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  • Crítica | O Garoto do Futuro

    Crítica | O Garoto do Futuro

    Michael J. Fox faz Scott Howard, o número 42 do Beavers, um time escolar tão inofensivo em seu jogo e no quinteto titular que o primeiro momento do jogo ele cobra uma arremesso livre pisando na linha e pulando, lances que anulariam a jogada, e absolutamente ninguém reclama, pois eles estão muito atrás do placar. O filme se debruça sobre a historia desses perdedores e no Brasil ficou conhecido pela picaretagem da tradução, que evoca o clássico também protagonizado por J Fox,  De Volta Para o Futuro, sendo que não há qualquer menção nesse  há algo fora do presente de 1985.

    Hoje, o filme é  mais conhecido por sua serie derivada, Teen Wolf, que tem em comum quase nada, alem do nome original e do fato de ser protagonizado por um lobisomem. Meio sem motivo, o corpo de Scott vai mudando, adquirindo pelos que vem de modo repentino, tornando suas orelhas mais agudas, escondidas apenas por seu penteado de tigela e isso o deixa preocupado, por possivelmente impedir ele de farrear, e de curtir o pedaço do filme que faz lembrar os filmes adolescentes de festa, com um Porkys ou Picardias Estudantis mais leve e sem nudez.

    Ao menos, Rod Daniel, o diretor dignifica seu filme a não dedicar muito tempo e esmero a transformação, fazendo dela uma enorme piada, que ocorre com pouco mais de 30 minutos de exibição e é grotesca visualmente, e só não surpreende mais graças ao fato que ocorre logo depois, com uma mini conversa de pai e filho sobre essa condição. O roteiro obviamente extrapola e exagera as sensações típicas da puberdade e as mudanças corporais que um jovem sofre ao se aproximar da vida adulta, e trata isso com comédia e até leveza.

    Scott decide começar a curtir suas transformações, e faz isso no meio de um jogo e ao invés de sofrer bullying, vira um jogador melhor e passa a concentrar a atenção das meninas, além de assustar adversários em um primeiro momento. Sua popularidade cresce, até o mascote do time muda e ele vira o mais popular dos meninos do colegial.

    O filme é gaiato ao extremo, o personagem principal consegue transitar bem entre o sujeito que incomoda pela fama repentina recente e o sujeito que não perde sua humildade, ele se aproxima da garota mais popular do colégio, Pamela (Lorie Griffin)  e incomoda seu namorado, Mick (único que o recrimina basicamente) e ainda mantém viva a chama com a moça que sempre o cortejou mesmo quando ele ainda era um perdedor. Nesse ponto, o roteiro é maniqueísta, não traz muitas conseqüências ao seu personagem principal, ainda que o mostre humano.

    A forma como o script de Jeph Loeb (o mesmo que fez a série das cores na Marvel e Batman – O Longo Dia das Bruxas) e Matthew Weisman  desenvolve os momentos finais é bem clichê, restringindo as capacidades do lobisomem adolescente e mostrando que o devido valor dele já existia antes mesmo dele perceber a condição da licantropia, embora antes, não houvesse qualquer indício disso. Apesar de O Garoto do Futuro ter toda essa carga descompromissada com qualquer moralidade típica dos anos 80, há muito charme e graça no filme, especialmente por Michael J. Fox emprestar seu carisma a Scott, fazendo acreditar não só que ele pode ser um monstrinho bondoso, capaz de gerar simpatia em tudo e todos, mas também fazendo acreditar que um quase anão seria uma fera do basquete colegial.

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  • Review | Agentes da SHIELD – 2ª Temporada

    Review | Agentes da SHIELD – 2ª Temporada

    Nesta segunda temporada, além de discutir as questões relativas a ressurreição do Agente Coulson (Clark Gregg), desenrolando o mistério em volta do projeto dos Vingadores ressuscitados, a série também se conecta com Agente Carter, que até então não havia sido cancelada. É curioso que esse resgate do que era a SSR (antigo nome da organização), além de se conectar muito bem com o filme Capitão América: O Primeiro Vingador, também trata de artefatos mágicos e dá mais detalhes de como foi árduo a construção do legado da organização de Nick Fury, Coulson e companhia, antes até do que foi visto nos prólogos de Homem-Formiga, com Hank Pym lidando com os responsáveis em seus primórdios.

    O desenrolar dos acontecimentos da primeira temporada e dos filmes – em especial, Capitão America 2: Soldado Invernal, Thor: Mundo Sombrio e Vingadores: A Era de Ultron – contém algumas participações curiosas, como a de Carl Creed/Homem Absorvente (Brian Patrick Wade) que trabalha para a Hydra e que, segundo algumas falas de Jeph Loeb (quadrinista e produtor do lado televisivo do MCU) seria o mesmo que enfrentou o pai de Matt Murdock na primeira temporada de Demolidor.

    Novamente se investe tempo e emoção no quase romance entre Skye (Chloe Bennet) e Ward (Brett Dalton), com o segundo preso, mas aos poucos os dois personagens vão ganhando seus próprios rumos. O grande problema é que esse ano se divide em histórias diferentes que se cruzam, sendo a primeira, ligada ainda a Hydra, com Simmons (Elizabeth Henstridge) se tornando uma agente dupla, vazando informações do lado maligno para os mocinhos. O segundo é a evolução desse quadro, mostrando as consequências da exposição aos materiais que o vilão manuseava, e assim foram introduzidos os Inumanos, três anos antes até da péssima adaptação televisiva Inumanos.

    No quesito jogo de espiões, ao menos pelo meio da temporada, não há o que reclamar. A série replica os bons momentos dos seriados de matinê antigos de Joss Whedon, especialmente com as personagens femininas, pois tanto Melinda May (Ming-Na Wen) quanto a novata Bobbi Morse (Adrianne Palicki) tem momentos inspirados, tanto dramaticamente quanto no quesito ação, o que surpreende, pois ambas estiveram em produções malfadadas, como Street Fighter com a primeira, e o piloto cancelado de Mulher-Maravilha com a segunda.

    O problema maior do roteiro é como ele lida com seus mistérios. Tudo é sensacionalista, em especial na questão familiar de Skye. Kyle McLaughlin é um ótimo ator e até tem bons momentos, mas na maioria das vezes é posto em situações constrangedoras, assim como Dichen Lachman, que ao contrário das outras mulheres, é bem maltratada pelo texto, soando sempre histriônica e afetada. Toda a trama de arrependimento e variações emocionais de Ward pouco funciona, assim como os efeitos especiais ligados aos poderes dos inumanos, sobretudo quando Skye assume seu papel heroico, como Tremor.

    Essa temporada tem até um pouco de influência nos filmes, ainda que bem pontual, envolvendo o porta-aviões que aparece no segundo Vingadores, em Sokovia, e ainda traz uma participação de Maria Hill (Cobbie Smulders), que poderia ser melhor aproveitada aqui, já que aparece nos filmes. Jiaying, a inumana que é mão de Sky justifica sua hostilidade contra a Shield afirmando que a organização estabeleceu uma guerra com o seu povo, e que matar pessoas é um processo inevitável, no entanto, os desdobramentos soam melodramáticos ao extremo, e perdem boa parte de sua força exatamente pelo exagero narrativo.

    A tentativa de Ward de resgatar o restante dos integrantes da Hydra ao final é inteligente, e faz sentido, mesmo sem grandes possibilidades de sucesso. Do outro lado, há uma boa alternativa para o futuro, envolvendo Skye e outros seres com poderes, e mais um cliffhanger. As tramas familiares dão um pouco de graça e tornam o programa menos genérico, mas está longe de ser algo fenomenal ou com a qualidade ao menos condizente com os filmes do MCU. O drama e motivação de Jiaying tem algum ponto de realidade e verdade, mas não faz muito sentido dentro da trama. Os bons momentos da série fazem lembrar Buffy e Angel, mas ainda é pouco e desnecessariamente longo para os padrões atuais. Por um lado, Agentes da Shield é bastante subestimada, por outro está aquém do que poderia mostrar, já que não faltam tramas de espionagem dentro desse universo audiovisual da Marvel.

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  • Crítica | Comando Para Matar

    Crítica | Comando Para Matar

    Era uma vez, uma época muito louca chamada “década de 80”. Nesse período, as roupas eram exageradas, os mullets povoavam cabeças e tudo tinha um aspecto colorido e meio decadente. Durante essa década, o cinema passou por um período de muita criatividade. Filmes seminais pipocavam a todo instante, tivemos o aparecimento de John Hughes e suas comédias que iam a fundo na psique do adolescente… e tivemos o maravilhoso advento do Cinema Brucutu! Sim! Tivemos a popularização do subgênero de ação que mostrava super homens com habilidades incríveis e uma ética inabalável destroçando pequenos exércitos e moendo vilões caricatos. Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenegger foram os maiores expoentes desse subgênero, com o austríaco variando mais na temática dos seus filmes. Ele foi um cyborg assassino vindo do futuro, um bárbaro cimério, esmurrou um caçador alienígena. Porém, em Comando Para Matar, a sua rotina foi mais comum: ele apenas voou para uma ilhota centro americana e dizimou o exército do lugar.

    Passemos a um detalhamento maior da trama: Schwarzenegger vive o ex coronel das Forças Especiais John Matrix. Matrix passou a viver isolado com sua filha, mas sua tranquilidade é abalado pelo seu ex-superior, o general Franklin Kirby, que avisa que todos os antigos membros do esquadrão comandado por John estão sendo eliminados. Após o encontro, a casa de Matrix é atacada e sua filha é sequestrada pelo ditador Arius, que se aliou a Bennett, um ex Forças Especiais comandado por Matrix e Kirby que fingiu a própria morte para se tornar mercenário. A dupla de vilões quer que John cometa um crime político para que Arius retorne ao poder. Só que o coronel Matrix resolve que em vez disso, vai resgatar sua filha e detonar os facínoras, nem que pra isso destrua uma ilha inteira.

    Se tem uma coisa que o diretor Mark L. Lester sabe fazer, é filmar sequências de ação. Lester, que tem em seus créditos as pérolas Massacre no Bairro Japonês (com Dolph Lundgren e Brandon Lee) e Chamas da Vingança (filme de 1984 com Drew Barrymore, Martin Sheen e George C. Scott, não o de 2003 com Denzel Washington), chega até a imprimir uma certa poesia nos momentos em que Arnoldão sai fuzilando todo mundo que encontra pela frente. Me atrevo a dizer que há até uma certa fetichização do então futuro governador da Califórnia, uma vez que há um abuso de closes nos músculos de Schwarzengger. Uma sequência chega a ser absurda, pois mostra imagens do tórax do ator trepidando devido aos inúmeros tiros que ele desfere com um fuzil, intercaladas com as imagens do exército da ilhota invadida por ele morrendo de forma acrobática. Entretanto, existem sequências ótimas no segundo terço do filme, com destaque especial para a fuga do avião e a perseguição no shopping center. Arnold arrancando uma cabine telefônica como se aquilo nada fosse é algo de sublime. Ah! A cena de luta no motel consegue ser mais divertida que muitos combates acrobáticos de filmes do cinema atual.

    O roteiro escrito pelo famoso quadrinista Jeph Loeb (autor de Batman: O Longo Dia das Bruxas, Vitória Sombria e aqui assinando como Joseph Loeb III), Matthew Weisman e Steven E. de Souza (roteirista de inúmeros filmes de ação como Duro de Matar e diretor da adaptação de Street Fighter, com Jean-Claude Van Damme),  é apenas um pretexto pra muito tiro, porrada e bomba. Personagens são unidimensionais, caricatos e normalmente se comunicam através de frases de efeito e isso é excelente! Existem alguns buracos no roteiro aqui e ali, mas totalmente perdoáveis. Isso se dá ao fato da despretensão do filme, o que faz o beirar a comédia involuntária. As atuações do elenco ajudam a acentuar o aspecto cômico involuntário. Arnold se empenha bastante, porém suas limitações dramáticas aqui estão em seu grau máximo. Mas é nas one liners (frases de efeito) que ele se esmera. É impossível não rir. Schwarza é puro carisma. Rae Dawn Chong, que interpreta a mocinha seduzida pelo musculoso carisma (rá!) do protagonista tem uma atuação muito peculiar. Em algumas dá pra perceber que ela quer fazer um trabalho sério, mas depois percebe-se que ela já tá levando aquilo tudo na galhofa. Dan Hedaya e Vernon Wells, respectivamente os vilões Atius e Bennett, entregam um overacting digno de Nicolas Cage. Wells ainda acaba mais caricato por seu figurino, uma coisa meio militar meio sadomasoquista.

    Nesse momento você está pensando: “pô, o Bernardo tá avacalhando o filme todo. Deve ser uma porcaria”. Não, meu caro! Comando Para Matar é divertido demais e um baita filme de ação. Sua despretensão deveria servir de exemplo para o cinema de ação atual que se leva a sério demais e que volta e meia nos entrega filmes insossos com personagens com menos carisma do que um poste.

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  • Resenha | Capitão América: Branco

    Resenha | Capitão América: Branco

    A coleção das cores, projeto de Jeph Loeb e Tim Sale, retomando a origem de clássicos personagem da Marvel sob uma ótica sensível – a qual promoveu Demolidor: Amarelo, Homem-Aranha: Azul e Hulk: Cinza –, sofreu um longo hiato até o lançamento do quarto título, Captain America: White. As primeiras informações desta edição datavam de 2008 quando um número zero foi lançado e elogiado pela crítica. O longo período de espera gerou especulações de que a história nunca seria lançada. Finalmente, no final do ano passado, a série foi lançada nos Estados Unidos e, posteriormente, em março deste ano, ganhou um encadernado em capa dura.

    Captain America: White, ainda sem lançamento previsto no país, mantém o estilo narrativo da trilogia anterior, retratando o início de personagens consagradas, dessa vez, deslocando o epicentro dramático para uma relação distinta. Se as anteriores focavam em grandes amores do heróis, nesta trama é a amizade entre Steve Rogers e Bucky Barnes o destaque. No prefácio assinado por Christopher Markus e Stephen McFeely, roteiristas de Capitão América: O Primeiro Vingador, Soldado Invernal e Guerra Civil, os autores pontuam que a trama mantém a vertente de uma história de amor voltada para uma composição platônica, um laço de amizade perfeita criada em uma difícil época mundial.

    A trama se passa em grande parte na Segunda Guerra Mundial, época em que Capitão América se tornava um representante do ideário americano na guerra como símbolo de força. Após o orfão Bucky descobrir a identidade secreta de Steve Rogers, este o treina para torná-lo um ajudante e incentivo para que os jovens da época se alistassem na causa.

    A tônica narrativa enfoca uma época diferente e anterior daquela apresentada nas tramas de Demolidor, Homem-Aranha e Hulk, fundamentando a origem do primeiro vingador antes do período em que permaneceu congelado acidentalmente. O Branco do título pondera a tradicional batalha entre bem e mal, fator aparentemente explícito em uma guerra, e a dualidade de pensamentos opostos primários, sem uma matiz entre um e outro.

    Captain America - White - 01

    Steve Rogers se apresenta coerente como personagem, puro e motivado em fazer o bem. Um herói que retoma sua jornada a partir da amizade com Bucky e da dor de perdê-lo no mesmo acidente que congelou Rogers, um evento traumático ainda carregado pelo vigilante e, evidentemente, anterior às modificações realizadas por Ed Brubaker em sua revista. A relação entre Rogers e Bucky se estabelece com símbolo familiar, representando um irmão mais velho cuidando do mais novo. Figuras que transitam entre força, coragem e fragilidade. A pureza da narrativa não aborda nenhum contorno além dessa relação fraterna, nem mesmo configura como absurdo o fato de um adolescente ir ao fronte de guerra de maneira oficial, sancionada pelo governo.

    As cores de Tim Sale são trabalhadas de maneira diferenciada das obras anteriores. Se elas tinham possíveis cores em destaque, resultando em quadros monocromáticos ou com poucas cores, o branco não se desenvolve da mesma maneira. Optou-se pelo uso de tons claros, mantendo uma escuridão aparente de um universo oprimido pela guerra mundial. Destaca-se o vilão Caveira Vermelha, feito com precisão entre uma caricatura em traços levemente exagerados, mas que se encaixa na visão realista da trama e demonstra como o lado “negro” da guerra seria, naturalmente, exagerado e vilanesco. No roteiro, há mudanças significativas devido ao fato de que Loeb modificou seu estilo narrativo, principalmente após o falecimento precoce do filho. De fato, o autor afirma que parte do desenvolvimento entre Rogers/ Bucky foi baseada na amizade com o filho. O sentimento de perda ainda se destaca pela presença da morte e da culpa como carga dramática.

    Modificando o enfoque narrativo, Captain America: White se revela um exercício interpretativo coerente com a origem e desenvolvimento de Capitão América. Mas não resulta em uma história grandiosa, em parte porque a origem da personagem foi recontada diversas vezes em boas versões anteriores, além da dinâmica do projeto que, ao ser coerente e manter a mesma vertente, perde uma abordagem inédita.

    Captain-America-White 01

  • Resenha | Hulk: Cinza

    Resenha | Hulk: Cinza

    Após um retorno ao passado sob vertente sentimental de dois heróis populares da Marvel Comics, Demolidor e Homem-Aranha, personagens centrais de Demolidor: Amarelo e Homem-Aranha: Azul, os parceiros Tim Sale e Jeph Loeb dão continuidade à série das cores em uma história que, até ano passado, figurava como o último volume de uma trilogia, agora ampliada com Capitão América: Branco.

    Lançado em 2003 em seis edições, Hulk: Cinza demonstra um equilíbrio narrativo entre as duas histórias anteriores. É perceptível que erros e acertos foram ponderados para compor essa trama, que repete o mesmo estilo memorialista narrando a origem fundamental do Golias Esmeralda. Diferentemente das anteriores, em que havia um interlocutor oculto representando parte da memória das personagens, Bruce Banner dialoga com seu psiquiatra, ponderando os acontecimentos do passado e analisando breves intervenções do analista.

    A inserção de um personagem que dialoga com o narrador é uma boa escolha para se diferenciar das tramas anteriores. A composição de Hulk se apoia no paradoxo entre inteligência versus brutalidade, um fardo que faz com que seu alter ego carregue alta carga de culpa. A trama acompanha linearmente os primeiros momentos de Banner ao se transformar nesta forte criatura, apresentada aqui de maneira primitiva e com uma psiquê infantil, adquirindo um tom sensível sobre um monstro que desconhece a si mesmo e os motivos de sua existência. O analista serve de contraponto para Banner, dando-lhe uma nova dimensão de suas dores passadas.

    Não compreendendo o motivo do mundo tratá-lo com agressividade, Hulk se preocupa somente com Betty Ross, alguém que, em sua psicologia, merece ser protegida a todo custo. Como a história aborda os primeiros dias após o acidente que propiciou sua origem, a ação é bem concentrada neste período temporal específico, sendo a obra mais metafórica das três incursões da dupla até então. Não há um grande aprofundamento psicológico como nas anteriores, em que o lado sensível e sentimental se destacavam, principalmente porque Loeb demonstra conhecer a personagem, identificando que, neste primeiro momento, não haveria base para um aprofundamento dramático. O paralelo traçado pelo Banner narrador ao retomar sua história inicial é suficiente ao colocar a culpa como arrependimento e dialogar com sensações básicas e primitivas dos seres, como amor e raiva. Estruturalmente, a trama é simples, sem um desfecho bem delineado, soando como uma saída fácil para finalizar a história.

    A falta de aprofundamento, ainda que coerente com o conceito proposto, distancia-se brevemente de Amarelo e Azul anteriores. Motivo que faz Hulk: Cinza ser a obra menos destacada entre as três. Apesar da boa tônica narrativa com alta carga simbólica e a composição visual perfeita graças ao talento de Tim Sale, há um senso de incompletude no desfecho, como se fosse encerrado às pressas, sem planejamento adequado.

    Hulk - Cinza - Tim Sale - 01

  • Resenha | Homem-Aranha: Azul

    Resenha | Homem-Aranha: Azul

    Homem Aranha - Azul

    Um ano após a bela história de Demolidor: Amarelo, a dupla Tim Sale e Jeph Loeb davam sequência a sua trilogia de cores na Marvel Comics, enfocando novamente o passado de um grande personagem da casa. Diferentemente da primeira história que partia de um acontecimento traumático recente, em Homem-Aranha: Azul – lançado na época pela Panini Comics e relançado em capa dura na Coleção Graphic Novels Marvel da Salvat – é o aniversário da morte de Gwen Stacy que motiva Peter Parker a relembrar os fatos.

    Em estilo semelhante ao anterior, o aracnídeo também dialoga diretamente com uma personagem que saiu de cena. Porém, a carta da primeira história escrita para Karen Page é substituída por um registro oral feito através de um antigo toca-fitas encontrado no sótão no Dia dos Namorados. É neste cenário que Peter narra sua relação com Stacy, o interesse amoroso por Mary Jane e diversos vilões que se apresentam nestes acontecimentos.

    A trama é desenvolvida de maneira mais linear sem enfocar aspectos diversos da personagem. O roteiro se baseou nas tramas de The Amazing Spider Man #40 a #48 e #63, inserindo diversos ataques de vilões que seriam orquestrados por Kraven, o Caçador. A reformulação destas histórias causou excesso de personagens e, mesmo que simbolize a difícil vida de Peter Parker como herói e alter-ego, o conflito amoroso entre as duas mulheres de sua vida seria forte o suficiente. Diante de muitas cenas de ação, a vertente sensível se perde e chega a quebrar o ritmo deste recordatório. A arte também se apoia em traços anteriores da personagem, em uma clara homenagem a John Romita Sr., pontuando a composição imagética de sua época em uma lembrança que serve para a recordação do leitor desta fase.

    Conforme a ação cede para um maior aprofundamento no embate amoroso vivido entre o triângulo de personagens centrais, a história cresce em sua metade. O enfoque sentimental ganha mais força no luto de Parker e demonstra a intenção dessa releitura e a importância que Gwen Stacy teve para o jovem, tanto como primeiro laço amoroso de sua trajetória como em relação ao peso de se sentir responsável pela sua morte, provocada pelo Duende Verde.

    Mesmo dando sequência a um interessante projeto, baseado nos primórdios de seus heróis, a inevitável comparação de Homem-Aranha: Azul com o primeiro e intocável trabalho se sobrepõe naturalmente. A história se mantém equilibrada, ainda que a homenagem e o enfoque simultâneo no enlace amoroso e nos vilões tenham diminuído o impacto sensível da trama, resultando em uma edição não tão definitiva quanto a anterior.

    Compre: Homem-Aranha: Azul (Salvat)

    Homem Aranha - Azul - 01

  • Especial | Demolidor

    Especial | Demolidor

    Demolidor Especial

    Criado por Stan Lee e Bill Everett, Demolidor, O Homem Sem Medo, fez sua estreia em abril de 1964, em Daredevil #1, e desde então, permanece como um dos principais personagens urbanos da editora. Na época de seu lançamento, o personagem se destacou entre as diversas criações da Marvel ao escolher como alter-ego um homem cego, conquistando leitores e ganhando status de representante dos leitores cegos que o admiravam pela força de superar problemas.

    Representante da faceta urbana do estúdio, Demolidor é um herói solitário. Trabalha sempre a favor da Cozinha do Inferno e raramente participa de grandes grupos. Um isolamento que proporciona um senso de urgência em suas histórias. Alguns períodos se destacam em sua trajetória, entre eles as fases de Frank Miller e Ann Nocenti, responsáveis por desenvolver bases importantes para a personagem, como também outros roteiristas como Brian Michael Bendis, Ed Brubaker, Karl Kesel, DG Chichester e Kevin Smith desenvolveram uma visão realista da personagem em tramas que situavam tanto o herói quando o alter ego Matt Murdock. Em seguida, coube a Mark Waid dar um novo tom ao personagem, em uma elogiada fase que voltava a uma faceta aventureira e mais bem-humorada que remetia as fases  clássicas de Marv Wolfman e Gerry Conway. O Homem Sem Medo se mantém coeso, com grandes momentos nos quadrinhos.

    Quadrinhos

    (1964 – 1965) Biblioteca Histórica Marvel: Demolidor – Volume 1
    (1979 – 1971) Demolidor – Por Klaus Janson e Frank Miller – Volume 1
    (1981 – 1982) Demolidor – Por Klaus Janson e Frank Miller – Volume 2
    (1993) Demolidor: O Homem Sem Medo
    (2001) Demolidor: Amarelo (Jeph Loeb e Tim Sale)
    (2001) Demolidor: Revelado (Brian Michael Bendis e Alex Maleev)
    (2004) Mercenário: Anatomia de Um Assassino
    (2009) Demolidor Noir
    (2011) Demolidor #1 (Mark Waid)
    (2011) Demolidor #2 (Mark Waid)
    (2011) Demolidor #3 (Mark Waid)
    (2012) Demolidor – Fim Dos Dias

    Filmes e Seriados

    (2003) Demolidor – Versão do Diretor
    (2015) Demolidor 1ª Temporada
    (2017) Os Defensores 1ª Temporada
    (2018) Demolidor – 3ª Temporada

    Podcasts

    VortCast 05 | Filmes da Marvel
    VortCast 22 | Ben Affleck
    Agenda Cultural 53 | Angeli, Demolidor e Guerra Mundial Z

  • Resenha | Demolidor: Amarelo

    Resenha | Demolidor: Amarelo

    Demolidor - Amarelo - Tim Sale Jeph Loeb

    Diante de grandes publicações, a dupla Tim Sale e Jeph Loeb se tornou uma representação contemporânea de parceria de sucesso nos quadrinhos. Iniciada na DC Comics, em histórias solos que compuseram a coletânea Dia das Bruxas, a equipe produziu grandes narrativas fechadas focadas em aspectos distintos de personagens do estúdio, como O Longo Dia das Bruxas e Vitória Sombria para Batman e As Quatro Estações para Superman. Na Marvel, desenvolveram uma trilogia de cores – agora acrescida de uma nova aventura com Capitão América – retomando a origem fundamental de três personagens e compondo uma trama sentimental e dramática sobre suas trajetórias.

    Em geral, as narrativas de cores formadas por Demolidor: Amarelo, Homem-Aranha: Azul, Hulk: Cinza e o recém-lançado Capitão América: Branco, retornam ao início das personagens, a partir de definições feitas por Stan Lee, para uma história de cunho mais pessoal, centrada em acontecimentos chave, narrados pela própria personagem. Trabalhando com um histórico de acontecimentos, a trama vai além de uma releitura de fatos, reordenando, com qualidade, as tensões da biografia do herói em uma nova visão.

    Demolidor: Amarelo foi o primeiro destes lançamentos em uma minissérie em seis edições publicada originalmente entre 2001 e 2002. No país, três edições foram publicadas com toda a série, no formato Panini, maior do que o americano. Loeb reordena o passado de Matt Murdock a partir de acontecimentos recentes da personagem. Assim, dialoga tanto com um drama atual das histórias como retoma seus primeiros dias. O ponto de partida se situa na morte de Karen Page, um acontecimento narrado por Kevin Smith em Demônio da Guarda, primeira história do Volume 2 de Daredevil. A narração é composta por uma carta escrita para a falecida Karen, repassando os primeiros momentos em que tiveram contato em uma época a qual o Homem Sem Medo ainda utilizava o manto amarelo em homenagem ao pai – um figurino modificado a partir de Daredevil #8, em agosto de 1965, o que prova a abordagem em momento precoce na carreira.

    A releitura adquire maior cunho dramático, perpassando acontecimentos do início da carreira, revivendo o trauma de outra namorada perdida. Ao dialogar com um personagem morto, a carga dramática se eleva e produz uma composição sensível que corrompe a estrutura de um herói perfeito. A morte nas tramas de Murdock sempre desenvolveram um conceito trágico na personagem, e o efeito causado por ela, sempre realista, é apoiado em dor e luto. O que o mantém como um representante heroico é a forte personalidade e o senso de obrigação moral de fazer o bem. Feitos que se sobrepõe e sempre abrandam as perdas violentas de Murdock desde a infância com a morte do pai, um traço psicológico que, desde sua fundamentação, foi inserido com precisão.

    Loeb  e Sale trabalham em sincronia, entrelaçando roteiro e imagens, desenvolvendo uma obra que ambos os aspectos se completam. Loeb inicialmente desenvolvia os roteiros com sugestões para o desenhista que expandia as informações, melhorando a visão artística em belos quadros. A edição também apresenta um novo estilo de colorização por computador, a partir das imagens preto e branco de Sale.

    Cada capítulo retoma um aspecto diferente da vida de Murdock explorando a trajetória anterior, os momentos iniciais, a luta com os primeiros vilões, o amigo Foggy Nelson e a tensão amorosa existente entre ambos na relação com Karen Page. Uma retomada memorial que adquire tom pessoal em uma estética impecável, homenageando artistas que passaram pela primeira longeva série da personagem encerrada em Outubro de 1998 para um novo grandioso inicio com Smith que se manteve em qualidade com David Maack, Brian Michael BendisEd Brubaker, Andy Diggle e Mark Waid nos roteiros.

    Demolidor: Amarelo nunca foi relançado no país e se trata de uma história cuja reedição é necessária, pelo bom conteúdo além do natural pedido dos leitores, ainda mais considerando o novo formato estabelecido pela editora em edições capa dura. Nos Estados Unidos, há tanto uma reedição solo quanto uma contendo as três histórias, uma edição defasada devido ao lançamento de Capitão América.

    Daredevil - Yellow - Tim Sale

  • Review | Jessica Jones – 1ª Temporada

    Review | Jessica Jones – 1ª Temporada

    Jessica Jones 1

    O início da nova série da Netflix em parceira com a Marvel Studios começa pelos bueiros e pedaços sujos dos becos nova-iorquinos de Hell’s Kitchen. O produto de Melissa Rosenberg segue muito fiel aos quadrinhos originais de Brian Michael Bendis e Michael Gaydos, associando Jessica Jones à versão primordial de Alias, misturando, de maneira interessante, a atmosfera noir moderna com o estilo cinematográfico dos filmes de ação mais criativos dos últimos anos, e reunindo semelhanças com o ideário visual de Christopher Nolan e Paul Greengrass.

    A escolha de Krysten Ritter para viver a personagem-título não poderia ser mais acertada, uma vez que sua persona é bastante versátil, podendo variar entre a comédia irônica, inteligente e feminista de Don’t Trust in the Bitch in Apartment 23, passando pela figura de femme fatale de sua personagem em Breaking Bad. Jessica é uma mistura de ambos os arquétipos, acrescentando ainda mais camadas à personagem, de moral e comportamento bastante dúbios, fatores que fazem da detetive particular uma personagem que harmoniza uma espécie de sanidade baixa, fruto do ínterim dos poderes sobre-humanos que tem em posse, com uma credibilidade digna de alguém tridimensional e real.

    A aura de sensualidade empregada já no piloto é mérito de sua diretora, S. J. Clarkson, cujo repertório inclui a sexploitation de Banshee e do thriller de serial killer Bates Motel, cujas referências ao incesto já demonstravam uma sexualidade latente no ideário filmográfico da realizadora. A estética dos produtos da Marvel Studios não permitiu maiores audácias, como cenas de sexo mais ardentes entre a protagonista e Luke Cage  (Mike Colter), não deixando claro sequer a famosa cena de sexo anal ocorrida também no número 1 de Alias. A sexualidade foi reduzida, especialmente se comparada a outras séries adultas, visto que, mesmo sem nudez, Sons of Anarchy e semelhantes conseguem exibir mais volúpia do que as tímidas cenas de coito com os amantes vestidos, nesta versão.

    Dois aspectos chamam a atenção logo no início da abordagem. A primeira é a cena de abertura, tão bem encaixada quanto a de Demolidor, contendo elementos visuais que remetem à aquarela que David Mack fazia nas capas de Alias, em referências que parecem belas aos olhos do público geral e que fazem ainda mais sentido para o aficionado. Outro aspecto é a feminilização do personagem Jeri Hogarth, interpretada por Carrie-Anne Moss, adiantando em alguns arcos a parceria, uma vez que, ainda na revista solo, Jessica não tem contato com o empregador dos serviços de aluguel para super-humanos. A mudança de gênero é positiva, aumentado a ideia de um produto de herói feito para um escopo feminista.

    As soluções para associar o vilão à “heroína” são ainda mais assustadoras e adultas na série. Se em Alias a preocupação era em compor um quadro com o universo mainstream da Marvel, no seriado a tônica é de independência, tangenciando questões relativas ao universo urbano, mas sem ser refém deste. O antagonista espreita os detalhes da psique de Jones como uma figura de abuso do passado, cujos detalhes não são inteiramente explicitados, mas que prosseguem em causar danos mentais e emocionais na sua rival. O caso envolvendo uma das investigadas da Jessica faz eco com os primeiros eventos do arco Codinome Investigações, mas tem consequências igualmente trágicas, apesar do desenrolar diferente, plenamente condizente com a temática amadurecida desta faceta do universo audiovisual da Marvel, distante de toda a cor saturada de Vingadores e afins.

    As questões tornam-se mais graves após os assassinatos “induzidos” mostrados no piloto, estabelecendo um caráter de paranoia no entorno de Jessica, ainda mais forte no segundo episódio. De modo gradativo, mostra-se a influência do vilão interpretado por David Tennant, em uma face mais séria de Zebediah Killgrave, ignorando seu visual clássico para estabelecer um personagem condizente com a realidade da Cozinha do Inferno nos seriados.

    A temática da violência contra a mulher é fortificada pela personagem Patricia “Trish” Walker, vivida por Rachael Taylor, substituta do arquétipo de Carol Danvers, que será utilizada em outro produto da Marvel, emulando o estereótipo de amiga inseparável, que tem seu nome ligado a uma vigilante da Marvel, o que faz teorizar sobre seu futuro engajamento em possíveis continuações. A personagem sofre com a “violência fálica” de um homem da lei, dominado pelo mesmo transe com o qual Killgrave atingiu a protagonista.

    Em Alias, o Homem Púrpura era tratado como um personagem mal por essência, mas extremamente orgulhoso e soberbo, que somente cede aos esforços de Jessica para demonstrar o quanto a mulher é diminuta. O cerne desta versão é a obsessão pela personagem-título. Os ataques passam a ser pessoais e com distinção de gênero, agravando os abusos e, claro, universalizando ainda mais o drama mostrado em tela, usando sempre o mesmo articulador como causador de inúmeros tipos de violência.

    Ao contrário do mostrado nos quadrinhos, Jessica não é tão insegura, apesar de todas as dificuldades que a envolvem, as mesmas nas duas versões: a falta de dinheiro para eventos básicos e, claro, a violência abusiva que sofreu – ainda que no seriado as questões sejam ainda mais explícitas. As gravações que servem de narração em off ajudam a montar o cenário de investigações detetivescas, assim como formam uma boa desculpa para o uso do artifício normalmente banalizado.

    A relação da detetive com Bogarth é interessante por se basear em trocas de favores importantes, fazendo lembrar a ausência de maniqueísmo, tanto na trama quanto na teia de relações comuns a mercenários e seus empregadores. A empresária só permite que haja uma procura por supostas vítimas de Killgrave após muita insistência e depois de um pedido que envolve sua vida pessoal e amorosa, situação que beira a chantagem emocional da parte da empregadora, o que faz com que os limites sejam expostos de um modo de fácil ultrapassagem.

    As cenas de banho não são sensuais, já que fazem predominar os ferimentos sob a pele branca, lembretes de danos emocionais e carnais causados por intolerantes raciais, aludindo a segregação normalmente sofrida pelos mutantes no universo das HQs. Apesar de conter pontos um pouco redundantes, a construção da relação de herói e bandido é bem urdida. O incômodo fica por conta dos momentos onde claramente se estica o drama somente para ganhar tempo em tela e bater a “cota” de mais de cinquenta minutos por episódio. O fato em que isto mais ocorre é no estranho romance de Trish com o policial anteriormente manipulado Will Simpson (Wil Traval). A alusão a Síndrome de Estocolmo é interessante, mas demora a se desenvolver satisfatoriamente, ainda que seus resultados (óbvios) remetam a uma doentia relação.

    A série consegue de maneira sui generis harmonizar a fidelidade a HQ, em elementos básicos, ao mesmo tempo em que muda o caráter e essência dos personagens, sem soar falso ou forçado e sem agredir quem gosta de Alias. No entanto, o legado maior do programa é o da libertação, pois mesmo tendo de respeitar os padrões da classificação indicativa, dá vazão à sexualidade de formas diversas, desde triângulos amorosos lésbicos até relações inter-raciais em que somente o sexo importa, sem comprometimentos maiores, além de leve alusões a BDSM e referências à desolação emocional de quem é vitima de abusos sexuais.

    Em tempos onde o feminismo é banalizado e seriamente atacado, a personificação de Killgrave é mais do que necessária, é atual e toca em quase inúmeros elementos ligados às fobias femininas, fazendo dele uma figura de ódio já nos primeiros momentos em que sua menção se faz presente – ainda sem sequer mostrá-lo. A construção de vilão por parte dos produtos dos estúdios Marvel era sempre equivocada, tanto que ao menor sinal de carisma de Loki e da segurança de Wilson Fisk, já havia uma pré idolatria aos personagens, uma vontade de ser elogioso incontida. A sutileza presente no comportamento e condução manipulativa da versão do Homem Púrpura faz fortificar ainda mais o protagonismo ativo e seguro de Jessica, servindo de contraponto masculino agressivo a todo o poderio feminino anunciado em tela, nas figuras das coadjuvantes, seja Trish, Bogarth ou qualquer outra personagem.

    Os apuros de Jones são resolvidos por ela mesma, abrindo uma discussão ainda maior a respeito da responsabilidade, culpa e remorso da parte agressora, questões tão longe do maniqueísmo que fazem desacreditar de que se trata de um seriado da Marvel Comics.

    O saxofone pontua o contraditório pessimismo do epílogo, resultado de uma vitória que não foi boa o suficiente para causar em Jessica uma sensação de completude ou de dever cumprido, já que o heroísmo nunca foi seu alvo, tampouco seu alento. A existência prossegue com uma devastação existencial, grave em todos os sentidos, não aplacada sequer pela vingança obtida, o que faz do texto final algo primoroso por sua complexidade.

  • Resenha | Batman: Silêncio

    Resenha | Batman: Silêncio

    silêncio - capa

    Quando Jim Lee foi anunciado como novo desenhista do Batman, na DC Comics, muita gente ficou com a pulga atrás da orelha. Afinal, o artista coreano era conhecido por desenhar os coloridos X-Men na Marvel, e não se imaginava como seria sua investida no mundo sombrio do Homem-Morcego. Felizmente, ele não fez feio! A arte de Lee caiu como uma luva e funcionou perfeitamente para aquilo a que se propôs. Tudo o que ele precisava era de um bom roteirista que soubesse aproveitar seus atributos em favor de uma boa narrativa. Infelizmente, não foi o que aconteceu com o roteiro de Jeph Loeb.

    Silêncio se mostrou uma trama arrastada, sem foco, rocambolesca e massavéi, o que desperdiçou todo o potencial de Lee. Loeb, que já nos brindou com a excelente maxi-série O Longo Dia das Bruxas, tentou imitar a si mesmo. Não colou. Em O Longo…, o autor desenvolve uma trama na qual ficamos as treze edições tentando adivinhar a identidade do assassino. O mesmo ele tenta fazer nesta história, mas com um problema: o assassino fica muito claro já na primeira edição!

    Loeb utiliza-se de um recurso narrativo que tem se tornado o pesadelo dos fãs de quadrinhos nas últimas décadas: o retcon. Esse recurso é usado quando o roteirista resolve mudar o passado de algum personagem, inserir algum detalhe na trama ou explicar algo que ele considere importante mas que nunca foi mostrado. Diferente de um flashback, o retcon abala as estruturas da história de um personagem. E é exatamente o que ocorre nessa história. Um personagem extremamente importante é “retro apresentado” aos leitores: um amigo de infância de Bruce Wayne do qual ninguém jamais tinha ouvido falar, mas que de uma hora para outra passa a ser a pessoa mais importante na vida do playboy milionário. Causa estranheza no leitor, e, em um momento, Robin chega até a mencionar o fato de Bruce não ter falado a ninguém sobre esse amigo. Nesse momento, lá pela metade da trama, parece que Tim Drake está expressando o pensamento de seus leitores.

    A trama é bastante rasa. Alguém está stalkeando o Batman e usando seus maiores inimigos contra ele. O herói tem que enfrentar os vilões mais perigosos de sua galeria, como o Crocodilo, Hera Venenosa, Arlequina, Coringa, Charada, Espantalho… E até o Superman! Aqui cabem dois comentários: primeiro, a ideia de enfrentar todos os vilões já foi explorada, e de forma muito melhor, na megassaga A Queda do Morcego; segundo, o Superman não acrescenta nada à trama a não ser o fan service para quem idolatra o Batman e odeia o Azulão. Lá pelas tantas, o tal amigo de infância é assassinado, aparentemente pelo Coringa, e Batman precisa descobrir quem está arquitetando o plano (que plano mesmo?). O roteirista parece querer brincar com o leitor (que não sacou na primeira edição), inserindo diversas possíveis identidades para o assassino. E talvez essa seja a parte mais frustrante da história. Em determinado momento, um importante aliado de Batman é revelado como sendo o vilão da história. E faria sentido, principalmente devido a algo que aconteceu na primeira edição (o rompimento da “batcorda” com um “batarangue”). Mas era mais uma “pegadinha”. Entre os personagens que poderiam ser o stalker está, inclusive, Harold – o corcunda de estimação do Batman –, que estava sumido desde a A Queda. O problema é que Harold aparece completamente solto na trama, e leitores mais novos podem ficar totalmente sem entender o que ele significa no universo do Morcego.

    (Nota do redator: Harold é um personagem que, para o bem de Bruce Wayne, deve ser desconsiderado editorialmente. Afinal, é praticamente um escravo que cuida da parte mecânica da Batcaverna, e que, além de corcunda e mudo, tem claros sinais de deficiência cognitiva. Já ouviu falar de ética, Patrão Bruce?).

    Batman Villains in The HUSH Storyline

    No fim da trama, a identidade do vilão é revelada (Nossa! Que surpresa!), e ficamos sabendo que um dos mais antigos vilões de Gotham conhece a identidade secreta do Cavaleiro das Trevas, mas não pode fazer nada com essa informação. Temos um Batman mais abalado e trágico do que já estamos habituados, e percebemos claramente que seus aliados são parte crucial de sua persona. A imagem do Batman solitário nos é colocada à prova, pois vemos o quanto ele depende de seus aliados – não, “amigos” seria a melhor palavra! – para se manter como defensor de Gotham.

    Para um leitor iniciante, talvez Silêncio não seja tão ruim. A saga apresenta bem os personagens, e o “fator fan service” talvez até agrade bastante aos leitores. É como se fosse um álbum do tipo Batman – Greatest Hits, por apresentar encontros com seus maiores inimigos no decorrer da saga. Como um narrador inexperiente de RPG, Loeb parece rolar dados e consultar uma tabela de “encontros aleatórios” para inflar sua trama. Talvez Silêncio tenha funcionado como série mensal, mas como Graphic Novel é sofrível. Vale lembrar que a edição lançada pela Eaglemoss Collections em dois volumes apresenta vários erros de digitação que, se não atrapalham o entendimento da saga, ao menos se tornam um incômodo desnecessário. Pelo menos, temos a arte de Jim Lee, que sofre do mesmo mal de seus amiguinhos da Image Comics – não desenhar pés, ou apresentar problemas com perspectiva , mas em diversos momentos é agradável e nos proporciona diversos “pin ups”. E é sempre bom ver um de nossos heróis favoritos bem desenhados!

  • Resenha | Batman & The Spirit

    Resenha | Batman & The Spirit

    Batman - Spirit

    Criado pelo revolucionário Will Eisner, o herói The Spirit surgiu na década de 40 em um supletivo dominical dedicado aos quadrinhos. Desde então, tornou-se uma das criações icônicas do mestre e ainda lembrada pelo público contemporâneo, que, mesmo sem ser uma testemunha ocular do sucesso da personagem, reconhece a criação mascarada que traja sobretudo e uma gravata, uma referência noir e adulta, inédita para a época.

    Em 2007, a DC Comics adquiriu os direitos da personagem e coube ao roteirista Jeph Loeb apresentá-la a um novo público leitor. Desenhado por Darwyn Cooke, responsável integralmente por doze edições seguintes do herói, este crossover utiliza um dos medalhões do estúdio como destaque para apresentar um novo antigo personagem que possui semelhanças com o Homem-Morcego. Ambos são detetives que utilizam o mistério e a teatralidade como estilo para esconder a origem e o alterego, atuam em uma cidade específica e têm como amigo um comissário da polícia.

    A trama de Convenção do Crime apresenta a amizade entre Gordon e Dolan, relembrando a primeira vez em que Spirit e Batman se encontraram para evitar um ataque de um grande grupo de vilões. O argumento narrativo é básico e cria paralelos entre as personagens de cada universo como modo de interação. Dessa maneira, Gordon e Dolan são convidados para uma convenção policial em comum e, ao mesmo tempo, seduzidos por mulheres fatais, P’Gell, no caso de Gordon, e Pamela Islay formando um par com Dolan. Os heróis são atraídos pelo grupo vilanesco ao mesmo local para serem exterminados. Após um desconforto inicial, e a descrença por parte de Spirit da real existência do Homem-Morcego, a dupla forma uma equipe.

    A história não se desenvolve além de uma aventura de apresentação. O roteiro de Loeb não se situa nem em sua fase elogiada, nem em sua derrocada posterior. Permanece equilibrada e agrada ao demonstrar as diferenças operacionais entre as personagens. Por outro lado, o traço de Cooke, voltado a um estilo mais cartunesco e, assim, fora dos padrões mais realistas de muitos desenhistas atuais, é um primoroso acerto. Completa com estilo a personagem de Spirit e, longe do realismo do Morcego, demonstra-se funcional pela aventura e as doses de humor que ainda evidenciam traços de um estilo noir.

    Torna-se visível que utilizar Batman como uma figura de destaque – a trama tem também uma aparição-relâmpago  de Superman – funciona para situar o herói de Eisner e mostrar ao público que  as personagens habitam um mesmo universo. Como ponto de partida e uma carta de apresentação, a história é funcional. Porém, a fase seguinte apresentada por Cooke é composta com um apuro tão preciso que transforma este crossover entre grandes personagens em uma sombra quase insignificante.

  • Resenha | Universo Marvel – Vol. 1

    Resenha | Universo Marvel – Vol. 1

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    Ao não comportar lançamentos individuais de edições, o formato brasileiro em mixes produz seleções coerentes quando os heróis estão presentes em mais de um título mensal, como Os Vingadores, Homem Aranha ou X-Men e, quando não capazes de formar uma própria revista, são reunidos em um mesmo volume integrando edições de mais páginas que não necessariamente possuem ligação entre si.

    As sete histórias que compõe Universo Marvel nº 1 estão inseridas na Nova Marvel, projeto editorial que chegou ao Brasil em novembro. Hélcio de Carvalho escreve o texto introdutório pontuando as evoluções da Marvel desde sua criação, justificando, como Marco M. Lupoi em Ponto de Partida, a naturalidade das mudanças da Casa das Idéias.

    Um dos méritos destas histórias é a capacidade em desenvolver tramas a partir de elementos básicos de cada personagem, sendo fiel ao conceito editorial de um novo ponto de arranque. Nesta primeira edição, o mix é formado pelas primeiras edições de cada título: Thunderbolts, Hulk, Quarteto Fantástico, Fundação Futuro, Nova e Os Guardiões da Galáxia. Quem acompanha as edições da Panini sabe que a divisão pode se modificar a cada edição, com títulos sendo adiantados para que a cronologia geral não sofra.

    Como originalmente as edições são lançadas individualmente, seria incoerente analisar a revista como um todo sem antes acompanhar a estreia de cada título (ainda que a nota final tenha sido ponderada entre as qualidades das sete histórias).

    O primeiro título da edição, Thunderbolts, começa com Frank Castle – no conhecido traço de Steve Dillon – preso e chantageado pelo Agente Ross. A história se passa inteiramente no mesmo local, em diálogos entre ele e o Hulk Vermelho. A ação é direta: Ross deseja formar uma nova equipe e o Castle é um dos escolhidos. Outras personagens famosas, como Deadpool e Electra, farão parte da equipe, conforme demonstra as páginas finais. Iniciando-se em uma boa cena de ação, a trama flui bem pela improbabilidade, já que o Justiceiro é um dos personagens mais mortais da Marvel. Vê-lo em uma equipe de mercenários pode dar uma nova dimensão ao anti-herói.

    A segunda história é dedicada ao Gigante Esmeralda e ao dilema primordial de Bruce Banner e sua fera interior. Nas primeiras páginas, a agente Maria Hill está em um bar, prestes a realizar uma missão, dialogando em algum aparato eletrônico com Agente Coulson, cena semelhante às dos arcos de Bruce Jones em que Banner conversava com um aliado misterioso em uma boa saga indicada ao Eisner Awards. Além de dialogar com o leitor antigo, o recurso narrativa é interessante e dinamiza a cena.

    Banner muda sua postura em relação ao seu alter-ego, decidindo viver com ele sem tentar incansavelmente obter uma cura. Ao entregar-se para a S. H. I. E. L. D., deseja ser um aliado. Como em Thunderbolts, o roteiro de Mark Waid se desenvolve rapidamente e logo o Gigante realiza um primeiro trabalho como teste de controle de sua raiva e de boas intenções. Não há dúvida de que o argumento entrelaça a história da produção cinematográfica dos Vingadores.

    Enquanto Daniel Way e Waid desenvolvem a ação no início de suas histórias, Quarteto Fantástico e Fundação Futuro mantêm um estilo tradicional. Matt Fraction faz das primeiras edições de ambas uma introdução para a história que será desenvolvida ao longo da saga.

    As tramas estão interligadas por um acidente sofrido por Reed Richards que instabiliza seu corpo elástico. Sem encontrar a cura nos mundos conhecidos, decide partir com a família para lugares não-explorados para salvar-se.

    A edição do Quarteto mostra a escolha dos substitutos que protegerão a Terra. Em Fundação Futuro, o Homem-Formiga, convencido pelo amigo Richards, assume as funções e pergunta aos alunos sobre a importância do local, produzindo duas narrativas em simultâneo.

    Assinando duas revistas de um mesmo universo ficcional, Fraction demonstra que sua trama inicial será composta como peças de um tabuleiro narrativo. Apresentando com calma as estruturas, as personagem, para dar andamento à história. As revistas se diferenciam por conta dos desenhistas, Mark Bagley, na primeira, com traços mais realistas, e Michel Allred, em Fundação, com desenhos mais estilizados, utilizados em outras décadas, sem uso excessivo de sombras.

    Ed McGuinness e Jeph Loeb fazem parte da equipe de Nova, a história mais fraca do mix. A arte se sai melhor que o roteiro, principalmente porque o desenhista deixa de lado o excesso de músculos, comuns em seus traços, o que deslocaria ainda mais a história de sua intenção. Neste início, o Nova original conta suas peripércias a um filho descrente do passado glorioso do pai. Nesta primeira parte, Loeb repete seu estilo narrativo de encerrar a última página em uma única imagem com o gancho derradeiro que arranca a história.

    Fechando a primeira edição, Os Guardiões da Galáxia #0.1 apresenta a primeira parte da trama cujo trecho estava em Ponto de Partida. Em um retorno ao passado, conhecemos o pai de O Senhor das Estrelas, sua nave abatida na Terra e a relação amorosa que gerou o terráqueo da equipe intergalática. Brian Michael Bendis assina a história que retorna ao passado para redimensionar o presente, ainda que não haja uma trama definida neste prólogo, além de, nas páginas finais, haver a presença de Tony Stark que demonstrou interesse pela equipe na edição zero de Avante, Vingadores!.

    A Panini teve cuidado ao respeitar a cronologia – mesmo com ligações mínimas entre as revistas – e lançou esta edição depois da Avante referida que marca o primeiro encontro dos Vingadores com os Guardiões.

    Com bom potencial inicial, Universo Marvel #1 tem séries bem apresentadas e um mix interessante. Pena que muitas histórias se estendem e perdem força no caminho. De qualquer maneira, o início da Nova Marvel demonstra eficiência ao dialogar com seu passado e convocar novos leitores.

  • Resenha | Nova Marvel: Ponto de Partida

    Resenha | Nova Marvel: Ponto de Partida

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    Marco M. Lupoi, diretor de publicações da Panini Groups, é o responsável pelo texto introdutório que abre a revista Ponto de Partida, anunciando a nova Marvel no país. Lupoi afirma que este novo universo não é um reboot. Que sagas e as histórias de cada personagem continuam na mesma linha temporal que se iniciou na primeira história do Quarteto Fantástico na década de 60. Informando que a Nova Marvel é um ponto de partida para novos leitores, além de ser uma mudança para atrair os antigos.

    Mesmo que fuja da afirmação, a Marvel Now, que no país ganhou o nome de Nova Marvel, é resposta direta ao reboot da DC Comics realizado há dois anos. E impossível de ser negada como uma ação mercadológica que muda algumas estruturas do universo, modifica as equipes criativas e deseja aproximar os mais de 60 anos de histórias em quadrinhos da editora à recente cronologia cinematográfica.

    A edição foi a primeira lançada no país como um aperitivo do futuro da nova Marvel, ainda que seja questionável a eficiência desta apresentação para aqueles que não conhecem as personagens da Casa das Idéias. As 50 páginas entrelaçam seis histórias escritas pelas equipes de cada novo título e tem como centro condutor a personagem de Nick Fury e um homem que vem do futuro trazendo a ladainha costumeira de um futuro quase apocalíptico.

    Aos leitores que saem dos cinemas à procura das edições, faltará a perspectiva de que este Nick Fury não é o mesmo visto nos cinemas, nem mesmo se aproxima da clássica personagem. Trata-se de um filho bastardo de Fury, surgido nos últimos anos que, após a aposentadoria do pai, assumiu a força tática da S.H.I.E.L.D.. Uma maneira um tanto canhestra de colocar, de certa maneira, o mesmo personagem tanto nos cinemas quanto nos quadrinhos.

    Enquanto Fury interroga o homem do futuro, cinco histórias se apresentam: o passado do Senhor das Estrelas / Star-Lord de O Guardiões das Galáxias; a origem de um outro Nova; um jovem Loki à procura de heróis para formar os Jovens Vingadores; o Homem- Formiga, membro da Fundação Futuro, em luto pela morte da filha; e o mutante Forge trazendo Cable de volta.

    Pelas personagens envolvidas, é perceptível que o leitor leigo, seja aquele vindo dos cinemas ou o leitor de poucos títulos da casa (particularmente, sou leitor apenas de Homem Aranha, há muito tempo) a sensação de incompletude será evidente. Nenhumas dessas personagens foram sequer inferidas no universo cinematográfico, demonstrando que um leitor novato que gostaria de conhecer a Nova Marvel precisará de maior empenho e um gasto significativo para acompanhar as novas edições, até que ele reconheça as personagens que viu na tela, como Os Vingadores, cuja formação será mesma vista na produção cinematográfica.

    A Nova Marvel começa sem entusiasmo, com seis histórias quase protocolares que não dão o impulso adequado a um ponto de partida que deveria arrebatar. Se o futuro leitor pesar os gastos mensais com base nestes inícios, prevejo que alguns deixarão a empreitada da editora de lado. O único destaque das histórias fica por conta da história “É Arte”, escrita Matt Fraction sobre o Homem-Formiga, eficiente ao apresentar a motivação da personagem enlutada com boa dose de drama e força suficiente para procurarmos a próxima edição nas bancas.

    Se a intenção do aperitivo era ser uma degustação antes do prato principal, as histórias foram servidas fora do ponto. E, provavelmente, este gibi não fará falta quando as histórias iniciarem de fato, nos próximos meses.

    E eis o que vem a seguir, de acordo com os destaques da edição: A busca do Homem-Formiga por vingança; Loki tenta formar uma nova equipe; A nova missão de Nick Fury; A espetacular origem do Nova; a Reconstrução de Cable; A Chocante história do Senhor das Estrelas; Steve Rogers preso em outro mundo; O retorno dos X-Men originais; O novo plano de Bruce Banner; O novíssimo Homem- Aranha; Thor do passado, presente e futuro; O Quarteto-Fantástico desbravando novos mundos.

    Nada tão novo assim.

  • Resenha | Batman: Vitória Sombria

    Resenha | Batman: Vitória Sombria

    Vitoria Sombria - capa

    De tempos em tempos, alguns artistas se sobressaem dentre os demais, entregando grandes histórias que certamente serão lembradas por muitos leitores. Vitória Sombria é um desses casos, recebendo um merecido Eisner Award de melhor álbum republicado em 2002.

    Com texto de Jeph Loeb e arte de Tim Sale, Vitória Sombria foi lançada originalmente em treze edições como uma sequência direta de O Longo Dia das Bruxas, da mesma dupla de artistas. O lançamento nacional demorou a ocorrer, sendo anunciado pela Abril Comics por duas vezes, mas chegando ao Brasil apenas em 2003 nas mãos da Panini Comics. Quase dez anos depois, chega às livrarias uma edição reunindo a minissérie em um merecido encadernado de luxo.

    A história se passa logo depois do fim de sua antecessora, e mostra um pouco do que a cidade de Gotham se tornou com a morte do chefão Carmine Falcone e a prisão de seu filho, Alberto, descoberto como o assassino Feriado em O Longo Dia das Bruxas. O crime organizado está desmantelado e todos os “vilões-aberração” do Morcego estão no Arkham.

    O cenário parece promissor; no entanto, uma nova promotora chega à cidade e consegue a libertação de Feriado, alegando que a prisão teria sido ilegal, já que violou seus direitos civis com o uso excessivo de força por parte de Batman. Além disso, uma rebelião eclode dentro do Asilo Arkham, libertando seus principais internos. No meio disso tudo, o chefe de polícia aparece enforcado, trazendo um bizarro jogo da forca que será repetido em outras vítimas, todas policiais, ao longo da narrativa. Se isso já não fosse o bastante, Batman não aceita bem o fato de Harvey Dent ter se tornado o Duas-Caras e se isola cada vez mais na escuridão.

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    Estas tramas paralelas vão se encaixando umas nas outras a cada capítulo e dando forma ao quebra-cabeça proposto pelo autor. Loeb conduz um thriller policial com extrema competência, suscitando diversas dúvidas no leitor sobre quem está por trás dessas mortes. Os inúmeros personagens colocados na trama são bem desenvolvidos, tendo importância direta nela. As nuances contidas em cada personagem são extremamente bem desenvolvidas, deixando exposto o quão falíveis são cada um deles, como é o caso de Gordon, Dent e o próprio Batman. Algo que serviu de influência para o que veríamos em O Cavaleiro das Trevas, de Christopher Nolan, em 2008.

    Assim como grandes obras do cinema que mostram o seio de uma organização mafiosa, como é o caso de O Poderoso Chefão, Vitória Sombria não deixa nada a desejar, trazendo várias semelhanças entre elas, nada propositais, de acordo com os autores. Loeb leva a decadência da cidade de Gotham às últimas consequências, assim como Coppola faz o mesmo em O Poderoso Chefão 2. A arte de Tim Sale expressa esse submundo como ninguém, com um apreço ao trabalho de sombras, e, claro, as cores de Gregory Wright.

    Vitória Sombria está no rol de grandes histórias do Morcego. A construção narrativa e o desenvolvimento de personagens de Loeb, aliados ao traço de Tim Sale, tornam esta HQ imprescindível para os amantes de quadrinhos e de romances policiais.