Tag: Mathieu Amalric

  • VortCast 102 | James Bond – 007: A Era Daniel Craig

    VortCast 102 | James Bond – 007: A Era Daniel Craig

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira | @flaviopvieira) e Mario Abbade (@marioabbade)  se reúnem para comentar sobre o encerramento da era Daniel Craig como James Bond nos cinemas. Quais foram os pontos altos e baixos, as polêmicas e o futuro da franquia.

    Duração: 74 min.
    Edição:
     Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

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  • Crítica | O Som do Silêncio

    Crítica | O Som do Silêncio

    Como é bom quando um filme vem “do nada” e assalta todo mundo com sua força e criatividade. Foi assim com Um Lugar Silencioso, ou mesmo com John Wick, e agora se repete com O Som do Silêncio, filme da Amazon Prime para ganhar prêmios e melhorar a imagem da plataforma nessa guerra dos streamings pela nossa atenção. O resultado não poderia ser melhor: um dos filmes mais aclamados do ano de 2020, justamente por ser tão inventivo de várias formas. A principal, claro, está em contar uma história na perspectiva de um deficiente auditivo, ou seja: inserir o espectador a fundo nesta experiência sonora, ou na falta de som, que a surdez acarreta. E o impacto do filme de Darius Marder não poderia ser mais estarrecedor.

    Primeiro porque o diretor aposta tudo num drama pesado e ultra realista, que envolve o desespero do metaleiro Ruben Stone (Riz Ahmed, atuação da carreira). Cada vez mais surdo, Ruben vê seus dias de rebeldia e liberdade com sua banda underground começarem a sumir, já que o seu mundo da música desaparece a cada batida, a cada ritmo perdido (o trabalho sonoro do filme é espetacular). O baterista então se torna impotente, e aos poucos tem o seu emocional devastado, contando com sua namorada Lou (Olivia Cooke) até mesmo para garantir a pouca sanidade que lhe resta em um primeiro momento. Enquanto assistimos a sua árdua transição para o mundo dos gestos e da mudez – não ouvir a própria voz pode ser um pesadelo. A instabilidade de Ruben é total, caindo num abismo e numa revolta sem fim e nada parece ser capaz de salvá-lo… exceto a pobre Lou, bem quando o mundo dá as costas para Ruben. Ou seria o contrário?

    Assim, o baterista é levado a um grupo de ajuda a deficientes sonoros e são essas reuniões que fazem o homem encontrar uma chance (que cabe a ele, e mais ninguém) de superar as condições e voltar a sorrir. Uma questão de aceitar que o heavy metal ficou para trás, quase numa outra encarnação, e o desafio agora foi reservado por um destino implacável. O Som do Silêncio investiga o poder do espírito diante da fatalidade e como podemos ser a versão Super de nós mesmos, quando isto se torna necessário. Marder comanda o show pelo viés das conexões: das nossas relações, das nossas dependências, medos e resistências que carregamos, com total paixão pela história e os seus atores (os closes são ótimos e oportunos), sempre propondo e visando uma catarse redentora, rumo aos confins do instinto de sobrevivência humano – individual, e coletivo. Imperdível.

  • Crítica | A Pele  de Vênus

    Crítica | A Pele de Vênus

    A Pele de Venus - poster br

    Passear por campos até então inexplorados é um dos muitos deveres que os grandes artistas devem exercer. O pioneirismo como atitude é algo cada vez mais raro no cinema, mesmo entre os grandes nomes da direção. Talvez esse seja um dos principais valores da filmografia recente do polonês Roman Polanski, que, após a sua controversa proibição de pisar em solo americano, especializou-se em adaptar peças teatrais, como havia feito com Deus da Carnificina, em 2011.

    Adaptado da peça de David Ives, que por sua vez usou como base o romance de Leopold von Sacher-Masoch, A Pele de Vênus tem como plot principal uma proposta metalinguística de reunir em uma noite louca o dramaturgo e diretor de teatro Thomas (Mathieu Amalric), que sofre de uma variação de “depressão” que o faz enxergar-se sozinho em meio à tentativa de fazer algo inteligente ao abordar um clássico. Quando está só no teatro, é invadido pela presença da voluptuosa Vanda (Emmanuelle Seigner), que em toda a sua sapiência acredita ser o cast perfeito para o papel principal da peça unicamente por ter o mesmo nome que o do personagem. Após muito insistir – e se insinuar sexualmente – ela consegue convencer Thomas a dar-lhe uma chance de demonstrar seu talento.

    Thomas até parece-se fisicamente com Polanski quando mais novo, especialmente por seu biotipo em Dança com Vampiros. Os verborrágicos diálogos tem um cunho tão surreal que levam o humor para um lado nonsense do riso, variando entre o constrangimento alheio e a busca de um objetivo impossível à primeira vista. A inteligência do texto consiste em transitar de momentos cômicos para dramáticos em questão de segundos e ainda assim permanecer crível. Logo no início, nota-se que o dedo do diretor é mais presente nesta produção do que em Deus da Carnificina.

    De modo natural, a conversa entre Vanda e Thomas toma um viés mais pessoal, discute a vida pessoal do dramaturgo, e toma polos opostos, como a famosa figura das artes e o ser humano falho, que precisa de coisas tão corriqueiras e universais quanto a busca pelo amor e a fidelidade ao sentimento, pondo como parâmetro a representação da musa e a facilidade com que um selecionador de elenco se disporia em se tratando de acesso ao sexo.

    A alma do artista é, em essência, algo inescrutável, difícil de descrever e difícil de entender. O mesmo campo que envolve a criatividade incorre também na vaidade, e manter uma distinta da outra é algo cuja dificuldade é enorme, por vezes até impossível. Por exercer um trabalho solitário, Thomas se sente o mais incompreendido dos homens, e ao menor sinal de um comentário elogioso, ele baixa a guarda e começa a mostrar que os seus temores são muito menores do que o seu talento. Ele facilmente prova a sua boa essência, quase não se esforçando em sua passagem de texto, quando sua capacidade como ator é experienciada. No entanto, sua insegurança ainda existe, quando o sub-texto de sua adaptação é discutido.

    O conflito entre os intérpretes excede o paradigma das palavras e é posto em prática por meio da encenação de trechos de A Pele de Vênus, em que as sensações de Thomas são muito testadas pela tentação que se conclui das curvas e da pele de Vanda. O amor enquanto relação carnal é elevada à condição de poder, e as palavras do roteiro se confundem na boca do emissor, não se decidindo entre a relação ser uma demonstração dramatúrgica ou um sussurro de sua conflitante alma.

    O distanciamento que Thomas tem de sua cara-metade é tamanho que ele só permite dizer o nome dela após decorridos quase dois terços de exibição. Após isso, uma cena que remete a uma entrevista psicanalítica aos poucos vai se formando, e apesar de a referência não ser de difícil análise, o modo como as peças se movem até chegar ao ponto correto é plenamente cabível, e até mesmo surpreendente.

    O último ato serve para ratificar a insegurança do autor ao ver que as suas ideias funcionam muito bem no papel e não tem o mesmo êxito quando ditas pela boca de um ator. As impossibilidades que entravam a relação entre dramaturgo e intérprete ganham novos ares e capítulos de maior contenda, com conflitos que invertem os arquétipos de autoridade e submissão. O modo como o roteiro lida com o discurso de igualdade entre os gêneros é curioso por não ser panfletário em momento algum, pelo contrário, mostra toda a guerra dos sexos de modo prático, sob um pretexto dos mais ardilosos.

    A condução que Polanski dá a película não trata só do (ótimo) texto original, uma vez que sua fita é muito fiel ao original de von Sacher-Masoch,sem precisar se ater a fórmula original. A ferramenta metalinguística que David Ives pensou e que foi redesenhada para o filme junto a Roman funciona perfeitamente, inserindo o espectador dentro da trama e convidando quem a assiste a experimentar as mesmas sensações de Thomas e Vanda, sem apelar para clichês como a quebra da quarta parede. Todo o estratagema metafórico é sutil nesta abordagem enquanto é volúvel nas questões “pecaminosas”, fazendo de A Pele de Vênus uma tentação para os sentidos humanos.

  • Crítica | O Grande Hotel Budapeste

    Crítica | O Grande Hotel Budapeste

    o grande hotel budapeste

    O Cinema de Wes Anderson, sendo a arte antes do artista, é claro, é um corredor de pinturas, uma ida ao museu numa tarde chuvosa onde não há mais nada a se fazer senão apreciar a viagem histórica. O cineasta tem a preferência de centralizar seus mundos enquanto expande os significados deles através de uma simbologia única em nível de identificação universal. Mundos onde todos os personagens são totalmente imprescindíveis à história ao mesmo tempo em que são totalmente desnecessários à narrativa em retalhos: substituíveis e relevantes ao mesmo tempo. O Grande Hotel Budapeste é o Cinema de Jacques Tati e Stanley Kubrick feito para todas as idades e mentalidades. Lindo, matemático, extremamente planejado em planos cênicos milimétricos, mas não é superficial em toda a sua estilização, afinal de contas, apenas por denunciar a beleza existencial do mundo a partir dos valores humanos de cada vida vinculada à teia apresentada.

    Até porque Anderson tem olho clínico e confiança de chamar atores do mais alto nível, assim como semi-desconhecidos, para interpretar figuras icônicas que pertencem a mentes de pessoas como Alan Moore, genial escritor inglês e famoso por sua excentricidade. Logo no começo de Budapeste, percebemos os traços marcantes da filmografia do diretor de Moonrise Kingdom, seja na (ótima) direção de arte, seja na atmosfera visual ou na musicalidade inocente e eclética de sempre. Enfim, temos, ao longo de uma hora e meia de projeção, a desconfiança da releitura artística que o filme vem a ser, na real, muito antes do clímax esperado.

    Releitura devido ao ponto alto da carreira que o cineasta já conseguiu alcançar “por acaso” é onde repousa seu belo e extravagante hotel. Um cume no qual não carece mais provar seus talentos e visão pessoal a mais ninguém, vide a falta de pretensão, de autoestima, e de altos e baixos de uma energia linear e constante ou mesmo de alguma dose de seriedade da história de corre-corre e de amizades inesperadas pelos caminhos. Veredas a partir e muito além dos corredores e escadas sinuosas do edifício homônimo.

    A fusão entre realidade e realidade particular pode ser uma das explicações para definir a arte de cada um; o Cinema, inclusive, o qual muitos chamam de “a arte completa” por ser justamente a fusão da maioria delas. Seja como for, e sem mais delongas, Anderson e seu elenco espetacular – Tilda Swinton aparece 5 minutos depois do início do filme, durante 60 segundos apenas, e é tão impressionante sua participação que a projeção poderia terminar com sua saída e tudo seria maravilhoso do mesmo jeito – defendem a teoria que abre este último parágrafo na aurora de uma realidade particular, a que todos nós aprendemos a amar, cada um à sua maneira, e que muito completa a verdadeira realidade das coisas.