Tag: Jeff Goldblum

  • Crítica | Ilha dos Cachorros

    Crítica | Ilha dos Cachorros

    É fácil perceber que se está diante de um filme de Wes Anderson, mas não só pelos motivos “aparentes” e esperados, em especial neste filme de 2018. Incorporando sua identidade rigorosamente meticulosa na elaboração visual de toda a sua mise-en-scène, com a história do garotinho Atari em busca de seu cachorro numa ilha japonesa dominada por raças caninas simpáticas e inteligentíssimas, forma-se uma (tentativa raquítica e apática de) jornada sobre liberdade e amizade e que começa e termina na vã estratégia de ser um Cinema autoral e de entretenimento ao mesmo tempo, algo que Anderson sempre conseguiu, mas que aqui simplesmente não consegue basilar-se nas suas pretensões. Resumindo: Sobra estilo e esquematização, e faltam conflitos e emoções reais em Ilha dos Cachorros, como se isso fosse tudo.

    Wes Anderson não acredita na sua história pois não assume risco algum; fato. Zona de conforto total, e que impressiona dada a mente brilhante que está por trás desse projeto, o filme inteiro parece ser um ato só: Coisas se desenvolvendo com a leveza do vento e sem alcançar patamares significativos em absoluto – nem na filmografia de Anderson, nem no Cinema recente. Mesmo quanto as peculiaridades do cineasta, seus travellings ultra planejados e seu ritmo incessante, ágil e palco para um humor negro irresistível, em A Ilha dos Cachorros tudo torna-se desinteressante pela primeira vez na carreira do cara. E, caso a obra não mereça ser chamada de “desinteressante”, o oposto tampouco atinge na percepção sensorial de quem esperava a regularidade de sempre do autor de Moonrise Kingdom, e de uma das grandes animação dos últimos anos: O Fantástico Sr. Raposo.

    Entre gangues formadas por diversas raças de cães e que lutam pela sobrevivência em um território que dominam, e muito corre-corre vazio, a história grita desesperada por um nível básico digamos de naturalismo que jamais poderia encontrar junto a alguém cuja frontalidade sempre foi orgulhosamente cênica, à beira do artificial. Parece que Anderson quer escapar um pouco do seu estilo e tentar ser mais solto, mais humanizado igual sua cachorrada solta em terreno japonês seguindo Atari. Mas nesse desejo de se expandir, poucas vezes nessa década se viu uma animação tão carente de carisma e tão atolada por uma artificialidade oca; um vai e vem que, se diverte mais ou menos, não chega em lugar algum. Entre um cinismo estrutural e um apoio extremo na beleza e outras virtudes da sua técnica, Ilha dos Cachorros é o típico filme calculado em demasia que não aguenta a essência da sua sensível trama frondosa, e banalmente desenvolvida.

    Neste exemplar do seu gênero, nem a boa trilha-sonora de um Alexandre Desplat ou o fascínio que técnicas de animação promovem não enganam ninguém (pelo menos aqui), e apenas embalam superficialmente a falta de envolvimento de todos os lados com a produção. Anderson apresenta uma mão surpreendentemente pesada na direção, e a trama centrada em amigos inesperados (e uma subtrama política feita às pressas por meio de analogias baratas) tampouco combina com o seu estilo de aventuras hiper organizadas em seu espaço/ tempo tão particular, e sempre tão delicioso – até agora. Estamos falando de um quase filme, de uma ideia que talvez merecia ser contada mas de uma forma muito mais calorosa – o clímax do filme é ordinário. Nem as boas sacadas visuais evitam a apatia e o aborrecimento em meio as tramoias de espécies humanas e caninas, aqui. Parece que todo cineasta precisa ter um mau exemplo da sua visão no currículo, e é uma pena Anderson não ser uma exceção.

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  • Crítica | Jurassic World: Reino Ameaçado

    Crítica | Jurassic World: Reino Ameaçado

    Em 2015, foi lançado o polêmico Jurassic World, comandado por Colin Trevorrow, e fora a bilheteria monstruosa, o filme foi recebido de maneira morna pela crítica. O diretor conduziria o episódio nove de Star Wars, fato que nunca aconteceu, e por isso coube a J. A. Bayona realizar a continuação, Jurassic World: Reino Ameaçado, com Trevorrow e Derek Connolly escrevendo o roteiro da continuação, e por mais cafona que ela possa parecer, funciona muito melhor que seu antecessor.

    O subtítulo Reino Ameaçado é bem condizente, pois a ilha onde o antigo parque ficava está prestes a ser destruída por meio de um vulcão. As autoridades governamentais são convocadas para tomar uma decisão, e até mesmo o Dr. Ian Malcolm (Jeff Goldblum) é consultado sobre salvar ou não as criaturas, e seu conselho é  de não dar vazão a isso. Obviamente o conselho é acatado pelos governos  dos Estados Unidos, obviamente que alguém com muito dinheiro decide financiar a saída das criaturas dali, o que faz com que a dupla de protagonista Claire (Bryce Dallas Howard) e Owens (Chris Pratt) de volta a ação, apelando claro ao emocional de ambos para que não houvesse recusa.

    O magnata em questão é Benjamin Lockwood (James Cramwell), um homem já bem idoso, de compleição e saúde frágeis. Ele tinha alguma proximidade de John Hammond, idealizador de Parque Jurassico, que apareceu em Jurassic Park clássico, aliás, a fragilidade de Benjamin se assemelha demais da versão de Hammond em O Mundo Perdido: Jurassic World. O boa praça Eli Mills (Rafe Spall) cuida da fortuna e dos sonhos que Lockwood não conseguirá viver para realizar. O grave problema do roteiro é a previsibilidade, quase todos os eventos que ocorrem com esse núcleo telegrafados de tão óbvios que são esses momentos.

    Goldblum só aparece para palestrar bem no inicio e no final, e em um lugar apenas – deve inclusive ter feito essa gravação num tempo muito curto – mas é fundamental para o longa que ele seja a voz da razão , reunindo em seu discurso um pouco de Hammond e um pouco de Alan Grant, que era feito por Sam Neill no primeiro filme e em Jurassic Park 3. Todas as curvas dramáticas envolvendo a tentativa de comercio das criaturas e as sub tramas super “malignas” combinam bem com a ganância primordial da franquia, em tentar ser deus. Aqui isso é substituído por algo mais básico, e mais clichê, e por incrível que pareça, combina mais algo menos ambicioso com o clima de pura aventura que essa nova parte da franquia apresenta.

    O escapismo predomina nas desventuras de Owens e Claire, e por mais que ambos estejam muito diferentes do outro filme, a química entre ambos faz muito mais sentido. Mesmo a ideologia ingênua da moça cabe bem diante do montante de situações absurdas que se apresentam aqui. Alem disso, o fato de não se levar a sério torna esta continuação em um objeto bastante carismático, apesar de piegas as vezes a história de Connolly e Trevorrow reforça a ideia de que o velho sobrepõe o novo, como acontecia no primeiro capítulo da franquia, de que trazer a luz a espécie que foi predominante antes, é um risco para toda sorte de vida que habita a Terra na atualidade.

    O filme tem um final surpreendente, principalmente se levar em conta toda a preguiça geral que ocorre no restante da trama. Uma nova era se estabelece, com um futuro nem um pouco otimista para os homens, provavelmente até invertendo, provavelmente, a questão do topo da cadeia alimentar, abrindo possibilidade para um conflito semelhante ao que ocorreu em Planeta dos Macacos: O Confronto, e seu capitulo posterior, Planeta dos Macacos: A Guerra, claro, dependendo do desempenho financeiro deste Jurassic World: Reino Ameaçado, e o trabalho da Bayona é muito bem orquestrado em seu resultado final, apesar dos claros problemas de coincidência visto no texto do longa.

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  • Crítica | Thor: Ragnarok

    Crítica | Thor: Ragnarok

    O mito de fim da existência é tema comum entre várias culturas. A maior parte das mitologias conta o findar dos tempos de maneira semelhante e dentro desse estereótipo de histórias o Ragnarok está entre os mais ricos, com mais detalhes do que o Apocalipse cristão judaico, por exemplo. É sobre esse fim que o filme de Taika Waititi tenta falar, ainda que esse caráter seja discutível em Thor: Ragnarok, quinto filme que traz Chris Hemsworth como o deus do trovão e que segue os fatos imediatamente após Thor: O Mundo Sombrio e Vingadores: 2 A Era de Ultron.

    O filho de Odin começa acorrentado, como em um dos seus primeiros materiais de divulgação. Tal ato serve para simbolizar os eternos arcos de repetição do filme, uma vez que o roteiro de Eric Pearson, Craig Kyle e Christopher Yost é permeado por essas reincidências, fato que deixa o argumento didático e esquemático. Logo, o herói luta com Surtur (voz de Clancy Brown) e supostamente impede o fim dos tempos. Depois disso, ele trata de desmascarar seu irmão Loki (Tom Huddlestone) e decide enfim ir em direção a Midgard – Terra – para encontrar o verdadeiro entronado de Asgard, Odin (Anthony Hopkins). Depois de encontros com personagens do universo compartilhado da Marvel nos cinemas com direito a uma lição de moral, o protagonista se depara com a vilã da vez, Hela (Cate Blanchett), basicamente para cair, perdendo uma batalha e ir na direção de outro cenário, Sakaar um planeta arena psicodélico governado por um tirano excêntrico e cômico, o Grão Mestre de Jeff Goldblum.

    O filme proposto por Waititi é uma comédia rasgada com alguns elementos de ação, como normalmente são seus filmes. Em O Que Fazemos nas Sombras o pano de fundo eram os filmes de terror com vampiros e aqui é o exploitation de heróis. O grave problema é que há dois tipos de cenários muito distintos dentro desse terceiro Thor, e um deles causa muito mais apreço no público do que o outro. A plateia claramente se afeiçoa mais por Sakaar do que por Asgard, mesmo que a segunda esteja em vias de ser extinta. Afinal, é mais interessante as desventuras do mitológico caso de O Médico e o Monstro visto na persona dupla de Bruce Banner e Hulk de Mark Ruffalo – que parou no planeta por motivos tão psicodélicos quanto as razões que fizeram o personagem título estar lá – bem como a questão moral que move Valkyrie (Tessa Thompson), personagem calada e auto suficiente que seduz a audiência com seu charme e boa construção de drama e passado. Mas, como era prometido, o novo grupo de justiceiros precisariam cruzar a ponte do arco-íris, a fim de salvar o povo de Odin.

    Há uma importância maior para o personagem de Idris Elba, seu Heindall é mais do que o guardião das chaves do reino, tornando-se a vanguarda de um povo rebelde, mas esse crescimento de é inserido parcialmente na trama, já que ele não possui tempo de tela ou aprofundamento suficiente para arranhar mais que a superfície de personagem secundário. Ainda assim, Heindall tem mais sorte que seus companheiros, os Três Guerreiros, que basicamente fazem a mesma figuração que fizeram no Thor de Kenneth Branagh e nas continuações.

    Há uma necessidade exagerada em fazer do roteiro uma história engraçada. Quase todos os personagens que aparecem em cena possuí seu momento piada, seja o gigante esmeralda, que mais uma vez é o alívio cômico deixando de lado o drama de viver como um monstro, ou o personagem de Waititi, Korg, um alienígena com corpo de pedra e extremamente burro. Além disso, nem mesmo as pretensões de Hela são levadas a sério, e o destinos de Asgard parece desimportante, apesar de inferir uma suposta urgência. Os unícos sacrifícios que fazem sentido são os de Valkyrie e dos flagelados de Sakaam.

    Após abusar de muitos McGuffins, Taika Waititi estabelece nesse Thor Ragnarok um misto de filme de autor e episódio de meio de saga. Apesar do prato servido possuir um gosto agradável e menos problemático que os roteiros de Homem de Ferro, Homem Formiga, Dr Estranho e Homem Aranha de Volta ao Lar, o que resta é um produto que tenciona uma identidade dupla que não é totalmente alcançada, ainda que tenha muita personalidade e marcas dos trabalhos anteriores do diretor.

    Waititi parece conduzir sua película de modo bem parecido com o de James Gunn no primeiro Guardiões da Galáxia a procura de um estilo próprio dentro das histórias da Marvel Studios. Ainda que não se tenha garantia de que o diretor também será responsável pelos próximos filmes do Deus do trovão, uma vez que ainda não há planos para mais filmes solos do personagem. De qualquer forma, a produção produz curiosidade pela procura de um formato um tanto inovador para o universo heroico da Marvel, muitas vezes, repetindo narrativas semelhantes.

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  • Crítica | Independence Day: O Ressurgimento

    Crítica | Independence Day: O Ressurgimento

    Independence Day - O Ressurgimento - poster

    O diretor alemão Roland Emmerich tem um fascínio por destruição. Isso ele não esconde de ninguém, uma vez que virou especialista em blockbusters catastróficos de escala global. Emmerich já destruiu parte do mundo em Independence Day em uma invasão alienígena, destruiu Nova York em Godzilla, destruiu novamente parte do mundo com os problemas ambientais de O Dia Depois de Amanhã, destruiu o mundo em 2012, e mais timidamente, destruiu a Casa Branca em O Ataque. Ainda que o objetivo sempre seja o mesmo, podemos perceber que, ainda assim, o cineasta tem uma assinatura, pois, além de conseguir contar as mais diversas histórias dentro do apocalipse, sabe desenvolvê-las com muitos personagens distintos, com suas diversas histórias paralelas que se convergem com o assunto principal.

    Embora já tivesse no currículo dois filmes que hoje são aclamados pela cultura pop, Stargate – A Chave Para O Futuro da Humanidade e Soldado Universal, foi em Independence Day que Emmerich se firmou em Hollywood. Primeiro porque a divulgação do filme (totalmente diferente em 1996) foi certeira, mostrando ao público pôsteres de um gigantesco disco voador em cima de vários lugares espalhados pelo planeta, e no chocante trailer em que uma dessas naves destrói, sem precedentes, a Casa Branca. E segundo porque o filme, que não traz nada de especial tecnicamente falando (com exceção da parte da ação), de certa forma agradou ao público com sua história e desenvolvimentos forçados e – por que não -, bregas. Embora a primeira metade da década de 1990 tenha nos trazido filmes sensacionais, nenhum foi como Independence Day em termos de escala e, principalmente de gênero, ainda que a história e seu desenvolvimento sejam fracos.

    Todo mundo sabia que em algum momento a raça alienígena responsável pelo ataque ao planeta seria vingada. Com isso, os últimos 20 anos foram suficientes para que todas as nações se unissem e desenvolvessem em conjunto uma tecnologia híbrida de defesa que pudesse auxiliar o mundo. Vemos novos tipos de veículos, de armas, de naves, e os caças, que agora possuem a mais alta tecnologia de combate. A Terra, de fato, está bem protegida com várias bases remotas espalhadas pelos planetas do Sistema Solar, além de uma base com humanos na Lua. Fora isso, por toda a órbita do planeta existem canhões muito semelhantes aos canhões primários das naves do filme anterior, além de uma massiva defesa terrestre.

    Tudo começa a mudar quando as diversas pessoas que tiveram aquela experiência sensorial com os alienígenas começam a ter pesadelos e dores de cabeças recorrentes. Assim, somos reapresentados aos personagens do filme anterior, como o Presidente Whitmore (Bill Pullman); David Levinson (Jeff Goldblum) e seu divertido pai, Julius Levinson (Judd Hirsch); e Jasmine Hiller (Vivica A. Fox), ao mesmo tempo em que conhecemos o novo time de protagonistas que se junta aos outros, e também responsáveis pelas histórias paralelas. Patricia (Maika Monroe), a filha de Whitmore, agora adulta, é a assessora da Presidente Lanford (Sela Ward) e tem uma relação com um dos melhores pilotos do Esquadrão Legacy; Jake (Liam Hemsworth), sendo que seu maior rival é justamente Dylan Hiller (Jessie T. Usher), filho do Capitão Steven Hiller, vivido por Will Smith, tido hoje como uma lenda na história americana com uma importância superior a de Abraham Lincoln. Ainda completam o elenco Catherine Marceau (Charlotte Gainsburg), uma estudiosa da simbologia alienígena; e um conhecido dos fãs, Dr. Okum (Brent Spiner), que acorda de um coma depois de 20 anos e que tem uma relação bastante divertida com seu parceiro que engordou e ficou careca.

    Muito se reclamou da ausência de Will Smith que, segundo o próprio ator, estava comprometido com as filmagens de Esquadrão Suicida. Pelo que vemos durante o filme, é importante reconhecer o esforço de Emmerich em trazer de volta 95% de todo o elenco original. De qualquer forma, o Capitão Hiller está como se estivesse presente fisicamente, pois seu legado é lembrado durante todo o transcorrer da fita.

    Independence Day: O Ressurgimento segue os passos de Star Wars – O Despertar da Força, que emulou Episódio IV, e busca, com força, homenagear o filme original, trazendo consigo diversas semelhanças e referências, principalmente pelas situações envolvidas. Mas, por outro lado, é uma forma de não sair da zona de conforto. Aparentemente é um filme mais épico que seu antecessor, mas essa falsa sensação é causada apenas pela gigantesca nave que invade e pousa no planeta e que tem gravidade própria, Porém, é possível dizer com segurança que Emmerich ousou um pouco mais que J. J. Abrams, uma vez que é possível conhecer um pouco mais sobre a cultura alienígena, bem como a maneira como eles se organizam e quais são as suas reais intenções para com o nosso planeta. O que se descobre é que o nosso planeta é apenas um mero detalhe do que pode estar acontecendo no universo.

    Com esse conceito megalomaníaco, a história que era prevista pra ser filmada em duas partes, foi condensada em uma, deixando em aberto aquilo que pode ser (ou não) o início de uma nova franquia espacial. Mas, para isso acontecer, devemos esperar.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros

    Crítica | Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros

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    Imagine a seguinte situação: com o avanço da medicina, e consequentemente do estudo da genética, tornou-se possível coletar DNA preservado de animais extintos e cloná-los. E se, em vez de recriarmos mamutes e tigres dentes-de-sabre, recriássemos os maiores e mais temidos animais que este planeta já hospedou? O diretor Steven Spielberg tornou isso possível e foi um sucesso.

    Após o bizarro Hook – A Volta do Capitão Gancho (um de seus piores filmes), Spielberg juntou forças com os roteiristas Michael Crichton e David Koepp para criar um dos filmes mais extraordinários já feitos: Jurassic Park – O Parque dos Dinossauros. O filme revolucionou com efeitos especiais nunca antes vistos e com um realismo absurdo, fenômeno esse que acontece de tempos em tempos na história do cinema. O resultado? Um sucesso de bilheteria que faturou mais de um bilhão de dólares. Vale lembrar que até o pôster e o logotipo do filme são sensacionais.

    De início, somos apresentados aos arqueólogos e doutores Alan Grant (Sam Neill) e Ellie Sattler (Laura Dern), que estão muito preocupados com seu trabalho, uma vez que não conseguem mais financiamento para escavações. Porém, as coisas parecem mudar com a chegada de John Hammond (Richard Attenborough), um simpático senhor que os convida para uma viagem. No caminho, conhecem Tim (Joseph Mazello) e Lex (Ariana Richards), netos de Hammond e o Dr. Ian Malcolm, vivido por Jeff Goldblum e, após passarem por paisagens fantásticas, o helicóptero em que se encontram aterrissa numa misteriosa ilha. Não demora muito para que o primeiro Braquiossauro salte na tela em busca de uma folha num galho de uma árvore gigantesca. A história do cinema estava sendo feita. A cara do Dr. Grant nesse momento, aliada à trilha sonora certeira do maestro (e mestre) John Williams, imprime bem as feições de cada espectador naquele momento: como eles fizeram isso? Para ele, os dinossauros. Para nós, os dinossauros.

    Passada a excitação inicial, os protagonistas fazem um pequeno tour que explica exatamente o parágrafo inicial desta crítica, além de mostrar o primeira momento de tensão entre os doutores Grant, Sattler e Malcolm ao descobrirem que a equipe de geneticistas do Sr. Hammond clonou Velociraptors e um Tiranossauro Rex, tidos no filme como as espécies mais perigosas. Assim, são demonstradas, também, as reais intenções do Sr. Hammond, que acabou por construir um parque, nos mesmos moldes da Disney World, para, futuramente, abri-lo ao público, após a consultoria dos especialistas que ali estão. O problema é que uma grande tempestade se aproxima, anunciada por um tímido Samuel L. Jackson e que põe a perder todo o plano.

    Jurassic Park tem o que Spielberg sabe fazer de melhor: cenas de ação misturadas com suspense e até mesmo terror, algo que ele explorou muito bem em Os Caçadores da Arca Perdida, Contatos Imediatos de Terceiro Grau e Tubarão. E, sim, é possível se divertir, ficar tenso e sentir medo com as mais variadas situações e pequenas subtramas que compõem a trama.

    E os dinossauros? Ah, os dinossauros…

    O filme foi lançado em 1993, mas se você assistir a ele hoje, verá que ainda é atual. Os efeitos em CGI, junto com os dinossauros animatrônicos (efeitos práticos) criados pela Industrial Light & Magic são bastante realistas, o que justifica a surpresa do Dr. Grant e do espectador em relação aos dinossauros. Chega a ser emocionante a cena em que ele, juntos de Tim e Lex correm junto à “manada” de Galimimos. Aliás, é possível se deparar com diversas raças, mas, realmente, quem rouba a cena é o Tiranossauro Rex. Dotado de um rugido ameaçador e com um instinto assassino no mínimo cruel, aquele que foi o topo da cadeia alimentar há milhões de anos protagoniza uma das melhores e mais aterrorizantes cenas do longa, roubando para si o título de clímax do filme antes mesmo do final.

    Felizmente, não há do que reclamar de Jurassic Park, um filme para ficar na memória e na estante de qualquer apaixonado por cinema.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | Mortdecai: A Arte da Trapaça

    Crítica | Mortdecai: A Arte da Trapaça

    Mortdecai - A Arte da trapaça - capa - poster

    Retomando a parceria com o diretor e roteirista David Koepp, com quem realizou o bom suspense Janela Secreta, adaptado de um conto de Stephen King, Johnny Depp retorna às telas com mais um papel evidenciando sua predileção por personagens bem caracterizados pela estranheza e afetação.

    Mortdecai – A Arte da Trapaça se baseia em uma personagem criada por Kyril Bonfiglioli, um romancista britânico que compôs uma trilogia cômica sobre um anti-herói aristocrata negociador de artes, principalmente no circuito alternativo. Com um proeminente bigode francês, a personagem, ao lado de seu fiel ajudante Jock (Paul Bettany), é considerado um pícaro. Um tipo que representa uma espécie de malandro, um homem que transita na sociedade sobrevivendo como possível dentro ou fora da lei. Normalmente nessas obras, o riso é provocado pelas situações, uma maneira de satirizar o conjunto da sociedade.

    Na trama, o Lord Mortdecai passa por uma crise financeira e aceita a proposta do inspetor Martland (Ewan McGregor) para investigar a morte de uma restauradora de quadros em troca da dívida perdoada. Ao mesmo tempo, tenta manter o investigador longe de sua esposa Johanna (Gwyneth Paltrow), pela qual é apaixonado. O humor focado em uma personagem estranha não é cativante. Afetado em demasia, como se vivesse em um mundo à parte, Mortdecai e o roteiro parecem ambientar-se em dois momentos diferentes. Mesmo que o anacronismo seja proposital para criticar uma visão atrasada da aristocracia britânica, o riso crítico se perde em meio a muitas piadas cênicas e corporais.

    Depp dá prosseguimento a sua má fase na carreira em mais um papel afetado que revela uma repetição dos trejeitos de outros personagens recentes e bizarros, como o capitão Sparrow de Piratas do Caribe e o vampiro de Sombras da Noite. Ainda popular devido a outras caracterizações marcantes, há certo tempo o ator não entrega uma grande interpretação, tanto de sua vertente estranha quanto de um papel mais tradicional, como o cientista do péssimo Transcendence – A Revolução.

    Esteticamente, o filme utiliza recursos de computação gráfica e ângulos diferentes em cenas de transição para promover uma agilidade à farsa. Mas esses procedimentos aumentam o tom bobo e superficial da trama e não são capazes de trazer o timing cômico à história. As piadas estão presentes, mas não trazem a carga de efeito necessária. E o roteiro frágil ajuda a ampliar a sensação de vazio, como uma obra trabalhando um potencial bom personagem, composto sem o cuidado adequado, como se o humor não fosse tão requintado quanto o drama.

  • Crítica | Um Fim de Semana em Paris

    Crítica | Um Fim de Semana em Paris

    Um Fim de Semana em Paris - Poster Br - Alpha Filmes

    O músico Chico Buarque, que dispensa apresentação, pergunta-se, em sua canção Almanaque, para onde vai o amor quando ele acaba. Uma reflexão metafísica e coerente com o estabelecimento de qualquer relação amorosa que, mesmo longeva, é transitiva.

    Dirigida por Roger Michell (Um Lugar Chamado Notting Hill, Amor Obsessivo, Vênus), a história de Um Fim De Semana em Paris dedica-se ao tempo contínuo do amor, apresentando um casal que vive junto há trinta anos e viaja a Paris para comemorar as bodas de Pérola.

    Meg e Nick são um casal desencantado pela vida. Vivem juntos um tempo considerável que não produz margem de surpresas. Conhecem a personalidade um do outro, as pequenas manias e reclamações, cientes de que a solidez do amor não poupa mais palavras e, assim, dialogam abertamente sobre os desígnios da vida, a velhice, o tempo e o amor compartilhado em conjunto.

    Recentemente, voltaram a viver sozinhos sem a presença dos filhos. Um passo muito comum entre diversos casais que criam filhos por um longo período e, após os filhotes saírem de casa, deparam-se com um vazio e o estranhamento em relação ao que fazer com o tempo e a liberdade. Normalmente, é neste período que marido e mulher voltam a pensar em si e na unidade de um casal, ainda que o tempo consumido para gerar um filho tenha modificado visivelmente as percepções de vida.

    Na cidade luz, os ânimos ficam acirrados pela comum expectativa que qualquer viagem simbólica e comemorativa é capaz de gerar. A Paris conhecida anteriormente foi modificada pelo tempo. Tentando não destruir a celebração, o marido faz concessões aceitando ficar em um local caro, sem esconder a insatisfação.

    A proposta do longa-metragem é a busca sobre a temporalidade do amor e como histórias de longa durabilidade são vividas diariamente. Mesmo com o amor presente, há uma leve amargura em cena, evidenciando que o amadurecimento não gera a sabedoria imaginada popularmente em uma jornada de crescimento. Cada ser humano ainda carrega dentro de si medos e dúvidas que, se por acaso dissipadas, darão espaço a outros lugares escuros.

    Jim Broadbent e Lindsay Duncan fazem um casal ponderado, sem extremidades dramáticas evidentes, afinal a proximidade e a intimidade podem gerar menos espaço para cenas e grandes discussões. De maneira honesta, discutem a sexualidade, a ausência do desejo em relação ao tempo e as maiores fragilidades sentidas neste momento da vida: Nick ainda incrédulo por manter uma relação madura, amorosa e duradoura, e Meg irritada pela falta de confiança do marido após a dedicação de uma vida juntos.

    De fato, estar ao lado de outra pessoa não significa uma total completude interna dentro dos seres. Cada qual vive à margem um do outro, e neste espaço permanecem também medo, dúvidas e afins. Não à toa o poeta Rilke, como outros escritores, viram o amor como uma espécie de solidão vivida a dois. Uma maneira mais suportável de viver a vida e a solitude da existência na companhia e no amor ao lado de outra pessoa.

    A tensão amarga e amorosa do casal resulta em uma única cena epifânica, mas suficientemente eficaz para exemplificar como o amor denota dedicação constante, mostrando como as dificuldades de viver a dois nunca terminam diante das lacunas, tentações e outras fissuras inerentes a todos nós.

  • Crítica | O Grande Hotel Budapeste

    Crítica | O Grande Hotel Budapeste

    o grande hotel budapeste

    O Cinema de Wes Anderson, sendo a arte antes do artista, é claro, é um corredor de pinturas, uma ida ao museu numa tarde chuvosa onde não há mais nada a se fazer senão apreciar a viagem histórica. O cineasta tem a preferência de centralizar seus mundos enquanto expande os significados deles através de uma simbologia única em nível de identificação universal. Mundos onde todos os personagens são totalmente imprescindíveis à história ao mesmo tempo em que são totalmente desnecessários à narrativa em retalhos: substituíveis e relevantes ao mesmo tempo. O Grande Hotel Budapeste é o Cinema de Jacques Tati e Stanley Kubrick feito para todas as idades e mentalidades. Lindo, matemático, extremamente planejado em planos cênicos milimétricos, mas não é superficial em toda a sua estilização, afinal de contas, apenas por denunciar a beleza existencial do mundo a partir dos valores humanos de cada vida vinculada à teia apresentada.

    Até porque Anderson tem olho clínico e confiança de chamar atores do mais alto nível, assim como semi-desconhecidos, para interpretar figuras icônicas que pertencem a mentes de pessoas como Alan Moore, genial escritor inglês e famoso por sua excentricidade. Logo no começo de Budapeste, percebemos os traços marcantes da filmografia do diretor de Moonrise Kingdom, seja na (ótima) direção de arte, seja na atmosfera visual ou na musicalidade inocente e eclética de sempre. Enfim, temos, ao longo de uma hora e meia de projeção, a desconfiança da releitura artística que o filme vem a ser, na real, muito antes do clímax esperado.

    Releitura devido ao ponto alto da carreira que o cineasta já conseguiu alcançar “por acaso” é onde repousa seu belo e extravagante hotel. Um cume no qual não carece mais provar seus talentos e visão pessoal a mais ninguém, vide a falta de pretensão, de autoestima, e de altos e baixos de uma energia linear e constante ou mesmo de alguma dose de seriedade da história de corre-corre e de amizades inesperadas pelos caminhos. Veredas a partir e muito além dos corredores e escadas sinuosas do edifício homônimo.

    A fusão entre realidade e realidade particular pode ser uma das explicações para definir a arte de cada um; o Cinema, inclusive, o qual muitos chamam de “a arte completa” por ser justamente a fusão da maioria delas. Seja como for, e sem mais delongas, Anderson e seu elenco espetacular – Tilda Swinton aparece 5 minutos depois do início do filme, durante 60 segundos apenas, e é tão impressionante sua participação que a projeção poderia terminar com sua saída e tudo seria maravilhoso do mesmo jeito – defendem a teoria que abre este último parágrafo na aurora de uma realidade particular, a que todos nós aprendemos a amar, cada um à sua maneira, e que muito completa a verdadeira realidade das coisas.