Tag: Steve Ditko

  • Crítica | Homem-Aranha 3

    Crítica | Homem-Aranha 3

    Homem-Aranha 3 fecha a trilogia de Sam Raimi sobre o herói tangível e cheio de defeitos criado por Steve Ditko e Stan Lee, mas não sem trazer consigo uma infinidade de reclamações sobre os rumos que a franquia tomou. Na trama, Peter Parker (Tobey Maguire) tem de enfrentar uma crise na relação com Mary Jane (Kirsten Dunst), além de três vilões diferentes.

    No início do filme há uma clara diferença desse para Homem-Aranha 2, o recapitular das aventuras anteriores se dá com arte de Alex Ross e aqui estão apenas as cenas conduzidas por Raimi, sem qualquer tratamento de imagem, como um resumo de capítulos anteriores de uma série barata, o cuidado com a cinessérie mudou e, além disso, se nota uma diferença no tema orquestrado, com tons e acordes diferentes, já que Danny Elfman dá lugar a  Christopher Young na trilha sonora. Esse tom obscuro deveria passar para a abordagem da personalidade de Peter, mas isso não ocorre, necessariamente.

     

    Homem-Aranha 3 é muitas vezes injustamente  criticado, no entanto, uma reclamação justa é o comportamento que o personagem de Maguire tem no início do filme, antes mesmo de ter contato com o “alienígena” que daria origem a Venom. Ele é impulsivo, se deslumbra com a aceitação que o povo lhe confere finalmente, após dois filmes com histórias conturbadas, e age de maneira brutalmente insensível, em especial com MJ. A vida pessoal de Peter finalmente se ajeita, ele está feliz, tanto como Aranha quanto Peter Parker, mas como se trata de um personagem trágico (aos menos aos olhos do diretor), não há como seguir assim por tanto tempo.

    Raimi é um cineasta muito fiel às suas raízes, mesmo quando faz obras mais voltadas para o público mainstream. Desse modo, é natural que existam cenas que remetam ao cinema de horror. E aqui a manifestação se dá no entorno do Homem Areia, tanto na transformação que Flint Marko (Thomas Haden Church) sofre, quanto nos momentos finais. Além de ter um visual arrebatador em ambos momentos, há significados que remetem aos monstros clássicos, em especial na sua gênese. Marko tem características da criatura de Frankenstein de Boris Karloff, e certamente essa referência seria melhor encaixada caso o roteiro fosse mais sólido, pois o evento que transforma o personagem é completamente avulso à trama, sem repercussão antes ou depois do ocorrido.

    As tramas secundárias também variam de qualidade. James Franco está bastante canastrão, não consegue dar camadas ao seu personagem, sua motivação não faz sentido por não ter tempo de tela, sem falar que expõe um dos defeitos do filme, os efeitos visuais primários. Dunst está muito bem, consegue trabalhar bem com o que é lhe dado, mesmo sendo pouco. Já a introdução dos personagens novos, como Gwen (Bryce Dallas Howard), Eddie Brock (Topher Grace) e o Capitão Stacy (James Cromwell) é gratuita ao extremo. Não há desenvolvimento mínimo de nenhum deles, e até os coadjuvantes do Clarim Diário parecem mais sólidos e profundos que o trio, fato que gera até incongruências, já que o J.J. Jameson de J.K. Simmons não sabe quem é Brock, mesmo com uma citação a ele em Homem-Aranha. O personagem é tão irrelevante para Raimi que a direção deliberadamente não o leva a sério.

    Entre as reclamações mais comuns ao filme está a personalidade de Peter modificada pelo simbionte, que muitos atribuíam ao comportamento dos fãs de emocore. Ora, na época, os meninos comuns que usavam esse visual diferia de Peter. Eram introspectivos, gostavam de parecer sombrios, já Parker é o oposto disso, espalhafatoso, inconsequente e age até como um bully em alguns momentos, com uma personalidade tão baixa quanto a do seu nêmese escolar Flash Thompson. Ele claramente não era Emo, só pegou emprestado desse estilo o cabelo e a maquiagem um pouco mais forte, comparar o Andrew Garfield em O Espetacular Homem-Aranha com o estereótipo do hipster até faz algum sentido, mas o Peter de Tobey de emo tinha apenas o visual.

    Parker parece governado unicamente pelo id (parte da mente que quer gratificação imediata de todos os seus desejos e necessidades, segundo o conceito freudiano), e dito assim, esses momentos não parecem tão erráticos, especialmente a cena “musical”, já que é o símbolo maior da breguice que Raimi sempre impôs a sua versão do Cabeça de Teia.

    A reunião dos antagonistas não tem nenhuma força, é um pretexto pobre que está lá para justificar uma ação entre amigos com Harry e Peter juntando as forças, que só não é mais vergonhosa do que o momento de retorno do uniforme clássico, ao lado de uma bandeira dos EUA tremulando, que faz automaticamente o povo esquecer dos maus atos do Aranha. Além dessas questões, boa parte da imaturidade de Peter também não cabe, já que ele aprendeu ou deveria ter aprendido com seus erros do passado, e justificar esses atos pelo simbionte também não faz sentido, visto que sua personalidade já havia se transformado antes mesmo dele utiliza-lo.

    Raimi saiu reclamando de interferência dos estúdios, seu desejo seria explorar personagens como o Abutre e a Gata Negra, mas por influência de Avi Arad, teve que fazer o filme com Venom. Desse modo,  Homem-Aranha 4 previsto para 2011 foi abortado, assim como uma segunda trilogia. Ainda assim Homem-Aranha 3 parece mais com o ideal de Ditko e Lee, por ser senhor de sua própria história e seguir dando camadas trágicas, mas humanas ao personagem. Peter segue falho, tolo, mas capaz de se sacrificar e tentar evoluir, mesmo que a mão invisível do roteiro o faça agir como alguém que não digeriu bem seus problemas.

  • Crítica | Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa

    Crítica | Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa

    Review Homem Aranha Sem Volta Para Casa

    Havia uma grande expectativa em torno da estreia de Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa, por conta da possibilidade de apresentar finalmente uma versão do multiverso no cinema da Marvel e, claro, pela possibilidade da aparição de Tobey Maguire e Andrew Garfield. Esta terceira parte conduzida por Jon Watts começa no momento final de Homem-Aranha: Longe de Casa, onde o vilão Mysterio revela a identidade do herói.

    O ponto de partida do filme é o caos total, causado pela revelação do vilão, e a opinião pública se divide em relação à culpa do Aranha nesse caso. Pela primeira vez o personagem do UCM parece ter dificuldades tangíveis. Em Homem-Aranha: De Volta ao Lar ele passa a maior parte da história sob a tutela de Tony Stark, como se fosse um trainee de herói, e não o mais popular personagem de histórias em quadrinhos da Marvel Comics.

    Os  roteiros dos filmes da Marvel normalmente não são primorosos, não é raro perceber uma reciclagem de conceitos, com um ou outro vilão clássico representado no cinema em uma aventura genérica e presa a fórmula, tendo como diferencial as cenas pós créditos, que por sua vez, geram a expectativa de que a próxima produção será épica. Sem Volta Para Casa acaba tropeçando em alguns desses problemas, mas se diferencia pelo modo emocional com que é levado. Dessa vez, há vilões realmente perigosos, assassinos sádicos, não versões “água-com-açúcar”.

    O Peter de Tom Holland não tem um código moral bem estabelecido até essa historia, o caráter dele é posto à prova de maneira bem mais explícita, e sem a diluição de ter a responsabilidade dividida com outros heróis, como foi nos filmes anteriores e Guerra Infinita. Pela primeira vez nessa encarnação há peso em suas atitudes. Suas reflexões se dão sem interferência de personagens externos ao seu universo, ele sozinho se dá conta disso. Essas questões emancipatórias e de amadurecimento são bem observadas, mas não se descuida dos momentos de ação típicas de aventuras de super-heróis de quadrinhos.

    A ação do filme é frenética, e Watts resgata boa parte dos melhores momentos do herói na grande tela, inclusive emulando cenas clássicas dos filmes de Marc Webb e Sam Raimi. As lutas são ótimas, sobretudo o embate contra o Dr. Octopus de Alfred Molina. Os efeitos em computação gráfica também tiveram um upgrade, tanto nas lutas quanto no rejuvenescimento do elenco veterano de vilões que, aliás, são tão presentes aqui que faz perguntar se a intenção não era a de referenciar o malfadado filme do Sexteto Sinistro que jamais saiu do papel.

    A produção trabalhou bastante para guardar seus segredos, tanto que na exibição para imprensa havia um pedido do elenco para que não houvesse spoilers de modo algum. Ainda assim, mesmo sem falar dos rumos que o roteiro toma, é possível afirmar que a versão amaldiçoada do herói está bastante presente, assim como o fardo de carregar o mundo de responsabilidades em suas costas. Em vários pontos o desempenho dramático de Holland é exigido, e ele simplesmente não decepciona. Outras figuras como Zendaya e Marisa Tomei também tem grandes aparições e ajudam o protagonista a brilhar, certamente seu papel não seria tão elogiado se ambas não estivessem tão afiadas quanto ele.

    Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa é de fato um filme que busca romper com o céu de brigadeiro que ocorria nas aventuras dessa versão do Aranha. Logicamente, ainda existem algumas conveniências e pieguices, algo bastante recorrente em suas histórias em quadrinhos. De qualquer modo, finalmente a essência de quem é Peter Parker é contemplada, e honra o ideal que Steve Ditko e Stan Lee pensaram para o seu personagem mais famoso.

  • Review | Homem-Aranha: Ação Sem Limites

    Review | Homem-Aranha: Ação Sem Limites

    Em 1999, após o término do desenho “clássico” do Homem-Aranha iniciado em 1994 e terminado um ano antes deste começar, surgia Homem-Aranha: Ação Sem Limites, um programa que muitos achavam que era continuação da outra versão mas que na verdade guardava poucas ou nenhuma semelhança com a encarnação anterior. Dessa vez o seriado era produzido por Avi Arad e Eric S. Rollman.

    A história dos treze episódios gira em torno da descoberta de um novo planeta, feita pelo coronel John Jameson, filho de J. Jonah Jameson, chamado Contra Terra. No meio da cobertura de imprensa do anúncio desta descoberta, Peter Parker observa Venom e Carnificina subindo no ônibus espacial de John, e ao tentar impedi-los é jogado para fora da nave. Já no começo, e ainda com uniforme clássico, se percebe que o predomínio visual do programa é de cores mais escuras.

    Depois de encomendar um novo uniforme com o Senhor Fantástico, que reúne milhões de robôs microscópicos, para criar defesas contra os simbiontes, o herói acaba indo para a contra-terra acidentalmente, e lá a maior parte dos humanoides tem características animais. A chance de explorar uma historia mais clássica, com o herói utilizando um uniforme totalmente novo é desperdiçada, para basicamente colocar Parker em mil desventuras, onde serve de figura paterna para um garoto órfão cuja mãe é bonita – e que quase vira seu par apesar de Peter ser casado com Mary Jane – além de ter de lidar com versões estranhas de personagens clássicos.

    Os bestiais mostrados aqui tem ligação com um ser chamado Alto Evolucionário, e de certa forma escravizam e oprimem as pessoas comuns. John Jameson virou líder da resistência humana, mas a realidade é que mesmo entre os bestiais há quem não seja cruel, e o seriado ao invés de explorar essa dualidade, opta por tramas bobas e péssimas cenas de lutas.

    O programa foi um pouco popular no Brasil, mas não tanto quando a série animada completamente ignorada nesta versão e muito se fala que ela foi descontinuada graças a negociação da Marvel com a Sony para executar o Homem-Aranha de Sam Raimi no cinema, que também teria Arad como seu produtor, mas a realidade é que essa animação conseguia ser ainda menos memorável que a outra.

    Haviam bons momentos do desenho, o design dos personagens era mais bonito, os humanoides eram mais esguios e até o uso de computação gráfica era mais acertado, mas o roteiro conseguia ser muito pior até que Homem-Aranha e Seus Amigos, o programa que tinha o cabeça de teia, Flama e Homem de Gelo vivendo juntos. Muito se fala que esse poderia ser uma versão animada do Homem-Aranha 2099, que tinha certa popularidade desde sua criação, mas fora a questão do ambiente pseudo futurista, não há muitas semelhanças com Miguel O’Hara, especialmente no que tange as referencias ao cyber punk e distopias.

    Homem-Aranha: Ação Sem Limites tinha tudo para ser algo grandioso, bem elaborado e cheio de carisma, tinha o personagem heroico em alta e apelava para tudo que fazia sucesso na época, em especial os simbiontes – que aqui eram chamados sinóticos – mas pagou o preço por se basear demais no visual e caráter típico da Image Comics, com uma animação carregada de ação e sem nenhum subtexto mínimo, sem sequer estabelecer alguma ligação emocional dos personagens secundários com o espectador. Para fazer algo tão diferente era preciso tempo, mas esta não conseguiu convencer os produtores a renovarem o programa, muito por conta da popularidade de animes da época como Pokémon e Digimon, ainda assim, poderiam ter feito ao menos uma mini temporada para saciar a curiosidade do público, e que poderia ou não envolver um crossover com o Peter Parker de Homem Aranha de 1994, que infelizmente jamais ocorreu, certamente isso daria um novo sentido a esta versão.

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  • Review | Homem-Aranha

    Review | Homem-Aranha

    Nas manhãs da Globo dois desenhos animados se destacavam bastante, os X-Men (que inclusive fizeram boa parte da garotada finalmente pronunciar corretamente o nome do grupo) e claro, Homem-Aranha. O segundo programa, originalmente chamado de Spider-Man: The Animated Series também foi veiculado aqui no Brasil pelo canal da TV a cabo Fox Kids, emissora que passava boa parte do conteúdo de animações com heróis e seus produtores Avi Arad e Stan Lee, que inclusive, faz uma bela participação ao final da série.

    O programa teve cinco temporadas, e um total de 65 episódios, e mostra Peter Parker como um sujeito já adulto, que trabalha para o Clarim Diário tirando fotos mas também se dedica demais aos estudos, tanto que ele auxilia sua amiga Felicia Hardy com questões ligadas a ciências, ajudando ela no curso da faculdade que não fica exatamente claro de qual curso se trata.

    O traço da animação era feio na maior parte do tempo,os personagens era  em sua maioria extremamente fortes, fazendo pensar que nessa versão todos eram marombeiros e tinham costume de malhar bastante. A abertura tinha alguns elementos em 3d – além é claro da música de Joe Perry, guitarrista do Aerosmith – que permeavam também algumas das cenas do programa e sua utilização era um bocado gratuita, só ocorria nas cenas em que o aracnídeo se balançava pelos prédios, e parecia só ser feita porque os produtores podiam fazer.

    Ter tantos episódios ao menos ajudou em uma coisa, boa parte dos vilões do Homem Aranha foram mostrados no programa, tal qual ocorreu em uma de suas concorrentes, Batman A Série Animada, mas diferente do desenho produzido por Bruce W. Timm, esse tinha participações meio gratuitas. A primeira temporada começa mostrando o drama do Lagarto, o professor Curt Connors que se submete a auto experimentos para recuperar seu braço, transformando-se então em um monstro. A condição de vilão trágico aliás era um clichê bem explorado nos episódios e era lugar comum boa parte desses personagens que viraram malignos contra sua vontade serem manipulados por alguns dos chefões do crime, sendo o principal deles o Rei do Crime Wilson Fisk, mas também o Cabeleira de Prata e o Cabeça de Martelo, esse ultimo o menos explorado deles.

    Antes terminar  esse primeiro arco, é mostrada a roupa alienígena, trazida por J. Johnah Jameson Jr – o filho do patrão de Peter, J. Johah Jameson que obviamente sempre tenta incriminar o Homem Aranha –  com sua nave de astronauta que aterrissa na Terra de maneira brusca, aliás, nenhuma versão áudio visual do vilão simbionte alienígena que se une a Eddie Brock foi tão bem construída quanto essa, incluindo aí o filme recente Venom de Ruben Fleischer. Apesar do programa não ser profundo, há muitos acertos, uma pena é que logo depois de ter esses bons momentos onde Venom é assustador, se desenvolve um mini arco com o Duende Macabro, o que é estranho, pois ele não era exatamente popular nas Hqs, além de se dar uma enorme importância ao transmorfo Camaleão, talvez como eco  da Guerra Fria que havia acabado há pouco, pois nas revistas ele também sempre foi um vilão de segundo escalão.

    Na segunda temporada há a menção ao Sexteto Sinistro – aqui chamado de Os Seis Traiçoeiros – o grupo que quase ganhou um filme da Sony após O Espetacular Homem Aranha 2: A Ameaça de Electro, mas o foco emocional claramente é maior no Homem Hídrico – no desenho era chamado de Hydro-Man, a dublagem cansava de colocar os nomes dos personagens em inglês – que aqui, é um ex-namorado de Mary Jane Watson e que trava com Peter a preferência da ruiva que é vizinha da Tia May. Apesar de ser extremamente infantil, boa parte do romance de Peter e Mary Jane é bem explorado e construído, as idas e vindas do casal fazem sentido e são bem fieis a fase clássica das historias de Steve Ditko e Stan Lee.

    Também há um crossover com os mutantes dos X-Men e que aqui no Brasil teve uma dublagem esdrúxula, onde chamavam o Wolverine de Lobão, aliás, a dublagem no Brasil era repleta de pérolas (Demolidor era Atrevido, Justiceiro foi Punisher mas também era chamado de Vingador em alguns episódios) e até havia um charme nisso, mas a parte mais importante de fato nesse segundo tomo é a trágica historia do vampiro de Morbius, o ex-namorado europeu de Felicia, e é a partir da queda dele e do resgate do passado de seu pai que a moça decide se tornar a Gata Negra. Nesse período também aparece o Blade, antes até do filme com Wesley Snipes como caçador de Vampiros, aliás há um bom número de personagens clássicos da Marvel que aparecem nessa e em outras temporadas, como Doutor Estranho, Mordo e Dormmammu, Demolidor, Justiceiro etc.

    No terceiro ano aparece o Duende Verde Norman Osborn, que nos quadrinhos era o duende original e depois viriam os outros. Nesse ponto a parte mais emocional mora na relação dúbia de Peter com Harry Osborn que no material original eram muito amigos, mas que aqui claramente rivalizam mais do que tem amizade – em Homem-Aranha de Sam Raimi isso é muito melhor trabalhado, Tobey Maguire e James Franco parecem de fato parceiros, aqui nem tanto. Há também o retorno de Venom também, basicamente para explorar um novo plot, envolvendo sua cria, Carnificina. Nessa época a luta entre simbiontes era muito popular, não só nas revistas, mas também nos vídeo games, pois perto daquela época em 1994 o Maximum Carnage era extremamente consumido, sendo uma febre no Brasil sobretudo, por conta do porte do jogo Beat up para Super Nintendo e Mega Drive.

    Se nota que a serie é sempre lembrada por conta dos eventos e acontecimentos externos a ela, por conta de um jogo popular, dos quadrinhos que eram igualmente populares, ou mesmo os brinquedos derivados da série, que aliás eram muito bem feitos para época e também monopolizavam as vendas de natal, dia das crianças e demais épocas festivas. Batman – TAS também tinha uma quantidade de produtos enormes, jogos, bonecos, lancheiras, mas o texto por trás das lutas entre heróis e vilões tinham um projeto mais grandioso, e introduziram elementos que transcenderam a mídia, a Arlequina se tornou um bom personagem após isso, a versão do Senhor Frio do desenho é a definitiva, já o roteiro de Spider Man – TAS era bem elementar e básico, eram lutas meio bobas e motivações fracas de personagens e vilões com um ou outro momento mais inspirado.

    A quarta temporada é talvez a mais fraca e quase indigna de lembranças e na ultima temporada, veiculada em 1997 e 1998, e o roteiro brinca de adaptar Guerras Secretas, claro, de uma maneira um bocado diferente, reunindo heróis da várias eras em lutas bem genéricas. Os últimos dois episódios mostram a Guerra dos Aranhas, envolvendo a Madame Teia (que era uma personagem bem misteriosa) reunindo várias versões do aracnídeo, incluindo um que utilizava os tentáculos de Octopus (sendo uma bela coincidência se comparar este com o Homem-Aranha Superior) semelhante ao que foi feito mais tarde, nos quadrinhos em 2014 com o Aranhaverso e no filme da Sony de 2018, Homem Aranha no Aranhaverso. Apesar da animação aqui ser ainda mais porca que no início o final de séria animada do Homem Aranha deixou saudades, e pontas soltas sobre quais os rumos que os produtores queriam levar o programa. Para muitos esse foi o primeiro contato com o amigão da vizinhança, ainda mais para quem era criança nos anos noventa e por mais que a serie não traduzisse maravilhosamente os textos que Ditko, Lee, John Romita e tantos outros artistas traziam nas historias clássicas do Aranha, ainda havia algo aqui, um charme que passava por cima até dos gráficos feios e mal pensados, afinal, havia alguma fidelidade ao menos a mitologia do herói, ainda que perdesse em narrativa para a serie do Batman e em temática igualitária para X-Men.

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  • Resenha | Biblioteca Histórica Marvel: Demolidor – Volume 1

    Resenha | Biblioteca Histórica Marvel: Demolidor – Volume 1

    Demolidor - Biblioteca Histórica Marvel

    Em abril de 1964, o mercado editorial de quadrinhos americano ainda mantinha-se aquecido com revistas recém-lançadas pela Marvel Comics e um universo novo com grandes personagens criadas por Stan Lee. A estreia de Quarteto Fantástico ocorrera três anos antes e, desde então, novas criações surgiam anualmente em publicações da Casa das Ideias, apresentando heróis mundialmente canônicos.

    Lançado no país em 2001, Biblioteca Histórica Marvel: Demolidor – Volume 1 é a única edição dedicada ao Homem Sem Medo dentre os poucos volumes da “Biblioteca”, lançados no Brasil pela Panini Comics com base na incrível e longa série original que compila o início criativo da Marvel Comics. Nesta edição em capa dura, os 11 primeiros números de Demolidor fundamentam a origem de um herói que, mesmo nunca citado no panteão da Marvel, protagoniza uma das obras mais coesas dos quadrinhos, com Stan Lee, Frank Miller, Kevin Smith, Brian Michael Bendis e Ed Brubaker entre roteiristas que passaram pelo título e que comprovam essa afirmação.

    Em um prefácio assinado por Lee, o autor analisa a criação demonstrando carinho pela personagem e recepção positiva dos leitores. A composição de Mathew Murdock transcendia as origens criadas anteriormente nas quais personagens ordinários adquiriam poderes sobre-humanos. Ao impedir um atropelamento de um senhor cego, Murdock perde a visão e descobre sentidos mais apurados devido ao seu acidente. Um drama que potencializa sua força heroica fazendo da personagem um representante de bravura diante de uma adversidade.

    Lee, The Man, demonstra habilidade narrativa ao fundamentar com cuidado a origem do herói. Na época, cada edição apresentava uma história fechada, denotando uma economia pontual para a trama ser desenvolvida e finalizada em aproximadamente 25 páginas. Em comparação com histórias atuais que se baseiam em arcos narrativos longos e, portanto, com um número maior de páginas, é significativo o uso da maior quantidade de informações condensadas em uma única revista.

    A edição inicial é um desses impecáveis trabalhos de narrativa, inserindo as tensões fundamentais para se compreender a personagem. A infância de Murdock em um bairro difícil; a admiração pelo pai lutador rumo à decadência e o caráter do garoto ao lidar com adversidades; o apuro técnico para compreender melhor os sentidos aguçados; o luto pelo pai; o desejo de justiça. O autor sempre caracteriza personagens capazes de lidar com os obstáculos da vida, dando-lhes um senso de dignidade que potencializa o caráter heroico. Além do ritmo narrativo, o roteirista possui criatividade apurada, justificando as peripécias de suas personagens com situações plausíveis que, mesmo exageradas, são aceitas pelo leitor sem questionamento.

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    Nas histórias, há um narrador-observador que apresenta cada acontecimento produzindo mais uma linha narrativa, ao mesmo tempo que balões de pensamento dão vazão ao interior das personagens. Atualmente, a pluralidade narrativa foi quase extinta, prevalecendo narradores-personagens ou observadores, apenas. Lee compõe um narrador empolgado, dialogando com o público com entusiasmo e muitos adjetivos. O estilo aumenta a credibilidade de suas tramas e reveste-as de um tom épico.

    Cada história apresenta uma aventura isolada, consagrando a ação enquanto oferece dimensão humana às personagens, com destaque ao possível triângulo amoroso entre Murdock, o parceiro advogado Foggy Nelson e a secretária Karen Page. A relação inicial dos três permanece na possibilidade e na tensão natural de quem não revela os sentimentos.

    Nesta onze edições, Demolidor passa pelo traço de três desenhistas, Bill Everett, Joe Orlando e Wally Wood, que permaneceram como convidados até a série encontrar um ilustrador oficial, Bob Powell, cuja primeira modificação foi adicionar outro D no peito do uniforme, compondo o conhecido DD entrelaçado dando destaque ao Daredevil no original, algo que no país ganhou uma interessante versão do Demolidor mantendo a força das consoantes. Além disso, em uma edição após a estreia de Powell, o desenhista e roteirista modificam o uniforme para o tradicional manto vermelho.

    Dentre as evoluções da personagem, nota-se como os quadrinhos brincavam com muitas evoluções tecnológicas que aprimoram o herói fisicamente e lhe dão diversos aparatos que o ajudam. Além da bengala que inicialmente funciona como uma arma para a luta, Murdock insere um microfone no objeto, posteriormente um rádio para escuta policial, além de outros recursos que fazem parte da mítica heroica, equilibrando a trama em conveniências que extrapolam a realidade mas são plausíveis graças à força de Stan Lee como criador e roteirista.

    É notável a evolução narrativa dos quadrinhos da época em comparação com obras anteriores, como nos primórdios de Batman e Superman. Nesta década, já havia a percepção de que quadrinhos significavam tanto uma narrativa imagética quanto escrita. Sendo assim, imagem e texto são alinhados com maior proximidade, resultando em um impressionante ritmo narrativo. Trabalhando sensações primárias como tensão, ação e adrenalina aventureira, as primeiras histórias do Demolidor entregam um grande personagem, equilibrado entre a luta com inimigos e tensões internas do alterego advogado, sedimentando bases que seriam levadas a outros patamares por roteiristas e desenhistas futuros.

    Demolidor - n 10