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  • Resenha | Lanterna Verde: Crepúsculo Esmeralda

    Resenha | Lanterna Verde: Crepúsculo Esmeralda

    Era a década de 1990 e a DC Comics resolveu esculhambar de vez com seus maiores heróis. O Superman tinha morrido, Batman estava numa cadeira de rodas enquanto Azrael insanamente ocupava o seu lugar e, mais tarde, Diana perderia seu lugar como Mulher-Maravilha e Flash atravessaria todos os limites da Força de Aceleração. Mas havia ainda um herói para ser mais estragado ainda do que os demais: Hal Jordan, o Lanterna Verde. Assim, dentro de um tie-in da saga O retorno do Superman, o Lanterna Verde do setor espacial 2814 enfrenta o vilão Mongul, que havia ajudado o Superciborgue a transformar Coast City em uma cidade-motor, matando seus seis milhões de habitantes no processo.

    Esse foi o pontapé inicial para a saga que redefiniria o Universo DC de então. Crepúsculo Esmeralda foi publicada pela primeira vez no Brasil em formatinho pela editora Abril, mas também já foi republicada em encadernados pela Panini e Eaglemoss (em ambas com a continuação intitulada Novo Amanhecer). Escrita por Ron Marz e desenhado por Bill Willingham, Fred Haynes e Darryl Banks, a história começa logo após os eventos que levaram à destruição de Coast City, na cratera onde outrora ficava a cidade. Os heróis da Liga da Justiça resolveram afundar o que sobrou da Cidade-motor no oceano (tirando antes todas as impurezas que pudessem poluir o lar do Aquaman, claro) e ergueram um monumento para homenagear os mortos. Após a cerimônia, Jordan vê-se sozinho onde antes era o seu lar. Ainda com o braço quebrado pela batalha com Mongul e com o psicológico bastante alterado pelo momento de luto, o herói resolve trazer de volta todos os seus amigos e familiares que pereceram na cidade. Usando toda a sua força de vontade, o Lanterna Verde da Terra reconstrói a cidade com suas memórias e seu anel de poder, criando construtos altamente detalhados feitos de luz sólida. O protagonista então passeia pela cidade e encontra-se com suas criações representando as pessoas que ele mais amava. Quando Jordan e seu pai estavam finalmente conversando, o poder do anel se esvai e a ilusão se desfaz. Um guardião está em sua frente para adverti-lo e retomar seu anel, por tê-lo usado para benefício próprio.

    O herói não se intimida e ataca seu superior, sugando toda sua energia para si. Nesse momento, o Lanterna Verde percebe que não tem poder suficiente para salvar Coast City e sai em uma jornada pelo universo com um objetivo: mergulhar na bateria central de Oa e tomar todo seu poder para si. Assim, o Gladiador Esmeralda enfrenta toda a Tropa dos Lanternas Verdes, matando um a um seus antigos amigos e apossando-se de seus anéis. Uma das cenas mais emblemáticas foi sua luta com Killowog, seu antigo treinador, parceiro e amigo, a quem ele mata sem titubear. Porém, antes que ele alcance a bateria central, os Guardiões têm uma última arma: Sinestro é libertado para deter seu antigo pupilo. A luta entre os dois deveria ser justa e portanto, o responsável pelo setor 2814 se livra de todos os outros anéis, ficando apenas um contra um. Nem mesmo o maior vilão da Tropa foi páreo para o enlouquecido Hal Jordan e finalmente ele chega na bateria e absorve todo o seu poder. Surge então o maior vilão da DC dos anos 90.

    A saga toda tem um tom bastante massavéio, típico das HQs da época. Violência extrema, páginas duplas, personagem principal malvadão, tudo que estava na moda se encaixava ali. A trama em si é bastante simples, e suas páginas são ocupadas por briga após briga até Hal chegar na bateria e concretizar seu objetivo. Mas essa história aparentemente simplória serviu para pavimentar todos os rumos do Universo DC da época ao transformar em vilão um de seus maiores heróis, extinguir a Tropa dos Lanternas Verdes e os Guardiões do Universo. Seu desenrolar na revista mensal do Gladiador Esmeralda, Novo Amanhecer, apresenta o substituto de Hal e da Tropa inteira, Kyle Rayner, que seria o único Lanterna Verde durante muito tempo. Em suas primeiras histórias (reapresentadas nos encadernados da Panini e Eaglemoss), Rayner tem que aprender a usar os poderes do anel e enfrentar o Major Força, que o confunde com seu antecessor e mata sua namorada, esquartejando-a e guardando-a na geladeira. Esse começo de carreira bastante pesado fez com que Kyle amadurecesse mais rápido e, no mundo real, levou a vários questionamentos sobre o papel das mulheres nas revistas de heróis, sempre como vítimas que sofrem para que o arco heroico do protagonista homem se desenvolva. Gail Simone se destacou com o blog Women in refrigerator, que faz referência direta à essa cena tão impactante e violenta e hoje é uma das maiores roteiristas da indústria. Após esse trágico início, as histórias de Kyle Rayner passam a ter uma pegada mais leve e muito parecida com as do Homem-Aranha, da Marvel.

    Crepúsculo esmeralda tem muitas falhas, mas não deixa de ter sua importância histórica e editorial por ser o marco de uma época que só se encerraria dez anos depois, com a volta de Hal Jordan ao panteão de super-heróis da DC.

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  • Resenha | Stormwatch – Volume 1

    Resenha | Stormwatch – Volume 1

    Stormwatch - Vol 1

    Criado na editora Wildstorm, selo independente de Jim Lee, em 1993, a série Stormwatch sofreu mudanças significativas quando Warren Ellis assumiu o roteiro na edição 37. O britânico deu nova estrutura ao conhecido grupo comandado pelo Homem do Tempo, acrescentando maior densidade em sua narrativa, permanecendo até o final do título quando a DC Comics adquiriu os direitos da obra e inseriu-a em seu universo.

    Lançado pela Panini Comics, Stormwatch – Volume 1 é o primeiro de quatro edições que reúnem toda a fase do roteirista à frente da revista, sendo este primeiro número uma compilação das seis primeiras histórias. Ao público que desconhece a origem do grupo, não é necessária nenhuma apresentação anterior. Na primeira história, as equipes são realinhadas, novos personagens surgem e antigos membros da equipe saem de cena ou ganham nova função, e a base necessária é apresentada de maneira enxuta: vivendo em um satélite na órbita da Terra, a equipe dos Stormwatch, criada pelas Organização das Nações Unidas, atende qualquer chamado para conter crises.

    A visão mundial da época do lançamento original das edições demonstra variáveis em relação a percepção contemporânea. Tal afirmativa advém tanto da concepção do roteiro quanto da arte. Distante da era da informática em que o mundo se mantém conectado, a visão de uma equipe centralizadora e vigilante parecia mais urgente do que hoje. A personagem do Homem do Tempo, mesmo líder do grupo, adquire contornos dúbios como alguém além de um mero observador. Ainda que realize ações de contenção e viva sob um protocolo heroico, a personagem demonstra ganância diante da contenção de tanto poder e informação. Uma característica que parecia proeminente para um vilão da ficção mas que hoje soa profético devido ao fato de grandes países guardarem informações sobre seus próprios cidadãos, e a internet mantida sob vigia constante. Alguns aparatos tecnológicos especulados na época soam datados, mas funcionam dentro do conceito ficcional da trama.

    Da mesma forma, a arte de Tom Raney mantém também o marco temporal, representando o ápice do estilo Image de personagens estilizados em corpos perfeitos e cenários com poucas sombras e excesso de informação e cores. Embora algumas cenas de ação sejam perceptivelmente mal realizadas, sem uma continuidade possível de ser interpretada, os traços mantêm coerência com a narrativa e, mesmo causando possível estranhamento no leitor que não acompanhava quadrinhos na época, são bem delineados nesta vertente.

    As seis histórias que acompanham este primeiro encadernado contêm histórias fechadas, fundamentando as três equipes Stormwatch criadas por Ellis: Prime, Red e Black, cada uma voltada a um tipo de apoio diferente, difundindo frontes diversas e ampliando a possibilidade do autor desenvolver tramas diferentes com formações distintas. É evidente que há uma trama que perpassa as histórias com um viés político, apresentando uma crítica à possível ideologia totalitária de vigilância de países. Ao mesmo tempo, nascia nesta revista – em edições posteriores –  o conceito da Sangria, fundamental também na história do Planetary e que hoje faz parte do tecido que permeia o espaço interdimensional multiverso da DC Comics, a editora a qual reintegrou a equipe.

    Bem-sucedida desde seu lançamento, Stormwatch é uma grande história, demonstrando a qualidade costumeira de Ellis em compor, a partir dos quadrinhos, uma narrativa densa cuja aventura se desenvolvia em paralelo a temas mais profundos, sem perder força em nenhuma destas vertentes.

    Stormwatch - Volume 1

  • Resenha | Batman / Aliens

    Resenha | Batman / Aliens

    Batman - Aliens

    Assumindo estar refém de uma sensação das mais básicas, o Cruzado Encapuzado declara ter medo ao analisar a questão que se avolumou. Tentando manter a aura de suspense, o Morcego já é mostrado se embrenhando em uma floresta, supostamente em uma missão. O roteiro de Ron Marz faz um resgate curioso, mostrando um visual semelhante ao do filme de John McTiernan, O Predador, por apresentar uma selva e inserir junto ao protagonista uma equipe de especialistas durões e marombados, que investigam um estranho caso.

    Batman aportou no golfo do México, na fronteira da Guatemala com o México, para investigar um episódio curioso, cuja origem só é revelada após algumas páginas decorridas, uma vez que a Waynetch havia enviado uma equipe a tal lugar, já que obtinha negócios naquela região. É curioso o quanto Marz segura para mostrar o monstro, tentando guardar qualquer suspense ou surpresa de como seria o modus operandi dos Aliens. Toda a situação mostrada no filme original pensado por Dan O’Bannon se repete, mas sem qualquer expectativa de sustos.

    Pior do que o modo vagaroso do qual a trama segue é o ataque grupal que os monstros fazem, bem mais cerebrais do que os mostrados nas abordagens cinematográficas. Na segunda parte, a narração volta aos primórdios, recontando a origem da tragédia do herói, mesclando-a com o temor de Batman com o Alien. A partir destes embates, a trama fica mais fluida e menos truncada, ainda que as lutas com os monstros não sejam nada demais.

    O desenho de Bernie Wrightson está bem menos interessante do que nos idos dos anos 70, quando fazia a arte do Monstro do Pântano, de Len Wein. A regularidade cai vertiginosamente, pois nem mesmo o seu lápis é um diferencial na qualidade da revista. Tanto roteiro quanto desenhos são banais e dispensáveis.

    Exceto pela última batalha do Morcego contra o Alien agigantado – fruto de uma “invasão” ao corpo de um crocodilo de proporções dantescas , quase não há condições de clímax. Através de uma manobra comum em sua carreira, Batman consegue vencer o oponente, fisicamente muito superior a ele, por meio do uso de traquitanas as quais ele sequer está acostumado a usar. O desfecho é covarde e clichê, com o paladino orfão usando a força de um elemento da natureza (a lava de um vulcão) para acabar com as últimas criaturas que ainda sobraram. Após retornar à casa, Bruce ainda se dá ao trabalho de fazer um discurso edificante, que põe em dúvida a origem do mal impingido pelas criaturas extraterrestres: se a ação seria somente uma resposta instintiva, como é com o tubarão, ou se a predação dos monstros seria perversa como a natureza humana. Nada que evidentemente resgate o crossover do ordinário.