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  • Crítica | Homem-Aranha 3

    Crítica | Homem-Aranha 3

    Homem-Aranha 3 fecha a trilogia de Sam Raimi sobre o herói tangível e cheio de defeitos criado por Steve Ditko e Stan Lee, mas não sem trazer consigo uma infinidade de reclamações sobre os rumos que a franquia tomou. Na trama, Peter Parker (Tobey Maguire) tem de enfrentar uma crise na relação com Mary Jane (Kirsten Dunst), além de três vilões diferentes.

    No início do filme há uma clara diferença desse para Homem-Aranha 2, o recapitular das aventuras anteriores se dá com arte de Alex Ross e aqui estão apenas as cenas conduzidas por Raimi, sem qualquer tratamento de imagem, como um resumo de capítulos anteriores de uma série barata, o cuidado com a cinessérie mudou e, além disso, se nota uma diferença no tema orquestrado, com tons e acordes diferentes, já que Danny Elfman dá lugar a  Christopher Young na trilha sonora. Esse tom obscuro deveria passar para a abordagem da personalidade de Peter, mas isso não ocorre, necessariamente.

     

    Homem-Aranha 3 é muitas vezes injustamente  criticado, no entanto, uma reclamação justa é o comportamento que o personagem de Maguire tem no início do filme, antes mesmo de ter contato com o “alienígena” que daria origem a Venom. Ele é impulsivo, se deslumbra com a aceitação que o povo lhe confere finalmente, após dois filmes com histórias conturbadas, e age de maneira brutalmente insensível, em especial com MJ. A vida pessoal de Peter finalmente se ajeita, ele está feliz, tanto como Aranha quanto Peter Parker, mas como se trata de um personagem trágico (aos menos aos olhos do diretor), não há como seguir assim por tanto tempo.

    Raimi é um cineasta muito fiel às suas raízes, mesmo quando faz obras mais voltadas para o público mainstream. Desse modo, é natural que existam cenas que remetam ao cinema de horror. E aqui a manifestação se dá no entorno do Homem Areia, tanto na transformação que Flint Marko (Thomas Haden Church) sofre, quanto nos momentos finais. Além de ter um visual arrebatador em ambos momentos, há significados que remetem aos monstros clássicos, em especial na sua gênese. Marko tem características da criatura de Frankenstein de Boris Karloff, e certamente essa referência seria melhor encaixada caso o roteiro fosse mais sólido, pois o evento que transforma o personagem é completamente avulso à trama, sem repercussão antes ou depois do ocorrido.

    As tramas secundárias também variam de qualidade. James Franco está bastante canastrão, não consegue dar camadas ao seu personagem, sua motivação não faz sentido por não ter tempo de tela, sem falar que expõe um dos defeitos do filme, os efeitos visuais primários. Dunst está muito bem, consegue trabalhar bem com o que é lhe dado, mesmo sendo pouco. Já a introdução dos personagens novos, como Gwen (Bryce Dallas Howard), Eddie Brock (Topher Grace) e o Capitão Stacy (James Cromwell) é gratuita ao extremo. Não há desenvolvimento mínimo de nenhum deles, e até os coadjuvantes do Clarim Diário parecem mais sólidos e profundos que o trio, fato que gera até incongruências, já que o J.J. Jameson de J.K. Simmons não sabe quem é Brock, mesmo com uma citação a ele em Homem-Aranha. O personagem é tão irrelevante para Raimi que a direção deliberadamente não o leva a sério.

    Entre as reclamações mais comuns ao filme está a personalidade de Peter modificada pelo simbionte, que muitos atribuíam ao comportamento dos fãs de emocore. Ora, na época, os meninos comuns que usavam esse visual diferia de Peter. Eram introspectivos, gostavam de parecer sombrios, já Parker é o oposto disso, espalhafatoso, inconsequente e age até como um bully em alguns momentos, com uma personalidade tão baixa quanto a do seu nêmese escolar Flash Thompson. Ele claramente não era Emo, só pegou emprestado desse estilo o cabelo e a maquiagem um pouco mais forte, comparar o Andrew Garfield em O Espetacular Homem-Aranha com o estereótipo do hipster até faz algum sentido, mas o Peter de Tobey de emo tinha apenas o visual.

    Parker parece governado unicamente pelo id (parte da mente que quer gratificação imediata de todos os seus desejos e necessidades, segundo o conceito freudiano), e dito assim, esses momentos não parecem tão erráticos, especialmente a cena “musical”, já que é o símbolo maior da breguice que Raimi sempre impôs a sua versão do Cabeça de Teia.

    A reunião dos antagonistas não tem nenhuma força, é um pretexto pobre que está lá para justificar uma ação entre amigos com Harry e Peter juntando as forças, que só não é mais vergonhosa do que o momento de retorno do uniforme clássico, ao lado de uma bandeira dos EUA tremulando, que faz automaticamente o povo esquecer dos maus atos do Aranha. Além dessas questões, boa parte da imaturidade de Peter também não cabe, já que ele aprendeu ou deveria ter aprendido com seus erros do passado, e justificar esses atos pelo simbionte também não faz sentido, visto que sua personalidade já havia se transformado antes mesmo dele utiliza-lo.

    Raimi saiu reclamando de interferência dos estúdios, seu desejo seria explorar personagens como o Abutre e a Gata Negra, mas por influência de Avi Arad, teve que fazer o filme com Venom. Desse modo,  Homem-Aranha 4 previsto para 2011 foi abortado, assim como uma segunda trilogia. Ainda assim Homem-Aranha 3 parece mais com o ideal de Ditko e Lee, por ser senhor de sua própria história e seguir dando camadas trágicas, mas humanas ao personagem. Peter segue falho, tolo, mas capaz de se sacrificar e tentar evoluir, mesmo que a mão invisível do roteiro o faça agir como alguém que não digeriu bem seus problemas.

  • Crítica | Rampage: Destruição Total

    Crítica | Rampage: Destruição Total

    Em 2011, a carreira de Dwayne “The Rock” Johnson transpôs mais um degrau de sucesso. Ao participar do quinto filme da franquia Velozes e Furiosos, o ex-lutador profissional deu vazão ao seu carisma demonstrando um acertado timming cômico e um porte físico propício aos filmes de ação. Seu personagem em Velozes trouxe novidade a franquia; no ano seguinte defendeu com qualidade a aventura Viagem 2: A Ilha Misteriosa e, recentemente, Terremoto: A Falha de San Andreas e Jumanji: Bem-Vindo a Selva demonstram como o ator representa bem o mesmo papel de sempre.

    Retomando pela terceira vez a parceria com o diretor Brad Peyton (responsável por Viagem 2 e Terremoto), Rampage: Destruição Total se baseia na franquia de jogos iniciada em 1986 e tinha a intenção de quebrar a antiga maldição de filmes baseados em jogos, um dilema que o próprio ator viveu na adaptação de Doom. Um dos principais argumentos que dificultam a adaptação de games é a ausência de uma boa narrativa. No filme o absurdo conduz a trama. Um fiapo narrativo sobre uma empresa sem escrúpulos realizando experimento genéticos que dão errado, transformando animais em monstros gigantescos que destroem tudo em seu caminho.

    A parte inicial da produção estabelece a amizade entre o primatologista David Okoye (The Rock) e o gorila George, um animal que está em seus cuidados desde a infância, quando foi resgatado. Este início não apresenta grande destaque ao ator como um personagem heroico, mas como um homem comum trabalhando naquilo que gosta. Se em Terremoto a ação se desenvolve logo no início, aqui o enfoque inicial é um breve arco dramático que simboliza a amizade entre Okoye e o gorila, ao mesmo tempo em que observamos as ações inescrupulosas da empresa Energyne, responsável pela criação e infecção do patogênico Rampage.

    Em cena, tudo parece estruturado para ser simples, sem nenhum destaque além de uma diversão boba. Os vilões são propositadamente caricatos, refletindo personagens semelhantes da década de 80. A inclusão de outros personagens, como o agente do governo interpretado por Jeffrey Dean Morgan se destaca pelas frases de efeito. E os heróis não buscam benefício próprio, apenas evitar o caos.

    Como o mote da trama tem como centro as esperadas batalhas entre os experimentos genéticos, o longa se estende em demasia em seu início. Ganha eficiência quando, finalmente, as três feras estão no mesmo local, destruindo grande parte de Chicago, entregando cenas exageradas, divertidas e bem compostas pelos efeitos especiais. The Rock está visivelmente a vontade dando vazão a seu costumeiro personagem, um exército de um homem só que não tem nenhum medo de continuar lutando mesmo com monstros dez vezes maior do que o  brucutu.

    Ao não se levar a sério, Rampage: Destruição Total funciona como uma boa diversão, reconhecendo sua trama boba e enfocando seus esforços em agradar o público fiel de filmes descerebrados. Além de quebrar a maldição dos filmes de jogos, com uma arrecadação de mais de 280 milhões ao redor do mundo, apresenta uma diversão descompromissada que mantém o ator como um astro carismático, mesmo interpretando o mesmo – e divertido – papel.

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  • True Blood: O Amargo Regresso aos Bons Tempos

    True Blood: O Amargo Regresso aos Bons Tempos

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    Após as interessantíssimas primeiras temporadas, que faziam um belo e renovado comentário social a respeito do racismo e de como o sul dos Estados Unidos  no estado da Luisiana, na fictícia cidade de Bon Temps  lida com tais questões, True Blood deveria chegar ao seu final. O remate foi muito devido à necessidade de coisas novas, de novos embates e discussões, e a quantidade de temas diversificados já havia se esgotado lá pelo quarto ano – os mais puristas dirão que foi no terceiro.

    Toda vez que uma nova temporada se aproximava, o criador Allan Ball tinha que sentar e falar qual seria o plot que viria a seguir, baseando-se nos dramas mostrados nos livros da série de Charlaine Harris, mas sem se apegar muito ao texto original. No entanto, a narrativa de Ball bateu em um muro sólido de concreto, inegavelmente; o momento de parar era clamado, já que não dava mais para evitar o estrago em que o show se instaurou. O padrão televisivo do canal HBO tinha um nome a zelar, e há uma tradição em dar mais atenção à produção de um grande número de indicações a premiações do que à quantidade de pessoas capazes de digerir suas histórias.

    Sookie Stackhouse (Anna Paquin) era uma menina jovem, com toda a vida pela frente, mas que tinha uma habilidade especial: desde pequena conseguia ler a mente das pessoas. Um sujeito mal encarado, mas de aparência bela, se aproxima da moça, escondendo uma intenção escusa, mas que é diluída pela paixão. Seu nome é Bill Compton (Stephen Moyer), um vampiro secular, que, além de ser o primeiro amor da protagonista, ainda abre uma gama de polêmicas e controvérsias, já que, neste universo, os vampiros “saíram do armário” graças à fabricação do Tru Blod, uma bebida quente que contém os nutrientes necessários para a sobrevivência desses seres. O modo como a sociedade “humana” vê os vampiros mostra paralelos interessantes, que vão desde referências à discriminação racial até a questão da orientação sexual e afins. A sexualidade, aliás, é um tema perene, que obriga a audiência a assistir a diversas manifestações e interações lascivas e libertinas sem qualquer pudor.

    Só por isso, True Blood já seria interessante, mas algo se perdeu no caminho. Na penúltima temporada, a trama da Deusa Lilith é explorada, mostrando que Bill bebeu o seu sangue e estaria embevecido pela vontade de trucidar tudo e todos. A dignidade dentro do roteiro é completamente deixada de lado; as sequências de ação são tão toscas que fica difícil associá-las com os primeiros três anos do seriado. Mesmo ignorando os efeitos especiais, dignos de clássicos da Asylum e as tramas estilo Power Rangers, ainda sobram um milhão de motivos para achincalhar o show.

    Uma pena que a trama inicial de exploração dos preconceitos que habitava Luisiana seja deixada de lado para explorar a Autoridade, a instituição que está no topo da hierarquia dos vampiros. Tudo ruiu, e todo o quadro político dos sugadores de sangue, desconfigurado. Isto poderia obviamente ser bem explorado, já que emularia os momentos serenos de outrora, mas não é isto que ocorre.

    O uso excessivo de histórias paralelas apenas servem para enfraquecer a trama principal – não que isso não ocorresse anteriormente –  e também para mascarar a total falta de substância do argumento. Nem mesmo a dor dos personagens, que perderam entes queridos, é sentida: o roteiro não deixa espaço para o luto e para a superação das ausências. Tudo é muito rápido em relação às reações, e, curiosamente, o desenrolar dos plots é arrastado, como se houvesse pouco (ou nada) a contar. As boas ideias são esticadas para durarem doze episódios.

    As armadilhas soam falsas. As ameaças só acontecem quando são facilmente revertidas. Nenhuma ação amorosa que envolva o triângulo Bill, Sookie e Eric Northman (Alexander Skarsgård) é feito sem que haja tempo e espaço para tudo se reverter. Até os movimentos vaginais da fada são previsíveis, anunciados eras antes de ocorrerem. A eterna saída do estranho triângulo amoroso ganha mais um par, como já era de se esperar. Seria ele uma fada-macho. O estratagema piora quando é revelado que a loirinha é, na verdade, uma descendente direta da Fada-Rei – e por isso um vampiro milenar estaria atrás do sangue dela, e, por consequência, havia matado os seus pais anos antes. Sookie é a Escolhida, o arquétipo mais pobre da literatura moderna e que, de tão importante para toda a trama, é simplesmente ignorado após este ano.

    Paralelo a isto, Bill vai ganhando mais e mais poderes, podendo até prever o futuro. Logo, o governador da Luisiana declara guerra aos vampiros, retirando deles os deus direitos. Mesmo o que antes funcionava, agora é motivo para chacota. Os níveis de sutileza, que já eram baixos, praticamente inexistem neste momento. Mas nem essa questão de Lilith/Bill consegue influenciar nos outros dramas pessoais.

    Mesmo diante do iminente fim do mundo, ainda há espaço para as porcas batalhas pessoais de transmorfos, lobisomens, fadas, bruxas, macacos falantes, elfos, ogros, orcs, meta-humanos etc. Em determinado momento, até as regras básicas, inclusive até a mais rasa delas, das raças mágicas são deturpadas, sem qualquer cerimônia ou justificativa. É como se a inteligência do espectador não fosse realmente importante, como se qualquer balela pudesse ser engolida facilmente unicamente pela exibição de corpos belos e sarados.

    Em meio à temporada, levanta-se uma possibilidade de extinção dos vampiros através da disseminação de uma doença nova, que se vincularia à fórmula de Tru Blod e que seria comercializada, é claro. A ideia seria a de matá-los, num plano parecido com uma teoria da conspiração. Em dado momento, parece que tudo é permitido, e, após uma série de horríveis mortes, os vampiros conseguem, através de um retcon absurdo, andar à luz do dia. No momento de descanso, os seres noturnos jogam vôlei despreocupadamente, como se todo o apocalipse que os envolveu horas antes não tivesse existido.

    Um semestre inteiro se passa, e, após mais uma batalha entre bem e mal, uma nova cidade surge com configurações políticas das mais toscas, numa pretensa e utópica reunião politicamente correta – entre humanos, vampiros e demais criaturas mágicas  que visa estabelecer benefícios mútuos, combatendo os malvados sugadores de sangue contaminados pela Hepatite V. Como num final de novela, todas as pontas soltas de cunho emocional são amarradas. Tara (Rutina Wesley) faz as pazes com sua mãe; Bill escreve um livro sobre sua vida; Sam Merlotte (Sam Trammel) vira o prefeito da cidade e se une às duas igrejas para abraçar o povo; e Sookie passa a namorar Alcide (Joe Manganiello). Essa paz torna irrelevantes as motivações do fim do quinto ano e  o começo deste e transforma a boa premissa dos livros de Charlaine Harris em algo infantilizado.

    Em contraponto, a faceira paz é logo interrompida no primeiro episódio do ano sete, com um ataque voraz de vampiros infectados, com baixas enormes.  Logo de cara, personagens longevos morrem sem qualquer cerimônia e raptam tantos outros. Os vampiros que atacam Bon Temps já haviam feito o mesmo em outras cidades, drenando tudo delas, exterminando os humanos como se nada fossem. O estado de sítio se instala. Os humanos começam a agir desesperadamente, passando por cima de suas autoridades para se armarem, traçando um paralelo que pode ser interpretado como uma crítica a um povo que não tem governo, que age por instinto por não ter ninguém para instruí-lo, vociferando de modo anárquico, invalidando sua luta por direitos igualando os seus atos aos de um simples bárbaro.

    Incrível como mesmo em meio a toda essa problemática, permanece fácil notar o quão mal construídos foram alguns dos alicerces da trama. Como exemplo máximo está a relação de Sookie e Alcide. O tempo todo, o romance deles parece falso, já que não houve quase tempo nenhum em ambientar o par dentro do episódio.

    Na sexta temporada, cada um deles se preocupa em trepar com outras pessoas para, nos 20 minutos finais, arquitetar uma união que passaria pelo anúncio de letreiro onde está escrito “seis meses passados”. Ademais, ao menos o roteiro deste ano é um pouco mais elaborado, mais preocupado com a premissa prometida no começo da série, onde a disputa ideológica entre vampiros e humanos era a real tônica.

    Logo a hepatitve V deixa de ser um tabu que contamina somente os vampirões vilões da trama, mostrando os principais vampiros do seriado como infectados. Eric e Bill têm de conviver com a “verdadeira morte”, que finalmente se avizinha. O antigo viking vai em busca de Sarah Newlin (Anna Camp), buscando vingança pela disseminação do vírus, e em meio à investigação encontra membros da Yakuza, que também a querem morta. Para variar, a questão que a envolve mostra um novo sub-plot, que inviabiliza seu assassinato graças à possibilidade de cura para a doença. Logo um estratagema capitalista se forma, no intuito de comercializar um novo produto com a patente do soro e com a imagem de Northman estampando os comerciais.

    Diante da possibilidade de cura da hepatite, Bill prefere não lançar mão dela, penitenciando-se por seus pecados mais recentes, principalmente o de ter matado indivíduos de sua espécie. Sookie vê seus antigos pares se despedirem, primeiro o vampiro; depois Sam Merlotte, que decide se mudar de sua cidade natal, do seu antigo bar e de seu cargo político para criar sua filha que viria à luz logo. Unindo ao finado Alcide, já somavam três que se despediam dela.

    True Blood é basicamente sobre o despertar sexual de Sookie Stackhouse e o modo como a mulher se liberta. O fato de Sookie ser uma fada é uma metáfora para a feminilidade e o largo direito da mulher ser sexualmente ativa, e isso explica o motivo da personagem ter tantos parceiros sexuais ao longo dos sete anos de exibição. Porém, tanto os eventos sociais, que reúnem as diversas raças, quanto as inserções espirituais de Lafayette (Nelsan Ellis) permanecem abordadas de um modo infantil e boboca, com discursos e diálogos dignos da novela chapa branca exibida secularmente após as cinco da tarde na Vênus Platinada.

    A decisão de Bill em morrer é encarado por sua amada como um suicídio, mas na mente do vampiro é um retorno à sua antiga família, que está toda sepultada. Sua lápide vazia o incomoda, e a sensação de que a morte é certa o faz se reaproximar deles. No entanto, ele ainda pensa em Sookie, pedindo para que ela o mate com a sua energia vital, o que o livraria da condição de vivo e eximiria a moça da condição de fada, e de possível presa de outros vampiros. No último momento, o vampiro mais focado da série consegue inverter o papel de protagonista, uma vez que – finalmente – a manipulação plural de assuntos é deixada de lado para finalmente evidenciar apenas um tema. Deixa-se um espaço pequeno para todo o esquema esquizofrênico que pleiteou o seriado, a exemplo do casamento de Jéssica Hamby (Deborah Ann Woll) e Hoyt Fontenberry (Jim Parrack) que ocorre pela manhã – sim, uma das partes é um vampiro… – mas que, se comparado ao epitáfio de William Compton, não é nada. As características de folhetim novelesco prosseguem na essência do seriado.

    Nos momentos finais, Sookie Stackhouse consegue enfim se entender e aceita deu destino, seus poderes e dádivas como parte integrante de sua identidade, mas ainda assim não consegue convencer o homem que foi o seu primeiro a prosseguir vivendo. O fim dele não é melancólico. A morte é deveras grotesca e sanguinolenta, como um bom romance deve acabar.

    Claro que, logo após, acontece um epílogo com um salto grande no futuro. Eric Northman torna-se CEO da nova empresa New Blood, que explora o sangue de Sarah Newlin em ritmo industrial. Mas o vampiro ainda necessita de um clube como Fangtasia para chupar cada centavo das criaturas que querem usufruir da fonte máxima que era a ex-mulher do reverendo – curioso como a mesma Yakuza, que foi sabotada pelos vampiros, não mira seus olhos para o viking. Isso pouco importa…

    Do outro lado, mostram-se humanos que restaram da primeira temporada se reunindo, com suas famílias feitas, repletos de filhos, como um gigantesco clã – isso sem revelar quem seria o par de Sookie –, numa reunião vergonhosa e açucarada, sem dúvida um dos momentos mais patéticos da série, condizente, e muito, com todos os anos da produção.

    Infelizmente, o saldo final de True Blood está longe de ser positivo. A audiência do programa na HBO sempre foi alta, ainda que isso não seja necessariamente uma chancela de qualidade. De fato, a série de Alan Ball conseguiu em plena era Crepúsculo elevar o tema dos vampiros a algo além do aroma de virgindade e garotismo que predominava a saga de Meyer e companhia, já que a sexualidade foi a tônica do show, presente e regular em todos os seus anos de exibição.

    Entender que não haverá mais nenhuma criatura fantástica (diferente) adentrando a pequena cidade de Bon Temps, que não existirão outras orgias de cunho bi e pansexual, que não acontecerão mais qualquer bestialismo ou liberação erótica entre raças tão diversas, e que as aventuras dos personagens de Charlaine Harris não mais habitarão os domingos da emissora, que mudou o paradigma de se ver televisão, é algo ainda difícil de se acostumar. Mas para o fã mais seletivo de True Blood, o fim era necessário, antes que suas aventuras fossem mudadas a paragens mais distantes e nonsenses, como a Lua ou Marte.

    A nudez de Anna Paquin já não mais será uma constante.

  • Crítica | Sabotage

    Crítica | Sabotage

    Sabotage

    A ação desenfreada é notada logo nos primeiros segundos de filme, pouco após os créditos do estúdio. Uma situação de sequestro é aventada e assistida por John ‘Breacher’ Wharton, personagem do geriátrico astro de ação Arnold Schwarzenegger. Logo após o preâmbulo, uma ação impingida pelo esquadrão do DEA é executada, muito semelhante ao tom do segundo filme da franquia Os Mercenários, logicamente com um cunho muito menos galhofado. Sabotage é um legítimo tributo aos bem montados filmes de ação oitentistas, com uma dose de violência ainda mais evidente, graças a classificação etária elevada.

    Apesar de toda a construção do mundo comum que contemplaria mitologias semelhantes a Comando Para Matar e Cobra, as semelhanças são interrompidas, para dar lugar a uma trama um pouco mais séria. Na tal ação mostrada no começo há um roubo aos espólios do cartel, cuja soma excede dez milhões de dólares, e todo o grupo liderado por Breacher passa a ser suspeito, tendo os seus passos seguidos e monitorados por outros agentes da lei. Com o tempo, o caso é arquivado, e John é liberado para reunir seu esquadrão novamente, já que ninguém mais dentro da agência confiaria ou daria crédito a ele.

    A retomada é acompanhada de uma série de eventos suspeitos, em que os subalternos a Breacher vão sendo abatidos, como em uma “Queima de Arquivo“. A experiência de David Ayer em conduzir thrillers policiais o faz uma ótima escolha para conduzir o drama cheio de mistérios, conspirações, assassinatos e traições. A questão de mexer com cartéis de drogas já havia sido abordada em Dia de Treinamento, cujo roteiro era seu, assim como em Marcados Para Morrer, onde sua câmera na mão era o meio pelo qual contava sua história. Em Sabotage, o aspecto parece mais aprimorado, visto que ele usa a primeira pessoa para grafar algumas das sensações conflitantes dos personagens, como Paul Greengrass cansou de fazer na Trilogia Bourne.

    O personagem cujas nuances são mais verificadas pela câmera é a da investigadora Caroline Brentwood, vivida por Olivia Williams. Ela é a responsável pelo departamento de homicídios, por verificar a origem dos assassinatos ao grupo de federais. A investigadora é o alvo perfeito para a inserção do público na história, inclusive ao tomar noção das questões pessoais e de vingança que motivam Breacher.

    A questão é que, com o tempo, Caroline se vê em uma encruzilhada moral, entre ter de acreditar em John – já que ela, de maneira ingênua, se envolve emocionalmente com ele – ou dar prosseguimento a investigação da qual ele é um dos principais suspeitos. O roteiro de Skip Woods e Ayer consegue passar uma tensão interessante na troca de acusações entre os parceiros de ações, conseguindo bons momentos a despeito até das já esperadas atuações pífias de Sam Worthington, fazendo o ciumento e segundo em comando Monster.

    Não há qualquer complacência com o receptor, a fita inteira é violentíssima e completamente não condizente com o grande público, mesmo para o fã de filmes de ação do austríaco é necessário um pouco de estômago para tragar este Sabotage. A sanguinolência faz lembrar os filmes gore de terror, ou os espécimes de Quentin Tarantino e Takashi Miike, mas sem a capa de exagero irrealista típica da filmografia dos dois diretores. Todas as dilacerações são plenamente justificáveis dentro da lógica do filme, não existe qualquer pedido abusivo de suspensão de descrença.

    O peso dos anos denegriram o físico de Arnold, mas também o tornou um bocado mais afeito a passar através de suas expressões alguns sentimentos que antes não eram possíveis ver em suas participações. Seu papel permanece o de um homem duro e talhado pelo destino, com características de brucutu, mas ao analisar o seu rosto, nota-se uma carga escondida atrás do semblante fechado. Não há como esperar algo semelhante a Brando ou Pacino, mas nota-se que o papel encaixa bem em suas pretensões. As limitações dele servem à trama, a rigidez com que ele se move propicia um álibi perfeito, fazendo dele um improvável suspeito para quaisquer atos possivelmente ruins.

    Nos minutos finais o filme muda de gênero, fazendo crer que toda retórica mostrada antes era um despiste, um mcguffin para a questão maior, ligada à motivação do personagem principal. Toda a trajetória de John Wharton é muito bem construída, e é isso que faz com que o público compre a sua proposta e se afeiçoe a ele, claro, com a ajuda da face carismática de Schwarzenegger, mas sem abrir mão de uma condução de trama muito competente, como é a levada por David Ayer.

  • Crítica | Magic Mike

    Crítica | Magic Mike

    Magic Mike

    Steven Soderbergh tem utilizado a crise econômica dos EUA para abordar algumas de suas histórias, e dessa vez não é diferente. Assim como abordado anteriormente em Confissões de uma Garota de Programa, Soderbergh utiliza o submundo de um dos ramos do entretenimento adulto para sua análise da recessão econômica. Magic Mike transita por esse universo de maneira débil e nada subversivo, como poderia ter sido.

    Assim como em 2009, onde Soderbergh traz Sasha Grey, famosa atriz de filmes pornôs para ambientar sua história, agora em 2012 o diretor utiliza a mesma ideia, já que o protagonista do longa-metragem é Channing Tatum, ator em evidência no momento, mas que já teve de trabalhar como um stripper. Ambos os filmes acabam sendo, de certa forma, experiências reais desses atores, seja Grey ou Tatum.

    Na trama, acompanhamos a vida de Mike (Tatum), um sujeito perto dos seus trinta anos, que ganha a vida consertando telhados durante o dia, e a noite é uma das atrações de uma casa de stripper dirigida por Dallas (Matthew McConaughey). Em um de seus dias de trabalho como consertador de telhados ele conhece Adam (Alex Pettyfer), um jovem sem perspectivas que abandonou a faculdade e vive de favores com sua irmã enfermeira, Brooke (Cody Horn). Adam acaba descobrindo o trabalho noturno de Mike e logo ganha um lugar no show.

    O roteiro de Reid Carolin acerta em alguns momentos e erra em muitos. O filme segue uma estrutura digna de comédia romântica, diálogos terríveis e uma trama que se move do ponto A ao B sem nenhuma reviravolta e com uma previsibilidade que não deveria ser o caso de um material como esse. No entanto, no meio de soluções previsíveis, bobas e mal elaborados, o longa por nenhum momento soa enfadonho.

    No meio de personagens estereotipados, Channing Tatum revela uma maturidade interpretativa, principalmente quando está distante do seu trabalho como stripper, mantendo o controle do seu personagem sem se tornar um clichê. McConaughey também merece destaque entre o elenco, entregando um personagem egocêntrico, desconfiado e extremamente intenso em sua interpretação, muito longe de seus papéis nas dezenas de comédias românticas que tem feito, sendo provavelmente o ponto alto do longa metragem. O restante do elenco é bastante inexpressivo, beirando atuações sofríveis.

    A direção de Soderbergh utiliza uma montagem preguiçosa, intercalando sequências de atores em shows, dignas de videoclipes sem nenhuma originalidade, para cenas que não vão a lugar algum. Se mantendo dessa forma até o seu aguardado fim.

    O tema ousado de Magic Mike é extremamente mal aproveitado, e fica mais difícil de defendê-lo depois de obras como Boogie Nights, de Paul Thomas Anderson, por exemplo. Se isso ainda não fosse o bastante, o discurso do diretor sobre a recessão fica cada vez mais moralista e conservador à medida que o filme avança, o que não deixa de ser frustrante para alguém como o Soderbergh.