No período entre 2004 a 2013, Brian Michael Bendis foi responsável pelos roteiros das revistas mensais dos Vingadores e derivados, promovendo, desde sua primeira edição à frente dos heróis mais poderosos da terra, uma série de reestruturas que em um primeiro arco dissolveu a equipe para apresentá-la em uma nova versão, que permaneceu durante um tempo considerável e dialogava com a intenção da Marvel Comics em acrescentar mais uma camada de realidade às suas narrativas.
Despedindo-se do grupo para se dedicar aos X-Men, Bendis compôs uma última saga especial, lançada em seis edições, revisitando um dos vilões mais conhecidos da equipe: Ultron, a inteligência artificial criada por Hank Pyn, o Homem-Formiga. Depois de uma longa sequência de grandes sagas envolvendo diversas edições da Casa das Ideias, A Era de Ultron, relançada em edição de luxo pela Panini Comics, poderia ser uma edição fechada, uma interpretação do roteirista sobre um futuro possível e isolada da cronologia. Porém, mantendo o exagero de grandes sagas lançadas em um curto período de tempo, a série situa-se logo após o início da Nova Marvel (leia também Os Vingadores – Mundo dos Vingadores), o ponto de partida que zerou as edições e apresentou novas equipes criativas na maioria dos títulos da casa.
Em um futuro provável, o vilão Ultron conseguiu destruir a humanidade e derrotar a comunidade heroica. Desde sua criação, o robô investiu diversas vezes contra Os Vingadores, mas sempre fora subjugado. O argumento situa-se em um momento após a queda dos heróis em um planeta parcialmente destruído por seu domínio. Anteriormente à saga, logo após “A Era Heroica”, na edição #12 de Avengers, publicado no país em Os Vingadores nº 100, o roteirista trazia pistas do que estava por vir em uma trama que resgata Mulher-Aranha de um grupo de vilões e confirma que Ultron foi reativado. Tony Stark prevê uma batalha futura com Ultron, afirmando que, devido a sua capacidade de evoluir racionalmente, o vilão poderia vencer cedo ou tarde.
O início se sustenta bem nesse cenário desolado, fazendo-nos perguntar como o vilão foi bem-sucedido em um plano que transformou grandes heróis como Thor, Senhor Fantástico, entre outros, em baixas de guerra. A omissão proposital do roteiro intensifica a gravidade do acontecimento, e as poucas personagens heroicas sobreviventes rebaixaram-se a viver escondidas, sem nenhum plano de ação urgente. Após o resgate de Homem-Aranha por Gavião Negro, a equipe ganha um incentivo para discutir uma retaliação. A partir desde ponto, a história perde qualquer lampejo criativo.
A cena mais simbólica da edição com um Capitão América derrotado
As primeiras edições sustentam a dúvida dos acontecimentos. Porém, Bendis utiliza justificativas inverossímeis dentro das estruturas da cronologia Marvel e impede a qualidade de sua história. Sem um plano concreto de como destruir Ultron e com poucos heróis sobreviventes em cena, a solução encontrada usa um antigo recurso de outras grandes sagas: a modificação do passado para transformar o presente.
Em um universo munido de tecnologia avançada de fontes diversas, com máquinas possíveis de acessar o passado e o futuro, é confortável utilizar este argumento para modificar histórias, tanto como um apelo narrativo de fácil solução quanto para revistas cujas vendas baixas exigem uma reestruturação (Mefisto e Homem-Aranha são exemplos). Neste caso, retornar ao passado é o argumento mais comum, e não há nenhuma vontade de Bendis em procurar originalidade neste aspecto. Assim como em Dias de Um Futuro Esquecido, clássico dos X-Men envolvendo paradoxos temporais, o baixinho Wolverine assume o comando da missão, mesmo contra a vontade do resto da equipe.
Nick Fury, o original, que depois foi dado como morto e de alguma maneira transformado em seu filho negro baseado no Fury da linha Ultimate (oficialmente, são pai e filho, mas é notável a intenção de que sejam uma só personagem), surge na trama como um homem incapaz de liderar, mas que se escondeu durante toda a ação de Ultron para investigar uma maneira de detê-lo. Outro aspecto questionável da história: se a destruição de Ultron foi agressiva a ponto de heróis não formularem uma defesa eficaz, Fury não deveria sair de cena para dedicar-se a uma investigação. E mesmo que a ausência seja plausível, seria mais eficiente direcionar um herói conhecido pela inteligência para estudar um meio de parar o vilão. Fury é muito mais um soldado do que um cientista racional.
Pelo uso do paradoxo temporal, a trama talvez fosse mais bem-sucedida se não estivesse dentro da cronologia Marvel. Poderia ser lida apenas como um exercício final da passagem de Bendis pelos Vingadores e se tornaria uma saga possível de um futuro em que Ultron venceu. Lançado logo após a Nova Marvel e simultaneamente ao começo da saga Infinito, tornou-se evidente o exagero do estúdio em produzir mega sagas em sequência, sem nenhum respiro para o leitor acompanhar histórias mensais breves.
A sequência de tantas bases vistas anteriormente nos quadrinhos em um roteiro que não busca nenhuma inovação reduz a história a uma obra média e um tanto oportunista, voltada para novos leitores ávidos em conhecer o vilão do novo filme da equipe. Bendis se despede dos Vingadores com um saldo positivo nas edições mensais, em bons arcos narrativos, mas nesta ultima aventura transforma um bom argumento em uma história déjà vu que abusa de preceitos chaves de outras aventuras para desenvolver-se como trama.
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