Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira | @flaviopvieira) e Filipe Pereira (@filipepereiral | @filipepereirareal) se reúnem para um bate-papo sobre a série de filmes Os Caças-Fantasmas, ou melhor, Ghostbusters, em especial sobre o filme mais recente. Curiosidades dos bastidores da franquia, as polêmicas do filme de 2016 e os principais acertos do novo longa.
Duração: 64 min.
Edição: Flávio Vieira Trilha Sonora: Flávio Vieira
Arte do Banner: Bruno Gaspar
Falar que a Netflix é uma empresa de sucesso é chover no molhado. Já tem alguns poucos anos que a gigante de streaming vem apresentando produções de extrema qualidade, seja no que diz respeito a filmes, seja no que diz respeito a seriados. Mas também, nem tudo são flores, já que, ainda assim, a quantidade de produções de qualidade duvidosa, supera facilmente as boas produções. Por exemplo, faltava à empresa uma produção de ação que fosse digna. E olha que não foi por falta de tentativa, mas foi difícil de acertar até Resgate ser lançado.
Pra quem gosta das produções mais recentes da Marvel, Resgate guarda muitas relações com o UCM – Universo Cinemático Marvel, a começar pelo protagonista Chris Hemstorth, o Thor. O filme tem o roteiro de Joe Russo, um dos diretores do melhor filme da Marvel, Capitão América 2: O Soldado Invernal, além dos clássicos Vingadores: Guerra Infinita e Vingadores: Ultimato, sendo que temos a direção de Sam Hargrave, estreando em grande estilo nessa produção. Hargrave é o braço direito da Marvel Studios, sendo dublê, coordenador de dublês e diretor de segunda unidade de diversos filmes da casa. O filme ainda conta com uma participação de David Habour, que será o Guardião Vermelho no filme da Viúva Negra.
O filme conta a história de Tyler Rake (Hemsworth), um mercenário que recebe uma importante tarefa: resgatar o jovem Ovi Mahajan (Rudhraksh Jaiswal), filho de Ovi Mahajan Senior (Pankaj Tripathi), nada mais nada menos que o maior traficante da Índia e que está preso. O mandante do sequestro é Amir Asif (Priyanshu Painyuli), o maior rival de Nahajan Senior e o maior traficante de Bangladesh. Vale destacar que antes de Ovi ser levado, ele estava sob os cuidados de Saju (Randeep Hooda), que decide ir atrás do menino em troca da segurança de sua família, agora ameaçada.
Não demora muito para Resgate ter um jogo interessante de gato e rato, uma vez que temos a equipe de Tyler atrás do menino, enquanto o mercenário cuida da extração do jovem e paralelo a isso, podemos ver os capangas de Amir e Saju fazendo de tudo o que é possível para atrapalhar a vida do protagonista e é aí que podemos ver uma das cenas de ação mais sensacionais da história do cinema, em um plano sequência absurdo, que começa com uma perseguição a pé e combates violentos “mano a mano” pelas apertadas casas da região e que termina numa empolgante perseguição envolvendo carros, onde a câmera na mão, diversas vezes, entra e sai do carro com o máximo de destreza possível. Toda essa ousada sequência dura cerca de quinze minutos e mostra que o diretor não veio para brincar.
Aliás, o filme tem ação do começo ao fim e pouco desacelera, mas o suficiente para estabelecer relações entre os personagens, principalmente na relação de Tyler com Ovi e de Amir com um outro jovem rapaz que decide entrar para o tráfico numa cena bem forte envolvendo crianças.
Quanto ao roteiro de Joe Russo, cabe um detalhe: não tem nada de diferente de algo que o espectador já não tenha visto em filmes de sequestro e olha que Russo estava amparado pela história original, já que o filme é uma adaptação de uma graphic novel chamada Ciudad, de Ande Parks. Assim, o destaque fica mesmo totalmente voltado à ação que aqui, guarda semelhanças com duas ótimas franquias, como a de John Wick (coincidentemente uma franquia desenvolvida por coordenadores de cenas de ação) e Operação: Invasão.
Com isso, a Netflix emplaca seu primeiro grande filme de ação e os números não mentem, já que a produção deve alcançar noventa milhões de views em seu primeiro mês, batendo outra promessa da empresa, mas que não emplacou, Esquadrão 6, o que faz com que Joe Russo, possivelmente, tenha ganhado sinal verde para a produção de uma continuação.
Os quadrinhos da Malibu Comics não são nem de longe tão conhecidos quanto os da Marvel ou DC Comics, mas serviram de base para alguns sucessos comerciais, entre eles a trilogia MIB – Homens de Preto, começada em 1997. As continuações tem um gosto duvidoso e retornar com a franquia sempre foi uma dúvida, que coube a F. Gary Gray (Straight Outta Compton, Velozes Furiosos 8) responder.
Diferente das outras versões, essa não conta mais com Will Smith e Tommy Lee Jones, e sim dois novos personagens: M (Tessa Thompson), uma moça que desde cedo possui uma relação de proximidade com os alienígenas, e a celebridade da agência, H (Chris Hemsworth). Os dois agem em pontos distintos do globo terrestre e em estágios de carreira diferentes, com a primeira ainda em estágio de probação. É estranha a abordagem que o roteiro de Matt Holloway e Art Marcum dá, pois ao mesmo tempo que tenta-se expandir o universo que trilogia de Barry Sonnenfeld e os quadrinhos de Lowell Cunningham já estabeleceram, há algumas aberturas em relação a mitologia que soam bobas, como o advento de agentes mais discretos e que abdicam de roupas formais como o terno preto da MIB (mesmo que sempre se falasse que este seria o último traje dos agentes), além de um maniqueísmo exacerbado, que faz com que todos personagens, exceção a H e M, sejam terrivelmente mal tratados.
Há alguns elementos típicos da franquia, como o uso da trilha sonora clássica, os veículos se transformando ao acionar um botões (com um belíssimo upgrade por sinal), entre outros detalhes, no entanto, falta à produção um pouco daquilo que consagrou o filme de 1997, originalidade e carisma, e por se tratar da adaptação de um quadrinho underground não havia tanta reclamação de fãs (J por exemplo era branco nos gibis e não houve qualquer reclamação de fãs conservadores ou algo que o valha), e com o tempo as continuações foram ficando mais caras e menos inspiradas e esse quarto capítulo não é diferente. Os vilões são genéricos, e fazem lembrar os péssimos antagonistas de X-Men: Fênix Negra, e o excesso de piadas sexuais envolvendo Hemsworth são completamente óbvios.
Há uma tentativa clara do filme em soar dúbio, mas isso não funciona, pois o roteiro é vazio em discussões. As piadas e tiradas cômicas poucas vezes funcionam e até a química de Thompson/Hemsworth estabelecida em Thor: Ragnarok e fortificada em Vingadores: Ultimato é desperdiçada. Outra questão delicada é que em princípio os homens de preto não deveriam usar disfarces, e há duas possibilidades para o que é mostrado aqui, uma tentativa de quebrar paradigmas ou simplesmente pouco apego a mitologia, que era muito bem solidificada em live action e na animação produzida para televisão. Se os agentes não agissem como pessoas imaturas, a primeira possibilidade seria mais validada, mas isso não ocorre, existem personagens que são puro pastiche, entre eles C (Rafe Spall), um garoto bobo quando contracena com H, e o mentor T (Liam Neeson), que tem toda a sua curva de destino prevista muito antes do final. A ideia de desconstrução do ideal da organização é boa, mas mal executada.
A motivação de M é fraca, e seu passado faz questão de retornar no final, desenterrado de maneira bastante oportunista, o que é uma pena, pois ela parecia uma personagem tão rica quanto o visto em Rosario Dawson em MIB 2, também mal aproveitada. É uma pena que a expansão do universo de Homens de Preto não seja acompanhada de boas tramas e subtramas, pois os efeitos especiais são bons e as cenas de ação bastante competentes, faltando um pouco mais de apego a mitologia da série e esmero em seu roteiro.
Não é de hoje que vinha sendo dito que Vingadores: Ultimato marcaria o encerramento da Saga do Infinito, que começou lá em 2008 com Homem de Ferro e que se estendeu por 11 vitoriosos anos e 22 filmes, ao todo. As Joias do Infinito foram aos poucos sendo introduzidas e cada filme mostrava um pouco daquilo que estava por vir. Tudo muito bem programado e arquitetado pela Marvel, que se mostrou uma estrategista sem igual no que diz respeito ao planejamento. Obviamente, ao longo de 22 filmes, vimos uma montanha russa no quesito qualidade. Alguns filmes são realmente bons, como o ótimo Capitão América: O Soldado Invernal, ou como o primeiro Guardiões da Galáxia, sendo que outros são bem fraquinhos e que não vale a pena nem comentar. Aliado a isso, tivemos o início desse encerramento em Vingadores: Guerra Infinita, que foi um dos grandes momentos da história do cinema, reunindo num só filme os principais heróis dessas histórias contadas por mais de 10 anos. E é com Vingadores: Ultimato que esse ciclo se encerra.
Após reunir todas as Joias do Infinito, Thanos (Josh Brolin) dizimou metade da população de todo o universo e o filme se inicia bem nesse momento para, logo em seguida, situar seus principais personagens, como os Seis Originais, vividos por Capitão América (Chris Evans), Homem de Ferro (Robert Downey Jr.), Thor (Chris Hemsworth), Hulk (Mark Ruffalo), Viúva Negra (Scarlett Johansson) e Gavião Arqueiro (Jeremy Renner), juntamente com Máquina de Combate (Don Cheadle), Homem-Formiga (Paul Rudd) e os Guardiões da Galáxia, Rocket Racoon (voz de Bradley Cooper) e Nebulosa (Karen Gillan), sobreviventes no filme anterior. Se Guerra Infinita tinha uma pegada mais urgente e ainda assim sobrou tempo para trabalhar os personagens, em Ultimato, esse tempo não existe e se o espectador não for ligeiro, ficará sem entender nada em alguns momentos. Inclusive, vale destacar que algumas das teorias são verdadeiras e muitas coisas que fãs acreditavam que aconteceria, realmente acontecem! Só que ninguém falou que aconteceria logo na primeira meia hora de fita e o desenrolar, aos poucos, vai perdendo aquele tom de obviedade, tornando tudo uma grata surpresa.
Importante dizer que Ultimato é bem diferente de seu antecessor, Guerra Infinita, tanto no que diz respeito ao tom, quanto no que diz respeito ao rumo que cada personagem tomou após o drástico evento. Embora parte dos Vingadores estivesse operando em vários locais do mundo e tentando seguir a vida da maneira como podem, outros foram terrivelmente afetados pela aniquilação. Alguns foram para caminhos muito sombrios e outros foram para caminhos extremamente bizarros e desnecessários. Estes em específico causaram uma notória divisão dentro da sala do cinema. Parte ria, parte se revoltava, principalmente com os rumos tomados por Thor, que foi a maior surpresa de Guerra Infinita.
É interessante como os diretores Joe & Anthony Russo e os roteiristas Christopher Markus e Stephen McFeely se propuseram a criar uma história mais intrincada e épica que a anterior. Embora conte com um número mais reduzido de personagens, a missão dos Vingadores é maior e cheia de detalhes, sem contar que é a mais audaciosa de suas vidas. Audacioso também é o desafio proposto pela equipe criativa, porque paralelamente à história principal, após sua primeira hora, dá-se início a uma série de homenagens e surpresas que celebram os mais de 50 anos de histórias da Marvel Comics, além de celebrar os 11 anos do seu Universo Cinemático – UCM. São tantos detalhes, que talvez seja necessário um texto inteiro para apontar esses acontecimentos, que são desde cenas inteiras, passando por frases marcantes. E é aí que nas duas horas seguintes você para de analisar o filme com frieza e volta a ser criança, principalmente no último ato, quando a sala do cinema se entrega de vez à diversão, algo que acontece até o último segundo.
Se Guerra Infinita era um filme sobre Thanos, Ultimato é um filme sobre os Vingadores. E é impressionante como Gavião Arqueiro, Viúva Negra, Homem de Ferro e Capitão América se destacam no meio de tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo. Robert Downey Jr e Chris Evans tem uma atuação de gala e entregam neste filme suas melhores atuações no UCM. A carga emocional que os personagens enfrentam do primeiro ao último minuto de tela é transportado para os olhos do espectador com maestria pelos atores. Não é a toa que os (vários) melhores momentos do filme são protagonizados pelo Homem de Ferro e pelo Capitão América. E não é a toa que os momentos mais emotivos também são protagonizados pelos dois.
Emoção é um sentimento que define bem Vingadores: Ultimato. Um filme que não só fecha a Saga do Infinito, mas que também coloca ponto final nos arcos de vários personagens, fecha algumas portas, abre outras e principalmente encerra um ciclo de pouco mais de uma década que foram relevantes para a história do cinema. Inclusive, após o seu final, o título original em inglês, Endgame passa a fazer mais sentido do que nunca. A Marvel Studios sai de cabeça erguida e com a promessa de se manter no topo, mas com um novo e mais complicado desafio. Avante, Vingadores!
Fruto do exploitation antiterrorista que se agravou bastante no pós 11 de Setembro nos Estados Unidos, 12 Heróis mostra uma força tarefa que vai até o Afeganistão, para tentar desmontar as forças do Talibã, reunindo membros das Forças Especiais e da Cia. O filme é protagonizado por Chris Hemsworth, em mais uma tentativa sua de emplacar algo que não seja o Thor da Marvel, vivendo o Capitão Mitch Nelson, enviado ao estrangeiro para tentar convencer um outro general a unir forças com eles contra o terror.
O filme tenta surfar no onda de outros produtos mais sérios e melhor pensados, como A Hora Mais Escura e Sniper Americano, mas esbarra em um roteiro cheio de clichês. Nem o elenco portentoso, formado por Michael Peña, Michael Shannon, William Fichtner e Taylor Sheridan (escritor de Sicário, A Qualquer Custo e Terra Selvagem) consegue salvar o longa da péssima construção textual, que prima por ser anti-climática, com pouca ação e muita morosidade.
Não há sequer cenas de ação que causem impacto no espectador. Um filme de guerra normalmente precisa de algumas, como foi em Platoon ou Resgate do Soldado Ryan, mas 12 Heróis não se posiciona dessa forma, tampouco consegue ser meticuloso ou ardiloso como filmes espionagem, fazendo perguntar qual seria a real intenção de seu realizador, Nicolai Fuglsig. Para ser justo, há uma tomada aérea com bombardeio em tanques que é bem legal, mas ela não tem qualquer elemento humano envolvido, quando aparece alguém, a pessoa está mascarada, evitando uma possível empatia.
Os tiroteios são filmados de maneira muito fria, é difícil se importar com os destino dos personagens. Mesmo em 13 Horas, de Michael Bay, há uma aproximação maior entre público e personagens. Isso pesa muito contra o longa, uma vez que ele é baseado numa história real, ainda que seus dramas e subtramas não se pareçam em nada com a realidade de uma rotina de soldados e pseudo-defensores da liberdade, sobrando apenas maniqueísmo e um senso de justiça bastante infantil.
Bem-vindos a bordo. A pedido dos ouvintes, Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe Pereira (@filipepereiral), David Matheus Nunes (@david_matheus) e Jackson Good (@jacksgood) se reúnem para comentar sobre o filme Vingadores: Guerra Infinita.
Duração: 103 min. Edição: Julio Assano Junior Trilha Sonora: Flávio Vieira
Arte do Banner: Bruno Gaspar
Como eu havia escrito no meu texto sobre as expectativas em torno de Vingadores: Guerra Infinita, a hora havia chegado. O filme que marca os 10 anos do conhecido Universo Cinematográfico Marvel – UCM chegou aos cinemas com muitas dúvidas, desde as mais óbvias no que diz respeito ao encaixe de dezenas de heróis e seus coadjuvantes em tela, passando pelas apostas sobre qual herói seria o candidato a morrer e a partir os corações dos fãs, até a pergunta mais óbvia e com extrema relevância para a trama: onde está a Joia da Alma?
Vingadores: Guerra Infinita entrega aos fãs e ao espectador aquilo que satisfaz desde os mais aficionados até aqueles que não estão tão familiarizados assim com o UCM e melhor, além de encher os olhos daquele que assiste, causando as mais diversas sensações, amarra todo o universo iniciado em 2008 com Homem de Ferro, tendo Pantera Negra como último “representante”, solucionando todas as dúvidas e amarrando todas as pontas soltas no decorrer do caminho, além de jogar no ar muitas outras perguntas que, talvez comecem a ser respondidas nas produções Homem-Formiga e a Vespa,Capitã Marvel e, obviamente, na quarta aventura da equipe que estreará somente em 2019, embora já esteja em estágio final de filmagem.
Tentando evitar spoilers ao máximo neste texto, Guerra Infinita, como todos já sabem, marca a busca do vilão Thanos (Josh Brolin) pelas Jóias do Infinito e tem como ponto de partida os minutos seguintes da cena pós-créditos de Thor: Ragnarok, quando a nave da nova Asgard é abordada por outra gigantesca nave. Logo em seus primeiros minutos o filme já mostra quem de fato é Thanos e ele é assustador. Assim, deu-se início ao maior filme da curta, porém, de sucesso história da Marvel.
Logo no início desse texto foi falado que um dos maiores desafios da produção seria encaixar tantos heróis, protagonistas e coadjuvantes em tela, e após o término do filme, tem-se se a sensação que cada um dos milhares de nomes que aparecem nos créditos finais, desde a direção de Joe e Anthony Russo, passando pela história escrita por Christopher Markus e Stephen McFeely, até prestadores de serviço como o “cozinheiro de Robert Downey Jr”, ou o “cabeleireiro de Don Cheadle”, merecem ser aplaudidos de pé. O cuidado com a história é tão minucioso que coisas “bobas”, mas que poderiam ter ficado de fora estão lá. Um pequeno exemplo disso é que devemos lembrar que Bruce Banner (Mark Ruffalo), por exemplo, abandonou o planeta ao final de Vingadores: Era de Ultron e ficou anos fora do ar, enquanto, na Terra, acontecia os eventos de Guerra Civil, Homem-Formiga, Doutor Estranho, Homem-Aranha: De Volta ao Lar e Pantera Negra. Banner acaba sendo atualizado de algumas coisas de uma maneira muito divertida.
Aliás, Banner, a julgar pelo que aconteceu nos últimos anos, está mais leve, sem aquela agonia constante que o personagem entregava nos demais filme e isso contribui para alguns momentos de humor serem protagonizados por Mark Ruffalo. Humor esse que está presente em todo o transcorrer da fita, cada um a sua maneira. As partes dos Guardiões da Galáxia são tão autênticas que parecem que foram escritas por James Gunn e isso foi bem acertado no filme, já que aqui, um não invade o território do outro no que diz respeito ao estilo de cada personagem e assim, meio que temos um núcleo de personagens habilidosos com o humor e outro núcleo bem mais sereno. Tudo isso aliado à diversas cenas de luta e ação desenfreada, todas muito bem feitas e bem resolvidas.
Em Guerra Infinita todo herói tem seu momento de protagonismo. O roteiro e a direção, de maneira habilidosa, cedem espaço para todos, sem exceção, algo que foi muito bem construído por Joss Whedon no primeiro filme, mas totalmente esquecido pelo diretor em Era de Ultron e pelos Irmãos Russo em Guerra Civil, quando há momentos em que Visão (Paul Bettany) e Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen), dois dos mais poderosos no campo de batalha, simplesmente desaparecem, buscando de maneira preguiçosa, deixar a batalha mais equilibrada. Aqui, ninguém é esquecido e pra adicionar ainda mais um desafio para produção, ainda temos gratas surpresas, como o retorno de alguns bons personagens, além da inclusão de outros novos. Contudo, com relação ao seu herói preferido, fica o alerta de que você poderá ficar um pouco decepcionado se considerarmos o tamanho de sua expectativa. Guerra Infinita não tem tempo para desenvolver os personagens e as relações entre eles e os motivos são tanto relacionados ao desenvolvimento da produção, como ao desenvolvimento da história, porque Thanos, simplesmente, não deixa. E isso nos leva a dois destaques: o já mencionado titã louco e o deus do trovão, Thor (Chris Hemsworth).
O Thanos de Brolin é incrível. Ele não é um vilão clássico, megalomaníaco, que busca somente destruir tudo e todos em busca única e exclusiva de poder, desbancando Loki (Tom Hiddleston) do trono de melhor vilão do UCM. Thanos tem um propósito até justificável e percebe-se que ele sofre por carregar esse fardo, tanto que a cada conquista, em vez de comemoração, vemos certo desânimo em seu semblante e chega num determinado momento em que você fala consigo mesmo “vai, Thanos!” tamanha a serenidade do personagem. A clássica vilania fica por conta de seus filhos Fauce de Ébano (poderosíssimo), Proxima Meia-Noite, Corvus Glaive e o brutamontes Estrela Negra.
Já Thor sofreu mudanças significativas em Ragnarok e o personagem, dentro dos principais, foi o que mais evoluiu se levarmos em conta seus dois primeiros filmes que foram ruins e suas duas participações nos dois primeiros filmes dos Vingadores. E também, o contato junto dos Guardiões, fez com que o semideus se sentisse em casa, se encaixando na equipe como uma luva. Thor sempre foi um herói dotado de extrema arrogância e em Guerra Infinita podemos perceber que ele é um grande guerreiro.
Muito se especulou sobre a empreitada ser um enorme filme que foi dividido em duas partes, assim como as produções finais de Harry Potter, Crepúsculo e Jogos Vorazes e embora, ambas histórias tenham tido filmagens simultâneas, optou-se por ser duas produções distintas e com títulos próprios e o que se vê em Guerra Infinita é a síntese disso. Um filme próprio, com começo, meio e fim bem distribuídos. Além disso, ao término da produção, fica claro que o filme é sobre Thanos, algo que foi incrivelmente acertado, deixando a entender que o próximo será sobre a equipe.
O sentimento que Guerra Infinita deixa é de alegria e dever cumprido, o que aumenta ainda mais a expectativa para o próximo filme que chega aos cinemas daqui aproximadamente um ano. Enquanto isso, ficamos no aguardo da San Diego Comic Con em julho, que pode trazer as primeiras imagens e informações da misteriosa conclusão da história.
As primeiras imagens de Vingadores: Guerra Infinitaforam mostradas em julho durante o evento da Disney chamado D23 e causou furor entre os presentes. Os fãs que estavam lá tiveram o “privilégio” de ver que os Vingadores, Guardiões da Galáxia e demais heróis do chamado Marvel Cinematic Universe – MCU terão muito, mas muito trabalho para enfrentar Thanos e seus soldados da Ordem Negra.
Eis que a espera acabou e o resto do mundo pôde ver o que está por vir com a liberação do primeiro trailer oficial do filme. Informamos que a partir daqui, o texto poderá conter diversos spoilers, assim como teorias que poder ser verdades ou não.
Logo no início, Nick Fury, Tony Stark, Visão, Thor, Natasha Romanoff proferem aquilo que seria o embrião da Iniciativa Vingadores, iniciada há quase 10 anos com a cena pós créditos de Homem de Ferro, de que havia uma ideia de reunir pessoas incríveis para ver se eles poderiam ser algo mais e que, então, se as pessoas precisassem deles, eles poderiam lutar as batalhas que as pessoas jamais poderiam lutar. Nas imagens já vemos Tony Stark (Robert Downey Jr) completamente acabado em sofrimento, onde se acredita que ele está segurando a mão de alguém que veio a padecer. Vemos também Bruce Banner (Mark Ruffalo) caído e assustado dentro de um buraco, sendo observado pelo Dr. Estranho (Benedict Cumberbatch) e Wong (Benedict Wong), quando a imagem corta para o Visão (Paul Bettany), em sua forma humana, num momento de carinho com Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen), ao mesmo tempo em que Thor (Chris Hemsworth) aparece a bordo da Millano.
As imagens a seguir já mostram Stark junto de Banner e Dr. Estranho dentro do Sanctum Sanctorum, enquanto Peter Parker (Tom Holland), dentro de um ônibus, tem seus pelos do braço completamente arrepiados para, logo após, observar uma enorme máquina circular pairando no céu de Nova Iorque. Embora as imagens sejam rápidas, é possível perceber que Stark tem um novo reator em seu peito e é muito provável que esse reator não seja somente um reator, mas também a fonte de onde sairá a sua armadura, o que remete, de certa forma, à armadura Extremis dos quadrinhos, muito embora, seu design seja bastante inspirado na Bleeding Edge, também dos quadrinhos.
Temos também imagens de Thanos (Josh Brolin) chegando provavelmente na Terra através de um portal, enquanto o Homem-Aranha, vestindo a sua armadura mais tecnológica apresentada ao final de De Volta ao Lar, procura um jeito de desativar a máquina circular, enquanto T’challa (Chadwick Boseman) ordena que a cidade seja evacuada, que todas as defesas sejam acionadas e que peguem um escudo para o homem que sai das sombras. O homem é nada mais nada menos que Steve Rogers (Chris Evans), que inclusive, aparece em cena segurando uma lança atirada pela vilã Próxima Meia Noite. Vale destacar que esse escudo do qual T’Challa menciona, não deverá ser o tradicional escudo do Capitão América, mas sim um escudo usado em Wakanda, onde o guerreiro possui duas placas retráteis de vibranium nos braços.
O trailer tem um caráter muito urgente e passa a impressão de que é mais tenso do que o primeiro trailer de Vingadores: Era de Ultron. Nas imagens, ainda podemos ver a Hulkbuster chegando em Wakanda, que inclusive receberá uma enorme batalha, onde Capitão América, Falcão (Anthony Mackie), Viúva Negra (Scarlett Johansson), Soldado Invernal (Sebastian Stan), junto do Pantera Negra, Máquina de Combate (Don Cheadle), Hulk e a líder das Dora Milaje, Okoye (Danai Gurira), liderarão o exército de Wakanda contra o exército do Titã Louco, formado pelos Batedores ou pelos Vrexllnexians que já apareceram na série Agents of S.H.I.E.L.D., o que, de certa forma, causa surpresa, uma vez que a decisão mais óbvia seria usar novamente o exército Chitauri do primeiro filme. O trailer termina com Thor perguntando quem são as pessoas para quem ele está olhando e a imagem aponta para os Guardiões da Galáxia, aqui formados por Senhor das Estrelas (Chris Pratt), ostentando um bigodão setentista, Groot (voz de Vin Diesel), em sua forma adolescente, Gamora (Zoe Saldana), Mantis (Pom Klementieff), Rocket Racoon (voz de Bradley Cooper) e Drax (Dave Bautista).
No que diz respeito ao enredo propriamente dito, é muito provável que o filme já comece com Thor sendo atropelado junto com outros destroços pelos Guardiões da Galáxia e que, ao ser resgatado pela equipe, começa a contar o que houve com ele, onde a nave contendo a Nova Asgard foi interceptada e destruída pela nave de Thanos. Existe a possibilidade dos Guardiões já estarem numa investigação com o intuito de saberem o que aconteceu com o Colecionador (Benicio Del Toro) e com a Tropa Nova, uma vez que nas imagens do trailer, o vilão possui duas Joias do Infinito e uma delas é justamente o Orbe, que estava sob a posse da tropa, sendo que a outra é o Tesseract, que deve ter sido entregue por Loki (Tom Hiddleston) durante o ataque à nave. E é durante esse ataque que existe a possibilidade de Heimdall (Idris Elba), sob às ordens do Deus do Trovão, enviar Bruce Banner para pedir socorro a Stephen Strange, o que justificaria sua queda exatamente dentro do Sanctum Sanctorum. Banner contacta Tony Stark e eles, provavelmente, serão os primeiros a receberem a investidas de Thanos e sua Ordem Negra. Uma imagem chocante é aquela em que vilão, após colocar a segunda joia em sua manopla, dá um duro golpe que nocauteia o Homem de Ferro de forma muito violenta.
Vale destacar que o filme deve possuir alguns núcleos separados e somente em certo momento que o Capitão América, Falcão e Viúva Negra irão para Wakanda requerer auxílio ao Pantera Negra e ao Soldado Invernal. Antes disso, o grupo deve estar junto de Visão e Feiticeira Escarlate que sofrem um ataque da Proxima Meia Noite e de Corvus Glaive e é nesse momento que deve acontecer a primeira baixa da equipe, quando o sintetizoide possivelmente terá a jóia que carrega em sua cabeça extraída por Glaive.
E deve ser Bruce Banner e o Coronel Rhodes que farão o elo de ligação entre os dois fronts de batalha, o de Nova Iorque com o de Wakanda. Por isso, acredita-se que é Banner quem pilota a Hulkbuster, que fará o transporte do cientista até o país africano. Curiosamente, a gigante armadura também aparece na batalha. Se for realmente Banner dentro dela, a teoria é que o herói esteja inseguro em se transformar em Hulk novamente, temendo que o Gigante Esmeralda tome por completo sua consciência, o que faz sentido, contudo, não vale de nada, uma vez que o monstro também aparece nas imagens.
Obviamente, tudo isso se trata de suposições, afinal, alguns personagens e heróis ainda não apareceram, como o Gavião Arqueiro (Jeremy Renner), Homem-Formiga (Paul Rudd) e a Nebulosa (Karen Gillan), além do fato dos trailers serem montados de maneira aleatória. De qualquer forma, as primeiras imagens de Vingadores: Guerra Infinita fizeram tanto sucesso que bateram recorde de visualizações em menos de 24 horas de seu lançamento.
A Disney é tão enorme que precisa de um evento nos mesmos moldes das Comic Cons para anunciar novidades e imagens exclusivas de seus mais aguardados projetos.
Felizmente, o terceiro filme dos Vingadores, intitulado de Guerra Infinita, promete ser o maior filme da história do cinema, não só pela quantidade absurda de heróis (todos aqueles que já apareceram até então), mas também por ser um ambicioso projeto trazido pela Marvel.
O painel do filme contou com o presidente Kevin Feige e o co-diretor, Joe Russo, que conseguiu reunir no palco ninguém mais, ninguém menos que os Vingadores, Robert Downey Jr., Chris Hemsworth, Mark Ruffalo, Paul Bettany, Elizabeth Olsen, Don Cheadle, Anthony Mackie, Tom Holland, Benedict Cumberbatch, Chadwick, Boseman, Sebastian Stan, os Guardiões da Galáxia, Karen Gillan, Dave Bautista, Pom Klementieff e o vilão, Josh Brolin.
O trailer foi exibido somente para o público presente no salão e foi fantástico. Confira a descrição.
De início, vemos um momento de tensão, onde os Guardiões da Galáxia, a bordo da Milano, esbarram no corpo inconsciente de Thor (com o uniforme de gladiador de Thor: Ragnarok). Ao ser trazido para dentro da nave, o asgardiano é acordado por Mantis. Assustado, Thor pergunta quem são aquelas pessoas.
As imagens passam a mostrar a Terra com vários trechos de devastação. Vemos um Loki nada amistoso em posse do Tesseract e Peter Parker, num ônibus, tendo os pelos do braço sendo arrepiados, o que, aparentemente, é o seu sentido de aranha.
Vemos Thanos pela primeira vez em um planeta alienígena usando a Manopla do Infinito e ele consegue soltar parte de uma lua provocando uma chuva de meteoros. Doutor Estranho, Guardiões da Galáxia e o Homem de Ferro estão na batalha.
Também vemos em outras imagens o Homem-Aranha vestindo um novo uniforme, o Pantera Negra em Wakanda, alguns Vingadores, juntos do Hulk, apanhando dos asseclas de Thanos e também um Capitão América barbudo e uma Viúva Negra loira.
Vale destacar que as filmagens do corte principal do filme se encerraram na última sexta-feira e a produção da continuação ainda sem título já teve início de imediato.
Vingadores: Guerra Infinita estreia em 4 de maio de 2018.
Fato novo é um termo bastante usado no futebol – em especial no brasileiro – para justificar qualquer novidade que visa dar uma sacudida no ânimo de um time que está mal. Talvez esse seja o paralelo mais justo com o ocorrido na franquia Caça-Fantasmas, paralisada na produção de filmes oficiais desde o fim da década de 1990, ainda por Ivan Reitman. O escalado para a função de modificar tudo seria Paul Feig, que tem por costume escalar no elenco suas musas Kristen Wiig e principalmente Melissa McCarthy, que já havia feito com ele Missão Madrinha de Casamento, As Bem Armadas e A Espiã Que Sabia de Menos. Antes mesmo do lançamento, o filme esteve envolto em polêmicas para muito além da qualidade de sua trama ou filmagem.
A história se assemelha em alguns pontos ao esqueleto do clássico Os Caça-Fantasmasde 1984, sendo repleto de homenagens e aparições do elenco anterior. A história começa mostrando a acadêmica Erin Gilbert (Wiig), tentando alcançar status dentro da universidade em que trabalha, fracassando graças ao seu envolvimento no passado com Abby Yates (McCarthy): quando juntas, escreveram um obscuro livro sobre estudos paranormais. Aos poucos, aparecem outros personagens, bastante arquetípicos, desde a tresloucada e engraçada Jillyan Holtzmann (Kate McKinnon), que é revelação do longa, até Patty Tolan (Leslie Jonan), que age como a estereotipada mulher negra feita de alívio cômico no papel de Winston Redmore, ainda que suas justificativas sejam ligeiramente mais claras.
O grave problema do filme mora no roteiro de Feig e Katie Dippold cuja parceria esteve presente em As Bem-Armadas e Parks and Recreation, e o montante de coincidências e situações forçadas. Apesar de introduzir melhor a questão da credulidade, opinião pública e dos tecnobables, as piadas nem sempre funcionam, tanto nos momentos em que Wiig tenta ser engraçada quanto nas participações especiais.
Ao tentar tornar a trama verossímil ao mostrar a prefeitura de Nova York agindo para encobrir os eventos paranormais, as qualidades se dividem, sendo positivo ao trazer uma velha questão à tona, que seria o encobrimento de informação, fortalecendo teorias da conspiração, em um bom deboche à paranoia do americano, e negativo quando mostra com simplismo as curvas do destino. Falta conflito, um vilão decente, ainda que sua participação quando tomado seja interessante.
Outro fator a discutir em relação à qualidade é o fato de as melhores piadas estarem com Kevin (Chris Hemsworth), que teve sua figura relacionada aos principais materiais de divulgação, um pouco por seu carisma mas principalmente para tentar evitar o boicote de setores mais conservadores a um filme de aventura majoritariamente escalado por mulheres. No entanto, sua posição é subalterna, como um sujeito inapto e escolhido por seus dotes físicos, invertendo irônica e inteligentemente os arquétipos normalmente exibidos nos filmes mainstream no quesito sexo-objeto.
É um fato indiscutível que Caça-Fantasmas não seja um filme irrepreensível, mas tem uma carga de diversão alta, como o primeiro. Qualquer carga de ódio motivado pelo protagonismo das atrizes é injustificado em matéria de análise fílmica e vergonhoso no sentido ideológico, principalmente por este ser o menos gorduroso e piegas dos filmes de Feig desde Menores Desacompanhados. Não se justificam, em absoluto, as notas e reviews extremamente negativas a seu respeito, visto que a obra não cai na besteira de ser uma refilmagem literal do filme de Reitman, inclusive contando com a presença de espírito de fazer piada com o machismo presente em parte do público.
Versão pseudo adulta e muito mais sombria do conto dos Irmãos Grimm, Branca de Neve e o Caçador reimagina a clássica história infantil, usando elementos bélicos que estavam muito em voga na época, a exemplo das primeiras temporadas de Game of Thrones. O filme de Rupert Sanders inicia-se com o rei Magnus (Noah Huntley) guerreando suas próprias batalhas, buscando no conflito o consolo para sua recente viuvez. É nesse contexto que ele resgata a bela Ravenna, vivida por Charlize Theron, que no auge de sua beleza, prepara um ardil para seu futuro marido.
Toda a rotina da sucessão da nobreza e o assumir do governo pela antiga cativa é resumida nos dez minutos iniciais, assim como a promessa de que a pequena Branca de Neve seria a mais bela entre as mulheres, ainda que fosse apenas uma criança a esta altura. O tempo passa, a moça cresce e passa a ser interpretada por Kristen Stewart, e a sua presença interfere nos poderes e rejuvenescimento da rainha. Dali, se desenvolve uma trama repleta de violência e perseguição, envolvendo a Bella de Crepúsculoem uma trama cheia de confusões e azaração.
A relação de Ravennea com Finn (Sam Spruell), seu irmão, faz lembrar o casal Jaime e Cersei Lannister, de GoT, ainda que a relação incestuosa seja apenas sugerida nesta versão. A característica soa oportunista e transforma o filme em algo ainda mais genérico, piorando o nível quando a personagem principal consegue travar seu cavalo na lama e ao mesmo tempo, sair do pântano lodorento sem sujar o rosto.
A tentativa de tornar a personagem da vilã em um ser injustiçado de certa forma previu uma tendência que se tornaria bastante popular, e que teria seu ápice em Malévola. No entanto, a justificativa para o ato contra a nobreza fica nebuloso, com uma dúvida mal construída, como é de prática do argumento de Evan Daugherty, John Lee Hancock e Hossein Amini. O embate entre as duas figuras femininas fortes é tão fraco que há espaço de sobra para os coadjuvantes, em especial o caçador vivido por Cris Hemsworth.
Dos pedaços de trama, é difícil escolher qual é o aspecto mais desnecessário, se é o plot de escolhida envolvendo a princesa fugitiva ou o overaction que beira o insuportável que Charlize emprega. O longa soa como uma oportunidade boba de fazer dinheiro em cima de uma história já consagrada e contada inúmeras vezes, quase nunca tão pouco inspirada ou tão sem alma quanto esta versão. Somente não surpreende o fato do filme ter tido suficiente para gerar uma continuação, graças à moda recente de produtos ligados a fantasia pseudo medieval.
Se for analisar sob um viés mais realista, Branca de Neve e o Caçador é ainda mais falho, uma vez que dificilmente uma princesa sem nenhum preparo militar vestiria uma armadura prateada e serviria de ponta de lança em meio a um conflito onde só os mais bravos guerreiros sobrevivem. Os efeitos em CGI ao menos resistem ao tempo, mas não garantem qualquer consistência as lutas. O pior do filme é o desperdício que ocorre nas duas figuras femininas, que deveriam ser fortes mas que soam banais, fazendo muito barulho para nada, resultando em um filme com personagens vazios em uma história desinteressante.
Amalgamando prequel com continuação, O Caçador e a Rainha do Gelo segue um estilo semelhante ao visto entre 300e 300: A Ascensão do Império, mesmo sem a presença da protagonista do filme anterior vivida por Kristen Stewart. A premissa do longa de estreia de Cedric Nicholas-Troyan é remontar a origem de Ravenna, a rainha má de Charlize Theron, mostrando sua irmã Freya (Emily Blunt), fazendo ali um crossover entre os contos dos Irmãos Grimm e alusões da mitologia germânica, dentro do já misturado caldeirão de referências.
A história de contos de fadas começa com uma narração e mostra uma história muito semelhante à de Malevóla, filme também produzido por Joe Roth e Sarah Bradshaw, dois dos três que assinam a produção, ao lado de Palak Patel. A personagem de Blunt tem sua filha assassinada por seu amado, fato que faz ela despertar seus poderes mágicos, semelhantes aos de Elsa em Frozen: Uma Aventura Congelante, além de fazê-la criar um reino próprio, com um exército para ocupar o vazio emocional que tem consigo, referência que também é semelhante à animação da Disney.
Apesar do nome em português, este filme tem foco no personagem do Caçador, que agora recebe o nome de Eric, ainda vivido pelo Thorda Disney Chris Hemsworth, que na atualidade vive nos arredores do reino de Branca de Neve e é chamado às pressas para socorrer a sua rainha, levando o espelho mágico para longe da adoentada realeza. Apesar da morte da vilã, o ardil seria a desculpa para a ausência da antiga protagonista, e a jornada do fraco personagem teria envolvimento com seu passado, resgatando sua origem no reino de Freya e seu antigo amor, Sara (Jessica Chastain), figura esta que havia sido dada como morta.
O tal artefato mágico traria a Freya um grande poder, e tudo que o envolve parece seduzir os que estão em seu caminho. Como se não houvesse mais dinheiro para arcar com os custos do filme anterior, só há presentes dois anões, dos quais somente um estava em Branca de Neve e o Caçador, Nyon (Nick Frost) e seu irmão Gryff (Rob Brydon), que são o alívio cômico, ao lado de mais personagens presunçosos e de moral óbvia.
A jornada floresta adentro reserva momentos que imitam visual e narrativamente o recente João e Maria: Caçadores de Bruxa, além de mostrar um flerte bobo e carente de consistência entre o antigo casal. A continuação segue com o mesmo problema do primeiro filme: tentando transformar qualquer momento em algo épico, incluindo aí duas irmãs rainhas exímias em estratégia militar.
A solução final para o confronto que deveria ocorrer entre as partes boas e más beira o ridículo, arranjando uma luta com desfecho anti climático cujo maniqueísmo extremo rivaliza com a falta de identidade, o aspecto mais negativo do filme, de intermináveis deles. Quase nada funciona em O Caçador e a Rainha do Gelo, especialmente por entrar em contradição com tudo o que foi apresentado no já ruim episódio anterior.
A tradição oral sempre esteve presente conosco. Ela, sem dúvida, é um dos ritos mais antigos que ainda carregamos, e através dela, antes mesmo de conseguirmos ler, são passados medos, lições e principalmente as histórias. E é através do interlocutor que essas passam a ganhar vida, mesmo que verdade ou não. Basicamente, é questão de acreditar no que está ouvindo. E é nessa passagem que todo o clima e atmosfera do filme No Coração do Mar, que estreia nos cinemas no próximo 3 de dezembro, constrói sua narrativa.
O cinema do diretor Ron Howard tem se dedicado nas suas últimas obras a relatar histórias reais através de suas produções, e certamente atingiu muitos acertos, como Uma Mente Brilhante, obra na qual realiza uma cinebiografia, ou em conflitos reais como Frost e Nixon e Rush – No Limite da Emoção. Mesmo que hoje possamos perceber com enorme frequência filmes voltados a contar histórias reais, origens de grandes fatos históricos e personagens numa tentativa de ressurgi-los mais uma vez, arrecadando milhões em bilheteria, é muito fácil destacar esses três filmes como obras muito bem realizadas no meio de tantos produtos semelhantes. Mas o que acontece quando ele decide contar uma história que na verdade deu origem a uma obra que é tão poderosa quanto a história que a inspirou?
Na trama de No Coração do Mar, o futuro autor de Moby Dick,Herman Melville (Ben Whishaw) convence o velho Thomas Nickerson (Brendan Gleeson) a contar a história de quando ainda era um marujo (interpretado por Tom Holland) e o que ocorreu de fato por trás da destruição do navio Essex em 1820, que saiu em busca de caçar baleias, comandado pelo capitão George Pollard Jr. (Benjamin Walker) e seu Imediato Owen Chase (Chris Hemsworth)
Já que o filme se passa unicamente no mar, seria mais do que função dessa produção trabalhar bem a construção do que se passa exatamente dentro e fora de um navio. O filme não só faz isso com excelência, mas consegue dosar numa montagem competente a simples busca por um vento favorável como algo completamente emocionante. As cores dos enquadramentos são propositalmente sóbrias nas cenas externas no mar para dar vida ao navio muitas vezes, assim como as cores das roupas do capitão Pollard, dourado das armas da tripulação e dos olhares dos tripulantes.
Infelizmente, como muitas produções hoje carecem de uma imersão fidedigna ao que elas se propõem, existe um excesso de enquadramentos em close nos atores quando é necessária uma cena que exija um movimento mais preciso, ou uma ação coordenada em alguma direção da câmera. E, por outro lado, é muito difícil dizer quando estamos encarando uma baleia por CG ou por uma gravação pré-produzida com uma montagem competente. Vale ressaltar que, apesar da trilha claramente Hans Zimmeriana, ela encaixa perfeitamente nas cenas, assim como os efeitos sonoros da grande baleia branca que aterroriza a tripulação do Essex.
Durante toda a passagem do filme, foi difícil não pensar no fato de que ele por si só já era a metalinguagem de outra história já contada, sendo contada para o seu autor. Os poucos momentos em que os personagens do Essex têm diálogos expositórios sobre sua condição, é muito claro a contraposição com a própria natureza da obra Moby Dick e que se estende até o fim do filme. Seu desfecho, amargo e doloroso, é resultado de uma condição miserável em que alguns poucos seres humanos sobreviveram para contar. Apesar de alguns veículos de comunicação terem divulgado a foto do ator Chris Hemsworth com pouquíssima massa muscular para interpretar o período à deriva da tripulação é possível dizer que o filme não abusa em demonstrar tal aspecto físico, exibindo-o pontualmente durante alguns trechos,
A tradição oral é talvez um dos espelhos mais poderosos que temos para revelar o que se esconde de sombrio no coração do homem; tornar simples palavras em monstros e em assombrações depende unicamente do que existe de mais sombrio em cada um de nós. Quem sabe transpor o que deveria nos atormentar de tamanha forma com palavras em imagens talvez não seja a maneira mais efetiva de contar essa história.
Até os grandes erram. O interessante é que seus erros são tão grandiosos quanto os seus acertos. No caso de Hacker, o grande Michael Mann – responsável por obras como Fogo Contra Fogo, Colateral e O Último dos Moicanos – deu um tiro no próprio pé. Ainda que tenha uma temática bastante atual, o filme é bem ruim e está muito aquém do restante da filmografia do diretor.
Na trama do filme, um ataque cibernético ao sistema de resfriamento de uma usina nuclear na China gera o derretimento de um reator e um grave acidente. No dia seguinte, o hacker por trás do ataque à usina provoca pânico na bolsa de valores de Chicago ao manipular o mercado de ações. Um oficial militar chinês que investiga o caso descobre que o hacker está usando um código que ele e um amigo escreveram há alguns anos enquanto estudavam no MIT. O amigo, vivido por Chris Hemsworth, é libertado da prisão onde estava confinado para poder auxiliar na captura do criminoso virtual.
Existem dois pontos positivos na fita: a fotografia digital é muito bem utilizada pelo diretor Michael Mann, provocando um ótimo efeito em tela. O outro ponto é a maneira como algumas sequências de ação são filmadas. Mann filma de forma espetacular, porém nunca tira os pés do chão, mantendo sempre um grau de realismo. Entretanto, só isso não basta para tornar o filme bom. O roteiro é muito fraco e faz uso de algumas situações muito absurdas, tal como entrar em um reator nuclear que “vazou” para recuperar o disco rígido de um computador que poderia conter informações vitais para a investigação. Os personagens são pessimamente construídos, sendo unidimensionais e clichês ambulantes. O vilão do filme é algo de inexplicável, pois é um gênio durante grande parte do filme e uma besta quadrada no final. Fora o forçadíssimo romance entre dois protagonistas que não faz sentido nenhum.
Esses problemas poderiam ter sido contornados caso o filme tivesse um ritmo alucinante, daqueles que prendem o espectador na poltrona. Porém, esse não é o caso. O ritmo é arrastado e chega a provocar sono. Em nenhum momento parece que os heróis estão enfrentando um vilão que pode desestabilizar ou destruir todo o planeta, tamanha a passividade que transmitem. Não há um senso de urgência. Algumas soluções do roteiro são risíveis e uma em especial debocha da inteligência do espectador.
Quanto às atuações, não há muito o que se fazer quando os personagens são ruins. Chris Hemsworth defende com dignidade o seu papel, mesmo na inacreditável cena em que ele deixa de ser hacker e se transforma num cruzamento de MacGyver com Capitão América. Leehom Wang, o amigo chinês do personagem de Hemsworth, e Tang Wei, sua irmã, e o tal interesse romântico do protagonista, fazem o que podem de acordo com as suas limitações naturais e as de concepção dos personagens. Viola Davis está como sempre competente em cena, apesar de sua personagem também ser extremamente genérica.
Enfim, fica uma sensação amarga quando sobem os créditos, já que Michael Mann costuma demorar entre um projeto e outro. Nesse caso, não foi nem caso de expectativa alta. O caso é de filme ruim mesmo.
Fechando a Fase Dois dos filmes da Marvel, passando por qualquer expectativa ao filme de 2012, Joss Whedon finalmente se despede dos filmes da Marvel Studios, utilizando uma desculpa até hoje mal contada, mas que não o impediu de produzir um filme que atingisse todos os requisitos de uma boa sequência, ainda que sua produção tenha alguns defeitos pontuais.
O início da trama é frenético, com sequências de ação desenfreadas que fazem o filme se assemelhar à fita de Simon West, Os Mercenários 2. Não perdendo qualquer segundo com explicações, o filme já demonstra como os heróis agem em grupo e o quão coesa é aquela união, mais intensa graças à queda do sigilo e das operações da antiga S.H.I.E.L.D, como mostrado em Capitão América 2 – O Soldado Invernal. Os opositores seguem como os membros da HYDRA, ainda que toda a confecção dos vilões seja um óbvio MacGuffin, como Hitchcock adorava fazer, um despiste que não consegue ludibriar qualquer espectador mais experiente.
Tal artifício cobre seus efeitos, já que toda a construção prévia rui em questão de minutos, mesmo com toda a crescente de importância dos até então vilões. O fato do roteiro se basear em uma história recente de sucesso por um lado compromete a cena pós-créditos de Vingadores, mas consegue manter o clima de escapismo, equilibrando pontuais questões sérias, adicionando cor e docilidade, com cenas de ação ainda mais bem orquestradas – marca forte de Whedon enquanto diretor – mesmo que o exército dos inimigos seja absolutamente descartável, como tantos capangas acéfalos dos tokusatsus famosos, equiparando a antiga tropa de Tony Stark (Robert Downey Junior) aos esquálidos bonecos de massa que enfrentavam os Power Rangers.
A ideia de explorar as diferenças entre os membros do grupo segue concentrando um enorme pedaço do desenvolvimento do roteiro. Não há nisto qualquer novidade, mesmo o acréscimo dos novos personagens – os gêmeos Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen) e Mercúrio (Aaron Taylor-Johnson) – já era esperado, por ser um clichê de filme de equipe. O fato de não precisar mais contar qualquer origem gera no público uma avidez por mais aspectos novos, que não são plenamente cumpridos, ainda que o excesso de adrenalina quase chegue a cumprir essa expectativa.
A discussão a respeito da antiga questão da supervisão do vigilantismo beira o brilhantismo. Diferente do executado por Zack Snyder em Watchmen, a indagação do “quem vigiará os vigilantes” não é tratada de modo pasteurizado, ao contrário, pois os pecados de Banner/Hulk (Mark Ruffalo) e do Homem de Ferro são cobrados com os próprios em vida, sem qualquer tentativa de fuga da responsabilidade ou de complacência dos seus atos impensados. Ultron é fruto do medo da humanidade de ser perseguida, e toda a sua arrogância – unida ao potente trabalho vocal de James Spader – faz com que todo o pânico inerente aos homens de sangue quente se fortifique, manifestando-se através de uma liderança insensível e absolutista, referência claras à tirania de personagens históricos, tradicionalmente trazendo a ideia de arquétipo vilanesco.
O ritmo veloz quase faz com que se esqueçam os problemas pontuais do argumento, como a troca de interpretação do androide Ultron, relegando a Hank Pym um papel absolutamente subalterno, já definido como coadjuvante de “seu” futuro filme solo. Outro aspecto que não fica exatamente claro é até onde o filme do gigante esmeralda protagonizado por Norton foi descontinuado, já que não há qualquer referência à vida – ou não – de Betty Ross, mesmo sendo este um dos pilares do personagem.
Apesar das reprimendas, o background do Hulk é o aspecto mais rico e melhor trabalhado, além, é claro, da acessória questão da humanizada Natasha Romannoff, além de fazer uso – finalmente – dos dotes dramáticos de Scarlett Johansson, afora suas já tão conhecidas curvas. Sua importância no filme é magnânima, cabendo a Viúva restaurar o equilíbrio do grupo, tanto no proceder com o Monstro – em outra referência ótima ao canône do personagem – quanto no importante lembrete de que, além de todo o poder e destruição potencial dos heróis, e com toda a magnitude dos semi deuses, ainda sobravam nos personagens aspectos humanos que fazem emocionar, unindo personagens e público no mesmo invólucro de emoções.
Apesar de ter conceitos pouco explorados, graças à pressa dos produtores do filme – como a absoluta e interessante ação dos gêmeos, ou o sub-aproveitamento do Falcão no filme – há mais a se destacar positivamente do operar dos Vingadores do que reclamações. Thor (Chris Hemsworth) segue no automático, assim como Stark, apesar de neste filme o filantropo se achar muito mais vulnerável, assim como em Homem de Ferro 3. Mas é o acréscimo do conceito de evolução que mais se destaca, usando como avatar a figura do Visão, de Paul Bettany, que cumpre todos os papéis que deveriam ser do Ultron perfeito, reunindo aspectos de onisciência e onipotência, com uma destacável questão pretensamente filosófica. De modo bem pragmático, o filme salienta que o complexo do Doutor Manhattan não precisava ser tão ligado ao autismo, como no filme de Snyder de 2008.
Mesmo que a cena pós-créditos seja bem menos empolgante do que se imaginava – ainda mais em comparação com a suposta cena do Cabeça-de-Teia, vazada há pouco tempo – o desfecho do filme remete à esperança da humanidade no panteão de heróis liderados por um Capitão América (Chris Evans) bem mais inspirado que anteriormente. Um filme que organiza elementos dissonantes de modo harmônico e coeso, sem fazer perder o fôlego em momento algum. Que não supera seu antecessor em termos de qualidade, mas que entrega o esperado de modo idôneo, sem apelar para fórmulas batidas em detrimento de conteúdo.
Três anos, quatro filmes e uma série (e meia). Isso é que separa as duas aventuras dos Maiores Heróis da Terra no já mais do que estabelecido Universo Marvel cinematográfico. Mas a sensação em A Era de Ultron é de que pouca coisa teve importância nessa pós-Batalha de NY. Para o bem e para o mal: as besteiras de Homem de Ferro 3 sumariamente ignoradas é de lavar a alma, não deixa de ser um desperdício os elementos de O Soldado Invernale de Agentes da S. H. I. E. L. D. (fim da Shield, Hidra, Inumanos) na prática não fazerem muita diferença.
A Hidra está lá, claro, mas apenas como um gatilho para o início da trama. Após atacar a última base da organização terrorista, os heróis recuperam o cetro de Loki. Fazendo uso do imenso poder do artefato, Tony Stark coloca em prática um projeto de inteligência artificial que deveria ser a solução final em termos de paz mundial (e substituir os Vingadores). Como em qualquer história com esse tema, as coisas obviamente dão errado, e surge o vilão Ultron, uma ameaça que vai colocar à prova não somente a capacidade da super equipe de proteger o planeta, como também a confiança entre seus membros.
A força do filme, a exemplo do primeiro, está no equilíbrio que já virou marca registrada da Marvel no cinema. Há um passo além no desenvolvimento de personagens e no que se pode chamar de maior maturidade, mas as cenas de ação de encher os olhos e o bom humor (felizmente bem dosado e colocado) estão lá. E enquanto sequência, o longa habilmente se aproveita do universo e indivíduos já familiares para se concentrar em contar sua história em ritmo acelerado, sem qualquer enrolação ou preocupação com didatismo ao introduzir os vários novos personagens.
Wanda e Pietro são rapidamente estabelecidos como “vilões por engano”, e organicamente fazem a transição. Havia potencial para maior exploração de ambos, principalmente do velocista, mas como micro origem num contexto maior, a participação dos gêmeos foi satisfatória. Em relação ao vilão de fato, Ultron sofreu um pouco com a expectativa: os trailers sugeriam algo muito mais sinistro. Contudo, considerada a proposta Marvel de ser, ele desempenhou bem seu papel de ameaça da vez. Além de claramente servir muito mais como ferramenta para desenvolver outros personagens, como Stark e o Visão.
Visão, aliás, que foi a mais gratificante das novidades e talvez o grande acerto do filme. O conceito de um ser que está entre o artificial e o humano ficou bem representado, passando pela inteligente adaptação da origem do personagem e pela atuação precisa de Paul Betany. A dignidade semifilosófica e semimelancólica do herói foi transposta com perfeição dos quadrinhos para a telona.
Dentre os velhos conhecidos, é interessante notar as relações de afinidade entre os membros da equipe, moldada a partir dos ideais e visões de mundo de cada um. Capitão América e Thor aparecem bem entrosados em batalha, o soldado e o guerreiro, ambos confortáveis em continuar travando o bom combate em prol dos inocentes. Na contramão, claramente, Stark e Banner. Cientistas, não lutadores, ambos concordam que o foco deve ser o de acabar com a necessidade de lutar. E por sua vez, Clint e Natasha ficam num meio-termo, mostrando um certo cansaço dessa vida, mas cientes de seu papel. Os dois também se assemelham no sentido de que o roteiro busca humanizá-los ainda mais; só que enquanto o espaço maior dedicado ao Gavião Arqueiro surpreende e agrada muito, o romance da Viúva com o Hulk soa pouco convincente.
Em linhas gerais, A Era de Ultron sem dúvida entrega o que promete, perdendo talvez alguns pontos por não trazer nada efetivamente bombástico ou inovador. Como uma boa megassaga dos quadrinhos, o filme é divertido, grandioso, traz mudanças no status quo e entrega pistas do que vem por aí. Mas, como nos quadrinhos, há a sensação de mais do mesmo, ainda não um problema de fato, mas já perceptível. Fica a expectativa para as cenas dos próximos capítulos: a discordância entre Tony e Steve, Wakanda e mais uma vez as Joias do Infinito são elementos que até podem passar sem grande alarde para os não entendedores, mas mantêm aceso o interesse dos fãs.
O sinal de alerta diminuiu bastante, mas continua ligado. Após o repleto de equívocos Homem de Ferro 3, o Marvel Studios prossegue em sua chamada Fase 2 com Thor – O Mundo Sombrio. Esta segunda (Leia nossa crítica sobre o primeiro Thor) aventura solo (e terceira aparição, na cronologia peculiar do estúdio) do Deus do Trovão sabiamente dedica-se ao universo particular do personagem e consegue encontrar espaçao para, enfim, introduzir elementos para os próximos filmes. Porém, tropeça em alguns problemas desconfortavelmente semelhantes ao citado terceiro filme do Sr. Stark.
A trama, surpresa nenhuma, situa-se logo após Os Vingadores. Vemos Loki em prisão perpétua, e a única que parece ainda se importar com ele é sua mãe adotiva Frigga. Thor está empenhando em batalhas pelos Noves Reinos, mergulhados num caos depois da destruição da Ponte do Arco-Íris, e não consegue deixar de pensar na Terra e/ou Jane Foster. A bela doutora, por sua vez, segue pesquisando fenômenos científicos enquanto suspira pelo loirão. E é ela, graças a um acidente do destino, que desencadeia a ameça da vez: derrotados há milhares de anos por Bor, avô de Thor, os elfos negros e seu líder Malekith retornam para devolver o universo às Trevas.
O primeiro Thor sofre duras críticas – injustiçadas – que se concentram no tempo do filme passado na Terra. Em O Mundo Sombrio, esse tempo é reduzido, mas o problema é maior. Paradoxal? Nem tanto. Antes era uma história de origem, havia a necessidade de se criar uma ligação do herói com nosso mundo, até por conta de Os Vingadores. Agora, havia todo um background específico a ser trabalhado. E o filme começa muito bem, mostrando o ancestral Bor e os outros reinos além de Asgard e Midgard. Seguir nessa linha poderia render um plot muito mais interessante: ver Thor, Lady Sif e os Três Guerreiros empenhados nas tais batalhas para pacificar os mundos, em mais do que alguns flashes. Em vez disso, o argumento escolhido privilegia os coadjuvantes terrestres, cuja utilidade é enfatizar o aspecto humorístico.
O erro não chega no nível catastrófico de Homem de Ferro 3, aqui o timing está mais acertado, recuperando o estilo consagrado da Marvel. O melhor momento do filme, inclusive, é uma piada sensacional com a aparição inesperada de outro vingador. Mas o longa acaba pecando pelo excesso, há mais gracinhas do que seria necessário. A personagem Darcy, apesar de Kat Dennings ser puro amor, irrita porque cada uma de suas frases é irônica/engraçadinha. Somando-se a ela, um inútil novo personagem (o estagiário) e o Dr Selvig transformado num maluco nudista, um humor óbvio e fácil demais.
Em relação aos vilões, pode ser uma apontada uma certa preguiça em desenvolver algo mais criativo. Destruir o universo durante um alinhamento de planetas (rebatizado aqui como Convergência entre os Reinos) é clichê dos mais básicos. Pelo menos os elfos negros tem um visual interessante e trazem uma tecnologia que representa um desafio para Asgard. Aliás, a “tecnomagia” estabelecida no primeiro filme ganha mais espaço, vemos mais armas e naves que reforçam o teor fantástico que Thor permite que Universo Marvel comece a explorar.
Enquanto isso, os personagens asgardianos infelizmente tem um papel bem mais discreto do que no primeiro filme. Hogun mal aparece, Fandrall e Volstagg pouco fazem e Sif é tremendamente desperdiçada. Heimdall, então, chega a ser patético lembrar da sua anunciada “maior participação” nessa sequência. Odin é mostrado ainda mais como um rei velho e cansado, ansioso por deixar o trono, e não como o poderoso Pai de Todos. Compreensível, para dar espaço para Thor ser não apenas o guerreiro, mas o herói que ele precisa ser. De positivo, o maior destaque dado para Frigga.
Mas o dono do filme não poderia ser outro senão Loki. Tom Hiddleston incorporou tanto o personagem, que nem precisa se esforçar para ser o mais carismático. Ele passeia, flutua pelas cenas e se diverte ao trabalhar mais uma vez com a característica mais marcante do Deus da Trapaça: a ambiguidade. E pra não dizer que não falei dos protagonistas, Chris Hemsworth e Natalie Portman estão ok, nada demais. O romance recebe um enfoque que já era esperado, porém não incomoda, ao menos não em comparação com os reais defeitos da história.
Não que Thor – O Mundo Sombrio seja um filme ruim. O problema em analisá-lo é que os pontos positivos são os mesmos de sempre: ótimo visual, ritmo equilibrado (na maior parte do tempo) entre tensão e humor, e boas cenas de ação. Como a expectativa era mais alta, pois a liberdade era maior por não existir a necessidade apresentar personagens/ambiente, os aspectos negativos acabam se sobressaindo. Em resumo, uma aventura divertida, mas esquecível, e um grande potencial sub-aproveitado. Agora é esperar pela incógnita total chamada Guardiões da Galáxia (atenção para a cena pós-créditos) e promissor (haters gonna hate) Capitão América – O Soldado Invernal. Sem esquecer da esperança maior que é Vingadores – A Era de Ultron.
Todo filme de Fórmula 1 no Brasil que não seja sobre Ayrton Senna (ou que não o transforme em semideus) será sempre tratado com um certo desdém pelo grande público, que costuma ver nele o único grande piloto da F1, mostrando um pouco de egocentrismo nacionalista e falta de conhecimento da história de um esporte que já teve seus melhores momentos em décadas passadas, e hoje sofre, assim como o boxe, de falta de fãs e credibilidade. Rush (com seu dispensável subtítulo brasileiro No Limite da Emoção) vem justamente para cumprir papel importante neste aspecto: o de mostrar que a F1 já existia e já era perigosa e emocionante antes de Ayrton.
A história do filme retrata a rivalidade existente entre os pilotos Niki Lauda (Daniel Brühl) e James Hunt (Chris Hemsworth), portadores de personalidades bem distintas: enquanto Lauda era frio, metódico e brilhante, Hunt era um típico playboy, que adorava festas e os flashes da mídia. A disputa entre os dois se passa desde o início da década de 70 até 1976, quando Niki Lauda sofre um grave acidente no mesmo ano que James Hunt se consagra campeão mundial de F1, igualando o feito de Lauda no ano anterior.
Com uma estrutura interessante, que insere flashbacks durante a narrativa tradicional, o diretor Ron Howard consegue contar uma história cativante sobre duas personalidades tão distintas, mas que rivalizavam e se completavam, de certo modo. Obviamente, certas liberdades poéticas foram tomadas para tornar o filme mais cativante. Porém, qualquer pessoa minimamente interessada no esporte, ou mesmo em conflitos humanos, saberá aprecia-la.
Brühl e Hemsworth conseguem, cada um a sua maneira, passar um realismo na dinâmica entre os personagens, ainda mais Brühl, que parece ter estudado meticulosamente cada trejeito físico de Lauda, pois sua atuação impressiona. Hemsworth, limitado como é, se entrega verdadeiramente, mas ainda não consegue fugir do typecasting pelo seu tipo físico e padrão de beleza. Outro ponto positivo do filme é o figurino e os design de produção, que consegue passar nitidamente a sensação dos anos 70 a cada tomada, pelas roupas, penteados, carros, câmeras fotográficas, maquiagens e todos os detalhes.
Porém, o que poderia ter trazido uma profundidade maior ao filme seria a inserção de outros elementos que pudessem tornar a dinâmica entre Lauda e Hunt menos linear, como talvez a interação de ambos com outros pilotos (momento só brevemente inserido na trama) e com a estrutura da F1. Com 2h03 minutos de projeção, desenvolver mais a história iria tornar o filme ainda mais longo pelo uso que se fez das cenas de corridas, muito bem feitas por sinal, assim como as sequências de transição entre os GP’s, mas sempre em detrimento da história, um vício cada vez mais comum na produção cinematográfica moderna.
Ron Howard, ainda com essas limitações, consegue produzir um filme redondo, que satisfaz tanto quem está em busca de uma boa diversão com doses homeopáticas de profundidade quanto o fã de F1, que provavelmente irá fazer uma busca extensiva na internet para saber mais sobre essas figuras tão emblemáticas a respeito de uma época romântica de um esporte em crise, como a F1 atualmente.
A cena inicial tem um estilo de documentário. São mostradas, em rápida sucessão, imagens jornalísticas (muitas delas reais) situando um conturbado cenário internacional. Crise econômica na Europa gerando protestos civis; o Oriente Médio em crescente agitação, o que exige maior participação militar norte-americana; a Rússia de alguma forma envolvida em tudo isso; e, principalmente, a Coreia do Norte assumindo uma postura cada vez mais belicosa, deixando os analistas políticos do mundo inteiro perplexos e apreensivos. Tal abertura parece indicar uma preocupação em ser realista, ou ao menos apresentar uma extrapolação crível da nossa realidade… “só que não” elevado à enésima potência. Amanhecer Violento é, mais que um filme, um ode à inverossimilhança.
Um belo dia, os moradores da pequena cidade de Spokane, localizada próxima a Seattle, têm sua tranquilidade quebrada ao acordar e ver o céu cheio de aviões e para-quedas inimigos. Norte-coreanos. Exatamente: a Coreia do Norte está empreendendo uma invasão em larga escala aos Estados Unidos. Com as forças da Lei rapidamente dominadas, cabe a um grupo de adolescentes formar uma resistência contra os invasores. Liderados pelo deus do trovão, Thor (quer dizer, Jed, um jovem soldado interpretado por Chris Hemsworth), eles vão assumir o nome do time de futebol local, os Wolverines, e do dia para a noite vão virar mestres na arte da guerrilha.
A direção do estreante Dan Bradley não é das mais inspiradas, as atuações são todas sofríveis (em especial a de Josh Peck vivendo o rebelde Matt, irmão de Jed), mas deixa isso pra lá. Muito mais divertido é analisar a coleção de furos desse inacreditável roteiro. Vamos considerar que os norte-coreanos enlouquecessem de vez e declarassem guerra aberta aos EUA. Bombardeios intensos seriam uma opção mais lógica do que uma invasão. Porém, o filme sugere que o interesse dos orientais não é destruir o inimigo, nem roubar seus recursos naturais, e sim algo como “tornar o país um lugar melhor para as pessoas que vivem lá, libertando-as do capitalismo maligno etc”. Fingindo que isso tem um resquício de sentido para podermos ir em frente, surge a pergunta natural: de onde a Coreia do Norte tirou os recursos (humanos, inclusive) pra fazer isso? Pois é dito no filme que a ocupação está acontecendo no país inteiro, não apenas nos grandes centros. Ah, os russos ajudaram fornecendo tecnologia, equipamentos? Tudo explicado, então.
E quanto a todo o poderio bélico americano, que não dá as caras mesmo passando-se várias semanas desde a invasão? Sério mesmo que devemos aceitar que uma movimentação militar desse tamanho passou despercebida, ou talvez que TODO o contingente dos EUA estivesse no exterior? Quando, próximo ao final, a coisa adquire ares de ficção científica (é sugerido que os invasores têm uma nova superarma elétrica que desliga todas as máquinas inimigas), o filme se torna nada além de risível. Aliás, o fato de se levar totalmente a sério, o tempo todo, também contribui muito pra isso.
Amanhecer Violento é na verdade um remake. No original, de 1984, os invasores eram soviéticos. Já era algo forçado, mas perdoável, dada a ameaça mais palpável da Guerra Fria e a ingenuidade geral que ainda havia na época. Esta nova versão foi filmada em 2009, e o atraso em seu lançamento deve-se a dois fatores. A gigantesca crise pela qual passou o estúdio MGM, e outra que adiciona uma nova camada de ridículo: originalmente o inimigo era a CHINA (o que até faria o filme ter um pouco mais de sentido, mas só um pouquinho mesmo). Como os chineses estâo entre os maiores investidores de Hollywood, além de um mercado consumidor altamente lucrativo, há uma diretriz de não mais colocá-los como vilões. Amanhecer Violento optou por simplesmente alterar falas e algumas imagens na pós-produção, e magicamente “China” virou “Coreia do Norte”. Asiáticos são todos iguais mesmo, afinal. Sabendo disso, fica hilário notar que permaneceram no filme vários cartazes em vermelho e amarelo, com mensagens comunistas.
Depois de tudo isso, não há necessidade (ou mesmo vontade) de analisar os aspectos mais práticos da produção. Como a narrativa péssima, personagens rasos, sem carisma nem desenvolvimento, ou a fotografia e cenas de ação… vá lá, razoáveis. Amanhecer Violento merece ser lembrado como um dos filmes mais ERRADOS de todos tempos, perdendo por muito pouco para o inigualável Imortais.
O ano de 2012 foi excelente para Joss Whedon. Ao mesmo tempo que foi super aclamado pelo roteiro e direção em Os Vingadores, escreveu uma excelente história de terror que, não por acaso, tem conquistado uma legião de fãs.
Ao se tratar de um filme de terror, saber menos é sempre mais interessante. Confesso que raramente leio sinopses de filmes com medo de descobrir detalhes antes de assistir ao filme. Assim, o que conheci de O Segredo da Cabana foi um belo poster que brincava com a ideia de uma cabana para montar, como um cubo mágico, e notícias afirmando que era uma produção recomendada para se assistir pela excelente história. Considerei o panorama atual do terror focando os grandes estúdios, indagando-me se seria mesmo um argumento tão interessante ou apenas um burburinhos de críticos tentando levantar um filme com má qualidade.
É difícil apresentar sua sinopse sem apresentar nenhum detalhe específico que estrague a diversão. Portanto, é necessário saber apenas que o filme é uma homenagem aos filmes de terror. Com grande apuro, Whedon revisita o conceito de terror, principalmente a vertente atual, e, ao mesmo tempo que compõe sua trama, estabelece uma homenagem crítica. Se tornando complicado catalogá-lo como um mero filme de terror, pois sua narrativa quebra este conceito diversas vezes, ainda que o medo prevaleça como sensação primordial.
A ambientação está presente, a maneira parcial de apresentar a história e com isso aterrorizar o público também. O diferencial é a potência da história implícita no meio assustador. Caminhando de segmento a segmento, o diretor realiza uma trama que tem sua história mas é, ao mesmo tempo, todas as histórias de terror. Não sendo exagero chamar esta excelente produção de um meta filme, dialogando com o próprio gênero.
Mais do que criar uma teoria sobre o gênero do terror, como algumas personagens de outros filmes fazem, Whedon coloca a própria teoria em prática, o que explica porque a produção conquistou tanto público. A maneira fluida que conseguiu encaixar a crítica, dentro da história de terror, completa o filme além produzir genuína tensão no público. E nos fazendo inferir que talvez o terror de hoje está esgotado e precise de renovação.
Infelizmente, a produção não será lançada nos cinemas brasileiros. Foi programada mas a Universal decidiu lançá-lo direto em home video em breve. Uma pena, pois produções de terror sempre tem boa recepção de bilheterias e uma história como essa mereceria ser vista na tela grande.