Tag: marisa tomei

  • VortCast 106 | Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa

    VortCast 106 | Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira | @flaviopvieira), Jackson Good (@jacksgood), Bruno Gaspar (@hecatesgaspar | @hecatesgaspar) e Filipe Pereira (@filipepereiral | @filipepereirareal) recebem Marcelo Miranda (@marcelomiranda1) para comentar sobre os erros e acertos do mais novo filme do Amigão da Vizinhança, Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa.

    Duração: 88 min.
    Edição:
     Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

    Agregadores do Podcast

    Feed Completo
    iTunes
    Spotify

    Contato

    Elogios, Críticas ou Sugestões: [email protected].
    Facebook — Página e Grupo | Twitter Instagram

    Links dos Sites e Podcasts

    Agenda Cultural
    Marxismo Cultural
    Anotações na Agenda
    Deviantart | Bruno Gaspar
    Cine Alerta
    Arte Final
    Saco de Ossos
    Hora do Espanto

    Materiais Relacionados

    VortCast 47 | Homem-Aranha e o Cinema
    Agenda Cultural 70 | Infiltrado na Klan, Green Book, Shazam!
    A Pilha do Aranha #05 — Um Dia a Mais
    A Pilha do Aranha #07 — Edição Especial: Sem Volta Para Casa

    Filmografia Homem-Aranha nos cinemas

    Crítica | Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa
    Crítica | Homem-Aranha: Longe de Casa
    Crítica | Homem-Aranha: De Volta Ao Lar
    Crítica | O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro
    Crítica | O Espetacular Homem-Aranha
    Crítica | Homem-Aranha 3
    Crítica | Homem-Aranha 2
    Crítica | Homem-Aranha
    Crítica | Homem-Aranha no Aranhaverso
    Crítica | Venom
    Crítica | Venom: Tempo de Carnificina

    Ouça e avalie-nos: iTunes Store | Spotify.

  • Crítica | Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa

    Crítica | Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa

    Review Homem Aranha Sem Volta Para Casa

    Havia uma grande expectativa em torno da estreia de Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa, por conta da possibilidade de apresentar finalmente uma versão do multiverso no cinema da Marvel e, claro, pela possibilidade da aparição de Tobey Maguire e Andrew Garfield. Esta terceira parte conduzida por Jon Watts começa no momento final de Homem-Aranha: Longe de Casa, onde o vilão Mysterio revela a identidade do herói.

    O ponto de partida do filme é o caos total, causado pela revelação do vilão, e a opinião pública se divide em relação à culpa do Aranha nesse caso. Pela primeira vez o personagem do UCM parece ter dificuldades tangíveis. Em Homem-Aranha: De Volta ao Lar ele passa a maior parte da história sob a tutela de Tony Stark, como se fosse um trainee de herói, e não o mais popular personagem de histórias em quadrinhos da Marvel Comics.

    Os  roteiros dos filmes da Marvel normalmente não são primorosos, não é raro perceber uma reciclagem de conceitos, com um ou outro vilão clássico representado no cinema em uma aventura genérica e presa a fórmula, tendo como diferencial as cenas pós créditos, que por sua vez, geram a expectativa de que a próxima produção será épica. Sem Volta Para Casa acaba tropeçando em alguns desses problemas, mas se diferencia pelo modo emocional com que é levado. Dessa vez, há vilões realmente perigosos, assassinos sádicos, não versões “água-com-açúcar”.

    O Peter de Tom Holland não tem um código moral bem estabelecido até essa historia, o caráter dele é posto à prova de maneira bem mais explícita, e sem a diluição de ter a responsabilidade dividida com outros heróis, como foi nos filmes anteriores e Guerra Infinita. Pela primeira vez nessa encarnação há peso em suas atitudes. Suas reflexões se dão sem interferência de personagens externos ao seu universo, ele sozinho se dá conta disso. Essas questões emancipatórias e de amadurecimento são bem observadas, mas não se descuida dos momentos de ação típicas de aventuras de super-heróis de quadrinhos.

    A ação do filme é frenética, e Watts resgata boa parte dos melhores momentos do herói na grande tela, inclusive emulando cenas clássicas dos filmes de Marc Webb e Sam Raimi. As lutas são ótimas, sobretudo o embate contra o Dr. Octopus de Alfred Molina. Os efeitos em computação gráfica também tiveram um upgrade, tanto nas lutas quanto no rejuvenescimento do elenco veterano de vilões que, aliás, são tão presentes aqui que faz perguntar se a intenção não era a de referenciar o malfadado filme do Sexteto Sinistro que jamais saiu do papel.

    A produção trabalhou bastante para guardar seus segredos, tanto que na exibição para imprensa havia um pedido do elenco para que não houvesse spoilers de modo algum. Ainda assim, mesmo sem falar dos rumos que o roteiro toma, é possível afirmar que a versão amaldiçoada do herói está bastante presente, assim como o fardo de carregar o mundo de responsabilidades em suas costas. Em vários pontos o desempenho dramático de Holland é exigido, e ele simplesmente não decepciona. Outras figuras como Zendaya e Marisa Tomei também tem grandes aparições e ajudam o protagonista a brilhar, certamente seu papel não seria tão elogiado se ambas não estivessem tão afiadas quanto ele.

    Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa é de fato um filme que busca romper com o céu de brigadeiro que ocorria nas aventuras dessa versão do Aranha. Logicamente, ainda existem algumas conveniências e pieguices, algo bastante recorrente em suas histórias em quadrinhos. De qualquer modo, finalmente a essência de quem é Peter Parker é contemplada, e honra o ideal que Steve Ditko e Stan Lee pensaram para o seu personagem mais famoso.

  • Crítica | A Primeira Noite de Crime

    Crítica | A Primeira Noite de Crime

    Dando vazão a uma espécie de fetiche cinematográfico por narrativas de origem, a quarta incursão ao universo narrativo de Uma Noite de Crime, explora, como denota o título, os motivos que levaram a criação da lei do Expurgo, uma noite criada por lei em que os crimes não possuem punição da justiça. Uma ação visando aplacar o estresse dos cidadãos.

    A narrativa que se iniciou em 2013 como uma história de terror foi se descolando desse gênero a cada sequência. Aprofundou-se, na medida do possível, sem perder a tônica de uma história pautada para o entretenimento, em  uma análise social sobre a sociedade que permitiu tal mudança de paradigma. O primeiro filme focava na tensão de uma família aprisionada em casa; O segundo mostrava como as ruas lidavam com os fatos; a terceira parte acrescentava a tensão política e contrapunha questões sociais entre os ricos que podem se defender do expurgo e os mais humildes que buscam sobreviver a noite.

    Nesse novo ato, temos um breve panorama da queda econômica americana e um estudo psicológico que justifica a violência controlada como forma de aplacar a violência aleatória. Para executar o primeiro teste, um bairro de Nova York, em que se destaca a população de baixa renda da cidade, foi escolhido.

    Ampliando a análise politica vista anteriormente, mesmo que de maneira breve e pontual, a trama se situa como uma observadora dos tempos presentes estabelecendo o binômio básico entre dominante e dominado. De um lado, os detentores do poder e a composição da esdrúxula lei do expurgo. Do outro, a população oprimida cuja duas únicas opções são sair da cidade, abandonado o próprio lar por uma noite, ou ficar no local e ganhar uma pequena quantia estipulada pelo governo como participação no evento. Diante da necessidade, evidente que muitos personagens decidem ficar.

    Ao ler ou assistir narrativas distópicas, muitos se perguntam quais estruturas levaram a composição desse universo opressor. Talvez o que poucos percebam é que tais ações acontecem de maneira gradual. O universo antes do expurgo, por exemplo, representa obviamente momento mundial atual. Diante de um momento em que se destaca certa falência democrática, a ascensão de um novo fascismo, e outros direitos cambaleantes, o fio entre ficção e realidade parece se esgarçar, dando-nos a impressão que o futuro pode ser mais tenebroso do que se parece.

    Evidentemente, tais reflexões surgem a partir do filme e não inseridos como fundamento dentro de sua estrutura. A franquia, em geral, é voltada para o suspense. Sob esse aspecto, Gerard McMurray que assume a direção nesta sequência executa boas cenas de ação, dando maior dinamismo para sequências que comparados aos anteriores não funcionavam tão bem. Cenas em plano-sequência se apresentam bem encenadas e em um dos atos finais da trama, o som de um alarme aliado a falhas elétricas estabelecem com qualidade a tensão final.

    Talvez o maior erro do filme seja não se aprofundar por completo em questões levantadas pontualmente, argumentos que sustentariam um interessante filme social sobre a opressão das lei. Mas talvez a franquia como um todo não tivesse essa intenção. Mas se estabelece bem como entretenimento que promove também certa reflexão ainda que pautada em algumas bases narrativas comum ao gênero de suspense.

    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram | Spotify.

  • Crítica | Homem-Aranha: De Volta Ao Lar

    Crítica | Homem-Aranha: De Volta Ao Lar

    A terceira tentativa de contar a história do cabeça de teia começa com uma pequena introdução de seu antagonista, Adrian Toomes (Michael Keaton). Sua intimidade é mostrada como a rotina de um homem comum, um sujeito de meia-idade que investe dinheiro se especializando na coleta de artefatos alienígenas pela Nova York  após a invasão chitauri ocorrida em Os Vingadores, no entanto, acaba impedido pelas autoridades de continuar seus trabalhos. A crise e o capitalismo motivam a ganância do homem que usaria os esforços de seus empregados para formar uma gangue que cometeria alguns pequenos delitos, que se agravam com o decorrer de mais de duas horas de filme.

    Após uma introdução ao estilo mockumentary, se estabelece que Peter Parker (Tom Holland) ficaria a disposição de Tony Stark (Robert Downey Jr.), fingindo ter um estágio com o magnata, mas na realidade tendo contato direto apenas com o motorista Happy Hogan (John Fraveau), responsável pela mudança da mansão dos Vingadores para o outro lado da cidade.

    Haviam dois grandes receios em relação a este novo Homem-Aranha, e em ambos os erros não são completamente bem resolvidos. O primeiro medo geral é que fosse esse mais um filme de origem genérico, como foi o primeiro Homem de Ferro, Homem-Formiga e Doutor Estranho, e nesse ponto, o filme de Jon Watts ganha um pouco em originalidade, já que a referência principal não são os filmes da Marvel, e sim as comédias oitentistas ao estilo do que John Hughes escreveu e produziu. No entanto, fora dessa estética, não há espaços para grandes surpresas.

    O outro aspecto de preocupação era que esse fosse mais um filme onde Stark seria super explorado, como havia ocorrido em Capitão América: Guerra Civil, e apesar do ator não ter tanto tempo de tela, seu personagem é utilizado como muleta emocional inúmeras vezes, ao ponto de deixar o público exausto diante de tantas situações  óbvias e previsíveis.

    Watts é um diretor que até então havia feito trabalhos mais independentes, sem um grande estúdio interferindo como certamente Kevin Feige e outros produtores fizeram neste longa. A Viatura (Cop Car) e Clown foram ótimas surpresas, mas o repertório do diretor em seus trabalhos anteriores é pouco utilizado aqui, fato semelhante ao que ocorreu com Louis Leterrier, em Incrível Hulk, e Gavin Hood, em X-Men Origens: Wolverine, claro, excluindo o montante de equívocos que foram ambos os filmes. A capacidade de trazer um filme bem resolvido esbarra num defeito de não se ousar em quase nada.

    A esperança de risos fáceis repousou no núcleo adolescente. Holland não faz feio, reprisando os bons momentos do último filme do Capitão América, e seu melhor amigo, Ned (Jacob Batalon) também é um bom personagem, mas o restante é completamente dispensável, desde o interesse amoroso do herói, Liz (Laura Harrier), até a amiga Michelle (Zendaya) e o bully latino Flash Thompson (Tony Revolori). A tentativa de emular um Clube dos Cinco chega a ser irritante pelo conteúdo e espírito, sem reprisar a rebeldia adolescente presente no clássico.

    No que diz respeito as ações do Abutre, se mostra o ponto alto do texto, mas infelizmente soa sub-aproveitado para mais uma vez dar vazão a tramas bobas, como as questões juvenis de Peter, as preocupações da bela Tia May (Marisa Tomei) ou as tentativas de agradar o Homem de Ferro. Keaton faz o que pôde em tela, mas mesmo suas pequenas ações são quebradas por interferências dos heróis mais graúdos, com o livre uso do artificio do Deus Ex Machina. O excesso de moralismo barato só não irrita mais do que a capacidade que a história tem de banalizar perdas, uma vez que até as pequenas bombas que são expostas causam estragos mínimos, mesmo sendo de um material alienígena de força e origem desconhecidos.

    É irônico e curioso que não haja qualquer sacrifício ou perda significativa exatamente no filme de herói que mais se exigiria isto, já que o Homem-Aranha apesar de ser um personagem irônico e popular, carrega também um destino cheio de lições e tragédias típicas do homem comum. Nesse ponto, Homem-Aranha: De Volta ao Lar soa frio e genérico demais, reduzindo o ideal do vigilante criado por Stan Lee e Steve Ditko a um mero promoter de material de merchandising, com pouca alma e espirituosidade e muitas frases feitas, gírias e situações clichês, que servem mais para abastecer a necessidade de fan service do que a contar uma boa história em si. O avanço em relação aos filmes de Marc Webb – em especial O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro – é grande, mas ainda assim muito pouco para a expectativa criada em torno do amigo da vizinhança.

    Acompanhe-nos pelo Twitter e Instagram, curta a fanpage Vortex Cultural no Facebook, e participe das discussões no nosso grupo no Facebook.

  • Crítica | Virando a Página

    Crítica | Virando a Página

    Virando a Página - poster

    A carreira do diretor e roteirista Marc Lawrence é dedicada a comédias românticas e à parceria com Hugh Grant, personagem central das obras do diretor. Letra e Música, de 2007, é o ponto alto desta parceria, uma trama equilibrada entre riso e emoção sobre um decadente astro da música pop.

    Presença constante no estilo, Grant se mantém como galã. Aos 55 anos de idade, ainda tem o charme britânico que lhe destacou, o timming cômico e o carisma necessário para protagonizar tramas leves e familiares, mesmo repetindo o mesmo tipo de personagem durante toda a sua carreira. Em nova parceria com o realizador, Virando a Página mantém vestígios da narrativa musical anterior, mas em uma versão mais adulta e amargurada sobre outra indústria cultural, o cinema. Famoso roteirista de Hollywood, Keith Michael vive dos louros do passado que lhe garantiram um Oscar de Melhor Roteiro Original. Sem emplacar nenhum sucesso após a premiação, uma carreira em decadência beirando a falência, o roteirista aceita o convite de lecionar um curso sobre redação criativa em uma universidade.

    Representando novamente um homem deslocado do presente com um sucesso anterior, a história simboliza a resistência do autor como galã e o desencanto de Lawrence perante a indústria cinematográfica. O espaço para o romance é sutil, bem como a crítica se estabelece somente nas entrelinhas, no encantamento superficial da personagem central e em seu caráter infantil, como se a fama evitasse a maturidade.

    A relação desenvolvida com Holly Carpenter (Marisa Tomei), única adulta na turma de adolescentes, é conduzida lentamente. A princípio, através de uma relação entre professor e aluno que, por serem da mesma faixa etária, adquirem um leve laço de amizade, mas evitando uma aproximação amorosa devido ao comprometimento dela com outro homem, e ao fato do professor ter um caso com uma de suas alunas.

    O impacto sentimental é menor devido ao viés mais adulto e amargurado, permitindo naturalidade no desenvolvimento do romance sem a ênfase bela da ficção. Ainda que mantenha a leveza narrativa e o diálogo sobre caminhos e mudanças da vida, como em geral são desenvolvidos nestas tramas, o drama é eficiente, e Hugh Grant consegue, como sempre, passar credibilidade em seu personagem característico. A proposta da história parece destoar da comédia romântica vendida tradicionalmente, justificando o alcance baixo desta história. Ainda que, dentro da carreira de Lawrence, seja mais um acerto e uma leve maturidade em conduzir tramas amorosas.

  • Crítica | O Amor é Estranho

    Crítica | O Amor é Estranho

    O Amor é Estranho - Love is Strange - Poster Internacional

    Dois anos após a beleza poética de Deixe a Luz Acesa, o americano Ira Sachs retorna às telas versando, mais uma vez, sobre o amor. O roteiro escrito em parceria com Mauricio Zacharias aborda a história de um casal que, após 39 anos vivendo junto, decide se casar oficialmente.

    Ben e George, interpretados pelos sempre excelentes Alfred Molina e John Lithgow, são homens maduros que possuem a rotina, coerência e estabilidade de um casal que há muito se conhece. Vivem naquele momento em que podem falar a respeito de tudo com o outro e se conhecerem intimamente, sem necessidade de julgamentos, nem mesmo para reclamações cotidianas.

    Ao efetuar o matrimônio, a profissão de George sofre um abalo. Músico de uma escola católica, ele é convidado a se retirar de suas atividades por não mais seguir o código cristão estabelecido pelo local. Mesmo que sua relação nunca tenha sido um segredo para pais, filhos e professores, cientes sobre seu parceiro, a personagem reconhece a impossibilidade de ir contra uma sagrada instituição que ainda condena tais relações.

    A estrutura de vida do casal é modificada. O casamento, que deveria ser a consagração máxima deste equilíbrio, produz, inconsequentemente, uma separação física. O casal se vê obrigado a vender o apartamento em que mora e, até conseguir um bom local para viver sob novas condições financeiras, se hospeda em casas de parentes. George permanece na casa de um casal de policiais, moradores do mesmo antigo prédio; enquanto Ben vive na casa de um sobrinho, ao lado de esposa e filho.

    A distância do casal demonstra as dificuldades que qualquer relação, mesmo que longa e duradoura, pode passar. As personagens estão fora de seu ambiente natural, em um momento sensível após o casamento, e sentem-se desconfortáveis por viver uma rotina que não a delas. Um local com festas quase diárias, no caso de George; um quarto dividido com o afilhado, sem um local para dedicar-se à sua arte, caso de Ben. Dia a dia, os dois tentam superar a distância obrigatória.

    O roteiro de Sachs/Zacharias aprofunda-se nas personagens sem deslocá-las das rotinas que as cercam, demonstrando nestes locais como situa-se o universo íntimo de cada família. Tanto o casal quanto a esposa do sobrinho de Ben trabalham com a arte. Um ambiente carregado de dedicação criativa que, normalmente, necessita de um espaço próprio para desenvolver-se. Passando boa parte do tempo em casa, Ben não encontra um local adequado para inspirá-lo, algo que também impede Kate (Marisa Tomei), esposa do sobrinho, dar prosseguimento ao seu novo romance. De maneira suave, o longa também faz essa breve reverência ao labor artístico.

    A trama apresenta a história sem focá-la em um drama específico. Os conflitos são vistos com naturalidade e se destacam também em um dos diálogos de George, em uma carta dedicada à sua escola: “A vida tem seus obstáculos, mas aprendi cedo que é melhor enfrentá-los com honestidade”. Um recurso rápido e explícito de apresentar a intenção por trás da história. Uma ciência de que os problemas na vida são naturais, e de que espetáculos dramáticos a respeito devem ser evitados para serem resolvidos da melhor maneira possível.

    Sachs trabalha também com qualidade a composição das imagens. Se no filme anterior prevaleciam ambientes escuros apoiando a indecisão da personagem central, neste as cores são sempre claras e os ambientes iluminados, como se representassem pelas imagens a maturidade estável e o brilho do amor do casal.

    (Para uma análise mais completa da obra, a partir deste momento revelações do filme serão apresentadas. Sendo assim, pare imediatamente se não quiser saber sobre o desfecho da produção).

    O estilo escolhido para representar a morte de um dos pares é bonito, metafórico e simples. Impressiona pelo impacto posterior ao descobrirmos a morte por intermédio de seu sobrinho em um diálogo. Na referida cena, o casal se despede em frente à escadaria do metrô, ainda vivendo em casas separadas. A personagem que sairá de cena é quem desce as escadas rumo ao subsolo para o transporte. Bonita metáfora de travessia acompanhada por um longo fade out que parece anunciar o final do filme. Mas esta cena encontra um par com o momento final, do sobrinho caminhando de skate ao lado de uma garota. Durante a trama, o garoto revelou ao tio Ben uma paixão por uma garota desconhecida. Assim, não só inferimos que a personagem encontrou-a novamente como o passeio é apresentado de maneira hábil, com a câmera posicionada às costas deste novo casal e contra a luz do sol. Uma metáfora oposta à anterior, explicitando a sensação de paz e iluminação do garoto ao ter este encontro.

    Litgow e Molina, que sempre se destacam pelas boas interpretações, apresentam um bonito casal maduro que transparece a cumplicidade mútua e um amor raro de muito anos. O Amor é Estranho é um drama bem equilibrado que não transforma a idade ou união em uma carga desnecessária de sentimentos, produzindo a naturalidade e a capacidade de lidar com as adversidades da vida de maneira orgânica, com apurada narrativa poética.

  • Crítica | Meu Primo Vinny

    Crítica | Meu Primo Vinny

    Os filmes de tribunal sempre tiveram seu público. Em geral, são filmes dotados de grande carga dramática, tramas intrincadas e pautados nas relações e emoções humanas. Um grande exemplo do gênero é o clássico 12 Homens e Uma Sentença, magistralmente dirigido pelo mestre Sidney Lumet e estrelado por Henry Fonda, em uma de suas mais marcantes interpretações. São poucos os exemplos de comédias ambientadas em um tribunal, e Meu Primo Vinny é disparado a melhor fita de todas.

    Trabalho mais relevante da carreira do diretor Jonathan Lynn, com roteiro de Dale Launer, o filme conta a história de Bill Gambini e Stan Rothstein, dois jovens de Nova York que, ao viajar pela região rural do estado do Alabama, acabam sendo julgados por um assassinato que não cometeram. Por não ter muito dinheiro, Bill resolve recorrer ao seu primo Vinny Gambini, um advogado recém-formado, que não possui nenhuma experiência, para defendê-lo perante o grande júri.

    O diretor Jonathan Lynn conduz com competência o filme, e o roteiro de Dale Launer é muito divertido, uma vez que centra boa parte das piadas no grande contraste cultural entre os nova-iorquinos Vinny e sua namorada Mona Lisa, e os habitantes da ficcional Beechum County. Os diálogos e situações são excepcionais, e algumas situações um pouco mais absurdas, como a dificuldade de dormir que Vinny enfrenta, são muito engraçadas. A cidade também é muito bem filmada, e suas locações são mostradas em detalhes, ajudando a detalhar o “mundo estranho” ao qual o local pertence. Além do mais, o filme consegue fazer uma reprodução bastante fiel dos procedimentos que circundam um júri popular nos EUA.

    Joe Pesci dá um show como Vinny Gambini. Apesar de ser baixinho, seu jeito estranho histriônico e seu timing de comédia o agigantam na tela. Suas interações com o conservador juiz, interpretado por Fred Gwynne, e as cenas em que ele interroga as testemunhas são ótimas. Os jovens Bill e Stan são interpretados com competência pelo eterno Karate Kid, Ralph Macchio, e Mitchell Whitfield. Porém, o grande show é de Marisa Tomei. Esbanjando charme e comicidade, a atriz consegue uma atuação natural e extremamente engraçada, sendo responsável pelos melhores momentos do filme e pelo clímax surpreendente. Os boatos maldosos de que Jack Palance teria lido errado o envelope que premiou Marisa com o Oscar de melhor atriz coadjuvante não merecem eco. Sua performance foi sim merecedora do prêmio.

    Fãs de filmes de tribunal ou de comédia serão bem agradados por este Meu Primo Vinny, uma comédia esperta, de diálogos divertidos, situações engraçadas e que não apela pra escatologia em nenhum momento, fato esse que a torna praticamente obrigatória.

  • Crítica | O Lutador

    Crítica | O Lutador

    O Lutador

    Darren Aronofsky traz de volta aos holofotes Mickey Rourke, em um filme quase autobiográfico do próprio ator. O Lutador utiliza uma abordagem com um caráter bastante documental, Aronofsky passa a seguir Rourke com sua câmera durante boa parte da filmagem, sendo bem comum, olharmos as costas do ator durante o longa, o que remete não apenas a um documentário, como a algo bastante pessoal, registrando os  acontecimentos da vida do protagonista.

    O filme conta a história de Randy “The Ram” Robinson, um astro de luta livre que foi muito conhecido durante os anos 80, mas que hoje em dia vive das glórias do passado, já que foi esquecido pela maioria, não só pelo desinteresse pela atração nos dias atuais, como também por sua personalidade autodestrutiva. A partir daí, se faz necessário um comparativo com a carreira do próprio Mickey Rourke, que como um dos grandes astros do cinema, caiu no esquecimento devido a sua vida repleta de excessos, e com isso passou a ganhar a vida fazendo filmes baratos, sem nenhum apelo do grande público.

    Randy tinha um futuro promissor, mas devido a uma série de escolhas equivocadas e da forma destrutiva que levou sua vida pessoal, chegou em um situação difícil financeiramente e familiarmente, já que nem sua filha o quer por perto. Na sequência inicial vemos uma série de montagens de sua época áurea, para logo depois o reencontrarmos vinte anos após, sozinho, com uma saúde já debilitada e se preparando para uma luta em uma escola infantil. A câmera demora a mostrar o rosto de Rourke, o que torna um triste reencontro, pois vemos que de galã de uma época, ele se tornou um homem de meia-idade completamentamente destruído pelo tempo e seu modo de vida.

    Stallone já havia ajudado o amigo em O Implacável (Get Carter), dando um papel de destaque para o astro em 2000, porém, o próprio Stallone estava tentando se reinventar na época e assim como o próprio Rourke, vivia de glórias do passado e filmes menores até se reencontrar com Rocky Balboa, de 2006. O reconhecimento merecido de Rourke, só viria anos depois com “O Lutador”, graças ao roteiro de Robert Siegel e a direção de Aronofsky.

    Os anos foram cruéis com Randy, que apesar de demonstrar um bom físico, notamos que  isso é devido ao uso exarcebado de anabolizantes, o que acabou lhe rendendo um problema no coração. Seu personagem sofre grandes dificuldades financeiras e com isso, se sujeita a trabalhar em um supermercado enquanto continua com suas lutas nos finais de semana. O contraste entre seus dois empregos é brutal, enquanto como lutador, recebe o carinho dos fãs e vê seus companheiros de luta como uma verdadeira família, o oposto ocorre no supermercado, onde recebe um tratamento degradante através do seu patrão.

    Rourke se doa por inteiro, transmitindo uma onda de emoções a cada momento em tela, deixando exposto a enorme sensibilidade da personagem, como quando recebe a notícia de quem não poderia mais subir aos ringues, ou mesmo nos diálogos com a stripper Cassidy, personagem de Marisa Tomei, que se identifica com Randy. Cassidy passa o mesmo que Randy, o pesadelo da idade, pois mesmo continuando linda, seus clientes já acham ela velha demais, e sente que em breve, terá que abandonar o palco. A troca do velho pelo novo.

    Entre os personagens centrais da trama, temos tambem Evan Rachel Wood interpretando a filha de Randy, Stephanie, e conhecemos um pouco mais do lado autodestrutivo de Randy e sua capacidade de magoar todos à sua volta, já que ela hesita em permitir uma reaproximação com o pai, devido ao passado onde foi magoada por ele. Rachel Wood traz uma grande atuação, mesmo com poucos momentos em tela. É impossível não sensibilizar com a vulnerabilidade da garota e as trocas de olhares que tem com o pai, muitas vezes sem necessitar de diálogo algum entre eles.

    Aronofsky adota um estilo narrativo completamente diferente de seus filmes anteriores, exibindo uma direção mais realista, quase documental, linear e pessoal, trazendo o expectador para a trama e apesar de não cair no lugar comum usando um tom melodramático, O Lutador emociona por esse pé na realidade, e claro, as atuações, bom roteiro e excelente direção, tudo sem soar clichê ou mesmo forçar uma identificação com o protagonista, como ocorre com tantos dramalhões por aí, pelo contrário, Randy é uma pessoa que vive cometendo os mesmos erros, autodestrutivo e trágico, mas que nem por isso, não se torna inesquecível.

    O Lutador é um filme sobre envelhecer, o que nos define como pessoas e o quanto podemos seguir adiante sem perder nossa identidade.

    Ouça nosso podcast sobre Darren Aronofsky.