Tag: Tobey Maguire

  • VortCast 106 | Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa

    VortCast 106 | Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira | @flaviopvieira), Jackson Good (@jacksgood), Bruno Gaspar (@hecatesgaspar | @hecatesgaspar) e Filipe Pereira (@filipepereiral | @filipepereirareal) recebem Marcelo Miranda (@marcelomiranda1) para comentar sobre os erros e acertos do mais novo filme do Amigão da Vizinhança, Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa.

    Duração: 88 min.
    Edição:
     Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

    Agregadores do Podcast

    Feed Completo
    iTunes
    Spotify

    Contato

    Elogios, Críticas ou Sugestões: [email protected].
    Facebook — Página e Grupo | Twitter Instagram

    Links dos Sites e Podcasts

    Agenda Cultural
    Marxismo Cultural
    Anotações na Agenda
    Deviantart | Bruno Gaspar
    Cine Alerta
    Arte Final
    Saco de Ossos
    Hora do Espanto

    Materiais Relacionados

    VortCast 47 | Homem-Aranha e o Cinema
    Agenda Cultural 70 | Infiltrado na Klan, Green Book, Shazam!
    A Pilha do Aranha #05 — Um Dia a Mais
    A Pilha do Aranha #07 — Edição Especial: Sem Volta Para Casa

    Filmografia Homem-Aranha nos cinemas

    Crítica | Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa
    Crítica | Homem-Aranha: Longe de Casa
    Crítica | Homem-Aranha: De Volta Ao Lar
    Crítica | O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro
    Crítica | O Espetacular Homem-Aranha
    Crítica | Homem-Aranha 3
    Crítica | Homem-Aranha 2
    Crítica | Homem-Aranha
    Crítica | Homem-Aranha no Aranhaverso
    Crítica | Venom
    Crítica | Venom: Tempo de Carnificina

    Ouça e avalie-nos: iTunes Store | Spotify.

  • Crítica | Homem-Aranha 3

    Crítica | Homem-Aranha 3

    Homem-Aranha 3 fecha a trilogia de Sam Raimi sobre o herói tangível e cheio de defeitos criado por Steve Ditko e Stan Lee, mas não sem trazer consigo uma infinidade de reclamações sobre os rumos que a franquia tomou. Na trama, Peter Parker (Tobey Maguire) tem de enfrentar uma crise na relação com Mary Jane (Kirsten Dunst), além de três vilões diferentes.

    No início do filme há uma clara diferença desse para Homem-Aranha 2, o recapitular das aventuras anteriores se dá com arte de Alex Ross e aqui estão apenas as cenas conduzidas por Raimi, sem qualquer tratamento de imagem, como um resumo de capítulos anteriores de uma série barata, o cuidado com a cinessérie mudou e, além disso, se nota uma diferença no tema orquestrado, com tons e acordes diferentes, já que Danny Elfman dá lugar a  Christopher Young na trilha sonora. Esse tom obscuro deveria passar para a abordagem da personalidade de Peter, mas isso não ocorre, necessariamente.

     

    Homem-Aranha 3 é muitas vezes injustamente  criticado, no entanto, uma reclamação justa é o comportamento que o personagem de Maguire tem no início do filme, antes mesmo de ter contato com o “alienígena” que daria origem a Venom. Ele é impulsivo, se deslumbra com a aceitação que o povo lhe confere finalmente, após dois filmes com histórias conturbadas, e age de maneira brutalmente insensível, em especial com MJ. A vida pessoal de Peter finalmente se ajeita, ele está feliz, tanto como Aranha quanto Peter Parker, mas como se trata de um personagem trágico (aos menos aos olhos do diretor), não há como seguir assim por tanto tempo.

    Raimi é um cineasta muito fiel às suas raízes, mesmo quando faz obras mais voltadas para o público mainstream. Desse modo, é natural que existam cenas que remetam ao cinema de horror. E aqui a manifestação se dá no entorno do Homem Areia, tanto na transformação que Flint Marko (Thomas Haden Church) sofre, quanto nos momentos finais. Além de ter um visual arrebatador em ambos momentos, há significados que remetem aos monstros clássicos, em especial na sua gênese. Marko tem características da criatura de Frankenstein de Boris Karloff, e certamente essa referência seria melhor encaixada caso o roteiro fosse mais sólido, pois o evento que transforma o personagem é completamente avulso à trama, sem repercussão antes ou depois do ocorrido.

    As tramas secundárias também variam de qualidade. James Franco está bastante canastrão, não consegue dar camadas ao seu personagem, sua motivação não faz sentido por não ter tempo de tela, sem falar que expõe um dos defeitos do filme, os efeitos visuais primários. Dunst está muito bem, consegue trabalhar bem com o que é lhe dado, mesmo sendo pouco. Já a introdução dos personagens novos, como Gwen (Bryce Dallas Howard), Eddie Brock (Topher Grace) e o Capitão Stacy (James Cromwell) é gratuita ao extremo. Não há desenvolvimento mínimo de nenhum deles, e até os coadjuvantes do Clarim Diário parecem mais sólidos e profundos que o trio, fato que gera até incongruências, já que o J.J. Jameson de J.K. Simmons não sabe quem é Brock, mesmo com uma citação a ele em Homem-Aranha. O personagem é tão irrelevante para Raimi que a direção deliberadamente não o leva a sério.

    Entre as reclamações mais comuns ao filme está a personalidade de Peter modificada pelo simbionte, que muitos atribuíam ao comportamento dos fãs de emocore. Ora, na época, os meninos comuns que usavam esse visual diferia de Peter. Eram introspectivos, gostavam de parecer sombrios, já Parker é o oposto disso, espalhafatoso, inconsequente e age até como um bully em alguns momentos, com uma personalidade tão baixa quanto a do seu nêmese escolar Flash Thompson. Ele claramente não era Emo, só pegou emprestado desse estilo o cabelo e a maquiagem um pouco mais forte, comparar o Andrew Garfield em O Espetacular Homem-Aranha com o estereótipo do hipster até faz algum sentido, mas o Peter de Tobey de emo tinha apenas o visual.

    Parker parece governado unicamente pelo id (parte da mente que quer gratificação imediata de todos os seus desejos e necessidades, segundo o conceito freudiano), e dito assim, esses momentos não parecem tão erráticos, especialmente a cena “musical”, já que é o símbolo maior da breguice que Raimi sempre impôs a sua versão do Cabeça de Teia.

    A reunião dos antagonistas não tem nenhuma força, é um pretexto pobre que está lá para justificar uma ação entre amigos com Harry e Peter juntando as forças, que só não é mais vergonhosa do que o momento de retorno do uniforme clássico, ao lado de uma bandeira dos EUA tremulando, que faz automaticamente o povo esquecer dos maus atos do Aranha. Além dessas questões, boa parte da imaturidade de Peter também não cabe, já que ele aprendeu ou deveria ter aprendido com seus erros do passado, e justificar esses atos pelo simbionte também não faz sentido, visto que sua personalidade já havia se transformado antes mesmo dele utiliza-lo.

    Raimi saiu reclamando de interferência dos estúdios, seu desejo seria explorar personagens como o Abutre e a Gata Negra, mas por influência de Avi Arad, teve que fazer o filme com Venom. Desse modo,  Homem-Aranha 4 previsto para 2011 foi abortado, assim como uma segunda trilogia. Ainda assim Homem-Aranha 3 parece mais com o ideal de Ditko e Lee, por ser senhor de sua própria história e seguir dando camadas trágicas, mas humanas ao personagem. Peter segue falho, tolo, mas capaz de se sacrificar e tentar evoluir, mesmo que a mão invisível do roteiro o faça agir como alguém que não digeriu bem seus problemas.

  • Crítica | Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa

    Crítica | Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa

    Review Homem Aranha Sem Volta Para Casa

    Havia uma grande expectativa em torno da estreia de Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa, por conta da possibilidade de apresentar finalmente uma versão do multiverso no cinema da Marvel e, claro, pela possibilidade da aparição de Tobey Maguire e Andrew Garfield. Esta terceira parte conduzida por Jon Watts começa no momento final de Homem-Aranha: Longe de Casa, onde o vilão Mysterio revela a identidade do herói.

    O ponto de partida do filme é o caos total, causado pela revelação do vilão, e a opinião pública se divide em relação à culpa do Aranha nesse caso. Pela primeira vez o personagem do UCM parece ter dificuldades tangíveis. Em Homem-Aranha: De Volta ao Lar ele passa a maior parte da história sob a tutela de Tony Stark, como se fosse um trainee de herói, e não o mais popular personagem de histórias em quadrinhos da Marvel Comics.

    Os  roteiros dos filmes da Marvel normalmente não são primorosos, não é raro perceber uma reciclagem de conceitos, com um ou outro vilão clássico representado no cinema em uma aventura genérica e presa a fórmula, tendo como diferencial as cenas pós créditos, que por sua vez, geram a expectativa de que a próxima produção será épica. Sem Volta Para Casa acaba tropeçando em alguns desses problemas, mas se diferencia pelo modo emocional com que é levado. Dessa vez, há vilões realmente perigosos, assassinos sádicos, não versões “água-com-açúcar”.

    O Peter de Tom Holland não tem um código moral bem estabelecido até essa historia, o caráter dele é posto à prova de maneira bem mais explícita, e sem a diluição de ter a responsabilidade dividida com outros heróis, como foi nos filmes anteriores e Guerra Infinita. Pela primeira vez nessa encarnação há peso em suas atitudes. Suas reflexões se dão sem interferência de personagens externos ao seu universo, ele sozinho se dá conta disso. Essas questões emancipatórias e de amadurecimento são bem observadas, mas não se descuida dos momentos de ação típicas de aventuras de super-heróis de quadrinhos.

    A ação do filme é frenética, e Watts resgata boa parte dos melhores momentos do herói na grande tela, inclusive emulando cenas clássicas dos filmes de Marc Webb e Sam Raimi. As lutas são ótimas, sobretudo o embate contra o Dr. Octopus de Alfred Molina. Os efeitos em computação gráfica também tiveram um upgrade, tanto nas lutas quanto no rejuvenescimento do elenco veterano de vilões que, aliás, são tão presentes aqui que faz perguntar se a intenção não era a de referenciar o malfadado filme do Sexteto Sinistro que jamais saiu do papel.

    A produção trabalhou bastante para guardar seus segredos, tanto que na exibição para imprensa havia um pedido do elenco para que não houvesse spoilers de modo algum. Ainda assim, mesmo sem falar dos rumos que o roteiro toma, é possível afirmar que a versão amaldiçoada do herói está bastante presente, assim como o fardo de carregar o mundo de responsabilidades em suas costas. Em vários pontos o desempenho dramático de Holland é exigido, e ele simplesmente não decepciona. Outras figuras como Zendaya e Marisa Tomei também tem grandes aparições e ajudam o protagonista a brilhar, certamente seu papel não seria tão elogiado se ambas não estivessem tão afiadas quanto ele.

    Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa é de fato um filme que busca romper com o céu de brigadeiro que ocorria nas aventuras dessa versão do Aranha. Logicamente, ainda existem algumas conveniências e pieguices, algo bastante recorrente em suas histórias em quadrinhos. De qualquer modo, finalmente a essência de quem é Peter Parker é contemplada, e honra o ideal que Steve Ditko e Stan Lee pensaram para o seu personagem mais famoso.

  • Os 10 Grandes Beijos do Cinema

    Os 10 Grandes Beijos do Cinema

    Segundo o antropólogo inglês Desmond Morris, foi o costume materno de se mastigar a alimentação antes de passar à boca da prole, em tempos mais ancestrais, que provavelmente derivou o hábito do que, no Brasil, é nome até de doce. Nada romântico, não é mesmo? Mas todo mundo lembra quando foi seu primeiro beijo, talvez até o gosto dela, se rolou um frenesi, ou não. Poucos filmes conseguiram traduzir na tela a sensação desse momento. Listamos alguns que chegaram lá.

    Branca de Neve e os Sete Anões (William Cottrell, David Hand, Wilfred Jackson, Larry Morey, Perce Pearce e Ben Sharpsteen, 1937)

    O beijo que vence a morte, num clássico memorável dos estúdios de Walt Disney além de qualquer relatividade sobre grado ou agrado. Saber que a maioria de nós estará viva para atestar novamente sua qualidade no centenário da obra já seria algo maravilhoso.

    O Demônio das Onze Horas (Jean-Luc Godard,1965)

    O beijo desesperado que vence as guerras, pura poesia convertida em imagens, algo que os cinéfilos mais jovens não tem nem paciência pra experimentar. Uma pena. O Demônio das Onze Horas é um clássico forrado de exuberância e um gosto embriagante de Cinema.

    Meu Primeiro Amor (Howard Zieff, 1991)

    O beijo inocente que começa as guerras. É o beijo que solidifica a infância como fase da descoberta sobre quase tudo o que nos faz ser quem somos. É em Meu Primeiro Amor que o toque labial ganha sentidos tão primordiais e sensíveis que nenhum outro filme americano ou não, até hoje, conseguiu expressar tão bem.

    O Guarda-Costas (Mick Jackson, 1992)

    O beijo da impossibilidade de dois corpos ficarem separados. Beijo cafona e deselegante, caso não fosse o ângulo apropriado e a trilha-sonora composta para um filme mais vendida da história, mas como não sentir a vibração da cantora e do seu segurança correndo, de braços abertos, contra a iminência da separação?

    Ghost: Do Outro Lado da Vida (Jerry Zucker, 1990)

    O beijo de alma. Sam e Molly foram um dos grandes casais dos anos 90, rivalizando talvez com o Jack e a Rose de Titanic, só que nem o icônico beijo abraçado na proa do fatídico transatlântico consegue ser mais simbólico a um esperado amor eterno que o beijo etéreo de dois espíritos, absoluta e infinitamente apaixonados.

    Beleza Americana (Sam Mendes, 1999)

    O beijo da culpa. O beijo do racista branco na negra que o criou, ou, no caso, de um coronel homofóbico na boca do vizinho que almeja e não se permite ter, além da carne, por inúmeros motivos secretos. Beleza Americana busca, sobretudo, a união entre céu e inferno num país dividido em todos os sentidos chamado América.

    Homem-Aranha (Sam Raimi, 2002)

    O beijo da juventude. Uma sessão da tarde frenética interrompida logo após uma cena de ação do herói com bandidos, num beco escuro, salvando a mocinha quando esta lhe tasca um beijo irresistível, de ponta-cabeça. Mais contextual não dá, não só ao herói aracnídeo dos quadrinhos, mas ao próprio revirar hormonal da molecada.

    A Cruz dos Anos (Leo McCarey, 1937)

    O beijo da despedida, por uma vida inteira. Como o próprio cineasta Stanley Kubrick apontou, eis um filme que tira lágrima de pedra, e a cena final na estação de trem com o beijo dos dois idosos é destruidora, incidindo sobre a passagem do tempo, e como aquilo que é verdadeiro resiste diante do fim, diante de tudo.

    O Segredo de Brokeback Mountain (Ang Lee, 2005)

    O beijo da saudade, por uma vida inteira – e que quase quebrou o nariz de Heath Ledger. Brokeback Mountain, hoje merecidamente tido por clássico do século XX, é extremamente sutil em sua verdadeira mensagem de seguir o próprio coração mesmo, seguir o instinto natural e ver o que acontece a partir disso. Metáfora sobre os amores incompreendidos.

    A Um Passo da Eternidade (Fred Zinnemann, 1953)

    O beijo cinematográfico definitivo.

    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram.
  • Crítica | Homem-Aranha 2

    Crítica | Homem-Aranha 2

    Dois anos depois do divertido Homem-Aranha, Sam Raimi retorna com uma das continuações mais eletrizantes entre o sub-gênero de filmes de super-heróis. Homem-Aranha 2 amadurece os conceitos já estabelecidos no primeiro, mostrando Peter Parker (Tobey Maguire) tendo problemas com seu tempo, dividindo-se entre a vida de universitário com pouco (ou nenhum) recurso e a vida de vigilante, além de ter de lidar com mil outros problemas, entre eles a distância que adquiriu junto à Mary Jane (Kirsten Dunst), o desprezo e desconfiança de seu melhor amigo Harry Osborn (James Franco) e as necessidades financeiras de sua tia May (Rosemarie Harris).

    O começo leve, mostra de maneira bem-humorada a dificuldade de Peter em conciliar todos os seus afazeres. Seu aluguel é cobrado constantemente, ele é despedido do bico que fazia como entregador de pizzas, sua paixão platônica e seu professor Curt Connors (Dylan Baker) se decepcionam por sua ausência constante. As diferenças básicas nesta versão e na inicial é que todos do núcleo de amigos conseguiram evoluir, com Mary Jane estrelando peças, e Harry comandando a empresa de seu pai completamente repaginada, trabalhando lado a lado com Otto Octavius (Alfred Molina), que seria a principal adição dramática a trama.

    A partir desse ponto, o filme dá uma guinada, largando a ideia de uma comédia adolescente com tons adultos, para assumir um caráter mais soturno, e em alguns momentos com influências dos filmes de terror trash. Nascia ali, o Dr. Octopus, uma fusão entre o cientista brilhante e a máquina que ele criou, agora, sem o inibidor neural que impedia que sua mente fosse dominada pelo artefato.

    Se em Homem-Aranha  havia um comentário sagaz e inteligente sobre a puberdade e as descobertas comuns a ela, já em sua continuação o destaque está na perda gradual dos poderes do protagonista, expondo então a impotência que normalmente ocorre com os sentimentos daqueles que têm de lidar com as agruras da vida adulta, se vendo muitas vezes de mãos atadas enquanto seus entes queridos correm perigo ou passam necessidades.

    Há um caminho inverso, de descoberta de perda dos poderes, e consequentemente uma reavaliação do herói no que concerne as responsabilidades com os seus e com a sua cidade. Aos poucos, Peter se deixa levar até pelas manchetes sensacionalistas de J. J. Jonah Jameson (J.K. Simmons, mais uma vez brilhante) no Clarim Diário, e aceita de bom grado sua limitação mental e quase psicossomática, de que o acontecido com a aranha radioativa simplesmente foi suprimido graças as tarefas que se avolumam sobre seus dias.

    O paradigma do amadurecimento tem seu ápice em uma cena de sonho, onde encontra seu mentor primordial, o tio Ben (Cliff Robertson), onde conversa sobre sua aposentadoria, relembrando até uma das capas clássicas de John Romita, onde o aracnídeo joga sua fantasia fora deixando de lado a ideia juvenil de acabar com o mal através de seu próprio esforço.

    Não demora para que os fantasmas voltem a assombrar o vigilante, com injustiças acontecendo ao seu redor o tempo inteiro e com a percepção de que já era tarde para abdicar de certos hábitos. A vida de todos seguia em frente e a tomada de decisão de Parker finalmente acontecia, ao mesmo tempo que o afastamento dos seu também ocorria, seja sua tia por conta das dificuldades financeiras, Harry pelo incidente envolvendo a Oscorp e Octopus ou mesmo MJ MJ se entregando a um pedido de casamento de outro homem.

    Apesar de pueril, a cena onde Peter revela a sua tia o que aconteceu após a luta de wrestiling, se nota um arrependimento genuíno e o tão desejado arrependimento buscado pelo herói da jornada, que finalmente entende que o assumir das suas responsabilidades não tem a ver necessariamente com as habilidades provindas da aranha radioativa, e sim a sua postura. Mesmo sem a plenitude de seus poderes, ele reprisa um momento do filme anterior, em um incêndio, onde salva uma criança em apuros, dessa vez sem a peça que seria pregada pelo Duende Verde, assim como o diretor já havia feito na franquia Evil Dead.

    O retorno do herói acontece gradativamente, mas é cena do metrô uma das mais icônicas, o herói que salva e é salvo por pessoas comuns. Apesar de um pouco piegas, todas as sequências posteriores a essa cena são carregadas de um sentimentalismo condizentes, com toda a atmosfera otimista da saga que Raimi propõe no cinema. Se tal proposta é atual ou não é uma outra discussão, o fato é que a concepção fantástica do universo do Aranha que o diretor pensou teve aqui o seu ápice, e ajudou a pavimentar o universo planejado por Kevin Feige e seus produtores anos depois, ainda que esse não seja um produto pasteurizado como os subsequentes.

    Acompanhe-nos pelo Twitter e Instagram, curta a fanpage Vortex Cultural no Facebook, e participe das discussões no nosso grupo no Facebook.

  • Crítica | O Dono do Jogo

    Crítica | O Dono do Jogo

    O Dono do Jogo, de Edward Zwick, resume duas características do ano de 1972 nos Estados Unidos: a paranoia desencadeada pela propaganda anticomunista e a popularização do xadrez em todo o território nacional. O motivo disso tudo é bastante claro: a final do campeonato mundial de xadrez envolvendo o atual campeão, o soviético Boris Spassky (Liev Schreiber) e seu desafiante, o norte-americano Bobby Fischer (Tobey Maguire).

    Na trama, acompanhamos a história de Fischer desde sua infância, criado por uma mãe solteira socialista e judaica (Robin Weigert), os primeiros traços de paranoia e a aproximação com o xadrez que o faria campeão nacional ainda em sua adolescência. A explosão ao estrelato ainda jovem o levaria, alguns anos depois, a famosa final Fischer-Spassky, e serviria como propaganda nacionalista, uma esperança norte-americana para encerrar os 24 anos de dominação soviética no xadrez.

    Curiosamente, o título original Pawn Sacrifice remete a uma jogada clássica no xadrez em que, propositalmente, abre-se mão dos peões para a construção de uma jogada maior ou para ainda ganhar tempo no desenvolvimento de outras peças. Uma metáfora bastante óbvia para Fischer e o próprio xadrez, que acabam se tornando peões em um jogo muito maior do que eles, travado pelas duas superpotências da época, Estados Unidos e União Soviética.

    Pena que isso seja tão mal aproveitado pelo roteiro, pois assim que inserido qualquer sub-texto político, a trama vai pelo ares. O mesmo pode ser dito sobre a genialidade de Fischer no xadrez, já que em nenhum momento a direção de Zwick e o roteiro de Steven Knight procuram mostrar ao espectador a razão da genialidade do enxadrista, com exceção do jogo final com Spassky. Afinal, todas as partidas anteriores são cortadas e sabemos dos resultados por meio de diálogos entre as personagens.

    É difícil encontrar explicações para as escolhas da direção e roteiro: a construção das personagens são abandonadas assim que aparecem em tela; não há justificativas plausíveis para o que leva Fischer, um judeu, a ser influenciado por extremistas religiosos antissemitas; nenhuma explicação sobre seu relacionamento conturbado com a mãe, uma socialista; ou por fim, o que o leva a sofrer cada vez mais de uma suposta doença mental. Nada disso é desenvolvido, personificando a figura de Fischer à um simplismo massificado, bobo e infantil típico da já recorrente fórmula hollywoodiana em cinebiografias.

    A aproximação com a política soa rasteira e sequer desenvolve a forma como o governo norte-americano utiliza Fischer como peão durante a Guerra Fria e o descarta em seguida, devido a seus frequentes colapsos públicos, vindo a ser preso e, no final da vida, exilado dos Estados Unidos e refugiado na Islândia. Este fato é mencionado apenas por um epílogo final e em alguns trechos de época do próprio Fischer, o que se torna um dos grandes momentos do filme. Somente nos créditos conseguimos entender minimamente a complexidade da personagem, que convenhamos, Zwick tenta se aproximar, mas falha ao tentar envolvê-lo de forma significativa em seu filme.

    Ainda assim, o longa tem bons momentos, principalmente em sua fotografia ambientada nos anos 1950, 60 e 70, com emulações à filmagens de época e rápidas cenas da história do mundo intercaladas com jogadas em um tabuleiro de xadrez. Infelizmente, o clima de tensão e urgência típicos da Guerra Fria não se caracterizam em tela, como também a paranoia de Fischer, e em alguns momentos de Spassky, também não é transmutada para a sua direção. A atuação de Maguire deixa a desejar, abusando de tiques e exageros na composição de sua personagem, soando superficial para explicar essa figura controversa. Schreiber se mostra apenas correto como o enxadrista russo. A forma como sua personagem é apresentada incomoda pelo emprego de um vilanismo que deixa a dúvida se Boris Spassky era um jogador de xadrez ou um soldado da máfia russa. Um estereótipo certamente imposto ao ator, já que tem sido bastante comum vê-lo trabalhar em ótimas composições de outros papéis. Ainda assim, Michael Stuhlbarg e Peter Sarsgaard têm um bom trabalho como elenco de suporte à Maguire, roubando a cena em alguns momentos.

    Zwick está longe de ser um mal diretor, já se mostrou competente em Um Ato de Liberdade, Diamante de Sangue, Tempo de Glória. Mas em O Dono do Jogo erra magistralmente em todas as frentes que procura abordar, seja ela ao caracterizar um jogo de xadrez, o cenário político da época ou as idiossincrasias de seu protagonista, se resumindo a um filme engessado, cômodo, repleto de clichês e com um viés excessivamente nacionalista e maniqueísta. Ao tenta ser neutro em suas discussões, o filme se resume a mais uma peça nacionalista de Hollywood: convencional, inofensiva e correta, muito aquém da personagem errática, arrogante e desequilibrada de Bobby Fischer.

  • Crítica | Homem-Aranha

    Crítica | Homem-Aranha

    Homem Aranha - Poster

    Há quase 15 anos, as histórias em quadrinhos eram consideradas um estilo inadaptável para o cinema. Porém, após o tímido sucesso de Blade: O Caçador de Vampiro e uma primeira grande produção de X-Men, com Bryan Singer na direção, um novo caminho foi sendo construído, e este se tornaria parte fundamental no cinema-pipoca atual.

    A vontade dos estúdios em produzir um filme do Homem-Aranha era uma antiga pauta fomentada por boatos e especulações. Somente após o sucesso das produções citadas foi possível um planejamento para que um dos heróis mais populares da Marvel Comics chegasse às telas.

    Com direção de Sam Raimi e roteiro de David Koepp, Homem-Aranha é uma produção bruta, não inserida na fórmula cinematográfica dos super-heróis, em que cada filme é trabalhado com base em um universo interligado. Como não havia nenhum plano a longo prazo com tais personagens, a produção foi uma das pioneiras, como uma espécie de teste para descobrir se a fórmula heroica funcionava.

    A origem do herói e o universo do estudante Peter Parker são apresentados de maneira simples, como o desenvolvimento do longa-metragem em geral. Não havia ainda a intenção de um relato explicitamente realista com uma abordagem mais adulta das personagens. As cores claras ressaltam-se na fotografia, mantendo a aura de ficção sem perder a percepção da realidade. Com uma personalidade semelhante à inicial proposta pelo criador Stan Lee, Peter Parker é um jovem nerd, estudioso, um tipo vivendo um mundo à parte, incapaz de se relacionar com outros além do amigo Harry Osborne. As cenas de origem, com a aranha modificada geneticamente – uma modificação da origem com aranha radioativa – que o morde, além de suas mudanças físicas, são apresentadas rapidamente, bem como a personalidade tímida e o amor pela vizinha Mary Jane Watson (Kirsten Dunst).

    Koepp escolheu como vilão desta primeira história o arqui-inimigo de Homem Aranha, o Duende Verde, incorporado pelo empresário Norman Osbourn após realizar experiências com um soro. Diante de um momento de incerteza dos sucessos de produções de quadrinhos, escolher um grande inimigo foi assertivo. Mesmo que a franquia falhasse, o público teria assistido em tela a um dos maiores embates dos quadrinhos. Ainda que uma das cenas chave entre Duende e Aranha tenha sido levemente modificada, é Mary Jane e não Gwen Stacy, como no original, que é arremessada de uma ponte pelo vilão.

    No papel de Norman Osborn, o ator Willem Dafoe foi uma boa escolha para trazer maior credibilidade ao filme e ao papel. Ainda que o uniforme do duende seja bem diferente do gibi, fato que dificultou qualquer expressão facial além da imposição de voz, Dafoe produz boas cenas demonstrando a loucura da personagem. Em destaque para a cena em que conversa no espelho com o duende, destacando as diferentes personalidades pelos olhos e expressões faciais, intensas, como de costume.

    As mudanças em relação ao quadrinho foram pontuais. Além da troca de Gwen Stacy por Mary Jane e das mudanças de uniforme, Peter Parker produzia teias naturais ao invés das feitas em laboratório. Na época, um dos produtores do longa alegou que esta era a saída mais verossímil para a história, afinal, como um jovem nerd seria capaz de inventar uma espécie de cola que nem mesmo as grandes indústrias haviam conseguido? Verossimilhança ou não, o assunto foi pauta para reclamações dos fãs, ainda que em arcos posteriores ao filme, e o Cabeça-de-Teia dos quadrinhos também começou a produzir teias naturalmente. A essência, porém, permaneceu intocada.

    Mesmo com 27 anos de idade na época, Tobey Maguire foi competente em compor seu personagem adolescente, mantendo a timidez no olhar e as características de Peter, sendo um Parker/Aranha melhor do que seu sucessor, Andrew Garfield. Se o envelhecimento de Maguire não foi um problema, o tempo natural transformou algumas cenas de ação mais precárias. É possível perceber com mais detalhe – ainda mais na edição em alta definição – o uso do CGI em algumas cenas de ação e uma composição mal executada do chroma key. Observações que não tiram o mérito da obra, mas que mostram a evolução da tecnologia nesta última década.

    Sem uma cartilha a seguir, a produção acertou na escolha de um bom roteiro, simples mas correto, para esta primeira aventura, obteve um grandioso resultado nas bilheterias e enfim houve a confirmação de que os heróis eram o novo pote de ouro da indústria cinematográfica. Homem-Aranha, ao lado de X-Men e Blade, marcou o primeiro momento dos heróis no cinema, representando uma linhagem heroica que hoje se tornou um dos lançamentos mais importantes  e esperados do cinema anualmente.

  • Crítica | Refém da Paixão

    Crítica | Refém da Paixão

    labor-day-poster

    O quinto longa-metragem de Jason Reitman tem uma temática um bocado diferente da sua filmografia. Juno, Amor Sem Escalas, Jovens Adultos e Obrigado por Fumar, apesar de não serem comédias, têm fortes pitadas de humor dentro de sua abordagem, mesmo quando é o drama que predomina. A tônica de Refém da Paixão é um pouco diferente, um pouco por este ser baseado no romance de Joyce Maynard (Labor Day, como o título original do filme). Henry Wheeler, é interpretado de início por Gattlin Griffith e “narrado” por Tobey Maguire.

    A postura de Henry envolve proteger sua mãe, Adele (Kate Winslet), já que ele e toda a comunidade a enxerga como uma pessoa frágil após o recém-consumado divórcio, não tão comum à época, vide que a história se passa em 1987. Ao contrário dos outros, Henry a vê como uma mulher forte, mas que passa por uma crise, e tenta a seu modo infantil, suprir as necessidade maritais, mesmo sem ter consciência de como funciona um matrimônio. O menino busca suas soluções, mas tem sua trajetória interrompida de forma deveras entrópica pelo fugitivo Frank Chambers (Josh Brolin), que pede auxílio a ele, e que tem o clamor aceito por ele, a priori.

    O desenrolar dos fatos a partir daí é pontuado pelas sensações dos personagens. O suor no rosto de Adele não demonstra só calor, mas também a dúvida e o incômodo que a situação de abrigar um foragido da justiça causa em sua (já antes) confusa e abalada mente. Até mais do que os sentimentos já citados, o suor faz referência a tensão sexual entre os envolvidos, motivada por sua vez pela postura do “sequestrador”, atencioso e atento a fome que Adele sofre. A sensação que ele supre dela é dita pela própria, em um diálogo reflexivo, entre mãe e filho. O sexo não se trata só de secreções, e sim do toque entre os humanos e da necessidade de saciar esta vontade.

    Apesar de ligado a marginalidade, a constituição do passado de Frank segue um mistério, em princípio, primeiro pela suas palavras de que corre na imprensa não é verdade e segundo por suas atitudes subservientes. Em poucos momentos isso é um problema, os únicos pontos inconvenientes são os que envolvem a possibilidade de Frank ser pego. A atitude de rato acuado fica mais evidente quando isto acontece. Ele é um homem bruto, mesmo quando não se mostra um sujeito insensível. A violência de sua alma é velada, escondida sobre uma capa de normalidade, não muito diferente do homem simples, claro, guardadas as devidas proporções, que utiliza a civilização para domar seu instinto de selvageria.

    Aos poucos, Frank ganha o respeito e o espaço dentro da casa dos Wheeler. Os problemas de infraestrutura da casa são resolvidos um a um, e ele ainda mostra uma ótima capacidade de adaptação, quando adversidades chegam ao seu leito. Aos poucos, os pecados passados do homem são mostrados, longe é claro da narração de Henry, tais cenas remetem às conversas particulares do inusitado casal, e são aceitas por Adele como parte de uma atitude impensada, juvenil e passional. Após Henry tomar consciência do que sua mãe faz com Frank, a dupla é quase sempre flagrada em momentos de pós-intimidade, em que a mãe usa trajes curtos, mostrando-se muito mais a vontade.

    A cor que predomina na casa dos Wheeler é o marrom e diversas outras tonalidades átonas, que remetem à melancolia e tristeza da vida da família, comumente resignada, a começar pela figura da matriarca. A insegurança de Adele é ligada a um terrível trauma do passado – que é paralelamente cortado pela possibilidade de trauma do menino, impingido pela misteriosa personagem que lhe presenteia com o primeiro beijo. A diferença entre a motivação dos personagens é que, no caso da mãe,  o temor é justificado por um fato vivido que a marcou, enquanto ao filho, resta apenas a triste sensação de ter dado cabo a possibilidade deles retornarem ao estágio de uma família comum.

    Frank muda. Ele retorna a si, ao seu estado e ao visual que tinha antes do crime que teria cometido. Com o seu conjunto de planos ele ratifica a ideia de que a família era para si algo sagrado, acima de qualquer outra ação mundana. Todo o seu conjunto de ações visava proteger Adele e Henry, assim como ele tencionava fazer com a sua outra família.

    Mesmo próximo ao final, quando a família está em processo de fuga, Adele ainda se sente presa ao seu passada e a antiga posição de refém de seus traumas e de suas inseguranças. Os zumbidos, característicos dos momentos de tensão ocorridos no começo do filme voltam à tona, quando ela se vê pressionada e temerária novamente.

    Após a prisão de Frank, a primeira saída de Henry de seu lar e da confissão da figura paterna, arrependida por ter insistido pouco na própria felicidade, o rapaz finalmente retorna à ideia que sempre declarara ser importante, desde o início do filme. Seu futuro e seu ofício foram muito influenciados pela figura de Frank, que ele ajudou a manter longe de sua mãe. Afastar a única pessoa que a impedia de se isolar deixou ele culpado, ainda mais, devido a ingerência que este teve em seu caráter. A marca que o homem deixou em sua alma era indelével e inegável, e mesmo com toda a tragédia e tristeza, o perdão acabou por prevalecer, mesmo sobre as atitudes que fizeram com que todos fossem menos felizes, nos vinte e cinco anos que seguiram após o acontecido em 1987.