta, mas interessante. Gaydos emula o traço de Steve Ditko e Jack Kirby ao associar o passado de sua personagem com o de Peter Parker, antes de ele ser picado por uma aranha em um acidente radioativo. Seria em uma inocente viagem que sua vida mudaria, com um acidente com as mesmas causas que deram ao Aranha seus poderes, e que cercearam a vida de toda sua família, o que explica o azedume em que a ex-heroína Safira (e Paladina durante um tempo) se insere.

    Os elementos utilizados para remontar a origem da personagem demonstra como seria se o Homem Aranha fosse um personagem voltado para um publico mais adulto, ainda mais repleto de camadas e verossimilhança. A problemática de Jones é bem mais grave, pois lhe falta uma figura de mentor, como era tio Bem com o jovem Peter.

    O último arco, Púrpura, introduz Killgrave, também chamado de Homem Púrpura, o vilão que seria utilizado no seriado da Netflix. As histórias de Bendis só funcionaram pela utilização de suas páginas para construção do ethos da protagonista, só inserindo um antagonista à altura após 23 números. Killgrave parecia já espreitar Jessica antes, além de ter um episódio anterior ligando a heroína a sua derrota.

    A natureza do poder do opositor, de convencer as pessoas a fazer o que ele queria,  não é tão assombrosa quanto seres cósmicos, mas é mortal e atemorizadora no ambiente em que Alias se alastra. As inserções dos desenhos de Mark Bagley deveriam remeter a tempos mais simples e heroicos, mas revelam a manipulação que a então Safira sofria ao tentar enfrentar seu antagonista, dominada facilmente, servindo o tom mais leve de total contraponto à gravidade da perda de controle que a mulher possui.

    A arte de Gaydos prima pelas sombras e por uma rusticidade que ajuda a evocar os sentimentos adultos, tão diferenciados do escapismo que normalmente incorre sobre os quadrinhos da Marvel. Alias só poderia ser tão genial graças ao trabalho do desenhista, que conseguiu inaugurar bem a personagem que ajudou a criar. Toda a ambiguidade vista no personagem vilanesco só funciona pelos tons escolhidos pelo artista, que adere muitas camadas de profundidade na história.

    O destempero da personagem, ao se deparar com o homem que lhe fez mal, a faz rever todo o seu convívio, recorrendo ao mesmo Cage que ela quis longe, aproveitando da companhia dele para desabafar e situar o leitor na grave situação que passou. Apesar do Selo Max ter em seu caráter a temática adulta, o conteúdo contestatório foge da obviedade. Ao tocar no estupro, há um cuidado para não banalizar a questão, tanto que o abuso sexual que a moça sofreu não foi físico, e sim uma violação mental, de consequências tão graves quanto o defloramento carnal, ainda mais grave para a psique da vigilante. O assédio incluía a total perversão das vontades, traição de seus ideais e apelo à degradação moral ao longo dos oito meses em que o vilão fez da moça, refém de suas luxúrias.

    É em um dos episódios de domínio que Jessica quase morre ao defrontar-se com os Vingadores, tentando encontrar o Demolidor, inimigo íntimo do “dominador”, numa confusão mental e de ocaso que quase lhe custou a vida, e que também ambienta sua fobia por collants coloridos. Jones aceita então a missão que seria a de conversar com Zebediah Killgrave, a fim de fazê-lo confessar o assassinato de algumas de suas vítimas fatais. A situação, que se enquadraria somente em um embate filosófico, ganha contornos agressivos quando o “doutor” consegue fugir do encarceramento.

    Púrpura trata o antagonismo com uma arrogância muito carismática, comentando tudo de modo metalinguístico, quase estabelecendo um diálogo com o leitor. O que falta a Jessica em magnetismo visual, sobra a ele, graças principalmente a sua postura charmosa. O modo como ele conduz sua vítima é de uma maestria impressionante, e a construção em cima de um personagem tão antigo impressiona pela criatividade de Bendis em retratar todo o terror que Killgrave exala.

    Ao contrário do primeiro abuso, este é solucionado por escolha e ação da própria Jessica, que consegue, através de uma ação de prevenção, retomar o controle mental de si mesma. O ciclo finalmente se fecha e a redenção de Jones ocorre por seus próprios méritos, em uma atitude que faz alegoria à superação óbvia do trauma, mas não só da questão com Killgrave, também da trajetória torpe que vinha ocorrendo desde a puberdade. O final poderia facilmente incorrer em uma pieguice extrema e adocicada, mas a questão é driblada, fortificada pela falta de cores que Bendis e Gaydos sempre deixaram predominar.

    Apesar de otimista, o desfecho da revista não dá garantias de um futuro fácil para Jessica Jones, ao contrário, acrescenta tons de gravidade, mostrando que seu destino poderia seguir tão trôpego quanto antes. O sucesso de crítica não garantiu uma vida longa à publicação, logo cancelada, tendo ao menos uma história que finda de maneira digna e condizente toda a jornada da vigilante contratada. A trama condiz ao underground do universo mágico da Marvel, e dá vazão a temáticas controversas ligadas ao feminismo, sexualidade e à independência do espírito feminino, em uma atmosfera urbana, crua e visceral que resgata elementos que há muito não eram utilizados e que funcionam inclusive para plateias mais novas.

  • Review | Jessica Jones – 1ª Temporada

    Review | Jessica Jones – 1ª Temporada

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    O início da nova série da Netflix em parceira com a Marvel Studios começa pelos bueiros e pedaços sujos dos becos nova-iorquinos de Hell’s Kitchen. O produto de Melissa Rosenberg segue muito fiel aos quadrinhos originais de Brian Michael Bendis e Michael Gaydos, associando Jessica Jones à versão primordial de Alias, misturando, de maneira interessante, a atmosfera noir moderna com o estilo cinematográfico dos filmes de ação mais criativos dos últimos anos, e reunindo semelhanças com o ideário visual de Christopher Nolan e Paul Greengrass.

    A escolha de Krysten Ritter para viver a personagem-título não poderia ser mais acertada, uma vez que sua persona é bastante versátil, podendo variar entre a comédia irônica, inteligente e feminista de Don’t Trust in the Bitch in Apartment 23, passando pela figura de femme fatale de sua personagem em Breaking Bad. Jessica é uma mistura de ambos os arquétipos, acrescentando ainda mais camadas à personagem, de moral e comportamento bastante dúbios, fatores que fazem da detetive particular uma personagem que harmoniza uma espécie de sanidade baixa, fruto do ínterim dos poderes sobre-humanos que tem em posse, com uma credibilidade digna de alguém tridimensional e real.

    A aura de sensualidade empregada já no piloto é mérito de sua diretora, S. J. Clarkson, cujo repertório inclui a sexploitation de Banshee e do thriller de serial killer Bates Motel, cujas referências ao incesto já demonstravam uma sexualidade latente no ideário filmográfico da realizadora. A estética dos produtos da Marvel Studios não permitiu maiores audácias, como cenas de sexo mais ardentes entre a protagonista e Luke Cage  (Mike Colter), não deixando claro sequer a famosa cena de sexo anal ocorrida também no número 1 de Alias. A sexualidade foi reduzida, especialmente se comparada a outras séries adultas, visto que, mesmo sem nudez, Sons of Anarchy e semelhantes conseguem exibir mais volúpia do que as tímidas cenas de coito com os amantes vestidos, nesta versão.

    Dois aspectos chamam a atenção logo no início da abordagem. A primeira é a cena de abertura, tão bem encaixada quanto a de Demolidor, contendo elementos visuais que remetem à aquarela que David Mack fazia nas capas de Alias, em referências que parecem belas aos olhos do público geral e que fazem ainda mais sentido para o aficionado. Outro aspecto é a feminilização do personagem Jeri Hogarth, interpretada por Carrie-Anne Moss, adiantando em alguns arcos a parceria, uma vez que, ainda na revista solo, Jessica não tem contato com o empregador dos serviços de aluguel para super-humanos. A mudança de gênero é positiva, aumentado a ideia de um produto de herói feito para um escopo feminista.

    As soluções para associar o vilão à “heroína” são ainda mais assustadoras e adultas na série. Se em Alias a preocupação era em compor um quadro com o universo mainstream da Marvel, no seriado a tônica é de independência, tangenciando questões relativas ao universo urbano, mas sem ser refém deste. O antagonista espreita os detalhes da psique de Jones como uma figura de abuso do passado, cujos detalhes não são inteiramente explicitados, mas que prosseguem em causar danos mentais e emocionais na sua rival. O caso envolvendo uma das investigadas da Jessica faz eco com os primeiros eventos do arco Codinome Investigações, mas tem consequências igualmente trágicas, apesar do desenrolar diferente, plenamente condizente com a temática amadurecida desta faceta do universo audiovisual da Marvel, distante de toda a cor saturada de Vingadores e afins.

    As questões tornam-se mais graves após os assassinatos “induzidos” mostrados no piloto, estabelecendo um caráter de paranoia no entorno de Jessica, ainda mais forte no segundo episódio. De modo gradativo, mostra-se a influência do vilão interpretado por David Tennant, em uma face mais séria de Zebediah Killgrave, ignorando seu visual clássico para estabelecer um personagem condizente com a realidade da Cozinha do Inferno nos seriados.

    A temática da violência contra a mulher é fortificada pela personagem Patricia “Trish” Walker, vivida por Rachael Taylor, substituta do arquétipo de Carol Danvers, que será utilizada em outro produto da Marvel, emulando o estereótipo de amiga inseparável, que tem seu nome ligado a uma vigilante da Marvel, o que faz teorizar sobre seu futuro engajamento em possíveis continuações. A personagem sofre com a “violência fálica” de um homem da lei, dominado pelo mesmo transe com o qual Killgrave atingiu a protagonista.

    Em Alias, o Homem Púrpura era tratado como um personagem mal por essência, mas extremamente orgulhoso e soberbo, que somente cede aos esforços de Jessica para demonstrar o quanto a mulher é diminuta. O cerne desta versão é a obsessão pela personagem-título. Os ataques passam a ser pessoais e com distinção de gênero, agravando os abusos e, claro, universalizando ainda mais o drama mostrado em tela, usando sempre o mesmo articulador como causador de inúmeros tipos de violência.

    Ao contrário do mostrado nos quadrinhos, Jessica não é tão insegura, apesar de todas as dificuldades que a envolvem, as mesmas nas duas versões: a falta de dinheiro para eventos básicos e, claro, a violência abusiva que sofreu – ainda que no seriado as questões sejam ainda mais explícitas. As gravações que servem de narração em off ajudam a montar o cenário de investigações detetivescas, assim como formam uma boa desculpa para o uso do artifício normalmente banalizado.

    A relação da detetive com Bogarth é interessante por se basear em trocas de favores importantes, fazendo lembrar a ausência de maniqueísmo, tanto na trama quanto na teia de relações comuns a mercenários e seus empregadores. A empresária só permite que haja uma procura por supostas vítimas de Killgrave após muita insistência e depois de um pedido que envolve sua vida pessoal e amorosa, situação que beira a chantagem emocional da parte da empregadora, o que faz com que os limites sejam expostos de um modo de fácil ultrapassagem.

    As cenas de banho não são sensuais, já que fazem predominar os ferimentos sob a pele branca, lembretes de danos emocionais e carnais causados por intolerantes raciais, aludindo a segregação normalmente sofrida pelos mutantes no universo das HQs. Apesar de conter pontos um pouco redundantes, a construção da relação de herói e bandido é bem urdida. O incômodo fica por conta dos momentos onde claramente se estica o drama somente para ganhar tempo em tela e bater a “cota” de mais de cinquenta minutos por episódio. O fato em que isto mais ocorre é no estranho romance de Trish com o policial anteriormente manipulado Will Simpson (Wil Traval). A alusão a Síndrome de Estocolmo é interessante, mas demora a se desenvolver satisfatoriamente, ainda que seus resultados (óbvios) remetam a uma doentia relação.

    A série consegue de maneira sui generis harmonizar a fidelidade a HQ, em elementos básicos, ao mesmo tempo em que muda o caráter e essência dos personagens, sem soar falso ou forçado e sem agredir quem gosta de Alias. No entanto, o legado maior do programa é o da libertação, pois mesmo tendo de respeitar os padrões da classificação indicativa, dá vazão à sexualidade de formas diversas, desde triângulos amorosos lésbicos até relações inter-raciais em que somente o sexo importa, sem comprometimentos maiores, além de leve alusões a BDSM e referências à desolação emocional de quem é vitima de abusos sexuais.

    Em tempos onde o feminismo é banalizado e seriamente atacado, a personificação de Killgrave é mais do que necessária, é atual e toca em quase inúmeros elementos ligados às fobias femininas, fazendo dele uma figura de ódio já nos primeiros momentos em que sua menção se faz presente – ainda sem sequer mostrá-lo. A construção de vilão por parte dos produtos dos estúdios Marvel era sempre equivocada, tanto que ao menor sinal de carisma de Loki e da segurança de Wilson Fisk, já havia uma pré idolatria aos personagens, uma vontade de ser elogioso incontida. A sutileza presente no comportamento e condução manipulativa da versão do Homem Púrpura faz fortificar ainda mais o protagonismo ativo e seguro de Jessica, servindo de contraponto masculino agressivo a todo o poderio feminino anunciado em tela, nas figuras das coadjuvantes, seja Trish, Bogarth ou qualquer outra personagem.

    Os apuros de Jones são resolvidos por ela mesma, abrindo uma discussão ainda maior a respeito da responsabilidade, culpa e remorso da parte agressora, questões tão longe do maniqueísmo que fazem desacreditar de que se trata de um seriado da Marvel Comics.

    O saxofone pontua o contraditório pessimismo do epílogo, resultado de uma vitória que não foi boa o suficiente para causar em Jessica uma sensação de completude ou de dever cumprido, já que o heroísmo nunca foi seu alvo, tampouco seu alento. A existência prossegue com uma devastação existencial, grave em todos os sentidos, não aplacada sequer pela vingança obtida, o que faz do texto final algo primoroso por sua complexidade.

  • Resenha | A Era de Ultron: Futuros Alternativos

    Resenha | A Era de Ultron: Futuros Alternativos

    A Era de Ultron - Futuros Alternativos

    Dentro do universo criativo dos roteiristas da Marvel Comics, a linha What If… batizada no Brasil como O Que Aconteceria Se…, desenvolve pequenos exercícios narrativos envolvendo possibilidades em cenários variados. Ou seja, uma maneira de apresentar ao leitor outras visões de um acontecimento em edições especiais.

    Antes de migrar para as revistas dos mutantes, A Era de Ultron foi a última grande saga de Brian Michael Bendis envolvendo a maioria dos heróis do estúdio, principalmente Os Vingadores. Mesmo considerada uma história dentro do universo, devido ao paradoxo fluxo-temporal a história é mais próxima deste exercício de possibilidades do que mais uma das diversas sagas lançadas em sequência ininterrupta.

    Lançada pela Panini Comics em edição de capa dura, A Era de Ultron – Futuros Alternativos é um complemento imaginativo da saga original reunindo, dentro da linha O Que Aconteceria Se… cinco trama fechadas estudando eventos possíveis que culminariam no domínio de Ultron se não houvesse a existência deste ou daquele herói, como revelado na descrição da edição.  “Num mundo sem a Vespa, Hank Pym criou um Ultron ainda mais terrível do que aquele que conhecemos! Sem o Homem de Ferro, a Guerra das Armaduras arrasaria o planeta até o Homem-Aranha formar um Quarteto Fantástico para sair em busca de uma arma esquecida! Sem Thor, o Ragnarok elimina todos os superseres – deixando apenas Nick Fury e seus aliados sem poderes para enfrentar a Serpente de Midgard! Sem o Capitão América, os Estados Unidos perdem seu espírito de luta – até que uma cabala secreta usa Frank Castle para recriar uma lenda!”]

    Focado nestes personagens, cada um é retirado do contexto devido a um acontecimento específico para que uma nova linha temporal alternativa surja, ainda que o enfoque seja o mesmo da Era de Ultron: buscar soluções para acabar com o controle do vilão robótico. Algumas narrativas fogem do tema para demonstrar como, em geral, o universo seria diferente sem a presença de alguns heróis, não necessariamente focando na dominação de Ultron.

    A execução de histórias possíveis é um argumento interessante como exercício imaginativo. Uma vertente que produziu poucas histórias mas que sempre foi explorado pelo estúdio e também sempre presente em mixes de edições mensais no Brasil. Devido a brevidade de uma trama fechada a cada edição, as histórias são ágeis e se estruturam rapidamente para que tenha inicio, meio e fim a cada arco. São suficientemente boas para uma leitura, mas não definitivas ou interessantes o bastante para se tornar um item obrigatório. Se a saga original recebeu críticas por conta de seu desfecho, os futuros possíveis parecem argumentos alternativos e prováveis surgidos em reuniões ao desenvolver a história principal e realocados como sugestões de histórias What If… para promover maiores vendas.

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  • Resenha | Ultimate Quarteto Fantástico: O Fantástico

    Resenha | Ultimate Quarteto Fantástico: O Fantástico

    Ultimate Quarteto Fantástico - capa - panini comics

    A linha Ultimate lançada no ano 2000 foi o marco que reconstruiu a origem de diversos personagens da Marvel Comics em uma linha cronológica inteiramente nova. Inserindo seus heróis em um contexto contemporâneo, origens foram modificadas sem perder a essência original.

    Quarteto Fantástico foi o quinto título a ser lançado pelo estúdio, quatro anos após o início da primeira aventura de Homem-Aranha que, em seguida, foi acompanhado por X-Men, Os Supremos e uma revista intitulada Marvel Team Up com crossovers entre esses heróis. Responsáveis pelas releituras, Brian Michael Bendis e Mark Millar se reuniram para recriar a origem da primeira equipe da Marvel. O primeiro arco de Ultimate Quarteto Fantástico foi relançado pela Panini Comics em um encadernado especial que vai em sincronia com o futuro filme cuja base está nesta versão. A parceria de Bendis e Millar foi realizada à distância, em mensagens virtuais, a fim de desenvolver a narrativa. Evitando disparidades entre o estilo de cada um, Millar se responsabilizou pelo argumento e Bendis pela finalização do roteiro, com base nas ideias compostas pelo parceiro.

    Desde as primeiras páginas do arco Fantástico, Reed Richards surge em cena como personagem principal, desde a origem que recorre aos seus primórdios logo após seu nascimento a breves passagens por sua adolescência, estabelecendo o deslocamento social de incompreendido e inteligente. A visão pueril de Stan Lee é deixada de lado para criar raízes mais realistas de um jovem que sofre preconceitos familiares e agressões na escola. Seu único amigo é Ben Grimm, um garoto de grande porte considerado um dos melhores jogadores do colégio. É com ele que Richards dialoga sobre suas descobertas, como de um universo paralelo. Após uma feira de ciência que faz um experimento envolvendo teletransporte, o garoto é convidado para um escola especial apoiada pelo governo para a criação de projetos científicos. Localizada no Edificio Baxter, a instituição conta com um grupo liderado pelo Prof. Storm, que dá vazão às suas pesquisas ao lado de outras mentes brilhantes como Sue Storm, filha do professor, e um esnobe Victor Van Damme, antagonista com quem Richard decide trabalhar em parceria, devido à sua genialidade.

    O evento que transformou o grupo no Quarteto Fantástico é apresentado de maneira diferente e mais caótica do que na versão original. A viagem a Lua se transforma em um experimento-teste para atravessar um objeto para este outro universo chamado de Zona Negativa. A presença de Ben Grimm e Johnny Storm é ocasional, um acidente diferindo da versão inicial na qual o quarteto forma um grupo de cientistas exploradores. Dessa forma, há mais espaço para tensão e explosões emocionais, uma maneira encontrada pelos roteiristas para compor uma origem mais crível que a anterior.

    As páginas desenhadas por Adam Kubert se destacam pela originalidade dos quadros. Em cada página há apenas uma coluna central com longos quadros horizontais, primando por menos quantidade de imagens em cada página e maior concentração de diálogos em cada uma delas; uma clara composição mista entre as características de ambos os roteiristas. Como um arco de apresentação, a história insere cada personagem no seu respectivo papel heroico até o surgimento de um primeiro ataque na cidade. Neste primeiro momento, porém, Reed Richards é quem tem maior destaque, conduzindo a trama desde o início de sua jornada de vida. Os outros três integrantes aparecem pontualmente nas cenas em conjunto ou como alívio cômico. A escolha proposital de um único personagem central cria certa profundidade narrativa nas motivações do futuro Senhor Fantástico. Mesmo configurados como uma recém-equipe, o grupo será melhor desenvolvido no próximo arco que apresenta o destino de Victor Vam Damme.

    Mantendo a mesma ação da história original de 1961, o vilão Toupeira promove a estreia do Quarteto Fantástico como superequipe. A construção do vilão também é apoiada por realismo e base psicológica. O Dr. Arthur Molekevic trabalhava com os alunos no Edifício Baxter, mas é afastado obrigatoriamente após experimentos com seres criados em laboratório. Um personagem incompreendido que cede à maldade por causa de sua marginalização e, literalmente, entra nas entranhas da cidade para compor um reino de seres geneticamente modificados, os Molóides.

    Como história de origem, Ultimate Quarteto Fantástico se mantém em um bom linear, mas não desenvolve uma primeira trama de alto impacto, como Bendis em Homem-Aranha e Millar no espetacular Os Supremos. A composição em parceria parece deter a originalidade da obra, como se ambos, ao respeitar a visão criativa do outro, evitassem maiores riscos que poderiam elevar esta história. Não à toa, o arco seguinte, assinado por Warren Ellis, ganha maior força e dimensão nas personagens.

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  • Resenha | Demolidor: Fim Dos Dias

    Resenha | Demolidor: Fim Dos Dias

    Demolidor - Fim Dos Dias - Vol 1

    Lançado pela Panini Comics em dois volumes, cada um compilando quatro edições da minissérie, Demolidor – Fim dos Dias dá prosseguimento a “The End” da Marvel, apresentando um fim definitivo para grandes personagens em um futuro provável. Nessa edição, a obra sobre o fim do Homem Sem Medo reúne um grande time de roteiristas e quadrinistas, que passaram pelo título e se destacam entre as grandes fases da personagem. Brian Michael Bendis e David Mack assinam em conjunto o roteiro, enquanto Klaus Janson desenha e Bill Sienkiewicz se responsabiliza pelas cores. As capas principais são assinadas por Alex Maleev (que também é responsável por algumas páginas específicas da história), e há versões alternativas com Mack e Sienkiewicz. Um grupo excelente para a suposta última história de Matthew Murdock.

    O universo situado é um ambiente hostil em que a maioria dos heróis se aposentou ou retornou à vida normal. As grandes representações de outrora se tornaram subprodutos da indústria de marketing em lanchonetes e afins que utilizam os nomes da era heroica como razão para a credibilidade. A trama é narrada por Ben Ulrich, um dos personagens mais significativos na evolução da personagem, representando, simultaneamente, o homem comum e a força da imprensa, o quarto poder. O jornalista será responsável por uma reportagem final sobre o Homem Sem Medo, integrante da última edição impressa do Clarim Diário, jornal de J.J. Jameson que, mesmo resiliente, tirará seu jornal de circulação.

    Bendis e Mack sempre utilizaram em suas histórias a potência de Demolidor como um herói urbano, flertando com uma narrativa policial de crimes e contrabando. Novamente a estética policial é utilizada no enredo, dessa vez de maneira mais pura, com um mistério a ser desvendado por Ulrich. O repórter parte em uma jornada investigativa para descobrir por que, prestes a ser morto, Matt Murdock sussurrou a ele uma palavra desconhecida. A trama parte da mesma referência do clássico do cinema Cidadão Kane: uma figura notória da sociedade, prestes a morrer, diz uma palavra incompreensível e um repórter que, a partir de então, reconstrói a história desse personagem enquanto procura o significado desse último ato.

    A escolha de um viés policial como propósito narrativo é coerente e justifica a presença de grandes personagens do universo do protagonista: Elektra, Mary Tifóide, Justiceiro, Foggy Nelson, entre outros que recebem a visita do jornalista. Metódico e dedicado em sua reportagem, Ulrich busca informações de todos os associados conhecidos, conectando uma teia de personagens que, não fosse a estrutura de uma investigação, seriam presenças aleatórias dentro desta trama-homenagem.

    Em um início de alto impacto, com a luta derradeira entre Demolidor e Mercenário, Ulrich expõe a importância de Murdock como um justiceiro ao mesmo tempo em que estabelece a mudança em um mundo sem heróis aparentes. Será dele a função de transitar entre diversos amigos e vilões do Homem Sem Medo, colhendo dados e procurando informações que justifiquem a ausência de Murdock nos últimos anos e o porquê da palavra misteriosa.

    Antes de sua morte, Murdock havia estabelecido uma conduta diferente daquela conhecida pelos leitores, ultrapassando limites de sua jornada e, portanto, colocando em xeque sua função como vigilante. Um drama interno desenvolvido através do desgaste emocional extremo de anos em combate, além da redução das habilidades físicas após um longo período de intensa atividade física. A queda da personagem, desta vez eterna, simboliza a decadência do próprio conceito de herói e dialoga com a base argumentativa de Bendis dentro da Marvel, injetando um conceito realista com o qual assumiu o título de Demolidor e Os Vingadores.

    O ritmo narrativo se mantém na maioria dos oito volumes da série, mas o desfecho se revela levemente mais fraco do que o excelente início. Em parte devido às pistas que os roteiristas deixam no decorrer da trama, as quais um leitor mais atento percebe acompanhando a investigação ao lado de Ulrich (por consequência, tentando desvendar as pistas descobertas).

    O leve desequilíbrio entre começo e fim não reduz a qualidade da história. Fim do Dias é eficiente como narrativa final de um grande personagem, promovendo uma bela homenagem sobre sua trajetória, ao mesmo tempo em que transforma este possível fim em mais um momento para figurar nas listas de grandes histórias de Demolidor.

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  • Resenha | Os Novos Vingadores – Motim

    Resenha | Os Novos Vingadores – Motim

    Vingadores - Motim

    Após implodir a equipe dos Vingadores em A Queda, Brian Michael Bendis apresentou Os Novos Vingadores, um novo título que dá início ao seu projeto dos Heróis Mais Poderosos da Terra. Dividida em seis partes, a saga Motim se passa seis meses após os acontecimentos anteriores que encerraram o grupo.

    A trama tem início quando Matt Murdock e seu sócio, Foggy Nelson, visitam a prisão para uma consulta jurídica. Como nenhum civil pode entrar desacompanhado no local, Jessica Drew, a Mulher-Aranha, representando a S.H.I.E.L.D., acompanha-os ao lado de Luke Cage, contratado pelos advogados em caso de problemas. Quando um atentado liberta os prisioneiros, Homem-Aranha e o Capitão América, coincidentemente em uma viagem nos arredores, surgem para prestar apoio e ajudar na contenção.

    Como na primeira formação iniciada pela necessidade, Steve Rogers decide convocar oficialmente os heróis para uma nova organização dos Vingadores. Além de Capitão América, Homem de Ferro, Homem-Aranha, Mulher-Aranha e Luke Cage, dois outros membros são convocados: Wolverine e Sentinela, esse segundo em um momento posterior. A seleção de Bendis transita entre personagens da velha guarda, honorários ou não, e novos membros. Capitão América e Homem de Ferro representam a base que sustenta o histórico de aventuras. A inclusão do Homem-Aranha, além do natural apelo diante do público, compõe uma nova dimensão da personagem, que agora terá que interagir em equipe sem perder, claro, sua característica de falastrão. Trabalhando com a S. H. I. E. L. D., a Mulher-Aranha é o contato político para necessárias bases de apoio em missões. Luke Cage representa a força bruta, e Wolverine a violência pura. Um personagem selecionado para atitudes extremas mas que, sem dúvida, como o aracnídeo, foi selecionado para ser um atrativo popular.

    Observando a cronologia com o necessário espaço temporal, é perceptível que a queda dos Vingadores e sua nova organização eram apenas modificações necessárias para planos maiores. A participação de Peter Parker como membro ativo do grupo será responsável pela intimidade com outros heróis, determinando sua afinidade com Tony Stark – de quem ganha uma armadura futuramente – e um dos pontos chave de modificação de Guerra Civil. Os embates entre Stark e Rogers, por menor que sejam, como discordar em planos de ação ou demonstrar um leve descontentamento pela dissolução da equipe, são fundamentos para a eclosão dessa citada batalha.

    Esse primeiro arco de história desenvolve com cuidado a motivação necessária para trazer a equipe à tona ao mesmo tempo que cada edição recruta seus heróis para completar o grupo, culminando em uma viagem até a Ilha Selvagem, onde descobrem uma facção da S. H. I. E. L. D. O local habita a prática de escravizar locais no tráfico de vibranium, outra justificativa necessária para uma equipe de vigilantes. Novamente, é perceptível a intenção de ampliar a realidade do universo Marvel com camadas dramáticas que refletem parcialmente o contexto contemporâneo. A política é uma das camadas escolhidas para esta aproximação, desenvolvendo um viés que faz da equipe uma vigilante além das grandes batalhas com vilões superpoderosos.

    Em um primeiro momento, a corrupção da Superintendência é o contraponto que incomoda Steve Rogers, um personagem idealista que preza por uma política correta e o qual, mesmo trajando as cores da bandeira americana, demonstra que seu ideário é mais puro do que a maneira contemporânea de conduzir uma nação e seus trâmites políticos. Sem um apoio oficial do governo como anteriormente, a equipe permanece à margem da legalidade, e tem prestígio devido a seus integrantes de renome dentro do universo narrativo.

    A edição da Panini, lançada no selo Deluxe, compila o primeiro ano dos Novos Vingadores com doze edições, enquanto a edição da Salvat reúne apenas o primeiro arco. De qualquer maneira, Motim é um bom início, coerente com as modificações estruturais da Marvel, fundamentando com qualidade a necessidade de ter uma superequipe ativa em uma boa aventura.

    Vingadores - Motim - 2

  • Agenda Cultural 59 | Luther King, Sniper Americano e Demolidor

    Agenda Cultural 59 | Luther King, Sniper Americano e Demolidor

    agenda59

    Bem-vindos a bordoFlávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe Pereira, Carlos Brito, Wilker Medeiros (@willtage) e Douglas Fricke (@dwfricke) se reúnem para comentar o que rolou nos cinemas em fevereiro e ainda comentam sobre alguns lançamentos de quadrinhos, música e literatura.

    Duração: 120 min.
    Edição: Wilker Medeiros
    Trilha Sonora: Wilker Medeiros
    Arte do Banner: 
    Bruno Gaspar

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    Comentados na Edição

    Matéria de Carlos Brito sobre os lançamentos da Editora Aleph
    Entrevista de Carlos Brito com Timothy Zahn, autor de “Star Wars – Os Herdeiros do Império”

    Cinema

    Literatura

    Os Demônios de Loudun – Aldous Huxley – Compre Aqui

    Quadrinhos

    Resenha Demolidor – Fim dos Dias (2 edições) – Compre Aqui
    Os Invisíveis Vol. 4: Infernos Unidos da América – Compre Aqui
    Bone 1 -Fora de Boneville – Compre Aqui
    Saga – Volume 1 – Compre Aqui

    Música

    Blind Guardian – Beyond the Red Mirror
    Dr. Sin – Intactus

  • Resenha | Os Vingadores: A Queda

    Resenha | Os Vingadores: A Queda

    Vingadores - A Queda

    Após compor a releitura de Homem-Aranha para a linha Ultimate da Marvel e assumir uma passagem duradoura e bem-sucedida em Demolidor ao lado de Alex Maleev, Brian Michael Bendis foi convidado a escrever Os Vingadores, um dos grandes títulos da Casa das Ideias e que estava prestes a completar 500 edições lançadas.

    Quando autores assumem novas revistas, é comum que estabeleçam pontos de partida selecionando qual material e quais personagens irão trabalhar em sua passagem pelo título, e raramente se preocupam em fechar cronologias anteriores. A escolha de Bendis foi ainda mais definitiva neste aspecto. Em sua estreia, promoveu a saga A Queda (publicado no país em Vingadores #21 a #24, em um encadernado especial, em 2008, e pela Coleção Graphic Novels da Salvat #34), implodindo a equipe em uma história de despedida e encerramento do título, o qual existia desde a década de 60.

    Publicado em quatro partes, três delas nos títulos de The Avengers e o final em uma edição especial (além da repercussão dos fatos em cada mensal específico), a trama acrescenta um pouco da textura realista que seria desenvolvida posteriormente em diversas revistas Marvel através de ações cujo ponto máximo é a megassaga Guerra Civil, que colocou em lados opostos herói contra herói. Em A Queda, Os Vingadores começam a sofrer uma série de ataques consecutivos de seus maiores inimigos e não conseguem estabelecer um motivo ou quem está por trás destas ações com Skrulls, diversos Ultron, entre outros. O vingador Valete-de-Copas, morto em ação em uma aventura no espaço, retorna à mansão dos Vingadores para explodir o local, deixando a equipe sem sua tradicional base de operações. Simultaneamente, Tony Stark sofre um surto psicológico em um discurso como embaixador dos Estados Unidos, e o apoio da nação à equipe é retirado.

    Enquanto recebem visitas de consolação da vasta comunidade de heróis, reconhecendo o status dos Vingadores como um dos grandes grupos, as pequenas fissuras internas da equipe, com base em ideologias diferentes, serve de atrito para o grupo. O embate entre Tony Stark e Capitão América se apresenta desde este momento. Perdendo milhões com a destruição da mansão e sem o cargo de embaixador, Homem de Ferro abandona o grupo e se transforma no algoz culpado pela falta de esperança em recomeçar. De maneira honesta, cada vingador expõe sua insatisfação e decide temporariamente abandonar o posto, deixando Steve Rogers como a única chama resistente. Além da representação pública de cada herói, observamos pessoas normais vivendo conflitos naturais devido à convivência diária e à rotina.

    Mesmo sem uma trama brilhante, justificável pelo fato do roteirista estar iniciando sua obra com cada personagem, a dramaticidade é interessante para demonstrar o interior de cada herói e ousada ao destruir um grande grupo para reconstruí-lo de outra maneira. O roteirista foi criticado na época por tais modificações e por usar os ganchos usuais para sagas de modificação, como a morte de personagens importantes. Visto com distanciamento, é perceptível o plano a longo prazo desenvolvido nas histórias tanto dos Vingadores quanto do universo Marvel como um todo, criando uma coesão temporal entre acontecimentos. Afinal, (spoiler na próxima linha) a mesma vilã responsável pela destruição da mansão e dos ataques sucessivos, a Feiticeira Escarlate, também é personagem central da Dinastia M quando modifica a realidade matando a maioria dos mutantes do mundo.

    Bendis foi corajoso em encerrar um título longevo para reconstituir a equipe em uma outra direção. Após 503 títulos, a editora lançava um edição final com a participação de diversos desenhistas e roteiristas, que passaram pelo título com suas personagens relembrando grandes acontecimentos dos Vingadores. Uma homenagem que observava o passado escrito até então para, enfim, começar uma nova fase na equipe.

    Vingadores - A Queda - Destaque

  • Resenha | A Era de Ultron

    Resenha | A Era de Ultron

    A Era de Ultron - Marvel Deluxe - Panini Comics

    No período entre 2004 a 2013, Brian Michael Bendis foi responsável pelos roteiros das revistas mensais dos Vingadores e derivados, promovendo, desde sua primeira edição à frente dos heróis mais poderosos da terra, uma série de reestruturas que em um primeiro arco dissolveu a equipe para apresentá-la em uma nova versão, que permaneceu durante um tempo considerável e dialogava com a intenção da Marvel Comics em acrescentar mais uma camada de realidade às suas narrativas.

    Despedindo-se do grupo para se dedicar aos X-Men, Bendis compôs uma última saga especial, lançada em seis edições, revisitando um dos vilões mais conhecidos da equipe: Ultron, a inteligência artificial criada por Hank Pyn, o Homem-Formiga. Depois de uma longa sequência de grandes sagas envolvendo diversas edições da Casa das Ideias, A Era de Ultron, relançada em edição de luxo pela Panini Comics, poderia ser uma edição fechada, uma interpretação do roteirista sobre um futuro possível e isolada da cronologia. Porém, mantendo o exagero de grandes sagas lançadas em um curto período de tempo, a série situa-se logo após o início da Nova Marvel (leia também Os Vingadores – Mundo dos Vingadores), o ponto de partida que zerou as edições e apresentou novas equipes criativas na maioria dos títulos da casa.

    Em um futuro provável, o vilão Ultron conseguiu destruir a humanidade e derrotar a comunidade heroica. Desde sua criação, o robô investiu diversas vezes contra Os Vingadores, mas sempre fora subjugado. O argumento situa-se em um momento após a queda dos heróis em um planeta parcialmente destruído por seu domínio. Anteriormente à saga, logo após “A Era Heroica”, na edição #12 de Avengers, publicado no país em Os Vingadores nº 100, o roteirista trazia pistas do que estava por vir em uma trama que resgata Mulher-Aranha de um grupo de vilões e confirma que Ultron foi reativado. Tony Stark prevê uma batalha futura com Ultron, afirmando que, devido a sua capacidade de evoluir racionalmente, o vilão poderia vencer cedo ou tarde.

    O início se sustenta bem nesse cenário desolado, fazendo-nos perguntar como o vilão foi bem-sucedido em um plano que transformou grandes heróis como Thor, Senhor Fantástico, entre outros, em baixas de guerra. A omissão proposital do roteiro intensifica a gravidade do acontecimento, e as poucas personagens heroicas sobreviventes rebaixaram-se a viver escondidas, sem nenhum plano de ação urgente. Após o resgate de Homem-Aranha por Gavião Negro, a equipe ganha um incentivo para discutir uma retaliação. A partir desde ponto, a história perde qualquer lampejo criativo.

    Capitão América - UltronA cena mais simbólica da edição com um Capitão América derrotado

    As primeiras edições sustentam a dúvida dos acontecimentos. Porém, Bendis utiliza justificativas inverossímeis dentro das estruturas da cronologia Marvel e impede a qualidade de sua história. Sem um plano concreto de como destruir Ultron e com poucos heróis sobreviventes em cena, a solução encontrada usa um antigo recurso de outras grandes sagas: a modificação do passado para transformar o presente.

    Em um universo munido de tecnologia avançada de fontes diversas, com máquinas possíveis de acessar o passado e o futuro, é confortável utilizar este argumento para modificar histórias, tanto como um apelo narrativo de fácil solução quanto para revistas cujas vendas baixas exigem uma reestruturação (Mefisto e Homem-Aranha são exemplos). Neste caso, retornar ao passado é o argumento mais comum, e não há nenhuma vontade de Bendis em procurar originalidade neste aspecto. Assim como em Dias de Um Futuro Esquecido, clássico dos X-Men envolvendo paradoxos temporais, o baixinho Wolverine assume o comando da missão, mesmo contra a vontade do resto da equipe.

    Nick Fury, o original, que depois foi dado como morto e de alguma maneira transformado em seu filho negro baseado no Fury da linha Ultimate (oficialmente, são pai e filho, mas é notável a intenção de que sejam uma só personagem), surge na trama como um homem incapaz de liderar, mas que se escondeu durante toda a ação de Ultron para investigar uma maneira de detê-lo. Outro aspecto questionável da história: se a destruição de Ultron foi agressiva a ponto de heróis não formularem uma defesa eficaz, Fury não deveria sair de cena para dedicar-se a uma investigação. E mesmo que a ausência seja plausível, seria mais eficiente direcionar um herói conhecido pela inteligência para estudar um meio de parar o vilão. Fury é muito mais um soldado do que um cientista racional.

    Pelo uso do paradoxo temporal, a trama talvez fosse mais bem-sucedida se não estivesse dentro da cronologia Marvel. Poderia ser lida apenas como um exercício final da passagem de Bendis pelos Vingadores e se tornaria uma saga possível de um futuro em que Ultron venceu. Lançado logo após a Nova Marvel e simultaneamente ao começo da saga Infinito, tornou-se evidente o exagero do estúdio em produzir mega sagas em sequência, sem nenhum respiro para o leitor acompanhar histórias mensais breves.

    A sequência de tantas bases vistas anteriormente nos quadrinhos em um roteiro que não busca nenhuma inovação reduz a história a uma obra média e um tanto oportunista, voltada para novos leitores ávidos em conhecer o vilão do novo filme da equipe. Bendis se despede dos Vingadores com um saldo positivo nas edições mensais, em bons arcos narrativos, mas nesta ultima aventura transforma um bom argumento em uma história déjà vu que abusa de preceitos chaves de outras aventuras para desenvolver-se como trama.

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    A Era de Ultron - destaque

  • Resenha | Batman 70 Anos: Volume 1

    Resenha | Batman 70 Anos: Volume 1

    Batman 70 Anos - Vol. 1

    Na celebração dos 70 anos de criação do Cavaleiro das Trevas, a Panini Comics lançou quatro volumes em homenagem ao Morcego. Batman 70 Anos – Volume 1 apresenta um compilado amplo de histórias publicadas em décadas diferentes, demonstrando como a personagem sofreu modificações durante vários períodos.

    Mesmo um leitor de anos das histórias do Batman precisa confiar no editor quando se tratam de edições compiladas. Salvo quem se aprofundou na personagem e conseguiu lê-la em sua totalidade, a seleção é filtrada pela visão do editor, cuja exigência é de que tais histórias não possam ultrapassar as tradicionais 25 páginas. Deixa-se de fora, portanto, a maioria das narrativas de 20 anos para cá em que se difundiram os arcos em diversas edições.

    A capa é dedicada a uma das imagens mais realistas do herói, desenhada pelas talentosas mãos de Alex Ross. O conteúdo apresenta nove histórias, cada uma representada por uma década, salvo a década de 80, com três aventuras.

    A primeira história é a única que foge da cronologia temporal com uma narrativa de 1986, Origens Secretas: Estrelando o Batman da Era de Ouro. É uma abertura interessante se considerarmos que a edição pode ser a porta de entrada para novos leitores. Mesmo contando uma história de um Batman anterior ao contemporâneo, a base de sua origem está presente, sendo uma boa alfabetização-morcego que resume a essência da personagem.

    Professor Hugo Strange e Os Monstros é o primeiro gibi de Batman a ser lançado oficialmente – na primavera de 1940 – e a segunda história a ser apresentada na edição. A questão de escolher uma primeira aventura é arbitrária. Poderia ser a estreia do herói na Detective Comics, mas optou-se por uma das histórias do primeiro número de Batman (1940). Com desenhos de Bob Kane, criador do herói, a trama apresenta o retorno de Strange de maneira simples se comparada às tramas atuais.

    Mais de 100 edições à frente, mesmo tendo estreado quase que em sincronia com Batman, o menino prodígio Robin entra em cena em uma história lúdica. O Morcego ajuda um carro desgovernado e salva a família Jones. De presente, o bebê do casal ganha o nome de Batman e, ao crescer, sente-se impelido pelo senso de justiça. A trama não tem nada do conhecido lado sombrio da personagem e chega a cometer um erro referencial estranho. No interior das histórias, não se passaram dez anos para que o garoto – recém-nascido nas primeiras páginas – alcançasse uma idade suficiente para se aventurar em ser um Batman postiço. Por outro lado, observamos como o herói era visto na época e como os temas eram mundanos, sem uma elaboração maior de sagas.

    Sob este aspecto, há exagero didático. As narrativas, que acompanham os desenhos, ainda não pareciam compostas para o mesmo objeto. Considerando que os quadrinhos engatinhavam na época, é perceptível a falta de arrojo técnico entre texto e imagem, ainda não tão bem integradas neste início. Outro ponto de referência sobre a mudança paradigmática do Morcego é que não havia problema algum com eventuais baixas de vilões, elemento que, hoje, impede Batman de dar um fim definitivo a diversas personagens.

    Publicada em fevereiro de 1963, Prisioneiro de Três Mundos dá um passo além na narrativa, melhor integrada entre desenho e texto e demonstrando talentosamente como uma história de 25 páginas pode ser enxugada em três partes bem desenvolvidas. Indo além dos crimes mundanos, Batman lida com a chegada de um alienígena que o transporta para outra dimensão. Se a história parece diferente de início, ao menos é bem explorada e demonstra bom crescimento narrativo com tramas narradas em paralelo. Há a presença das primeiras encarnações de Batwoman e Batgirl, personagens da Era de Prata que sumiram (recentemente Batwoman foi reintegrada no reboot). Apresenta também um Bruce Wayne tão devotado ao crime que evita deixar-se seduzir pela Batwoman, evidenciando sua retidão em relação ao crime e somente ela.

    Estas histórias também apresentam um recurso não mais utilizado atualmente, o de fazer a primeira página da história uma abertura que apresenta um quadro significativo da narrativa. Nos dias de hoje, as tramas utilizam o flashback narrativo como gancho, porém as primeiras páginas com um desenho impactante eram um bom teaser do que iria acontecer e, sem dúvida, agitaram os leitores da época que folheavam as edições.

    As três histórias seguintes foram lançadas na década de 80 em período anterior a Crise Nas Infinitas Terras. De Quantas Maneiras Pode Se Matar Um Robin traz parte do elemento sombrio que atualmente parece necessário para o funcionamento de uma boa narrativa do encapuzado. A trama é um jogo psicológico entre Batman e um vilão que sequestrou Robin e demonstra quantas formas o menino-prodígio poderia morrer. Novamente, o habilidoso recurso de utilizar capítulos em uma história de 25 páginas é utilizado, dando dinamicidade à trama, além de uma boa dose de suspense.

    Dialogando com a morte dos pais de Bruce Wayne e com a tradição de que Thomas Wayne sempre foi um exemplo dentro de Gotham, O Último Natal do Batman é um retorno ao passado que coloca em xeque a integridade de Thomas. Na época, o herói encapuzado possuía traços mais pesados, com uniforme mais ameaçador e os olhos na máscara funcionando como traços pontudos de um olhar sempre irritado. Helena, sua filha com Mulher-Gato, é o apoio que o ajuda a desvendar se o pai foi um criminoso ou apenas incriminado.

    Todos Os Meus Inimigos Contra Mim! é a primeira menção ao Coringa, o conhecido grande arqui-inimigo do Morcego. Apesar de aparecer somente na quinta história do compilado, o roteiro de Gerry Conway produz um grande plano em que o vilão convoca diversos outros comparsas conhecidos para um ataque definitivo a Batman. A trama marca a 500ª aparição de Batman na Detective Comics, o que explica a reunião épica para a edição. Também marca a primeira aparição de Jason Todd, que se tornaria o futuro segundo Robin. Antes da Crise, a origem de Todd era exatamente a mesma de Dick Grayson, menino-prodígio primordial. A diferença é que é o próprio Grayson que adota o garoto nesta história, terminando em final feliz, com direito à união das personagens de mãos dadas caminhando juntas em um dia ensolarado.

    A primeira história pós-Crise surge seis anos depois, originalmente publicada em The Batman Chronicles 5: uma aventura infantil do pequeno Bruce Wayne e de sua relação com Alfred. Embora demonstre com eficiência o paternalismo do mordomo, a escolha desta história serve como diferencial das habituais tramas do Morcego. Até porque nesta época a maioria das narrativas era dividida em diversas partes.

    Fechando a edição, mais um exercício dentro de muitos que surgiram a partir da origem oficial de Bruce Wayne como herói. Dessa vez, Brian Michael Bendis e Michael Gaydos situam a biografia da personagem em uma história em preto e branco que faz referência direta ao clássico de Orson Welles, Cidadão Kane. Uma bonita história que aproxima os elementos do filme – popular e rico homem é morto e um repórter investiga sua história para uma matéria –, entrelaçado com os amigos e inimigos do Morcego, num interessante final que trata a origem da palavra Rosebud neste contexto.

    Como primeiro volume de uma seleção comemorativa, o início é mais funcional do que seu fim. Como todo compilado, a escolha é limitada, dando-nos a impressão de que muito ficou de fora em razão das páginas dentro das necessárias. Infelizmente, há total falta de textos informativos ou qualquer aditivo que ampliem o brilho desse panorama que, apesar de não parecer completo, é uma edição importante, ainda mais se considerarmos que boa parte desse material nunca saiu em formato americano no país.

  • Resenha | Universo Marvel – Vol. 1

    Resenha | Universo Marvel – Vol. 1

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    Ao não comportar lançamentos individuais de edições, o formato brasileiro em mixes produz seleções coerentes quando os heróis estão presentes em mais de um título mensal, como Os Vingadores, Homem Aranha ou X-Men e, quando não capazes de formar uma própria revista, são reunidos em um mesmo volume integrando edições de mais páginas que não necessariamente possuem ligação entre si.

    As sete histórias que compõe Universo Marvel nº 1 estão inseridas na Nova Marvel, projeto editorial que chegou ao Brasil em novembro. Hélcio de Carvalho escreve o texto introdutório pontuando as evoluções da Marvel desde sua criação, justificando, como Marco M. Lupoi em Ponto de Partida, a naturalidade das mudanças da Casa das Idéias.

    Um dos méritos destas histórias é a capacidade em desenvolver tramas a partir de elementos básicos de cada personagem, sendo fiel ao conceito editorial de um novo ponto de arranque. Nesta primeira edição, o mix é formado pelas primeiras edições de cada título: Thunderbolts, Hulk, Quarteto Fantástico, Fundação Futuro, Nova e Os Guardiões da Galáxia. Quem acompanha as edições da Panini sabe que a divisão pode se modificar a cada edição, com títulos sendo adiantados para que a cronologia geral não sofra.

    Como originalmente as edições são lançadas individualmente, seria incoerente analisar a revista como um todo sem antes acompanhar a estreia de cada título (ainda que a nota final tenha sido ponderada entre as qualidades das sete histórias).

    O primeiro título da edição, Thunderbolts, começa com Frank Castle – no conhecido traço de Steve Dillon – preso e chantageado pelo Agente Ross. A história se passa inteiramente no mesmo local, em diálogos entre ele e o Hulk Vermelho. A ação é direta: Ross deseja formar uma nova equipe e o Castle é um dos escolhidos. Outras personagens famosas, como Deadpool e Electra, farão parte da equipe, conforme demonstra as páginas finais. Iniciando-se em uma boa cena de ação, a trama flui bem pela improbabilidade, já que o Justiceiro é um dos personagens mais mortais da Marvel. Vê-lo em uma equipe de mercenários pode dar uma nova dimensão ao anti-herói.

    A segunda história é dedicada ao Gigante Esmeralda e ao dilema primordial de Bruce Banner e sua fera interior. Nas primeiras páginas, a agente Maria Hill está em um bar, prestes a realizar uma missão, dialogando em algum aparato eletrônico com Agente Coulson, cena semelhante às dos arcos de Bruce Jones em que Banner conversava com um aliado misterioso em uma boa saga indicada ao Eisner Awards. Além de dialogar com o leitor antigo, o recurso narrativa é interessante e dinamiza a cena.

    Banner muda sua postura em relação ao seu alter-ego, decidindo viver com ele sem tentar incansavelmente obter uma cura. Ao entregar-se para a S. H. I. E. L. D., deseja ser um aliado. Como em Thunderbolts, o roteiro de Mark Waid se desenvolve rapidamente e logo o Gigante realiza um primeiro trabalho como teste de controle de sua raiva e de boas intenções. Não há dúvida de que o argumento entrelaça a história da produção cinematográfica dos Vingadores.

    Enquanto Daniel Way e Waid desenvolvem a ação no início de suas histórias, Quarteto Fantástico e Fundação Futuro mantêm um estilo tradicional. Matt Fraction faz das primeiras edições de ambas uma introdução para a história que será desenvolvida ao longo da saga.

    As tramas estão interligadas por um acidente sofrido por Reed Richards que instabiliza seu corpo elástico. Sem encontrar a cura nos mundos conhecidos, decide partir com a família para lugares não-explorados para salvar-se.

    A edição do Quarteto mostra a escolha dos substitutos que protegerão a Terra. Em Fundação Futuro, o Homem-Formiga, convencido pelo amigo Richards, assume as funções e pergunta aos alunos sobre a importância do local, produzindo duas narrativas em simultâneo.

    Assinando duas revistas de um mesmo universo ficcional, Fraction demonstra que sua trama inicial será composta como peças de um tabuleiro narrativo. Apresentando com calma as estruturas, as personagem, para dar andamento à história. As revistas se diferenciam por conta dos desenhistas, Mark Bagley, na primeira, com traços mais realistas, e Michel Allred, em Fundação, com desenhos mais estilizados, utilizados em outras décadas, sem uso excessivo de sombras.

    Ed McGuinness e Jeph Loeb fazem parte da equipe de Nova, a história mais fraca do mix. A arte se sai melhor que o roteiro, principalmente porque o desenhista deixa de lado o excesso de músculos, comuns em seus traços, o que deslocaria ainda mais a história de sua intenção. Neste início, o Nova original conta suas peripércias a um filho descrente do passado glorioso do pai. Nesta primeira parte, Loeb repete seu estilo narrativo de encerrar a última página em uma única imagem com o gancho derradeiro que arranca a história.

    Fechando a primeira edição, Os Guardiões da Galáxia #0.1 apresenta a primeira parte da trama cujo trecho estava em Ponto de Partida. Em um retorno ao passado, conhecemos o pai de O Senhor das Estrelas, sua nave abatida na Terra e a relação amorosa que gerou o terráqueo da equipe intergalática. Brian Michael Bendis assina a história que retorna ao passado para redimensionar o presente, ainda que não haja uma trama definida neste prólogo, além de, nas páginas finais, haver a presença de Tony Stark que demonstrou interesse pela equipe na edição zero de Avante, Vingadores!.

    A Panini teve cuidado ao respeitar a cronologia – mesmo com ligações mínimas entre as revistas – e lançou esta edição depois da Avante referida que marca o primeiro encontro dos Vingadores com os Guardiões.

    Com bom potencial inicial, Universo Marvel #1 tem séries bem apresentadas e um mix interessante. Pena que muitas histórias se estendem e perdem força no caminho. De qualquer maneira, o início da Nova Marvel demonstra eficiência ao dialogar com seu passado e convocar novos leitores.

  • Resenha | Avante, Vingadores! – Vol. 0

    Resenha | Avante, Vingadores! – Vol. 0

    Avante, Vingadores! (Nova Marvel) nº 00

    A edição zero de Avante, Vingadores! é a primeira a se situar no Novo Universo Marvel. Depois de mais de 10 anos à frente da revista dos Vingadores, Brian Michael Bendis se despede rumo a outro título da casa (X-Men), sendo esta a provável última aventura escrita sobre a equipe e que é também sequência dos acontecimentos vistos na produção cinematográfica.

    A série Avengers Assemble se diferenciaria das outras revistas envolvendo os heróis por apresentar histórias que não estão na cronologia oficial, motivo que justificaria a formação da equipe ser a mesma vista no filme. Algumas adequações produzem breves diferenças, como o fato do grupo possuir diversos membros honorários, elemento ainda não desenvolvido no cinema.

    Encerrando sua longa passagem no título d´Os Vingadores, Bendis entrega uma história que pode servir como adaptação direta para um futuro longa-metragem da equipe. A trama apresenta um novo grupo de vilões chamado Zodíaco – com cada indivíduo representando uma das 12 casas – enquanto os Vingadores comemoram o sucesso da última missão e a reconstrução da Torre Stark. Um foragido Hulk presencia o roubo de um aparato militar e, ciente de um problema em potencial, se une aos amigos.

    A equipe descobre que o Zodíaco trabalha para um ser galático chamado Thanos, que deseja roubar um cubo cósmico, produzido pelo Exército, para destruir a Terra em seguida. Tanto nesta história como na apresentada em Ponto de Partida (Nova Marvel), a Terra é considerada um dos planetas mais deficientes do Universo. Atrasada em relação à evolução de outros mundos e, por conta de interferências de humanos e extra-humanos, seria melhor se fosse extinta.

    O clássico vilão é considerado uma surpresa para a equipe, evidenciando que esta edição é diretamente voltada ao público cinematográfico e antecipa outra equipe que em breve surgirá nas telas: Os Guardiões da Galáxia que ajudam Os Vingadores na batalha de Thanos e na recuperação do cubo cósmico.

    A presença dos Guardiões não retira o foco da outra equipe. Há uma visível preocupação em integrá-las, cada uma defendendo seu fronte, formando uma grande superequipe para resolver a crise da vez.

    Bendis conhece intimamente o grupo de heróis e entrega uma boa história em sete partes que funciona tanto para leitores novos como para os mais antigos. A narrativa também aponta para um possível futuro cinematográfico que unirá Os Vingadores e Os Guardiões da Galáxia em uma história espacial.

    Dentro do plano de reestruturação da Marvel, Avante, Vingadores #0 é um primeiro acerto e um leitor mais antigo não se sentirá ofendido pela ausência da vasta cronologia da equipe. A partir da próxima edição, o Universo se expande com outros heróis que surgem para acompanhar a equipe, aproximando estes Vingadores com a equipe tradicional da cronologia.

  • Resenha | Nova Marvel: Ponto de Partida

    Resenha | Nova Marvel: Ponto de Partida

    Ponto-de-Partida1

    Marco M. Lupoi, diretor de publicações da Panini Groups, é o responsável pelo texto introdutório que abre a revista Ponto de Partida, anunciando a nova Marvel no país. Lupoi afirma que este novo universo não é um reboot. Que sagas e as histórias de cada personagem continuam na mesma linha temporal que se iniciou na primeira história do Quarteto Fantástico na década de 60. Informando que a Nova Marvel é um ponto de partida para novos leitores, além de ser uma mudança para atrair os antigos.

    Mesmo que fuja da afirmação, a Marvel Now, que no país ganhou o nome de Nova Marvel, é resposta direta ao reboot da DC Comics realizado há dois anos. E impossível de ser negada como uma ação mercadológica que muda algumas estruturas do universo, modifica as equipes criativas e deseja aproximar os mais de 60 anos de histórias em quadrinhos da editora à recente cronologia cinematográfica.

    A edição foi a primeira lançada no país como um aperitivo do futuro da nova Marvel, ainda que seja questionável a eficiência desta apresentação para aqueles que não conhecem as personagens da Casa das Idéias. As 50 páginas entrelaçam seis histórias escritas pelas equipes de cada novo título e tem como centro condutor a personagem de Nick Fury e um homem que vem do futuro trazendo a ladainha costumeira de um futuro quase apocalíptico.

    Aos leitores que saem dos cinemas à procura das edições, faltará a perspectiva de que este Nick Fury não é o mesmo visto nos cinemas, nem mesmo se aproxima da clássica personagem. Trata-se de um filho bastardo de Fury, surgido nos últimos anos que, após a aposentadoria do pai, assumiu a força tática da S.H.I.E.L.D.. Uma maneira um tanto canhestra de colocar, de certa maneira, o mesmo personagem tanto nos cinemas quanto nos quadrinhos.

    Enquanto Fury interroga o homem do futuro, cinco histórias se apresentam: o passado do Senhor das Estrelas / Star-Lord de O Guardiões das Galáxias; a origem de um outro Nova; um jovem Loki à procura de heróis para formar os Jovens Vingadores; o Homem- Formiga, membro da Fundação Futuro, em luto pela morte da filha; e o mutante Forge trazendo Cable de volta.

    Pelas personagens envolvidas, é perceptível que o leitor leigo, seja aquele vindo dos cinemas ou o leitor de poucos títulos da casa (particularmente, sou leitor apenas de Homem Aranha, há muito tempo) a sensação de incompletude será evidente. Nenhumas dessas personagens foram sequer inferidas no universo cinematográfico, demonstrando que um leitor novato que gostaria de conhecer a Nova Marvel precisará de maior empenho e um gasto significativo para acompanhar as novas edições, até que ele reconheça as personagens que viu na tela, como Os Vingadores, cuja formação será mesma vista na produção cinematográfica.

    A Nova Marvel começa sem entusiasmo, com seis histórias quase protocolares que não dão o impulso adequado a um ponto de partida que deveria arrebatar. Se o futuro leitor pesar os gastos mensais com base nestes inícios, prevejo que alguns deixarão a empreitada da editora de lado. O único destaque das histórias fica por conta da história “É Arte”, escrita Matt Fraction sobre o Homem-Formiga, eficiente ao apresentar a motivação da personagem enlutada com boa dose de drama e força suficiente para procurarmos a próxima edição nas bancas.

    Se a intenção do aperitivo era ser uma degustação antes do prato principal, as histórias foram servidas fora do ponto. E, provavelmente, este gibi não fará falta quando as histórias iniciarem de fato, nos próximos meses.

    E eis o que vem a seguir, de acordo com os destaques da edição: A busca do Homem-Formiga por vingança; Loki tenta formar uma nova equipe; A nova missão de Nick Fury; A espetacular origem do Nova; a Reconstrução de Cable; A Chocante história do Senhor das Estrelas; Steve Rogers preso em outro mundo; O retorno dos X-Men originais; O novo plano de Bruce Banner; O novíssimo Homem- Aranha; Thor do passado, presente e futuro; O Quarteto-Fantástico desbravando novos mundos.

    Nada tão novo assim.