Tag: Samantha Barks

  • Crítica | Colheita Amarga

    Crítica | Colheita Amarga

    Ambientado na Ucrânia dos anos trinta, Colheita Amarga é um romance/drama de George Mendeluk, que mostra uma época antiga, onde as pessoas viviam de modo mais simples, ainda que a análise empregada aqui seja extremamente parcial, uma vez que é feita sob uma ótica estrangeira. O romance de época tem a árdua tarefa de tentar fazer um panorama da questão conhecida como Holodomor, e se perde bastante nessa proposta.

    A historia principal envolve um casal que tenta viver seu amor. O jovem artista Yuri tenta salvar sua amada, Natalka, de morrer de fome, como algumas pessoas ao seu redor. A dupla é vivida pelos inexpressivos Max Irons e Samantha Barks. Além deles, há o acréscimo do veterano Terence Stamp, que aliás, tem uma morte trágica, e até acidental, que pode ou não ter ocorrido graças ao problema de falta de comida que ocorre ali, mas isso não fica exatamente claro, pois o roteiro é bem mal construído em volta disso. Em alguns momentos, parece que faltam trechos inteiros do filme.

    Os soviéticos representados aqui são extremamente caricatos, não há preocupação nenhuma em representar humanidade ali, ao contrário. A questão política envolvendo as forças soviéticas e ucranianas é mostrada de um modo vergonhoso e maniqueísta, incapaz de apresentar qualquer nuance. Houve um filme recente que também consegue ser bastante ofensivo no sentido de retratar as pessoas que compunham a União Soviética, chamado Crimes Ocultos.

    A abordagem do roteiro de Mendeluk e Richard Bachynsky Hoover, evoca um sensacionalismo barato e uma dramaturgia que não deixa nada a desejar as novelas mexicanas. Toda a questão envolvendo a fome que tomou a Ucrânia é extremamente polêmica inclusive sobre quem realmente teria impingido o mal sobre o país, e sobre quem seria o responsável por isso, e quando se mostra os soldados de Stalin, Secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética, sentindo prazer no fato do país vizinho estar passando necessidade é risível, teatral demais para um filme que busca alguma seriedade.

    Curiosamente, o filme foi lançado em 2017 nos cinemas mundiais, só chegando agora aos cinemas brasileiros, e em 2017 acontece o centenário da revolução leninista, e a fábula dantesca estabelecida aqui cabe bastante como uma tentativa de contrapropaganda, o que se torna bastante bizarro e desonesto, uma vez que a União Soviética acabou há mais de duas décadas. Há um documentário de baixo orçamento, inteiro disposto no Youtube chamado Holodomor: O Que Você Ainda Não Viu (entre outros tantos documentos históricos), e ele demonstra de maneira bastante didática como ocorreu a construção histórica em volta dos mitos de Holodomor, desatando os nós que tenta igualar esse episódio como se fosse o paralelo soviético ao holocausto judeu executado pelos nazistas, numa clara propaganda anticomunista e soviética.

    Deixarei linkado as partes dois, três e quatro também, caso o leitor esteja curioso, e independente até de discurso político ideológico, falta a Colheita Amarga uma maior sobriedade e austeridade. O fato de romantizar a questão, e a tentativa de igualar o caso de 33 na Ucrânia ao ocorrido nos campos de concentração alemães é covarde e piora muito pelo fato de o longa em questão ser de extremo mal gosto estético e dramático. A função da direção de Mendeluk não é muito diferente de seus filmes anteriores, como Ameaça Sem Controle, um filme de ficção científica barato, que tinha como trama principal um ataque de formigas assassinas que saiam de dentro de suas vítimas. Pode parecer absurdo comparar as duas obras, mas a falta de qualidade narrativa em ambas são similares, e o mesmo pode-se dizer de seu caráter.

    https://www.youtube.com/watch?v=zSIOybTKzFc

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  • Crítica | Drácula: A História Nunca Contada

    Crítica | Drácula: A História Nunca Contada

    Vlad III, O Empalador foi o príncipe da Valáquia, atual Romênia, por três vezes. Adquiriu o nome Drácula (Draculea) quando seu pai, Vlad II, foi nomeado cavaleiro da Ordem do Dragão, no caso, um Dracul. Assim, após a morte do pai, Vlad III passou a ser chamado Vlad Draculea, ou seja, o filho do dragão, sendo que hoje, em romeno, significa filho do diabo.

    Conhecido por ser sanguinário, Vlad, ainda criança, foi entregue aos otomanos como parte de um acordo e, ao retornar à Valáquia, se tornou muito conhecido por empalar os inimigos mortos no campo de batalha, impondo, assim, certo respeito entre os outros feudos. Sua confusa história acabou dando origem a certas lendas urbanas, já que, na época, século XV, achava-se que ele era imortal simplesmente porque as pessoas pensavam que Vlad III na verdade era o seu pai. Tentem imaginar uma época sem a quantidade de informações que temos hoje. Aliado a esses fatos, a predileção de Vlad pela violência fez com que acreditassem, inclusive, que ele bebia o sangue dos inimigos mortos, algo que até hoje é discutível. Desta forma, teve-se material o bastante para que ele se tornasse o tão conhecido Conde Drácula, um dos personagens mais conhecidos e queridos da literatura mundial, criado pelo escritor irlandês Bram Stoker e imortalizado no cinema diversas vezes, com o destaque para Drácula, dirigido por Francis Ford Coppola.

    Drácula: A História Nunca Contada, além do título, tem a intenção de contar ao espectador a história de Vlad, O Empalador, antes dele se tornar o vampiro que conhecemos hoje, trazendo elementos históricos, baseados nas vidas de Vlad Dracul e de seu filho, Vlad III. Percebe-se, portanto, a fusão de duas pessoas em um único personagem.

    Logo no início, Vlad (Luke Evans), já detentor de sua terrível fama, e seus homens estão numa incursão com a finalidade de descobrir quem está por trás de algumas mortes na região da Montanha do Dente Quebrado. Essa incursão faz com dois homens sejam mortos, além de colocar o protagonista em contato com uma força sobrenatural e desconhecida ali presente. Ao retornar ao seu castelo, Vlad é surpreendido com a notícia de que o sultão Mehmed (Dominic Copper) ordenou que todos os jovens do feudo fossem enviados com a finalidade de serem treinados como guerreiros, incluindo o único filho de Vlad e de sua amada esposa Mirena (Sarah Gadon), o jovem Ingeras (Art Parkinson, o Rickon Stark de Game Of Thrones).

    Após salvar seu filho, o que foi uma declaração de guerra ao sultão, Vlad acaba pedindo ajuda à citada força sobrenatural, vivida por Charles Dance (o Tywin Lannister, também de Game Of Thrones). O “vampiro prime” explica ao protagonista que é daquele jeito por conta de uma maldição que ele carrega há eras e que Vlad ficaria livre de tal condenação se conseguisse sobreviver à sede por três dias. Com isso, dotado de uma habilidade e força superiores a qualquer homem, Vlad enfrenta sozinho um pequeno exército turco de mil homens, ganhando tempo suficiente para fugir com seu reino para outro castelo.

    E é aí que se encontra o problema de Drácula: A História Nunca Contada, pois a cena de batalha em questão foi filmada no escuro, o que não teria problema se o público enxergasse alguma coisa. Imagina-se que a passagem tenha sido proposital, mas nem tanto. Tudo isso, aliado ao fato de que Vlad não pode mais ficar sob o sol, faz com que a história se desenvolva sempre durante a noite, mas uma noite, que, por algum motivo obscuro (com o perdão do trocadilho), tornou-se difícil de enxergar. A fotografia do veterano John Schwartzman, infelizmente, atrapalha muito, e faz com que a direção do estreante Gary Shore e da dupla de roteiristas, os também estreantes Matt Sazama e Burk Sharpless, não se sustente.

    Em resumo, o filme fica tecnicamente prejudicado, uma vez que tem como destaque o departamento de figurino e efeitos especiais, incluindo arte e som, que são impecáveis. Vale destacar que a caracterização de Vlad é bastante parecida com as pinturas retratando o príncipe da Valáquia, com o tradicional bigodinho e o cabelo crescendo na região da nuca, sendo sua armadura inspirada na que foi usada por Gary Oldman no filme de Coppola.

    Com relação ao restante, Luke Evans destaca-se muito mais do que os outros, o que faz com o time de coadjuvantes fique bastante à sua sombra. Porém, por ter um nome em ascensão em Hollywood, o ator galês ainda merece ser protagonista de um filme bem melhor, tornando o saldo deste Drácula bastante regular.

    Mas, ainda assim, os fãs conseguirão identificar algumas referências e homenagens à obra de Bram Stoker, algo que, ao menos, gera alguma alegria.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.