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  • Crítica | Homem-Aranha 3

    Crítica | Homem-Aranha 3

    Homem-Aranha 3 fecha a trilogia de Sam Raimi sobre o herói tangível e cheio de defeitos criado por Steve Ditko e Stan Lee, mas não sem trazer consigo uma infinidade de reclamações sobre os rumos que a franquia tomou. Na trama, Peter Parker (Tobey Maguire) tem de enfrentar uma crise na relação com Mary Jane (Kirsten Dunst), além de três vilões diferentes.

    No início do filme há uma clara diferença desse para Homem-Aranha 2, o recapitular das aventuras anteriores se dá com arte de Alex Ross e aqui estão apenas as cenas conduzidas por Raimi, sem qualquer tratamento de imagem, como um resumo de capítulos anteriores de uma série barata, o cuidado com a cinessérie mudou e, além disso, se nota uma diferença no tema orquestrado, com tons e acordes diferentes, já que Danny Elfman dá lugar a  Christopher Young na trilha sonora. Esse tom obscuro deveria passar para a abordagem da personalidade de Peter, mas isso não ocorre, necessariamente.

     

    Homem-Aranha 3 é muitas vezes injustamente  criticado, no entanto, uma reclamação justa é o comportamento que o personagem de Maguire tem no início do filme, antes mesmo de ter contato com o “alienígena” que daria origem a Venom. Ele é impulsivo, se deslumbra com a aceitação que o povo lhe confere finalmente, após dois filmes com histórias conturbadas, e age de maneira brutalmente insensível, em especial com MJ. A vida pessoal de Peter finalmente se ajeita, ele está feliz, tanto como Aranha quanto Peter Parker, mas como se trata de um personagem trágico (aos menos aos olhos do diretor), não há como seguir assim por tanto tempo.

    Raimi é um cineasta muito fiel às suas raízes, mesmo quando faz obras mais voltadas para o público mainstream. Desse modo, é natural que existam cenas que remetam ao cinema de horror. E aqui a manifestação se dá no entorno do Homem Areia, tanto na transformação que Flint Marko (Thomas Haden Church) sofre, quanto nos momentos finais. Além de ter um visual arrebatador em ambos momentos, há significados que remetem aos monstros clássicos, em especial na sua gênese. Marko tem características da criatura de Frankenstein de Boris Karloff, e certamente essa referência seria melhor encaixada caso o roteiro fosse mais sólido, pois o evento que transforma o personagem é completamente avulso à trama, sem repercussão antes ou depois do ocorrido.

    As tramas secundárias também variam de qualidade. James Franco está bastante canastrão, não consegue dar camadas ao seu personagem, sua motivação não faz sentido por não ter tempo de tela, sem falar que expõe um dos defeitos do filme, os efeitos visuais primários. Dunst está muito bem, consegue trabalhar bem com o que é lhe dado, mesmo sendo pouco. Já a introdução dos personagens novos, como Gwen (Bryce Dallas Howard), Eddie Brock (Topher Grace) e o Capitão Stacy (James Cromwell) é gratuita ao extremo. Não há desenvolvimento mínimo de nenhum deles, e até os coadjuvantes do Clarim Diário parecem mais sólidos e profundos que o trio, fato que gera até incongruências, já que o J.J. Jameson de J.K. Simmons não sabe quem é Brock, mesmo com uma citação a ele em Homem-Aranha. O personagem é tão irrelevante para Raimi que a direção deliberadamente não o leva a sério.

    Entre as reclamações mais comuns ao filme está a personalidade de Peter modificada pelo simbionte, que muitos atribuíam ao comportamento dos fãs de emocore. Ora, na época, os meninos comuns que usavam esse visual diferia de Peter. Eram introspectivos, gostavam de parecer sombrios, já Parker é o oposto disso, espalhafatoso, inconsequente e age até como um bully em alguns momentos, com uma personalidade tão baixa quanto a do seu nêmese escolar Flash Thompson. Ele claramente não era Emo, só pegou emprestado desse estilo o cabelo e a maquiagem um pouco mais forte, comparar o Andrew Garfield em O Espetacular Homem-Aranha com o estereótipo do hipster até faz algum sentido, mas o Peter de Tobey de emo tinha apenas o visual.

    Parker parece governado unicamente pelo id (parte da mente que quer gratificação imediata de todos os seus desejos e necessidades, segundo o conceito freudiano), e dito assim, esses momentos não parecem tão erráticos, especialmente a cena “musical”, já que é o símbolo maior da breguice que Raimi sempre impôs a sua versão do Cabeça de Teia.

    A reunião dos antagonistas não tem nenhuma força, é um pretexto pobre que está lá para justificar uma ação entre amigos com Harry e Peter juntando as forças, que só não é mais vergonhosa do que o momento de retorno do uniforme clássico, ao lado de uma bandeira dos EUA tremulando, que faz automaticamente o povo esquecer dos maus atos do Aranha. Além dessas questões, boa parte da imaturidade de Peter também não cabe, já que ele aprendeu ou deveria ter aprendido com seus erros do passado, e justificar esses atos pelo simbionte também não faz sentido, visto que sua personalidade já havia se transformado antes mesmo dele utiliza-lo.

    Raimi saiu reclamando de interferência dos estúdios, seu desejo seria explorar personagens como o Abutre e a Gata Negra, mas por influência de Avi Arad, teve que fazer o filme com Venom. Desse modo,  Homem-Aranha 4 previsto para 2011 foi abortado, assim como uma segunda trilogia. Ainda assim Homem-Aranha 3 parece mais com o ideal de Ditko e Lee, por ser senhor de sua própria história e seguir dando camadas trágicas, mas humanas ao personagem. Peter segue falho, tolo, mas capaz de se sacrificar e tentar evoluir, mesmo que a mão invisível do roteiro o faça agir como alguém que não digeriu bem seus problemas.

  • Review | Quarteto Fantástico

    Review | Quarteto Fantástico

    Nos anos noventa, alguns personagens da Marvel ganharam séries animadas. Entre as mais lembradas estão Homem Aranha e X-Men. Em 1994, mesmo ano em que teria sido lançado o Quarteto Fantástico produzido por Roger Corman, também chegava nas telinhas uma animação conhecida apenas como Quarteto Fantástico, de duas temporadas e 26 episódios.

    No piloto é mostrado os heróis lutando contra o Príncipe Submarino Namor e, logo, estão em um talk show que serve de pretexto para falarem sobre a origem de seus poderes. O quarteto é um grupo preocupado com o bem estar social e a filantropia, dedicam sua vida a angariar fundos para caridade e nisso texto é bastante pueril, remetendo a outros quadrinhos da Era de Ouro em que o maniqueísmo era a tônica, sem nenhuma nuance além do heroísmo puro e simples. A produção de Ron Friedman e Glenn Leopold tentava compensar a veiculação em regime de Syndication, ou seja, veiculada em redes de TV locais negociadas uma a uma, com uma universalidade textual. A produção executiva era assinada por Avi Arad, o mesmo que produz até hoje os filmes do Homem-Aranha e fez parte da maioria das animações da Marvel, além de Stan Lee e Rick Ungar.

    O grupo de coadjuvantes mostrados aqui é grande, com participação de vilões como Mestre dos Bonecos, Toupeira, Doutor Destino, Aniquilador e outros tantos, e aliados como Pantera Negra, Hulk, Inumanos etc. Há também uma forte participação de Galactus e do seu arauto, o Surfista Prateado. Alguns personagens tem boas introduções, outros simplesmente participam sem introdução, como o Motoqueiro Fantasma e os Vingadores.

    Os capítulos que exploram questões de space opera são de longe os mais interessantes, as origens dos personagens são bem exploradas, sobretudo a de Destino. Ao menos nisso o didatismo do roteiro é bem encaixado. Há uma mudança visual positiva na segunda temporada, com abertura nova e uniformes diferentes para os quatro. Ainda assim, há problemas nas transições animadas, com poucos frames ou trechos suprimidos.

    O Quarteto Fantástico apesar de simples, capta a atmosfera e aura dos personagens clássicos de maneira mais que certeira os filmes. Os roteiros são fracos e a animação consegue ser ainda mais paupérrima que a dos X-Men e Homem-Aranha, mas há bons momentos, uma pena que a trama dos Inumanos se resuma basicamente a idas e vindas da relação entre Johnny e Crystal e que o Surfista Prateado seja tão reduzido, ainda assim os clichês desse e de todos os personagens são bem desenvolvidos.

  • Review | The Avengers: United They Stand

    Review | The Avengers: United They Stand

    Em 1999, muito antes da iniciativa de Kevin Feige e companhia que resultariam em Os Vingadores de Joss Wheddon ,antes até Vingadores: Os Super Heróis Mais Poderosos da Terra houve uma animação seriada de apenas 13 episódios, chamada no Brasil de Vingadores: A Série, no original The Avengers: United They Stand, era distribuída pela Sabam, a mesma que empresa que produzia Mighty Morphin Power Rangers pelo mundo, e isso explica o fato de vários personagens usarem armaduras e mudarem de tamanho, como é típico nos Super Sentai que produziam as cenas originais de MMPR.

    A narrativa se inicia com Ultron, o vilão robótico, criando Visão, uma alternativa mecânica de vingança ao seu criador o doutor Henry Pym, o Homem Formiga líder do grupo de heróis. Já nesse inicio ele é mostrado como um sujeito inseguro com a posição de liderança, uma vez que essa era uma formação dos Vingadores da Costa Oeste (a série chegou a ser exibida no Brasil com esse nome também), composta por Vespa, Gavião Arqueiro, Magnum e Feiticeira Escarlate, entrando depois Visão e Falcão.

    A trinca Thor, Homem de Ferro e Capitão América é meramente citada, como fundadores da reunião de vigilantes. É lamentável que a adaptação do grupo (que nem era tão popular na época) sem os medalhões. Isso é até abordado no roteiro, com a Vespa falando que Hank é tão importante quanto eles, e isso até é verdade parcialmente, mas fato é que sozinho, ele não segura uma série. Os outros heróis são ainda menos populares, alguns seguem sem serem tão conhecidos até hoje, o motivo para essa escolha de elenco foi por conta da quase falência da Editora no final dos anos 90, quando venderam os direitos dos personagens para estúdios de cinema, só recuperados e bem aos poucos ao longo da década de 2000, portanto, venda de material de merchandising não iriam em totalidade para a Marvel, por isso Hulk, Capitão e cia deveriam aperecer esporadicamente.

    A série é repleta de momentos sentimentais, e seus personagens são pouco melhor desenvolvido que nas séries anteriores da editora. Os heróis tem fragilidades que o tornam bem humanos, mas isso não faz tanta diferença, já que a maioria deles mal tem poderes, exceção a Wanda. Os vilões por sua vez são bastante maniqueístas, Ultron, é o que mais aparece, e ele carrega uma mensagem incomoda de Complexo de Frankenstein, seu embate psicológico com Pym, seu criador contém um diálogo terrivelmente mal escrito, que evoca obviedades envolvendo a possível perfeição do vilão, que obviamente, não existe.

    A serie deixa algumas questões mal resolvidas, como a interferência do presidente na formação do grupo, ou a rápida aceitação de Visão entre os mocinhos a despeito do sumiço de Magnum. Ao menos há alguns sub textos que são sugeridos e que tem potencial, como a intimidade de Sam Wilson como homem preto que tem problemas reais e ligados a cor de sua pele. Por trás da produção estava Ron Myrick na direção, com produção executiva de Avi Arad, Stan Lee e Eric S. Rollman.  A serie foi cancelada com apenas uma temporada e boa parte do insucesso foi apostar em dinâmicas sentimentais e amorosas de personagens pouco conhecidos. Não há muito como se importar com um triangulo amoroso entre Wanda, Simon/Magnum e Visão, afinal, nenhum deles é super conhecido, e não é feito sequer uma introdução mais profunda dos dois primeiros personagens.

    Para o público se importar, ou o texto trabalha esses enlaces, ou se baseia em algo já lugar comum e nenhuma das alternativas é feita, talvez em eventuais episódios de uma nova temporada isso fosse exposto. A fala de Vespa no primeiro capítulo sobre a importância do Formiga se torna profética, mas no sentido inverso. É difícil não encarar Pym como um sujeito tolido por motivos comerciais, e essa versão dos Vingadores trazida como se fossem de fato os maiores heróis reunidos do universo (Marvel) é risível, e nem sequer os roteiros compensam essa sensação de fracasso. Nem as breves aparições de heróis  grandes resgata o programa da mediocridade, em  Os Vingadores: A Série não seha tão execrável quanto a maioria das pessoas afirma atualmente, sendo até superior visualmente a outras animações como X-Men e Homem-Aranha, e além disso termina com um gancho para segunda temporada, envolvendo os novos poderes e composição de Magnum e obviamente novas aventuras dos heróis protetores de Manhattan e que não terão um desfecho.

  • Review | Homem-Aranha: Ação Sem Limites

    Review | Homem-Aranha: Ação Sem Limites

    Em 1999, após o término do desenho “clássico” do Homem-Aranha iniciado em 1994 e terminado um ano antes deste começar, surgia Homem-Aranha: Ação Sem Limites, um programa que muitos achavam que era continuação da outra versão mas que na verdade guardava poucas ou nenhuma semelhança com a encarnação anterior. Dessa vez o seriado era produzido por Avi Arad e Eric S. Rollman.

    A história dos treze episódios gira em torno da descoberta de um novo planeta, feita pelo coronel John Jameson, filho de J. Jonah Jameson, chamado Contra Terra. No meio da cobertura de imprensa do anúncio desta descoberta, Peter Parker observa Venom e Carnificina subindo no ônibus espacial de John, e ao tentar impedi-los é jogado para fora da nave. Já no começo, e ainda com uniforme clássico, se percebe que o predomínio visual do programa é de cores mais escuras.

    Depois de encomendar um novo uniforme com o Senhor Fantástico, que reúne milhões de robôs microscópicos, para criar defesas contra os simbiontes, o herói acaba indo para a contra-terra acidentalmente, e lá a maior parte dos humanoides tem características animais. A chance de explorar uma historia mais clássica, com o herói utilizando um uniforme totalmente novo é desperdiçada, para basicamente colocar Parker em mil desventuras, onde serve de figura paterna para um garoto órfão cuja mãe é bonita – e que quase vira seu par apesar de Peter ser casado com Mary Jane – além de ter de lidar com versões estranhas de personagens clássicos.

    Os bestiais mostrados aqui tem ligação com um ser chamado Alto Evolucionário, e de certa forma escravizam e oprimem as pessoas comuns. John Jameson virou líder da resistência humana, mas a realidade é que mesmo entre os bestiais há quem não seja cruel, e o seriado ao invés de explorar essa dualidade, opta por tramas bobas e péssimas cenas de lutas.

    O programa foi um pouco popular no Brasil, mas não tanto quando a série animada completamente ignorada nesta versão e muito se fala que ela foi descontinuada graças a negociação da Marvel com a Sony para executar o Homem-Aranha de Sam Raimi no cinema, que também teria Arad como seu produtor, mas a realidade é que essa animação conseguia ser ainda menos memorável que a outra.

    Haviam bons momentos do desenho, o design dos personagens era mais bonito, os humanoides eram mais esguios e até o uso de computação gráfica era mais acertado, mas o roteiro conseguia ser muito pior até que Homem-Aranha e Seus Amigos, o programa que tinha o cabeça de teia, Flama e Homem de Gelo vivendo juntos. Muito se fala que esse poderia ser uma versão animada do Homem-Aranha 2099, que tinha certa popularidade desde sua criação, mas fora a questão do ambiente pseudo futurista, não há muitas semelhanças com Miguel O’Hara, especialmente no que tange as referencias ao cyber punk e distopias.

    Homem-Aranha: Ação Sem Limites tinha tudo para ser algo grandioso, bem elaborado e cheio de carisma, tinha o personagem heroico em alta e apelava para tudo que fazia sucesso na época, em especial os simbiontes – que aqui eram chamados sinóticos – mas pagou o preço por se basear demais no visual e caráter típico da Image Comics, com uma animação carregada de ação e sem nenhum subtexto mínimo, sem sequer estabelecer alguma ligação emocional dos personagens secundários com o espectador. Para fazer algo tão diferente era preciso tempo, mas esta não conseguiu convencer os produtores a renovarem o programa, muito por conta da popularidade de animes da época como Pokémon e Digimon, ainda assim, poderiam ter feito ao menos uma mini temporada para saciar a curiosidade do público, e que poderia ou não envolver um crossover com o Peter Parker de Homem Aranha de 1994, que infelizmente jamais ocorreu, certamente isso daria um novo sentido a esta versão.

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  • Review | Homem-Aranha

    Review | Homem-Aranha

    Nas manhãs da Globo dois desenhos animados se destacavam bastante, os X-Men (que inclusive fizeram boa parte da garotada finalmente pronunciar corretamente o nome do grupo) e claro, Homem-Aranha. O segundo programa, originalmente chamado de Spider-Man: The Animated Series também foi veiculado aqui no Brasil pelo canal da TV a cabo Fox Kids, emissora que passava boa parte do conteúdo de animações com heróis e seus produtores Avi Arad e Stan Lee, que inclusive, faz uma bela participação ao final da série.

    O programa teve cinco temporadas, e um total de 65 episódios, e mostra Peter Parker como um sujeito já adulto, que trabalha para o Clarim Diário tirando fotos mas também se dedica demais aos estudos, tanto que ele auxilia sua amiga Felicia Hardy com questões ligadas a ciências, ajudando ela no curso da faculdade que não fica exatamente claro de qual curso se trata.

    O traço da animação era feio na maior parte do tempo,os personagens era  em sua maioria extremamente fortes, fazendo pensar que nessa versão todos eram marombeiros e tinham costume de malhar bastante. A abertura tinha alguns elementos em 3d – além é claro da música de Joe Perry, guitarrista do Aerosmith – que permeavam também algumas das cenas do programa e sua utilização era um bocado gratuita, só ocorria nas cenas em que o aracnídeo se balançava pelos prédios, e parecia só ser feita porque os produtores podiam fazer.

    Ter tantos episódios ao menos ajudou em uma coisa, boa parte dos vilões do Homem Aranha foram mostrados no programa, tal qual ocorreu em uma de suas concorrentes, Batman A Série Animada, mas diferente do desenho produzido por Bruce W. Timm, esse tinha participações meio gratuitas. A primeira temporada começa mostrando o drama do Lagarto, o professor Curt Connors que se submete a auto experimentos para recuperar seu braço, transformando-se então em um monstro. A condição de vilão trágico aliás era um clichê bem explorado nos episódios e era lugar comum boa parte desses personagens que viraram malignos contra sua vontade serem manipulados por alguns dos chefões do crime, sendo o principal deles o Rei do Crime Wilson Fisk, mas também o Cabeleira de Prata e o Cabeça de Martelo, esse ultimo o menos explorado deles.

    Antes terminar  esse primeiro arco, é mostrada a roupa alienígena, trazida por J. Johnah Jameson Jr – o filho do patrão de Peter, J. Johah Jameson que obviamente sempre tenta incriminar o Homem Aranha –  com sua nave de astronauta que aterrissa na Terra de maneira brusca, aliás, nenhuma versão áudio visual do vilão simbionte alienígena que se une a Eddie Brock foi tão bem construída quanto essa, incluindo aí o filme recente Venom de Ruben Fleischer. Apesar do programa não ser profundo, há muitos acertos, uma pena é que logo depois de ter esses bons momentos onde Venom é assustador, se desenvolve um mini arco com o Duende Macabro, o que é estranho, pois ele não era exatamente popular nas Hqs, além de se dar uma enorme importância ao transmorfo Camaleão, talvez como eco  da Guerra Fria que havia acabado há pouco, pois nas revistas ele também sempre foi um vilão de segundo escalão.

    Na segunda temporada há a menção ao Sexteto Sinistro – aqui chamado de Os Seis Traiçoeiros – o grupo que quase ganhou um filme da Sony após O Espetacular Homem Aranha 2: A Ameaça de Electro, mas o foco emocional claramente é maior no Homem Hídrico – no desenho era chamado de Hydro-Man, a dublagem cansava de colocar os nomes dos personagens em inglês – que aqui, é um ex-namorado de Mary Jane Watson e que trava com Peter a preferência da ruiva que é vizinha da Tia May. Apesar de ser extremamente infantil, boa parte do romance de Peter e Mary Jane é bem explorado e construído, as idas e vindas do casal fazem sentido e são bem fieis a fase clássica das historias de Steve Ditko e Stan Lee.

    Também há um crossover com os mutantes dos X-Men e que aqui no Brasil teve uma dublagem esdrúxula, onde chamavam o Wolverine de Lobão, aliás, a dublagem no Brasil era repleta de pérolas (Demolidor era Atrevido, Justiceiro foi Punisher mas também era chamado de Vingador em alguns episódios) e até havia um charme nisso, mas a parte mais importante de fato nesse segundo tomo é a trágica historia do vampiro de Morbius, o ex-namorado europeu de Felicia, e é a partir da queda dele e do resgate do passado de seu pai que a moça decide se tornar a Gata Negra. Nesse período também aparece o Blade, antes até do filme com Wesley Snipes como caçador de Vampiros, aliás há um bom número de personagens clássicos da Marvel que aparecem nessa e em outras temporadas, como Doutor Estranho, Mordo e Dormmammu, Demolidor, Justiceiro etc.

    No terceiro ano aparece o Duende Verde Norman Osborn, que nos quadrinhos era o duende original e depois viriam os outros. Nesse ponto a parte mais emocional mora na relação dúbia de Peter com Harry Osborn que no material original eram muito amigos, mas que aqui claramente rivalizam mais do que tem amizade – em Homem-Aranha de Sam Raimi isso é muito melhor trabalhado, Tobey Maguire e James Franco parecem de fato parceiros, aqui nem tanto. Há também o retorno de Venom também, basicamente para explorar um novo plot, envolvendo sua cria, Carnificina. Nessa época a luta entre simbiontes era muito popular, não só nas revistas, mas também nos vídeo games, pois perto daquela época em 1994 o Maximum Carnage era extremamente consumido, sendo uma febre no Brasil sobretudo, por conta do porte do jogo Beat up para Super Nintendo e Mega Drive.

    Se nota que a serie é sempre lembrada por conta dos eventos e acontecimentos externos a ela, por conta de um jogo popular, dos quadrinhos que eram igualmente populares, ou mesmo os brinquedos derivados da série, que aliás eram muito bem feitos para época e também monopolizavam as vendas de natal, dia das crianças e demais épocas festivas. Batman – TAS também tinha uma quantidade de produtos enormes, jogos, bonecos, lancheiras, mas o texto por trás das lutas entre heróis e vilões tinham um projeto mais grandioso, e introduziram elementos que transcenderam a mídia, a Arlequina se tornou um bom personagem após isso, a versão do Senhor Frio do desenho é a definitiva, já o roteiro de Spider Man – TAS era bem elementar e básico, eram lutas meio bobas e motivações fracas de personagens e vilões com um ou outro momento mais inspirado.

    A quarta temporada é talvez a mais fraca e quase indigna de lembranças e na ultima temporada, veiculada em 1997 e 1998, e o roteiro brinca de adaptar Guerras Secretas, claro, de uma maneira um bocado diferente, reunindo heróis da várias eras em lutas bem genéricas. Os últimos dois episódios mostram a Guerra dos Aranhas, envolvendo a Madame Teia (que era uma personagem bem misteriosa) reunindo várias versões do aracnídeo, incluindo um que utilizava os tentáculos de Octopus (sendo uma bela coincidência se comparar este com o Homem-Aranha Superior) semelhante ao que foi feito mais tarde, nos quadrinhos em 2014 com o Aranhaverso e no filme da Sony de 2018, Homem Aranha no Aranhaverso. Apesar da animação aqui ser ainda mais porca que no início o final de séria animada do Homem Aranha deixou saudades, e pontas soltas sobre quais os rumos que os produtores queriam levar o programa. Para muitos esse foi o primeiro contato com o amigão da vizinhança, ainda mais para quem era criança nos anos noventa e por mais que a serie não traduzisse maravilhosamente os textos que Ditko, Lee, John Romita e tantos outros artistas traziam nas historias clássicas do Aranha, ainda havia algo aqui, um charme que passava por cima até dos gráficos feios e mal pensados, afinal, havia alguma fidelidade ao menos a mitologia do herói, ainda que perdesse em narrativa para a serie do Batman e em temática igualitária para X-Men.

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  • Crítica | Nick Fury: Agente da S.H.I.E.L.D

    Crítica | Nick Fury: Agente da S.H.I.E.L.D

    Nicky Fury Agente da SHIELD 1

    Muito antes de Samuel L. Jackson aceitar o convite da Marvel Studios para estrelar o papel do coronel caolho da  agência da S.H.I.E.L.D., seria feita uma versão de Nick Fury, produzida por Avi Arad, Stan Lee e roteirizada por David Goyer. A escolha para o papel principal não poderia ser mais sui generis, com o aporte de David Hasselhoff, ainda na esteira de S.O.S. Malibu, em um papel tão canastrão quanto o que fizera neste e em Super Máquina.

    O Fury de Hasselhof é ainda mais agressivo e arredio do que a última versão cinematográfica do personagem, nada afeito a ordens, um rebelde que sabe o poder que tem, mesmo como subalterno dentro a agência de espionagem. O desrespeito as regras começa pela clássica cena em que acende um fósforo na parede, movimento comum a qualquer brucutu, ainda mais condizente com um militar que não aguenta desaforos.

    A fluidez com que é conduzido o filme de Rob Hardy  é tamanha, que se assemelha às encenações teatrais de colégio em fase de ensino fundamental. Não há como levar a sério qualquer dos conflitos entre a S.H.I.E.L.D. e a Hydra, que a priori, agiria desde a época da Alemanha Nazista, porcamente encenada por um elenco que abusa de falas aos gritos, overacting e muitos exageros visuais, com direito a cabelos extravagantes e sotaques californianos imitando horrorosamente o tom europeu de falar.

    É difícil escolher o aspecto mais chocante do telefilme, se é o fato do protagonista estar sempre oleoso, se é o tapa-olho que denuncia a completa falta de continuísmo ao se trocar frequentemente o objeto de hemisfério corporal, o bronzeamento artificial justificado do modo mais burrificado possível ou os cenários em CGI que fazem inveja aos diversos mockbusters da Asylum.

    O conjunto de semelhanças visuais com as HQ’s é incabível, sendo incrivelmente esdrúxulo, não fazendo sequer sentido dentro da métrica do argumento em alguns pontos, resultando até em contradições lógicas, como o ato de usar couro em um ambiente extremamente quente como a embarcação marítima/aérea em que a instituição se situa.

    Fury é leviano, durão e baddass, convive bem em meio ao mundo que o cerca, mesmo neste ambiente repleto de cenários de papelão que lembram demais o que é visto em produções de baixo orçamento. A trama se arrasta nos momentos finais, com direito a ressurreição de inimigos centenários, que só retornam para morrer logo depois, e uma larga apresentação de coadjuvantes genéricos, que não deixam o público esquecer do quão trash é o longa. Após um apelativo gancho para uma continuação, a resolução de Fury é curiosa por ir contra a burocracia típica da organização, ainda que o modo como é realizado não tenha qualquer inteligência. Nick Fury Agente da S.H.I.E.L.D. consegue ser tão pleno em seus defeitos, que provoca no seu espectador um riso involuntário, provindo do que já se chamava em 1998 por Marvel Studios, ainda que em outra encarnação da produtora.