Tag: Jeffrey Wright

  • VortCast 102 | James Bond – 007: A Era Daniel Craig

    VortCast 102 | James Bond – 007: A Era Daniel Craig

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira | @flaviopvieira) e Mario Abbade (@marioabbade)  se reúnem para comentar sobre o encerramento da era Daniel Craig como James Bond nos cinemas. Quais foram os pontos altos e baixos, as polêmicas e o futuro da franquia.

    Duração: 74 min.
    Edição:
     Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

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    Crítica | 007: Operação Skyfall
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    Crítica | 007: Sem Tempo Para Morrer

    Comentados na Edição

    No Time To Die — Goodbye, Mr. Bond

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  • Crítica | 007: Sem Tempo para Morrer

    Crítica | 007: Sem Tempo para Morrer

    Após um grande início adaptando uma obra de Ian Fleming com Cassino Royale; uma sequência sem roteiro devido às greves de roteiristas em Quantum of Solace; uma queda e ascensão dividida entre tradição e o moderno de Operação Skyfall e a retomada da estrutura clássica em 007 Contra Spectre, o longevo personagem James Bond, personificado pela quinta e última vez por Daniel Craig, tem sua missão derradeira em 007: Sem Tempo Para Morrer.

    Finalizando a passagem do britânico pelo personagem, a produção do vigésimo quinto filme de James Bond foi carregada com uma maior expectativa do que suas predecessoras. O último filme com Craig, marco numérico sempre destacado pela mídia, foi marcado por entraves internos e externos à sua produção.

    A princípio, Danny Boyle foi escalado como diretor, mas se justificando com o batido “divergências criativas” abandonou a produção e, em seu lugar, Cary Joji Fukunaga assumiu a cadeira, tornando-se o primeiro americano a dirigir uma produção Bond. Com a mudança, o início das filmagens foi reagendado para abril de 2019 e a estreia programada para abril de 2020. Naturalmente, a necessidade do distanciamento social deixou o lançamento em espera até setembro desse ano quando grande parte do mundo possui uma estrutura mínima para, munidos de vacinas e máscaras, estar no conforto do cinema sem correr risco de vida. O risco, aliás, fica por conta do próprio personagem central.

    O início da nova trama se situa após os acontecimentos de Spectre e resume os elementos que definiram o novo Bond. Aposentado em um lugar idílico, ao lado de Madeleine Swann (Léa Seydoux), dá vazão aos laços sentimentais até o inevitável momento em que o passado retorna, explosivo. A grande cena de ação inicial é intensa, extremamente física, bem equilibrada entre a coreografia e um realismo possível, mantendo vigente a estética fundamentada por A Identidade Bourne e reverenciada pela versão de Craig. A cena intensa demonstra algo que o público da primeira temporada de True Detective já sabe: Fukunaga constrói cenas de ação com habilidade. A cena inicial injeta adrenalina antes da canção que abre o longa, No Time To Die de Billie Eilish.

    Após os créditos de abertura, a trama salta cinco anos no futuro. Como desenhado desde a produção anterior, é a tradição que rege essa aventura final. Se no enredo anterior se descobre que as intrigas foram orquestradas pelo SPECTRE, aqui outro elemento tão poderoso quanto surge em cena, contrabalanceando as forças, mas com objetivos semelhantes: a vingança e a destruição mundial, características comuns da maioria dos vilões megalomaníacos da franquia.

    Se em composições anteriores Bond pareceu um homem sem amarras, o personagem da geração 2000, composto de forma seriada em cinco produções, é formado com maior coesão cronológica e emocional. As perdas são lembradas com sentimento e dor e trazem a evidente constatação de que é necessário desapegar do passado para seguir, embora o passado profissional e as missões anteriores nunca fiquem, de fato, no passado. Entre o equilíbrio pessoal e emocional, e a frieza das missões cumpridas se destaque um personagem central que além da camada de espionagem, dos carros luxuosos, do esnobismo britânico e do diálogo feito de punhos, uma mensagem boba e simples de que os brutos também amam, sim.

    Em entrevista a GQ em 2020, o ator afirmou que elevou o nível do personagem para outros. Sem dúvida, o sucesso da franquia se deve a sua capacidade de manter suas estruturas básicas, mas, na medida do possível, se adaptar a novos formatos narrativos. Sob esse aspecto, talvez a era Craig tenha sido a modificação mais inventiva de Bond. Trouxe não apenas novas camadas trágicas aos personagens como também a possibilidade de quebrar a forma física do agente, pois, lembrem-se, o ator foi criticado no início por seu físico e por ser loiro demais. Foram modificações como essas que permitiram que Lashana Lynch surgisse em cena como a primeira 007.

    Sem Tempo Para Morrer é um falso título porque em um filme cuja missão é ser um desfecho a uma versão de Bond, tudo é uma celebração final. Em tudo há certo tom de morte e despedida como amigos que se desencontram, arqui-inimigos que se vão e, querendo ou não, não há nada de novo nessa narrativa. Mas, sim, uma conclusão natural de uma história iniciada em 2005 e que encerra seus enredos e o legado de Craig no papel.

    O ator e sua modéstia têm razão. O marco deixado em sua passagem será um desafio à execução do próximo Bond. Mas também abriu espaço para que novas facetas sejam exploradas, sem medo de reinvenções e sem o excesso de amarras da tradição. Como um personagem com maior aptidão para se reinventar, os produtores Michael G. Wilson e Barbara Broccoli devem ter algumas cartas na manga para o futuro dessa nova Bond.

  • Review | Westworld – 2ª Temporada

    Review | Westworld – 2ª Temporada

    Dois anos após a Westworld – 1ª Temporada, o seriado finalmente voltou ao ar, com um previously de quatro minutos, a fim de tentar rememorar os eventos importantes que ocorreram no outro tomo. Após algumas cenas de flashback, que mostram Bernard (Jeffrey Wright) conversando com Dolores (Evan Rachel Wood), é mostrado o destino de ambos, depois da revolta que aconteceu no parque.

    Nos primeiros momentos da segunda temporada, mostra-se também os rumos que a revolução tomou, e os passos dos antigos anfitriões são dados de maneira gradativa. O desenrolar dos planos de expansão são bem lentos, fato que faz esse episodio soar muito lúdico, beirando a irrealidade, cortada obviamente pelo momento em que Bernard acorda na areia da praia, para contemplar um grupo de anfitriões mortos na beira do mar e também alguns humanos que estão lá para conter o que quer que tenha de fato havido no território da Companhia Delos.

    A fagulha de favoritismo que Arnold plantou em Dolores cresce, para ser ela a líder da rebelião das novas formas de vida. Seu modo de agir é implacável, não por  ser essa sua natureza, mas por sofrer estímulos de ódio e violência há muito tempo. As cenas onde ela persegue seus inimigos, com musica clássica instrumental ao fundo tem um pouco de humor fino em meio a violência absurda, em uma combinação de sabor semelhante a quando se usa queijo para quebrar o doce. O assassinato e as baixas entre programadores e funcionários do parque fazem lembrar que movimentos revolucionários não ocorrem só com ações propositivas pacificas, mas sim sangue dos opositores e a posição de Dolores é bem incisiva nisto.

    Já a Maeve de Thandie Newton, que ganhou a habilidade de comandar as hordas de anfitriões age de maneira independente também, no sentido de dominar o parque mas por outras vias, até de conciliação aparente. Para a personagem , o mais importante ali é conseguir achar a filha que programaram para si, para conseguir entender se a historia que ela conhece tem contornos sentimentais naturais seus ou simplesmente programados como boa parte dos acontecimentos que lhe ocorrem.

    Na primeira temporada havia um uso enorme de retornos no tempo, mas por conta dos mistérios que envolviam a criação do parque e suas conseqüências, esse excesso foi de certa forma corrigido aqui. Mesmo as participações de Ed Harris como Homem de Preto/William fazem mais sentido, acrescentando camadas a mitologia por trás da engenharia que envolve a Delos. Mesmo as participações de Jimmi Simpson são mais pontuais, estando ali para basicamente aludir a depressão e a vaidade, refletindo bem sobre as escolhas que o sujeito fez dentro e fora do simulacro.

    Alem de avançar bem sua trama, Westworld nessa segunda temporada se dedica a expandir seu universo, mostrando outros cenários, como o Shogun World ou Nação Fantasma. Neste ponto a ação da trama principal não corre tanto, mas o arco de Maeve (talvez o mais rico desse segundo ano) consegue expandir bem. Boa parte dessas ideias foram aludidas em  Futureworld, continuação de Westworld: Onde Ninguém Tem Alma, chamada no Brasil de Ano 2003:  Operação Terra, em especial sobre o replicar de humanos nos anfitriões, enquanto o início, tem semelhanças com a trama do filme Mundo Perdido – Jurassic Park, em especial por mostrar que a natureza dá seu jeito de continuar a evoluir seja em qual for o ecossistema. Os escritores deixam claro a admiração pelo trabalho de Michael Crichton, escritor do livro Jurassic Park e de sua continuação, além de ser o diretor do filme que deu origem a série.

    A Terra Prometida transcende a condição de paralelo com o cristianismo, o lugar em si não é necessariamente físico, e sim mental, ou no caso em se tratando de bio ciência e de androides/anfitriões, claramente é sobre um lugar onde se transporta só a consciência em forma de memória backup para esse espaço, um lugar onde possivelmente não haveria como ocorrer interferência de qualquer programador ou humano, um legado de Ford.

    Jonathan Nolan e Lisa Joy contraria as expectativas, e dessa vez não demora tanto a revelar mistérios que vão se tornando evidentes com o tempo, como fez com relação a identidade de William próximo do fim da primeira temporada. Seu desfecho tem um tom poético, em especial na libertação de alguns personagens. Os touros e búfalos que correm pelos corredores, regidos pela musica orquestrada e pela câmera lenta reforçam o tom de tragédia e de uma luta que aparentemente será incessante até que praticamente todas as partes faleçam. A gênese da rebelião sempre foi Dolores, e seus últimos momentos são dignos de uma heroína quase onipotente. A perversão do sistema e a cena pós credito lida com liberdade de escolha, e com o inexorável destino dos antigos anfitriões, para que possam finalmente agir com algum nível de livre arbítrio. Westworld termina com expectativas enormes para a terceira temporada, e que segundo seus produtores, ainda estaria longe de terminar seu drama.

  • Crítica | Noite de Lobos

    Crítica | Noite de Lobos

    Não é de hoje que a Netflix se importa muito mais com as premissas de suas séries e filmes, ou com a quantidade industrial dos lançamentos mensais (mantendo e atraindo novos assinantes para quase sempre assistirem “mais do mesmo”), do que com a longevidade e a excelência da maioria dos seus produtos finais. Noite de Lobos, além de ser o exemplo perfeito disso, pode ser apenas mais um filme de suspense aos usuários da plataforma de conteúdo que não se decidem o que assistir, diante de tantas opções tão banais quanto essa, mas também foi pura expectativa baseada no que de bom o seu cineasta, o jovem Jeremy Saulnier, já provou saber fazer com uma câmera na mão, e uma ideia na cabeça, praticamente sendo, cedo demais, um frescor para a produção genérica hollywoodiana de jumpscares, e outros vícios de linguagem.

    Contudo, em 2018, além de não conseguir repetir nem de longe, ou sequer encontrar novas versões de boa parte dos méritos que fizeram o seu ótimo Sala Verde (péssimo título em português), de 2015, ser um dos suspenses mais aclamados e freneticamente macabros dos últimos anos – e com total razão –, Saulnier constrói um projeto de filme, sisudo e incoerente quase que ao extremo, e que tenta nos seduzir com doses cavalares de tédio e surrealismo pessimamente construído, revestindo o desabrochar de uma trama sem pé nem cabeça impossível de engolir, quanto mais de refletir-se sobre. Fato é que o que começa sendo A, termina sendo Z, num alfabeto desconhecido e que nem ao menos consegue manter o nosso interesse para desejarmos decifrá-lo.

    Em Noite de Lobos, somos apresentados rapidamente ao drama inconsolável de uma mãe que perdeu seu filho na imensidão do Alasca. Nisso, crente de ter sido levado pelos lobos da região inóspita, ela contrata um caçador para recuperar pelo menos o cadáver do garoto e dar fim na matilha que o raptou, as vésperas do retorno do seu marido direto da guerra no Iraque, profundamente afetado pelo o que passou. Tal dilema certamente provoca um choque de animosidade entre os dois, potencializado pelas duras experiências de vida de ambos os homens, ambos à procura da mesma coisa, e em especial pela situação desumana e gélida na qual eles se encontram naquele fim de mundo – local esse mostrado com muito mais habilidade, beleza e perspicácia no subestimado A Perseguição, de 2012.

    Logo, percebemos que o verdadeiro perigo não está nos lobos, criaturas sanguinárias e onipresentes que encaram esse recantos da Terra como o quintal de sua casa, e sim neles mesmos, graças a condição desoladora tanto do rapto do menino, quanto da vastidão sem leis que o Alasca proporciona aos seus exploradores. A verdadeira frieza, portanto, está nos homens e na suas relações entre seus semelhantes e com o ambiente ao redor, frieza essa pobremente metaforizada nos próprios animais selvagens que apenas seguem os seus instintos primitivos, sozinhos ou em bando, tal qual o bicho homem em determinadas ocasiões. Ideias batidas mas que sob a execução certa fariam vir à tona uma boa obra de sobrevivência local, uma vez que a sensação de mediocridade aqui nos assombra do começo ao fim, tal uma irritante constante narrativa.

    Como numa legítima produção com o selo Netflix, a premissa carrega em si as melhores intenções do mundo, tendo na sua longa e mórbida realização o verdadeiro oposto qualitativo que esperamos de um bom filme. Sisudo e amplamente incoerente (como já foi taxado aqui, sendo este o seu principal aspecto), o filme de Saulnier se mostra sério, quase um cult mas que se esforça para ser sombrio e instigante, e que por não se decidir entre o que é, e o que poderia ser, falha miseravelmente. O roteiro e sua direção transformam tudo numa salada irracional de subtramas estapafúrdias, e logo perdemos o interesse em cada uma das personagens, assim como suas motivações mais básicas. Eis um dos filmes mais insossos de 2018. Uma pena.

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  • Review | Westworld – 1ª Temporada

    Review | Westworld – 1ª Temporada

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    Remake do filme setentista Westworld: Onde Ninguém tem Alma, a produção da HBO era cercada de expectativas positivas, principalmente graças a produção executiva do trio J.J. Abrams, Jonathan Nolan e Lisa Joy, com esses dois últimos trabalhando também nos roteiros. O exploitation que mistura elementos do velho-oeste e alta ficção-científica tem seu piloto dirigido por Nolan, que já havia feito um trabalho nos roteiros ao lado de seu irmão, Christopher Nolan, em filmes como Batman: O Cavaleiro das Trevas e O Grande Truque.

    Em seu primeiro capítulo, a série demonstra um cunho muito mais reflexivo e cerebral em comparação ao filme original. A nudez das personagens é apresentada de maneira fria, apesar da beleza de quase todos os intérpretes. A primeira personagem apresentada é Dolores, vivida por Evan Rachel Wood, que é uma das androides, que funciona como uma simples camponesa dentro do roteiro planejado a si, mas que guarda um potencial, tendo em seu comportamento de estranheza com o cenário, o primeiro dos indícios de que um dia despertará para uma clarividência de tudo aquilo que ocorre em Westworld. Em seu núcleo narrativo são mostrados em primeiro plano dois personagens, Peter Abernathy (Louis Herthum), seu pai; e Teddy (James Marsden), seu interesse romântico. Ambos tentam protege-la da hostilidade que vem de fora do parque- dos que não são tão autômatos – chamados de anfitriões – e é nesse ponto que se revela o personagem Homem de Preto, interpretado por Ed Harris, um sujeito aparentemente cruel, mas que tem uma complexidade comportamental bem maior do que aparenta ser nesses primeiros capítulos.

    Outro núcleo apresentado é o dos cientistas, comandados pelo Doutor Robert Ford (Anthony  Hopkins) e acompanhado de Bernard Lowe (Jeffrey Wright) um dos homens que trata da engenharia dos androides. A partir dali começa toda uma discussão que mistura elementos presentes nos romances e contos de Isaac Asimov, principalmente na questão da coisificação e na capacidade que seres robóticos tem de sentir e de ter atitudes humanas, e claro em Blade Runner e demais contos de Phillip K. Dick, na situação teórica de não sabedoria a respeito

    Uma das dúvidas mais presentes nos mistérios que envolvem Westwordl é até onde podem se estender os limites morais humanos caso não haja qualquer restrição culposa, de justiça ou escrúpulos. Há um mcguffin em relação a um personagem humano nesse quesito, mas a parte realmente interessante dentro dessa proposta, é o despertar da cafetina Maeve (Thandie Newton), primeiro diante daqueles que cuidam de si, depois para a situação de controle em que se encontra.

    Outra das questões entre as maiores discutidas, se não o maior é se a perversão do status quo ocorre com os revoltosos a partir de alguma programação prévia, ou como resposta sináptica não programada. A serie suscitou durante sua exibição um número infindável de teorias, semelhante ao fenômeno ocorrido com Lost, sendo quase todas essas teorias ligadas as duas personagens femininas mecânicas, com Maeve ao poucos sendo estimulada a suas lembranças antigas, por meio de um visitante mais benevolente, de nome William (Jimmi Simpson), e Maeve, que se envolve com seus cuidadores Sylvester (Ptolemy Slocum) e Félix (Leonard Nam). Ambos arcos possuem eventos interessantes e outros nem tanto, reunindo questões de sensacionalismo bastante evidente e sonegação de informação pura e simples, obviamente montada para não revelar demais tão cedo. Dentre essas, há algumas incongruências, que somente são notadas ao observar o todo, ainda que grande parte dessas lacunas possa ainda ser respondida em temporadas vindouras.

    A exploração do tema relativo as lembranças dos anfitriões ajuda a aumentar a importância do debate ético levantado, propondo a questão de que se os seres automatizados podem sentir, reter memórias e ter consciência própria, não se deveria ter o direito de coisificá-los, ao contrário, já que esses escravos de narrativa e vivência tem muitas semelhanças com o homem que os criou, feitos a imagem e semelhança de Ford e do misterioso programador Arnold. As discussões que o personagem de Hopkins e Bernard tem sobre os detalhes de programação e backgrounds dos anfitriões mostram um complexo e onipotência enorme sobre o inventor de tudo aquilo.

    Maeve transporta o comportamento indócil que tem nos laboratórios a sua rotina dentro do parque. A cooperação que recebe dos que fazem sua manutenção põe em cheque se seus auxiliadores são humanos ou construtos, fato que serviria para mais um plot twist. O cenário da Guerra Civil Americana faz lembrar visual e espiritualmente o clássico de Sergio Leone Três Homens em Conflito, com Teddy fazendo às vezes de pistoleiro sem nome com o ímpeto do Django de Franco Nero e Sergio Corbucci.

    Uma das maiores riquezas no texto do programa é o modo lírico com que ocorrem as manipulações, seja dos organizadores do parque ou com os próprios anfitriões. Ford é um sujeito controlador e astuto, não parece ter qualquer culpa em tratar suas criações como meros utensílios, ludibriando-as mesmo quando apresentam uma vontade categoricamente oposta a si. Sua contra parte contraria pode ser vista em Maeve, não só na dicotomia presente entre criador e criatura, mas também na velha guerra dos sexos, mostrando ambos usando suas armas para moldar a atitude dos que o cercam ao seu bel prazer, sem levantar a voz ou ameaçar de qualquer forma.

    O parque é um lugar onde tudo é permitido. Até então, a pecha do Onde Ninguém Tem Alma presente no subtitulo brasileiro do filme não havia feito tanto sentido como neste ponto, uma vez que a diversão e prazer dos que lá chegam é intimamente ligada a dor e sofrimento de outrem. A banalidade que habita o ideal dos visitantes é a de fazer suas próprias dores passando ao usar e abusar de seres inteligentes, que em suma, são tão humanos quanto eles mesmo, com o diferencial de que a maioria dos anfitriões é indefesa perante a programação, que por sua vez também é organizada pela raça opressora.

    Para Dolores sobra a revolta via dor, enquanto Maeve se vinga por maus tratos. A aproximação da lembrança de um amor não correspondido e transformando em terror no futuro a faz se tornar amarga e com um desejo insaciável de violência e truculência. Ao final, o desfecho das duas personagens não é mais tão diferenciado quanto foi em toda trajetória de Westworld, e apesar das múltiplas explicações do season finale – e que mataram quaisquer saudades de Interestelar e A Origem – há uma conclusão catártica e visceral, com alguns cliffhangers, mas nada absurdamente desrespeitoso com a audiência. Para o publico médio, essa temporada pode soar de difícil compreensão, mais aos olhares mais atentos, certamente a empreitada de Joy, Nolan e Abrams ainda tem muitíssimo a discutir e elucubrar, sobre os porões da alma humana e os anseios do sujeito em tornar-se igual o seu objeto de adulação, renovando as leituras sobre a mito de Prometeu e da Árvore do Bem e do Mal que Adão e Eva desfrutaram, ainda com todo um horizonte a se explorar e refletir.

  • Crítica | Jogos Vorazes: Em Chamas

    Crítica | Jogos Vorazes: Em Chamas

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    Após o enorme sucesso do primeiro filme da franquia Jogos Vorazes, de 2012, temos em 2013 a sequência que dá continuidade à história de Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) e o planeta Terra em um futuro distópico. Após vencerem a edição anterior desafiando as regras do jogo, Katniss e Peeta Mellark (Josh Hutcherson) tentam viver o dia a dia conciliando a fama recém adquirida (e as vantagens dentro da sociedade que ela trouxe) e o incômodo de estarem servindo à propagação de um modelo de sociedade que consideram injusto.

    Não é segredo que a franquia Jogos Vorazes é um misturado de influências ocidentais e orientais, que passam desde a sociedade do espetáculo e seus reality shows até os gladiadores romanos, assim como influências da cultura pop como Battle Royale e Fahrenheit 451. Também não é segredo que o livro é mais um dos tantos voltados para o público infantojuvenil, “voraz” consumidor do gênero desde que Harry Potter criou esse filão e Crepúsculo consolidou. Porém, o que difere Jogos Vorazes dos dois anteriores é justamente a profundidade da história e o contexto político e social ali inseridos, que podem levar o jovem de hoje a questionar algumas das estruturas existentes na sociedade moderna.

    Voltando ao filme, os administradores da Capital (talvez uma relação com “O” capital) percebem o potencial revolucionário de Katniss e tentam eliminá-la de forma a não deixar que ela vire um ícone, pois revoltas começam a se espalhar, gerando uma inquietação de que os Jogos deveriam servir para camuflar, bem ao estilo “pão e circo” romano, função que a TV realiza atualmente. A protagonista, que não percebe o que se passa a seu redor, tenta ao máximo proteger sua família fazendo o que a Capital demanda, servindo de vitrine e posando frente a plateias famintas e sujas que agora não mais aplaudem esse espetáculo vazio, e quando não mais compra essa fantasia, tem como troco a repressão, em guardas cujas roupas remetem também aos Stormtroopers do Império de Star Wars. Ou seja, a alusão é clara: Ou você se submete, ou será punido.

     Após uma tentativa de acabar com o ícone dos revoltosos, a Capital subverte as regras e manda diversos vencedores para uma edição especial dos Jogos onde tentam matá-la. Porém, a conspiração contra a sociedade de Panem já é tão grande (um dos pontos fracos do filme, por justamente parecer que é fácil montar uma revolução e se infiltrar nos altos quadros governamentais em uma sociedade totalitária) que os Jogos são interrompidos para se começar efetivamente a luta contra esse modelo de sociedade.

    Flertando com conceitos históricos sedutores, como “revolução” e a clássica luta do oprimido x opressor ao molde “Davi e Golias”, Jogos Vorazes recicla de maneira inteligente e compreensível a velha luta pela liberdade e pelo pão dos trabalhadores contra um sistema violento. Porém, ao tratar tudo isso de maneira romântica e um tanto quanto apolítica, o filme perde em mostrar justamente ao seu público a importância do debate político para se construir alternativas ao modelo de sociedade vigente, e que nada vem de uma nave salvadora com revolucionários já prontos, e sim que eles são construídos no dia a dia, aproveitando oportunidades que aparecem. Nesse aspecto, falta uma construção maior do personagem Plutarch Heavensbee (Philip Seymour Hoffman), não necessariamente de sua construção intelectual, mas de como ele chegou tão perto do poder, conseguindo enganar tanta gente por tanto tempo.

    Porém, um dos pontos fortes do filme, além do contexto político, é também ter como protagonista forte uma mulher que não depende de nenhum homem para salvá-la, e que faz seu próprio destino. Também coloca Peeta como um homem coadjuvante e inverte papéis clássicos de gêneros ao colocá-lo como filho do padeiro que faz docinhos, evidenciando esse preconceito em um diálogo de Katniss com o presidente, que experimenta um desses doces e pergunta se foi sua mãe quem fez, quando na verdade foi Peeta. Como a questão de gênero é um tabu grande inclusive dentro da esquerda revolucionária clássica, Jogos Vorazes contribui com a desmistificação e quebra de valores preestabelecidos dos gêneros dentro dos filmes de Hollywood, ao contrário do que faz, por exemplo, a saga “Crepúsculo”, em que a protagonista tem como maior problema existencial a quem será submissa, e não garantir o sustento da família. Da mesma forma, Gale Hawthorne (Liam Hemsworth) não é o salvador, apesar de fazer o tipo. Também foi interessante a escolha de Jeffrey Wright como Beetee, ou seja, um ator negro interpretando um gênio, fugindo totalmente dos clássicos estereótipos do cinema, tanto que alguns fãs da franquia chegaram a chiar, já que, nos livros, Beetee, ao contrário de Rue, não é descrito como negro. Ou seja, aquele racismo velado do público dito “nerd”, branco, de classe média aparece, o que pode suscitar debates interessantes.

    Como mostra a bilheteria e os livros vendidos, Jogos Vorazes é um sucesso dentre um público por vezes considerado alienado e que dispensa assuntos ditos “sérios”. Vivemos em uma época em que até mesmo esses assuntos precisam ser introduzidos aos jovens na forma de um sucesso de Hollywood, em vez de um livro velho e chato de Lênin que nunca abririam. Isso por si só mostra a dificuldade de se romper com essas barreiras em uma sociedade “livre” como a nossa, quanto mais na retratada no filme. Porém, a franquia talvez sirva como pontapé inicial para muitos jovens terem seu contato, da forma que conseguimos hoje, com algo além da massificação alienante da mídia e da indústria cultural.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.