Tag: David Harbour

  • VortCast 102 | James Bond – 007: A Era Daniel Craig

    VortCast 102 | James Bond – 007: A Era Daniel Craig

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira | @flaviopvieira) e Mario Abbade (@marioabbade)  se reúnem para comentar sobre o encerramento da era Daniel Craig como James Bond nos cinemas. Quais foram os pontos altos e baixos, as polêmicas e o futuro da franquia.

    Duração: 74 min.
    Edição:
     Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

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  • Crítica | Viúva Negra

    Crítica | Viúva Negra

    Desde Homem de Ferro 2, Scarlett Johansson prometia protagonizar um filme solo de sua personagem no universo Marvel. Na época, não se imaginava que isso só ocorreria mais de dez anos depois e,  após diversos adiamentos agravados por uma pandemia, Viúva Negra estreou com algumas “estranhas” responsabilidades.

    O longa de Cate Shortland tenta não só fazer jus a uma personagem querida do público, mas faz isso após ter seu fim mostrado em Vingadores: Ultimato. Além disso, ainda tem de pavimentar a passagem de bastão para o legado da personagem, apresentando a figura de Yelena de Florence Pugh.

    A história possui algumas linhas temporais distintas. A primeira mostra a pequena Natasha Romanoff vivendo com uma família soviética, no estado de Ohio nos anos noventa, que finge ser um ajuntamento suburbano estadunidense. A segunda avança mais de vinte anos no futuro, brincando com elementos de filmes de espião, mexendo com crianças cobaias, abusos experimentais com mulheres, com direito a misturas de referencias bem diversas, como Stalker de Andrei Tarkovski e o filme galhofa de James Bond: 007: Contra o Foguete da Morte.

    De positivo, há a utilização do vilão O Treinador que lembra um metal hero de tokusatsu. O visual arrojado é certamente um dos maiores acertos do filme, embora a historia de seu passado seja terrível. Esse, aliás, é uma produção que imita bem os maiores defeitos da Formula Marvel de fazer filme pós Kevin Feige. Possui atores famosos como antagonistas, completamente desperdiçados, como foi Jeff Daniels em Homem de Ferro ou Tim Roth em O Incrível Hulk. Aqui tanto Olga Kurylenko quanto Ray Winstone não são bem explorados mesmo quando tem tempo de tela.

    Outro ponto positivo é o núcleo familiar que permite que David Harbour, Rachel Weisz, Pugh e Johansson convivam juntos. As partes divertidas são resultantes da inteiração entre eles, com discussões pontuais a respeito da abusiva rotina de quem tinha que fingir ser quem não era. Fora essa questão, o roteiro é raso. Não muito por conta de uma visão estereotipada dos soviéticos (que até existe, mas é tão inócua quanto a ausência de crítica ao nazismo em Capitão América: O Primeiro Vingador). Quem tinha expectativa de assistir algo no estilo Capitão América: O Soldado Invernal  certamente se frustrou, pois mesmo nos momentos que exploram questões típicas de teoria da conspiração a trama não surpreende, talvez porque o mundo pós pandemia de Covid 19 é tão estranho que eventos de estranheza fictícia já não causam mais tanto choque.

    As cenas de ação perdem força gradativamente ao longo da exibição. Até em Falcão e Soldado Invernal as cenas de luta são melhor pensadas. Não se teme pela vida de praticamente nenhum personagem, e isso compromete demais a crença na trama.  Tudo é apressado e Viúva Negra parece um filme tardio, sem importância e imponência, deslocado demais do restante do universo Marvel recente. Assisti-lo após saber o fim de Natasha também não ajuda, e mesmo os temas importantes e as críticas políticas se diluem. Se o filme tivesse sido lançado nas Fases 2 ou 3 do universo Marvel, talvez se encaixasse melhor. No final, se destaca o bom desempenho de Pugh, carismática e com presença, mas em uma situação bastante distante de um hit da Marvel.

  • Crítica | Resgate

    Crítica | Resgate

    Falar que a Netflix é uma empresa de sucesso é chover no molhado. Já tem alguns poucos anos que a gigante de streaming vem apresentando produções de extrema qualidade, seja no que diz respeito a filmes, seja no que diz respeito a seriados. Mas também, nem tudo são flores, já que, ainda assim, a quantidade de produções de qualidade duvidosa, supera facilmente as boas produções. Por exemplo, faltava à empresa uma produção de ação que fosse digna. E olha que não foi por falta de tentativa, mas foi difícil de acertar até Resgate ser lançado.

    Pra quem gosta das produções mais recentes da Marvel, Resgate guarda muitas relações com o UCM – Universo Cinemático Marvel, a começar pelo protagonista Chris Hemstorth, o Thor. O filme tem o roteiro de Joe Russo, um dos diretores do melhor filme da Marvel, Capitão América 2: O Soldado Invernal, além dos clássicos Vingadores: Guerra Infinita e Vingadores: Ultimato, sendo que temos a direção de Sam Hargrave, estreando em grande estilo nessa produção. Hargrave é o braço direito da Marvel Studios, sendo dublê, coordenador de dublês e diretor de segunda unidade de diversos filmes da casa. O filme ainda conta com uma participação de David Habour, que será o Guardião Vermelho no filme da Viúva Negra.

    O filme conta a história de Tyler Rake (Hemsworth), um mercenário que recebe uma importante tarefa: resgatar o jovem Ovi Mahajan (Rudhraksh Jaiswal), filho de Ovi Mahajan Senior (Pankaj Tripathi), nada mais nada menos que o maior traficante da Índia e que está preso. O mandante do sequestro é Amir Asif (Priyanshu Painyuli), o maior rival de Nahajan Senior e o maior traficante de Bangladesh. Vale destacar que antes de Ovi ser levado, ele estava sob os cuidados de Saju (Randeep Hooda), que decide ir atrás do menino em troca da segurança de sua família, agora ameaçada.

    Não demora muito para Resgate ter um jogo interessante de gato e rato, uma vez que temos a equipe de Tyler atrás do menino, enquanto o mercenário cuida da extração do jovem e paralelo a isso, podemos ver os capangas de Amir e Saju fazendo de tudo o que é possível para atrapalhar a vida do protagonista e é aí que podemos ver uma das cenas de ação mais sensacionais da história do cinema, em um plano sequência absurdo, que começa com uma perseguição a pé e combates violentos “mano a mano” pelas apertadas casas da região e que termina numa empolgante perseguição envolvendo carros, onde a câmera na mão, diversas vezes, entra e sai do carro com o máximo de destreza possível. Toda essa ousada sequência dura cerca de quinze minutos e mostra que o diretor não veio para brincar.

    Aliás, o filme tem ação do começo ao fim e pouco desacelera, mas o suficiente para estabelecer relações entre os personagens, principalmente na relação de Tyler com Ovi e de Amir com um outro jovem rapaz que decide entrar para o tráfico numa cena bem forte envolvendo crianças.

    Quanto ao roteiro de Joe Russo, cabe um detalhe: não tem nada de diferente de algo que o espectador já não tenha visto em filmes de sequestro e olha que Russo estava amparado pela história original, já que o filme é uma adaptação de uma graphic novel chamada Ciudad, de Ande Parks. Assim, o destaque fica mesmo totalmente voltado à ação que aqui, guarda semelhanças com duas ótimas franquias, como a de John Wick (coincidentemente uma franquia desenvolvida por coordenadores de cenas de ação) e Operação: Invasão.

    Com isso, a Netflix emplaca seu primeiro grande filme de ação e os números não mentem, já que a produção deve alcançar noventa milhões de views em seu primeiro mês, batendo outra promessa da empresa, mas que não emplacou, Esquadrão 6, o que faz com que Joe Russo, possivelmente, tenha ganhado sinal verde para a produção de uma continuação.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Review | Stranger Things – 3ª Temporada

    Review | Stranger Things – 3ª Temporada

    Após um ano de hiato, Stranger Things retorna para uma terceira temporada, com um novo paradigma estabelecido, da puberdade chegando ao conjunto de amigos. Esta temporada se passa em 1985, se vale ainda mais das influencias da cultura pop oitentista e se fundamenta emocionalmente na relação de pai de filha entre Jim Hopper e Eleven, que estão cada um em um estado de espírito diferente, enquanto a personagem de Millie Bobby Brown começa a se aventurar com Mike (Finn Wolfhard) pelo primeiro amor, o delegado que David Harbour vive está cada vez mais deprimido, e ainda tem que lidar com os cuidados de sua filha estar descobrindo sua sexualidade aos poucos, a mesma que jamais andou de bicicleta e que jamais fez uma serie de coisas que crianças fazem.

    O pedido de  Jim é que Eleven mantenha a porta de seu quarto aberta ao menos 8 centímetros, e esse lembrete permeia todos os oito episódios de Stranger Things. Há um pouco de ousadia nesse roteiro, ainda mais se considerar as sementes plantadas nas temporadas anteriores. A condição de Will Byers (Noah Schnapp) como um sujeito com dificuldades de aceitação avança alguns poucos degraus, no sentido de insinuar sua sexualidade, assim como a condição de Billy (Drace Montgomery) flertar com mulheres mais velhas, e também no sentido de ser o condutor do mal, além disso, há uma boa reflexão a respeito das perdas que ocorreram antes, fazendo lembrar que apesar da serie ter um elenco infanto juvenil muito bom, a historia é feita para ser consumida por adultos.

    Hawkins continua como palco de eventos bem estranhos, na condição de cenário suburbano, que é o lugar perfeito para ser palco das paranoias típicas da Guerra Fria, ora, se até os grandes centros sofrem desse mal, imagine os locais mais distantes das decisões que mudam o mundo, em um tempo sem internet. A questão dos russos aliás é muito bem exposta, debochando do maniqueísmo dos filmes antigos sobre o antagonismo da URSS, ao atrelar o destino de Eleven ao de ser apenas uma “garota russa com poderes telepáticos”.

    O grupo de amigos não está tão coeso, enquanto Will quer jogar RPG, Max (Sadie Sink) e Lucas (Caleb McLaughlin) querem namorar (como Mike e Eleven), Dustin acaba de chegar de um acampamento onde também encontrou um par (ao menos é isso que ele diz) e passa mais tempo com Steve (Joe Keery) e Robin , a nova personagem vivida por Maya Hawke, filha de Uma Thurman e Ethan Hawke. Eles, tal qual na segunda temporada, se dividem, e isso é um presságio do futuro da franquia, e de que amizades são provadas quando ocorre a distancia entre os entes.

    Da parte adulta, o núcleo que envolve Joyce (Winona Ryder), Jim, e depois, Murray Bauman (Brett Gelman), além de se estabelecer uma sub trama política, ainda que pequena, bem válida, com protesto dos cidadãos ao avanço comercial e a construção de um shopping. Enquanto os pais reclamam  junto ao prefeito corrupto, os jovens desfrutam das benesses escapistas do capitalismo selvagem. Obviamente que a série dos irmãos Duffer não se preocupa em fazer uma dura crítica social as empresas multinacionais, afinal recebe até patrocínio de algumas franquias famosas, mas há ao menos boas menções a essas questões de micro cosmos e de uma realidade diferente das cidades maiores.

    Só no terceiro capítulo que as crianças se deparam com o mal, então se estabelece bem o clima juvenil típico de Porkys e Picardias Estudantis (só que real, e sem hiper sexualização de adolescentes, e com adolescentes reais), e o fato de Eleven usar poderes para espionar se seus amigos discutem sobre ela faz muito sentido, pois é típico da idade. Aliás, o vilão feito por Andrey Ivchenko como uma mistura do Exterminador do Futuro, de Robert Partick e Arnold Schwarzanegger é sensacional visualmente, além de provocar momentos épicos contra Jim, que aliás, está basante piadista nesse número três.

    O hiato apesar fez bem aos roteiros, ainda que tenha sido ruim pela questão das crianças crescerem demais nesse pequeno tempo, mas essa nova condição ajudou bastante a trama a evoluir, e ir para um novo nível, além disso, os rapazes e meninas parecem se entrosar cada vez mais com o passar do tempo, e a mistura das atuações bem empregadas com os efeitos especiais dos monstros e criaturas casa bem demais, mesmo com toda a paranoia típica da Guerra Fria, os pequenos dramas existenciais dos personagens fazem sentido.

    O combate com o tal devorador de mentes é muito bem registrado, tanto as interações dos atores com CGI quanto os ângulos que os Duffer escolhem colocar em tela são absurdos, e Emillie Brown se mostra cada vez mais madura como atriz, representando muito bem o horror e o poder quando é exigida, algumas vezes fazendo isso num espaço bem curto de tempo. O confronto dos episódios finais reflete sobre as perdas e mortes, e tem consequências mais pesadas que as vistas nas outras temporadas, em especial quando se leva em conta seu epílogo, três meses dos acontecimentos. A última temporada de Stranger Things fecha bem a trilogia, com uma sensação de alívio, mas sem deixar um final feliz mega adocicado, ao contrário, aqui há uma sensação de perda muito grande, sem certezas sobre os rumos que os irmãos Matt e Ross Duffer farão no futuro, pois dificilmente a série parará neste terceiro ano, ainda mais depois da recepção positiva por parte do publico e da crítica.

    https://www.youtube.com/watch?v=pfK5oCAK4oE

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  • Review | Stranger Things – 2ª Temporada

    Review | Stranger Things – 2ª Temporada

    Após uma 1ª temporada irretocável, Stranger Things voltou logo, em Agosto de 2017, mostrando seu elenco de crianças envelhecidas em um ano, tal qual se viu durante os filmes da saga de cinema Harry Potter. A segunda temporada continua focada no colégio da cidade de Hawkins, um pequeno vilarejo onde continuam acontecendo fatos bastante estranhos, e se vale ainda do seu conjunto de crianças extremamente carismáticas.

    Mike Wheeler (Finn Wolfhard), Dustin Henderson (Gaten Matarazzo), Lucas Sinclair (Caleb McLaughlin) e Will Byers (Noah Schnapp) continuam bastante amigos, mas estão distantes de Eleven (Millie Bobby Brown), que está morando com o delegado Jim Hopper (David Harbour), para que os  cientistas que mexeram com seu DNA não a capturem de novo, e essa paranoia é muito bem encaixada e condizente com a época de 1984, durante a Guerra Fria, que é um dos muitos temas que os irmão Duffer pegam emprestado para montar a sua mitologia.

    É bem legal que Hawkins, sendo uma cidade interiorana e longe dos holofotes, faz ter semelhanças com outros lugares isolados onde fatos estranhos ocorrem, exemplo disso é Varginha, que fica no interior de Minas Gerais, palco de um suposto caso ufológico que ao menos no exterior, é bastante levado a sério. É engraçado como tanto nessa província da série da Netflix quanto na cidade mineira é fácil desacreditar os fenômenos que ocorreram, e ao menos na ficção, esse contato com o fantástico faz muito sentido e não se apela muito para a suspensão de descrença.

    Jim tem uma conexão com Eleven por conta de muitos fatores, entre eles, a semelhança física entre ela e sua filha morta, que contraiu câncer e também foi careca, mas ele claramente não sabe desempenhar o papel de paternidade, já que está bastante enferrujado. Stranger Things continua apostando muito no sentimento de não pertencimento e inadequação, mas não só com as crianças ou com os que sofreram intervenção dos cientistas, mas também com os jovens e adultos. Jonathan (Charlie Heaton) já é assim desde o primeiro ano, sua mãe Joyce (Winona Ryder) que é encarada como louca por todos, e claro, os outros freaks poderosos, que são os primeiros a aparecer em cenas inéditas, e que só são desenvolvidos mais para frente, junto a 11.

    As referências continuam muito fortes, o lugar onde os jogos de fliperama ocorrem, o Espaço Arcade, os jogos/filmes de Dragon’s Lair lembram os cenários típicos das cidades suburbanas dos Estados Unidos – e que abarrotaram as cidades do Brasil nos anos 90 também – além é claro de haverem novos elementos que fazem lembrar Karatê Kid, por exemplo, como o acréscimo dos novos personagens, Billy (Dacre Montgomery) e a pequena Maxine (Sadie Sink), sua meia-irmã, que funcionam como as pessoas de fora que chegam num lugar onde todos já tem entrosamento. Há também elementos de ET – O Extraterrestre, como quando Dust encontra uma criatura que veio do Mundo Invertido, e claro que as crianças não  sabiam da origem deles.

    No entanto, as pontas soltas do 1º ano são retomados e há consequências bem graves, e isso por si só desmistifica uma das maiores reclamações dos fãs, de que este segundo ano não parecia muito continuação de Stranger Things 1ª Temporada. A maioria dessas críticas se dá pelo fato de Eleven demorar demais para reencontrar seus amigos e isso realmente incomoda, mas como os irmãos Duffer gostam de emular os filmes, séries, desenhos e derivados dos anos 80, é natural que a historia se bifurque e tenha seu desenrolar por meio de núcleos específicos como é típico das continuações de filmes famosos, e é óbvio que alguns desses serão mais carismáticos e interessantes que outros. O que irrita de verdade é que o grupo de “delinquentes” numerados que é mostrado no início quase não aparecem até os capítulos finais, de resto, tudo faz sentido, o esconderijo/exílio de 11, os pensamentos pós traumáticos de Will, e a saudade que Mike tem tanto de seu amigo, quanto do par que lhe foi afastado a força.

    Mesmo os núcleos adolescentes ficam mais legais, a parceria entre Steve (Joe Keery) e Dust por exemplo é muito divertida, assim como a aproximação de Jonathan e Nancy (Natalia Dyer) faz sentido pois foi plantada nos capítulos da primeira temporada. Mesmo quando soam forçados os romances, há base na cultura pop dos anos 70 e 80, pois nas comédias infantis, o amor era representado dessa forma, meio tosca.

    A  2ª temporada serve para fortalecer toda a ideia da paranoia da Guerra Fria e do desprezo que é  bem comum em  meio aos que sofrem traumas. Eleven e os outros são boas versões dos judeus que sofreram experiências na época da Segunda Guerra, não só pelo óbvio – são marcados na pele – mas também por suas capacidades sobre humanas, em exageros nos resultados desses experimentos, tal qual os herois da Marvel que tinham contato com o horror atômico. Os últimos dois capítulos são ótimos, o senso de urgência se eleva consideravelmente, mostrando a pequena Eleven justificar todo o hype em cima de seu personagem. O confronto rivaliza com o final de Stranger Things 1, mas o tom de epílogo dele não poderia ser mais emocional, num baile de colégio em que os garotos tem encontro com seus alvos amorosos, tudo isso representado por atuações que variam entre o fantasioso e o lúdico na medida certa. O momento mais bonito certamente é o modo como Mike enxerga Eleven, finalmente matando a saudade entre os dois amigos, que sonhavam em se reunir, além de uma terna relação entre Nancy e Dustin, que encontra eco com a primeira cena dos dois no piloto, dá novos significados a maturidade da recém adolescente. Se Stranger Things 2 não é tão brilhante e se não tem o fator novidade a seu favor, certamente compensa isso com emoção, mostrando as relações entre os personagens infantis tendo mais sentido, assim como os laços de amizades novos e velhos amadurecem, sendo mostrados do modo carismático e belo tal qual os filmes de John Hughes ou os produzidos por Steven Spielberg, mas repaginados para os dias de hoje, com elementos que fazem com que essa se diferencia positivamente do restante de produtos infantis, mostrando obviamente uma história que não é feita para crianças dada a violência, o uso de monstro e sua classificação indicativa para maiores de 16 anos.

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  • Crítica | Hellboy (2019)

    Crítica | Hellboy (2019)

    Após as desavenças entre Guillermo Del Toro e Mike Mignola, muito se cogitou sobre a possibilidade de um novo cineasta assumir o personagem nas telonas, e a aposta de Neil Marshall parecia promissora, pois tal qual o condutor de O Labirinto do Fauno, Marshall também vinha da escola de filmes de terror com orçamento mais barato e repleto de monstros feitos com muitos efeitos práticos, assim como Del Toro, ainda que as comparações entre os diretores pare por aí. Pois bem, o resultado do novo Hellboy é controverso. Muito se falou que esse seria um produto feito para os fãs, mas o que se vê não é exatamente isso, além do que, um filme feito para o cinema de milhões de dólares de orçamento não é voltado apenas para um nicho de mercado.

    A história começa em 517 d.C., mostrando a bruxa Nimue, de Milla Jovovich, combatendo o Rei Arthur. Suas vestes vermelhas sobressaem em meio ao preto e branco, e já nesse epílogo se mostra o quão violento, trash e gore seria o filme de Marshall. David Harbour vive um Hellboy que possui algum carisma, e remete ao personagem dos quadrinhos. O ator inclusive gastou um belo tempo conversando com o autor sobre seu protagonista, e ele acerta muito mais do que erra nesta versão. A trama é bastante calcada na ação, misturando três tramas dos quadrinhos, sem muito desenvolvimento para nenhuma delas. Nem mesmo para ambientar o espectador nesse universo ou mesmo na atmosfera do longa.

    O visual de adaptação pulp que Del Toro fez dá lugar a efeitos mais baratos, lembrando inclusive alguns filmes da produtora Asylum (a mesma de Sharknado), e os CGIs são bastante artificiais, mas não há uma função narrativa que justifique isso, como acontece no recente Shazam!. É difícil acreditar que este produto funcionará comercialmente, fato é que a saga antiga não teve um fim e este corre um grande risco de também não ocorrer, e pior, abre-se  uma nova origem para o personagem que já nos quadrinhos é bastante polêmica. Quase todas as conexões com Avalon, Merlin e as leis arthurianas são mal aproveitadas, restando apenas apelação a clichês típicos de filmes de ação. Ainda que os filmes de Del Toro não fossem exatamente fiéis aos quadrinhos, o Hellboy de Ron Perlman era menos sisudo, mais bobo e quase infantil, mas ainda com margem para um crescimento e maturidade em filmes futuros, caso o tom do filme fosse outro. Em contrapartida, o personagem de Harbour tem menos personalidade e soa mais genérico.

    O filme carece de bons coadjuvantes para conversar com o herói, até mesmo de um pouco de gravidade no roteiro, que deveria ser mais importante por se tratar do fim do mundo. Até mesmo nesse sentido o filme parece um erro, já que em seu primeiro longa opta por colocar o personagem para enfrentar o apocalipse, restando a dúvida do que poderia ser maior que os infortúnios do livro de São João unidos a fatos mitológicos anglo-saxões.

    O desfecho é confuso, desapega das próprias regras estabelecidas e reduz tudo ao arquétipo do escolhido. Há muitas incongruências no plano da vilã, inclusive de falta de lógica, e é triste que um filme escapista consiga ser tão mal pensado. O visual do filme varia de qualidade, enquanto acerta com o protagonista, erra demais com os inimigos, remetendo até mesmo aos péssimos Tartarugas Ninja produzidos por Michael Bay. Hellboy, infelizmente é um filme com um roteiro vazio, e até mesmo os ganchos próximos dos créditos finais, que abrem possibilidade para novidades já conhecidas até do público de cinema, são mostrados de  maneira anti-climática, tal qual todo o restante do longa.

    https://www.youtube.com/watch?v=doqJP-W0oVw

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  • Crítica | Caçada Mortal

    Crítica | Caçada Mortal

    Caçada Mortal - Poster

    Aos 60 anos de idade, Liam Neeson vive um novo momento da carreira. Após diversas grandes interpretações em papéis dramáticos – incluindo o que lhe rendeu o Oscar de Melhor Ator, em A Lista de Schindler –, transformou-se em um ator de ação em razão da sempre competente performance, do carisma e do porte de 1,93 metros.

    Desde 2005, o irlandês escolheu projetos de filmes de ação, como Busca Implacável, Desconhecido e Sem Escalas, nos quais usa o mesmo estilo de personagem com eficiência suficiente para agradar aos fãs do gênero. Nesta nova produção, a ação fica em segundo plano, dando lugar a uma narrativa policial baseada em um dos personagens criados por Lawrence Block.

    Detetive particular não licenciado, o ex-policial Mathew Scrudder é a criação mais famosa do autor, sendo estrela de 17 livros até agora e, nos cinemas, também foi interpretada por Jeff Bridges em 1986. Caçada Mortal, de Scott Frank, adapta a décima obra com a personagem, um alcoólatra em recuperação que, após uma crise de consciência, abandona a corporação. A trama roteirizada e dirigida por Scott Frank (escritor de grandes obras como Irresistível Paixão e O Nome do Jogo, e tragédias como Wolverine: Imortal) é bem adaptada no estilo narrativo de Block. A prosa seca, sem muitos floreios, mantém a eficácia de sua personagem e, no filme, este recurso é apresentado ao longo de uma trama que não exagera em reviravoltas e ganchos, como diversas investigações cinematográficas atuais.

    A primeira cena, que se passa em 1991, apresenta o passado de Scrudder, aproveitando cada segundo exibido em tela. Simples e rápido, o momento serve para que o público compreenda o passado turbulento do ex-policial. A composição do detetive não reinventa nenhum padrão, mas segue o estereótipo tradicional do homem com um passado negro vivendo um presente difícil entre a negação e certa ironia contida. Uma figura niilista que, mesmo sendo um bom moço, parece não se importar com ninguém. O detetive é contatado por um traficante de drogas para investigar os responsáveis que sequestraram e mataram sua esposa. Uma morte que se revela parte de uma série maior de assassinatos.

    O assassinato e a investigação são os fios condutores da trama. Os elementos típicos de um policial herói, centrados em Scrudder e em sua mudança pós-álcool, fazem parte da concepção do gênero. O suspense carrega boas inferências de crueldade e mantém-se bem durante a trama. Trata-se de um enredo tradicional, portanto nada mais natural que o crime em si seja apresentado de maneira que choque o público inicialmente, para aliviá-lo na resolução final em que, na medida do possível, pune criminosos.

    O bom suspense não se consagra por completo devido à presença de um personagem juvenil que descaracteriza a intenção da história. Por pouco, o jovem não cai na armadilha de ser um gancho para a inevitável cena em que ele tenta algo heroico e se torna um fardo que deve ser salvo pelo personagem central. O recurso que tenta humanizar a figura fria do detetive quase é responsável por destruir a história e o suspense desenvolvidos em cena. Há muitos policiais da ficção que trabalham com parceiros esporádicos e uma equipe informal, porém, dentro da trama, parece inverossímil que o ex-policial queira envolver um adolescente em uma trama delicada.

    A repetição de personagens semelhantes em produções próximas – o personagem de Sem Escalas também era um ex-policial alcoólatra, por exemplo – retira parte da identificação literária de Mathew Scrudder. Em compensação, Neeson demonstra, além da competência, se divertir nesta nova fase da carreira, e poderia representar a personagem em outras futuras adaptações. Afinal, aos 76 anos, Lawrence Block não para de escrever. Como um bêbado sorvendo sua bebida.

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