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  • Resenha | Homem-Aranha: Peter Parker Especial – Vol. 1

    Resenha | Homem-Aranha: Peter Parker Especial – Vol. 1

    Chip Zdarsky ganhou notoriedade na indústria dos quadrinhos ao desenhar Criminosos do Sexo, em parceria com Matt Fracion, pela Image Comics (publicado no Brasil pela editora Devir). Ao migrar para a Marvel, contudo, o artista ganhou espaço também como escritor, e dentre os títulos que já assumiu na Casa das Ideias, podemos destacar Peter Parker: The Spectacular Spider-Man. O título começou a ser publicado por aqui na mensal O Espetacular Homem-Aranha #22, e posteriormente, ao chegar à fase Legado, foi segmentado em dois encadernados em capa cartão, intitulados Peter Parker Especial: Homem-Aranha.

    Nesse primeiro encadernado, Amazing Fantasy, Zdarsky coloca o herói aracnídeo em uma viagem no tempo, buscando meios de impedir uma invasão alienígena possibilitada pelo vilão conhecido como Consertador. Para essa missão incomum, Peter conta com uma “equipe” exótica, composta por sua irmã Teresa Durand e seu outrora inimigo e agora aliado, J. Jonah Jameson, que nas edições anteriores do título acabou descobrindo que Peter é na verdade o herói aracnídeo que por tantos anos perseguiu.

    É bem curioso ver o Peter do presente atuando junto ao Peter do passado, Zdarsky confere uma dinâmica semelhante às de sitcoms para os diálogos entre as duas contrapartes, marcando de forma bem clara a diferença de maturidade e experiência entre os dois, enquanto revisitam eventos do começo de carreira do Amigão da Vizinhança.

    As tramas de viagem no tempo comumente apresentam alterações drásticas na cronologia, gerando realidades alternativas cada vez mais díspares daquelas que conhecemos originalmente, e nessa história isso não é diferente. Os atos de Jameson, Peter e Teresa acabam por modificar a forma como os fatos se desenrolam nessa linha do tempo, alterando a descoberta de Norman Osborn como o Duende Verde e sua subsequente vingança contra os Peters Parkers, além da própria percepção do jovem Peter em continuar como o Aranha, diante das perspectivas de futuro que viu em sua contraparte mais velha.

    A arte de Joe Quinones é um ponto alto da HQ, trazendo em seus traços limpos e expressivos a leveza necessária para a proposta da trama. As referências visuais dentro da história são bem interessantes, como a reprodução de cenas clássicas das histórias do herói, o emprego da roupa usada por Parker na animação clássica do Aranha nos anos 90, por parte do Peter mais velho, bem como a presença de Jessica Jones como estudante do Midtown High.

    Em seguida, temos o retorno de Andy Kubert à arte, na sequência que mostra o retorno do trio ao que imaginam ser seu “presente”, encontrando uma realidade bem diferente da que deixaram anteriormente. Descobrindo que na verdade retornaram para o futuro da linha temporal que haviam visitado anteriormente, os personagens se deparam com um mundo no qual Peter e Gwen são cientistas, casados e ricos, vivendo em um EUA governado por Harry e Norman Osborn. Nessa realidade, o jovem Peter cresceu desiludido com o futuro que lhe aguardava, ao ouvir uma conversa do Peter mais velho com sua irmã Teresa, e deixou de ser o Homem-Aranha.

    Auxiliados pela Gwen dessa realidade, Peter, Teresa e JJJ se encontram com a “Resistência” do lugar, liderada por Steve Rogers e Stephen Strange. Desse ponto em diante a narrativa de Zdarsky entra no piloto automático, perdendo muito de seu charme inicial e enveredando por uma trama clichê e desinteressante de viagem no tempo, recuperação do heroísmo e valorização da figura do Homem-Aranha no mundo. De ponto notável dessa parte, temos apenas a aparição do uniforme usado pelo herói aracnídeo em seu jogo mais recente para PlayStation 4.

    A escolha editorial da Panini mostra-se discutível, uma vez que o grande mérito do encadernado, a relação de arrependimento de JJJ em relação aos seus atos contra o Homem-Aranha no passado, acaba sendo decorrente de histórias publicadas na revista mensal do personagem, e não dentro de uma publicação própria para o título de Zdarsky. A sensação de leitura picotada será inevitável, para os leitores que não estavam acompanhando simultaneamente a revista do Cabeça de Teia.

    Contendo 116 páginas, o encadernado em capa cartão apresenta uma trama inconstante, com acertos pontuais e clichês já batidos até mesmo para o cíclico universo de super-heróis de Marvel e DC. Se as primeiras edições revisitam o período áureo do personagem sob a batuta de Stan Lee, a parte final em muito lembra as batidas e fracas tramas dos anos 90.

    Compre: Peter Parker Especial: Homem-Aranha – Amazing Fantasy.

  • Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #9

    Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #9

    (Atenção: a crítica a seguir comenta acontecimentos dos números lançados de The Dark Knight III: The Master Race. Se não quiser saber nenhuma informação a respeito, interrompa a leitura – mas retorne a ela após ter lido as edições).

    O desfecho de Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior mantém a narrativa em coerência com excesso de anti-clímax. Uma característica preponderante na nova empreitada de Frank Miller, em parceria com Andy Kubert, no (outrora) brilhante universo criado em 1985.

    O último número, novamente, contraria o leitor, evitando qualquer cena épica para finalizar em grande estilo uma história arrastada. O grande embate com os kryptonianos é realizado sem urgência, como a ameaça de destruição mundial vinha sendo tratada nos últimos números. Mesmo retornando da morte, Batman é poupado por Superman, evitando outra morte. Miller ressalta a importância da existência de um homem-morcego mas, novamente, exagera ao extremo. Como a última parte da trama é narrada pelo próprio Cavaleiro das Trevas, há momentos de egocentrismo exagerado, ressaltando o herói como um personagem potente e necessário, até mesmo se vangloriando de sua capacidade física, comparando a violência como uma arte.

    Batman pode ter sido o herói que desencadeou a ação em diversos momentos como no início da história quando ameaçou os kryptonianos, bem como foi o responsável por resgatar o Azulão do exílio. Porém, é excessivo até mesmo para um personagem que, nos últimos anos, é um paradoxo de um humano comum dentro do universo DC, porém, quase invencível.

    Os outros heróis do panteão da Liga da Justiça que, aos poucos, reassumem seus mantos, não trouxeram nenhum acréscimo à trama. Mulher-Maravilha permanece em Themyscira; Lanterna Verde retorna somente para se vingar do grupo que lhe arrancou o braço com o anel e, por consequência, o poder. A cena é tão desproporcional que soa incoerente. Hal Jordan teve momentos de fraqueza, vide Crepúsculo Esmeralda, mas não é um personagem que age dessa maneira.

    Por fim, o desfecho derradeiro, o final da ação com os vilões, utiliza uma das saídas mais incômodas em qualquer estilo narrativo: o personagem que surge no momento certo para resolver o problema, um recurso conhecido como deus ex-machina. Após passar a história toda preso no mundo subatômico, Átomo retorna no momento e na hora certa para encolher os kryptonianos e encerrar a trama. Ou quase, o vilão Quar é poupado para que Lara tenha uma última cena, destruindo-o. O drama em potencial para a dúvida da personagem entre vilã e heroína foi construído a toa, com pouca evolução na história.

    Enquanto a série principal foi mediana do início ao fim, a história paralela configurou bons momentos. O último número apresenta Superman e a filha dialogando sobre o mundo heroico em uma espécie de síntese do que fundamenta o herói. A história e boa e poderia ser um bom ponto de partida da saga. Porém, ainda que exista uma lógica entre as ações da trama – Superman isolado, Lara voltando-se contra o seu povo – trabalhar com um cenário desolado de heróis para que Batman tivesse um destaque ainda maior se tornou inverossímil. Que tipo de heróis seriam esses que não reagiriam a um ataque de grande porte como o desenvolvido pela série?, o leitor pode se perguntar.

    A última página de ambas as histórias são emparelhadas, ambas mostrando mestre e pupilo como se dessem continuidade a cada herói em uma nova geração. A cena, por si só, é um clichê, ainda que uma daquelas cenas que sempre despertam certa emoção no leitor. Mas demonstra um esgarçamento tão grande na criatividade narrativa que: o de Batman bisa a famosa capa original do Cavaleiro das Trevas, a sombra do morcego diante de um raio, imagem reverenciada e homenageada em excesso em diversas e diversas recriações; e a de Superman finaliza com Lara colocando um óculos no rosto, simbolizando sua vontade de compreender as motivações do pai e assumindo o mesmo tipo de disfarce que Clark Kent usou em sua vida. Interessante, mas implausível. Bobo, na verdade. Prova apenas que a personagem não compreendeu nada do que observou durante a ação da trama.

    Anunciado com grande destaque, O Cavaleiro das Trevas – A Raça Superior foi divulgado como o retorno triunfal de Frank Miller em um universo consagrado. Aliado a outros grandes nomes da indústria dos quadrinhos, os leitores aguardavam uma trama que retomasse o melhor do Cavaleiro de 1985 e esquecesse os excessos da continuação. Mas não foi o que aconteceu. O resultado foi uma história alongada em demasia, exageradamente anti-climática e sem nenhum grande momento.

    Miller se saiu melhor nas histórias paralelas, bem como pareceu mais enfocado na crítica submersa da trama, analisando o extremismo religioso, do que na composição substancial d e uma boa história em quadrinhos. Sem dúvida, foi um grande título em vendas. O tempo reafirmará melhor a recepção desta série mas uma breve previsão: Cavaleiro das Trevas III será esquecido em pouco tempo.

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  • Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #8

    Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #8

    (Atenção: a crítica a seguir comenta acontecimentos dos números lançados de The Dark Knight III: The Master Race. Se não quiser saber nenhuma informação a respeito, interrompa a leitura – mas retorne a ela após ter lido as edições).

    Em Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #07, tivemos o retorno de Bruce Wayne, após um brevíssimo período morto. Renascido no poço de Lázaro, o herói volta à ativa em perfeita forma, rejuvenescido. Um fator que poderia engatilhar, finalmente, o início do ato final da história mas, mais uma vez, o ritmo que domina a penúltima edição é o prolongamento desnecessário da narrativa.

    Engana-se quem pensou que haveria uma grande cena de ação neste número. Enquanto Themyscira é invadida pelos kryptonianos, Superman e Batman estão na caverna do morcego e chegam ao local somente no fim da batalha, quando parte do grupo foi derrotado e outra parte fugiu. Ou seja, todos o desenvolvimento da história até aqui, incluindo o lento reagrupamento dos heróis, não teve nenhum objetivo evidente. Tudo indica que haverá mais uma batalha na última edição e, com isso, finda-se a trama.

    Além de um argumento breve, estendido além do necessário, os erros na composição da narrativa são aparentes. Deixar todo o ápice para o último número é repetir um velho problema dos quadrinhos em que as histórias se encerram rapidamente por falta de um planejamento entre o que se pretende contar e o quanto de páginas estarão disponíveis para tal ato. Lembrando que somente durante o lançamento da série foi anunciado a ampliação da história para mais um número, inicialmente o enredo terminaria na oitava edição.

    A prova da escassez temática também se evidencia na história paralela. A trama é narrada pela comissária de Gotham, investigando uma cena de um crime realizado por uma nova geração de Coringas, comandado pela antiga capanga do palhaço, a nazista Bruno. Não há nenhum motivo para inserir qualquer elemento extra a esta altura da história, a não ser revelar a falta de tema do argumento central. O mais improvável, porém, é que Batman aparece em cena para ajudar a comissária como se não houvesse urgência no problema com os kryptonianos. Ainda que seja coerente a ajuda do morcego, as densidades dos problemas são desnivelados, diante de uma catástrofe mundial, porque não colocar outro herói em cena para esse momento? E, mesmo sendo uma história paralela, é evidente que ela segue a temporalidade da trama principal, ou seja, invalidando a possibilidade de ser uma ação realizada durante outro momento do universo de Cavaleiro das Trevas.

    Nesses prolongamentos desnecessários é que se observa o quanto A Raça Superior se tornou uma longa história com pouco argumento e, a essa altura, impossível de se salvar como uma boa revista. Mas, finalmente, depois de um hiato em número anteriores, chegou a hora do último e derradeiro capítulo final.

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  • Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #7

    Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #7

    (Atenção: a crítica a seguir comenta acontecimentos dos números lançados de The Dark Knight III: The Master Race. Se não quiser saber nenhuma informação a respeito, interrompa a leitura – mas retorne a ela após ter lido as edições).

    A morte de Bruce Wayne na edição anterior foi estabelecida como um gancho desesperado para trazer alguma ação a uma história com pouco desenvolvimento. Levado por Superman até um poço de Lázaro para ser revitalizado, tudo indica que agora o Cavaleiro das Trevas está apto para lutar contra a invasão kryptoniana de igual para igual, afinal, pelas cenas é possível imaginar que ele também foi rejuvenescido.

    O sétimo volume de The Dark Knight III: The Master Race mantém a narrativa lenta, focando no final da batalha com os kryptonianos como o único ato em cena, ao menos, apresentando outros personagens que foram brevemente citados. A principio, além de Superman e Batman, a história demonstra também a reação da nova Robin diante da vitória. Ao perceber a morte do mentor, abala-se mas logo parece admitir que o manto é maior do que um único indivíduo. Enquanto isso, Lanterna Verde continua sua peregrinação no deserto, observando o quanto se sentiu um deus ao possuir o anel e Átomo, ainda preso microscopicamente, procura uma maneira de retornar ao mundo visível. Enquanto Lara é julgada pelos kryptonianos devido a sua origem, metade marciana metade amazona. O mesmo argumento que proporcionou a discussão e batalha entre Diana e a filha na edição passada.

    A trama se encerra em uma emboscada, com os vilões atrás do outro filho de Clark, um bebê que vive aos cuidados das amazonas. Uma cena com certo impacto que pode apresentar um grande combate entre os dois guerreiros. Porém, considerando os números anteriores, qualquer desfecho bem realizado pode ser executado com pouca ação. De qualquer maneira, a Trindade parece finalmente reunida em cena, um fato sempre agradável de se ver nas histórias em quadrinhos. É nesta edição também que se lembram da ideia inicial de múltiplas vozes através da mídia e, mesmo que por poucas cenas, a imprensa e as comunicações virtuais reaparecem, dialogando com os fatos acontecidos. Uma ideia interessante, utilizada inicialmente nesta trama mas deixada de lado nos números posteriores.

    A segunda história vem mantendo bom destaque ao ser capaz de explorar os personagens secundários com maior adequação e aprofundando um pouco em sua trama pessoal, no momento em que acontece a ação da saga principal. Neste número, o enfoque retorna para Hal Jordan que reencontra seu anel e volta a se tornar um Lanterna Verde e ao Gavião-Negro e a Mulher-Gavião, observadores da ação envolvendo Hal.

    Após apresentar o retorno do Cavaleiro das Trevas, reassumindo seu posto como herói e um chamado informal aos diversos outros heróis do panteão da DC Comics, a história parece direcionada para o final, um impactante combate entre kryptonianos e amazonas. Mas, evidentemente, tudo em Raça Superior parece propositadamente anticlimático, sendo possível, ainda, um desfecho que não consagre, em nenhum momento, uma ação imediata. Porém, não há mais tempo para seus autores desenvolverem a trama de maneira pausada, faltam apenas dois números e, ao menos, espera-se uma boa realização final. A trama desse sétimo número conduz o leitor a um possível grande ápice, seria lamentável que não utilizassem a boa sustentação do suspense desta edição. Bruce Wayne está de volta e pronto para a batalha.

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  • Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #6

    Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #6

    (Atenção: a crítica a seguir comenta acontecimentos dos números lançados de The Dark Knight III: The Master Race. Se não quiser saber nenhuma informação a respeito, interrompa a leitura – mas retorne a ela após ter lido as edições).

    No sexto número de Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior, a narrativa continua com a mesma tônica dos números anteriores: lenta, desenvolvendo os acontecimentos de maneira ordenada, um a um, sem uma urgência necessária para a invasão kryptoniana apresentada. A ação adentra levemente a narrativa central após a execução do plano de Bruce Wayne em produzir uma chuva artificial de kryptonita em uma Gotham tomada pelos vilões. Enfraquecidos, os mocinhos ganham a primeira batalha, ainda que a situação, provavelmente, ganhe alguma reviravolta, afinal, ainda faltam quatro edições futuras já que a DC Comics anunciou no ano passado que estenderia a série até a nona edição.

    Novamente, Frank Miller coloca Superman como um coadjuvante. Seu retorno em potencial em The Dark Knight III: The Master Race #5que poderia realoca-lo como um salvador dentro do contexto, é rebaixado a uma única ação nesta edição. Se por um lado o autor tem um histórico de sempre destacar o Cavaleiro das Trevas em suas obras em detrimento a outros heróis do panteão do estúdio, a tensão da trama exige a participação de outros heróis. Até o momento, porém, a maioria tangenciam a trama.

    A esta altura, parece evidente que o roteiro é mais funcional como metáfora. Esqueça o desenvolvimento aparente da trama, ela é apenas sustentação para criticar o extremismo e apresentar a queda dos heróis, uma falência generalizada por personagens desencantados e a velhice de Bruce Wayne. Afinal, Batman parece o único que mantém a fibra em lutar, mas seu corpo está velho demais para combater o crime. O desfecho deste número ainda conduz o leitor para um dos ganchos mais comuns das histórias em quadrinhos: um ataque direto ao herói que, aparentemente, morre. Um apelo desesperado da trama para conquistar certo drama. Mas não funciona. Se a história foi desenvolvida até aqui segurando ao máximo a ação, a possível morte do Homem-Morcego demonstra apenas desespero dos roteiristas.

    Em contrapartida, a segunda história se desenvolve com maior qualidade ao explorar os personagens isoladamente. Dessa vez, Lara, a nova Robin e Mulher-Maravilha são os destaques. Alem do roteiro, Miller também assina os desenhos desta parte e ao apresenta duas batalhas, ao menos, injeta um pouco de ação em uma história lenta. A primeira delas entre Lara e a Robin e a segunda entre Diana e a filha. A Trindade parece, finalmente, estabelecida e ativa na trama, ainda que considerando o anticlímax do enredo, é possível que a Mulher-Maravilha ainda não apareça na história central.

    Com apenas três edições para o desfecho, a história poderia ser mais objetiva. Prolongada em excesso com diversos acontecimentos isolados, a obra parece se distanciar cada vez mais do consagrado universo de Cavaleiro das Trevas.

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  • Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #5

    Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #5

    Dark Knight III - The Master Race 5 - cover

    (Atenção: a crítica a seguir comenta acontecimentos dos números lançados de The Dark Knight III: The Master Race. Se não quiser saber nenhuma informação a respeito, interrompa a leitura – mas retorne a ela após ter lido as edições).

    Lançado em 29 de junho nos Estados Unidos, The Dark Knight: The Master Race #5 segue no anti-clímax estabelecido na edição anterior, The Master Race #4. Novamente, é necessário ponderar a intenção por trás dessa nova obra no universo de Cavaleiro das Trevas. Até esta edição, a simbologia da narrativa permanece superior ao próprio desenvolvimento e construção da história. É possível identificar que a batalha com a Raça Superior é metáfora sobre força e extremismo, a qual naturalmente a crítica associou a movimentos contemporâneos, principalmente no Oriente Médio. Porém, qual a superfície desta narrativa?

    Como Batman é personagem principal da trama, a edição apresenta uma distorção na história para que o herói se torne o centro da futura ação. Superman retornou de seu exílio na Fortaleza da Solidão, porém foi momentaneamente destruído – preso em matéria negra – pelos vilões; Flash aparece rapidamente na edição anterior e tem seus pés destruídos; Mulher-Maravilha continua em Themyscira; Lanterna Verde, ainda desaparecido após ter os braços decepados; e Átomo se mantém preso em nível atômico. Em resumo: tudo coaduna para que um velho e cansado Bruce Wayne assuma ativamente o plano para destruir a raça mestre dos kryptonianos. Porém, mesmo considerando as personagens desaparecidas, parece inverossímil que Superman aceite ser – momentaneamente – derrotado e que o Cavaleiro se torne a única força de resistência a ponto de ser ameaçado pelos vilões.

    Ainda que o plano executado tenha sido inteligente, provavelmente figurá em futuras listas elencando momentos em que Frank Miller reduziu a verossimilhança da trama para que a inteligência e perspicácia de seu herói se destaquem como supremas. O problema em utilizar tal recurso alimenta a dúvida de por qual motivo outros heróis continuam sem intervir diante de um grande problema como este? Os leitores reconhecem que em muitas sagas há a participação limitada de um grupo de heróis, porém a trama apresenta as personagens envolvidas nas histórias paralelas, mas ainda não as inseriu dentro da ação. Como metáfora sobre discussões atuais, é possível estabelecer bons parâmetros, no entanto a história em si continua caminhando devagar, alinhando personagens aos poucos sem nenhum ganho narrativo e, até agora, sem nenhuma ação de fato – a mudança mais significativa nesta parte é a promoção de Robin à Batgirl.

    É possível observar também como as mídias se entrelaçam nesta nova edição. Devido ao seu corpo velho e debilitado, Batman volta a utilizar a armadura vista no Cavaleiro das Trevas original, a mesma que foi homenageada em Batman vs. Superman: A Origem da Justiça. Uma sintonia proposital unificando os prováveis futuros leitores que adquirem esta obra em razão do filme.

    Neste número, há a terceira HQ desenhada inteiramente por Frank Miller, uma das aventuras que se passa de maneira paralela à trama central, lançada em um mini-gibi dentro das revistas. A personagem enfocada desta vez é Lara, filha de Clark Kent e Diana. Ainda que seja positivo observar que o autor se mantém na ativa com seus traços caracteristicamente desproporcionais, até mesmo esta trama – a qual normalmente é mais interessante que a principal – também pouco revela ao leitor, exceto o óbvio: o descontentamento da personagem ao acompanhar os kryptonianos e um futuro provável em que ela mudará de lado e lutará a favor de nossos heróis.

    Prologando em excesso o anti-clímax, Dark Knight – The Master Race #5 começa a incitar dúvidas sobre sua qualidade narrativa. Há uma base simbólica em demasia perante uma narrativa ainda diminuta, revelando a escassez da trama. O desfecho será realizado nas próximas três edições. Ainda há tempo para uma ação concreta que ao menos encerre com qualidade a trama.

    Dark Knight III - The Master Race 005 - 01

  • Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #4

    Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #4

    The Dark Knight III – The Master Race #4

    (Atenção: a crítica a seguir comenta acontecimentos dos números lançados de The Dark Knight III: The Master Race. Se não quiser saber nenhuma informação a respeito, interrompa a leitura – mas retorne após ter lido as edições).

    A nova empreitada de Frank Miller no universo de Cavaleiro das Trevas, agora com apoio narrativo de Brian Azzarello e traços de Adam Kubert e Klaus Janson, segue uma trama na qual grandes possíveis temas são apresentados enquanto há pouca ação desenvolvida. O anticlímax é o lema de The Dark Knight – The Master Race #4.

    Se considerarmos que estamos no meio da história, dividida em oito partes, é evidente que há um trabalho ativo na narrativa para conter a ação principal enquanto as personagens se alinham. Superman foi renascido na edição anterior; neste há mais um prelúdio de Mulher-Maravilha sugerindo que, finalmente, Diana entrará na ação.

    Até o momento, é perceptível que não se trata de uma nova história neste futuro provável de Batman, mas uma trama envolvendo todos os heróis de um panteão agora diminuto. Em outras palavras, um ataque tão violento por parte dos vilões que obriga os velhos vigilantes a reassumirem o manto e o antigo status quo. Aos poucos, a Liga se configura diante deste cenário caótico de uma Raça Mestre prestes a dominar o mundo, ainda que, neste momento, ela demonstre grande potencial destrutivo e uma paciência longa. Há duas edições, o grupo realiza ultimatos mundiais com horas de espera, justificativa para o retorno do grupo.

    É de se imaginar que o regresso heroico será poderoso e bem realizado, afinal, há apenas mais quatro edições, além das histórias paralelas, para que finalmente se desenhe o conflito. Pela seleção das personagens, parece que a batalha pretende ser épica. Parece improvável que os roteiristas desenvolvam um final anticlimático, principalmente porque Cavaleiro das Trevas 3 foi pensado como material mercadológico para os leitores e, naturalmente, eles desejam ver embates.

    Neste aspecto, entre progresso narrativo e anticlímax, a história paralela enfocando personagens específicos tem sido mais eficiente. Apesar de um provável gancho anterior com Hal Jordan, uma nova trama é apresentada, dessa vez focando na Batgirl. Uma boa alternativa para desenvolver novos papéis sem inflar a trama principal. Como, no entanto, a ação central ainda permanece lenta, o enfoque narrativo destes personagens tem sido mais atrativo.

    The Dark Knight III – The Master Race #4 demonstra a intenção de seus autores em alongar o suspense para uma futura ação derradeira. A expectativa permanece para que a série se consagre. Por enquanto, se mantém na média.

    Dark Knight III - The Master Race 4 - 1

  • Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #3

    Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #3

    Dark Knight III - The Master Race 3 - cover

    (Atenção: a crítica a seguir comenta acontecimentos dos números lançados de The Dark Knight III: The Master Race. Se não quiser saber nenhuma informação a respeito, interrompa a leitura mas retorne após ter lido as edições).

    Após a interessante apresentação no primeiro número e um segundo volume desenvolvendo o argumento, finalmente, as personagens de The Dark Knight III: The Master Race se alinham dando inicio a derradeira narrativa. Mesmo em um futuro desolado, os heróis, considerados datados, ainda são uma representação ideal como último bastião da defesa mundial.

    A grande personagem do título entra em cena com maior propriedade. Mesmo combalido fisicamente, Bruce Wayne ainda retém a força do combate ao crime e decide, mais uma vez, assumir o manto de Cavaleiro das Trevas – seja ele literal ou apenas devido a potência de seu status – para combater a raça mestre, kriptonianos outrora diminutos vivendo em Kandor. Este volume é conduzido pela destruição mundial deste grupo que deseja subjulgar a Terra, sem nenhum plano além da dominação. Sob este aspecto, há um estranho paradoxo situando a composição desta história. Ela parece mais uma alegoria direta dos tempos contemporâneos – e escrita para causar este impacto –  do que uma trama que possui estrutura própria e, simultaneamente, dialoga com o tempo presente.

    Miller e Azzarello parecem partir dos noticiários para, então, compor os ganchos da história. A raça mestre de Kandor representa o extremismo do Oriente Médio, com direito a kriptonianos se transformando em homens bombas para destruir capitais importantes do país. A metáfora não parece sutil, mas Miller há tempos deixou as referências implícitas de lado, demonstrando claramente suas opiniões em suas hqs. A contraposição entre a tecnologia e a falta de integração social também se destaca em uma cena a qual o grupo de vilões destrói a cidade e toda as pessoas na cidade observam seus celulares. O momento escolhido para causar impacto dramático ocorre quando o grupo destrói um satélite local e o sinal da rede virtual cai. Causa estranhamento, principalmente, pela escolha ruim para promover um impacto e, possivelmente, um debate a respeito.

    De qualquer maneira, o número entrega cenas que o público espera, Wayne reassumindo o manto de Batman, em uma cena formatada para os fãs e o retorno de Superman, trazido pelo herói e o novo Robin de volta da Fortaleza da Solidão, local em que permaneceu desde os conflitos de Cavaleiro das Trevas 2. Há intensidade na jornada heroica de Wayne devido a força da personagem. Sua fragilidade é a novidade diante das diversas caracterizações anteriores.

    A segunda história tem Lanterna Verde como personagem central e, ao contrários das duas edições anteriores, não apresenta uma trama fechada. Narrado pelo próprio Hal Jordan, o herói também se identifica como anacrônico, porém, retorna a seu papel devido a um chamado da Terra pedindo ajuda. A trama é somente uma justificativa inicial para explicar porque, diante da presença dos vilões de Kandor, outros heróis não vieram ajudar Batman e Superman. Até o momento, Átomo foi desintegrado, Mulher Maravilha continua no Olimpo – provavelmente aparecerá no próximo número – e Jordan tem seu anel roubado por três mulheres no Oriente Médio em outro dialogo claro sobre a cultura local nos diálogos em que elas apontam a subserviência feminina.

    A vertente heroica é melhor composta do que a crítica social, ainda que nenhuma batalha tenha sido propriamente apresentada, levando ao ápice do que o público tradicionalmente reconhece como quadrinhos de heróis, a ação parece mais autêntica do que a crítica, ainda explícita em seu diálogo e, assim, vazia.

    Dark Knight III - The Master Race 3 - 01

  • Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #2

    Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #2

    Dark Knight III- The Master Race 2 - Cover

    (Atenção: a crítica a seguir comenta acontecimentos dos números lançados de The Dark Knight III: The Master Race. Se não quiser saber nenhuma informação a respeito, interrompa a leitura mas retorne após ter lido as edições).

    Após a expectativa de estreia de The Dark Knight III: Master Race, o segundo número da aventura escrita por Frank Miller e Brian Azzarello – em edição lançada em 23 de Dezembro nos Estados Unidos – prossegue desenvolvendo o argumento lançado no primeiro número, sem grandes revelações. Demonstrando que, além da concepção de um produto mercadológico, há a preocupação em compor uma história coesa dentro do universo de Cavaleiro das Trevas. A narrativa segue a estratégia de apresentar duas tramas em um único volume, uma concepção que centraliza a continuidade da ação na revista título e explora personagens em um argumento mais reflexivo, centrado em um personagem específico por edição, enfocando neste número Mulher Maravilha e o conflito com sua filha, Lara.

    O impacto final da parte anterior, revelando um novo Batman prossegue de maneira amena dois meses depois da prisão de Carrie. A comissárie Ellen Yindel tenta mais uma abordagem em um interrogatório e a personagem quebra o silêncio, revelando o paradeiro de Bruce Wayne, inicialmente preso a uma cama após uma batalha e morrendo ao lado da companhia da ex-Robin. Se a morte de Wayne se consolidar além de um despiste para o leitor, a obra se fundamentará com grandes personagens femininas assumindo o manto de dois grandes super-heróis, um dialogo coerente com a época presente em que ainda se discute a necessidade de equiparar a mulher e o homem dentro da sociedade e no trabalho. Porém, considerando os feitos do Batman de Miller, bem como sua coerente estratégia como personagem, não seria surpresa se o Homem Morcego driblasse o mito de sua própria morte e agisse somente como um mentor a partir de agora.

    Como especulado antes do lançamento da história, a Raça Mestre do título se refere a população engarrafada de Kandor. Grupo que retorna ao tamanho normal graças a um aprimoramento da tecnologia de Átomo / Eléktron e se revela parte de um plano de um líder para destruir a humanidade. O argumento que, provavelmente, reunirá os grandes heróis novamente.

    Na segunda narrativa deste número, Diana tem um confronto com sua filha, gerada em Cavaleiro das Trevas 2 com o parceiro Superman, que parece insatisfeita ao assumir o manto de heroína e de honrar sua tradição amazonas. Exibindo poderes e se equiparando a um deus, o embate entre sangue parece base fundamental desta história, bem como a contraposição entre heróis humanos e super seres.

    Se a primeira história apresentava os bons,  The Dark Knight: Maste Race #2 parece, em uma interpretação incompleta devido a leitura acompanhando o lançamento, desenvolver o lado dos vilões, estabelecendo não só um líder aparente, mas plantando a dúvida diante da filha de Kal-El e Diana. Sem arroubos, o segundo número mantem a tensão, estabelecendo as frontes para esta nova narrativa.

    Dark Knight III- The Master Race 2 - 2

  • Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #1

    Resenha | Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #1

    The Dark Knight III - The Master Race - Cover 1

    Se situarmos somente as obras de Frank Miller sobre Batman, é notável o contato íntimo que o escritor tem com a personagem, sabendo estudar suas nuances com clareza e desenvolver histórias formidáveis. Desde seu primeiro roteiro do Homem-Morcego até os últimos lançamentos – considerando as obras de maior destaque lançadas, normalmente, como edições especiais ou minisséries – é possível traçar uma balança invisível que equilibra Cavaleiro das Trevas e Batman: Ano Um de um lado e Cavaleiro das Trevas 2 e Grandes Astros Batman do outro. Uma representação que demonstra que o autor teve altos e baixos utilizando a personagem, ainda que em maior ou menor grau seu Bruce Wayne sempre tenha sido o mesmo.

    Após uma sequência considerada péssima, em que a metáfora de Miller foi além da narrativa que desejava contar, a recepção do anúncio de um novo Cavaleiro das Trevas foi misto. Notícias diziam que a saúde do autor seria preponderante para esta nova narrativa; outros acreditavam que a história traria o autor a velha forma. Considerando que Cavaleiro das Trevas explorava criticamente a mídia, é interessante observar que Cavaleiro das Trevas III se apoiou na divulgação e em uma maciça publicidade com diversas capas variadas para promover seu sucesso antecipado.

    Lançado em 25 de Novembro nos Estados Unidos em edição física e plataformas Digitais, The Dark Knight III: The Master Race #1 é a primeira edição de oito apresentando uma nova aventura de uma visão futurista sobre um dos personagens fundamentais da DC Comics. Dessa vez, Miller assina o roteiro em parceira com Brian Azzarello, deixando os traços com Andy Kubert e as cores por Klaus Janson, um time de primeira linha – sem mencionar os diversos autores que desenharam artes alternativas para a capa – que demonstra o quanto a obra tenciona ser fundamental e comercial simultaneamente.

    Como lidamos com uma história seriada ainda em publicação, o primeiro número de The Master Race retoma a atmosfera das duas narrativas anteriores, estabelecendo sua trama. O roteirista mantém o diálogo com nosso presente e mantém sua proposta ao mostrar a mídia como  um importante instrumento de comunicação. Dessa vez, inicia sua narrativa por intermédio de uma conversa de mensagem instantânea, contextualizando a atual era de informação cujo diálogo e propagação de imagens acontece por intermédio da tecnologia. Nesta conversa entre dois amigos, há um registro fotográfico que flagra o retorno do Homem-Morcego. O início aponta a modificação contemporânea do poder midiático que perdeu a supremacia de monopólios para focar qualquer um que possa registrar um acontecimento e publicá-lo na rede. Diante deste cenário de retorno do lendário herói, três personagens se destacam nesta primeira edição: A Mulher-Maravilha,  a ex-Robin Carrie Kelley e a Comissária Ellen Yindel.

    Se Miller foi fundamental na modificação dos quadrinhos em anos passados devido a sua abordagem, a evolução narrativa dos quadrinhos e as influências de outros autores agora refletem-se em sua narrativa. Quando o Morcego retorna a Gotham e – em uma cena comum a muitos roteiristas do Morcego – foge da polícia, tanto os traços estilizados, bem emulados por Kubert, quanto o retorno mítico da personagem, trazem à tona outras versões da personagem, como a leitura de Paul Pope em Batman – Ano 100, obra que também observava um futuro para Batman. Uma confluência de referências naturais que serão lidas direta ou indiretamente por cada leitor.

    Esta primeira edição é composta de duas histórias. Além da primeira parte de Cavaleiro das Trevas III, uma trama escrita e desenhada por Miller com Elektro como personagem e narrador principal. Uma história que se entrecruza em seu final com a obra principal. Como enredo, a personagem analisa o fato de não ser um grande herói em comparação ao panteão da Trindade, em falas que parecem resvalar no próprio autor comentando sobre sua obra e erros e acertos de sua trajetória, ainda mais voltados à história de Cavaleiro das Trevas. A arte continua em boa forma, com os desvios de proporção e estética que popularizaram os traços do autor, causando estrahamento e, ao mesmo tempo, admiração.

    Mesmo que seja cedo para dar aval a sua nova obra, o início de The Dark Knight III – The Master Race desenvolve um bom argumento que anuncia uma história sólida com prováveis grandes conflitos. Se uma primeira parte de uma história é focada em captar o leitor e impressioná-lo, Miller, Azarello, Kubert e Janson cumpriram sua missão.

    A segunda parte da série será lançada em 23 de dezembro. Até o momento da composição desta crítica, os dados de vendas de novembro ainda não tinha sido divulgados, mas é evidente que o retorno de Miller a uma história clássica deve ter atingido o número um em vendas.

    Batman - The Dark Knight III - Frank Miller

  • Resenha | Wolverine: Origem

    Resenha | Wolverine: Origem

    Wolverine - Origem

    Personagem carismático, popular e recorrente no universo Marvel, a origem de Wolverine sempre foi lacunar. Motivo pelo qual muitas teorias foram desenvolvidas pelos leitores e diversas possibilidades narrativas foram trabalhadas por roteiristas, inserindo novos elementos na trajetória elíptica da personagem.

    Em 2001, o editor- chefe Joe Quesada colocou em pauta editorial uma trama que iluminasse parte da origem da personagem. Mesmo com parte da equipe criativa sendo contrária, alegando uma possível destruição da mítica de Logan, Quesada seguiu em frente com o projeto e convidou Paul Jenkings como roteirista principal, auxiliando-o ao lado de Bill Jemas. Composta por seis edições, a série foi a mais vendida do ano e, na época, foi publicada pela Panini Comics em três volumes em formato maior do que o americano. Recentemente, a série foi lançada dentro da coleção Graphic Novel da Salvat.

    Dono de um fator de cura que lhe impossibilita o envelhecimento normal, Logan origina de uma época que remete ao século XIX. Origem é narrada pela jovem órfã Rose, uma estrangeira acolhida na masão da rica família Howllett para fazer companhia a James, o adolescente de saúde frágil, filho único após a trágica morte do irmão. Simultaneamente, a narrativa enfoca um dos trabalhadores locais, o caseiro Logan e seu filho, Cão.

    Grande parte do sucesso da trama se deve a narrativa de Jenkins. A credibilidade com a qual compõe sua personagem central valida a história da família e do jovem adolescente. A representação remete a típicas personagens do romance do século XIX cuja riqueza proporciona um conforto favorável e uma aparente estabilidade, mesmo quando internamente os conflitos familiares são intensos. A discrepância entre as classes sociais é também parte do conflito entre gerações devido ao patriarca Howllett tratar seus funcionários como parte de uma classe inferior, enquanto John Howllett Jr. trata-os de maneira igualitária. A briga familiar intensifica a problemática entre Logan e os Howlett.

    A intriga leva o leitor a crer que o pequeno Cão será o mutante Wolverine. A inversão acontece quando percebemos que, na verdade, James Howlett é nosso herói, fruto de uma relação incestuosa com o caseiro, cujos traços são idênticos ao personagem em sua maturidade. A maneira como o autor trabalha esta revelação gera impacto sem uma solução forçada devido a um conflito tradicional e presente em muitas outras obras.

    O traço de Andy Kubert promove maior imersão pela composição diferente da tradicional. O lápis foi preservado e a coloração feita a partir deles. Um traço mais pitoresco que produz uma ambientação diferente, como se a linguagem dos quadrinhos se adaptasse ao século passado. Como a trama foi escrita após muitos anos de histórias sobre a personagem, algumas inferências são propositadamente colocadas na trama, como o fato da órfã Rose ser ruiva, uma justificativa para a futura paixão por Jean Grey, explorada aqui como um reflexo desse primeiro amor juvenil.

    A edição da Salvat conta com um texto do próprio Jenkins explicando que o roteiro de seis edições foi desenvolvido por ele com mais ênfase até a terceira edição, com Quesada / Jemas assumindo o desfecho. Tal divisão é nítida na narrativa, e a partir do meio a história ganha mais ação perdendo parte do seu estilo para entregar aos leitores momentos mais tradicionais da personagem com sua personalidade irritadiça e a violência inerente, ainda que a trama podia muito bem ser executada sem isso. De qualquer maneira, o vilão Cão, irmão de Logan, retorna como um plano de vingança devido a sua derrocada. Um ato que não perde a força da história mas parece mais uma intriga para criar mais um personagem em seu universo. Recentemente, Cão reapareceu em Wolverine e os X-Men de Jason Aaron.

    Definir origens, inserindo uma trajetória anteriormente lacunar sempre é difícil devido à possível não aceitação do público. Porém, a história desenvolve um período interessante da vida de Logan que não destrói sua mística mas fundamenta-a em um período anterior a sua violência, fazendo a transição do garoto franzino e doente para o Selvagem que conhecemos.

  • Resenha | Batman e Filho

    Resenha | Batman e Filho

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    Em sua estreia no título mensal do Morcego, Grant Morrison optou por uma breve história em quatro partes, seguindo um recurso tradicional de suas obras: o resgate do passado por meio de releituras contemporâneas ou da reintrodução de personagens. Batman e Filho, desenhado por Andy Kubert, apresenta um novo herdeiro ao manto do morcego. Diferentemente dos parceiros e filhos adotivos de Bruce Wayne, este nasceu de noites de amor com Talia Al Ghul e, por muito tempo  desde O Filho do Demônio, de 1989 –, permaneceu fora da cronologia.

    A história de Damien está inserida logo após os eventos de Crise Infinita e o salto temporal de um ano do Universo DC. É o segundo arco de retorno da revista Batman, depois do primeiro, escrito por James Robison, no qual apresenta a volta de Harvey Dent como Duas Caras. Nesta nova fase do herói, é perceptível a tentativa de reintroduzir os vilões clássicos da personagem, tanto neste primeiro arco como nas revistas Detective Comics, cujos roteiros assinados por Paul Dini  situam histórias fechadas de 25 páginas abordando um vilão a cada edição.

    Refletindo o desfecho da Crise Infinita, em que os grandes super-heróis ficam fora de ação por um ano – espaço justificado para a megassaga 52, que tem Grant Morrison como um dos quatro roteiristas –, Batman voltou com energia total e conseguiu erradicar boa parte do crime em Gotham. Durante seu ano sabático – visto na megassaga –, o Morcego refez a trilha inicial de sua formação como herói e, entre descobertas e meditações, novamente encontrou o equilíbrio, uma força demonstrada ao combater o crime com afinco.

    A primeira página da trama apresenta um Comissário Gordon enlouquecido com um novo gás do Coringa e com um Batman falso tentando combater o vilão. Após levar um tiro deste falso Batman, o verdadeiro cavaleiro surge e deixa o Palhaço do Crime nas mãos dos policiais. Neste resgate interior de seu equilíbrio, Bruce Wayne decide dedicar um tempo como bon vivant e parte a Londres para visitar uma exposição artística, interrompida por uma horda de capanga que utiliza o soro do Morcego Humano do Dr. Robert Kirkland Langstrom. No meio da luta, é apresentado ao seu filho por Talia.

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    Morrison parece mais preocupado em inserir um personagem, que pode render no futuro boas histórias, do que realizar uma adequada introdução ao universo do Morcego. Normalmente, quando um novo roteirista assina uma revista, há a natural fundamentação de parâmetros para tramas que virão; o autor utiliza este recurso com Damian e o Coringa aprisionado. Mas, com boa execução em metade da história, a outra parte falha e torna-se apressada no final, com um dos recursos mais bobos utilizados por narrativas de qualquer estilo: uma explosão em que bandidos desaparecem, resultando em um desfecho inacabado. Em linhas gerais, também nota-se a intenção de fugir levemente do realismo noturno da personagem, dando maior dimensão ao seu arsenal como super-herói: Batman e Damian viajam em um foguete e a persona de Wayne parece mais crítica e cômica nas falas.

    O encadernado lançado pela Editora Panini apresenta este primeiro arco (publicado originalmente em Batman #655 a #658 e, no Brasil, Batman nº 58 a 61) e mais três histórias posteriores, lançadas após uma história dividida em quatro partes intitulada Grotesco. Em O Palhaço à Meia-Noite, Morrison demonstra sua loucura característica ao apresentar um conto dentro da revista. Há pequenas ilustrações irregulares de John Van Fleet, mas o destaque é o conto literário sobre o Morcego e seu arqui-inimigo. É inegável a vontade do roteirista em quebrar paradigmas. Imagine o choque do público ao abrir a revista à procura de uma costumeira história em quadrinhos e se deparar com um conto que flui de maneira muito diferente da de uma obra desenhada. No conto, mesmo preso no Arkham, Coringa arquiteta um plano para matar sua cadeia de contatos. Uma narrativa muito bem delineada que depende da inventividade do leitor devido às metáforas visuais. Além disso, a trama traz um gancho que envolve o Palhaço do Crime e Arlequina.

    As três histórias seguintes compõem um mesmo enredo. Em Os Três Fantasmas de Batman, Bruce Wayne ainda está viajando quando recebe a informação de que há uma ameaça em Gotham City, e o responsável por matar policiais é visto trajando um manto híbrido composto pelos uniformes do Morcego e do vilão Bane. O título inegavelmente cita Charles Dickens e os três espíritos do Natal que visitam o personagem principal do livro Um Conto de Natal. Os fantasmas de Bruce Wayne são elementos traumáticos de sua vida. O primeiro deles apresenta-se na primeira parte de Batman e Filho e é retomado nesta aventura: um Batman que utiliza armas de fogo para matar, símbolo que não só representa a morte de seus pais, mas também a mudança da filosofia da personagem, a de nunca utilizar armas fatais. Em seguida, o policial truculento com o uniforme meio Batman meio Bane dialoga com A Queda do Morcego. A primeira parte termina com uma cena semelhante, com Batman agonizando no chão após levar um chute nas costas. Em Casos Inexplicáveis, um Wayne alucinado e acamado vive um pesadelo e menciona os casos não solucionados durante sua carreira. Trata-se de outra retomada do roteirista a uma série de histórias antigas do Batman que não se encaixam mais em sua cronologia por serem diferentes demais do habitual. Tais narrativas foram a base para compor A Luva Negra. Mais um mistério que Morrison deixa para os fãs (um compilado com os casos citados também foram lançados pela editora).

    Por fim, Belém é uma história sobre um futuro apocalíptico. Na edição original, foi publicada no número 666 de Batman e apresenta Damian assumindo o manto do pai, modificando a filosofia de Batman ao tornar-se um herói que mata os vilões, elemento que evidencia o terceiro temor do Morcego, o de um futuro em que estará morto e seus sucessores não seguirão a base moral rígida de sua carreira. Este argumento será utilizado em referências futuras, demonstrando que, como sempre, a composição de uma história de Grant Morrison nunca possui o objetivo de ser uma mera leitura, mas também de um jogo de pistas e inferências que somente o bom leitor poderá elucidá-las por completo.

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  • Crítica | Liga da Justiça: Ponto de Ignição

    Crítica | Liga da Justiça: Ponto de Ignição

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    A animação que dá origem ao reboot do DCAU (DC Animated Universe) começa com um brutal assassinato que culmina num trauma infantil. Barry Allen, o protagonista, é marcado com fogo ainda criança. Já adulto ele se atormenta, pensando que se fosse mais rápido poderia ter impedido o crime. O roteiro é baseado na saga de Geoff Johns e Andy Kubert, e apesar de tomar algumas liberdades, mantém-se fiel ao espírito da trama original.

    O quadro pintado mostra grandes diferenças da realidade alternativa mostrada em tela com o universo que o grande público está acostumado a assistir. O herói, acorda na delegacia, sua última memória é a de ter lutado contra o Professor Zoom. Logo ao sair do posto policial, percebe que algo está errado, pois sua mãe – a pessoa assassinada nos primeiros minutos de exibição – o recebe. Logo ele percebe que não tem mais seus poderes, e as mudanças não param por aí.

    Cyborgue é o cão de guarda do governo americano, Batman utiliza armas de fogo e tem outra identidade, a Mulher-Maravilha é a soberana do Reino-Unido, Capitão Átomo é utilizado como uma arma apocalíptica, Aquaman não é um bucha – é um tirano belicista amargurado – há muita informação para pouco tempo de tela, o que faz com que o conteúdo fique bastante jogado. O visual dos personagens também é modificado, os designs destes são quadrados e há uma clara influência de animações japonesas.

    Deixando a história de lado, ao menos as cenas de ação são bem executadas. O ataque dos atlantes é muito massa véio, todos os guerreiros são fodões absolutos, mas ainda assim há muita gratuidade. Qual a real necessidade de mostrar Mera – legítima esposa de Aquaman – vendo o marido “consumando” o matrimônio com Diana? Seria para justificar o ataque dela a rainha de Temyscera e ganhar tempo? A solução é tosca e empobrece um dos bons argumentos da revista original. As memórias de Barry Allen entram em conflito, aos poucos suas lembranças são substituídas pelos fatos que ocorreram naquele universo. O motivo do paradoxo é mal explicado, a correria do roteiro só serve para mostrar como Back to the Future seria catastrófico num universo levado a sério.

    A batalha final entre Arthur e Diana é muito bem feita, principalmente quando há interferência dos outros heróis. As caracterizações do Capitão Trovão e de Kal-El são muito boas. O ato final do Morcego é bem emblemático, apesar de ser um pouco piegas. Flashpoint Paradox tem graves erros, mas compila de forma leve os acontecimentos da história de Johns e Kubert, e mesmo com todos esses erros ainda possui mais sentido que a Mega-Saga de quadrinhos.

  • Resenha | Ponto de Ignição

    Resenha | Ponto de Ignição

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    Escrita por Geoff Johns e com arte de Andy Kubert, a saga Flashpoint teve a dura função de pavimentar o caminho do Universo DC tradicional para o Reboot e os Novos 52. A história começa com um ser misterioso a procura do Flash, e logo depois mostra o seu alter-ego investigando um estranho caso de homicídio envolvendo um mascarado, o Garoto Elástico, que aparece em uma forma “geriátrica”. Com o decorrer da revista é mostrado que o perseguidor é o Barry Allen de uma terra paralela. A contraparte do herói explica que ele não veio do futuro, mais de uma das 52 Terras Paralelas, e que a dita “Terra 1“ seria essencial a existência das outras 51 – o motivo de sua vinda seria uma tempestade temporal que se aproximava, e afetaria a todos os personagens que vieram de outras épocas.

    No decorrer das investigações, descobre-se que há um vilão roubando a juventude de mascarados, e sem muitas surpresas, ele se revela o professor Zoom – que agora tem a habilidade de mudar sua idade, o que torna o vilão irrastreável até mesmo para o Flash. O malfeitor ainda mata o Barry Allen da terra paralela – com um prazer incomensurável. O fim deste prólogo mostra o herói isolado e  pensativo em relação as próximas ações do Flash Reverso.

    Em Flashpoint #1, Barry acorda na delegacia e ao sair para verificar uma ocorrência policial encontra sua mãe que estava morta. O vigilante começa a investigar o motivo dessa e de outras mudanças na linha de tempo e decide invadir a mansão Wayne. Ao chegar lá, percebe uma das principais mudanças deste universo em relação ao seu próprio tempo – quem morreu na noite do fatídico assalto, não foram os pais, e sim o menino Bruce, o Batman desta linha temporal é Thomas Wayne – muito mais violento e sem restrições quanto a execuções. Após ser recebido com pouquíssima boa vontade, Barry consegue convencer o ex-médico de que ele era amigo de seu filho, e vinha de um universo paralelo, e de uma maneira bem estúpida o Morcego aceita a história de bom grado – essa é só uma das incongruências da série, e piora de forma absurda quando Barry convence o Cruzado Encapuzado a amarrá-lo numa cadeira e atrair um raio para a própria cabeça – nas HQs já foram feitas inúmeras tentativas de reproduzir o acidente, mas nenhuma com sucesso, Johns parece ter ignorado isso sumariamente.

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    Enquanto isso é mostrado, o quadro geral deste Universo Flashpoint, como a guerra travada entre atlantes e amazonas – abordada também em Imperador Aquaman e Mulher Maravilha e as Fúrias. Após o malfadado casamento entre Arthur e Diana ruir e jogá-los numa guerra de motivações altamente discutíveis. Numa tentativa de selar a paz, o Rei Atlante visita Themyscera – no que seria o 1° encontro após a morte da Rainha Hipolita pelas mãos de um oficial atlante – e é acompanhado de um ataque que destrói a ilha. Diana e as amazonas se exilam e procuram um novo lar, tomando a Grã-Bretanha para si. Após isso, ocorre uma tentativa fracassada de assassinato a nova monarca, e uma baixa importante ocorre – Mera, esposa de Aquaman – e a resposta é imediata: o Soberano Aquático inunda toda a Europa, destruindo o continente.

    Alguns Tains não funcionam como parte da trama, mas servem pra aprofundar o cenário da Saga, apresentando o universo. No entanto alguns desses detalhamentos são desnecessários. A distância entre as edições 2 e 3 de Flahspoint atrapalha um pouco a leitura – o excesso de histórias paralelas empobrece o arco principal, na maioria das vezes. A revista do Renegado de James Robinson por exemplo é muito bem escrita, mas acrescenta quase nada a trama principal. Passo contrário ao Batman- o Cavaleiro da Vingança de Bryan Azarello e Eduardo Risso, que dá um background interessante a um personagem ativo na história – a repaginação dos personagens do universo do Morcego é sensacional: Selina Kyle, Pinguim, Harvey Dent tem suas facetas bem diferenciadas, mas a melhor caracterização é a do Coringa, que amalgama características do Joker de Heath Ledger e o da Piada Mortal, num assassino infanticida traumatizado – e com um passado tenebroso. A revista é tão boa que serve como Elseworld perfeito, o independente de Flashpoint até.

    Outro Tain que vale a pena conferir é Legião do Mal, com a arte de Rodney Buchemi. A história foca em personagens vilanescos e também numa versão evil do Homem-Borracha, absurdamente poderoso e uma máquina assassina. Além do mineiro, outros desenhistas brazucas contribuíram para a saga, como Felipe Massafera – em Abin Sur, numa história passável – Eduardo Francisco e Paulo Siqueira (na horrorosa Universo Flashpoint). O lápis de Vicente Fuentes – em Imperador Aquaman – também é ótimo.

    Os melhores momentos de Lois Lane – e de seu grupo de resistência – são nas revistas de Jons/Kubert. A descoberta do alien Kal-El é bastante curiosa, assim como a ação de resgate dele. A entrega do Cyborg – O Super-Herói do Governo, mas que na prática pouco aparece – mostra o quanto ele confia no Batman e em sua astúcia.

    O Imperador Aquaman disputa com o morcego a melhor caracterização de Ponto de Ignição. Arthur Curry é um déspota em busca de vingança que convence o leitor de que ele é capaz de dominar o mundo, ao contrário da sua faceta no universo tradicional, que gera piadas repetitivas desde Superamigos. Diana também é mostrada como uma guerreira implacável, líder nata e capaz de muitos atos ousados. A rivalidade entre eles e seus reinos é um ponto fortíssimo do roteiro de Geoff Johns, a despeito de todos os outros defeitos da série.

    Outro ponto curioso é personificação do Capitão Trovão (Capitão Marvel no universo tradicional), que constitui em Billy Batson e outras crianças juntas. Chega a ser engraçado a forma como as mulheres se vestem em Nova Themyscera, o que afasta qualquer dúvida em relação ao forte apelo lésbico por parte das amazonas – para desespero de Raul Seixas.

    No ato final, Barry é defrontado com a verdade, seus atos impensados tornaram aquela versão do universo catastrófica, e seria sua responsabilidade consertar tudo. A priori, o plano de Zoom é ousado e interessante, principalmente por garantir sua existência autônoma a despeito da existência do Flash e de suas várias encarnações, mas a execução poderia ser mais caprichada, as soluções de Johns são mal construídas e recheadas de clichês, há uma desnecessária banalização do vilão. A solução do paladino para deter a catástrofe é fraca e anticlimática. A situação da carta de Thomas Wayne ao seu filho da terra paralela, alivia um pouco a barra do roteirista, principalmente no paralelo entre Flash e o deus grego Mercúrio onde ambos são mensageiros para os deuses de seus universos.

    Ponto de Ignição poderia ser uma série muito boa, mas o excesso de histórias paralelas irrelevantes atrapalha um pouco, além das invencionices de Johns, que quis dar um passo maior do que seu pé. No entanto, esta pavimentou o Universo DC para o Reboot, que se mostrou um sucesso comercial, ao menos até o presente momento.

  • Resenha | Antes de Watchmen: Coruja

    Resenha | Antes de Watchmen: Coruja

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    As oito histórias que formam Antes de Watchmen foram lançadas nos Estados Unidos de maneira simultânea. Como o Brasil não comporta o formato de edições com vinte e cinco páginas, a Panini Comics optou pelo lançamento dos arcos fechados de cada personagem com edições mensais em estilo das edições especiais da editora: capa cartonada e papel couché.

    A obra que se tornou icônica e considerada por muitos o livro sagrado dos quadrinhos é também um produto altamente rentável. Ainda mais depois da versão cinematográfica dirigida por Zack Snyder. O que explica porque, mesmo quando a  história original é fechada, uma grande equipe de roteiristas e desenhistas se reuniram para apresentar novas histórias dos personagens criados por Alan Moore e David Gibbons.

    Antes de Watchmen – Coruja foi o primeiro arco escolhido para o lançamento no país. Apresentando um dos grandes personagens da série original que destaca-se pelo lado humano, além de uma representação que nos traz a mente outros mascarados que fazem da noite o ambiente para a ação.

    Dividida em quatro partes, a primeira é a tradicional apresentação da personagem. Daniel Dreiberg é um jovem que vive em uma família desestabilizada por um pai castrador e agressivo. A figura do herói Coruja é seu ponto de fuga e maneira para lidar com a própria realidade. A devoção ao mascarado leva-o até seu esconderijo, onde pede por um treinamento que resultará na aposentadoria do Coruja original, Hollis Mason, que entrega o manto a Daniel.

    A trama avança anos a frente para outro encontro importante na vida de Daniel. Em um patrulhamento, se depara com outro encapuzado conhecido como Rorschach, nascendo uma parceria. Juntos formam uma dupla de bom e mau herói. Em meio a uma perseguição, Coruja encontra uma dominatrix de um clube de sadomasoquismo intitulada Dama do Crepúsculo que provoca a ira de Rorschach por ser uma prostituta, mas promove simpatia em Daniel. A partir desde ponto a história se divide mostrando as duas personagens de maneira paralela.

    Coruja e Rorschach têm em comum um passado tortuoso. Viveram em famílias desequilibradas com pais agressores mas lidaram de maneira diferente com tais problemas. Talvez a distinção destas escolhas foi o que fez J. Michael Straczynski inserir tão ativamente a personagem de Rorschach dentro de um arco que não o seu. Se o contraste torna-se maior, os paralelos narrativos parecem falta de um argumento mais interessante.

    Coruja ao lado da Dama do Crepúsculo investigam uma série de assassinatos de prostitutas, ignorados pela polícia por serem pessoas marginais à sociedade. Rorschach se revela um devoto religioso que encontra em sua paróquia e na amizade com o pastor um breve elemento de apoio. Ainda que as tramas se interliguem, não se justifica as diversas páginas dedicadas a mostrar o passado de outro mascarado que não Coruja.

    Se a função desta nova imersão no universo Watchmen é apresentar um enredo anterior ao original, que se fizesse introduzindo novos elementos ou conduzindo uma boa história aventureira dos heróis (a série solo do Coruja poderia ser uma simples investigação criminal). Já que seria impossível e inadequado exigir a profundidade da obra original.

    Os bons elementos da história se concentram em pequenos detalhes que dialogam com a série original, apresentando situações que antes conhecíamos apenas pela citação das personagens. São estes elementos que costuraram todos os arcos já que o epílogo anunciado no projeto nunca foi lançado.

    Este também foi o último trabalho de Joe Kubert que saiu de cena em seguida.