Tag: Jim Lee

  • Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #9

    Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #9

    (Atenção: a crítica a seguir comenta acontecimentos dos números lançados de The Dark Knight III: The Master Race. Se não quiser saber nenhuma informação a respeito, interrompa a leitura – mas retorne a ela após ter lido as edições).

    O desfecho de Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior mantém a narrativa em coerência com excesso de anti-clímax. Uma característica preponderante na nova empreitada de Frank Miller, em parceria com Andy Kubert, no (outrora) brilhante universo criado em 1985.

    O último número, novamente, contraria o leitor, evitando qualquer cena épica para finalizar em grande estilo uma história arrastada. O grande embate com os kryptonianos é realizado sem urgência, como a ameaça de destruição mundial vinha sendo tratada nos últimos números. Mesmo retornando da morte, Batman é poupado por Superman, evitando outra morte. Miller ressalta a importância da existência de um homem-morcego mas, novamente, exagera ao extremo. Como a última parte da trama é narrada pelo próprio Cavaleiro das Trevas, há momentos de egocentrismo exagerado, ressaltando o herói como um personagem potente e necessário, até mesmo se vangloriando de sua capacidade física, comparando a violência como uma arte.

    Batman pode ter sido o herói que desencadeou a ação em diversos momentos como no início da história quando ameaçou os kryptonianos, bem como foi o responsável por resgatar o Azulão do exílio. Porém, é excessivo até mesmo para um personagem que, nos últimos anos, é um paradoxo de um humano comum dentro do universo DC, porém, quase invencível.

    Os outros heróis do panteão da Liga da Justiça que, aos poucos, reassumem seus mantos, não trouxeram nenhum acréscimo à trama. Mulher-Maravilha permanece em Themyscira; Lanterna Verde retorna somente para se vingar do grupo que lhe arrancou o braço com o anel e, por consequência, o poder. A cena é tão desproporcional que soa incoerente. Hal Jordan teve momentos de fraqueza, vide Crepúsculo Esmeralda, mas não é um personagem que age dessa maneira.

    Por fim, o desfecho derradeiro, o final da ação com os vilões, utiliza uma das saídas mais incômodas em qualquer estilo narrativo: o personagem que surge no momento certo para resolver o problema, um recurso conhecido como deus ex-machina. Após passar a história toda preso no mundo subatômico, Átomo retorna no momento e na hora certa para encolher os kryptonianos e encerrar a trama. Ou quase, o vilão Quar é poupado para que Lara tenha uma última cena, destruindo-o. O drama em potencial para a dúvida da personagem entre vilã e heroína foi construído a toa, com pouca evolução na história.

    Enquanto a série principal foi mediana do início ao fim, a história paralela configurou bons momentos. O último número apresenta Superman e a filha dialogando sobre o mundo heroico em uma espécie de síntese do que fundamenta o herói. A história e boa e poderia ser um bom ponto de partida da saga. Porém, ainda que exista uma lógica entre as ações da trama – Superman isolado, Lara voltando-se contra o seu povo – trabalhar com um cenário desolado de heróis para que Batman tivesse um destaque ainda maior se tornou inverossímil. Que tipo de heróis seriam esses que não reagiriam a um ataque de grande porte como o desenvolvido pela série?, o leitor pode se perguntar.

    A última página de ambas as histórias são emparelhadas, ambas mostrando mestre e pupilo como se dessem continuidade a cada herói em uma nova geração. A cena, por si só, é um clichê, ainda que uma daquelas cenas que sempre despertam certa emoção no leitor. Mas demonstra um esgarçamento tão grande na criatividade narrativa que: o de Batman bisa a famosa capa original do Cavaleiro das Trevas, a sombra do morcego diante de um raio, imagem reverenciada e homenageada em excesso em diversas e diversas recriações; e a de Superman finaliza com Lara colocando um óculos no rosto, simbolizando sua vontade de compreender as motivações do pai e assumindo o mesmo tipo de disfarce que Clark Kent usou em sua vida. Interessante, mas implausível. Bobo, na verdade. Prova apenas que a personagem não compreendeu nada do que observou durante a ação da trama.

    Anunciado com grande destaque, O Cavaleiro das Trevas – A Raça Superior foi divulgado como o retorno triunfal de Frank Miller em um universo consagrado. Aliado a outros grandes nomes da indústria dos quadrinhos, os leitores aguardavam uma trama que retomasse o melhor do Cavaleiro de 1985 e esquecesse os excessos da continuação. Mas não foi o que aconteceu. O resultado foi uma história alongada em demasia, exageradamente anti-climática e sem nenhum grande momento.

    Miller se saiu melhor nas histórias paralelas, bem como pareceu mais enfocado na crítica submersa da trama, analisando o extremismo religioso, do que na composição substancial d e uma boa história em quadrinhos. Sem dúvida, foi um grande título em vendas. O tempo reafirmará melhor a recepção desta série mas uma breve previsão: Cavaleiro das Trevas III será esquecido em pouco tempo.

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  • Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #8

    Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #8

    (Atenção: a crítica a seguir comenta acontecimentos dos números lançados de The Dark Knight III: The Master Race. Se não quiser saber nenhuma informação a respeito, interrompa a leitura – mas retorne a ela após ter lido as edições).

    Em Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #07, tivemos o retorno de Bruce Wayne, após um brevíssimo período morto. Renascido no poço de Lázaro, o herói volta à ativa em perfeita forma, rejuvenescido. Um fator que poderia engatilhar, finalmente, o início do ato final da história mas, mais uma vez, o ritmo que domina a penúltima edição é o prolongamento desnecessário da narrativa.

    Engana-se quem pensou que haveria uma grande cena de ação neste número. Enquanto Themyscira é invadida pelos kryptonianos, Superman e Batman estão na caverna do morcego e chegam ao local somente no fim da batalha, quando parte do grupo foi derrotado e outra parte fugiu. Ou seja, todos o desenvolvimento da história até aqui, incluindo o lento reagrupamento dos heróis, não teve nenhum objetivo evidente. Tudo indica que haverá mais uma batalha na última edição e, com isso, finda-se a trama.

    Além de um argumento breve, estendido além do necessário, os erros na composição da narrativa são aparentes. Deixar todo o ápice para o último número é repetir um velho problema dos quadrinhos em que as histórias se encerram rapidamente por falta de um planejamento entre o que se pretende contar e o quanto de páginas estarão disponíveis para tal ato. Lembrando que somente durante o lançamento da série foi anunciado a ampliação da história para mais um número, inicialmente o enredo terminaria na oitava edição.

    A prova da escassez temática também se evidencia na história paralela. A trama é narrada pela comissária de Gotham, investigando uma cena de um crime realizado por uma nova geração de Coringas, comandado pela antiga capanga do palhaço, a nazista Bruno. Não há nenhum motivo para inserir qualquer elemento extra a esta altura da história, a não ser revelar a falta de tema do argumento central. O mais improvável, porém, é que Batman aparece em cena para ajudar a comissária como se não houvesse urgência no problema com os kryptonianos. Ainda que seja coerente a ajuda do morcego, as densidades dos problemas são desnivelados, diante de uma catástrofe mundial, porque não colocar outro herói em cena para esse momento? E, mesmo sendo uma história paralela, é evidente que ela segue a temporalidade da trama principal, ou seja, invalidando a possibilidade de ser uma ação realizada durante outro momento do universo de Cavaleiro das Trevas.

    Nesses prolongamentos desnecessários é que se observa o quanto A Raça Superior se tornou uma longa história com pouco argumento e, a essa altura, impossível de se salvar como uma boa revista. Mas, finalmente, depois de um hiato em número anteriores, chegou a hora do último e derradeiro capítulo final.

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  • Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #7

    Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #7

    (Atenção: a crítica a seguir comenta acontecimentos dos números lançados de The Dark Knight III: The Master Race. Se não quiser saber nenhuma informação a respeito, interrompa a leitura – mas retorne a ela após ter lido as edições).

    A morte de Bruce Wayne na edição anterior foi estabelecida como um gancho desesperado para trazer alguma ação a uma história com pouco desenvolvimento. Levado por Superman até um poço de Lázaro para ser revitalizado, tudo indica que agora o Cavaleiro das Trevas está apto para lutar contra a invasão kryptoniana de igual para igual, afinal, pelas cenas é possível imaginar que ele também foi rejuvenescido.

    O sétimo volume de The Dark Knight III: The Master Race mantém a narrativa lenta, focando no final da batalha com os kryptonianos como o único ato em cena, ao menos, apresentando outros personagens que foram brevemente citados. A principio, além de Superman e Batman, a história demonstra também a reação da nova Robin diante da vitória. Ao perceber a morte do mentor, abala-se mas logo parece admitir que o manto é maior do que um único indivíduo. Enquanto isso, Lanterna Verde continua sua peregrinação no deserto, observando o quanto se sentiu um deus ao possuir o anel e Átomo, ainda preso microscopicamente, procura uma maneira de retornar ao mundo visível. Enquanto Lara é julgada pelos kryptonianos devido a sua origem, metade marciana metade amazona. O mesmo argumento que proporcionou a discussão e batalha entre Diana e a filha na edição passada.

    A trama se encerra em uma emboscada, com os vilões atrás do outro filho de Clark, um bebê que vive aos cuidados das amazonas. Uma cena com certo impacto que pode apresentar um grande combate entre os dois guerreiros. Porém, considerando os números anteriores, qualquer desfecho bem realizado pode ser executado com pouca ação. De qualquer maneira, a Trindade parece finalmente reunida em cena, um fato sempre agradável de se ver nas histórias em quadrinhos. É nesta edição também que se lembram da ideia inicial de múltiplas vozes através da mídia e, mesmo que por poucas cenas, a imprensa e as comunicações virtuais reaparecem, dialogando com os fatos acontecidos. Uma ideia interessante, utilizada inicialmente nesta trama mas deixada de lado nos números posteriores.

    A segunda história vem mantendo bom destaque ao ser capaz de explorar os personagens secundários com maior adequação e aprofundando um pouco em sua trama pessoal, no momento em que acontece a ação da saga principal. Neste número, o enfoque retorna para Hal Jordan que reencontra seu anel e volta a se tornar um Lanterna Verde e ao Gavião-Negro e a Mulher-Gavião, observadores da ação envolvendo Hal.

    Após apresentar o retorno do Cavaleiro das Trevas, reassumindo seu posto como herói e um chamado informal aos diversos outros heróis do panteão da DC Comics, a história parece direcionada para o final, um impactante combate entre kryptonianos e amazonas. Mas, evidentemente, tudo em Raça Superior parece propositadamente anticlimático, sendo possível, ainda, um desfecho que não consagre, em nenhum momento, uma ação imediata. Porém, não há mais tempo para seus autores desenvolverem a trama de maneira pausada, faltam apenas dois números e, ao menos, espera-se uma boa realização final. A trama desse sétimo número conduz o leitor a um possível grande ápice, seria lamentável que não utilizassem a boa sustentação do suspense desta edição. Bruce Wayne está de volta e pronto para a batalha.

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  • Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #6

    Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #6

    (Atenção: a crítica a seguir comenta acontecimentos dos números lançados de The Dark Knight III: The Master Race. Se não quiser saber nenhuma informação a respeito, interrompa a leitura – mas retorne a ela após ter lido as edições).

    No sexto número de Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior, a narrativa continua com a mesma tônica dos números anteriores: lenta, desenvolvendo os acontecimentos de maneira ordenada, um a um, sem uma urgência necessária para a invasão kryptoniana apresentada. A ação adentra levemente a narrativa central após a execução do plano de Bruce Wayne em produzir uma chuva artificial de kryptonita em uma Gotham tomada pelos vilões. Enfraquecidos, os mocinhos ganham a primeira batalha, ainda que a situação, provavelmente, ganhe alguma reviravolta, afinal, ainda faltam quatro edições futuras já que a DC Comics anunciou no ano passado que estenderia a série até a nona edição.

    Novamente, Frank Miller coloca Superman como um coadjuvante. Seu retorno em potencial em The Dark Knight III: The Master Race #5que poderia realoca-lo como um salvador dentro do contexto, é rebaixado a uma única ação nesta edição. Se por um lado o autor tem um histórico de sempre destacar o Cavaleiro das Trevas em suas obras em detrimento a outros heróis do panteão do estúdio, a tensão da trama exige a participação de outros heróis. Até o momento, porém, a maioria tangenciam a trama.

    A esta altura, parece evidente que o roteiro é mais funcional como metáfora. Esqueça o desenvolvimento aparente da trama, ela é apenas sustentação para criticar o extremismo e apresentar a queda dos heróis, uma falência generalizada por personagens desencantados e a velhice de Bruce Wayne. Afinal, Batman parece o único que mantém a fibra em lutar, mas seu corpo está velho demais para combater o crime. O desfecho deste número ainda conduz o leitor para um dos ganchos mais comuns das histórias em quadrinhos: um ataque direto ao herói que, aparentemente, morre. Um apelo desesperado da trama para conquistar certo drama. Mas não funciona. Se a história foi desenvolvida até aqui segurando ao máximo a ação, a possível morte do Homem-Morcego demonstra apenas desespero dos roteiristas.

    Em contrapartida, a segunda história se desenvolve com maior qualidade ao explorar os personagens isoladamente. Dessa vez, Lara, a nova Robin e Mulher-Maravilha são os destaques. Alem do roteiro, Miller também assina os desenhos desta parte e ao apresenta duas batalhas, ao menos, injeta um pouco de ação em uma história lenta. A primeira delas entre Lara e a Robin e a segunda entre Diana e a filha. A Trindade parece, finalmente, estabelecida e ativa na trama, ainda que considerando o anticlímax do enredo, é possível que a Mulher-Maravilha ainda não apareça na história central.

    Com apenas três edições para o desfecho, a história poderia ser mais objetiva. Prolongada em excesso com diversos acontecimentos isolados, a obra parece se distanciar cada vez mais do consagrado universo de Cavaleiro das Trevas.

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  • Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #5

    Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #5

    Dark Knight III - The Master Race 5 - cover

    (Atenção: a crítica a seguir comenta acontecimentos dos números lançados de The Dark Knight III: The Master Race. Se não quiser saber nenhuma informação a respeito, interrompa a leitura – mas retorne a ela após ter lido as edições).

    Lançado em 29 de junho nos Estados Unidos, The Dark Knight: The Master Race #5 segue no anti-clímax estabelecido na edição anterior, The Master Race #4. Novamente, é necessário ponderar a intenção por trás dessa nova obra no universo de Cavaleiro das Trevas. Até esta edição, a simbologia da narrativa permanece superior ao próprio desenvolvimento e construção da história. É possível identificar que a batalha com a Raça Superior é metáfora sobre força e extremismo, a qual naturalmente a crítica associou a movimentos contemporâneos, principalmente no Oriente Médio. Porém, qual a superfície desta narrativa?

    Como Batman é personagem principal da trama, a edição apresenta uma distorção na história para que o herói se torne o centro da futura ação. Superman retornou de seu exílio na Fortaleza da Solidão, porém foi momentaneamente destruído – preso em matéria negra – pelos vilões; Flash aparece rapidamente na edição anterior e tem seus pés destruídos; Mulher-Maravilha continua em Themyscira; Lanterna Verde, ainda desaparecido após ter os braços decepados; e Átomo se mantém preso em nível atômico. Em resumo: tudo coaduna para que um velho e cansado Bruce Wayne assuma ativamente o plano para destruir a raça mestre dos kryptonianos. Porém, mesmo considerando as personagens desaparecidas, parece inverossímil que Superman aceite ser – momentaneamente – derrotado e que o Cavaleiro se torne a única força de resistência a ponto de ser ameaçado pelos vilões.

    Ainda que o plano executado tenha sido inteligente, provavelmente figurá em futuras listas elencando momentos em que Frank Miller reduziu a verossimilhança da trama para que a inteligência e perspicácia de seu herói se destaquem como supremas. O problema em utilizar tal recurso alimenta a dúvida de por qual motivo outros heróis continuam sem intervir diante de um grande problema como este? Os leitores reconhecem que em muitas sagas há a participação limitada de um grupo de heróis, porém a trama apresenta as personagens envolvidas nas histórias paralelas, mas ainda não as inseriu dentro da ação. Como metáfora sobre discussões atuais, é possível estabelecer bons parâmetros, no entanto a história em si continua caminhando devagar, alinhando personagens aos poucos sem nenhum ganho narrativo e, até agora, sem nenhuma ação de fato – a mudança mais significativa nesta parte é a promoção de Robin à Batgirl.

    É possível observar também como as mídias se entrelaçam nesta nova edição. Devido ao seu corpo velho e debilitado, Batman volta a utilizar a armadura vista no Cavaleiro das Trevas original, a mesma que foi homenageada em Batman vs. Superman: A Origem da Justiça. Uma sintonia proposital unificando os prováveis futuros leitores que adquirem esta obra em razão do filme.

    Neste número, há a terceira HQ desenhada inteiramente por Frank Miller, uma das aventuras que se passa de maneira paralela à trama central, lançada em um mini-gibi dentro das revistas. A personagem enfocada desta vez é Lara, filha de Clark Kent e Diana. Ainda que seja positivo observar que o autor se mantém na ativa com seus traços caracteristicamente desproporcionais, até mesmo esta trama – a qual normalmente é mais interessante que a principal – também pouco revela ao leitor, exceto o óbvio: o descontentamento da personagem ao acompanhar os kryptonianos e um futuro provável em que ela mudará de lado e lutará a favor de nossos heróis.

    Prologando em excesso o anti-clímax, Dark Knight – The Master Race #5 começa a incitar dúvidas sobre sua qualidade narrativa. Há uma base simbólica em demasia perante uma narrativa ainda diminuta, revelando a escassez da trama. O desfecho será realizado nas próximas três edições. Ainda há tempo para uma ação concreta que ao menos encerre com qualidade a trama.

    Dark Knight III - The Master Race 005 - 01

  • Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #4

    Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #4

    The Dark Knight III – The Master Race #4

    (Atenção: a crítica a seguir comenta acontecimentos dos números lançados de The Dark Knight III: The Master Race. Se não quiser saber nenhuma informação a respeito, interrompa a leitura – mas retorne após ter lido as edições).

    A nova empreitada de Frank Miller no universo de Cavaleiro das Trevas, agora com apoio narrativo de Brian Azzarello e traços de Adam Kubert e Klaus Janson, segue uma trama na qual grandes possíveis temas são apresentados enquanto há pouca ação desenvolvida. O anticlímax é o lema de The Dark Knight – The Master Race #4.

    Se considerarmos que estamos no meio da história, dividida em oito partes, é evidente que há um trabalho ativo na narrativa para conter a ação principal enquanto as personagens se alinham. Superman foi renascido na edição anterior; neste há mais um prelúdio de Mulher-Maravilha sugerindo que, finalmente, Diana entrará na ação.

    Até o momento, é perceptível que não se trata de uma nova história neste futuro provável de Batman, mas uma trama envolvendo todos os heróis de um panteão agora diminuto. Em outras palavras, um ataque tão violento por parte dos vilões que obriga os velhos vigilantes a reassumirem o manto e o antigo status quo. Aos poucos, a Liga se configura diante deste cenário caótico de uma Raça Mestre prestes a dominar o mundo, ainda que, neste momento, ela demonstre grande potencial destrutivo e uma paciência longa. Há duas edições, o grupo realiza ultimatos mundiais com horas de espera, justificativa para o retorno do grupo.

    É de se imaginar que o regresso heroico será poderoso e bem realizado, afinal, há apenas mais quatro edições, além das histórias paralelas, para que finalmente se desenhe o conflito. Pela seleção das personagens, parece que a batalha pretende ser épica. Parece improvável que os roteiristas desenvolvam um final anticlimático, principalmente porque Cavaleiro das Trevas 3 foi pensado como material mercadológico para os leitores e, naturalmente, eles desejam ver embates.

    Neste aspecto, entre progresso narrativo e anticlímax, a história paralela enfocando personagens específicos tem sido mais eficiente. Apesar de um provável gancho anterior com Hal Jordan, uma nova trama é apresentada, dessa vez focando na Batgirl. Uma boa alternativa para desenvolver novos papéis sem inflar a trama principal. Como, no entanto, a ação central ainda permanece lenta, o enfoque narrativo destes personagens tem sido mais atrativo.

    The Dark Knight III – The Master Race #4 demonstra a intenção de seus autores em alongar o suspense para uma futura ação derradeira. A expectativa permanece para que a série se consagre. Por enquanto, se mantém na média.

    Dark Knight III - The Master Race 4 - 1

  • Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #3

    Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #3

    Dark Knight III - The Master Race 3 - cover

    (Atenção: a crítica a seguir comenta acontecimentos dos números lançados de The Dark Knight III: The Master Race. Se não quiser saber nenhuma informação a respeito, interrompa a leitura mas retorne após ter lido as edições).

    Após a interessante apresentação no primeiro número e um segundo volume desenvolvendo o argumento, finalmente, as personagens de The Dark Knight III: The Master Race se alinham dando inicio a derradeira narrativa. Mesmo em um futuro desolado, os heróis, considerados datados, ainda são uma representação ideal como último bastião da defesa mundial.

    A grande personagem do título entra em cena com maior propriedade. Mesmo combalido fisicamente, Bruce Wayne ainda retém a força do combate ao crime e decide, mais uma vez, assumir o manto de Cavaleiro das Trevas – seja ele literal ou apenas devido a potência de seu status – para combater a raça mestre, kriptonianos outrora diminutos vivendo em Kandor. Este volume é conduzido pela destruição mundial deste grupo que deseja subjulgar a Terra, sem nenhum plano além da dominação. Sob este aspecto, há um estranho paradoxo situando a composição desta história. Ela parece mais uma alegoria direta dos tempos contemporâneos – e escrita para causar este impacto –  do que uma trama que possui estrutura própria e, simultaneamente, dialoga com o tempo presente.

    Miller e Azzarello parecem partir dos noticiários para, então, compor os ganchos da história. A raça mestre de Kandor representa o extremismo do Oriente Médio, com direito a kriptonianos se transformando em homens bombas para destruir capitais importantes do país. A metáfora não parece sutil, mas Miller há tempos deixou as referências implícitas de lado, demonstrando claramente suas opiniões em suas hqs. A contraposição entre a tecnologia e a falta de integração social também se destaca em uma cena a qual o grupo de vilões destrói a cidade e toda as pessoas na cidade observam seus celulares. O momento escolhido para causar impacto dramático ocorre quando o grupo destrói um satélite local e o sinal da rede virtual cai. Causa estranhamento, principalmente, pela escolha ruim para promover um impacto e, possivelmente, um debate a respeito.

    De qualquer maneira, o número entrega cenas que o público espera, Wayne reassumindo o manto de Batman, em uma cena formatada para os fãs e o retorno de Superman, trazido pelo herói e o novo Robin de volta da Fortaleza da Solidão, local em que permaneceu desde os conflitos de Cavaleiro das Trevas 2. Há intensidade na jornada heroica de Wayne devido a força da personagem. Sua fragilidade é a novidade diante das diversas caracterizações anteriores.

    A segunda história tem Lanterna Verde como personagem central e, ao contrários das duas edições anteriores, não apresenta uma trama fechada. Narrado pelo próprio Hal Jordan, o herói também se identifica como anacrônico, porém, retorna a seu papel devido a um chamado da Terra pedindo ajuda. A trama é somente uma justificativa inicial para explicar porque, diante da presença dos vilões de Kandor, outros heróis não vieram ajudar Batman e Superman. Até o momento, Átomo foi desintegrado, Mulher Maravilha continua no Olimpo – provavelmente aparecerá no próximo número – e Jordan tem seu anel roubado por três mulheres no Oriente Médio em outro dialogo claro sobre a cultura local nos diálogos em que elas apontam a subserviência feminina.

    A vertente heroica é melhor composta do que a crítica social, ainda que nenhuma batalha tenha sido propriamente apresentada, levando ao ápice do que o público tradicionalmente reconhece como quadrinhos de heróis, a ação parece mais autêntica do que a crítica, ainda explícita em seu diálogo e, assim, vazia.

    Dark Knight III - The Master Race 3 - 01

  • Resenha | Stormwatch – Volume 1

    Resenha | Stormwatch – Volume 1

    Stormwatch - Vol 1

    Criado na editora Wildstorm, selo independente de Jim Lee, em 1993, a série Stormwatch sofreu mudanças significativas quando Warren Ellis assumiu o roteiro na edição 37. O britânico deu nova estrutura ao conhecido grupo comandado pelo Homem do Tempo, acrescentando maior densidade em sua narrativa, permanecendo até o final do título quando a DC Comics adquiriu os direitos da obra e inseriu-a em seu universo.

    Lançado pela Panini Comics, Stormwatch – Volume 1 é o primeiro de quatro edições que reúnem toda a fase do roteirista à frente da revista, sendo este primeiro número uma compilação das seis primeiras histórias. Ao público que desconhece a origem do grupo, não é necessária nenhuma apresentação anterior. Na primeira história, as equipes são realinhadas, novos personagens surgem e antigos membros da equipe saem de cena ou ganham nova função, e a base necessária é apresentada de maneira enxuta: vivendo em um satélite na órbita da Terra, a equipe dos Stormwatch, criada pelas Organização das Nações Unidas, atende qualquer chamado para conter crises.

    A visão mundial da época do lançamento original das edições demonstra variáveis em relação a percepção contemporânea. Tal afirmativa advém tanto da concepção do roteiro quanto da arte. Distante da era da informática em que o mundo se mantém conectado, a visão de uma equipe centralizadora e vigilante parecia mais urgente do que hoje. A personagem do Homem do Tempo, mesmo líder do grupo, adquire contornos dúbios como alguém além de um mero observador. Ainda que realize ações de contenção e viva sob um protocolo heroico, a personagem demonstra ganância diante da contenção de tanto poder e informação. Uma característica que parecia proeminente para um vilão da ficção mas que hoje soa profético devido ao fato de grandes países guardarem informações sobre seus próprios cidadãos, e a internet mantida sob vigia constante. Alguns aparatos tecnológicos especulados na época soam datados, mas funcionam dentro do conceito ficcional da trama.

    Da mesma forma, a arte de Tom Raney mantém também o marco temporal, representando o ápice do estilo Image de personagens estilizados em corpos perfeitos e cenários com poucas sombras e excesso de informação e cores. Embora algumas cenas de ação sejam perceptivelmente mal realizadas, sem uma continuidade possível de ser interpretada, os traços mantêm coerência com a narrativa e, mesmo causando possível estranhamento no leitor que não acompanhava quadrinhos na época, são bem delineados nesta vertente.

    As seis histórias que acompanham este primeiro encadernado contêm histórias fechadas, fundamentando as três equipes Stormwatch criadas por Ellis: Prime, Red e Black, cada uma voltada a um tipo de apoio diferente, difundindo frontes diversas e ampliando a possibilidade do autor desenvolver tramas diferentes com formações distintas. É evidente que há uma trama que perpassa as histórias com um viés político, apresentando uma crítica à possível ideologia totalitária de vigilância de países. Ao mesmo tempo, nascia nesta revista – em edições posteriores –  o conceito da Sangria, fundamental também na história do Planetary e que hoje faz parte do tecido que permeia o espaço interdimensional multiverso da DC Comics, a editora a qual reintegrou a equipe.

    Bem-sucedida desde seu lançamento, Stormwatch é uma grande história, demonstrando a qualidade costumeira de Ellis em compor, a partir dos quadrinhos, uma narrativa densa cuja aventura se desenvolvia em paralelo a temas mais profundos, sem perder força em nenhuma destas vertentes.

    Stormwatch - Volume 1

  • Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #2

    Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #2

    Dark Knight III- The Master Race 2 - Cover

    (Atenção: a crítica a seguir comenta acontecimentos dos números lançados de The Dark Knight III: The Master Race. Se não quiser saber nenhuma informação a respeito, interrompa a leitura mas retorne após ter lido as edições).

    Após a expectativa de estreia de The Dark Knight III: Master Race, o segundo número da aventura escrita por Frank Miller e Brian Azzarello – em edição lançada em 23 de Dezembro nos Estados Unidos – prossegue desenvolvendo o argumento lançado no primeiro número, sem grandes revelações. Demonstrando que, além da concepção de um produto mercadológico, há a preocupação em compor uma história coesa dentro do universo de Cavaleiro das Trevas. A narrativa segue a estratégia de apresentar duas tramas em um único volume, uma concepção que centraliza a continuidade da ação na revista título e explora personagens em um argumento mais reflexivo, centrado em um personagem específico por edição, enfocando neste número Mulher Maravilha e o conflito com sua filha, Lara.

    O impacto final da parte anterior, revelando um novo Batman prossegue de maneira amena dois meses depois da prisão de Carrie. A comissárie Ellen Yindel tenta mais uma abordagem em um interrogatório e a personagem quebra o silêncio, revelando o paradeiro de Bruce Wayne, inicialmente preso a uma cama após uma batalha e morrendo ao lado da companhia da ex-Robin. Se a morte de Wayne se consolidar além de um despiste para o leitor, a obra se fundamentará com grandes personagens femininas assumindo o manto de dois grandes super-heróis, um dialogo coerente com a época presente em que ainda se discute a necessidade de equiparar a mulher e o homem dentro da sociedade e no trabalho. Porém, considerando os feitos do Batman de Miller, bem como sua coerente estratégia como personagem, não seria surpresa se o Homem Morcego driblasse o mito de sua própria morte e agisse somente como um mentor a partir de agora.

    Como especulado antes do lançamento da história, a Raça Mestre do título se refere a população engarrafada de Kandor. Grupo que retorna ao tamanho normal graças a um aprimoramento da tecnologia de Átomo / Eléktron e se revela parte de um plano de um líder para destruir a humanidade. O argumento que, provavelmente, reunirá os grandes heróis novamente.

    Na segunda narrativa deste número, Diana tem um confronto com sua filha, gerada em Cavaleiro das Trevas 2 com o parceiro Superman, que parece insatisfeita ao assumir o manto de heroína e de honrar sua tradição amazonas. Exibindo poderes e se equiparando a um deus, o embate entre sangue parece base fundamental desta história, bem como a contraposição entre heróis humanos e super seres.

    Se a primeira história apresentava os bons,  The Dark Knight: Maste Race #2 parece, em uma interpretação incompleta devido a leitura acompanhando o lançamento, desenvolver o lado dos vilões, estabelecendo não só um líder aparente, mas plantando a dúvida diante da filha de Kal-El e Diana. Sem arroubos, o segundo número mantem a tensão, estabelecendo as frontes para esta nova narrativa.

    Dark Knight III- The Master Race 2 - 2

  • Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #1

    Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #1

    The Dark Knight III - The Master Race - Cover 1

    Se situarmos somente as obras de Frank Miller sobre Batman, é notável o contato íntimo que o escritor tem com a personagem, sabendo estudar suas nuances com clareza e desenvolver histórias formidáveis. Desde seu primeiro roteiro do Homem-Morcego até os últimos lançamentos – considerando as obras de maior destaque lançadas, normalmente, como edições especiais ou minisséries – é possível traçar uma balança invisível que equilibra Cavaleiro das Trevas e Batman: Ano Um de um lado e Cavaleiro das Trevas 2 e Grandes Astros Batman do outro. Uma representação que demonstra que o autor teve altos e baixos utilizando a personagem, ainda que em maior ou menor grau seu Bruce Wayne sempre tenha sido o mesmo.

    Após uma sequência considerada péssima, em que a metáfora de Miller foi além da narrativa que desejava contar, a recepção do anúncio de um novo Cavaleiro das Trevas foi misto. Notícias diziam que a saúde do autor seria preponderante para esta nova narrativa; outros acreditavam que a história traria o autor a velha forma. Considerando que Cavaleiro das Trevas explorava criticamente a mídia, é interessante observar que Cavaleiro das Trevas III se apoiou na divulgação e em uma maciça publicidade com diversas capas variadas para promover seu sucesso antecipado.

    Lançado em 25 de Novembro nos Estados Unidos em edição física e plataformas Digitais, The Dark Knight III: The Master Race #1 é a primeira edição de oito apresentando uma nova aventura de uma visão futurista sobre um dos personagens fundamentais da DC Comics. Dessa vez, Miller assina o roteiro em parceira com Brian Azzarello, deixando os traços com Andy Kubert e as cores por Klaus Janson, um time de primeira linha – sem mencionar os diversos autores que desenharam artes alternativas para a capa – que demonstra o quanto a obra tenciona ser fundamental e comercial simultaneamente.

    Como lidamos com uma história seriada ainda em publicação, o primeiro número de The Master Race retoma a atmosfera das duas narrativas anteriores, estabelecendo sua trama. O roteirista mantém o diálogo com nosso presente e mantém sua proposta ao mostrar a mídia como  um importante instrumento de comunicação. Dessa vez, inicia sua narrativa por intermédio de uma conversa de mensagem instantânea, contextualizando a atual era de informação cujo diálogo e propagação de imagens acontece por intermédio da tecnologia. Nesta conversa entre dois amigos, há um registro fotográfico que flagra o retorno do Homem-Morcego. O início aponta a modificação contemporânea do poder midiático que perdeu a supremacia de monopólios para focar qualquer um que possa registrar um acontecimento e publicá-lo na rede. Diante deste cenário de retorno do lendário herói, três personagens se destacam nesta primeira edição: A Mulher-Maravilha,  a ex-Robin Carrie Kelley e a Comissária Ellen Yindel.

    Se Miller foi fundamental na modificação dos quadrinhos em anos passados devido a sua abordagem, a evolução narrativa dos quadrinhos e as influências de outros autores agora refletem-se em sua narrativa. Quando o Morcego retorna a Gotham e – em uma cena comum a muitos roteiristas do Morcego – foge da polícia, tanto os traços estilizados, bem emulados por Kubert, quanto o retorno mítico da personagem, trazem à tona outras versões da personagem, como a leitura de Paul Pope em Batman – Ano 100, obra que também observava um futuro para Batman. Uma confluência de referências naturais que serão lidas direta ou indiretamente por cada leitor.

    Esta primeira edição é composta de duas histórias. Além da primeira parte de Cavaleiro das Trevas III, uma trama escrita e desenhada por Miller com Elektro como personagem e narrador principal. Uma história que se entrecruza em seu final com a obra principal. Como enredo, a personagem analisa o fato de não ser um grande herói em comparação ao panteão da Trindade, em falas que parecem resvalar no próprio autor comentando sobre sua obra e erros e acertos de sua trajetória, ainda mais voltados à história de Cavaleiro das Trevas. A arte continua em boa forma, com os desvios de proporção e estética que popularizaram os traços do autor, causando estrahamento e, ao mesmo tempo, admiração.

    Mesmo que seja cedo para dar aval a sua nova obra, o início de The Dark Knight III – The Master Race desenvolve um bom argumento que anuncia uma história sólida com prováveis grandes conflitos. Se uma primeira parte de uma história é focada em captar o leitor e impressioná-lo, Miller, Azarello, Kubert e Janson cumpriram sua missão.

    A segunda parte da série será lançada em 23 de dezembro. Até o momento da composição desta crítica, os dados de vendas de novembro ainda não tinha sido divulgados, mas é evidente que o retorno de Miller a uma história clássica deve ter atingido o número um em vendas.

    Batman - The Dark Knight III - Frank Miller

  • Resenha | Batman: Silêncio

    Resenha | Batman: Silêncio

    silêncio - capa

    Quando Jim Lee foi anunciado como novo desenhista do Batman, na DC Comics, muita gente ficou com a pulga atrás da orelha. Afinal, o artista coreano era conhecido por desenhar os coloridos X-Men na Marvel, e não se imaginava como seria sua investida no mundo sombrio do Homem-Morcego. Felizmente, ele não fez feio! A arte de Lee caiu como uma luva e funcionou perfeitamente para aquilo a que se propôs. Tudo o que ele precisava era de um bom roteirista que soubesse aproveitar seus atributos em favor de uma boa narrativa. Infelizmente, não foi o que aconteceu com o roteiro de Jeph Loeb.

    Silêncio se mostrou uma trama arrastada, sem foco, rocambolesca e massavéi, o que desperdiçou todo o potencial de Lee. Loeb, que já nos brindou com a excelente maxi-série O Longo Dia das Bruxas, tentou imitar a si mesmo. Não colou. Em O Longo…, o autor desenvolve uma trama na qual ficamos as treze edições tentando adivinhar a identidade do assassino. O mesmo ele tenta fazer nesta história, mas com um problema: o assassino fica muito claro já na primeira edição!

    Loeb utiliza-se de um recurso narrativo que tem se tornado o pesadelo dos fãs de quadrinhos nas últimas décadas: o retcon. Esse recurso é usado quando o roteirista resolve mudar o passado de algum personagem, inserir algum detalhe na trama ou explicar algo que ele considere importante mas que nunca foi mostrado. Diferente de um flashback, o retcon abala as estruturas da história de um personagem. E é exatamente o que ocorre nessa história. Um personagem extremamente importante é “retro apresentado” aos leitores: um amigo de infância de Bruce Wayne do qual ninguém jamais tinha ouvido falar, mas que de uma hora para outra passa a ser a pessoa mais importante na vida do playboy milionário. Causa estranheza no leitor, e, em um momento, Robin chega até a mencionar o fato de Bruce não ter falado a ninguém sobre esse amigo. Nesse momento, lá pela metade da trama, parece que Tim Drake está expressando o pensamento de seus leitores.

    A trama é bastante rasa. Alguém está stalkeando o Batman e usando seus maiores inimigos contra ele. O herói tem que enfrentar os vilões mais perigosos de sua galeria, como o Crocodilo, Hera Venenosa, Arlequina, Coringa, Charada, Espantalho… E até o Superman! Aqui cabem dois comentários: primeiro, a ideia de enfrentar todos os vilões já foi explorada, e de forma muito melhor, na megassaga A Queda do Morcego; segundo, o Superman não acrescenta nada à trama a não ser o fan service para quem idolatra o Batman e odeia o Azulão. Lá pelas tantas, o tal amigo de infância é assassinado, aparentemente pelo Coringa, e Batman precisa descobrir quem está arquitetando o plano (que plano mesmo?). O roteirista parece querer brincar com o leitor (que não sacou na primeira edição), inserindo diversas possíveis identidades para o assassino. E talvez essa seja a parte mais frustrante da história. Em determinado momento, um importante aliado de Batman é revelado como sendo o vilão da história. E faria sentido, principalmente devido a algo que aconteceu na primeira edição (o rompimento da “batcorda” com um “batarangue”). Mas era mais uma “pegadinha”. Entre os personagens que poderiam ser o stalker está, inclusive, Harold – o corcunda de estimação do Batman –, que estava sumido desde a A Queda. O problema é que Harold aparece completamente solto na trama, e leitores mais novos podem ficar totalmente sem entender o que ele significa no universo do Morcego.

    (Nota do redator: Harold é um personagem que, para o bem de Bruce Wayne, deve ser desconsiderado editorialmente. Afinal, é praticamente um escravo que cuida da parte mecânica da Batcaverna, e que, além de corcunda e mudo, tem claros sinais de deficiência cognitiva. Já ouviu falar de ética, Patrão Bruce?).

    Batman Villains in The HUSH Storyline

    No fim da trama, a identidade do vilão é revelada (Nossa! Que surpresa!), e ficamos sabendo que um dos mais antigos vilões de Gotham conhece a identidade secreta do Cavaleiro das Trevas, mas não pode fazer nada com essa informação. Temos um Batman mais abalado e trágico do que já estamos habituados, e percebemos claramente que seus aliados são parte crucial de sua persona. A imagem do Batman solitário nos é colocada à prova, pois vemos o quanto ele depende de seus aliados – não, “amigos” seria a melhor palavra! – para se manter como defensor de Gotham.

    Para um leitor iniciante, talvez Silêncio não seja tão ruim. A saga apresenta bem os personagens, e o “fator fan service” talvez até agrade bastante aos leitores. É como se fosse um álbum do tipo Batman – Greatest Hits, por apresentar encontros com seus maiores inimigos no decorrer da saga. Como um narrador inexperiente de RPG, Loeb parece rolar dados e consultar uma tabela de “encontros aleatórios” para inflar sua trama. Talvez Silêncio tenha funcionado como série mensal, mas como Graphic Novel é sofrível. Vale lembrar que a edição lançada pela Eaglemoss Collections em dois volumes apresenta vários erros de digitação que, se não atrapalham o entendimento da saga, ao menos se tornam um incômodo desnecessário. Pelo menos, temos a arte de Jim Lee, que sofre do mesmo mal de seus amiguinhos da Image Comics – não desenhar pés, ou apresentar problemas com perspectiva , mas em diversos momentos é agradável e nos proporciona diversos “pin ups”. E é sempre bom ver um de nossos heróis favoritos bem desenhados!