Tag: Stan Lee

  • Resenha | Pancadaria: Por Dentro do Épico Conflito Marvel vs. DC – Reed Tucker

    Resenha | Pancadaria: Por Dentro do Épico Conflito Marvel vs. DC – Reed Tucker

    Pancadaria: Por Dentro do Épico Conflito Marvel vs. DC é um livro de estudo de caso sobre a rivalidade entre as duas maiores editoras mainstream dos Estados Unidos, escrito pelo jornalista Reed Tucker. A publicação é parte da cena de bons livros que se voltam para o universo dos quadrinhos no Brasil e no mundo.

    Ainda na introdução o escritor tira algumas conclusões sobre o choque entre editoras e as diferenças entre elas, destacando a capacidade da Marvel Comics se renovar enquanto a DC Comics se assemelha a uma reunião de idosos incapazes de retratar algo fora de suas zonas de conforto.

    Os capítulos iniciais destacam o pioneirismo da DC quando ainda era chamada National Comics, primeiro com reunião de heróis em grupos, como também em iniciativas editoriais que popularizavam os personagens de maneira unida e organizada. Um bom retrato da chamada Era de Ouro e pelos fatores que ajudaram a formar o que se entendia por quadrinhos de heróis. O tradutor, Guilherme Kroll faz um ótimo trabalho, o livro é repleto de notas de rodapé envolvendo contexto das publicações lá fora e no Brasil, como, por exemplo, as traduções nacionais envolvendo mudanças de nomes — Lois Lane para Mirian Lane, Átomo para Eléktron, etc.

    Fato é que Marvel e DC eram bem diferentes desde sua concepção, ainda que a temática das aventuras nas revistas coincidisse. A Marvel, inicialmente, variava entre a mera replicação do que fazia sucesso nos quadrinhos populares da concorrente, com destaque de uma fala de Stan Lee:

    “éramos uma empresa de macacos de imitação”

    Enquanto sua concorrente era predatória, comprando todas as pequenas concorrentes — boatos no livro dão conta que até se cogitou a compra dos direitos do Príncipe Namor e Tocha Humana original, obviamente não confirmado pelas partes.

    A maior riqueza do livro são os detalhes da indústria, como a função de Stan Lee de estagiário, responsável por entregas, servir café e demais serviços auxiliares enquanto sonhava em se tornar romancista, já que encarava os quadrinhos como uma arte menor. Além disso, o livro se debruça bastante sobre a Marvel, desde a importância e decadência de Jack Kirby, como também da ascensão de Stan Lee.

    Reed tem uma escrita prosaica que prende o leitor, além disso, há muita fluidez e inteligência em transições de temas e assuntos. É tudo muito orgânico e o escritor não tem receio em expor a supressão dos artistas por parte da DC e as constantes brigas de Lee na Marvel para serem dados os legítimos créditos aos artistas e escritores no início da segunda metade do século XX.

    Acompanhar os rumos que cada um dos personagens da indústria traçam neste livro faz o leitor buscar as histórias retratadas ali, seja dos personagens do Quarto Mundo quanto o primeiro crossover entre as editoras: Superman x Homem Aranha. O autor detalha tudo muito bem os crossovers dos anos 90, as tentativas de adaptação para televisão e cinema, e as principais disputas. O mesmo ocorre nas referências à era das  graphic novels, e em como a DC foi pioneira no formato de venda de “livros”, enquanto a Marvel não pensou tanto nisso, fato que foi importante para a falência da editora, que chegou a vender os direitos de seus personagens.

    A leitura de Tucker é convidativa, especialmente pela riqueza de detalhes dos bastidores da indústria de quadrinhos, tudo é bem explorado, tanto para o leitor não habituado a esse universo, quanto aos mais experientes. Pancadaria é uma leitura rica sobre esse subgênero e muito complementar a outros estudos sobre o tema.

  • Crítica | Homem-Aranha 3

    Crítica | Homem-Aranha 3

    Homem-Aranha 3 fecha a trilogia de Sam Raimi sobre o herói tangível e cheio de defeitos criado por Steve Ditko e Stan Lee, mas não sem trazer consigo uma infinidade de reclamações sobre os rumos que a franquia tomou. Na trama, Peter Parker (Tobey Maguire) tem de enfrentar uma crise na relação com Mary Jane (Kirsten Dunst), além de três vilões diferentes.

    No início do filme há uma clara diferença desse para Homem-Aranha 2, o recapitular das aventuras anteriores se dá com arte de Alex Ross e aqui estão apenas as cenas conduzidas por Raimi, sem qualquer tratamento de imagem, como um resumo de capítulos anteriores de uma série barata, o cuidado com a cinessérie mudou e, além disso, se nota uma diferença no tema orquestrado, com tons e acordes diferentes, já que Danny Elfman dá lugar a  Christopher Young na trilha sonora. Esse tom obscuro deveria passar para a abordagem da personalidade de Peter, mas isso não ocorre, necessariamente.

     

    Homem-Aranha 3 é muitas vezes injustamente  criticado, no entanto, uma reclamação justa é o comportamento que o personagem de Maguire tem no início do filme, antes mesmo de ter contato com o “alienígena” que daria origem a Venom. Ele é impulsivo, se deslumbra com a aceitação que o povo lhe confere finalmente, após dois filmes com histórias conturbadas, e age de maneira brutalmente insensível, em especial com MJ. A vida pessoal de Peter finalmente se ajeita, ele está feliz, tanto como Aranha quanto Peter Parker, mas como se trata de um personagem trágico (aos menos aos olhos do diretor), não há como seguir assim por tanto tempo.

    Raimi é um cineasta muito fiel às suas raízes, mesmo quando faz obras mais voltadas para o público mainstream. Desse modo, é natural que existam cenas que remetam ao cinema de horror. E aqui a manifestação se dá no entorno do Homem Areia, tanto na transformação que Flint Marko (Thomas Haden Church) sofre, quanto nos momentos finais. Além de ter um visual arrebatador em ambos momentos, há significados que remetem aos monstros clássicos, em especial na sua gênese. Marko tem características da criatura de Frankenstein de Boris Karloff, e certamente essa referência seria melhor encaixada caso o roteiro fosse mais sólido, pois o evento que transforma o personagem é completamente avulso à trama, sem repercussão antes ou depois do ocorrido.

    As tramas secundárias também variam de qualidade. James Franco está bastante canastrão, não consegue dar camadas ao seu personagem, sua motivação não faz sentido por não ter tempo de tela, sem falar que expõe um dos defeitos do filme, os efeitos visuais primários. Dunst está muito bem, consegue trabalhar bem com o que é lhe dado, mesmo sendo pouco. Já a introdução dos personagens novos, como Gwen (Bryce Dallas Howard), Eddie Brock (Topher Grace) e o Capitão Stacy (James Cromwell) é gratuita ao extremo. Não há desenvolvimento mínimo de nenhum deles, e até os coadjuvantes do Clarim Diário parecem mais sólidos e profundos que o trio, fato que gera até incongruências, já que o J.J. Jameson de J.K. Simmons não sabe quem é Brock, mesmo com uma citação a ele em Homem-Aranha. O personagem é tão irrelevante para Raimi que a direção deliberadamente não o leva a sério.

    Entre as reclamações mais comuns ao filme está a personalidade de Peter modificada pelo simbionte, que muitos atribuíam ao comportamento dos fãs de emocore. Ora, na época, os meninos comuns que usavam esse visual diferia de Peter. Eram introspectivos, gostavam de parecer sombrios, já Parker é o oposto disso, espalhafatoso, inconsequente e age até como um bully em alguns momentos, com uma personalidade tão baixa quanto a do seu nêmese escolar Flash Thompson. Ele claramente não era Emo, só pegou emprestado desse estilo o cabelo e a maquiagem um pouco mais forte, comparar o Andrew Garfield em O Espetacular Homem-Aranha com o estereótipo do hipster até faz algum sentido, mas o Peter de Tobey de emo tinha apenas o visual.

    Parker parece governado unicamente pelo id (parte da mente que quer gratificação imediata de todos os seus desejos e necessidades, segundo o conceito freudiano), e dito assim, esses momentos não parecem tão erráticos, especialmente a cena “musical”, já que é o símbolo maior da breguice que Raimi sempre impôs a sua versão do Cabeça de Teia.

    A reunião dos antagonistas não tem nenhuma força, é um pretexto pobre que está lá para justificar uma ação entre amigos com Harry e Peter juntando as forças, que só não é mais vergonhosa do que o momento de retorno do uniforme clássico, ao lado de uma bandeira dos EUA tremulando, que faz automaticamente o povo esquecer dos maus atos do Aranha. Além dessas questões, boa parte da imaturidade de Peter também não cabe, já que ele aprendeu ou deveria ter aprendido com seus erros do passado, e justificar esses atos pelo simbionte também não faz sentido, visto que sua personalidade já havia se transformado antes mesmo dele utiliza-lo.

    Raimi saiu reclamando de interferência dos estúdios, seu desejo seria explorar personagens como o Abutre e a Gata Negra, mas por influência de Avi Arad, teve que fazer o filme com Venom. Desse modo,  Homem-Aranha 4 previsto para 2011 foi abortado, assim como uma segunda trilogia. Ainda assim Homem-Aranha 3 parece mais com o ideal de Ditko e Lee, por ser senhor de sua própria história e seguir dando camadas trágicas, mas humanas ao personagem. Peter segue falho, tolo, mas capaz de se sacrificar e tentar evoluir, mesmo que a mão invisível do roteiro o faça agir como alguém que não digeriu bem seus problemas.

  • Crítica | Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa

    Crítica | Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa

    Review Homem Aranha Sem Volta Para Casa

    Havia uma grande expectativa em torno da estreia de Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa, por conta da possibilidade de apresentar finalmente uma versão do multiverso no cinema da Marvel e, claro, pela possibilidade da aparição de Tobey Maguire e Andrew Garfield. Esta terceira parte conduzida por Jon Watts começa no momento final de Homem-Aranha: Longe de Casa, onde o vilão Mysterio revela a identidade do herói.

    O ponto de partida do filme é o caos total, causado pela revelação do vilão, e a opinião pública se divide em relação à culpa do Aranha nesse caso. Pela primeira vez o personagem do UCM parece ter dificuldades tangíveis. Em Homem-Aranha: De Volta ao Lar ele passa a maior parte da história sob a tutela de Tony Stark, como se fosse um trainee de herói, e não o mais popular personagem de histórias em quadrinhos da Marvel Comics.

    Os  roteiros dos filmes da Marvel normalmente não são primorosos, não é raro perceber uma reciclagem de conceitos, com um ou outro vilão clássico representado no cinema em uma aventura genérica e presa a fórmula, tendo como diferencial as cenas pós créditos, que por sua vez, geram a expectativa de que a próxima produção será épica. Sem Volta Para Casa acaba tropeçando em alguns desses problemas, mas se diferencia pelo modo emocional com que é levado. Dessa vez, há vilões realmente perigosos, assassinos sádicos, não versões “água-com-açúcar”.

    O Peter de Tom Holland não tem um código moral bem estabelecido até essa historia, o caráter dele é posto à prova de maneira bem mais explícita, e sem a diluição de ter a responsabilidade dividida com outros heróis, como foi nos filmes anteriores e Guerra Infinita. Pela primeira vez nessa encarnação há peso em suas atitudes. Suas reflexões se dão sem interferência de personagens externos ao seu universo, ele sozinho se dá conta disso. Essas questões emancipatórias e de amadurecimento são bem observadas, mas não se descuida dos momentos de ação típicas de aventuras de super-heróis de quadrinhos.

    A ação do filme é frenética, e Watts resgata boa parte dos melhores momentos do herói na grande tela, inclusive emulando cenas clássicas dos filmes de Marc Webb e Sam Raimi. As lutas são ótimas, sobretudo o embate contra o Dr. Octopus de Alfred Molina. Os efeitos em computação gráfica também tiveram um upgrade, tanto nas lutas quanto no rejuvenescimento do elenco veterano de vilões que, aliás, são tão presentes aqui que faz perguntar se a intenção não era a de referenciar o malfadado filme do Sexteto Sinistro que jamais saiu do papel.

    A produção trabalhou bastante para guardar seus segredos, tanto que na exibição para imprensa havia um pedido do elenco para que não houvesse spoilers de modo algum. Ainda assim, mesmo sem falar dos rumos que o roteiro toma, é possível afirmar que a versão amaldiçoada do herói está bastante presente, assim como o fardo de carregar o mundo de responsabilidades em suas costas. Em vários pontos o desempenho dramático de Holland é exigido, e ele simplesmente não decepciona. Outras figuras como Zendaya e Marisa Tomei também tem grandes aparições e ajudam o protagonista a brilhar, certamente seu papel não seria tão elogiado se ambas não estivessem tão afiadas quanto ele.

    Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa é de fato um filme que busca romper com o céu de brigadeiro que ocorria nas aventuras dessa versão do Aranha. Logicamente, ainda existem algumas conveniências e pieguices, algo bastante recorrente em suas histórias em quadrinhos. De qualquer modo, finalmente a essência de quem é Peter Parker é contemplada, e honra o ideal que Steve Ditko e Stan Lee pensaram para o seu personagem mais famoso.

  • Crítica | Pizza Man

    Crítica | Pizza Man

    De Joe Eckhardt, Pizza Man conta a história de Matt Burns, um menino pacato e comum que trabalha na pizzaria de sua mãe a fim de sustento próprio. Interpretado por Frankie Muniz, famoso pela série Malcom in the Middle, terminada cinco anos antes deste longa. O filme começa misturando cenas de um laboratório científico com uma cozinha de um pizzaiolo, prevendo os elementos que tornariam o personagem um herói.

    A história gira em torno de Matt e suas dificuldades, coisas comuns de qualquer adolescente próximo de terminar o colegial. Seus dias variam entre trabalhar  com uma roupa horrível que imita o aspecto da massa italiana para fazer propaganda da lanchonete e o bullying que sofre na escola.

    O filme possui algumas participações especiais, entre eles Adam WestStan Lee e atores de seriados famosos permeiam a obra de Eckhardt, mas quase não interferem na trama, só estão lá para dar alguma relevância ao filme, para que fosse exibido em qualquer evento nerd. Os efeitos especiais são baratos, assim como os cenários, e em alguns momentos parecem feitos de papelão, como um episódio ruim de Chapolin Colorado, mas sem todo o clima camp e trash que dão charme ao seriado humorístico mexicano.

    Pizza Man parece um telefilme, os aspectos visuais são pobres, a fotografia e iluminação são chapadas como de um seriado com orçamento reduzido. O filme ainda remete um pouco à obra O Biscoito Assassino, inclusive o vilão Big Cheese, interpretado por Dallas Page faz lembrar o desempenho de Gary Busey, embora aqui não exista qualquer ironia ou sentido de autoparódia. As participações de atores convidados fazem o filme parecer um daqueles longas que dariam origem a uma série de comédia cujo canal abandonou o projeto antes mesmo de ser exibido. O filme também carece de atuações, nem mesmo Muniz consegue ser carismático, como havia sido na comédia pastiche Não é Mais Um Besteirol Americano. A obra de Eckhardt mira a comédia, mas não possui qualquer graça ou ironia.

    https://www.youtube.com/watch?v=VaVoNnXKWFo

  • Review | Quarteto Fantástico

    Review | Quarteto Fantástico

    Nos anos noventa, alguns personagens da Marvel ganharam séries animadas. Entre as mais lembradas estão Homem Aranha e X-Men. Em 1994, mesmo ano em que teria sido lançado o Quarteto Fantástico produzido por Roger Corman, também chegava nas telinhas uma animação conhecida apenas como Quarteto Fantástico, de duas temporadas e 26 episódios.

    No piloto é mostrado os heróis lutando contra o Príncipe Submarino Namor e, logo, estão em um talk show que serve de pretexto para falarem sobre a origem de seus poderes. O quarteto é um grupo preocupado com o bem estar social e a filantropia, dedicam sua vida a angariar fundos para caridade e nisso texto é bastante pueril, remetendo a outros quadrinhos da Era de Ouro em que o maniqueísmo era a tônica, sem nenhuma nuance além do heroísmo puro e simples. A produção de Ron Friedman e Glenn Leopold tentava compensar a veiculação em regime de Syndication, ou seja, veiculada em redes de TV locais negociadas uma a uma, com uma universalidade textual. A produção executiva era assinada por Avi Arad, o mesmo que produz até hoje os filmes do Homem-Aranha e fez parte da maioria das animações da Marvel, além de Stan Lee e Rick Ungar.

    O grupo de coadjuvantes mostrados aqui é grande, com participação de vilões como Mestre dos Bonecos, Toupeira, Doutor Destino, Aniquilador e outros tantos, e aliados como Pantera Negra, Hulk, Inumanos etc. Há também uma forte participação de Galactus e do seu arauto, o Surfista Prateado. Alguns personagens tem boas introduções, outros simplesmente participam sem introdução, como o Motoqueiro Fantasma e os Vingadores.

    Os capítulos que exploram questões de space opera são de longe os mais interessantes, as origens dos personagens são bem exploradas, sobretudo a de Destino. Ao menos nisso o didatismo do roteiro é bem encaixado. Há uma mudança visual positiva na segunda temporada, com abertura nova e uniformes diferentes para os quatro. Ainda assim, há problemas nas transições animadas, com poucos frames ou trechos suprimidos.

    O Quarteto Fantástico apesar de simples, capta a atmosfera e aura dos personagens clássicos de maneira mais que certeira os filmes. Os roteiros são fracos e a animação consegue ser ainda mais paupérrima que a dos X-Men e Homem-Aranha, mas há bons momentos, uma pena que a trama dos Inumanos se resuma basicamente a idas e vindas da relação entre Johnny e Crystal e que o Surfista Prateado seja tão reduzido, ainda assim os clichês desse e de todos os personagens são bem desenvolvidos.

  • Review | The Avengers: United They Stand

    Review | The Avengers: United They Stand

    Em 1999, muito antes da iniciativa de Kevin Feige e companhia que resultariam em Os Vingadores de Joss Wheddon ,antes até Vingadores: Os Super Heróis Mais Poderosos da Terra houve uma animação seriada de apenas 13 episódios, chamada no Brasil de Vingadores: A Série, no original The Avengers: United They Stand, era distribuída pela Sabam, a mesma que empresa que produzia Mighty Morphin Power Rangers pelo mundo, e isso explica o fato de vários personagens usarem armaduras e mudarem de tamanho, como é típico nos Super Sentai que produziam as cenas originais de MMPR.

    A narrativa se inicia com Ultron, o vilão robótico, criando Visão, uma alternativa mecânica de vingança ao seu criador o doutor Henry Pym, o Homem Formiga líder do grupo de heróis. Já nesse inicio ele é mostrado como um sujeito inseguro com a posição de liderança, uma vez que essa era uma formação dos Vingadores da Costa Oeste (a série chegou a ser exibida no Brasil com esse nome também), composta por Vespa, Gavião Arqueiro, Magnum e Feiticeira Escarlate, entrando depois Visão e Falcão.

    A trinca Thor, Homem de Ferro e Capitão América é meramente citada, como fundadores da reunião de vigilantes. É lamentável que a adaptação do grupo (que nem era tão popular na época) sem os medalhões. Isso é até abordado no roteiro, com a Vespa falando que Hank é tão importante quanto eles, e isso até é verdade parcialmente, mas fato é que sozinho, ele não segura uma série. Os outros heróis são ainda menos populares, alguns seguem sem serem tão conhecidos até hoje, o motivo para essa escolha de elenco foi por conta da quase falência da Editora no final dos anos 90, quando venderam os direitos dos personagens para estúdios de cinema, só recuperados e bem aos poucos ao longo da década de 2000, portanto, venda de material de merchandising não iriam em totalidade para a Marvel, por isso Hulk, Capitão e cia deveriam aperecer esporadicamente.

    A série é repleta de momentos sentimentais, e seus personagens são pouco melhor desenvolvido que nas séries anteriores da editora. Os heróis tem fragilidades que o tornam bem humanos, mas isso não faz tanta diferença, já que a maioria deles mal tem poderes, exceção a Wanda. Os vilões por sua vez são bastante maniqueístas, Ultron, é o que mais aparece, e ele carrega uma mensagem incomoda de Complexo de Frankenstein, seu embate psicológico com Pym, seu criador contém um diálogo terrivelmente mal escrito, que evoca obviedades envolvendo a possível perfeição do vilão, que obviamente, não existe.

    A serie deixa algumas questões mal resolvidas, como a interferência do presidente na formação do grupo, ou a rápida aceitação de Visão entre os mocinhos a despeito do sumiço de Magnum. Ao menos há alguns sub textos que são sugeridos e que tem potencial, como a intimidade de Sam Wilson como homem preto que tem problemas reais e ligados a cor de sua pele. Por trás da produção estava Ron Myrick na direção, com produção executiva de Avi Arad, Stan Lee e Eric S. Rollman.  A serie foi cancelada com apenas uma temporada e boa parte do insucesso foi apostar em dinâmicas sentimentais e amorosas de personagens pouco conhecidos. Não há muito como se importar com um triangulo amoroso entre Wanda, Simon/Magnum e Visão, afinal, nenhum deles é super conhecido, e não é feito sequer uma introdução mais profunda dos dois primeiros personagens.

    Para o público se importar, ou o texto trabalha esses enlaces, ou se baseia em algo já lugar comum e nenhuma das alternativas é feita, talvez em eventuais episódios de uma nova temporada isso fosse exposto. A fala de Vespa no primeiro capítulo sobre a importância do Formiga se torna profética, mas no sentido inverso. É difícil não encarar Pym como um sujeito tolido por motivos comerciais, e essa versão dos Vingadores trazida como se fossem de fato os maiores heróis reunidos do universo (Marvel) é risível, e nem sequer os roteiros compensam essa sensação de fracasso. Nem as breves aparições de heróis  grandes resgata o programa da mediocridade, em  Os Vingadores: A Série não seha tão execrável quanto a maioria das pessoas afirma atualmente, sendo até superior visualmente a outras animações como X-Men e Homem-Aranha, e além disso termina com um gancho para segunda temporada, envolvendo os novos poderes e composição de Magnum e obviamente novas aventuras dos heróis protetores de Manhattan e que não terão um desfecho.

  • Resenha | Pantera Negra: Quem é o Pantera Negra?

    Resenha | Pantera Negra: Quem é o Pantera Negra?

    A popularização massificada que o personagem Pantera Negra encontrou nos anos 2010, atingindo seu ápice no filme-evento da Disney em 2018, deu-se principalmente ao fato de que, a partir dos anos 2000, a representação negra e feminina tornou-se muito importante para garantir que todos os membros de uma plateia se sintam notados, respeitados, e celebrados – exceto, até o momento, o público LGBT, ainda restrito a produtos de um nicho específico. Essa celebração alegórica da figura negra e feminina, juntamente da branca e masculina de sempre, vem recebendo uma ampla aceitação da massa (ocidental, e oriental) que consome produtos culturais que a divertem, a fazem pensar, e mostram novas possibilidades de entretenimento sem desvalorizar nenhuma raça (Pantera Negra), etnia (Mulan), gênero (Mulher-Maravilha) ou credo (O Código da Vinci) – desta forma, todos ficam felizes, as empresas lucram, e o sol brilha para todos.

    Essa vem sendo uma história de sucesso na cultura pop bastante recente, mas cujas raízes raciais existem há muito, muito tempo na editora Marvel. Em 1966, Stan Lee e Jack Kirby, dois deuses da nona-arte, inseriram num gibi do Quarteto Fantástico o icônico Pantera Negra, trazendo pela primeira vez nas HQ’s um herói negro e africano que não serviria apenas de coadjuvante, mas tão importante quanto outros ícones da editora, junto de Thor, Aranha e Capitão América. Deram-lhe Wakanda como seu país próprio, e fictício, e uma riqueza que supera a do Batman e Homem de Ferro. Muito antes de Eddie Murphy cair em Nova York com suas roupas de realeza, em 1988, a Marvel já fazia de um negro o rei mais poderoso da Terra, algo totalmente inédito, na época e ainda muito pouco difundido, nas histórias do século XXI. Quantos reis e rainhas europeus já vimos e lemos a respeito? Uma infinidade, com certeza. E quantos exemplos de figuras africanas com belas coroas na cabeça já ouvimos falar, em grandes editoras e filmes de Hollywood? Certamente, o número caberia apenas em uma mão.

    Em 2014, talvez como uma prévia do filme que já estava em desenvolvimento na Marvel, nos cinemas, surge esse encadernado Quem é o Pantera Negra?, apresentando então uma visão nostálgica e inventiva sobre o clássico personagem, em sua terra natal. Desta vez, T’Challa precisa impedir que forasteiros americanos e europeus saqueiem suas terras do reino, em busca dos incríveis recursos naturais que só Wakanda provém. Na história inspirada que Reginald Hudlin escreve, e John Romita Jr. desenha, nota-se que o conceito de “resistência” ronda os habitantes de Wakanda, com suas lutas e conflitos internos tal um espectro que tanto assombra as comunidades negras, mundo afora. A crítica aqui é subjetiva, mas latente e universal: mesmo dentro de casa, o negro muitos vezes não tem paz e harmonia, nem mesmo aliados, sendo que nada é capaz de tirar sua majestade e beleza tão típicas da raça que resiste diante de tudo, tal o inevitável sol do amanhecer que faz brilhar sua divina melanina.

    Ao combinar o contraste de uma tecnologia extremamente avançada, dando o tom e ditando o futuro e as batalhas de um país africano, vulgo de terceiro-mundo graças ao imaginário popular miserável que temos da África, Hudlin cria uma trama bem elaborada cuja superfície fantástica, cheia de explosões e correria, revela aos poucos a temática política e sócio-política que leitores mais adultos com certeza não deixam de notar. Com o filme de 2018, já foi possível notar a enorme relevância cultural da criação de Lee e Kirby, uma vez que o cinema impacta muito mais que as páginas de um livro. Agora, junto desta impecável publicação da editora Salvat, no Brasil, através de sua coleção de Graphic Novels da Marvel, não há dúvidas de que o Pantera Negra é um raríssimo caso no qual, cinquenta anos depois de sua criação, sua fascinação decorrente de sua importância além da arte continua cada vez mais potente, em um mundo de crescente globalização e diversidades sociais buscando respeito e igualdade, por razões muito mais nobres que um mero escapismo midiático.

  • Resenhas | As Crônicas de Conan – Volume 1

    Resenhas | As Crônicas de Conan – Volume 1

    Publicação da Mythos Editora, As Crônicas de Conan – Volume 1 tem como premissa a abordagem de histórias clássicas do personagem compreendida entre os números 1 a 8 de Conan: the Barbarian, datadas de outubro de 1970 até agosto de 1971, e conta ainda com o roteiro de Roy Thomas e a arte de Barry Windsor-Smith.

    O material gráfico é bastante bonito, para além da capa dura, há um belo mapa da Era Hiboriana que Robert E. Howard utilizava como cenário para as histórias de seu bárbaro. A apresentação do personagem ajuda a definir todos os clichês que envolvem o herói, que se proclama Conan da Ciméria, e nesse ponto se nota algo que não foi tão bem traduzido nos filmes: a erudição do bárbaro, bastante diferente da interpretação de Arnold Schwarzenegger no filme de John Millius.

    A publicação conta ainda com um posfácio onde Thomas detalha os motivos que o fizeram escrever Conan, em que  diz como resolveu deixar um pouco o seu lado editor para voltar a escrever, atendendo a pedidos de cartas de leitores que queriam histórias de Espada e Magia nas revistas da Marel Comics  (a maior parte dos pedidos era para adaptar Senhor dos Anéis,  Tarzan e John Carter de Edgar Rice Burroughs etc). A essa altura já havia uma outra compilação no mercado sobre o Bárbaro, chamada Conan o Aventureiro da editora Lancer, (essa já tinha capas de  Frank Frazetta) mas não haviam adaptações contemporâneas do personagem e foi Stan Lee que convenceu Thomas a convencer Martin Goodman, diretor editorial da Marvel de aprovar uma adaptação do personagem.

    A intenção do roteirista era escrever apenas 4 números, mas seu run durou  115 volumes, além de alguns retornos e escritos em outras revistas que não Conan The Barbarian. O posfácio da publicação da Mythos Editora também revela o baixo valor pago a Smith, que não era tão conhecido, e que assumiu os desenhos por conta de John Buscema ser caro demais, no entanto a melhor das informações certamente se dá pelos conselhos de Stan Lee, que deu o a dica de se utilizar de inimigos humanoides nas capas, e depois de um tempo, a revista retornou a ter bons números de venda.

    A primeira historia não é grandiosa  mas funciona bem em estabelecer a mitologia em torno do personagem principal, levantando elementos místicos, mágicos e típicos das rodas de RPG campanha clássica de Era Medieval. Apesar dos desenhos de Windsor-Smith serem feitos para uma publicação em preto e branco, a colorização digital não fica estranha, soando natural mesmo que não tenha sido pensada para ser assim. A segunda historia,O Covil dos Homens Fera tem arte final de Sal Buscema, e começa com o bárbaro matando um gigante, enquanto os homens fera de aparência símia aprisionam os humanos, enquanto Conan os libertam, É impossível não olhar essa revista e não fazer paralelos com o filme de Franklin j Shaffner, Planeta dos Macacos de 1968. Já em O Crepúsculo do Deus Cinzento há referencias claras a mitologia nórdica. A maioria das aventuras publicadas reúnem elementos de mitos estrangeiros, em atenção ao trabalho que o contista e criador do Cimério também fazia, amalgamando crenças diversas.

    Em A Torre do Elefante há uma busca por  um tesouro milenar, e a descoberta desses fatos em uma taverna, fato que se tornou também um clichê dos jogos de RPG,  assim como A Filha de Zukala (na verdade se baseia no poema  A Hora de Zukala), a noite cai subitamente e um predador parecido com um tigre ataca o herói.   Conan é um exímio guerreiro e astuto o suficiente para enfrentar inimigos com poderes ligados a magia. Em Asas Demoniacas sobre Shadizar, Conan começa matando dois ladrões indecisos,  que brigam pelas peças de ouro que roubaram, e não sabe o que fazer com elas. Ele é ludibriado por uma mulher bela, mostrando que apesar de experimentado, ele vacila e tem no belo sexo um de seus pontos fracos. Essa característica humaniza bastante o personagem, e especialmente nesses primeiros volumes, isso é importante.

    O Deus na Urna é a ultima das historias inéditas que Thomas escreveu na primeira leva, e o autor reavaliou seu modo de contar historias, tentando tornar elas menos genéricas. Essa ainda tem um bocado desse caráter mais episódico, com o personagem tentando pegar uma urna cujo conteúdo ninguém sabe do que se trata, que mais parece uma missão auxiliar das mesas de RPG. Essas primeiras Crônicas Nemédias terminam com Os Guardiões da Tumba, onde Conan é perseguido como um ladrão por um destacamento de Corintia, vizinho da Nemédia. . A luta mostrada do bravo homem contra um dragão com um formato semelhante ao de uma serpente, só que com membros é muito legal, sobretudo pela forma fluida com que saem os desenhos de Barry Windsor.

    Neste ponto há mais uma vez uma reunião de clichês de RPG, os aventureiros passam riquezas de tesouros, muito ouro, soldados mortos voltando a vida, objetos mágicos que ao serem retirados despertam um mal ancestral, e tudo é muito bem registrado não só pelo lápis de Smith, mas também pelas cores vivas que destacam a grandiosidade dos cenários suntuosos pensados nessa tradução que Thomas faz do  universo hiper rico de Robert Howard. O fato de Conan dar de ombros do motivo dos eventos mágicos terem ocorrido consigo dá a dimensão de quão ardiloso e acostumado com aquilo é o personagem, e Thomas entendeu como poucos a criatura mais famosas que o escritor pulp Robert E. Howard concebeu, traduzindo quase tão bem as aventuras do cimério quanto fazia o escritor original dessas micro histórias.

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  • Review | Homem-Aranha: Ação Sem Limites

    Review | Homem-Aranha: Ação Sem Limites

    Em 1999, após o término do desenho “clássico” do Homem-Aranha iniciado em 1994 e terminado um ano antes deste começar, surgia Homem-Aranha: Ação Sem Limites, um programa que muitos achavam que era continuação da outra versão mas que na verdade guardava poucas ou nenhuma semelhança com a encarnação anterior. Dessa vez o seriado era produzido por Avi Arad e Eric S. Rollman.

    A história dos treze episódios gira em torno da descoberta de um novo planeta, feita pelo coronel John Jameson, filho de J. Jonah Jameson, chamado Contra Terra. No meio da cobertura de imprensa do anúncio desta descoberta, Peter Parker observa Venom e Carnificina subindo no ônibus espacial de John, e ao tentar impedi-los é jogado para fora da nave. Já no começo, e ainda com uniforme clássico, se percebe que o predomínio visual do programa é de cores mais escuras.

    Depois de encomendar um novo uniforme com o Senhor Fantástico, que reúne milhões de robôs microscópicos, para criar defesas contra os simbiontes, o herói acaba indo para a contra-terra acidentalmente, e lá a maior parte dos humanoides tem características animais. A chance de explorar uma historia mais clássica, com o herói utilizando um uniforme totalmente novo é desperdiçada, para basicamente colocar Parker em mil desventuras, onde serve de figura paterna para um garoto órfão cuja mãe é bonita – e que quase vira seu par apesar de Peter ser casado com Mary Jane – além de ter de lidar com versões estranhas de personagens clássicos.

    Os bestiais mostrados aqui tem ligação com um ser chamado Alto Evolucionário, e de certa forma escravizam e oprimem as pessoas comuns. John Jameson virou líder da resistência humana, mas a realidade é que mesmo entre os bestiais há quem não seja cruel, e o seriado ao invés de explorar essa dualidade, opta por tramas bobas e péssimas cenas de lutas.

    O programa foi um pouco popular no Brasil, mas não tanto quando a série animada completamente ignorada nesta versão e muito se fala que ela foi descontinuada graças a negociação da Marvel com a Sony para executar o Homem-Aranha de Sam Raimi no cinema, que também teria Arad como seu produtor, mas a realidade é que essa animação conseguia ser ainda menos memorável que a outra.

    Haviam bons momentos do desenho, o design dos personagens era mais bonito, os humanoides eram mais esguios e até o uso de computação gráfica era mais acertado, mas o roteiro conseguia ser muito pior até que Homem-Aranha e Seus Amigos, o programa que tinha o cabeça de teia, Flama e Homem de Gelo vivendo juntos. Muito se fala que esse poderia ser uma versão animada do Homem-Aranha 2099, que tinha certa popularidade desde sua criação, mas fora a questão do ambiente pseudo futurista, não há muitas semelhanças com Miguel O’Hara, especialmente no que tange as referencias ao cyber punk e distopias.

    Homem-Aranha: Ação Sem Limites tinha tudo para ser algo grandioso, bem elaborado e cheio de carisma, tinha o personagem heroico em alta e apelava para tudo que fazia sucesso na época, em especial os simbiontes – que aqui eram chamados sinóticos – mas pagou o preço por se basear demais no visual e caráter típico da Image Comics, com uma animação carregada de ação e sem nenhum subtexto mínimo, sem sequer estabelecer alguma ligação emocional dos personagens secundários com o espectador. Para fazer algo tão diferente era preciso tempo, mas esta não conseguiu convencer os produtores a renovarem o programa, muito por conta da popularidade de animes da época como Pokémon e Digimon, ainda assim, poderiam ter feito ao menos uma mini temporada para saciar a curiosidade do público, e que poderia ou não envolver um crossover com o Peter Parker de Homem Aranha de 1994, que infelizmente jamais ocorreu, certamente isso daria um novo sentido a esta versão.

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  • Review | Homem-Aranha

    Review | Homem-Aranha

    Nas manhãs da Globo dois desenhos animados se destacavam bastante, os X-Men (que inclusive fizeram boa parte da garotada finalmente pronunciar corretamente o nome do grupo) e claro, Homem-Aranha. O segundo programa, originalmente chamado de Spider-Man: The Animated Series também foi veiculado aqui no Brasil pelo canal da TV a cabo Fox Kids, emissora que passava boa parte do conteúdo de animações com heróis e seus produtores Avi Arad e Stan Lee, que inclusive, faz uma bela participação ao final da série.

    O programa teve cinco temporadas, e um total de 65 episódios, e mostra Peter Parker como um sujeito já adulto, que trabalha para o Clarim Diário tirando fotos mas também se dedica demais aos estudos, tanto que ele auxilia sua amiga Felicia Hardy com questões ligadas a ciências, ajudando ela no curso da faculdade que não fica exatamente claro de qual curso se trata.

    O traço da animação era feio na maior parte do tempo,os personagens era  em sua maioria extremamente fortes, fazendo pensar que nessa versão todos eram marombeiros e tinham costume de malhar bastante. A abertura tinha alguns elementos em 3d – além é claro da música de Joe Perry, guitarrista do Aerosmith – que permeavam também algumas das cenas do programa e sua utilização era um bocado gratuita, só ocorria nas cenas em que o aracnídeo se balançava pelos prédios, e parecia só ser feita porque os produtores podiam fazer.

    Ter tantos episódios ao menos ajudou em uma coisa, boa parte dos vilões do Homem Aranha foram mostrados no programa, tal qual ocorreu em uma de suas concorrentes, Batman A Série Animada, mas diferente do desenho produzido por Bruce W. Timm, esse tinha participações meio gratuitas. A primeira temporada começa mostrando o drama do Lagarto, o professor Curt Connors que se submete a auto experimentos para recuperar seu braço, transformando-se então em um monstro. A condição de vilão trágico aliás era um clichê bem explorado nos episódios e era lugar comum boa parte desses personagens que viraram malignos contra sua vontade serem manipulados por alguns dos chefões do crime, sendo o principal deles o Rei do Crime Wilson Fisk, mas também o Cabeleira de Prata e o Cabeça de Martelo, esse ultimo o menos explorado deles.

    Antes terminar  esse primeiro arco, é mostrada a roupa alienígena, trazida por J. Johnah Jameson Jr – o filho do patrão de Peter, J. Johah Jameson que obviamente sempre tenta incriminar o Homem Aranha –  com sua nave de astronauta que aterrissa na Terra de maneira brusca, aliás, nenhuma versão áudio visual do vilão simbionte alienígena que se une a Eddie Brock foi tão bem construída quanto essa, incluindo aí o filme recente Venom de Ruben Fleischer. Apesar do programa não ser profundo, há muitos acertos, uma pena é que logo depois de ter esses bons momentos onde Venom é assustador, se desenvolve um mini arco com o Duende Macabro, o que é estranho, pois ele não era exatamente popular nas Hqs, além de se dar uma enorme importância ao transmorfo Camaleão, talvez como eco  da Guerra Fria que havia acabado há pouco, pois nas revistas ele também sempre foi um vilão de segundo escalão.

    Na segunda temporada há a menção ao Sexteto Sinistro – aqui chamado de Os Seis Traiçoeiros – o grupo que quase ganhou um filme da Sony após O Espetacular Homem Aranha 2: A Ameaça de Electro, mas o foco emocional claramente é maior no Homem Hídrico – no desenho era chamado de Hydro-Man, a dublagem cansava de colocar os nomes dos personagens em inglês – que aqui, é um ex-namorado de Mary Jane Watson e que trava com Peter a preferência da ruiva que é vizinha da Tia May. Apesar de ser extremamente infantil, boa parte do romance de Peter e Mary Jane é bem explorado e construído, as idas e vindas do casal fazem sentido e são bem fieis a fase clássica das historias de Steve Ditko e Stan Lee.

    Também há um crossover com os mutantes dos X-Men e que aqui no Brasil teve uma dublagem esdrúxula, onde chamavam o Wolverine de Lobão, aliás, a dublagem no Brasil era repleta de pérolas (Demolidor era Atrevido, Justiceiro foi Punisher mas também era chamado de Vingador em alguns episódios) e até havia um charme nisso, mas a parte mais importante de fato nesse segundo tomo é a trágica historia do vampiro de Morbius, o ex-namorado europeu de Felicia, e é a partir da queda dele e do resgate do passado de seu pai que a moça decide se tornar a Gata Negra. Nesse período também aparece o Blade, antes até do filme com Wesley Snipes como caçador de Vampiros, aliás há um bom número de personagens clássicos da Marvel que aparecem nessa e em outras temporadas, como Doutor Estranho, Mordo e Dormmammu, Demolidor, Justiceiro etc.

    No terceiro ano aparece o Duende Verde Norman Osborn, que nos quadrinhos era o duende original e depois viriam os outros. Nesse ponto a parte mais emocional mora na relação dúbia de Peter com Harry Osborn que no material original eram muito amigos, mas que aqui claramente rivalizam mais do que tem amizade – em Homem-Aranha de Sam Raimi isso é muito melhor trabalhado, Tobey Maguire e James Franco parecem de fato parceiros, aqui nem tanto. Há também o retorno de Venom também, basicamente para explorar um novo plot, envolvendo sua cria, Carnificina. Nessa época a luta entre simbiontes era muito popular, não só nas revistas, mas também nos vídeo games, pois perto daquela época em 1994 o Maximum Carnage era extremamente consumido, sendo uma febre no Brasil sobretudo, por conta do porte do jogo Beat up para Super Nintendo e Mega Drive.

    Se nota que a serie é sempre lembrada por conta dos eventos e acontecimentos externos a ela, por conta de um jogo popular, dos quadrinhos que eram igualmente populares, ou mesmo os brinquedos derivados da série, que aliás eram muito bem feitos para época e também monopolizavam as vendas de natal, dia das crianças e demais épocas festivas. Batman – TAS também tinha uma quantidade de produtos enormes, jogos, bonecos, lancheiras, mas o texto por trás das lutas entre heróis e vilões tinham um projeto mais grandioso, e introduziram elementos que transcenderam a mídia, a Arlequina se tornou um bom personagem após isso, a versão do Senhor Frio do desenho é a definitiva, já o roteiro de Spider Man – TAS era bem elementar e básico, eram lutas meio bobas e motivações fracas de personagens e vilões com um ou outro momento mais inspirado.

    A quarta temporada é talvez a mais fraca e quase indigna de lembranças e na ultima temporada, veiculada em 1997 e 1998, e o roteiro brinca de adaptar Guerras Secretas, claro, de uma maneira um bocado diferente, reunindo heróis da várias eras em lutas bem genéricas. Os últimos dois episódios mostram a Guerra dos Aranhas, envolvendo a Madame Teia (que era uma personagem bem misteriosa) reunindo várias versões do aracnídeo, incluindo um que utilizava os tentáculos de Octopus (sendo uma bela coincidência se comparar este com o Homem-Aranha Superior) semelhante ao que foi feito mais tarde, nos quadrinhos em 2014 com o Aranhaverso e no filme da Sony de 2018, Homem Aranha no Aranhaverso. Apesar da animação aqui ser ainda mais porca que no início o final de séria animada do Homem Aranha deixou saudades, e pontas soltas sobre quais os rumos que os produtores queriam levar o programa. Para muitos esse foi o primeiro contato com o amigão da vizinhança, ainda mais para quem era criança nos anos noventa e por mais que a serie não traduzisse maravilhosamente os textos que Ditko, Lee, John Romita e tantos outros artistas traziam nas historias clássicas do Aranha, ainda havia algo aqui, um charme que passava por cima até dos gráficos feios e mal pensados, afinal, havia alguma fidelidade ao menos a mitologia do herói, ainda que perdesse em narrativa para a serie do Batman e em temática igualitária para X-Men.

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  • Crítica | Vingadores: Guerra Infinita

    Crítica | Vingadores: Guerra Infinita

    Como eu havia escrito no meu texto sobre as expectativas em torno de Vingadores: Guerra Infinita, a hora havia chegado. O filme que marca os 10 anos do conhecido Universo Cinematográfico Marvel – UCM chegou aos cinemas com muitas dúvidas, desde as mais óbvias no que diz respeito ao encaixe de dezenas de heróis e seus coadjuvantes em tela, passando pelas apostas sobre qual herói seria o candidato a morrer e a partir os corações dos fãs, até a pergunta mais óbvia e com extrema relevância para a trama: onde está a Joia da Alma?

    Vingadores: Guerra Infinita entrega aos fãs e ao espectador aquilo que satisfaz desde os mais aficionados até aqueles que não estão tão familiarizados assim com o UCM e melhor, além de encher os olhos daquele que assiste, causando as mais diversas sensações, amarra todo o universo iniciado em 2008 com Homem de Ferro, tendo Pantera Negra como último “representante”, solucionando todas as dúvidas e amarrando todas as pontas soltas no decorrer do caminho, além de jogar no ar muitas outras perguntas que, talvez comecem a ser respondidas nas produções Homem-Formiga e a Vespa, Capitã Marvel e, obviamente, na quarta aventura da equipe que estreará somente em 2019, embora já esteja em estágio final de filmagem.

    Tentando evitar spoilers ao máximo neste texto, Guerra Infinita, como todos já sabem, marca a busca do vilão Thanos (Josh Brolin) pelas Jóias do Infinito e tem como ponto de partida os minutos seguintes da cena pós-créditos de Thor: Ragnarok, quando a nave da nova Asgard é abordada por outra gigantesca nave. Logo em seus primeiros minutos o filme já mostra quem de fato é Thanos e ele é assustador. Assim, deu-se início ao maior filme da curta, porém, de sucesso história da Marvel.

    Logo no início desse texto foi falado que um dos maiores desafios da produção seria encaixar tantos heróis, protagonistas e coadjuvantes em tela, e após o término do filme, tem-se se a sensação que cada um dos milhares de nomes que aparecem nos créditos finais, desde a direção de Joe e Anthony Russo, passando pela história escrita por Christopher Markus e Stephen McFeely, até prestadores de serviço como o “cozinheiro de Robert Downey Jr”, ou o “cabeleireiro de Don Cheadle”, merecem ser aplaudidos de pé. O cuidado com a história é tão minucioso que coisas “bobas”, mas que poderiam ter ficado de fora estão lá. Um pequeno exemplo disso é que devemos lembrar que Bruce Banner (Mark Ruffalo), por exemplo, abandonou o planeta ao final de Vingadores: Era de Ultron e ficou anos fora do ar, enquanto, na Terra, acontecia os eventos de Guerra Civil, Homem-Formiga, Doutor Estranho, Homem-Aranha: De Volta ao Lar e Pantera Negra. Banner acaba sendo atualizado de algumas coisas de uma maneira muito divertida.

    Aliás, Banner, a julgar pelo que aconteceu nos últimos anos, está mais leve, sem aquela agonia constante que o personagem entregava nos demais filme e isso contribui para alguns momentos de humor serem protagonizados por Mark Ruffalo. Humor esse que está presente em todo o transcorrer da fita, cada um a sua maneira. As partes dos Guardiões da Galáxia são tão autênticas que parecem que foram escritas por James Gunn e isso foi bem acertado no filme, já que aqui, um não invade o território do outro no que diz respeito ao estilo de cada personagem e assim, meio que temos um núcleo de personagens habilidosos com o humor e outro núcleo bem mais sereno. Tudo isso aliado à diversas cenas de luta e ação desenfreada, todas muito bem feitas e bem resolvidas.

    Em Guerra Infinita todo herói tem seu momento de protagonismo. O roteiro e a direção, de maneira habilidosa, cedem espaço para todos, sem exceção, algo que foi muito bem construído por Joss Whedon no primeiro filme, mas totalmente esquecido pelo diretor em Era de Ultron e pelos Irmãos Russo em Guerra Civil, quando há momentos em que Visão (Paul Bettany) e Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen), dois dos mais poderosos no campo de batalha, simplesmente desaparecem, buscando de maneira preguiçosa, deixar a batalha mais equilibrada. Aqui, ninguém é esquecido e pra adicionar ainda mais um desafio para produção, ainda temos gratas surpresas, como o retorno de alguns bons personagens, além da inclusão de outros novos. Contudo, com relação ao seu herói preferido, fica o alerta de que você poderá ficar um pouco decepcionado se considerarmos o tamanho de sua expectativa. Guerra Infinita não tem tempo para desenvolver os personagens e as relações entre eles e os motivos são tanto relacionados ao desenvolvimento da produção, como ao desenvolvimento da história, porque Thanos, simplesmente, não deixa. E isso nos leva a dois destaques: o já mencionado titã louco e o deus do trovão, Thor (Chris Hemsworth).

    O Thanos de Brolin é incrível. Ele não é um vilão clássico, megalomaníaco, que busca somente destruir tudo e todos em busca única e exclusiva de poder, desbancando Loki (Tom Hiddleston) do trono de melhor vilão do UCM. Thanos tem um propósito até justificável e percebe-se que ele sofre por carregar esse fardo, tanto que a cada conquista, em vez de comemoração, vemos certo desânimo em seu semblante e chega num determinado momento em que você fala consigo mesmo “vai, Thanos!” tamanha a serenidade do personagem. A clássica vilania fica por conta de seus filhos Fauce de Ébano (poderosíssimo), Proxima Meia-Noite, Corvus Glaive e o brutamontes Estrela Negra.

    Já Thor sofreu mudanças significativas em Ragnarok e o personagem, dentro dos principais, foi o que mais evoluiu se levarmos em conta seus dois primeiros filmes que foram ruins e suas duas participações nos dois primeiros filmes dos Vingadores. E também, o contato junto dos Guardiões, fez com que o semideus se sentisse em casa, se encaixando na equipe como uma luva. Thor sempre foi um herói dotado de extrema arrogância e em Guerra Infinita podemos perceber que ele é um grande guerreiro.

    Muito se especulou sobre a empreitada ser um enorme filme que foi dividido em duas partes, assim como as produções finais de Harry Potter, Crepúsculo e Jogos Vorazes e embora, ambas histórias tenham tido filmagens simultâneas, optou-se por ser duas produções distintas e com títulos próprios e o que se vê em Guerra Infinita é a síntese disso. Um filme próprio, com começo, meio e fim bem distribuídos. Além disso, ao término da produção, fica claro que o filme é sobre Thanos, algo que foi incrivelmente acertado, deixando a entender que o próximo será sobre a equipe.

    O sentimento que Guerra Infinita deixa é de alegria e dever cumprido, o que aumenta ainda mais a expectativa para o próximo filme que chega aos cinemas daqui aproximadamente um ano. Enquanto isso, ficamos no aguardo da San Diego Comic Con em julho, que pode trazer as primeiras imagens e informações da misteriosa conclusão da história.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Resenha | Hulk: Cinza

    Resenha | Hulk: Cinza

    Após um retorno ao passado sob vertente sentimental de dois heróis populares da Marvel Comics, Demolidor e Homem-Aranha, personagens centrais de Demolidor: Amarelo e Homem-Aranha: Azul, os parceiros Tim Sale e Jeph Loeb dão continuidade à série das cores em uma história que, até ano passado, figurava como o último volume de uma trilogia, agora ampliada com Capitão América: Branco.

    Lançado em 2003 em seis edições, Hulk: Cinza demonstra um equilíbrio narrativo entre as duas histórias anteriores. É perceptível que erros e acertos foram ponderados para compor essa trama, que repete o mesmo estilo memorialista narrando a origem fundamental do Golias Esmeralda. Diferentemente das anteriores, em que havia um interlocutor oculto representando parte da memória das personagens, Bruce Banner dialoga com seu psiquiatra, ponderando os acontecimentos do passado e analisando breves intervenções do analista.

    A inserção de um personagem que dialoga com o narrador é uma boa escolha para se diferenciar das tramas anteriores. A composição de Hulk se apoia no paradoxo entre inteligência versus brutalidade, um fardo que faz com que seu alter ego carregue alta carga de culpa. A trama acompanha linearmente os primeiros momentos de Banner ao se transformar nesta forte criatura, apresentada aqui de maneira primitiva e com uma psiquê infantil, adquirindo um tom sensível sobre um monstro que desconhece a si mesmo e os motivos de sua existência. O analista serve de contraponto para Banner, dando-lhe uma nova dimensão de suas dores passadas.

    Não compreendendo o motivo do mundo tratá-lo com agressividade, Hulk se preocupa somente com Betty Ross, alguém que, em sua psicologia, merece ser protegida a todo custo. Como a história aborda os primeiros dias após o acidente que propiciou sua origem, a ação é bem concentrada neste período temporal específico, sendo a obra mais metafórica das três incursões da dupla até então. Não há um grande aprofundamento psicológico como nas anteriores, em que o lado sensível e sentimental se destacavam, principalmente porque Loeb demonstra conhecer a personagem, identificando que, neste primeiro momento, não haveria base para um aprofundamento dramático. O paralelo traçado pelo Banner narrador ao retomar sua história inicial é suficiente ao colocar a culpa como arrependimento e dialogar com sensações básicas e primitivas dos seres, como amor e raiva. Estruturalmente, a trama é simples, sem um desfecho bem delineado, soando como uma saída fácil para finalizar a história.

    A falta de aprofundamento, ainda que coerente com o conceito proposto, distancia-se brevemente de Amarelo e Azul anteriores. Motivo que faz Hulk: Cinza ser a obra menos destacada entre as três. Apesar da boa tônica narrativa com alta carga simbólica e a composição visual perfeita graças ao talento de Tim Sale, há um senso de incompletude no desfecho, como se fosse encerrado às pressas, sem planejamento adequado.

    Hulk - Cinza - Tim Sale - 01

  • Especial | Demolidor

    Especial | Demolidor

    Demolidor Especial

    Criado por Stan Lee e Bill Everett, Demolidor, O Homem Sem Medo, fez sua estreia em abril de 1964, em Daredevil #1, e desde então, permanece como um dos principais personagens urbanos da editora. Na época de seu lançamento, o personagem se destacou entre as diversas criações da Marvel ao escolher como alter-ego um homem cego, conquistando leitores e ganhando status de representante dos leitores cegos que o admiravam pela força de superar problemas.

    Representante da faceta urbana do estúdio, Demolidor é um herói solitário. Trabalha sempre a favor da Cozinha do Inferno e raramente participa de grandes grupos. Um isolamento que proporciona um senso de urgência em suas histórias. Alguns períodos se destacam em sua trajetória, entre eles as fases de Frank Miller e Ann Nocenti, responsáveis por desenvolver bases importantes para a personagem, como também outros roteiristas como Brian Michael Bendis, Ed Brubaker, Karl Kesel, DG Chichester e Kevin Smith desenvolveram uma visão realista da personagem em tramas que situavam tanto o herói quando o alter ego Matt Murdock. Em seguida, coube a Mark Waid dar um novo tom ao personagem, em uma elogiada fase que voltava a uma faceta aventureira e mais bem-humorada que remetia as fases  clássicas de Marv Wolfman e Gerry Conway. O Homem Sem Medo se mantém coeso, com grandes momentos nos quadrinhos.

    Quadrinhos

    (1964 – 1965) Biblioteca Histórica Marvel: Demolidor – Volume 1
    (1979 – 1971) Demolidor – Por Klaus Janson e Frank Miller – Volume 1
    (1981 – 1982) Demolidor – Por Klaus Janson e Frank Miller – Volume 2
    (1993) Demolidor: O Homem Sem Medo
    (2001) Demolidor: Amarelo (Jeph Loeb e Tim Sale)
    (2001) Demolidor: Revelado (Brian Michael Bendis e Alex Maleev)
    (2004) Mercenário: Anatomia de Um Assassino
    (2009) Demolidor Noir
    (2011) Demolidor #1 (Mark Waid)
    (2011) Demolidor #2 (Mark Waid)
    (2011) Demolidor #3 (Mark Waid)
    (2012) Demolidor – Fim Dos Dias

    Filmes e Seriados

    (2003) Demolidor – Versão do Diretor
    (2015) Demolidor 1ª Temporada
    (2017) Os Defensores 1ª Temporada
    (2018) Demolidor – 3ª Temporada

    Podcasts

    VortCast 05 | Filmes da Marvel
    VortCast 22 | Ben Affleck
    Agenda Cultural 53 | Angeli, Demolidor e Guerra Mundial Z

  • Resenha | Demolidor: Amarelo

    Resenha | Demolidor: Amarelo

    Demolidor - Amarelo - Tim Sale Jeph Loeb

    Diante de grandes publicações, a dupla Tim Sale e Jeph Loeb se tornou uma representação contemporânea de parceria de sucesso nos quadrinhos. Iniciada na DC Comics, em histórias solos que compuseram a coletânea Dia das Bruxas, a equipe produziu grandes narrativas fechadas focadas em aspectos distintos de personagens do estúdio, como O Longo Dia das Bruxas e Vitória Sombria para Batman e As Quatro Estações para Superman. Na Marvel, desenvolveram uma trilogia de cores – agora acrescida de uma nova aventura com Capitão América – retomando a origem fundamental de três personagens e compondo uma trama sentimental e dramática sobre suas trajetórias.

    Em geral, as narrativas de cores formadas por Demolidor: Amarelo, Homem-Aranha: Azul, Hulk: Cinza e o recém-lançado Capitão América: Branco, retornam ao início das personagens, a partir de definições feitas por Stan Lee, para uma história de cunho mais pessoal, centrada em acontecimentos chave, narrados pela própria personagem. Trabalhando com um histórico de acontecimentos, a trama vai além de uma releitura de fatos, reordenando, com qualidade, as tensões da biografia do herói em uma nova visão.

    Demolidor: Amarelo foi o primeiro destes lançamentos em uma minissérie em seis edições publicada originalmente entre 2001 e 2002. No país, três edições foram publicadas com toda a série, no formato Panini, maior do que o americano. Loeb reordena o passado de Matt Murdock a partir de acontecimentos recentes da personagem. Assim, dialoga tanto com um drama atual das histórias como retoma seus primeiros dias. O ponto de partida se situa na morte de Karen Page, um acontecimento narrado por Kevin Smith em Demônio da Guarda, primeira história do Volume 2 de Daredevil. A narração é composta por uma carta escrita para a falecida Karen, repassando os primeiros momentos em que tiveram contato em uma época a qual o Homem Sem Medo ainda utilizava o manto amarelo em homenagem ao pai – um figurino modificado a partir de Daredevil #8, em agosto de 1965, o que prova a abordagem em momento precoce na carreira.

    A releitura adquire maior cunho dramático, perpassando acontecimentos do início da carreira, revivendo o trauma de outra namorada perdida. Ao dialogar com um personagem morto, a carga dramática se eleva e produz uma composição sensível que corrompe a estrutura de um herói perfeito. A morte nas tramas de Murdock sempre desenvolveram um conceito trágico na personagem, e o efeito causado por ela, sempre realista, é apoiado em dor e luto. O que o mantém como um representante heroico é a forte personalidade e o senso de obrigação moral de fazer o bem. Feitos que se sobrepõe e sempre abrandam as perdas violentas de Murdock desde a infância com a morte do pai, um traço psicológico que, desde sua fundamentação, foi inserido com precisão.

    Loeb  e Sale trabalham em sincronia, entrelaçando roteiro e imagens, desenvolvendo uma obra que ambos os aspectos se completam. Loeb inicialmente desenvolvia os roteiros com sugestões para o desenhista que expandia as informações, melhorando a visão artística em belos quadros. A edição também apresenta um novo estilo de colorização por computador, a partir das imagens preto e branco de Sale.

    Cada capítulo retoma um aspecto diferente da vida de Murdock explorando a trajetória anterior, os momentos iniciais, a luta com os primeiros vilões, o amigo Foggy Nelson e a tensão amorosa existente entre ambos na relação com Karen Page. Uma retomada memorial que adquire tom pessoal em uma estética impecável, homenageando artistas que passaram pela primeira longeva série da personagem encerrada em Outubro de 1998 para um novo grandioso inicio com Smith que se manteve em qualidade com David Maack, Brian Michael BendisEd Brubaker, Andy Diggle e Mark Waid nos roteiros.

    Demolidor: Amarelo nunca foi relançado no país e se trata de uma história cuja reedição é necessária, pelo bom conteúdo além do natural pedido dos leitores, ainda mais considerando o novo formato estabelecido pela editora em edições capa dura. Nos Estados Unidos, há tanto uma reedição solo quanto uma contendo as três histórias, uma edição defasada devido ao lançamento de Capitão América.

    Daredevil - Yellow - Tim Sale

  • Crítica | Nick Fury: Agente da S.H.I.E.L.D

    Crítica | Nick Fury: Agente da S.H.I.E.L.D

    Nicky Fury Agente da SHIELD 1

    Muito antes de Samuel L. Jackson aceitar o convite da Marvel Studios para estrelar o papel do coronel caolho da  agência da S.H.I.E.L.D., seria feita uma versão de Nick Fury, produzida por Avi Arad, Stan Lee e roteirizada por David Goyer. A escolha para o papel principal não poderia ser mais sui generis, com o aporte de David Hasselhoff, ainda na esteira de S.O.S. Malibu, em um papel tão canastrão quanto o que fizera neste e em Super Máquina.

    O Fury de Hasselhof é ainda mais agressivo e arredio do que a última versão cinematográfica do personagem, nada afeito a ordens, um rebelde que sabe o poder que tem, mesmo como subalterno dentro a agência de espionagem. O desrespeito as regras começa pela clássica cena em que acende um fósforo na parede, movimento comum a qualquer brucutu, ainda mais condizente com um militar que não aguenta desaforos.

    A fluidez com que é conduzido o filme de Rob Hardy  é tamanha, que se assemelha às encenações teatrais de colégio em fase de ensino fundamental. Não há como levar a sério qualquer dos conflitos entre a S.H.I.E.L.D. e a Hydra, que a priori, agiria desde a época da Alemanha Nazista, porcamente encenada por um elenco que abusa de falas aos gritos, overacting e muitos exageros visuais, com direito a cabelos extravagantes e sotaques californianos imitando horrorosamente o tom europeu de falar.

    É difícil escolher o aspecto mais chocante do telefilme, se é o fato do protagonista estar sempre oleoso, se é o tapa-olho que denuncia a completa falta de continuísmo ao se trocar frequentemente o objeto de hemisfério corporal, o bronzeamento artificial justificado do modo mais burrificado possível ou os cenários em CGI que fazem inveja aos diversos mockbusters da Asylum.

    O conjunto de semelhanças visuais com as HQ’s é incabível, sendo incrivelmente esdrúxulo, não fazendo sequer sentido dentro da métrica do argumento em alguns pontos, resultando até em contradições lógicas, como o ato de usar couro em um ambiente extremamente quente como a embarcação marítima/aérea em que a instituição se situa.

    Fury é leviano, durão e baddass, convive bem em meio ao mundo que o cerca, mesmo neste ambiente repleto de cenários de papelão que lembram demais o que é visto em produções de baixo orçamento. A trama se arrasta nos momentos finais, com direito a ressurreição de inimigos centenários, que só retornam para morrer logo depois, e uma larga apresentação de coadjuvantes genéricos, que não deixam o público esquecer do quão trash é o longa. Após um apelativo gancho para uma continuação, a resolução de Fury é curiosa por ir contra a burocracia típica da organização, ainda que o modo como é realizado não tenha qualquer inteligência. Nick Fury Agente da S.H.I.E.L.D. consegue ser tão pleno em seus defeitos, que provoca no seu espectador um riso involuntário, provindo do que já se chamava em 1998 por Marvel Studios, ainda que em outra encarnação da produtora.

  • Resenha | Homem-Formiga: Mundo Pequeno

    Resenha | Homem-Formiga: Mundo Pequeno

    Homem Formiga - Mundo Pequeno - Panini Comics

    Devido à estreia de Homem-Formiga nos cinemas, a Panini Comics lançou uma edição encadernada reunindo três histórias da personagem, com três versões diferentes do herói. Mesmo que seja um dos membros fundadores dos Vingadores, atuando em diversas aventuras do grupo, seu alcance sempre foi menor em relação a outros membros da equipe, em parte por raramente, em comparação ao seus companheiros, possuir um título mensal. Motivo pelo qual este compilado serve como apresentação, selecionando fases distintas para apresentar os três homens por trás do manto de Homem-Formiga.

    A primeira aventura, Mundo Pequeno, é a mais contemporânea da cronologia, com Eric O’Grady como o terceiro Homem-Formiga e Hank Pym sob o manto de Vespa, em homenagem a sua falecida esposa. A história promove uma parceria entre os dois personagens, após Grady descobrir que uma das invenções de Pym será roubada pela I.M.A. Uma aventura que contrapõe as personalidades de cada um para a eventual batalha que precisa da união de ambos para concluir a missão. Uma narrativa fraca que passa ao leitor a impressão de que o terceiro Homem-Formiga é apenas mais um característico personagem mais apoiado para o humor.

    A leitura segue retornando a sua origem, apresentando a primeira história com Hank Pym e seu retorno após desistir inicialmente de seu projeto, ambos lançados em 1962. Mesmo que o estilo seja diferente daquela conhecida, Stan Lee era um excelente roteirista, criativo ao extremo para justificar a composição de seus heróis. Mesmo que menor que grandes origens das diversas criadas por Lee, o cientista Hank Pym é bem apresentado e, seguindo a tradição heroica, decide assumir o manto após perceber a potência de seu soro de crescimento e encolhimento, as famosas partículas Pym que ainda não recebiam esse nome.

    Homem Formiga - Mundo Pequeno

    A criatura de Kosmos!, publicada em 1963, introduz a parceria que faria de Pym um homem casado com Janet, a Vespa. O argumento de Lee reflete a visão inocente de suas personagens, com uma heroína que se apaixona arrebatadoramente por Pym no mesmo dia que o conhece. De qualquer maneira, marcando uma parceria clássica dos quadrinhos, ainda que em uma história pouco inspirada com a presença de uma criatura – é muito semelhante aos traços do Toupeira vistos na primeira edição do Quarteto Fantástico – que cresce com o soro do Dr. e começa a destruir a cidade.

    A história final, dividida em duas partes, apresenta o herói visto no filme, Scott Lang, em sua estreia como Homem-Formiga. Trama publicada em 1979, é notável a evolução narrativa dos quadrinhos em relação ao início de Lee. A ação é mais equilibrada com a narrativa em off, resultando em um ritmo mais fluído. O roteiro de David Michelinie, com arte de John Byrne e Bob Layton, apresenta o ladrão Lang que encontra um uniforme de Pym em uma de suas fábricas e usa-o para ajudar sua filha, portadora de uma rara doença. Mesmo com um argumento simples, a história se desenvolve bem e demonstra a diferença entre o primeiro Formiga, um cientista brilhante, de um homem mais comum, vindo de um passado ruim que deseja esquecer, uma índole que encoraja Pym a confiar no novo herói e deixá-lo como herdeiro de seu uniforme.

    Para o leitor ocasional de quadrinhos que tem um primeiro contato através dessa edição, as tramas são funcionais como introdução no universo da personagem, bem como no estilo de cada um dos Homens-Formiga. Porém, como nenhuma das tramas é significativa em qualidade, o encadernado se mantém mais como um objeto histórico de três personagens diferentes do que uma edição essencial entre as diversas boas opções que a própria Panini lança no mercado.

    Compre: Homem – Formiga: Mundo Pequeno

  • Crítica | Homem-Aranha

    Crítica | Homem-Aranha

    Homem Aranha - Poster

    Há quase 15 anos, as histórias em quadrinhos eram consideradas um estilo inadaptável para o cinema. Porém, após o tímido sucesso de Blade: O Caçador de Vampiro e uma primeira grande produção de X-Men, com Bryan Singer na direção, um novo caminho foi sendo construído, e este se tornaria parte fundamental no cinema-pipoca atual.

    A vontade dos estúdios em produzir um filme do Homem-Aranha era uma antiga pauta fomentada por boatos e especulações. Somente após o sucesso das produções citadas foi possível um planejamento para que um dos heróis mais populares da Marvel Comics chegasse às telas.

    Com direção de Sam Raimi e roteiro de David Koepp, Homem-Aranha é uma produção bruta, não inserida na fórmula cinematográfica dos super-heróis, em que cada filme é trabalhado com base em um universo interligado. Como não havia nenhum plano a longo prazo com tais personagens, a produção foi uma das pioneiras, como uma espécie de teste para descobrir se a fórmula heroica funcionava.

    A origem do herói e o universo do estudante Peter Parker são apresentados de maneira simples, como o desenvolvimento do longa-metragem em geral. Não havia ainda a intenção de um relato explicitamente realista com uma abordagem mais adulta das personagens. As cores claras ressaltam-se na fotografia, mantendo a aura de ficção sem perder a percepção da realidade. Com uma personalidade semelhante à inicial proposta pelo criador Stan Lee, Peter Parker é um jovem nerd, estudioso, um tipo vivendo um mundo à parte, incapaz de se relacionar com outros além do amigo Harry Osborne. As cenas de origem, com a aranha modificada geneticamente – uma modificação da origem com aranha radioativa – que o morde, além de suas mudanças físicas, são apresentadas rapidamente, bem como a personalidade tímida e o amor pela vizinha Mary Jane Watson (Kirsten Dunst).

    Koepp escolheu como vilão desta primeira história o arqui-inimigo de Homem Aranha, o Duende Verde, incorporado pelo empresário Norman Osbourn após realizar experiências com um soro. Diante de um momento de incerteza dos sucessos de produções de quadrinhos, escolher um grande inimigo foi assertivo. Mesmo que a franquia falhasse, o público teria assistido em tela a um dos maiores embates dos quadrinhos. Ainda que uma das cenas chave entre Duende e Aranha tenha sido levemente modificada, é Mary Jane e não Gwen Stacy, como no original, que é arremessada de uma ponte pelo vilão.

    No papel de Norman Osborn, o ator Willem Dafoe foi uma boa escolha para trazer maior credibilidade ao filme e ao papel. Ainda que o uniforme do duende seja bem diferente do gibi, fato que dificultou qualquer expressão facial além da imposição de voz, Dafoe produz boas cenas demonstrando a loucura da personagem. Em destaque para a cena em que conversa no espelho com o duende, destacando as diferentes personalidades pelos olhos e expressões faciais, intensas, como de costume.

    As mudanças em relação ao quadrinho foram pontuais. Além da troca de Gwen Stacy por Mary Jane e das mudanças de uniforme, Peter Parker produzia teias naturais ao invés das feitas em laboratório. Na época, um dos produtores do longa alegou que esta era a saída mais verossímil para a história, afinal, como um jovem nerd seria capaz de inventar uma espécie de cola que nem mesmo as grandes indústrias haviam conseguido? Verossimilhança ou não, o assunto foi pauta para reclamações dos fãs, ainda que em arcos posteriores ao filme, e o Cabeça-de-Teia dos quadrinhos também começou a produzir teias naturalmente. A essência, porém, permaneceu intocada.

    Mesmo com 27 anos de idade na época, Tobey Maguire foi competente em compor seu personagem adolescente, mantendo a timidez no olhar e as características de Peter, sendo um Parker/Aranha melhor do que seu sucessor, Andrew Garfield. Se o envelhecimento de Maguire não foi um problema, o tempo natural transformou algumas cenas de ação mais precárias. É possível perceber com mais detalhe – ainda mais na edição em alta definição – o uso do CGI em algumas cenas de ação e uma composição mal executada do chroma key. Observações que não tiram o mérito da obra, mas que mostram a evolução da tecnologia nesta última década.

    Sem uma cartilha a seguir, a produção acertou na escolha de um bom roteiro, simples mas correto, para esta primeira aventura, obteve um grandioso resultado nas bilheterias e enfim houve a confirmação de que os heróis eram o novo pote de ouro da indústria cinematográfica. Homem-Aranha, ao lado de X-Men e Blade, marcou o primeiro momento dos heróis no cinema, representando uma linhagem heroica que hoje se tornou um dos lançamentos mais importantes  e esperados do cinema anualmente.

  • Review | Demolidor – 1ª Temporada

    Review | Demolidor – 1ª Temporada

    demolidor-poster-brDesde a primeira fase da Marvel nos cinemas, o estúdio vem trabalhando seu universo cinematográfico em sincronia expansiva e tinha interesse em desenvolvê-lo em outras mídias. A série Agentes da S.H.I.E.L.D, lançada pela ABC, foi o primeiro derivado direto dos filmes com uma das personagens, Agente Phil Coulson, presente na franquia como estrela.

    Ao mesmo tempo, a Netflix desenvolvia suas primeiras séries originais e, observando um sucesso crescente do prestígio como produtora, demonstrou interesse em adaptar histórias de alguns heróis da Marvel em novo formato proposto pelo serviço: temporadas fechadas, lançadas integralmente em um dia específico. O cuidado que a empresa demonstrou em suas produções e a força do personagem Demolidor elevaram a nova série a um nível alto de expectativa, antes mesmo de seu lançamento.

    A série foi o primeiro projeto confirmado de um plano que envolve mais heróis da Marvel e uma possível série em conjunto de uma equipe urbana envolvendo o Homem Sem Medo, Jessica Jones, Punho de Ferro e Luke Cage. Demolidor se passa no mesmo universo cinematográfico da Marvel, em algum período após o ataque de Nova York que reuniu Os Vingadores. Algumas breves referências em falas e em um jornal destacam a integração destas histórias, denotando a mesma pluralidade heroica existente nos quadrinhos. Em 13 episódios, a série criada por Drew Goddard desenvolve as bases fundamentais estabelecidas em mais de cinquenta anos de histórias.

    A trama evita o início obrigatório de uma origem e utiliza somente a primeira cena, antes da abertura, para mostrar o acidente que transforma o pequeno Murdock em cego. A evolução até se tornar um vigilante está diluída nos episódios. Inicialmente, surge em cenas de grande impacto de violência, como um gatilho emocional que o faz lembrar de sua trajetória. Dessa maneira, conhecemos o passado do garoto durante a ação central da temporada.

    Demolidor é um herói essencialmente urbano representando um bairro específico de Nova York. A sociedade do local é apresentada em tipos diferenciados, desde os habitantes locais, sejam estes da lei ou não, até políticos e empresários que desejam investir no local. Uma composição que radiografa esse microcosmos e seu dia a dia corrupto. Como uma inserção máxima dentro do possível realismo da série, o Homem sem Medo é um herói que não possui nenhum super poder. Seu benefício são os sentidos apurados que lhe dão uma vantagem maior em diversas situações de confronto. A violência sempre foi sua forma de expressão e imposição, uma potência física com maior apuro devido ao seu treinamento e aos sentidos amplificados que lhe permitem absorver uma grande quantidade de informação com a audição, olfato, paladar e tato.

    O realismo urbano e com muita violência é o maior visto no universo Marvel até então. Tal fator se deve à liberdade da Netflix, que não teve medo de transformar seu produto em uma série para maiores, e também à maneira inicial que a Marvel compôs seus primeiros filmes no cinema, mais voltados para a família na primeira fase, e os quais adquiriram contornos mais maduros com Capitão América: O Soldado Invernal, da considerada segunda fase. A censura não afastará os adolescentes de assistirem a essa história, e permite retratar de maneira verossímil um personagem cuja base é a violência. Chamada de estética hipermimética, por refletir com exagero quase naturalista a realidade, a série produz personagens que se aproximam do próprio público: seres com diversas linhas de pensamento e esfericidade, refletindo a concepção múltipla e quebrantada dos humanos. Um espaço ideal para dramas internos tanto de personagens com boa índole quanto daqueles mais próximos dos vilões.

    Demolidor - Daredevil - elenco

    Em relação à cronologia de Demolidor, o roteiro é capaz de produzir uma obra original e, ao mesmo tempo, promover diversas grandes referências ao universo de Murdock, entregando àqueles que já conhecem o herói momentos de reconhecimento e nostalgia em relação aos quadrinhos, estabelecendo um jogo de referências que demonstra as intenções futuras da narrativa. A história utiliza tanto elementos chave da personagem como une diversos argumentos apresentados em arcos específicos.

    Neste primeiro ano, o vigilante conhecido como o demônio de Hell´s Kitchen demonstra mais entusiasmo do que um plano concreto para mudar a cidade. Sem um método além da vontade de defender o local em que vive, suas ações pontuais são recebidas depois com retaliações, ainda que o herói consiga sempre ser vencedor. Sendo um tipo urbano, suas ações trabalham diretamente contra a corrupção do local, uma cidade dominada por russos, outras facções e um novo membro desconhecido. Não há dúvida de que vilões tradicionais aparecerão futuramente na trama. Porém, a escolha narrativa neste primeiro momento foi a relação do herói com sua cidade, destacando um dos maiores vilões do Demolidor, o empresário Wilson Fisk, que será conhecido como Rei do Crime.

    A infância de Fisk é apresentada no episódio Sombras com Reflexo, humanizando a figura do vilão, justificando que por trás de atos considerados hediondos há uma base psicológica que desenvolveu ou justificou tais atos. As cenas que mostram o cotidiano do empresário cozinhando solitariamente o café da manhã apresentam um homem poderoso que não conseguiu estabelecer laços. Um deslocamento interno que não se satisfaz com o belo ambiente em que vive. Não à toa, ao se ver atraído por uma mulher, seu comportamento muda brevemente. Porém, não o bastante para mudar seu caráter sombrio e violento, justificado pela infância abusiva. A caracterização feita por Vicent D´Onofrio é bem representada, desde o porte físico, equilibrado entre a falsa cortesia de Fisk, até suas explosões de violência. Como o herói em cena, Fisk não é super-humano. É somente um homem com um propósito bem delineado.

    Visualmente, a série mantém a percepção realista e faz da fotografia um aliado positivo, utilizando muito mais sombras do que luzes, para demonstrar a aspereza de Hell´s Kitchen. Como destaque do apuro técnico, o final do episódio Fio da Navalha, um plano-sequência simulado não só é brilhante como cena como também demonstra as habilidades do demônio como lutador. (A cena parece uma resposta à técnica do quarto episódio de True Detective, da HBO, também elogiadíssimo por público e crítica).

    Sem nenhum medo de promover transformações drásticas para a personagem central, a série utiliza muitos argumentos narrativos que os quadrinhos demoraram anos para abordar. A concepção das mídias é diferente e, dentro desta proposta realista, é necessário que a personagem tenha aliados ativos em prol de sua luta. E Murdock conquista estes aliados em todas as esferas: íntima, midiática e médica. O amigo Foggy Nelson descobre sua identidade em dos melhores episódios da temporada, Nelson x Murdock, que ilumina o passado dos amigos na faculdade – até mesmo com a menção a uma misteriosa namorada grega de Matt (Elektra, criada por Frank Miller) – e abala a amizade dos sócios pela falta de confiança do vigilante em dividir seu segredo.

    A mídia é destacada por outro grande personagem de seu universo, o jornalista investigativo Ben Ulrich, representante do poder da imprensa como meio de denúncia de corrupção. Por fim, a personagem de Rosario Dawson, Claire Temple, se aproxima do herói após salvá-lo desmaiado dentro de uma caçamba, e passa a ajudá-lo no cuidado com seus ferimentos. Existente nos quadrinhos, Claire é originalmente o interesse amoroso de Luke Cage, um possível indicativo de que, na futura série do herói com pele impermeável, poderemos rever o personagem que, aqui, tem uma relação rápida com Matt, mas que se afasta por não aceitar sua trajetória heroica. Trajetória também questionada pelo personagem central, o qual reconhece a importância de suas ações mas ainda se divide através do conceito moral e católico de fazer o bem. Diante de tanta dor, o vigilante questiona a necessidade de romper a linha e se tornar um assassino necessário.

    A primeira temporada produz um excelente arco narrativo, focado no conflito entre Demolidor e a própria corrupção de sua cidade, tendo como destaque o vilão Rei do Crime. Uma boa escolha narrativa que se apoia neste primeiro momento no realismo para que nos futuros, próximos vilões mais tradicionais, como o insano Mercenário, sejam inseridos na trama e ainda deem credibilidade para a história. Uma incrível temporada inicial com muito mais potência do que a maioria dos filmes Fase Um da Marvel no cinema. Se considerarmos a série como a primeira de outros personagens urbanos, a Netflix conseguiu mais uma vez um grande acerto.

  • Resenha | Como Desenhar Quadrinhos no Estilo Marvel

    Resenha | Como Desenhar Quadrinhos no Estilo Marvel

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    Quadrinhos sempre foram para mim uma fascinação. Quando era pequeno, me lembro de quando deixei de lado os cartoons de Mauricio de Sousa e comecei a ler Wolverine, Super-Homem entre outras histórias que meu pai sempre comprava (para ele). Foi lendo estas histórias que meu gosto por desenho começou a se abranger e, assim, passei a desenhar cenas de ação mais complexas em vez de casinhas e cachorrinhos, como toda criança costuma fazer. Nos anos 90, o interesse pelos super-heróis era tanto que tínhamos desenhos como os dos X-Men, Homem-Aranha e o Batman para nos entreter, e seu design era o mesmo dos quadrinhos da época. Qual criança não iria querer aprender a desenhar daquela forma?

    Como Desenhar Quadrinhos no Estilo Marvel foi elaborado por Stan Lee com o amigo John Buscema. A princípio, achei que este volume fosse mostrar inúmeras imagens de diversos dos personagens Marvel e um passo-a-passo de como desenhá-los. Infelizmente, não foi isso que aconteceu. O que me oferecido foi um livro que ensina técnicas de desenho básicas com ilustrações dos heróis mais conhecidos como exemplo (e algumas outras que mais parecem recorte-e-colagem de revistas antigas).

    Não que isto faça do livro uma obra ruim; mas esta apresenta outros pontos que eu ainda não havia encontrado em revistas de desenhos disponíveis nas bancas de jornais. O destaque que dá importância ao livro são as partes sobre anatomia e, principalmente, os exemplos de poses que demonstram como são – ou eram – elaboradas as artes da editora, pois poucos manuais se dedicam ao tema. Demonstrando opções agradáveis ou chamativas que dão dinamismo e emoção às histórias que conhecemos, ensinando como transformar uma cena simples em um momento relevante.

    As ilustrações que exemplificam proporções de anatomia, expressões e formas, tanto masculinas quanto femininas, estão no estilo clássico do desenho de John Buscema, grande ícone dos anos 60 e 70 da indústria de quadrinhos. O quadrinista foi referência para vários outros desenhistas na editora, como Neal Adams, Jack Kirby e John Romita, cujas artes também ilustram o volume.

    Lançado pela Editora WMF Martins Fontes, a edição apresenta capa cartonada e 160 páginas de artes e dicas que vão do lápis ao sombreado das imagens. Cada parte apresentada se desenvolve bem e com uma precisão de detalhes que exemplifica e expõe a arte em múltiplas formas, como o espaço dedicado às técnicas de pena e nanquim, estilos dificilmente utilizados hoje em dia, substituídos pelas canetas de cartucho de tinta ou arte digitalizada.

    Mas não se pode dizer que este é um guia de ilustração de quadrinhos em si. Mesmo que mostre, por exemplo, como elaborar uma capa de revista, faltam itens-chave para a criação completa do desenho. Este volume é uma obra de referência aos clássicos da Marvel de décadas passadas ilustrados por John Buscema. A sensação nostálgica agradará a muitos fãs de quadrinhos das antigas e ainda ensinará a desenhar como um dos grandes artistas do estúdio.

    Texto de Autoria de Bruno Gaspar.

  • Resenha | O Viajante: Contra o Tempo – Vol. 1

    Resenha | O Viajante: Contra o Tempo – Vol. 1

    Stan Lee é um nome que dispensa qualquer apresentação. O que muitos talvez não saibam, porém, é que ele tem estado bastante ativo nos últimos anos. Além das aparições nos filmes da Marvel, “The Man” esteve em alguns projetos para a televisão e nunca deixou de lado os quadrinhos. O Viajante, publicado originalmente nos EUA pela Boom! Studios como uma série em 12 números, chega agora ao Brasil com suas quatro primeiras edições reunidas em um encadernado. O lançamento é da Mythos Editora, pelo selo Mythos Books.

    A história mostra o surgimento de um misterioso super-herói denominado Viajante, que aparece para impedir que vítimas aparentemente aleatórias sejam assassinadas por seres superpoderosos chamados de Homens Nanossegundos. Com diversas habilidades ligadas à manipulação temporal, O Viajante parece saber exatamente onde e quando os vilões vão atacar, e demonstra ter objetivos próprios muito mais complexos do que simplesmente bancar o bom samaritano.

    Apesar de estar creditado somente como co-criador, e os roteiros propriamente ditos serem de Mark Waid (de O Reino do Amanhã e diversas outras histórias ao longo das últimas décadas), o estilo de Lee é curiosamente mais identificável que o de seu colega. A começar pelo didatismo bem anos 60, quando o Viajante explica seus poderes em longos discursos e monólogos. É algo que hoje gera uma estranheza, mas não chega exatamente a incomodar. Outro ponto é que o herói se mostra bem-humorado, faz piadas em vários momentos, mas esconde uma tragédia pessoal como motivação pra seus atos. Alguém aí pensou “Peter Parker”?

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    Mas aquilo que talvez seja o maior carimbo do lendário escritor seja fazer de O Viajante uma história de super-herói. Pois, analisando friamente, isso não era necessário. Tirando o herói e os vilões usarem uniformes estilosos (sem razão aparente ou estranheza por parte de um mundo, até aquele momento, normal), a trama é toda de ficção científica. O Viajante não salva ninguém só por salvar, não faz nenhum ato heroico que não seja perfeitamente calculado para preservar o fluxo temporal. Ele é, então, um verdadeiro “herói”?

    Talvez isso seja melhor explorado nas próximas edições. O que temos por enquanto é uma boa história, com ritmo ágil e conceitos interessantes de viagem no tempo, sugerindo algo cíclico mas ao mesmo tempo deixando em aberto a possibilidade de modificações. Além, é claro, das questões muito familiares envolvendo poder, responsabilidade, perda e sacrifício. Os desenhos são de Chad Hardin, ainda pouco conhecido apesar de ter feito alguns trabalhos para a Marvel e a DC. Aqui, sua arte é totalmente genérica dentro do que se vê em comics, mas pode ser elogiada por ser “fácil aos olhos”, ajuda na fluidez da narrativa.

    Texto de autoria de Jackson Good.