Tag: Charlie Cox

  • VortCast 106 | Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa

    VortCast 106 | Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira | @flaviopvieira), Jackson Good (@jacksgood), Bruno Gaspar (@hecatesgaspar | @hecatesgaspar) e Filipe Pereira (@filipepereiral | @filipepereirareal) recebem Marcelo Miranda (@marcelomiranda1) para comentar sobre os erros e acertos do mais novo filme do Amigão da Vizinhança, Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa.

    Duração: 88 min.
    Edição:
     Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

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  • Review | Os Defensores – 1ª Temporada

    Review | Os Defensores – 1ª Temporada

    Após a estreia de Agentes da S.H.I.E.L.D, a primeira vez que se teve notícia de um novo seriado em que heróis da Marvel que não apareceriam no UCM – Universo Cinematográfico Marvel foi em 2013, quando foi anunciada uma parceria entre a Disney e a Netflix. Seria produzido então, uma temporada para maiores com um dos heróis mais queridos da Marvel: o Demolidor. A ideia era desenvolver a série do homem sem medo, respeitando a sua essência apresentada nos quadrinhos, se afastando e colocando, de vez, uma pá de cal por cima do túmulo da adaptação estrelada por Ben Affleck. Obviamente, o projeto não era simplesmente trazer o Demolidor para as telas, mas fazer com a Netflix o mesmo que a Marvel fez nos cinemas, criando um bloco maciço de heróis, com seus filmes solo e, consequentemente, colocando esses heróis juntos em tela, como aconteceu com os Vingadores. Tinha como objetivo reunir os Defensores para uma grande temporada. Além de Demolidor, que, à época, ganhou duas temporadas, Jessica Jones teve seus momentos de glória, assim como Luke Cage e, posteriormente, Punho de Ferro.

    Os primeiros trailers levaram o público à loucura, principalmente por causa da trilha sonora, embalada pelo contrabaixo e guitarra característicos, somada à voz única de Kurt Cobain em Come As You Are, uma clássico do Nirvana, e também pela interação entre Matt Murdock, Jessica Jones, Luke Cage e Danny Rand, personagens com características e humores extremamente heterogêneos, que nas imagens rendiam diversas alfinetadas e zoações, principalmente vindas de Jones, que quem a conhece sabe que se trata de um ser insuportável (no bom sentido).

    Era tudo tão promissor que a decepção, infelizmente foi alta.

    Os personagens seguem suas vidas exatamente dos pontos em que elas pararam em seus próprios seriados. Danny Rand, o Punho de Ferro (Finn Jones), continua viajando pelo mundo, junto de sua escudeira, Colleen Wing (Jessica Henwick), caçando o Tentáculo, sendo que, em sua última empreitada, o coloca de volta a Nova Iorque para uma investigação. Luke Cage (Mike Colter) deixa a prisão e volta para o Harlem, onde fica sabendo que jovens do bairro estão desaparecendo misteriosamente. A detetive particular Jessica Jones (Kristen Ritter) recebe uma ligação misteriosa sobre o desaparecimento de um funcionário de uma empresa que pode estar metida num perigoso empreendimento. Tudo isso acaba chamando a atenção da policial Misty Knight (Simone Missick), que prende Jones. É quando o advogado Matthew Murdock (Charlie Cox) entra em cena para defender a heroína mal humorada. Enquanto isso, somos apresentados a quem parece ser a principal vilã da série, Alexandra, vivida de maneira espetacular por Sigourney Weaver, e que parece ser a líder do Tentáculo, que até então não tinha aparecido em cena.

    Infelizmente demora para vermos todos os heróis juntos em cena. Claro que eles se encontram de maneira separada e isso rende bons momentos, como a primeira vez que Luke Cage enfrenta o Punho de Ferro, mas não demora muito para percebermos que os quatro, na verdade, estão investigando o mesmo assunto, que envolve aquele enorme buraco no chão que vimos na segunda temporada de Demolidor.

    Infelizmente, a série tem sérios problemas de ritmo e se torna muito arrastada em diversos momentos, tendo como seu melhor momento a primeira vez que os quatro se encontram, o que rende uma pancadaria em modo cooperativo, pois precisam fugir de um determinado local. Nem mesmo o retorno de Stick (Scott Glenn), enche de esperança os mais otimistas. Os ótimos trechos do trailer aparecem numa única cena e as piadas e alfinetadas mencionadas acima, já nem possuem tanto peso e graça. Outro ponto que deixou a desejar, foi em algo em que todos os heróis tem de melhor: a luta. Ora, Murdock é praticamente um ninja sinistro, tendo habilidades absurdas na luta, assim como Rand na arte do Kung Fu, aliado com seu punho, somados a Cage e Jones que sempre foram bons de briga. Mas em Os Defensores, as lutas são todas sem graças e muito mal feitas. Ok, não seria justo falar mal feitas, mas totalmente aquém do que se espera quando se trata desses personagens, principalmente quando se trata do Demolidor, cujas as sequências de luta da primeira temporada são fantásticas. Outro ponto que atrapalha e que é algo perdoável é a ausência de uniformes, o que limita a interatividade de Murdock com o restante do elenco, uma vez que o Demolidor é o único de fato a usar um traje de herói.

    Na série, não sobrou espaço para os coadjuvantes. Misty (que aqui tem uma história de origem) e Colleen são os mais acionados e possuem bons tempos de tela, ao contrário dos queridos Claire Temple (Rosario Dawson), Foggy Nelson (Elden Henson), Karen Page (Deborah Ann Woll), Trish Walker (Rachael Taylor) e Malcolm Ducasse (Eka Darville), que ficam boa parte do tempo escondidos no departamento de polícia para que se mantenham seguros.

    E para piorar a situação, a Disney está desenvolvendo seu próprio serviço de streaming e os seriados solo vem sendo cancelados de maneira implacável e será muito difícil ver os Defensores em tela novamente. Precisamos torcer para que haja uma espécie de migração dos atores, saindo da Netflix e indo para a casa do Mickey Mouse. Só assim para vermos os heróis reunidos novamente, numa, quem sabe, segunda chance. Ainda assim, é uma série que vale a pena ser conferida.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Review | Demolidor – 3ª Temporada

    Review | Demolidor – 3ª Temporada

    O começo da terceira temporada de Demolidor se inicia com Matt Murdock (Charlie Cox) machucado, no chão, após os últimos eventos de Os Defensores. Esse talvez seja um dos maiores problemas das series Netflix, a influencia externa das outras, considerando que a maior parte desses shows tiveram momentos ou desfechos negativos e mal lembrados por crítica e publico. Ao menos, com o Homem sem Medo as influencias são menores, uma vez que ele é o carro chefe da plataforma.

    Incrivelmente essa temporada é a com menos gordura, apesar de ainda possuir 13 episódios e de alguns desses terem perto de uma de duração cada. O maior apelo que esta terceira e última temporada, já que a Netflix cancelou o programa, são as relações entre personagens. Karen Page (Deborah Ann Woll) que havia sido sub aproveitada em Justiceiro aqui tem uma função inteligente e condizente com sua contra parte quadrinhos, fazendo o que Matt Murdock não pode fazer, ainda que isso só ocorra por que o herói está combalido.

    Matt é um homem falível. Logo após se recuperar, conseguindo ficar em pé ele decide treinar para aprimorar sua forma física, mas ele apanha de um adversário mais fraco que si, por conta das limitações que tem por conta de suas faculdades mentais não estarem perfeitas. Essa construção de sua humanidade é algo raro nem só nos seriados da Marvel, mas também em seus filmes mais recentes, e há mais acertos aqui  por exemplo do que em Homem Aranha De Volta ao Lar, que deveria ser sobre o herói mais humano da Casa das Ideias, mas que soa apenas como um filme genérico sobre adolescentes.

    Há semelhanças claras desta temporada com A Queda de Murdock, ainda mais quando mostra Matt como um clandestino, um homem abandonado por tudo e todos, desesperado para viver sem seus fantasmas e atormentado por uma obsessão ligada ao Wilson Fisk de Vincent D’Onofrio. O Rei do Crime é aliás outro bom acerto do programa. A jornada rumo a liberdade é mostrada em detalhes, desde o acidente que ocorre quando ele é transferido de prisão até a retomada de seu império de crimes, que resulta na contratação de Benjamin “Dex” Poindexter (Wilson Bethel), o Mercenário, que tenta incriminar o diabo de Hells Kitchen usando seu uniforme vermelho, enquanto o advogado reutiliza  o preto mais básico.

    Mais uma vez D’Onofrio executa magistralmente seu papel, dessa vez mostrando uma faceta mais amedrontadora do Rei do Crime, capaz de dominar a psique de seu rival. A construção mental que o vigilante tem a respeito do seu opositor faz ele  soar ainda mais capaz de causar mal, a força que o antagonista tem dentro da mente do herói parece mais palpável até do que o que se via anteriormente quando ele era violento, o fato de Fisk construir uma faceta falsa do personagem principal o deixa ainda mais poderoso.

    A luta final entre os dois antagonistas é violenta, repleta de escoriações e sangue, remete aos bons momentos de John Romita Junior como artista dos números de Demolidor de Frank Miller. Os simbolismos do embate fazem com que a força dos personagens sejam maximizadas. Uma pena que o programa tenha sido encerrado com algumas pontas soltas, especialmente no que toca Karen e Foggy Nelson (Elden Henson), mas ao menos seus últimos momentos são bem contados, tal qual toda a primeira jornada de Jessica Jones, sendo essa talvez a mais importante e forte historia da Marvel Netflix.

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  • Review | Demolidor – 1ª Temporada

    Review | Demolidor – 1ª Temporada

    demolidor-poster-brDesde a primeira fase da Marvel nos cinemas, o estúdio vem trabalhando seu universo cinematográfico em sincronia expansiva e tinha interesse em desenvolvê-lo em outras mídias. A série Agentes da S.H.I.E.L.D, lançada pela ABC, foi o primeiro derivado direto dos filmes com uma das personagens, Agente Phil Coulson, presente na franquia como estrela.

    Ao mesmo tempo, a Netflix desenvolvia suas primeiras séries originais e, observando um sucesso crescente do prestígio como produtora, demonstrou interesse em adaptar histórias de alguns heróis da Marvel em novo formato proposto pelo serviço: temporadas fechadas, lançadas integralmente em um dia específico. O cuidado que a empresa demonstrou em suas produções e a força do personagem Demolidor elevaram a nova série a um nível alto de expectativa, antes mesmo de seu lançamento.

    A série foi o primeiro projeto confirmado de um plano que envolve mais heróis da Marvel e uma possível série em conjunto de uma equipe urbana envolvendo o Homem Sem Medo, Jessica Jones, Punho de Ferro e Luke Cage. Demolidor se passa no mesmo universo cinematográfico da Marvel, em algum período após o ataque de Nova York que reuniu Os Vingadores. Algumas breves referências em falas e em um jornal destacam a integração destas histórias, denotando a mesma pluralidade heroica existente nos quadrinhos. Em 13 episódios, a série criada por Drew Goddard desenvolve as bases fundamentais estabelecidas em mais de cinquenta anos de histórias.

    A trama evita o início obrigatório de uma origem e utiliza somente a primeira cena, antes da abertura, para mostrar o acidente que transforma o pequeno Murdock em cego. A evolução até se tornar um vigilante está diluída nos episódios. Inicialmente, surge em cenas de grande impacto de violência, como um gatilho emocional que o faz lembrar de sua trajetória. Dessa maneira, conhecemos o passado do garoto durante a ação central da temporada.

    Demolidor é um herói essencialmente urbano representando um bairro específico de Nova York. A sociedade do local é apresentada em tipos diferenciados, desde os habitantes locais, sejam estes da lei ou não, até políticos e empresários que desejam investir no local. Uma composição que radiografa esse microcosmos e seu dia a dia corrupto. Como uma inserção máxima dentro do possível realismo da série, o Homem sem Medo é um herói que não possui nenhum super poder. Seu benefício são os sentidos apurados que lhe dão uma vantagem maior em diversas situações de confronto. A violência sempre foi sua forma de expressão e imposição, uma potência física com maior apuro devido ao seu treinamento e aos sentidos amplificados que lhe permitem absorver uma grande quantidade de informação com a audição, olfato, paladar e tato.

    O realismo urbano e com muita violência é o maior visto no universo Marvel até então. Tal fator se deve à liberdade da Netflix, que não teve medo de transformar seu produto em uma série para maiores, e também à maneira inicial que a Marvel compôs seus primeiros filmes no cinema, mais voltados para a família na primeira fase, e os quais adquiriram contornos mais maduros com Capitão América: O Soldado Invernal, da considerada segunda fase. A censura não afastará os adolescentes de assistirem a essa história, e permite retratar de maneira verossímil um personagem cuja base é a violência. Chamada de estética hipermimética, por refletir com exagero quase naturalista a realidade, a série produz personagens que se aproximam do próprio público: seres com diversas linhas de pensamento e esfericidade, refletindo a concepção múltipla e quebrantada dos humanos. Um espaço ideal para dramas internos tanto de personagens com boa índole quanto daqueles mais próximos dos vilões.

    Demolidor - Daredevil - elenco

    Em relação à cronologia de Demolidor, o roteiro é capaz de produzir uma obra original e, ao mesmo tempo, promover diversas grandes referências ao universo de Murdock, entregando àqueles que já conhecem o herói momentos de reconhecimento e nostalgia em relação aos quadrinhos, estabelecendo um jogo de referências que demonstra as intenções futuras da narrativa. A história utiliza tanto elementos chave da personagem como une diversos argumentos apresentados em arcos específicos.

    Neste primeiro ano, o vigilante conhecido como o demônio de Hell´s Kitchen demonstra mais entusiasmo do que um plano concreto para mudar a cidade. Sem um método além da vontade de defender o local em que vive, suas ações pontuais são recebidas depois com retaliações, ainda que o herói consiga sempre ser vencedor. Sendo um tipo urbano, suas ações trabalham diretamente contra a corrupção do local, uma cidade dominada por russos, outras facções e um novo membro desconhecido. Não há dúvida de que vilões tradicionais aparecerão futuramente na trama. Porém, a escolha narrativa neste primeiro momento foi a relação do herói com sua cidade, destacando um dos maiores vilões do Demolidor, o empresário Wilson Fisk, que será conhecido como Rei do Crime.

    A infância de Fisk é apresentada no episódio Sombras com Reflexo, humanizando a figura do vilão, justificando que por trás de atos considerados hediondos há uma base psicológica que desenvolveu ou justificou tais atos. As cenas que mostram o cotidiano do empresário cozinhando solitariamente o café da manhã apresentam um homem poderoso que não conseguiu estabelecer laços. Um deslocamento interno que não se satisfaz com o belo ambiente em que vive. Não à toa, ao se ver atraído por uma mulher, seu comportamento muda brevemente. Porém, não o bastante para mudar seu caráter sombrio e violento, justificado pela infância abusiva. A caracterização feita por Vicent D´Onofrio é bem representada, desde o porte físico, equilibrado entre a falsa cortesia de Fisk, até suas explosões de violência. Como o herói em cena, Fisk não é super-humano. É somente um homem com um propósito bem delineado.

    Visualmente, a série mantém a percepção realista e faz da fotografia um aliado positivo, utilizando muito mais sombras do que luzes, para demonstrar a aspereza de Hell´s Kitchen. Como destaque do apuro técnico, o final do episódio Fio da Navalha, um plano-sequência simulado não só é brilhante como cena como também demonstra as habilidades do demônio como lutador. (A cena parece uma resposta à técnica do quarto episódio de True Detective, da HBO, também elogiadíssimo por público e crítica).

    Sem nenhum medo de promover transformações drásticas para a personagem central, a série utiliza muitos argumentos narrativos que os quadrinhos demoraram anos para abordar. A concepção das mídias é diferente e, dentro desta proposta realista, é necessário que a personagem tenha aliados ativos em prol de sua luta. E Murdock conquista estes aliados em todas as esferas: íntima, midiática e médica. O amigo Foggy Nelson descobre sua identidade em dos melhores episódios da temporada, Nelson x Murdock, que ilumina o passado dos amigos na faculdade – até mesmo com a menção a uma misteriosa namorada grega de Matt (Elektra, criada por Frank Miller) – e abala a amizade dos sócios pela falta de confiança do vigilante em dividir seu segredo.

    A mídia é destacada por outro grande personagem de seu universo, o jornalista investigativo Ben Ulrich, representante do poder da imprensa como meio de denúncia de corrupção. Por fim, a personagem de Rosario Dawson, Claire Temple, se aproxima do herói após salvá-lo desmaiado dentro de uma caçamba, e passa a ajudá-lo no cuidado com seus ferimentos. Existente nos quadrinhos, Claire é originalmente o interesse amoroso de Luke Cage, um possível indicativo de que, na futura série do herói com pele impermeável, poderemos rever o personagem que, aqui, tem uma relação rápida com Matt, mas que se afasta por não aceitar sua trajetória heroica. Trajetória também questionada pelo personagem central, o qual reconhece a importância de suas ações mas ainda se divide através do conceito moral e católico de fazer o bem. Diante de tanta dor, o vigilante questiona a necessidade de romper a linha e se tornar um assassino necessário.

    A primeira temporada produz um excelente arco narrativo, focado no conflito entre Demolidor e a própria corrupção de sua cidade, tendo como destaque o vilão Rei do Crime. Uma boa escolha narrativa que se apoia neste primeiro momento no realismo para que nos futuros, próximos vilões mais tradicionais, como o insano Mercenário, sejam inseridos na trama e ainda deem credibilidade para a história. Uma incrível temporada inicial com muito mais potência do que a maioria dos filmes Fase Um da Marvel no cinema. Se considerarmos a série como a primeira de outros personagens urbanos, a Netflix conseguiu mais uma vez um grande acerto.

  • Crítica | A Teoria de Tudo

    Crítica | A Teoria de Tudo

    A Teoria de Tudo - Poster brasileiro

    O século XX, mesmo sendo considerado um dos períodos mais sangrentos da história da humanidade, deixou heranças culturais sólidas em nossa cultura, e a popularização da ciência e do discurso científico foi uma delas. Einstein é mais conhecido por suas frases a respeito da moralidade da humanidade e por sua oposição à violência do que por sua obra na física. Depois dele, o grande divulgador da ciência (e polemista nato) é o astrofísico britânico Stephen Hawking, que, além de ter mudado os rumos da física moderna, é portador de uma doença séria chamada esclerose lateral amiotrófica (ELA), que o impossibilita de se movimentar, tornando sua figura ainda mais interessante aos olhos do mundo.

    Sua ex-esposa, Jane Hawking, publicou em 2008 o livro A Teoria de Tudo – A Extraordinária História de Jane e Stephen Hawkin contando a experiência de ter sido casada durante tantos anos com o físico. Em 2014, o diretor James Marsh e o roteirista Anthony McCarten trazem essa interessante história aos cinemas com A Teoria de Tudo, tendo o excelente Eddie Redmayne no papel de Hawking, e Felicity Jones como sua esposa.

    Por não se tratar de um filme biográfico sobre a vida e obra do cientista, a história começa com Hawking já na faculdade, buscando um tema para seu doutorado. O jovem, então, começa a perceber que algo está estranho com seus movimentos musculares, ao mesmo tempo que lida com colegas, professores e conhece a jovem estudante de línguas Jane. Após pouco tempo, quando ambos já estavam em um relacionamento, ele sofre um tombo do qual não consegue se levantar. Levado ao hospital e diagnosticado com a grave doença, recebe uma estimativa de vida de dois anos. Por isso, tenta afastar Jane, que reluta e decide manter-se ao lado do físico teórico, o que se manterá por 26 anos e três filhos.

    Retratando fielmente a perseverança do britânico, o filme mostra o passo a passo de sua degeneração física em contraponto a sua ascensão meteórica como astrofísico, desafiando todas as convenções da academia impostas até então, como, por exemplo, sua ideia a respeito dos buracos negros (que ele iria alterar posteriormente) e conceitos sobre a expansão do universo. O filme também aborda, de maneira mais leve, a postura que possui em relação a religião e à crença em deus. Apesar de se declarar publicamente ateu, o filme evita escancarar tais posições e mostra a vida de Stephen Hawking, de jovem cientista arrogante a um idoso cientista que “prevê a possibilidade de deus”, sendo que isso está longe da realidade. O que faz é brincar com as palavras e as convenções das pessoas usando seu famoso senso de humor, e essa fina ironia o filme não consegue captar nesse aspecto.

    Porém, a relação entre ele e sua esposa Jane possui momentos belos e profundos. Jane se doa à família, e deixa sua própria vida de lado. Mesmo quando tenta retomar seus estudos, o pesado cotidiano a impede de prosseguir com isso. A sombra de Hawking é muito grande, e sua teimosia em aceitar ajuda profissional reforça sua visão tradicionalista, beirando o machismo. Porém, tudo muda quando Jane conhece o professor de música de uma igreja local Jonathan H. Jones (Charlie Cox), que logo passa a morar com o casal, suscitando vários boatos de que ele e Jane eram amantes, o que o filme em momento algum aborda diretamente, apesar de ser fato conhecido por todos.

    A relação apaixonada e conturbada de Jane e o marido também é mostrada de forma interessante. Com empenho no começo e depois passando por problemas, como quando Jane explica a Jonathan um resumo das ideias de Stephen (sobre como ele queria uma teoria que explicasse todo o funcionamento do universo, desde as grandes massas até as pequenas partículas) de forma passivo-agressiva, tentando conter ao máximo a frustração de sua própria vida sendo contida ali dentro daquele universo.

    Porém, após uma complicação em uma viagem, Hawking é submetido a uma traqueostomia e perde a habilidade de falar para sempre, o que causa também o afastamento de Jonathan da família. É nesse momento que o físico teórico recebe o sintetizador de voz, que hoje é uma de suas maiores características.

    O peso de cada uma das dificuldades que Hawking precisou passar é enorme. Superar o diagnóstico, a expectativa de vida, o uso da cadeira de rodas e depois o sintetizador seriam brutais para qualquer pessoa. Porém, ele consegue continuar avançando e produzindo. De onde ele tira essa força é um mistério para todos nós, e o filme falha em problematizar justamente esse lado. O cosmólogo britânico sempre foi contrário à eutanásia (apesar de recentemente ter mudado de opinião) e nunca se apoiou em nenhuma religião para obter conforto ou uma fuga da realidade. Sua mente genial está para sempre aprisionada nesse corpo, e raras vezes o filme parece questionar como foi passar por tudo isso. Em sua família, conseguimos sentir esse peso, mas não nele.

    A ciência também vai, conforme o filme avança, perdendo importância na narrativa. Cada vez menos as universidades e professores aparecem, tornando a história cada vez mais pessoal e intimista, o que por sua vez dificulta um pouco a compreensão do espectador a respeito da forma com a qual Hawking se tornou conhecido realmente. O caminho é corrigido subitamente quando aborda a publicação de seu primeiro livro, Uma Breve História do Tempo, em que ele tenta explicar um assunto complicado e “chato” para o leitor comum, e com isso vende milhões de cópias por todo o mundo, saindo de vez das revistas científicas e indo parar nos jornais e tabloides. O tempo sempre foi sua grande paixão. E compreendê-lo por completo, seu maior desafio.

    A vantagem de A Teoria de Tudo é sua honestidade. Não se propõe a decifrar por completo a figura do cientista ou de sua esposa, e sim os frutos de sua interação por todos os anos de casamento, e como um impactou a vida do outro na intimidade. Apesar de flertar com momentos um pouco clichês em cenas românticas, mostrar epifanias criativas em momentos aleatórios e expor discursos de autoajuda em palestras que mais parecem motivacionais do que científicas, consegue jogar luz dentro deste personagem tão fascinante. Vale a assistida, mas consciente de suas limitações, como qualquer biografia.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

  • Crítica | Drácula: A História Nunca Contada

    Crítica | Drácula: A História Nunca Contada

    Vlad III, O Empalador foi o príncipe da Valáquia, atual Romênia, por três vezes. Adquiriu o nome Drácula (Draculea) quando seu pai, Vlad II, foi nomeado cavaleiro da Ordem do Dragão, no caso, um Dracul. Assim, após a morte do pai, Vlad III passou a ser chamado Vlad Draculea, ou seja, o filho do dragão, sendo que hoje, em romeno, significa filho do diabo.

    Conhecido por ser sanguinário, Vlad, ainda criança, foi entregue aos otomanos como parte de um acordo e, ao retornar à Valáquia, se tornou muito conhecido por empalar os inimigos mortos no campo de batalha, impondo, assim, certo respeito entre os outros feudos. Sua confusa história acabou dando origem a certas lendas urbanas, já que, na época, século XV, achava-se que ele era imortal simplesmente porque as pessoas pensavam que Vlad III na verdade era o seu pai. Tentem imaginar uma época sem a quantidade de informações que temos hoje. Aliado a esses fatos, a predileção de Vlad pela violência fez com que acreditassem, inclusive, que ele bebia o sangue dos inimigos mortos, algo que até hoje é discutível. Desta forma, teve-se material o bastante para que ele se tornasse o tão conhecido Conde Drácula, um dos personagens mais conhecidos e queridos da literatura mundial, criado pelo escritor irlandês Bram Stoker e imortalizado no cinema diversas vezes, com o destaque para Drácula, dirigido por Francis Ford Coppola.

    Drácula: A História Nunca Contada, além do título, tem a intenção de contar ao espectador a história de Vlad, O Empalador, antes dele se tornar o vampiro que conhecemos hoje, trazendo elementos históricos, baseados nas vidas de Vlad Dracul e de seu filho, Vlad III. Percebe-se, portanto, a fusão de duas pessoas em um único personagem.

    Logo no início, Vlad (Luke Evans), já detentor de sua terrível fama, e seus homens estão numa incursão com a finalidade de descobrir quem está por trás de algumas mortes na região da Montanha do Dente Quebrado. Essa incursão faz com dois homens sejam mortos, além de colocar o protagonista em contato com uma força sobrenatural e desconhecida ali presente. Ao retornar ao seu castelo, Vlad é surpreendido com a notícia de que o sultão Mehmed (Dominic Copper) ordenou que todos os jovens do feudo fossem enviados com a finalidade de serem treinados como guerreiros, incluindo o único filho de Vlad e de sua amada esposa Mirena (Sarah Gadon), o jovem Ingeras (Art Parkinson, o Rickon Stark de Game Of Thrones).

    Após salvar seu filho, o que foi uma declaração de guerra ao sultão, Vlad acaba pedindo ajuda à citada força sobrenatural, vivida por Charles Dance (o Tywin Lannister, também de Game Of Thrones). O “vampiro prime” explica ao protagonista que é daquele jeito por conta de uma maldição que ele carrega há eras e que Vlad ficaria livre de tal condenação se conseguisse sobreviver à sede por três dias. Com isso, dotado de uma habilidade e força superiores a qualquer homem, Vlad enfrenta sozinho um pequeno exército turco de mil homens, ganhando tempo suficiente para fugir com seu reino para outro castelo.

    E é aí que se encontra o problema de Drácula: A História Nunca Contada, pois a cena de batalha em questão foi filmada no escuro, o que não teria problema se o público enxergasse alguma coisa. Imagina-se que a passagem tenha sido proposital, mas nem tanto. Tudo isso, aliado ao fato de que Vlad não pode mais ficar sob o sol, faz com que a história se desenvolva sempre durante a noite, mas uma noite, que, por algum motivo obscuro (com o perdão do trocadilho), tornou-se difícil de enxergar. A fotografia do veterano John Schwartzman, infelizmente, atrapalha muito, e faz com que a direção do estreante Gary Shore e da dupla de roteiristas, os também estreantes Matt Sazama e Burk Sharpless, não se sustente.

    Em resumo, o filme fica tecnicamente prejudicado, uma vez que tem como destaque o departamento de figurino e efeitos especiais, incluindo arte e som, que são impecáveis. Vale destacar que a caracterização de Vlad é bastante parecida com as pinturas retratando o príncipe da Valáquia, com o tradicional bigodinho e o cabelo crescendo na região da nuca, sendo sua armadura inspirada na que foi usada por Gary Oldman no filme de Coppola.

    Com relação ao restante, Luke Evans destaca-se muito mais do que os outros, o que faz com o time de coadjuvantes fique bastante à sua sombra. Porém, por ter um nome em ascensão em Hollywood, o ator galês ainda merece ser protagonista de um filme bem melhor, tornando o saldo deste Drácula bastante regular.

    Mas, ainda assim, os fãs conseguirão identificar algumas referências e homenagens à obra de Bram Stoker, algo que, ao menos, gera alguma alegria.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.