Tag: Michael G. Wilson

  • Crítica | 007: Marcado Para a Morte

    Crítica | 007: Marcado Para a Morte

    Crítica 007 Marcado Para a Morte

    007: Marcado Para a Morte poderia ter sido o início de uma era pródiga na adaptação dos livros de James Bond de Ian Fleming se não tivesse sido encerrada tão precocemente. O início do filme de John Glen abre com uma ação de treinamento envolvendo três agentes 00 comandados por M (Robert Brown), e o personagem de Timothhy Dalton não demora a aparecer frustrando em parte o plano dos vilões que queriam matar todos os agentes, mas não sem deixar perdas, como a dos espiões 002 e 004. O longa já demonstra a gravidade que será sua tônica já nesse início.

    O clima da obra lembra os futuros longas de Martin Campbell007 Contra Goldeneye e 007: Cassino Royale — no sentido de perverter a fórmula e estabelecer um estilo diferente e renovado, ainda que use bastante os chavões do personagem cinematográfico, há um apego maior ao 007 de Fleming, até por preocupação do próprio Dalton.

    A trama é bem simples, quase simplória, e envolve a proteção do agente 007 a um desertor da KGB. O drama possui as mesmas questões banais e maniqueístas do que era comum na cultura pop da época ao lidar com a Guerra Fria. Ainda se acrescenta vários momentos com elementos árabes, como os Mujahidin, descrito por Bond como a resistência afegã — um grupo de guerrilheiros afegãos contrários à intervenção russa.

    Essa versão de Bond soa mais violenta que os filmes anteriores, imitando os heróis de ação que faziam sucesso na década de 1980, além de referenciar ao personagem literário original, que era mais frio do que a versão de Roger Moore. Essa talvez seja a encarnação mais parecida com a recente de Daniel Craig. Outro ponto importante diz respeito aos vilões, que deixaram de ser meros cientistas loucos e irreais.

    As lutas aqui são bem mais agressivas que nas produções anteriores da franquia. Bond causa queimaduras nos inimigos, os fere com água fervendo em uma cena de ação dentro de uma cozinha, espanca sem dó capangas, causa explosões. A ação mais direta e franca e é o diferencial principal entre essa fase e a anterior.

    O agente americano Felix Leiter retorna. O personagem estava fora desde 007: Viva e Deixe Morrer e é basicamente introduzido para que o público lembre dele antes da próxima aventura onde ele seria importante. No elenco outro destaque é que Moneypenny finalmente trocada, saindo Lois Maxwell e entrando Caroline Bliss. Curioso como não há nenhuma necessidade de explicar essa mudança, aparentemente o espectador era mais acostumado com isso.

    007: Marcado Para a Morte tem alguns elementos bem diferentes do restante da saga, como pouco flerte entre as mulheres e o espião, fruto obviamente da recém-descoberta do vírus HIV. Possui um final cínico, e dentro do escopo de filmes da franquia acaba sendo um dos mais subestimados e injustiçados mesmo entre os fãs.

  • Crítica | 007 Contra Octopussy

    Crítica | 007 Contra Octopussy

    Crítica 007 Contra Octopussy

    007 Contra Octopussy, filme de John Glen e o penúltimo de Roger Moore como James Bond. A trama se inicia com um agente do MI-6, de patente 00, morto diante das câmeras, segurando um Ovo Fabergé falso, e recai sobre o agente secreto a investigação desse estranho caso.

    Claramente, Moore está cansado, já não está tão disposto quanto nos filmes anteriores. Se em 007: Somente Para os Seus Olhos ele já estava bem envelhecido, a situação, como era de se esperar, piora bastante no filme seguinte. Se percebe facilmente rugas e marcas de expressão em sua expressão. A Octopussy, do título, é filha do Major Dexter Smythe um rival de Bond assassinado por ele. Mesmo com a intenção de vingança, a personagem de Maud Adams tem que se unir com o agente para enfrentar os planos megalomaníacos de Kamal Khan, personagem do icônico (e aqui bastante caricato) ator francês Louis Jordan, e de mais um conjunto de estereótipos árabes bem complicados, mas ainda assim, icônicos, como era comum na exploração dos temas de Ian Fleming, criador do agente secreto.

    O longa, apesar de possuir o nome de um livro de Fleming, quase não tem elementos do texto, sendo o personagem Smythe um dos poucos momentos citados na obra original. Além disso, esta é a primeira aventura com Robert Brown oficialmente como M, além disso, a Moneypenny de Lois Maxwell apresenta uma nova secretária do MI-6, Penelope Smallbone (Michaela Clavell), que curiosamente, não retornaria em 007 Na Mira dos Assassinatos. Desde Somente Para Seus Olhos os produtores se preparavam para se despedir do intérprete, e para isso, ensaiavam inserir um novo elenco de coadjuvantes para o futuro.

    Esse, aliás foi o filme que competiu nos cinemas contra 007: Nunca Mais Outra Vez, o famigerado filme de Irvin Kershner que recontava a história de 007 Contra a Chantagem Atômica. Obviamente, a recepção de público e crítica foi mais amistosa com o filme Glen, embora fosse difícil de comparar as produções, visto que o tom e a trama não possuem nenhuma similaridade.

    O filme acerta por não se levar a sério. O ápice é uma cena onde se chega ao cúmulo de colocar um flautista entoando a música tema do agente para encantar uma serpente. Outro ponto digno de nota é a sala dos generais soviéticos, que lembra uma variação mais escurecida da sala de guerra de Dr. Fantástico de Stanley Kubrick. No entanto, o pastiche de Cuba, presente no início do filme quando 007 entra em cena é demasiado ridículo, o que salva essa sequência é a cena de Moore pilotando um avião em um pequeno hangar, em mais um momento puramente cômico do longa-metragem.

    007 Contra Octopussy é sem dúvida um dos filmes que mais apela para a fórmula humorística da fase Moore, e na maior parte do tempo, esse aspecto funciona, mesmo com o desfecho conveniente e forçado. O que realmente depõe contra o filme é a clara indisposição do protagonista, ainda que essa não seria a última incursão do ator no papel.

  • Crítica | 007: Sem Tempo para Morrer

    Crítica | 007: Sem Tempo para Morrer

    Após um grande início adaptando uma obra de Ian Fleming com Cassino Royale; uma sequência sem roteiro devido às greves de roteiristas em Quantum of Solace; uma queda e ascensão dividida entre tradição e o moderno de Operação Skyfall e a retomada da estrutura clássica em 007 Contra Spectre, o longevo personagem James Bond, personificado pela quinta e última vez por Daniel Craig, tem sua missão derradeira em 007: Sem Tempo Para Morrer.

    Finalizando a passagem do britânico pelo personagem, a produção do vigésimo quinto filme de James Bond foi carregada com uma maior expectativa do que suas predecessoras. O último filme com Craig, marco numérico sempre destacado pela mídia, foi marcado por entraves internos e externos à sua produção.

    A princípio, Danny Boyle foi escalado como diretor, mas se justificando com o batido “divergências criativas” abandonou a produção e, em seu lugar, Cary Joji Fukunaga assumiu a cadeira, tornando-se o primeiro americano a dirigir uma produção Bond. Com a mudança, o início das filmagens foi reagendado para abril de 2019 e a estreia programada para abril de 2020. Naturalmente, a necessidade do distanciamento social deixou o lançamento em espera até setembro desse ano quando grande parte do mundo possui uma estrutura mínima para, munidos de vacinas e máscaras, estar no conforto do cinema sem correr risco de vida. O risco, aliás, fica por conta do próprio personagem central.

    O início da nova trama se situa após os acontecimentos de Spectre e resume os elementos que definiram o novo Bond. Aposentado em um lugar idílico, ao lado de Madeleine Swann (Léa Seydoux), dá vazão aos laços sentimentais até o inevitável momento em que o passado retorna, explosivo. A grande cena de ação inicial é intensa, extremamente física, bem equilibrada entre a coreografia e um realismo possível, mantendo vigente a estética fundamentada por A Identidade Bourne e reverenciada pela versão de Craig. A cena intensa demonstra algo que o público da primeira temporada de True Detective já sabe: Fukunaga constrói cenas de ação com habilidade. A cena inicial injeta adrenalina antes da canção que abre o longa, No Time To Die de Billie Eilish.

    Após os créditos de abertura, a trama salta cinco anos no futuro. Como desenhado desde a produção anterior, é a tradição que rege essa aventura final. Se no enredo anterior se descobre que as intrigas foram orquestradas pelo SPECTRE, aqui outro elemento tão poderoso quanto surge em cena, contrabalanceando as forças, mas com objetivos semelhantes: a vingança e a destruição mundial, características comuns da maioria dos vilões megalomaníacos da franquia.

    Se em composições anteriores Bond pareceu um homem sem amarras, o personagem da geração 2000, composto de forma seriada em cinco produções, é formado com maior coesão cronológica e emocional. As perdas são lembradas com sentimento e dor e trazem a evidente constatação de que é necessário desapegar do passado para seguir, embora o passado profissional e as missões anteriores nunca fiquem, de fato, no passado. Entre o equilíbrio pessoal e emocional, e a frieza das missões cumpridas se destaque um personagem central que além da camada de espionagem, dos carros luxuosos, do esnobismo britânico e do diálogo feito de punhos, uma mensagem boba e simples de que os brutos também amam, sim.

    Em entrevista a GQ em 2020, o ator afirmou que elevou o nível do personagem para outros. Sem dúvida, o sucesso da franquia se deve a sua capacidade de manter suas estruturas básicas, mas, na medida do possível, se adaptar a novos formatos narrativos. Sob esse aspecto, talvez a era Craig tenha sido a modificação mais inventiva de Bond. Trouxe não apenas novas camadas trágicas aos personagens como também a possibilidade de quebrar a forma física do agente, pois, lembrem-se, o ator foi criticado no início por seu físico e por ser loiro demais. Foram modificações como essas que permitiram que Lashana Lynch surgisse em cena como a primeira 007.

    Sem Tempo Para Morrer é um falso título porque em um filme cuja missão é ser um desfecho a uma versão de Bond, tudo é uma celebração final. Em tudo há certo tom de morte e despedida como amigos que se desencontram, arqui-inimigos que se vão e, querendo ou não, não há nada de novo nessa narrativa. Mas, sim, uma conclusão natural de uma história iniciada em 2005 e que encerra seus enredos e o legado de Craig no papel.

    O ator e sua modéstia têm razão. O marco deixado em sua passagem será um desafio à execução do próximo Bond. Mas também abriu espaço para que novas facetas sejam exploradas, sem medo de reinvenções e sem o excesso de amarras da tradição. Como um personagem com maior aptidão para se reinventar, os produtores Michael G. Wilson e Barbara Broccoli devem ter algumas cartas na manga para o futuro dessa nova Bond.