Tag: Matt Sazama

  • Crítica | Zama

    Crítica | Zama

    Conduzido pela diretora argentina Lucrecia Martel, Zama conta a história de um oficial da coroa espanhola, no final do século XVII, nascido na América do Sul, que está no aguardo de ordens reais concedendo-lhe a transferência da cidade onde está para um lugar melhor. O personagem-título é interpretado por Daniel Giménez Cacho, que empresta seu semblante e trejeitos a fim de convencer o público da história que será contada.

    A reconstrução de época bem desenvolvida, faz um retrato detalhado do período, digno de filmes como Barry Lyndon de Stanley Kubrick. Os detalhes em cenários e maquiagens são belíssimos, assim como o uso de locações campestres e praianas, essa imersão ajuda o espectador a se ambientar não só com a época, mas também com o contexto histórico existente. Além disso, soa bastante acompanhar o homem fardado transitando em meio a uma terra que transborda sexualidade.

    Zama é um sujeito asqueroso, distante demais do ideal que se espera dos servidores da realeza. A questão é que grandes tramas ameaçam acontecer mas jamais chegam a ser concluídas. A rotina do homem é enfadonha, fato que tenta justificar a falta de ação e de eventos que minimamente chamem a atenção dos espectador. Os anos passam e a mensagem do rei nunca chega.

    No terço final uma nova trama aparece graças a morosidade das ordens reais. Após ser rejeitado por praticamente todos os governantes e demais pessoas da cercania. Seu nome cai em desgraça e correm boatos de que sua cabeça está a prêmio. Ao se aventurar com um grupo de soldados, ele sai em definitivo do estado incômodo em que estava para basicamente abraçar um estilo de vida muito diferente e repleto de provações diárias.

    A tentativa de movimentar a história é bastante tímida, e nos momentos finais a fotografia de Rui Poças passa a ser ainda mais valorizada graças as cenas externas. O advento do misterioso personagem de Matheus Nachtergaele, de identidade não definida é um sopro de carisma, mas é ainda mais tardia do que a virada que ocorre com o protagonista. Seu destino trágico se assemelha um pouco a proposta do filme, que pesa muito em seu caráter hermético.

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  • Crítica | Drácula: A História Nunca Contada

    Crítica | Drácula: A História Nunca Contada

    Vlad III, O Empalador foi o príncipe da Valáquia, atual Romênia, por três vezes. Adquiriu o nome Drácula (Draculea) quando seu pai, Vlad II, foi nomeado cavaleiro da Ordem do Dragão, no caso, um Dracul. Assim, após a morte do pai, Vlad III passou a ser chamado Vlad Draculea, ou seja, o filho do dragão, sendo que hoje, em romeno, significa filho do diabo.

    Conhecido por ser sanguinário, Vlad, ainda criança, foi entregue aos otomanos como parte de um acordo e, ao retornar à Valáquia, se tornou muito conhecido por empalar os inimigos mortos no campo de batalha, impondo, assim, certo respeito entre os outros feudos. Sua confusa história acabou dando origem a certas lendas urbanas, já que, na época, século XV, achava-se que ele era imortal simplesmente porque as pessoas pensavam que Vlad III na verdade era o seu pai. Tentem imaginar uma época sem a quantidade de informações que temos hoje. Aliado a esses fatos, a predileção de Vlad pela violência fez com que acreditassem, inclusive, que ele bebia o sangue dos inimigos mortos, algo que até hoje é discutível. Desta forma, teve-se material o bastante para que ele se tornasse o tão conhecido Conde Drácula, um dos personagens mais conhecidos e queridos da literatura mundial, criado pelo escritor irlandês Bram Stoker e imortalizado no cinema diversas vezes, com o destaque para Drácula, dirigido por Francis Ford Coppola.

    Drácula: A História Nunca Contada, além do título, tem a intenção de contar ao espectador a história de Vlad, O Empalador, antes dele se tornar o vampiro que conhecemos hoje, trazendo elementos históricos, baseados nas vidas de Vlad Dracul e de seu filho, Vlad III. Percebe-se, portanto, a fusão de duas pessoas em um único personagem.

    Logo no início, Vlad (Luke Evans), já detentor de sua terrível fama, e seus homens estão numa incursão com a finalidade de descobrir quem está por trás de algumas mortes na região da Montanha do Dente Quebrado. Essa incursão faz com dois homens sejam mortos, além de colocar o protagonista em contato com uma força sobrenatural e desconhecida ali presente. Ao retornar ao seu castelo, Vlad é surpreendido com a notícia de que o sultão Mehmed (Dominic Copper) ordenou que todos os jovens do feudo fossem enviados com a finalidade de serem treinados como guerreiros, incluindo o único filho de Vlad e de sua amada esposa Mirena (Sarah Gadon), o jovem Ingeras (Art Parkinson, o Rickon Stark de Game Of Thrones).

    Após salvar seu filho, o que foi uma declaração de guerra ao sultão, Vlad acaba pedindo ajuda à citada força sobrenatural, vivida por Charles Dance (o Tywin Lannister, também de Game Of Thrones). O “vampiro prime” explica ao protagonista que é daquele jeito por conta de uma maldição que ele carrega há eras e que Vlad ficaria livre de tal condenação se conseguisse sobreviver à sede por três dias. Com isso, dotado de uma habilidade e força superiores a qualquer homem, Vlad enfrenta sozinho um pequeno exército turco de mil homens, ganhando tempo suficiente para fugir com seu reino para outro castelo.

    E é aí que se encontra o problema de Drácula: A História Nunca Contada, pois a cena de batalha em questão foi filmada no escuro, o que não teria problema se o público enxergasse alguma coisa. Imagina-se que a passagem tenha sido proposital, mas nem tanto. Tudo isso, aliado ao fato de que Vlad não pode mais ficar sob o sol, faz com que a história se desenvolva sempre durante a noite, mas uma noite, que, por algum motivo obscuro (com o perdão do trocadilho), tornou-se difícil de enxergar. A fotografia do veterano John Schwartzman, infelizmente, atrapalha muito, e faz com que a direção do estreante Gary Shore e da dupla de roteiristas, os também estreantes Matt Sazama e Burk Sharpless, não se sustente.

    Em resumo, o filme fica tecnicamente prejudicado, uma vez que tem como destaque o departamento de figurino e efeitos especiais, incluindo arte e som, que são impecáveis. Vale destacar que a caracterização de Vlad é bastante parecida com as pinturas retratando o príncipe da Valáquia, com o tradicional bigodinho e o cabelo crescendo na região da nuca, sendo sua armadura inspirada na que foi usada por Gary Oldman no filme de Coppola.

    Com relação ao restante, Luke Evans destaca-se muito mais do que os outros, o que faz com o time de coadjuvantes fique bastante à sua sombra. Porém, por ter um nome em ascensão em Hollywood, o ator galês ainda merece ser protagonista de um filme bem melhor, tornando o saldo deste Drácula bastante regular.

    Mas, ainda assim, os fãs conseguirão identificar algumas referências e homenagens à obra de Bram Stoker, algo que, ao menos, gera alguma alegria.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.