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  • Crítica | Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa

    Crítica | Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa

    Review Homem Aranha Sem Volta Para Casa

    Havia uma grande expectativa em torno da estreia de Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa, por conta da possibilidade de apresentar finalmente uma versão do multiverso no cinema da Marvel e, claro, pela possibilidade da aparição de Tobey Maguire e Andrew Garfield. Esta terceira parte conduzida por Jon Watts começa no momento final de Homem-Aranha: Longe de Casa, onde o vilão Mysterio revela a identidade do herói.

    O ponto de partida do filme é o caos total, causado pela revelação do vilão, e a opinião pública se divide em relação à culpa do Aranha nesse caso. Pela primeira vez o personagem do UCM parece ter dificuldades tangíveis. Em Homem-Aranha: De Volta ao Lar ele passa a maior parte da história sob a tutela de Tony Stark, como se fosse um trainee de herói, e não o mais popular personagem de histórias em quadrinhos da Marvel Comics.

    Os  roteiros dos filmes da Marvel normalmente não são primorosos, não é raro perceber uma reciclagem de conceitos, com um ou outro vilão clássico representado no cinema em uma aventura genérica e presa a fórmula, tendo como diferencial as cenas pós créditos, que por sua vez, geram a expectativa de que a próxima produção será épica. Sem Volta Para Casa acaba tropeçando em alguns desses problemas, mas se diferencia pelo modo emocional com que é levado. Dessa vez, há vilões realmente perigosos, assassinos sádicos, não versões “água-com-açúcar”.

    O Peter de Tom Holland não tem um código moral bem estabelecido até essa historia, o caráter dele é posto à prova de maneira bem mais explícita, e sem a diluição de ter a responsabilidade dividida com outros heróis, como foi nos filmes anteriores e Guerra Infinita. Pela primeira vez nessa encarnação há peso em suas atitudes. Suas reflexões se dão sem interferência de personagens externos ao seu universo, ele sozinho se dá conta disso. Essas questões emancipatórias e de amadurecimento são bem observadas, mas não se descuida dos momentos de ação típicas de aventuras de super-heróis de quadrinhos.

    A ação do filme é frenética, e Watts resgata boa parte dos melhores momentos do herói na grande tela, inclusive emulando cenas clássicas dos filmes de Marc Webb e Sam Raimi. As lutas são ótimas, sobretudo o embate contra o Dr. Octopus de Alfred Molina. Os efeitos em computação gráfica também tiveram um upgrade, tanto nas lutas quanto no rejuvenescimento do elenco veterano de vilões que, aliás, são tão presentes aqui que faz perguntar se a intenção não era a de referenciar o malfadado filme do Sexteto Sinistro que jamais saiu do papel.

    A produção trabalhou bastante para guardar seus segredos, tanto que na exibição para imprensa havia um pedido do elenco para que não houvesse spoilers de modo algum. Ainda assim, mesmo sem falar dos rumos que o roteiro toma, é possível afirmar que a versão amaldiçoada do herói está bastante presente, assim como o fardo de carregar o mundo de responsabilidades em suas costas. Em vários pontos o desempenho dramático de Holland é exigido, e ele simplesmente não decepciona. Outras figuras como Zendaya e Marisa Tomei também tem grandes aparições e ajudam o protagonista a brilhar, certamente seu papel não seria tão elogiado se ambas não estivessem tão afiadas quanto ele.

    Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa é de fato um filme que busca romper com o céu de brigadeiro que ocorria nas aventuras dessa versão do Aranha. Logicamente, ainda existem algumas conveniências e pieguices, algo bastante recorrente em suas histórias em quadrinhos. De qualquer modo, finalmente a essência de quem é Peter Parker é contemplada, e honra o ideal que Steve Ditko e Stan Lee pensaram para o seu personagem mais famoso.

  • Crítica | Os Guardiões

    Crítica | Os Guardiões

    Filme russo, do filão de super-heróis, Os Guardiões começa de maneira curiosa, denunciando questões como o atomic horror que permeou toda o ideário da Guerra Fria, iniciando as explicações a respeito dos poderes dos personagens com uma musica pop cantada em inglês. Basicamente, o longa explora uma trama da época da União Soviética, em que Josef Stalin teria começado um programa de experimentos para transformar recrutas em super-humanos. Um deles se rebela e provoca o caos entre a sociedade russa.

    Para contrapor isso, uma força tarefa da inteligência russa começou a pesquisar entre os cidadãos comuns do país, na Sibéria, Cazaquistão e demais repúblicas soviéticas, pessoas aptas a passar pelos experimentos. Chega a ser engraçado ver toda a estética de filmes americanos/britânicos retratando a outra polaridade da Guerra Fria. Os efeitos especais e os poderes dos personagens fazem lembrar momentos icônicos de bons filmes de heróis, como X-Men 2, mas também guarda semelhanças estéticas com G.I. Joe, embora pareça muito mais com o segundo.

    O filme de Sarik Andreasyan lembra demais as produções da Asylum, seja nas atuações que não entregam boas interpretações, como nos efeitos especiais sofríveis. Um desses heróis se torna um Urso e tem o arquétipo típico de um cientista, ao melhor estilo Hulk. Sua persona é das coisas mais toscas e maravilhosas, uma vez que ele, sem intenção de ser, torna-se um alívio cômico carregado de estereótipos vazios.

    A direção de arte é ineficaz, uma vez que não há qualquer reconstrução de época, de modo que os vigilantes parecem viver na atualidade e não nos anos oitenta. O visual se encaixaria perfeitamente nos dias atuais, tirando pequenas referências de época. Há uma cena pós-crédito, que dá vazão a possíveis continuações, e dada a condição extremamente precária da obra, a torcida para que haja prosseguimento na saga é grande, já que o conteúdo é tão incrivelmente inadequado que soa hilário.

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  • O Mega Crossover entre Supergirl, The Flash, Arrow e Legends of Tomorrow

    O Mega Crossover entre Supergirl, The Flash, Arrow e Legends of Tomorrow

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    Finalmente, o mega crossover do canal CW aconteceu. Durante o decorrer da semana, pudemos acompanhar nos episódios de Supergirl, The Flash, Arrow e Legends of Tomorrow a reunião de quase todos seus personagens/heróis numa batalha contra os alienígenas conhecidos como Dominadores, numa adaptação da série Invasão, da DC Comics, lançada no final de 1988 com seu término logo no começo de 1989.

    Ainda que todos os anúncios desse grande evento da televisão anunciava uma grande história de 4 episódios, o que vimos é que o episódio de Supergirl, em nada teve a ver com o crossover. O que acontece de relevante em seu episódio, que foi ao ar na América na segunda-feira, são pequenos easter eggs, ou seja, portais de Barry Allen tentando chegar na Terra da última filha de Krypton. E quando ele consegue, o episódio acaba após uma pequena conversa.

    Diferentemente da reunião que aconteceu no ano passado entre Arrow e Flash, onde 90% do elenco das séries se reuniu naquilo que não parecia ser um episódio de Flash seguido de um episódio de Arrow, Invasão até que foi bem distinto, obviamente reunindo seus principais heróis, deixando a peculiaridade e o elenco secundário de cada série no seu devido lugar em seu respectivo dia da semana. Sendo assim, o que vimos, foi 100% um episódio distinto de Flash sucessivamente com episódios distintos de Arrow e Legends of Tomorrow, o que não foi ruim, devido a quantidade generosa de heróis dessa vez.

    Barry Allen (Grant Gustin) e os cientistas dos Laboratórios S.T.A.R. recebem um imagem de seus satélites de que uma espécie de meteoro irá atingir o centro de Central City. Chegando lá, Barry percebe que se trata de uma nave com diversos alienígenas dentro dela. Com a ajuda da diretora da A.R.G.U.S, Lyla Michaels (Audrey Marie Anderson), o “team Flash” fica sabendo que se trata da raça conhecida como Dominadores ou Domínions, cujo primeiro contato com a Terra se deu nos anos 50. Prontamente, Allen sai para reunir Oliver Queen/Arqueiro Verde (Stephen Amell), Thea Queen/Speedy (Willa Holland), John Diggle/Espartano e Felicity Smoak (Emily Bett-Rickards), trazendo em seguida a Supergirl, Kara Danvers (Melissa Benoist). O time fica completo minutos depois com a chegada das “lendas” Ray Palmer/Átomo (Brandom Routh), Sara Lance/Canário Branco (Caity Lötz), Martin Stein/Jax Jackson/Nuclear (Victor Garber e Franz Drameh) e Mick Rory/Onda Térmica (Dominic Pursell).

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    Um dos pontos principais desse episódio é uma estranha mensagem escondida na nave das Lendas que foi deixada pelo Barry do futuro. Quem acompanha o seriado do Flash, sabe que foi Barry quem criou a inteligência artificial Gideon (uma espécie de Jarvis) e que Gideon é a responsável pela nave das Lendas, a Weaverider. Aos poucos vamos percebendo o quão poderoso Barry Allen é. O problema é que Barry precisa contar a todos o conteúdo da mensagem que diz respeito às recentes alterações que fez do passado, mudando e muito o presente de todos. Aliás, além da ameaça principal da temporada, esse era um assunto recorrente entre os personagens de Flash e que tem uma agradável resolução.

    Já no interessante episódio de Arrow, após Oliver, Sara, Diggle, Thea e Ray (os não meta humanos do grupo) serem abduzidos para uma nave dos Dominadores, coube a Barry e Kara liderar o “team Arrow” com a adição dos heróis Rene Ramirez/Cão Raivoso (Rick Gonzalez), Rory Regan/Retalho (Joe Dinicol) e Curtis Holt/Sr. Incrível (Echo Kellum), numa missão desesperada para tentar localizar seus companheiros. Porém, o destaque do episódio fica para os momentos em que os abduzidos, induzidos a um tipo de coma, revisam as suas vidas se eles não fossem heróis. Desta forma, podemos ver Oliver Queen prestes a se casar com Laurel Lance (Katie Cassidy), falecida na temporada anterior, além dos pais de Ollie, Moira e Robert (Susanna Thompson e Jamey Sheridan, retornando a seus papéis). Vale de destacar que quando os abduzidos percebem que estão numa situação atípica, onde tudo é exatamente como eles queriam que fosse, começa uma espécie de conflito interno em cada um eles, sendo que, a partir do momento que isso acontece, uma espécie de mecanismo de defesa é ativado, fazendo com que os vilões Exterminador (sem os créditos ao interprete),  Damien Dhark (Neal McDonough) e Malcolm Merlyn (John Barrowman) tentem evitar a qualquer custo que os abduzidos acordem do coma induzido.

    Coube a Nate Heyood, o Gládio (Nick Zano), pilotando a Waverider, o resgate dos abduzidos e com isso entramos no episódio de Legends of Tomorrow, onde alguns personagens saem de cena para a entrada de Nate e de Amaya, a Vixen, vivida por Maisie Richardson-Sellers.

    O referido episódio, assim como o drama de Barry, por ter estragado a vida de todos e assim como o drama de Oliver, pela sua vida ter se tornado o que ela é hoje, também temos um drama pessoal do Dr. Martin Stein, que durante uma de suas viagens pelo tempo, acabou por interagir com seu eu mais novo, alterando o seu presente. Vale destacar que é a primeira vez que as Lendas voltam a 2016 desde que partiram com a Waverider lá no primeiro episódio da primeira temporada.

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    Tudo que se sabe até então é que os Dominadores querem eliminar os meta humanos do planeta. Com isso cabem a Felicity, Cisco Ramon (Carlos Valdez), Gládio, Vixen e Onda Térmica retornarem aos anos 50 com o objetivo de descobrirem o que aconteceu no primeiro contato com a raça alienígena, enquanto os heróis que ficaram em 2016 precisam enfrentar alguns agentes do governo que querem, a qualquer custo, prender Barry Allen para entregá-lo aos Dominadores. E pelo fato de todos (principalmente Cisco) estarem chateados com Barry, o velocista escarlate decide se entregar com o intuito de estabelecer uma trégua com os alienígenas. Obviamente, todos o perdoam, fazem aquele discurso motivacional de amizade e decidem ir para a guerra, no melhor momento dessa reunião.

    O mega crossover da CW foi algo inédito na televisão. Obviamente, pelo excesso de personagens e por envolver muita coisa, o roteiro é cheio de furos e erros, mas considerando o pouco tempo de filmagem para unir tantos personagens assim, o resultado é satisfatório.

    O que vai deixar os fãs dos quadrinhos e que também gostam das séries felizes é a enorme quantidade de referências a não só a coisas relacionadas à DC Comics, mas também, da Marvel. A maneira como a parte final de Invasão acontece chega a lembrar a primeira vez que vimos os Vingadores reunidos no cinema. Infelizmente é impossível reunir nesse texto todos os bons momentos e o humor bem recorrente, mas um dos destaques está lá e lá ficou para ser usada novamente: um galpão, cuja parte externa é idêntica à Sala da Justiça.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Deadpool e o Fim da Moda dos Super-Heróis

    Deadpool e o Fim da Moda dos Super-Heróis

    Deadpool

    As caracterizações do gênero

    Normalmente se nomeia um gênero pelas características:

    – Narrativa
    – Caracterização dos personagens
    – Temas básicos
    – Ambiente
    – Iconografia
    – Técnicas
    – Estilos

    E a princípio, temos quatro grandes gêneros definidos por Aristóteles, que são: Comédia, Ação, e Tragédia/Drama e Thriller. Disso temos subgêneros, como o sci-fi, que normalmente se estabelece como drama por contar com embates existenciais, o papel do ser humano, seu destino e sobrevivência. Eventualmente há intercepção entre estes gêneros e subgêneros, como no caso da Soap Opera (Ex: Star Wars).

    Elementos em comum não são o bastante para a categorização. Normalmente identificam-se certos elementos bem específicos para perceber um gênero. Mas esta é a forma como identificamos a criação de um gênero, que é sempre a posteriori”, já que, em cinema, gênero sempre teve uma definição flutuante, pois um grupo de signos apenas se torna gênero de acordo com a percepção da crítica e do público. Você não cria um gênero, mas sim elege um gênero.

    Agora os filmes com super-heróis: não formam um gênero

    Tudo indica que o filme de super-herói não é um gênero em si, mas sim um gênero tautológico, ou seja, não existe realmente como gênero ou subgênero, mas apenas como formato.

    O termo Tautologia vem da lógica proposicional, em que uma sentença é tautológica se for verdadeira para valores diferentes de suas variáveis. Em português isso ganha status de redundância, mas neste contexto é quando um gênero passa a depender de certos signos independente do seu tema ou de sua dinâmica. Por exemplo, cinema surrealista é um “gênero tautológico”, pois independente de ser comédia, ação ou suspense, tem signos redundantes em comparação com outros filmes surrealistas e que o identifiquem como “surrealista”, mesmo que isso não diga nada sobre o conteúdo, mas apenas sobre o formato. Algo parecido acontece com as “escolas cinematográficas”, que apesar de possuírem signos em comum não representam um gênero.

    Tanto é assim que a saída dos estúdios para carregar o formato é atribuir gêneros com clichês mais bem definidos, mas usando como pano de fundo o mundo super-heroico. Você teve o filme de ação/assalto de Homem-Formiga, a aventura clássica de Capitão América: O Primeiro Vingador, o thriler político de Capitão América: Soldado Invernal e diversos outros expedientes para protelar essa deterioração do formato.

    A moda e seu ciclo

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    Certa vez, um amigo disse ter lido que Hollywood tira leite de uma vaca até secar e, quando o leite acaba, sacrifica a vaca com a paródia. Em meados dos anos 30, após um período de intensa popularidade, os Monstros da Universal só sobreviveram na forma de filmes que parodiavam esses monstros.

    E é mais ou menos assim que funciona, pois podemos delimitar as seguintes etapas do ciclo:

    – Enunciação
    – Solidificação
    – Apogeu ou Era de Ouro (Etapa onde geralmente surgem os clássicos)
    – Fórmula (Era dos tais “filmes eficientes”. Acontece quando o cinema já entendeu o que funciona)
    – Dissolução / desconstrução / crítica (Autorreferência, incômodo com o status quo)
    – Retomada / hibridização / sátira (O cinema ri de si mesmo e mostra o ridículo de seus clichês)

    A aplicação disso é não linear. Claro que surgem filmes antecipando essas etapas, mas a historiografia do cinema dá base a esse ciclo, como o cinema noir, que começou como uma espécie de paródia.

    Deadpool estreou com valores e recordes para o mês, para uma obra de classificação Rated-R, próximo de completar U$ 55 milhões em sua segunda semana de exibição, totalizando U$ 235 milhões, ultrapassando o até então vencedor da Fox entre os super-heróis X-Men 3: O Confronto com seus U$ 234 milhões. Mundialmente é o segundo da franquia, atrás apenas de X-Men: Dias de um Futuro Esquecido. O filme também quebrou todos os recordes para o mês de fevereiro, considerado um mês ruim para o cinema.

    Isso resume o filme num grande sucesso para seu orçamento abaixo dos U$ 60 milhões, com uma campanha de marketing genial por ser concisa e utilizar-se das redes sociais e do carisma de Ryan Reynolds como poucas campanhas conseguiram. A que mais se aproximou deste sucesso em rede foi a de Batman: Cavaleiro das Trevas, no já longínquo 2008, utilizando uma complexa campanha viral que incluiu corridas de caça a uma maleta do Coringa pelas principais cidades do mundo.

    Mas talvez o sucesso de Deadpool reflita uma questão bastante comum em Hollywood que se assemelha ao ciclo da moda nas passarelas. Assim como os estilistas, estúdios visam antecipar tendências e, quando possível, criá-las. Não à toa, é comum em um mesmo ano haver diversos filmes de uma mesma espécime ou até mesmo personagem (dois filmes do Mogli esse ano e um muito semelhante chamado Meu Amigo Dragão, bem como alguns filmes sobre o personagem Tarzan). E assim como a moda volta, se estabelece em ciclos que relativamente se repetem a cada determinado período de tempo, fazendo voltar inclusive as terríveis calças saruel, o cinema, a música, games e demais formas de cultura.

    O melhor exemplo deste tipo de ciclo, ou a forma mais simples de identificar a questão, talvez seja a música. Como uma variação e releitura do blues, o rock n’roll surgiu como uma resposta à música conservadora dos anos 50. Mas pelo dinamismo cultural e novas influências ele sofreu uma nova variação, mais pessimista e menos festiva (punk, entre outros), que foi se estilizando mais até ficar uma autorreferência, e então virar uma paródia de si em larga escala e mais popular (emo), sendo este o final do ciclo. Nesse ponto, o mercado esgotou-se, e aí o gênero precisa se reinventar.

    A paródia dos filmes de super-heróis

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    A paródia nos filmes de super-heróis como apontamento do fim do ciclo modal se deu bem antes, com Shane Black em Homem de Ferro 3 fazendo Tony Stark invadir covis usando armas feitas com brinquedos, e a gag do vilão étnico super poderoso, que no fundo não é tão super poderoso ou ameaçador assim. Ao antecipar-se ao momento de fim de ciclo, e pela falta clara de homogeneidade e estrutura narrativa, o filme levou duras críticas, mas principalmente pelos motivos errados. O vilão de brincadeira/ ator falido era apenas uma autorreferência de o que é um filme de super-herói.

    Em 1989 surgiu Batman, dirigido por Tim Burton, com uma proposta bem específica e concebida. Com o passar dos anos e tentativas fracassadas de estabelecer filmes semelhantes, os filmes do Batman foram ganhando contornos cada vez mais suaves, recebendo finalmente a sua paródia em 1998 com o filme Batman & Robin, por Joel Schumacher. Em 2000 surgiu X-Men com um argumento muito mais sério e baseado no subgênero sci-fi, o que ajudou a dar o tom das próximas adaptações em conjunto com Homem-Aranha, de 2002.

    Após Homem de Ferro 3 como representante da desconstrução do formato, pode-se olhar para Kick-Ass, Guardiões da Galáxia, Homem-Formiga, e até mesmo Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância), bem como Super, filme de James Gunn anterior a seu estrelato, como exemplos do mesmo momento. Estes filmes todos estariam então representando a dissolução do cinema de super-herói, e Deadpool é um passo além de todos esses ao estabelecer um teor autocrítico extremamente contundente. Para desespero ou não, sátira, ou autocrítica, é a etapa que surge antes da paródia dos irmãos Wayans.

    Texto de autoria de Marcos Paulo Oliveira.

  • Resenha | A Ciência dos Superpoderes – Juan Scaliter

    Resenha | A Ciência dos Superpoderes – Juan Scaliter

    Com um ar didático em conjunto com alguns toques de cultura nerd, o autor consegue dissertar de maneira coerente sobre a premissa ditada em seu subtítulo, que diz Ficção e Realidade sobre os Poderes e Proezas dos Heróis, Anti-heróis e Vilões no Universo dos Quadrinhos. Dito isso, a obra funciona muito mais como um guia de curiosidades e verdades que (provavelmente) em breve se tornarão obsoletas, devido ao avanço da ciência. Repleto de especulações e teorias que eu nunca havia pensado, mas que, caso você deixe que a narrativa te guie, irá te levar a pensar em aspectos dos heróis que até então não parecia fazer diferença.

    Por exemplo, você já imaginou alguma vez como o Monstro do Pântano poderia, por exemplo, fazer um deserto se transformar em um bosque? Não? Pois Juan Scaliter, o autor, fez isso por você, e não apenas isso, mas também saiu perguntando para inúmeros físicos, biólogos e médicos sobre os aspectos mais variados que pertencem desde os personagens mais mainstreans quanto alguns que poucos vão reconhecer. O livro começa com uma introdução à história da personagem e, após isso, começa a dissertação sobre um (ou vários) traços ou poderes que esse personagem possui.

    A ideia do livro em si é, na minha opinião, genial. O problema é que se foca demais na atmosfera didática de dizer as descobertas realizadas por ele (e por outros cientistas) e muito pouco em suas teorias e opiniões sobre os assuntos. Sim, sim, em certos momentos ele se intromete com algumas linhas de piadas ou brincadeiras infames, mas é apenas isso. No final, deixa uma impressão indecisa sobre o que ele realmente queria fazer, pois pode ser tanto interpretado como um livro para ensinar ciências para jovens e crianças, quanto como um guia para os nerds de plantão que já tenham pensado em aplicar lógica aos superpoderes e, com isso, poderem ler e dizer “eu já sabia!”.

    Bem, eu não sabia. E, na verdade, não sou um grande leitor de HQ (mais por falta de oportunidade do que por opção, mas tudo bem), e nesse contexto eu fui um pouco imparcial quando o assunto foi sobre os heróis tratados. No entanto, acho que enquanto o autor explica vários poderes de uma personagem, existem outros que são analisados de maneira fria por uma característica que não aparenta ser o maior traço da personagem. Como, por exemplo, quando ele seleciona o Homem-Animal.

    “Seja qual for sua origem, o Homem-Animal é capaz de pensar em um animal e adquirir as capacidades do mesmo. Desse modo, ele consegue ter a força de um tiranossauro, voar como um pássaro (embora não desenvolva asas), ter a eletricidade de uma enguia e ter a resistência de uma barata. Além disso, também é capaz de falar com os animais e se comunicar telepaticamente com eles.”

    Nesse trecho do livro, eu confesso que me animei em saber como exatamente ele conseguiria adquirir essas características dos animais. Antes desse parágrafo, ele diz por cima algo sobre campos morfológicos ou então a alteração morfogenética da pessoa. Como isso funcionaria? Como ele seria capaz de realizar isso? O que aconteceria com o organismo caso alguém fosse realmente capaz de pegar para si os principais aspectos de outra raça de animal? Bem, eu li o livro e a inda não sei. Afinal, ele usa esse trecho como gancho para dissertar a capacidade telepática do Homem-Animal como se, convenhamos, não existissem outros heróis/anti-heróis/vilões com essa capacidade.

    Para finalizar, deixo aqui minha recomendação para aqueles que sejam tão loucos quanto o autor e queiram montar suas próprias teorias a partir daquilo que é exposto nesse livro. Apesar de alguns pedaços que não são muito animados, é uma leitura fácil que irá fluir tranquilamente, tanto pela linguagem fácil de se entender quanto pelos exemplos simples que o autor dá para explicar um determinado comportamento científico.

    Compre aqui.

    Texto de autoria de Thiago Suniga.

  • Resenha | Sociedade da Justiça – Vol. 01

    Resenha | Sociedade da Justiça – Vol. 01

    Sociedade da Justiça - 01
    O famigerado reboot há pouco promovido pela DC tinha claramente um, e, a despeito de qualquer desculpa que tenha sido lançada aos fãs, apenas um objetivo: catapultar as vendas da editora e torná-la novamente competitiva frente à sua maior rival, a Marvel. Tal objetivo foi alcançado com louvor, sendo um dos principais motivos o fato de a reformulação ter permitido que o novo leitor, que se sentia intimidado perante o caos que então imperava na cronologia da editora, finalmente ingressasse nesse universo.

    Na antiga conjuntura do universo DC, havia de fato pouquíssimas histórias que serviam de ponto de ingresso adequado para o leitor que pouco ou nada sabia sobre o mundaréu de aventuras já enfrentadas por determinado herói ou grupo de heróis. Entretanto, a “faxina criativa” acabou por apagar não só essas raras, mas ainda louváveis, fases que podiam ser assimiladas por alguém que nunca antes tivera contato com quadrinhos, como também as não tão raras boas histórias idealizadas ao longo das muitas décadas de prevalência da antiga ordem cronológica. E Sociedade da Justiça nº 01, encadernado lançado pela Panini em abril de 2011, amalgama ambas as coisas – o que, infelizmente, não vale muita coisa no atual momento.

    A revista reúne do 30º ao 35º número da terceira série da Sociedade da Justiça da América, que perdurou de 2006 a 2011. O volume conta com os dois primeiros arcos escritos por Bill Willingham, criador da premiadíssima série Fábulas, em sua curta passagem pela revista. No primeiro e mais interessante deles, Sementes Ruins, vemos uma equipe ainda imatura, chefiada por alguns heróis do primeiro escalão – Flash (Jay Garrick), Lanterna Verde (Allan Scott), Pantera (Ted Grant), principais responsáveis por essa nova formação, e alguns outros como a Poderosa –, mas composta principalmente por buchas de segunda e terceira categoria – Mr. América, Homem-Hora, Rajada, Tempestade e Mestra Judoca –, lidar simultaneamente com três perigosas ameaças: um bem-arranjado ataque de diversos vilões, a infiltração de um inimigo desconhecido que propaga insegurança e medo dentro do time, e um racha interno provocado pelas discrepantes visões dos veteranos e dos heróis do novo século para com o papel das equipes de super-humanos na sociedade.

    Competente ao intercalar as três tramas, o roteiro acaba por agradar a leitores com diferentes interesses. Os fãs da boa e velha porradaria não se decepcionam, ao passo que tanto aqueles que buscam por um mistério que perpasse a aventura quanto os que esperam visões mais frescas sobre o mundo dos heróis – aqui presenteados com um instigante debate sobre a funcionalidade das super-equipes dos velhos tempos, “clubinhos sociais felizes”, como descrito na própria revista, em um mundo cada vez mais militarizado – também sairão satisfeitos.

    Já o segundo arco, Impiedoso, consiste num episódio blasé, em que os heróis encarram e derrotam, sem grandes dificuldades, um mago poderoso, porém não muito astuto. Embalados pelos consistentes e detalhados – em níveis diferentes, é claro – traços de Jesús Merino e Travis Moore, respectivamente, esses dois arcos compõem um encadernado divertido, que pode ser apreciado por ávidos consumidores ou por novatos no mundo dos quadrinhos, como este que vos escreve.

    Que o material é bom, isso é. Mas cabe ao leitor responder a seguinte questão: uma boa história – e nada além disso – situada na antiga cronologia, e que, portanto, de nada mais vale no universo DC, ainda merece ser consumida, ou os trâmites editoriais jogaram no lixo não só os esforços criativos de diversos realizadores, como também o valor a eles agregado?

    Texto de autoria de Alexandre “Noots” Oliveira.