Tag: Homem-Aranha

  • Conheça Morbius, o Vampiro Vivo

    Conheça Morbius, o Vampiro Vivo

    Morbius é um personagem trágico das histórias do Homem-Aranha, baseado em um conceito de vilão animalesco, como era bem comum entre os rivais do Cabeça de Teia. Criado pelo roteirista Roy Thomas e pelo desenhista Gil Kane, ele é o primeiro antagonista do herói que não foi criado por Stan Lee, visto que na época o escritor trabalhava no roteiro de um filme que jamais saiu.

    A estreia do personagem foi no ano de 1971 em  Amazing Spider-Man 101. Na época, Peter Parker estava com dois pares de braços adicionais, fruto de uma poção que ele tomou para perder seus poderes, que obviamente deu errado. Ao tentar se esconder no laboratório do Doutor Curtis Connors, o Aranha acaba sendo atacado por Michael Morbius, um cientista grego que se submeteu a um tratamento envolvendo choque elétrico e morcegos-vampiros.

    A origem do personagem foi mais aprofundada na edição seguinte, desenvolvendo suas motivações e origens, retratando a existência de uma doença degenerativa que possuía e da experiência que se submeteu, tornando-se um sujeito que precisava se alimentar de sangue para sobreviver, assim como os vampiros clássicos, mas com origem uma científica e não mitológica.

    Morbius tem super-força, capacidade de voar, hipnose, super velocidade, ecolocalização e até um fator de cura acelerado. O personagem já era conhecido por sua genialidade antes mesmo de tornar um vampiro, ganhando um Nobel em fisiologia, contudo, com a experiência sofrida passou a ter capacidades mentais ainda mais avançadas. Também adquiriu alergia a luz solar, mas não necessariamente fatal.

    O personagem só foi criado por conta da queda do código de censura que vigorava sobre os quadrinhos americanos, revisto no início de 1971. Alguns anos depois, em 73, a Marvel lançou a HQ Vampire Tales, com Drácula, Blade, e claro, Morbius, através da subsidiária Curtis Magazines. Nessas histórias haviam elementos típicos de produções de vampiros, como cultos satânicos, sacrifícios de moças virginais, etc.

    Morbius teve embates com o Doutor Estranho, na história Vampiric Verses, da revista Doctor Strange, Sorcerer Supreme 14. O Vampiro e o Mago se juntam a Irmão Vodu e combatem o ressurgimento de vampiros milenares. Nesta história ele é mostrado como um sujeito cheio de conflitos, fato que deve estar nesse novo filme de Daniel Espinosa protagonizado por Jared Leto.

    Outro momento notável das histórias é Sub-City, lançada em 1991, quando o Aranha descobre que o anti-herói tem um domínio nos esgotos de Nova York. Essa fase foi desenhada pelo criador de Spawn, Todd McFarlane, e é bastante lembrada pela sua arte.

    Morbius fez parte do grupo Filhos da Meia-Noite, iniciativa idealizada pelo Doutor Estranho, presente na revista Rise of the Midnight Sons, de 1992, grupo  formado por personagens mais  obscuros, como Blade, Hannibal King, Morbius obviamente, os Motoqueiros Fantasma Danny Ketch e Johnny Blaze, os Redentores do Darkhold, entre outros. Essa era mais uma equipe da Marvel que tentou se firmar pegando carona no sucesso dos X-Men, mas, como boa parte dos outros grupos “caça-niqueis”, não teve vida longa.

    Em 2019 foi lançada uma série, chamada Morbius: The Living Vampire, onde novos poderes do personagem são apresentados, como a capacidade de hipnose, lançada recentemente pela Panini  no Brasil.

    O personagem também participou de outras mídias, com a mais notável sendo a versão de Homem-Aranha: A Série Animada, de 1994. Esse desenho tinha umas peculiaridades, pois não podia aparecer sangue, socos ou armas de fogo, então ele sugava plasma, com esferas sugadores da essência vital nas palmas das mãos.

    Nessa versão ele tinha uma relação com Felícia Hardy, a Gata Negra que era um dos interesses românticos de Peter no desenho. O vampiro também teve uma aparição no game Spider-Man 3, que adaptava para a geração 128 bits o filme Homem-Aranha 3.

    Além disso, Morbius também apareceu brevemente na série animada Ultimate Homem-Aranha, em uma versão equivalente a sua contraparte do universo Ultimate. Aqui, ele tem ligação com a Hydra e aparece boa parte do desenho como um monstro de aparência de morcego.

    Curiosidades:

    • O personagem Blade só tem a capacidade de andar a luz do dia graças a Morbius. Nos quadrinhos, em uma luta entre os dois, o Vampiro Vivo morde Blade e a mistura entre a toxina de Michael, com as enzimas do caçador de vampiros causaram nesse último uma mutação, passando então a conseguir andar de dia, tal qual o personagem de Thomas e Kane;
    • Gil Kane se inspirou no Conde Drácula de Jack Palance, que fez sua aparição em Drácula, O Demônio das Trevas (1974), para compor o visual da versão humana de Michael Morbius. O rosto dos dois personagens é bastante similar;
    • Loxias Crown, que será interpretado por Matt Smith, no filme é um personagem periférico das histórias de Morbius. Ele passou a ser um vampiro vivo tal qual o personagem que dá nome ao longa.

  • Resenha | Pancadaria: Por Dentro do Épico Conflito Marvel vs. DC – Reed Tucker

    Resenha | Pancadaria: Por Dentro do Épico Conflito Marvel vs. DC – Reed Tucker

    Pancadaria: Por Dentro do Épico Conflito Marvel vs. DC é um livro de estudo de caso sobre a rivalidade entre as duas maiores editoras mainstream dos Estados Unidos, escrito pelo jornalista Reed Tucker. A publicação é parte da cena de bons livros que se voltam para o universo dos quadrinhos no Brasil e no mundo.

    Ainda na introdução o escritor tira algumas conclusões sobre o choque entre editoras e as diferenças entre elas, destacando a capacidade da Marvel Comics se renovar enquanto a DC Comics se assemelha a uma reunião de idosos incapazes de retratar algo fora de suas zonas de conforto.

    Os capítulos iniciais destacam o pioneirismo da DC quando ainda era chamada National Comics, primeiro com reunião de heróis em grupos, como também em iniciativas editoriais que popularizavam os personagens de maneira unida e organizada. Um bom retrato da chamada Era de Ouro e pelos fatores que ajudaram a formar o que se entendia por quadrinhos de heróis. O tradutor, Guilherme Kroll faz um ótimo trabalho, o livro é repleto de notas de rodapé envolvendo contexto das publicações lá fora e no Brasil, como, por exemplo, as traduções nacionais envolvendo mudanças de nomes — Lois Lane para Mirian Lane, Átomo para Eléktron, etc.

    Fato é que Marvel e DC eram bem diferentes desde sua concepção, ainda que a temática das aventuras nas revistas coincidisse. A Marvel, inicialmente, variava entre a mera replicação do que fazia sucesso nos quadrinhos populares da concorrente, com destaque de uma fala de Stan Lee:

    “éramos uma empresa de macacos de imitação”

    Enquanto sua concorrente era predatória, comprando todas as pequenas concorrentes — boatos no livro dão conta que até se cogitou a compra dos direitos do Príncipe Namor e Tocha Humana original, obviamente não confirmado pelas partes.

    A maior riqueza do livro são os detalhes da indústria, como a função de Stan Lee de estagiário, responsável por entregas, servir café e demais serviços auxiliares enquanto sonhava em se tornar romancista, já que encarava os quadrinhos como uma arte menor. Além disso, o livro se debruça bastante sobre a Marvel, desde a importância e decadência de Jack Kirby, como também da ascensão de Stan Lee.

    Reed tem uma escrita prosaica que prende o leitor, além disso, há muita fluidez e inteligência em transições de temas e assuntos. É tudo muito orgânico e o escritor não tem receio em expor a supressão dos artistas por parte da DC e as constantes brigas de Lee na Marvel para serem dados os legítimos créditos aos artistas e escritores no início da segunda metade do século XX.

    Acompanhar os rumos que cada um dos personagens da indústria traçam neste livro faz o leitor buscar as histórias retratadas ali, seja dos personagens do Quarto Mundo quanto o primeiro crossover entre as editoras: Superman x Homem Aranha. O autor detalha tudo muito bem os crossovers dos anos 90, as tentativas de adaptação para televisão e cinema, e as principais disputas. O mesmo ocorre nas referências à era das  graphic novels, e em como a DC foi pioneira no formato de venda de “livros”, enquanto a Marvel não pensou tanto nisso, fato que foi importante para a falência da editora, que chegou a vender os direitos de seus personagens.

    A leitura de Tucker é convidativa, especialmente pela riqueza de detalhes dos bastidores da indústria de quadrinhos, tudo é bem explorado, tanto para o leitor não habituado a esse universo, quanto aos mais experientes. Pancadaria é uma leitura rica sobre esse subgênero e muito complementar a outros estudos sobre o tema.

  • O Homem-Aranha e Suas Versões Animadas

    O Homem-Aranha e Suas Versões Animadas

    O Homem-Aranha é um dos heróis de histórias em quadrinhos mais populares, rivalizando com o Batman na editora concorrente. É fácil simpatizar com a personagem, dada sua humanidade e suas dificuldades típicas do homem comum. Dessa forma, é natural que ao longo das décadas a personagem tenha ganhado vários títulos em quadrinhos, filmes, games e, claro, séries animadas.

    Homem-Aranha (Spider-Man, 1967-1970)

    A primeira recebeu o título de Homem-Aranha e teve produção assinada pela Grantay & Lawrence e Kratz Animation. A animação foi exibida durante os anos de 1967 a 1970 e teve um total de 52 episódios. O Aranha trabalhava no Clarim Diário e tinha como interesse amoroso Betty Brant, que além de ser a primeira namorada do personagem, era o par romântico da época.

    Sua produção era muito barata, notando inclusive que as teias só cobriam parte do uniforme do Teioso. Essa também foi conhecida por dois fatos peculiares: a tradução do nome dos personagens nas primeiras dublagens brasileiras — Pedro Prado (Peter Parker), tia Maria (Tia May), Doutor Polvo (Dr. Octopus), J. Jonas Jaime  (J.J. Jameson) — e, claro, a montanha de memes envolvendo a animação.

    O seriado é tão barato que se torna engraçado, com alguns personagens clássicos e outros originais. Destaque para o Doutor Escorregadio, com poderes de… fazer o Aranha escorregar. Outra questão digna de nota é sua música tema, bastante emblemática, regravado até mesmo pelos Ramones, além de estar presente em quase tudo do Homem-Aranha, inclusive nos filmes para cinema.

    O Aranha só voltaria a ter uma nova animação nos anos oitenta. Nesse ínterim, houve uma série com atores, The Amazing Spider-Man, além de sua versão japonesa, Supaidāman.

    Homem-Aranha (Spider-Man, 1981-1982)

    A nova série animada, intitulada apenas como Homem-Aranha, começou em 1981 e foi até o ano seguinte. O traço dela lembrava a versão de John Romita, e a trama era ambientada no período em que o herói cursava faculdade na Universidade Empire State.

    A série tinha um ar ingênuo e sérias restrições a violência. Acabou se encerrando com apenas 26 episódios e teve transmissão simultânea com Homem-Aranha e Seus Amigos. Justamente por isso teve vida curta e acabou ofuscada pelo seriado de maior sucesso do personagem na época.

    Homem-Aranha e Seus Amigos (Spider-Man and His Amazing Friends, 1981-1983)

    Homem-Aranha e Seus Amigos tinha uma atmosfera semelhante ao seriado anterior, no entanto, com o acréscimo de dois outros personagens, Homem de Gelo e Flama, ambos colegas de turma de Peter na faculdade.

    Reza a lenda que a ideia era trazer o Tocha Humana, mas problemas de licenciamento impediram os produtores, e então criaram a personagem Flama, que teve até versão nos quadrinhos poucos anos depois em introduzida nos quadrinhos em Uncanny X-Men #193. Esse também é o desenho onde a parte de baixo do apartamento do Aranha é um laboratório, ficando à disposição dos personagens através de um botão que faz o chão inverter o sentido com o teto de baixo (imagina os frascos com substâncias de cabeça para baixo).

    Nos anos noventa houve duas versões que já analisamos: Homem-Aranha: A Série Animada e Homem-Aranha: Ação Sem Limites. Ambas não tiveram final, fato meio comum em aventuras do cabeça de teia em animações.

    Homem-Aranha: A Nova Série Animada (Spider-Man: The New Animated Series, 2003)

    Lançada em 2003 para aproveitar a fama do filme do Homem-Aranha, a animação Homem-Aranha: A Nova Série Animada foi o primeiro produto animado já comandado pela Sony. No início, seria uma versão do Homem-Aranha Ultimate, com produção de Brian Michael Bendis, mas tudo mudou com o sucesso do filme protagonizado por Tobey Maguire e dirigido por Sam Raimi.

    A qualidade da animação utilizava de efeitos 3D que hoje soam bastante datados, mas funcionava bem, principalmente em cenas noturnas. O roteiro era mais adulto, inclusive com algumas insinuações sexuais. A produção ficou a cargo da Saban Entertainment e a série foi exibida na MTV.

    Outro destaque era o elenco de dubladores, que contou com Neil Patrick Harris, Rob Zombie, Jeremy Piven, Michael Clarke Duncan e outros.

    Espetacular Homem-Aranha (The Spectacular Spider-Man, 2008-2009)

    Como a última animação, Espetacular Homem-Aranha também teve um bom início, duas temporadas entre 2008 e 2009, 26 episódios e conseguiu reunir um belo conjunto de coadjuvantes das histórias clássicas do Aranha.

    O produtor Greg Weisman esperava que a série tivesse 5 temporadas que lidariam com Peter se formando na Midtown Manhattan Magnet High School, e findaria com ele a caminho da universidade. No entanto em 2009 os direitos televisivos do personagem retornaram à Marvel, e após a compra da companhia pela Disney o desenho foi descontinuado. Esse fim prematuro foi bastante lamentado, pois a série conseguiu capturar a essência do personagem, possuía fidelidade ao material original e, claro, era bastante divertida.

    Ultimate Homem-Aranha (Ultimate Spider-Man, 2012-2017)

    Já na Disney, houve duas animações. A primeira, Ultimate Homem-Aranha, ficou no ar de 2012 a 2017. Seu traço era bonito, o tom das histórias apelava bastante para um tipo de humor que fez muitos fãs torcerem o nariz. Além disso, o roteiro usava e abusava de metalinguagem e quebra da quarta parede.

    Foi nesse seriado que boa parte dos personagens do Aranhaverso apareceram pela primeira vez no audiovisual, desde Miles Morales e Spider-Gwen ao Agente Venom. Em um arco de quatro episódios, Peter se encontra com algumas de suas contrapartes, anos antes da Sony lançar Homem-Aranha no Aranhaverso — ainda que isso já tenha sido feito na clássica animação dos anos 90.

    Marvel Spider-Man (Marvel’s Spider-Man, 2017-2020)

    Apesar do sucesso comercial de Ultimate seja com merchandising ou audiência, a Disney resolver encerrar a animação para dar lugar a Homem-Aranha, ou Marvel Spider-Man, que na data da publicação deste post ainda está em exibição. A qualidade da animação é bastante aquém e sua trama é bastante boba, colocando Miles, Peter, Gwen e outras versões estudando juntas e combatendo o crime.

    Outras versões animadas do herói ganharam holofotes, como a do Disney Júnior, Spidey e Seus Amigos Espetaculares, com bonecos em 3d cabeçudos, que lembram Esquadrão de Heróis da Marvel. As aventuras são bobinhas, mas divertidas para crianças em fase alfabetização.

    Por fim, se aguarda uma nova animação que mostraria os primeiros meses do Aranha de Tom Holland, com o nome Spider-Man Freshman Year, ainda sem muitas informações, com a promessa de que chegará ainda em 2022.

    E assim segue o herói aracnídeo, em diversas versões, que seguem mostrando sua essência, algumas mais acertadas e outras nem tanto, mas sempre levando em frente a máxima que Stan Lee e Steve Ditko pensaram para ele, de que com grandes poderes, vem grandes responsabilidades. Boa parte dessas versões (sobretudo as mais recentes) podem ser vistas nos serviços de streaming.

  • VortCast 106 | Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa

    VortCast 106 | Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira | @flaviopvieira), Jackson Good (@jacksgood), Bruno Gaspar (@hecatesgaspar | @hecatesgaspar) e Filipe Pereira (@filipepereiral | @filipepereirareal) recebem Marcelo Miranda (@marcelomiranda1) para comentar sobre os erros e acertos do mais novo filme do Amigão da Vizinhança, Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa.

    Duração: 88 min.
    Edição:
     Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

    Agregadores do Podcast

    Feed Completo
    iTunes
    Spotify

    Contato

    Elogios, Críticas ou Sugestões: [email protected].
    Facebook — Página e Grupo | Twitter Instagram

    Links dos Sites e Podcasts

    Agenda Cultural
    Marxismo Cultural
    Anotações na Agenda
    Deviantart | Bruno Gaspar
    Cine Alerta
    Arte Final
    Saco de Ossos
    Hora do Espanto

    Materiais Relacionados

    VortCast 47 | Homem-Aranha e o Cinema
    Agenda Cultural 70 | Infiltrado na Klan, Green Book, Shazam!
    A Pilha do Aranha #05 — Um Dia a Mais
    A Pilha do Aranha #07 — Edição Especial: Sem Volta Para Casa

    Filmografia Homem-Aranha nos cinemas

    Crítica | Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa
    Crítica | Homem-Aranha: Longe de Casa
    Crítica | Homem-Aranha: De Volta Ao Lar
    Crítica | O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro
    Crítica | O Espetacular Homem-Aranha
    Crítica | Homem-Aranha 3
    Crítica | Homem-Aranha 2
    Crítica | Homem-Aranha
    Crítica | Homem-Aranha no Aranhaverso
    Crítica | Venom
    Crítica | Venom: Tempo de Carnificina

    Ouça e avalie-nos: iTunes Store | Spotify.

  • Crítica | Homem-Aranha 3

    Crítica | Homem-Aranha 3

    Homem-Aranha 3 fecha a trilogia de Sam Raimi sobre o herói tangível e cheio de defeitos criado por Steve Ditko e Stan Lee, mas não sem trazer consigo uma infinidade de reclamações sobre os rumos que a franquia tomou. Na trama, Peter Parker (Tobey Maguire) tem de enfrentar uma crise na relação com Mary Jane (Kirsten Dunst), além de três vilões diferentes.

    No início do filme há uma clara diferença desse para Homem-Aranha 2, o recapitular das aventuras anteriores se dá com arte de Alex Ross e aqui estão apenas as cenas conduzidas por Raimi, sem qualquer tratamento de imagem, como um resumo de capítulos anteriores de uma série barata, o cuidado com a cinessérie mudou e, além disso, se nota uma diferença no tema orquestrado, com tons e acordes diferentes, já que Danny Elfman dá lugar a  Christopher Young na trilha sonora. Esse tom obscuro deveria passar para a abordagem da personalidade de Peter, mas isso não ocorre, necessariamente.

     

    Homem-Aranha 3 é muitas vezes injustamente  criticado, no entanto, uma reclamação justa é o comportamento que o personagem de Maguire tem no início do filme, antes mesmo de ter contato com o “alienígena” que daria origem a Venom. Ele é impulsivo, se deslumbra com a aceitação que o povo lhe confere finalmente, após dois filmes com histórias conturbadas, e age de maneira brutalmente insensível, em especial com MJ. A vida pessoal de Peter finalmente se ajeita, ele está feliz, tanto como Aranha quanto Peter Parker, mas como se trata de um personagem trágico (aos menos aos olhos do diretor), não há como seguir assim por tanto tempo.

    Raimi é um cineasta muito fiel às suas raízes, mesmo quando faz obras mais voltadas para o público mainstream. Desse modo, é natural que existam cenas que remetam ao cinema de horror. E aqui a manifestação se dá no entorno do Homem Areia, tanto na transformação que Flint Marko (Thomas Haden Church) sofre, quanto nos momentos finais. Além de ter um visual arrebatador em ambos momentos, há significados que remetem aos monstros clássicos, em especial na sua gênese. Marko tem características da criatura de Frankenstein de Boris Karloff, e certamente essa referência seria melhor encaixada caso o roteiro fosse mais sólido, pois o evento que transforma o personagem é completamente avulso à trama, sem repercussão antes ou depois do ocorrido.

    As tramas secundárias também variam de qualidade. James Franco está bastante canastrão, não consegue dar camadas ao seu personagem, sua motivação não faz sentido por não ter tempo de tela, sem falar que expõe um dos defeitos do filme, os efeitos visuais primários. Dunst está muito bem, consegue trabalhar bem com o que é lhe dado, mesmo sendo pouco. Já a introdução dos personagens novos, como Gwen (Bryce Dallas Howard), Eddie Brock (Topher Grace) e o Capitão Stacy (James Cromwell) é gratuita ao extremo. Não há desenvolvimento mínimo de nenhum deles, e até os coadjuvantes do Clarim Diário parecem mais sólidos e profundos que o trio, fato que gera até incongruências, já que o J.J. Jameson de J.K. Simmons não sabe quem é Brock, mesmo com uma citação a ele em Homem-Aranha. O personagem é tão irrelevante para Raimi que a direção deliberadamente não o leva a sério.

    Entre as reclamações mais comuns ao filme está a personalidade de Peter modificada pelo simbionte, que muitos atribuíam ao comportamento dos fãs de emocore. Ora, na época, os meninos comuns que usavam esse visual diferia de Peter. Eram introspectivos, gostavam de parecer sombrios, já Parker é o oposto disso, espalhafatoso, inconsequente e age até como um bully em alguns momentos, com uma personalidade tão baixa quanto a do seu nêmese escolar Flash Thompson. Ele claramente não era Emo, só pegou emprestado desse estilo o cabelo e a maquiagem um pouco mais forte, comparar o Andrew Garfield em O Espetacular Homem-Aranha com o estereótipo do hipster até faz algum sentido, mas o Peter de Tobey de emo tinha apenas o visual.

    Parker parece governado unicamente pelo id (parte da mente que quer gratificação imediata de todos os seus desejos e necessidades, segundo o conceito freudiano), e dito assim, esses momentos não parecem tão erráticos, especialmente a cena “musical”, já que é o símbolo maior da breguice que Raimi sempre impôs a sua versão do Cabeça de Teia.

    A reunião dos antagonistas não tem nenhuma força, é um pretexto pobre que está lá para justificar uma ação entre amigos com Harry e Peter juntando as forças, que só não é mais vergonhosa do que o momento de retorno do uniforme clássico, ao lado de uma bandeira dos EUA tremulando, que faz automaticamente o povo esquecer dos maus atos do Aranha. Além dessas questões, boa parte da imaturidade de Peter também não cabe, já que ele aprendeu ou deveria ter aprendido com seus erros do passado, e justificar esses atos pelo simbionte também não faz sentido, visto que sua personalidade já havia se transformado antes mesmo dele utiliza-lo.

    Raimi saiu reclamando de interferência dos estúdios, seu desejo seria explorar personagens como o Abutre e a Gata Negra, mas por influência de Avi Arad, teve que fazer o filme com Venom. Desse modo,  Homem-Aranha 4 previsto para 2011 foi abortado, assim como uma segunda trilogia. Ainda assim Homem-Aranha 3 parece mais com o ideal de Ditko e Lee, por ser senhor de sua própria história e seguir dando camadas trágicas, mas humanas ao personagem. Peter segue falho, tolo, mas capaz de se sacrificar e tentar evoluir, mesmo que a mão invisível do roteiro o faça agir como alguém que não digeriu bem seus problemas.

  • Crítica | Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa

    Crítica | Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa

    Review Homem Aranha Sem Volta Para Casa

    Havia uma grande expectativa em torno da estreia de Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa, por conta da possibilidade de apresentar finalmente uma versão do multiverso no cinema da Marvel e, claro, pela possibilidade da aparição de Tobey Maguire e Andrew Garfield. Esta terceira parte conduzida por Jon Watts começa no momento final de Homem-Aranha: Longe de Casa, onde o vilão Mysterio revela a identidade do herói.

    O ponto de partida do filme é o caos total, causado pela revelação do vilão, e a opinião pública se divide em relação à culpa do Aranha nesse caso. Pela primeira vez o personagem do UCM parece ter dificuldades tangíveis. Em Homem-Aranha: De Volta ao Lar ele passa a maior parte da história sob a tutela de Tony Stark, como se fosse um trainee de herói, e não o mais popular personagem de histórias em quadrinhos da Marvel Comics.

    Os  roteiros dos filmes da Marvel normalmente não são primorosos, não é raro perceber uma reciclagem de conceitos, com um ou outro vilão clássico representado no cinema em uma aventura genérica e presa a fórmula, tendo como diferencial as cenas pós créditos, que por sua vez, geram a expectativa de que a próxima produção será épica. Sem Volta Para Casa acaba tropeçando em alguns desses problemas, mas se diferencia pelo modo emocional com que é levado. Dessa vez, há vilões realmente perigosos, assassinos sádicos, não versões “água-com-açúcar”.

    O Peter de Tom Holland não tem um código moral bem estabelecido até essa historia, o caráter dele é posto à prova de maneira bem mais explícita, e sem a diluição de ter a responsabilidade dividida com outros heróis, como foi nos filmes anteriores e Guerra Infinita. Pela primeira vez nessa encarnação há peso em suas atitudes. Suas reflexões se dão sem interferência de personagens externos ao seu universo, ele sozinho se dá conta disso. Essas questões emancipatórias e de amadurecimento são bem observadas, mas não se descuida dos momentos de ação típicas de aventuras de super-heróis de quadrinhos.

    A ação do filme é frenética, e Watts resgata boa parte dos melhores momentos do herói na grande tela, inclusive emulando cenas clássicas dos filmes de Marc Webb e Sam Raimi. As lutas são ótimas, sobretudo o embate contra o Dr. Octopus de Alfred Molina. Os efeitos em computação gráfica também tiveram um upgrade, tanto nas lutas quanto no rejuvenescimento do elenco veterano de vilões que, aliás, são tão presentes aqui que faz perguntar se a intenção não era a de referenciar o malfadado filme do Sexteto Sinistro que jamais saiu do papel.

    A produção trabalhou bastante para guardar seus segredos, tanto que na exibição para imprensa havia um pedido do elenco para que não houvesse spoilers de modo algum. Ainda assim, mesmo sem falar dos rumos que o roteiro toma, é possível afirmar que a versão amaldiçoada do herói está bastante presente, assim como o fardo de carregar o mundo de responsabilidades em suas costas. Em vários pontos o desempenho dramático de Holland é exigido, e ele simplesmente não decepciona. Outras figuras como Zendaya e Marisa Tomei também tem grandes aparições e ajudam o protagonista a brilhar, certamente seu papel não seria tão elogiado se ambas não estivessem tão afiadas quanto ele.

    Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa é de fato um filme que busca romper com o céu de brigadeiro que ocorria nas aventuras dessa versão do Aranha. Logicamente, ainda existem algumas conveniências e pieguices, algo bastante recorrente em suas histórias em quadrinhos. De qualquer modo, finalmente a essência de quem é Peter Parker é contemplada, e honra o ideal que Steve Ditko e Stan Lee pensaram para o seu personagem mais famoso.

  • VortCast 101 | Diários de Quarentena XXI

    VortCast 101 | Diários de Quarentena XXI

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Bruno Gaspar (@hecatesgaspar), Bernardo Mazzei Jackson Good (@jacksgood) retornam para mais uma edição do “Diários de Quarentena” se reúnem para comentar sobre os últimos lançamentos do cinema, quadrinhos e TV.

    Duração: 91 min.
    Edição: Flávio Vieira e Rafael Moreira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira e Rafael Moreira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

    Agregadores do Podcast

    Feed Completo
    iTunes
    Spotify

    Acompanhe-nos na Twitch

    Contato

    Elogios, Críticas ou Sugestões: [email protected].
    Facebook — Página e Grupo | Twitter Instagram

    Materiais Relacionados

    Crítica | Viúva Negra
    O Esquadrão Suicida: Melhor filme da DC?
    Arte Final HQ | Podcasts

    Links dos Podcasts e Parceiros

    Agenda Cultural
    Marxismo Cultural
    Anotações na Agenda
    Cine Alerta

    Avalie-nos na iTunes Store | Ouça-nos no Spotify.

     



  • Resenha | Homem-Aranha: Carnificina Total

    Resenha | Homem-Aranha: Carnificina Total

    “Os demônios não precisam de motivos, Peter.”

    E tudo o que o Homem-Aranha não precisa, realmente, é de um Venom mais poderoso à solta, em Nova York. Mas como se tragédia pouca fosse bobagem, nem Mary Jane aguenta mais as aventuras do maridão Peter Parker, que nunca tem tempo pra ela, sempre sozinha. É curioso como, na década de 90 que a Marvel quase faliu, muitas histórias memoráveis surgiram para (tentar) salvar a editora, e melhorar a mitologia dos seus heróis – e vilões! Homem-Aranha – Carnificina Total é um desses arcos pouco lembrados, e que certamente merecem ser resgatados pelos fãs do Cabeça de Teia, ainda mais agora com Venom 2 prestes a ser lançado nos cinemas do mundo, se a Covid-19 permitir.

    A minissérie, lançada em 14 partes em 1996, reuniu quatro roteiristas de peso na época (Tom DeFalco, J.M. DeMatteis, Terry Kavanagh e David Michelinie), e uma arte de Mark Bagley e companhia bem típica dos anos 90: nada realista e bem expressiva, com cores chapadas e sem relevo de photoshop, nas quais o mundo dos super-heróis ficou tão reconhecido. O resultado não poderia ser mais épico e irreverente: quando o maníaco Cletus Kasady volta a ter consciência do seu monstro interior, o Carnificina (um simbionte feito do resto de Venom), ele escapa do cativeiro hospitalar em que estava preso, mais furioso e feroz do que nunca, e vira Nova York de ponta cabeça, a ponto de subjugar outros vilões e formar um grupo que deixa o Sexteto Sinistro comendo poeira.

    Nada parece interromper o rastro de sangue do vilão, uma ameaça vermelha e histérica à altura de Superman ou Thor. A destruição então é gigante, e o vilão insano se torna, rapidamente, o rei do pedaço. O Aranha falha miseravelmente em combatê-los, e a realidade é uma só: sem Venom (e até o vampiro Morbius, entre outras grandes surpresas) para lhe ajudar, em ótimas cenas de batalha, não há vitória possível contra a barbárie que o Carnificina faz, unicamente por fazer – uma loucura sem razão, mais ou menos igual o Coringa de Batman, muito mais selvagem que o palhaço. É admirável como Carnificina Total consegue mostrar várias vezes os massacres em Nova York, sendo um gibi para crianças, ao sugerir algumas mortes sem nunca mostrá-las de uma maneira chocante, a seu público alvo, nem deixar de explorar a crueldade sem limites do antagonista.

    Nota-se, sobretudo, o inebriante gosto da era de ouro dos quadrinhos que há, aqui, sem muita seriedade, e mais a fantasia que os gibis dos anos 40 e 50 tinham, no auge de Stan Lee e Jack Kirby. Entregando-se para a ação e o terror juvenil, com um drama integrado a urgência do momento, essa clássica HQ surpreende quem estava acostumado com o tom leve e descontraído de outras histórias clássicas da Marvel, já que a pegada é tão sombria quanto possível para uma publicação infantil. Nas duas partes publicadas no Brasil pela saudosa Editora Abril, agora publicado em edição encadernada pela Panini Comics, está armado portanto um dos maiores confrontos do símbolo supremo da Marvel, o seu maior ícone, imortalizado em todas as mídias, porque quando o Venom apanha de um oponente, e pede para sair, é porque a coisa está feia! Difícil acreditar que maníacos podem ser detidos, enquanto estão no poder.

     

  • VortCast 75 | Diários de Quarentena V

    VortCast 75 | Diários de Quarentena V

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe PereiraJackson Good (@jacksgood) e Rafael Moreira (@_rmc) retornam em mais uma edição para bater um papo sobre quadrinhos, cinema e muito mais.

    Duração: 115 min.
    Edição: Rafael Moreira e Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Rafael Moreira e Flávio Vieira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

    Agregadores do Podcast

    Feed Completo
    iTunes
    Spotify

    Contato

    Elogios, Críticas ou Sugestões: [email protected].
    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram

    Acessem

    Brisa de Cultura
    Cine Alerta
    PQPCast

    Conheça nossos outros Podcasts

    Agenda Cultural
    Marxismo Cultural
    Anotações na Agenda

    Podcasts Relacionados

    VortCast 71 | Diários de Quarentena I
    VortCast 72 | Diários de Quarentena II
    VortCast 73 | Diários de Quarentena III
    VortCast 74 | Diários de Quarentena IV

    Avalie-nos na iTunes Store | Ouça-nos no Spotify.

  • VortCast 71 | Diários de Quarentena I

    VortCast 71 | Diários de Quarentena I

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe PereiraJackson Good (@jacksgood) e Rafael Moreira (@_rmc) se reúnem para comentar sobre os seus dias na quarentena em um bate-papo descompromissado sobre reality shows, lives e muito mais.

    Duração: 110 min.
    Edição: Julio Assano Júnior
    Trilha Sonora: Julio Assano Júnior
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

    Agregadores do Podcast

    Feed Completo
    iTunes
    Spotify

    Contato

    Elogios, Críticas ou Sugestões: [email protected].
    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram

    Acessem

    Brisa de Cultura
    Cine Alerta
    PQPCast

    Conheça nossos outros Podcasts

    Agenda Cultural
    Marxismo Cultural
    Anotações na Agenda

    Podcasts Relacionados

    VortCast 70 | Todo Mundo Gosta… Menos Eu!
    VortCast 65 | Game of Thrones

    Avalie-nos na iTunes Store | Ouça-nos no Spotify.

  • Resenha | Homem-Aranha: A Morte de Jean DeWolff

    Resenha | Homem-Aranha: A Morte de Jean DeWolff

    A tragédia marca a biografia de Peter Parker desde a mais tenra idade. Perder entes queridos tem sido uma constante na vida do personagem desde seu surgimento no começo dos anos 60, pelas mãos de Stan Lee e Steve Ditko.

    Após perder os pais, o tio, o sogro e a namorada, era de se esperar que o alter ego do Homem-Aranha já estivesse calejado e acostumado a lidar com a morte sempre ao redor, certo? Pois é a partir de mais uma perda fatal que Peter David escreveu uma das grandes histórias do herói aracnídeo, a saga da morte da Capitã de polícia Jean DeWolff.

    Vista pelo Amigão da Vizinhança como alguém de confiança dentro da força policial, Jean é encontrada brutalmente assassinada em seu apartamento, um crime violento e misterioso, cujo autor não deixou pistas nem justificativas.

    Empenhado a buscar justiça para sua falecida amiga, o Aranha se envolve em uma investigação repleta de idas e vindas, se mostrando sempre à beira de um ataque de nervos, dominado pela tensão, pela raiva e pela sensação de impotência diante do ocorrido.

    Os assassinatos prosseguem, de modo que surge para o público a figura do Devorador de Pecados, um fanático mascarado que tem empilhado corpos por toda a cidade, criando uma teia de eventos que traz para o jogo a figura do Homem sem Medo da Cozinha do Inferno, o Demolidor.

    Com brilhantismo, Peter David consegue compor uma trama tensa e bem costurada, contrapondo as personalidades de Matt Murdock e Peter Parker dentro do roteiro e em diálogo com as subtramas inseridas ao longo da narrativa, de modo a discutir a percepção de justiça versus vingança e a reafirmar a importância do sistema judicial dentro da vida em sociedade.

    A trama versa sobre temáticas ainda hoje pertinentes e se encaixa dentro da proposta da Marvel à época, de modo que as representações de Nova York na história possuem muito do que vemos na fase de Frank Miller à frente da série do Demolidor, tornando as ruas da cidade como um barril de pólvora prestes à estourar, refletindo a tensão social crescente entre as mais diferentes camadas da população.

    O escritor se esforça em compor um Peter Parker furioso e sombrio, afetado pelas perdas que se acumularam ao longo de sua vida, agindo de modo implacável e impiedoso. Tal caracterização é condizente com a proposta temática, dando maior seriedade para o enredo, que se desenrola competentemente dividindo o foco narrativo entre os variados eixos que compõem o núcleo da trama.

    As escolhas narrativas para a história são pertinentes, gerando impacto e dando peso para cada morte ali retratada. A arte, vale ressaltar, potencializa a dramaticidade do enredo, fazendo uso de enquadramentos cuidadosamente escolhidos para manter a tensão e o ar de urgência que a narrativa pede.

    Das grandes histórias do Homem-Aranha, certamente A Morte de Jean DeWolff é uma das mais celebradas, haja visto o peso que ela conferiu para a biografia já atormentada de Peter Parker e o alto nível de sua estrutura narrativa, que remete aos romances policiais sem deixar de lado os heróis fantasiados, contrapondo estilos e tons narrativos em prol do pleno desenvolvimento do enredo, valorizando todas as suas nuances.

    A construção psicológica dos personagens é soberbamente bem erigida, de maneira que David consegue trabalhar com uma grande quantidade de coadjuvantes dentro da história sem perder o fio da meada nem abrir mão do controle do ritmo narrativo.

    O encadernado da Panini Comics engloba tanto o arco da morte da Capitã DeWolff quanto o arco do retorno do Devorador de Pecados, de maneira que a primeira história é desenhada pelo talentoso Rich Buckler, enquanto a segunda trama fica a cargo do longevo Sal Buscema.

    Se na primeira metade temos o aspecto investigativo colocado em evidência, na segunda metade Peter David investe em um arco sobre estresse pós-traumático, trabalhando a psique do Devorador de Pecados e do Homem-Aranha, colocando em perspectiva as marcas que foram deixadas em corpo e alma dos dois rivais após o assassinato de Jean DeWolff.

    Enquanto a arte de Buckler trabalha as mazelas da cidade e o aspecto trágico inerente à história, a dinamicidade da narrativa visual de Buscema fica evidente em cada painel disposto no Quadrinho.

    Homem-Aranha: A Morte de Jean DeWolff é o tipo de história para se ler e reler apreciando as camadas inseridas por Peter David e pelos artistas em cada sequência de quadros, evidenciando a potência que a mídia História em Quadrinhos possui.

  • Resenha | Homem-Aranha Noir: A Face Oculta

    Resenha | Homem-Aranha Noir: A Face Oculta

    Nos Quadrinhos mainstream, de tempos em tempos surgem linhas editoriais alternativas, como podemos perceber pelas versões 2099 e zumbis da Marvel Comics e pelos incontáveis elseworlds do multiverso da DC Comics. O sucesso dessas publicações costumeiramente resulta em continuações, com grandes oscilações nos níveis de qualidade das histórias.

    A linha Marvel Noir não foge dessa tradição, colocando os grandes personagens da Casa das Ideias em um contexto mais violento e visceral da década de 1930, durante o auge da Grande Depressão norte-americana. Em um período simultaneamente sombrio e sedutor, as possibilidades narrativas se multiplicam consideravelmente, equilibrando o drama e o mistério inerentes às narrativas policiais com a ficção científica que resulta no arquétipo dos super-heróis.

    Dentro desse contexto, o sucesso dessa linha editorial era inevitável, e a versão alternativa que obteve maior popularidade, para surpresa de zero pessoas, foi o Homem-Aranha Noir, tornando-se natural que fosse dele a primeira sequência de aventuras dentro dessa continuidade.

    Para manter a fórmula que anteriormente funcionou, o editor Alejandro Arbona não poupou esforços para contar com o retorno da equipe criativa do volume original, formada pelos roteiristas David Hine e Fabrice Sapolsky e pelo desenhista/colorista Carmine Di Giandomenico.

    Nessa nova aventura, a equipe criativa situa o herói aracnídeo em 1933, poucos meses após os eventos do arco anterior, em um momento no qual a crise econômica ainda mantém o país em uma situação delicada, mas indícios de uma retomada são sentidos através de medidas adotadas pelo recém-empossado presidente Franklin Delano Roosevelt, enquanto a sombra do Nazismo começa a tomar força em solo americano, vindo secretamente do outro lado do Atlântico.

    Se no contexto macro podem ser percebidos tímidos sinais de melhora, nas ruas de Nova York a crueldade das gangues ainda impera, com o Mestre do Crime assumindo o posto outrora ocupado por Norman Osborn, O Duende, mantendo o submundo em polvorosa e preenchendo o vácuo momentâneo nas esferas de poder da máfia.

    Envolvido com Felicia Hardy, socialite dona da boate Gata Negra, Peter Parker se vê às voltas com uma intrincada investigação jornalística, junto de seu novo amigo Robbie Robertson, que envolve os bizarros experimentos com animais realizados por um certo Otto Octavius.

    Com um subtexto social bem calibrado, que aborda o racismo da forma abjeta que merece, a história mantém um ritmo de suspense que em muito se assemelha temática e estilisticamente ao filme de Jordan Peele, Corra!, lançado alguns anos após a publicação dessa HQ. Em, que pese o tom de ficção científica, a história mantém um diálogo bem fidedigno com a maneira com a qual a população negra sempre foi vista no ocidente, sobretudo nos Estados Unidos.

    O roteiro de Hine e Sapolsky se vira muito bem ao trabalhar sua história dentro do contexto da época, adaptando os personagens do cânone do Homem-Aranha de modo que faça sentido suas presenças na história, como o agente federal Jean De Wolfe, versão da Capitã Jean DeWolff, que na época jamais conseguiria atingir tal posto, dado o machismo estrutural que impossibilitava que mulheres ocupassem postos desse tipo até então.

    A inserção do Nazismo como um elemento preponderante na ameaça central da história garante um link poderoso com a história real do século XX, algo que gera uma camada de verossimilhança nessa proposta quase metaficcional de narrativa.

    A arte do italiano Di Giandomenico não é marcante por sua sutileza, ganhando destaque através do uso de seu alto contraste e de uma coloração digital que foge um pouco da estética proposta pelo traço, gerando um certo estranhamento no desenrolar da leitura, atenuado pela dinamicidade dos enquadramentos do artista, famoso por fazer storyboards para filmes de cineastas como Martin Scorsese.

    Um ponto que merece destaque negativo é a imprecisão histórica cometida pela tradução brasileira ao final da HQ, quando um oficial nazista fala, no original, em “the national socialist vision of the future (…)”, o trecho é erroneamente traduzido como “o ideal socialista para o futuro (…)”. Esse tipo de equívoco equipara nazismo e socialismo, correntes políticas antagônicas e cuja associação se mostra, à luz dos fatos e dos estudos teóricos, completamente descabida.

    Erros de tradução à parte, Homem-Aranha Noir: A Face Oculta logra êxito ao transpor a personalidade de Peter Parker para um contexto mais bruto e violento de sociedade, apresentando um Amigão da Vizinhança não tão amigável como estamos habituados, bem mais implacável e frio, como se fosse este de fato um homem reflexo de seu tempo.

    O volume publicado pela Panini Comics em capa dura reúne as quatro edições da minissérie Spider-Man Noir: Eyes Without a Face, e contém um pequeno glossário e uma interessante galeria de capas.

    Compre: Homem-Aranha Noir – A Face Oculta.

  • Resenha | Homem-Aranha: Peter Parker Especial – Vol. 2

    Resenha | Homem-Aranha: Peter Parker Especial – Vol. 2

    Algumas leituras podem se iniciar de forma claudicante, crescendo pouco a pouco, até se encerrarem de forma arrebatadora. A fase de Chip Zdarsky à frente de Peter Parker: The Spectacular Spider-Man. Se no encadernado anterior o autor apresentou uma enfadonha e inorgânica aventura de viagem no tempo que culminou em uma previsível aventura distópica, neste novo volume temos uma gradativa evolução. O autor encerra seu trabalho com o Homem-Aranha em um encadernado essencialmente focado no emocional de seus personagens, na grandeza e na bondade humana.

    Encerrando a modorrenta aventura futurista do volume anterior com um grande ato altruísta do herói aracnídeo, Zdarsky se desprende das amarras editoriais e investe em histórias mais dramáticas e com maior peso autoral. O escritor conta com Chris Bachalo para contar uma história sobre o Homem Areia, na qual Flint Marko se encontra à beira da morte e com perturbadoras visões de um futuro distante. A grande capacidade empática do Aranha é colocada em cena quando o herói se dispõe a cuidar do outrora inimigo, inclusive lutando por ele contra uma corrompida versão futurista do próprio Areia. A arte de Bachalo nessa história em duas partes é um deleite absoluto, contando com diagramações extremamente inventivas e soluções visuais de uma criatividade ímpar.

    John Jonah Jameson, o irascível ex-dono do Clarim Diário e ex-prefeito de Nova York, passou por profundas transformações nas mãos de Zdarsky, ao enfim descobrir a identidade do Homem-Aranha. Compreendendo Peter e seus dilemas enquanto vigilante mascarado, JJ tem se esforçado para ser um homem melhor e compensar os danos que causou à imagem do Aranha ao longo dos anos. Tal mudança, contudo, não apaga muitos dos erros do passado do jornalista, o que o leva a sofrer com os ataques de um editor concorrente dos tempos de Globo Diário. A trama, desenhada brilhantemente por Michael Allred, logra êxito ao mostrar o grande coração de Jonah, tanto no presente quanto no passado, quando se mostrou disposto a ajudar um garoto do Queens cuja vida fora transformada pela tragédia com a morte do tio. Zdarsky confere camadas à personalidade de Jameson, dando ao personagem um tratamento poucas vezes dado desde seu surgimento nos anos 60.

    Após boas histórias, Zdarsky encerra sua fase no título do Aranha com uma pérola que, de tão preciosa, foi indicada ao prêmio Eisner, o Oscar dos Quadrinhos. Elaborando a trama em uma espécie de documentário inserido metalinguisticamente dentro da narrativa, o autor coloca diversos anônimos sendo entrevistados e falando o que pensam do Homem-Aranha, mostrando como o herói impacta a sociedade com suas atitudes. Relatos dos mais distintos surgem, desde policiais até advogados e vendedores de rua, evidenciando as múltiplas formas pelas quais o Aranha é enxergado pela população de sua cidade. Destaca-se na narrativa a história de uma mãe cujo filho se envolve com a criminalidade e é salvo desse caminho pela influência do Escalador de Paredes em sua vida, ainda que algum tempo depois o garoto viesse a morrer, vítima dos criminosos de quem o Aranha o salvou algum tempo antes. A história, que conta com texto e arte emocionantes de Zdarsky, se encerra com um dos depoimentos colhidos nas ruas, de um anônimo Peter Parker, que sintetiza com maestria e refinamento a essência do Homem-Aranha, aquilo que faz dele um dos personagens mais amados da ficção contemporânea:

    “Eu acho que o Aranha é um cara lega. Ele tenta fazer a coisa certa, e, com sorte, as pessoas acabam vendo isso. Mas… ele também é humano. Comete erros. Ele… não pode salvar todo mundo. Por isso, quando penso no Homem-Aranha… me lembro desse fardo que ele carrega. O cara segue em frente, apesar dos fracassos, sabendo que, no fim das contas, ele ajuda os outros. Faz tempo que o Aranha tá nessa, mas, quando penso nele, acho que, haja o que houver… ele nunca vai desistir”.

    O conto capta com perfeição a essência do personagem, seu heroísmo e seu grande coração, e se coloca facilmente no patamar das grandes histórias do Amigão da Vizinhança, como “O Garoto Que Colecionava Homem-Aranha” e “Leah” entre muitas outras. Iniciado de forma inconstante, o volume se encerra com chave de ouro. Méritos de Chip Zdarsky.

    O ponto negativo do encadernado de 148 páginas e capa cartão vai para o tratamento editorial da Panini, que escolheu a pior capa possível para o encadernado e que poderia ter dedicado um pouco mais de atenção à creditação que consta na capa, ao listar Joe Quinones (que não desenhou nenhuma edição compilada nesse volume) como parte da equipe criativa, solenemente se esquecendo de Bachalo e Allred, que de fato trabalharam no volume.

  • Resenha | Homem-Aranha: Peter Parker Especial – Vol. 1

    Resenha | Homem-Aranha: Peter Parker Especial – Vol. 1

    Chip Zdarsky ganhou notoriedade na indústria dos quadrinhos ao desenhar Criminosos do Sexo, em parceria com Matt Fracion, pela Image Comics (publicado no Brasil pela editora Devir). Ao migrar para a Marvel, contudo, o artista ganhou espaço também como escritor, e dentre os títulos que já assumiu na Casa das Ideias, podemos destacar Peter Parker: The Spectacular Spider-Man. O título começou a ser publicado por aqui na mensal O Espetacular Homem-Aranha #22, e posteriormente, ao chegar à fase Legado, foi segmentado em dois encadernados em capa cartão, intitulados Peter Parker Especial: Homem-Aranha.

    Nesse primeiro encadernado, Amazing Fantasy, Zdarsky coloca o herói aracnídeo em uma viagem no tempo, buscando meios de impedir uma invasão alienígena possibilitada pelo vilão conhecido como Consertador. Para essa missão incomum, Peter conta com uma “equipe” exótica, composta por sua irmã Teresa Durand e seu outrora inimigo e agora aliado, J. Jonah Jameson, que nas edições anteriores do título acabou descobrindo que Peter é na verdade o herói aracnídeo que por tantos anos perseguiu.

    É bem curioso ver o Peter do presente atuando junto ao Peter do passado, Zdarsky confere uma dinâmica semelhante às de sitcoms para os diálogos entre as duas contrapartes, marcando de forma bem clara a diferença de maturidade e experiência entre os dois, enquanto revisitam eventos do começo de carreira do Amigão da Vizinhança.

    As tramas de viagem no tempo comumente apresentam alterações drásticas na cronologia, gerando realidades alternativas cada vez mais díspares daquelas que conhecemos originalmente, e nessa história isso não é diferente. Os atos de Jameson, Peter e Teresa acabam por modificar a forma como os fatos se desenrolam nessa linha do tempo, alterando a descoberta de Norman Osborn como o Duende Verde e sua subsequente vingança contra os Peters Parkers, além da própria percepção do jovem Peter em continuar como o Aranha, diante das perspectivas de futuro que viu em sua contraparte mais velha.

    A arte de Joe Quinones é um ponto alto da HQ, trazendo em seus traços limpos e expressivos a leveza necessária para a proposta da trama. As referências visuais dentro da história são bem interessantes, como a reprodução de cenas clássicas das histórias do herói, o emprego da roupa usada por Parker na animação clássica do Aranha nos anos 90, por parte do Peter mais velho, bem como a presença de Jessica Jones como estudante do Midtown High.

    Em seguida, temos o retorno de Andy Kubert à arte, na sequência que mostra o retorno do trio ao que imaginam ser seu “presente”, encontrando uma realidade bem diferente da que deixaram anteriormente. Descobrindo que na verdade retornaram para o futuro da linha temporal que haviam visitado anteriormente, os personagens se deparam com um mundo no qual Peter e Gwen são cientistas, casados e ricos, vivendo em um EUA governado por Harry e Norman Osborn. Nessa realidade, o jovem Peter cresceu desiludido com o futuro que lhe aguardava, ao ouvir uma conversa do Peter mais velho com sua irmã Teresa, e deixou de ser o Homem-Aranha.

    Auxiliados pela Gwen dessa realidade, Peter, Teresa e JJJ se encontram com a “Resistência” do lugar, liderada por Steve Rogers e Stephen Strange. Desse ponto em diante a narrativa de Zdarsky entra no piloto automático, perdendo muito de seu charme inicial e enveredando por uma trama clichê e desinteressante de viagem no tempo, recuperação do heroísmo e valorização da figura do Homem-Aranha no mundo. De ponto notável dessa parte, temos apenas a aparição do uniforme usado pelo herói aracnídeo em seu jogo mais recente para PlayStation 4.

    A escolha editorial da Panini mostra-se discutível, uma vez que o grande mérito do encadernado, a relação de arrependimento de JJJ em relação aos seus atos contra o Homem-Aranha no passado, acaba sendo decorrente de histórias publicadas na revista mensal do personagem, e não dentro de uma publicação própria para o título de Zdarsky. A sensação de leitura picotada será inevitável, para os leitores que não estavam acompanhando simultaneamente a revista do Cabeça de Teia.

    Contendo 116 páginas, o encadernado em capa cartão apresenta uma trama inconstante, com acertos pontuais e clichês já batidos até mesmo para o cíclico universo de super-heróis de Marvel e DC. Se as primeiras edições revisitam o período áureo do personagem sob a batuta de Stan Lee, a parte final em muito lembra as batidas e fracas tramas dos anos 90.

    Compre: Peter Parker Especial: Homem-Aranha – Amazing Fantasy.

  • Agenda Cultural 70 | Infiltrado na Klan, Green Book, Shazam!

    Agenda Cultural 70 | Infiltrado na Klan, Green Book, Shazam!

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira) e Filipe Pereira se reúnem para resgatar os filmes não comentados nos últimos tempos na Agenda Cultural. Plot-twist é uma assinatura de M. Night Shyamalan? Podemos ter otimismo com o progressismo da academia do Oscar? Shazam! é mesmo um filme bobo? Tudo isso e muito mais na agenda deste mês.

    Duração: 103 min.
    Edição: Julio Assano Júnior
    Trilha Sonora: Julio Assano Júnior e Flávio Vieira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

    Agregadores do Podcast

    Feed Completo
    iTunes
    Spotify

    Contato

    Elogios, Críticas ou Sugestões: [email protected].
    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram

    Acessem

    Brisa de Cultura
    Cine Alerta

    Conheça nossos outros Podcasts

    Marxismo Cultural
    VortCast
    Anotações na Agenda

    Comentados na Edição

    Crítica Vidro
    Crítica Infiltrado na Klan
    Crítica Green Book: O Guia
    Crítica Se a Rua Beale Falasse
    Crítica Vice
    Crítica Homem-Aranha no Aranhaverso
    Crítica Creed II
    Crítica Alita: Anjo de Combate
    Crítica Dumbo
    Crítica Shazam!

    Avalie-nos na iTunes Store | Ouça-nos no Spotify.

  • Resenha | Homem-Aranha: Negócios de Família

    Resenha | Homem-Aranha: Negócios de Família

    A mistura de Homem-Aranha com espionagem internacional talvez não seja a das mais comuns nos quadrinhos. Francamente, não me recordo de uma história com essa mistura. Caso alguém lembre, deixe aqui nos comentários. Já estou meio velho e a memória não é mais a mesma de outros tempos. Enfim, em Negócios de Família, a proposta dos roteiristas Mark Waid e James Robinson é essa. Se funciona? Funciona. Muito bem, por sinal.

    Na trama, Peter Parker se envolve em um sequestro realizado por um misterioso time de elite e termina sendo salvo por uma mulher que se diz chamar Teresa Parker e seria sua irmã. A dupla é perseguida devido ao fato de serem filhos de Richard Parker, que todos já devem saber que era um espião internacional. Caçados por meio mundo e ainda pelo Rei do Crime, a dupla precisa trabalhar junta para resolver uma conspiração que pode abalar o planeta ao passo que vão descobrindo cada vez mais sobre o passado de seu pai. Ainda no meio disso, o Cabeça de Teia se vê em um dilema. Seria sua irmã uma pessoa confiável ou uma futura inimiga?

    O roteiro de Mark Waid e James Robinson é ágil e lotado de referências a grandes filmes de espionagem. Talvez o melhor momentos seja o do cassino, onde Peter tenta emular James Bond, porém sem a mesma classe do espião britânico. Nos momentos em que precisa ser mais dramático, o texto não fica piegas ou soa forçado. Pelo contrário, é de bom gosto. A dinâmica entre os dois irmãos é bem natural e um complementa bem o outro, até mesmo por traços semelhantes de personalidade. Os roteiristas se deram ao cuidado de incluir alguns momentos onde Peter se sente mais próximo ao pai, devido a algumas revelações sobre sua personalidade. Entretanto, a história é prejudicada por ser breve demais. Contendo só 99 páginas, o desenrolar da história vai ficando um tanto apressado e as relações humanas vão ficando prejudicadas. Uma pena porque a riqueza da premissa da relação entre os dois irmãos poderia render bem mais sem causar dano à ação.

    Um ponto positivo que faz uma grande diferença são as ilustrações da dupla Werther Dell’ Edera e Gabrielle Del’Otto. Werther capta muito bem as intenções dos roteiristas, enquanto as cores vivas de Dell’Otto complementam as ilustrações criando painéis de uma beleza única. o estilo torna a história fluida, fazendo com que ela pareça estar em movimento diante de seus olhos, tal como um filme. Nos momentos em que a ação toma grandes proporções, o duo capricha fazendo sequências empolgantes. Entretanto, existem alguns momentos em que eles se destacam: na sequência de abertura, onde o Homem-Aranha gasta seu repertório de habilidades acrobáticas em uma cena de ação que nada deve aos filmes da Marvel. A atenção aos detalhes e a coesão dos painéis daria inveja a muito diretor de cinema. O outro momento é o do cassino, onde captam o humor pretendido pela dupla de roteiristas e depois fazem uma sequência de ação digna de um grande filme de espionagem.

    Porém, como eu disse, nem tudo são flores. Ainda que Negócios de Família seja uma ótima história do Cabeça de Teia, seu potencial para ser um clássico acaba esvaziado por sua curta duração. Entretanto, é uma daquelas histórias que vale a pena ter na coleção para uma releitura rápida sempre que quiser se divertir com um conto que traz o querido Peter Parker em bom momento (e não sendo trucidado pelos roteiristas de suas histórias regulares).

    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram | Spotify.

  • Resenha | Homem-Aranha Superior: Nação Duende

    Resenha | Homem-Aranha Superior: Nação Duende

    Após seis encadernados, lançados pacientemente pela Panini Comics entre fevereiro de 2016 a novembro de 2018, a fase Homem-Aranha Superior chega ao fim. Nação Duende fecha com excelência uma série diferente para o herói mantida com cuidado por Dan Slott.

    Mesmo que, a princípio, a trama da fase soasse inverossímil, as modificações que colocaram o vilão Otto Octavius no corpo de Peter Parker trouxe benefícios ao personagem. Não só envolvendo-o em novas dinâmicas como, naturalmente, marcando a expectativa para o retorno do Aranha original. Tais observações são evidenciadas nesse último arco que compila as sete últimas edições de Superior Spider-Man, lançadas originalmente no pais no mensal do personagem.

    Ao leitor que acompanhou as leituras até esse final, sabe que a trama envolvendo o Duende Verde foi composta desde o início da fase, desenvolvida em segundo plano durante outras aventuras. É perceptível que o vilão foi escolhido como desfecho desse final, marcando a volta de Peter Parker alinhada com mais um plano do arqui-inimigo. A narrativa se inicia com um avanço temporal de 1 mês, quando a cidade está dominada pela gangue do duende. Mesmo se gabando de seus avanços como Aranha, Oquinho se sente frustrado por não saber o motivo da invasão duende. Afinal, seus aranha-robôs, reprogramados pelo Duente, não registraram nenhuma ação a respeito.

    Ao contrários dos arcos anteriores, sempre pautados na ação, o último ato evita uma grande batalha, mas apresente um jogo de gato e rato entre Aranha e Duende com os sucessos do herói sendo destruídos aos poucos. Como os leitores sabem que muitas destas ações aconteceram em tramas passadas com amigos e familiares de Peter Parker sendo reféns de vilões, o próprio roteirista se adianta e coloca Mary Jane em cena para deslocar os conhecidos do personagem antes de qualquer sequestro vilanesco.

    Em uma análise de uma trama anterior dessa fase, mencionei que o leitores sabem que Peter Parker retornará em algum momento, talvez um dos motivos para que as histórias sejam diferentes e também diferentes. O final desconstrói aos poucos tudo o que foi estabelecido nas últimas tramas. Slott, porém, é um bom roteirista que, mesmo na desconstrução do Homem-Aranha Superior, conduz com respeito e bons argumentos cada modificação como, por exemplo, a queda e J. J. Jameson da prefeitura da cidade devido a um ataque exagerado de seus robôs anti-teioso.

    Durante os acontecimentos da trama, Peter Parker vem ressurgindo aos poucos na consciência de Otto-Aranha, tentando separar aquilo que é sua memória e, portanto, sua trajetória, da memória do vilão. Diante dos acontecimentos que colocam em choque a superioridade do novo Aranha, Peter não encontra outra alternativa a não ser se manifestar ativamente na consciência compartilhada para guiar a situação e salvar a cidade. Ao contrário da reação em Mente Conturbada, Otto assume suas falhas como herói, assumindo que seu novo papel foi apenas uma sobrevida e, finalmente, traz a consciência de Peter Parker para o controle.

    Como é natural em narrativas de quadrinhos, o vilão foge antes de um derradeiro fim, novamente submergindo para futuros planos de destruição. O que importa nesse desfecho é o retorno do herói, sua percepção de que, mesmo com o azar da família Parker e toda a estrutura de “herói comum” que cativa os leitores de Homem-Aranha, os sacrifícios fazem parte da jornada.

    Homem-Aranha Superior se transformou em uma interessante narrativa no universo Aranha, sem medo de correr riscos, abordando temas possíveis dentro do habitual universo Marvel. Desde que assumiu o título do teioso em 2008, Slott tem feito um trabalho admirável, apresentando sempre uma boa vitalidade no herói e dosando antigos e novos personagens, traz uma nova atmosfera para a história com um bom saldo positivo, ainda que inusitado.

    Além do arco final da fase Octavius, o compilado ainda apresenta o início da saga Aranhaverso, o épico evento que reuniu diversos Aranhas do multiverso.

    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram | Spotify.

  • Agenda Cultural 69 | Nova Era, esquenta Pré-Oscar e mais Aquaman

    Agenda Cultural 69 | Nova Era, esquenta Pré-Oscar e mais Aquaman

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe Pereira, Jackson Good (@jacksgood) e Rafael Moreira (@_rmc) se reúnem para a primeira Agenda Cultural da Nova Era, talkei? Nesta edição, comentamos um pouco sobre as novas polêmicas envolvendo Lars von Trier, o novo filme do Harry Potter sem Harry Potter (é golpe?), como se balançar com fluidez no novo jogo do Homem-Aranha e muito mais.

    Duração: 123 min.
    Edição: Julio Assano Junior
    Trilha Sonora: Flávio Vieira e Julio Assano Junior
    Arte do Banner: 
    Bruno Gaspar

    Feed do Podcast

    Podcast na iTunes
    Feed Completo

    Contato

    Elogios, Críticas ou Sugestões: [email protected].
    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram.

    Acessem

    Brisa de Cultura
    Cine Alerta

    Comentados na Edição

    Cinema

    Crítica Nasce uma Estrela
    Crítica O Primeiro Homem
    Crítica Halloween
    Crítica A Casa que Jack Construiu
    Crítica Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald
    Crítica As Viúvas
    Crítica Aquaman
    Crítica Bohemian Rhapsody

    Séries

    Review Demolidor – 3ª Temporada

    Literatura

    Mistborn: Nascidos da Bruma – Brandon Sanderson (compre aqui)

    Games

    Spider-Man (compre aqui)

    Quadrinhos

    Imperdoável (compre aqui)
    Wytches (compre aqui)

    Avalie-nos na iTunes Store | Ouça-nos no Spotify.

  • Review | Homem-Aranha: Ação Sem Limites

    Review | Homem-Aranha: Ação Sem Limites

    Em 1999, após o término do desenho “clássico” do Homem-Aranha iniciado em 1994 e terminado um ano antes deste começar, surgia Homem-Aranha: Ação Sem Limites, um programa que muitos achavam que era continuação da outra versão mas que na verdade guardava poucas ou nenhuma semelhança com a encarnação anterior. Dessa vez o seriado era produzido por Avi Arad e Eric S. Rollman.

    A história dos treze episódios gira em torno da descoberta de um novo planeta, feita pelo coronel John Jameson, filho de J. Jonah Jameson, chamado Contra Terra. No meio da cobertura de imprensa do anúncio desta descoberta, Peter Parker observa Venom e Carnificina subindo no ônibus espacial de John, e ao tentar impedi-los é jogado para fora da nave. Já no começo, e ainda com uniforme clássico, se percebe que o predomínio visual do programa é de cores mais escuras.

    Depois de encomendar um novo uniforme com o Senhor Fantástico, que reúne milhões de robôs microscópicos, para criar defesas contra os simbiontes, o herói acaba indo para a contra-terra acidentalmente, e lá a maior parte dos humanoides tem características animais. A chance de explorar uma historia mais clássica, com o herói utilizando um uniforme totalmente novo é desperdiçada, para basicamente colocar Parker em mil desventuras, onde serve de figura paterna para um garoto órfão cuja mãe é bonita – e que quase vira seu par apesar de Peter ser casado com Mary Jane – além de ter de lidar com versões estranhas de personagens clássicos.

    Os bestiais mostrados aqui tem ligação com um ser chamado Alto Evolucionário, e de certa forma escravizam e oprimem as pessoas comuns. John Jameson virou líder da resistência humana, mas a realidade é que mesmo entre os bestiais há quem não seja cruel, e o seriado ao invés de explorar essa dualidade, opta por tramas bobas e péssimas cenas de lutas.

    O programa foi um pouco popular no Brasil, mas não tanto quando a série animada completamente ignorada nesta versão e muito se fala que ela foi descontinuada graças a negociação da Marvel com a Sony para executar o Homem-Aranha de Sam Raimi no cinema, que também teria Arad como seu produtor, mas a realidade é que essa animação conseguia ser ainda menos memorável que a outra.

    Haviam bons momentos do desenho, o design dos personagens era mais bonito, os humanoides eram mais esguios e até o uso de computação gráfica era mais acertado, mas o roteiro conseguia ser muito pior até que Homem-Aranha e Seus Amigos, o programa que tinha o cabeça de teia, Flama e Homem de Gelo vivendo juntos. Muito se fala que esse poderia ser uma versão animada do Homem-Aranha 2099, que tinha certa popularidade desde sua criação, mas fora a questão do ambiente pseudo futurista, não há muitas semelhanças com Miguel O’Hara, especialmente no que tange as referencias ao cyber punk e distopias.

    Homem-Aranha: Ação Sem Limites tinha tudo para ser algo grandioso, bem elaborado e cheio de carisma, tinha o personagem heroico em alta e apelava para tudo que fazia sucesso na época, em especial os simbiontes – que aqui eram chamados sinóticos – mas pagou o preço por se basear demais no visual e caráter típico da Image Comics, com uma animação carregada de ação e sem nenhum subtexto mínimo, sem sequer estabelecer alguma ligação emocional dos personagens secundários com o espectador. Para fazer algo tão diferente era preciso tempo, mas esta não conseguiu convencer os produtores a renovarem o programa, muito por conta da popularidade de animes da época como Pokémon e Digimon, ainda assim, poderiam ter feito ao menos uma mini temporada para saciar a curiosidade do público, e que poderia ou não envolver um crossover com o Peter Parker de Homem Aranha de 1994, que infelizmente jamais ocorreu, certamente isso daria um novo sentido a esta versão.

    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram | Spotify.

  • Review | Homem-Aranha

    Review | Homem-Aranha

    Nas manhãs da Globo dois desenhos animados se destacavam bastante, os X-Men (que inclusive fizeram boa parte da garotada finalmente pronunciar corretamente o nome do grupo) e claro, Homem-Aranha. O segundo programa, originalmente chamado de Spider-Man: The Animated Series também foi veiculado aqui no Brasil pelo canal da TV a cabo Fox Kids, emissora que passava boa parte do conteúdo de animações com heróis e seus produtores Avi Arad e Stan Lee, que inclusive, faz uma bela participação ao final da série.

    O programa teve cinco temporadas, e um total de 65 episódios, e mostra Peter Parker como um sujeito já adulto, que trabalha para o Clarim Diário tirando fotos mas também se dedica demais aos estudos, tanto que ele auxilia sua amiga Felicia Hardy com questões ligadas a ciências, ajudando ela no curso da faculdade que não fica exatamente claro de qual curso se trata.

    O traço da animação era feio na maior parte do tempo,os personagens era  em sua maioria extremamente fortes, fazendo pensar que nessa versão todos eram marombeiros e tinham costume de malhar bastante. A abertura tinha alguns elementos em 3d – além é claro da música de Joe Perry, guitarrista do Aerosmith – que permeavam também algumas das cenas do programa e sua utilização era um bocado gratuita, só ocorria nas cenas em que o aracnídeo se balançava pelos prédios, e parecia só ser feita porque os produtores podiam fazer.

    Ter tantos episódios ao menos ajudou em uma coisa, boa parte dos vilões do Homem Aranha foram mostrados no programa, tal qual ocorreu em uma de suas concorrentes, Batman A Série Animada, mas diferente do desenho produzido por Bruce W. Timm, esse tinha participações meio gratuitas. A primeira temporada começa mostrando o drama do Lagarto, o professor Curt Connors que se submete a auto experimentos para recuperar seu braço, transformando-se então em um monstro. A condição de vilão trágico aliás era um clichê bem explorado nos episódios e era lugar comum boa parte desses personagens que viraram malignos contra sua vontade serem manipulados por alguns dos chefões do crime, sendo o principal deles o Rei do Crime Wilson Fisk, mas também o Cabeleira de Prata e o Cabeça de Martelo, esse ultimo o menos explorado deles.

    Antes terminar  esse primeiro arco, é mostrada a roupa alienígena, trazida por J. Johnah Jameson Jr – o filho do patrão de Peter, J. Johah Jameson que obviamente sempre tenta incriminar o Homem Aranha –  com sua nave de astronauta que aterrissa na Terra de maneira brusca, aliás, nenhuma versão áudio visual do vilão simbionte alienígena que se une a Eddie Brock foi tão bem construída quanto essa, incluindo aí o filme recente Venom de Ruben Fleischer. Apesar do programa não ser profundo, há muitos acertos, uma pena é que logo depois de ter esses bons momentos onde Venom é assustador, se desenvolve um mini arco com o Duende Macabro, o que é estranho, pois ele não era exatamente popular nas Hqs, além de se dar uma enorme importância ao transmorfo Camaleão, talvez como eco  da Guerra Fria que havia acabado há pouco, pois nas revistas ele também sempre foi um vilão de segundo escalão.

    Na segunda temporada há a menção ao Sexteto Sinistro – aqui chamado de Os Seis Traiçoeiros – o grupo que quase ganhou um filme da Sony após O Espetacular Homem Aranha 2: A Ameaça de Electro, mas o foco emocional claramente é maior no Homem Hídrico – no desenho era chamado de Hydro-Man, a dublagem cansava de colocar os nomes dos personagens em inglês – que aqui, é um ex-namorado de Mary Jane Watson e que trava com Peter a preferência da ruiva que é vizinha da Tia May. Apesar de ser extremamente infantil, boa parte do romance de Peter e Mary Jane é bem explorado e construído, as idas e vindas do casal fazem sentido e são bem fieis a fase clássica das historias de Steve Ditko e Stan Lee.

    Também há um crossover com os mutantes dos X-Men e que aqui no Brasil teve uma dublagem esdrúxula, onde chamavam o Wolverine de Lobão, aliás, a dublagem no Brasil era repleta de pérolas (Demolidor era Atrevido, Justiceiro foi Punisher mas também era chamado de Vingador em alguns episódios) e até havia um charme nisso, mas a parte mais importante de fato nesse segundo tomo é a trágica historia do vampiro de Morbius, o ex-namorado europeu de Felicia, e é a partir da queda dele e do resgate do passado de seu pai que a moça decide se tornar a Gata Negra. Nesse período também aparece o Blade, antes até do filme com Wesley Snipes como caçador de Vampiros, aliás há um bom número de personagens clássicos da Marvel que aparecem nessa e em outras temporadas, como Doutor Estranho, Mordo e Dormmammu, Demolidor, Justiceiro etc.

    No terceiro ano aparece o Duende Verde Norman Osborn, que nos quadrinhos era o duende original e depois viriam os outros. Nesse ponto a parte mais emocional mora na relação dúbia de Peter com Harry Osborn que no material original eram muito amigos, mas que aqui claramente rivalizam mais do que tem amizade – em Homem-Aranha de Sam Raimi isso é muito melhor trabalhado, Tobey Maguire e James Franco parecem de fato parceiros, aqui nem tanto. Há também o retorno de Venom também, basicamente para explorar um novo plot, envolvendo sua cria, Carnificina. Nessa época a luta entre simbiontes era muito popular, não só nas revistas, mas também nos vídeo games, pois perto daquela época em 1994 o Maximum Carnage era extremamente consumido, sendo uma febre no Brasil sobretudo, por conta do porte do jogo Beat up para Super Nintendo e Mega Drive.

    Se nota que a serie é sempre lembrada por conta dos eventos e acontecimentos externos a ela, por conta de um jogo popular, dos quadrinhos que eram igualmente populares, ou mesmo os brinquedos derivados da série, que aliás eram muito bem feitos para época e também monopolizavam as vendas de natal, dia das crianças e demais épocas festivas. Batman – TAS também tinha uma quantidade de produtos enormes, jogos, bonecos, lancheiras, mas o texto por trás das lutas entre heróis e vilões tinham um projeto mais grandioso, e introduziram elementos que transcenderam a mídia, a Arlequina se tornou um bom personagem após isso, a versão do Senhor Frio do desenho é a definitiva, já o roteiro de Spider Man – TAS era bem elementar e básico, eram lutas meio bobas e motivações fracas de personagens e vilões com um ou outro momento mais inspirado.

    A quarta temporada é talvez a mais fraca e quase indigna de lembranças e na ultima temporada, veiculada em 1997 e 1998, e o roteiro brinca de adaptar Guerras Secretas, claro, de uma maneira um bocado diferente, reunindo heróis da várias eras em lutas bem genéricas. Os últimos dois episódios mostram a Guerra dos Aranhas, envolvendo a Madame Teia (que era uma personagem bem misteriosa) reunindo várias versões do aracnídeo, incluindo um que utilizava os tentáculos de Octopus (sendo uma bela coincidência se comparar este com o Homem-Aranha Superior) semelhante ao que foi feito mais tarde, nos quadrinhos em 2014 com o Aranhaverso e no filme da Sony de 2018, Homem Aranha no Aranhaverso. Apesar da animação aqui ser ainda mais porca que no início o final de séria animada do Homem Aranha deixou saudades, e pontas soltas sobre quais os rumos que os produtores queriam levar o programa. Para muitos esse foi o primeiro contato com o amigão da vizinhança, ainda mais para quem era criança nos anos noventa e por mais que a serie não traduzisse maravilhosamente os textos que Ditko, Lee, John Romita e tantos outros artistas traziam nas historias clássicas do Aranha, ainda havia algo aqui, um charme que passava por cima até dos gráficos feios e mal pensados, afinal, havia alguma fidelidade ao menos a mitologia do herói, ainda que perdesse em narrativa para a serie do Batman e em temática igualitária para X-Men.

    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram | Spotify.

  • Crítica | Homem-Aranha no Aranhaverso

    Crítica | Homem-Aranha no Aranhaverso

    Desde que fez Homem-Aranha 2, de Sam Raimi, a Sony parece tatear quanto a conduzir bem um filme sobre o herói da Marvel que lhe cabe. Homem Aranha 3 foi muito achincalhado, O Espetacular Homem-Aranha e sua sequência, O Espetacular Homem Aranha 2 : A Ameaça de Electro, não tiveram vida fácil, Venom foi um fracasso de critica e até Homem-Aranha: De Volta ao Lar não é uma unanimidade, mesmo entre os fãs. Por conta disso, a nova animação era cercada de expectativas, e a maior parte delas foram correspondidas.

    Homem-Aranha no Aranhaverso começa narrado por Peter Parker, o herói aracnídeo original, que goza de grande popularidade nesta versão e que conversa diretamente com as fases Ultimate do herói, escritas por Brian Michael Bendis e desenhadas por Mark Bagley. Outra característica própria e que cria uma boa conexão do filme com o espectador é a narração engraçadinha, que flerta com uma camada fina de metalinguagem, quase quebrando a quarta parede. Parker é dublado por Chris Pine, e sua personificação é bem semelhante ao auge que o herói teve após o casamento com Mary Jane.

    A animação causa um certo estranhamento, em especial quando Miles Morales (Shameik Moore) é introduzido. A velocidade dos quadros soa esquisita por conta da pigmentação da pele dos personagens, quando eles usam máscara isso não parece tão evidente, mas aos poucos isso passa a ser algo comum. O roteiro de Phil Lord e Rodney Rothman trata muito bem de Morales e é fácil entender o deslocamento dele na nova escola, que ele julga elitista – e de fato é, ainda mais para um garoto negro e latino como ele – bem como no seu cotidiano, uma vez que ele tem o desejo de manifestar sua arte do grafite de alguma forma, mas é sempre proibido por seu pai, Jefferson Davis (Brian Tyree Henry). Ele encontra eco na figura do tio Aaron (Mahershala Ali), e divide com ele o mesmo hobby pela arte.

    É aí que mora o diferencial do  filme de Bob Persichetti, Peter Ramsey e Rothman, ele obviamente alude as crianças, mas traz tramas complexas. Mesmo o Peter Parker desse dimensão, forte, famoso e loiro (em uma alusão clara ao clone Ben Reilly) tem seus defeitos, e quando este sai de cena, deixa pontas soltas, seja pelo fracasso de não ter detido o vilão Rei Do Crime (Liev Schreiber) ou por não ter sido o exemplar mentor de Miles. O choque dimensional traz à tona outras versões do amigão da vizinhança,  e é nesse crossover que habita boa parte do carisma, principalmente com a figura de Peter B. Parker, de Jake Johnson.

    Apesar de algumas divergências criativas e pessoais, fato é que os dois criadores do Homem-Aranha, Steve Ditko e Stan Lee tinham em mente que seu personagem deveria inspirar o público, mostrando que qualquer pessoa pode ser heroica mesmo com todos os percalços mundanos e cotidianos, e nesse ponto, o filme talvez seja o produto em áudio visual mais acertado, incluindo aí até o Homem-Aranha de Sam Raimi. Tanto Morales, quanto B. Parker e até a jovem Gwen (Hailee Steinfield),  transpiram isso, obviamente com a sardinha puxada para o lado do jovem negro e latino,que está em fase de amadurecimento e numa jornada rumo ao conhecimento do que é ser um herói e de como lidar com o clichê de com grandes poderes vem grandes responsabilidades. Destaque também para o engraçado Homem-Aranha Noir, feito por Nicolas Cage, um personagem sério mas com ótimas piadas, e mais uma participação do ator em adaptação de quadrinhos.

    O humor do filme é muito presente, Miles é engraçado e seu mal jeito e timidez dão a ele um charme exótico, variando entre as descobertas típicas da adolescência bem como o alvorecer do heroísmo. Há também um largo uso de onomatopeias e balões típicos dos quadrinhos, que reverberam as falas e pensamentos dos personagens. O grupo de personagens, tanto vilanescos quanto de benfeitores é grande, diverso e ambos os lados desafiam Morales, para finalmente entender qual é a sua vocação.

    Qualquer uma das contra-partes do Aranha tem algo em comum, que é a perda de um ente querido, que serviu como manifestação física da perda e esse luto, seja recente ou não é bem explorado, unindo assim os personagens tão diferentes, que trabalham bem em equipe graças a um inconsciente coletivo muito forte, que pode ou não ter a ver claro com o sentido de aranha que a maioria deles tem. O filme tem um ritmo frenético e mal parece que tem pouco menos de duas horas, mas o maior acerto de Homem Aranha no Aranhaverso certamente é o fato de que ele é carregado de alma e sentimento, com expressões que funcionam bem com todas as referencias que Lee e Ditko pensaram para seu personagem mais humano, servindo como reverência ao primeiro desses que faleceu recentemente e com uma carga emotiva muito forte, sem medo de parecer um produto de super herói, super colorido e cheio de escapismos, como os bons momentos da Era de Prata dos quadrinhos.

    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram.